"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

O OUTRO LADO DO CONSUMISMO - ELE MOSTRTA AS MARAVILHAS GERADAS PELO CAPITALISMO

Ser contra o comércio é ser contra a própria vida




A importância da poupança, da frugalidade e da prudência é inquestionável, pois estes são alguns dos pilares que permitem o investimento de longo prazo e, consequentemente, o enriquecimento de uma sociedade.

E a Escola Austríaca de pensamento econômico sempre foi pródiga em suas explicações de que são a poupança e o investimento, e não o consumo, a força-motriz de uma economia.

No entanto, estou começando a crer que o epíteto "consumismo", quase sempre evocado de forma pejorativa, é apenas outra palavra para a expressão "usufruir liberdade no mercado".

A verdade é que o mercado está, diariamente, nos proporcionando uma quantia cada vez maior de bens e serviços, e sempre com avanços tecnológicos que eram inimagináveis há apenas alguns anos.

Quem imaginaria, dez anos atrás, que um GPS que mostra o trânsito em tempo real se tornaria algo tão corriqueiro nas ruas das nossas cidades? (O Waze se mantém via anúncios publicitários). Quem imaginaria, dez anos atrás, que ao simples clique em um aplicativo de celular teríamos motoristas particulares que nos locomovem a preços inacreditavelmente baixos? Uber, Cabify, Lyft e vários novos concorrentes, que surgem quase que diariamente, fazem isso.

Ou quem imaginaria, dez anos atrás, não mais depender de hotéis e poder escolher mais de 2 milhões de imóveis em 190 países ao redor do mundo? Com o AirBnB, você pode se hospedar em imóveis com banheira de hidromassagem e piscina, ou pode ficar em um quarto de uma casa, ou mesmo apenas em um sofá. Você escolhe de acordo com seu orçamento.

Recorrer a esses prodígios significa usufruir a maravilhosa liberdade de escolha e de consumo que o mercado nos oferece.

Acima de tudo, o que dizer então da onipresença dos smartphones, cada vez melhores, e sua infinidade de aplicativos que facilitam nossas vidas? Nos países mais ricos, as pessoas alegam que estão sendo submetidas a uma avalanche tão grande de produtos tecnologicamente avançados — os quais supostamente as estariam tornando "anti-sociais" —, que elas não aguentam mais. "Diga não!" à mais recente engenhoca!

Mas é claro que, na prática, nenhum de nós realmente quer essa interrupção. Ninguém, por exemplo, quer ter seu acesso à internet negado ou encarecido. Ao contrário: queremos acessar a internet de forma cada vez mais rápida, mais barata, e com mais variedade de meios (tablets, smartphones, laptops, Smart TVs etc.). Queremos a liberdade de fazer downloads de músicas, filmes, seriados, livros, monografias e tratados sobre absolutamente todos os assuntos imagináveis. Nenhuma informação é considerada excessiva quando algo específico está sendo procurado.

E isso não é tudo.

Queremos mais variedades da comida, de bebida, de produtos de limpeza, de pastas de dente, de barbeadores. Queremos eletrodomésticos mais práticos e mais eficientes. Queremos mais ar-condicionado (ou mais calefação) em nossas casas, ambientes de trabalho e estabelecimentos comerciais. Queremos acesso a toda uma gama de estilos para o mobiliário de nossa casa.

Se algo está quebrado, queremos as peças de reposição prontamente disponíveis. Queremos peixes frescos, carnes suculentas, frutas frescas, roupas limpas e cheirosas, pão quentinho, e carros modernos com cada vez mais tecnologia embarcada. Queremos restaurantes variados e abertos 24/7. Queremos pronta-entrega e suporte técnico 24 horas. Queremos usufruir o que está na moda em todas as partes do mundo.

O comércio se adaptou e fez essa transição. Novos mundos são abertos para nós diariamente.

Há várias maneiras de se comunicar com pessoas distantes gratuitamente. O email está se tornando obsoleto e os torpedos já estão gratuitos. Podemos conversar instantaneamente com qualquer pessoa em qualquer canto do mundo por meio de aplicativos como Skype e WhatsApp, que são gratuitos. Televisões de tubo e telefones de linha fixa — artigos de luxo no século XX — já foram abandonados em prol de modelos muito superiores de tecnologia de informação.

Queremos agilidade. Queremos velocidade. Queremos redes sem fio e internet 5G. Queremos acesso. Queremos aperfeiçoamentos. Água limpa e filtrada tem de sair diretamente de nossas geladeiras. Queremos todos os tipos de bebidas: energética, esportiva, espumante, suculenta. Queremos água importada das ilhas Fiji. Queremos casas melhores. Queremos apartamentos melhores. Queremos segurança. Queremos educação. Queremos saúde. Queremos infraestrutura. Queremos serviços. Queremos liberdade de escolha.

Estamos conseguindo essas coisas? As que são estatais, como segurança, educação, saúde, água encanada e infraestrutura, não muito. E as outras que não são fornecidas pelo estado? Sim. Como? Por meio deste incrível mecanismo de produção e distribuição chamado 'economia de mercado', que nada mais é do que uma arena na qual bilhões de pessoas voluntariamente cooperam e inovam com o único intuito de melhorar a própria vida.

Contrariamente ao que dizem os detratores desse arranjo voluntário, não há nada de "selvagem" nele. A concorrência nada mais é do que empreendedores e capitalistas se esforçando — alguns ganhando, outros perdendo — para conquistar a preferência do público consumidor.

Obviamente, é muito fácil olhar para tudo isso e simplesmente sair gritando: "consumismo odioso!" Porém, se estamos utilizando o termo "consumir" nos referindo ao ato de comprar produtos e serviços com o nosso próprio dinheiro com o intuito de melhorar nossa condição, então quem realmente pode se declarar inocente do "crime" de consumismo?

Condenando a prosperidade


Toda a história do debate de idéias sempre girou em torno de como criar algum sistema que servisse mais ao homem comum do que apenas às elites, aos governantes e aos poderosos. Quando a economia de mercado — e sua estrutura capitalista — surgiu, esse tão sonhado sistema havia finalmente sido descoberto.

Com o subsequente advento da ciência econômica, passamos a entender como tudo isso funciona. E começamos finalmente a entender como é que bilhões de escolhas econômicas voluntárias e não planejadas por nenhum comitê de planejamento centralizado podem conspirar para criar um belo sistema global de produção e distribuição que servem a todos os indivíduos.

E como os intelectuais respondem a isso? Denunciando o sistema exatamente pelo "crime" de ele fornecer um excesso de coisas e de, com isso, incitar os desejos "consumistas" das massas.

Algumas pessoas estão se endividando para comprar coisas supérfluas sem as quais elas podem viver perfeitamente bem? Certamente. Mas isso é motivo para condenar todo esse arranjo maravilhoso? A culpa não deveria ser apenas individual?

Ademais, quem é que deve decidir de maneira inquestionável o que é uma necessidade e o que é um mero desejo? Um ditador onisciente à frente de um comitê de planejamento? Como podemos garantir que os desejos dele estarão de acordo tanto com as minhas necessidades quanto com as suas?

Em uma economia de mercado, desejos e necessidades estão interligados, de modo que as necessidades de uma pessoa são satisfeitas justamente porque os desejos de outras pessoas foram realizados.

Um exemplo prático de uma maravilha diária

Eis um exemplo que vivenciei recentemente.

Minha neta estava desesperadoramente doente, o que fez com que meu desejo mais premente fosse levá-la a um médico. Seu consultório ficava aberto até tarde, assim como a drogaria imediatamente ao lado. Ainda bem. Fui ao consultório, recebi a indicação do remédio, fui à farmácia ao lado e já saí de lá com o remédio e todos os demais materiais necessários para restaurar a saúde dela. Ninguém vai me dizer que isso foi uma demanda superficial.

Mas agora é que vem o principal. A farmácia só pôde ficar aberta até tarde porque ela está localizada em um edifício comercial cujo acesso é fácil e o custo total do aluguel pode ser dividido por todos os outros estabelecimentos comerciais que alugam as outras salas desse edifício.

E quais são esses outros estabelecimentos comerciais? Cabeleireiros, manicures, sorveterias, docerias, lojas de materiais esportivos, e até mesmo uma loja que faz a decoração de festas. Ou seja, todas elas lojas que vendem coisas "superficiais". Todas elas pagam aluguel. E isso possibilitou a existência daquela farmácia.

O edifício não teria sido construído se a incorporadora não imaginasse que ele também seria demandado para essas coisas menos urgentes, e os proprietários dos imóveis não os alugariam caso também não houvesse essas necessidades menos urgentes. E aí provavelmente aquela farmácia não estaria ali.

O mesmo raciocínio é válido para os equipamentos e a mão-de-obra utilizados no consultório médico que me atendeu. Eles são menos caros e mais acessíveis do que seriam em outras circunstâncias justamente por causa da existência de demandas não-essenciais de consumo. Por exemplo, os computadores utilizados nessa clínica eram de ponta, e isso só se tornou possível porque técnicos e empreendedores inovaram para atender às demandas de aficionados por videogames, de apostadores profissionais e de demais pessoas que utilizam a internet para fazer coisas "não-essenciais".

E o mesmo ponto pode ser feito sobre "bens de luxo" e tecnologias de vanguarda. Os ricos são os primeiros a adquiri-los e a utilizá-los. Ao fazerem isso, os defeitos inerentes a todo e qualquer produto recém-criado vão sendo descobertos e corrigidos. Ato contínuo, os imitadores começam a surgir e o produto começa a se popularizar. Capitalistas empreendedores, em busca do lucro, começam a fornecer produtos semelhantes e mais baratos, sempre querendo se aproveitar de um nicho de mercado ainda não atendido.

Com o tempo, os preços despencam e aquela mesma tecnologia que antes estava restrita apenas aos mais ricos se torna disponível para as massas.

Pense em qualquer bem ou serviço que hoje seja amplamente tido como uma necessidade básica: você descobrirá que ele utiliza produtos, tecnologia e serviços que foram inicialmente criados para atender demandas superficiais. Por esse prisma, não é errado dizer que foram os ricos que forneceram o capital necessário para esses investimentos.

Apenas olhe ao seu redor

Talvez você pense que qualidade de vida não é algo muito importante. Afinal, é realmente importante que as pessoas tenham acesso imediato a farmácias, supermercados e produtos tecnológicos? Sim, é.

A resposta mais fácil é aquela que recorre aos direitos naturais: um indivíduo deve ter a liberdade de escolher e de consumir o que ele quiser. Mas há outra resposta, ainda mais poderosa, que está escondida em alguns dados que raramente ocupam nossas mentes.

Considere a expectativa de vida nessa nossa era do consumismo. Em 1900, as mulheres em média morriam aos 46 anos de idade, e os homens, aos 44. Hoje? As mulheres vivem até os 82, e os homens, até 79. Essa mudança se deveu a uma maior oferta de alimentos, a empregos menos perigosos, a melhores condições de saneamento e de higiene, a um maior acesso a serviços médico (os quais também melhoraram de qualidade), e a toda uma gama de fatores que contribuem para aquilo que chamamos de "padrão de vida".

Atualmente, não apenas a mortalidade infantil despencou em decorrência da invenção de remédios e vacinas para todas aquelas doenças que matavam crianças (paralisia infantil, tuberculose, difteria, tétano, coqueluche, meningite, pneumonia, rubéola, sarampo, varicela, hepatite etc), como ainda fetos com problemas pulmonares recebem uma injeção intra-uterina e o problema é resolvido instantaneamente. Nos últimos 100 anos, a expectativa de vida aumentou 36 anos.

É fácil olhar esses números e imaginar que eles também poderiam ter sido alcançados sem capitalismo e sem mercado, mas sim com um comitê de planejamento central no qual burocratas controlariam tudo relativo à saúde ao mesmo tempo em que evitariam todo esse odioso consumismo gerado por ela. O problema é que esse tipo de planejamento central já foi tentado nos países socialistas, e seus resultados foram exatamente na direção contrária em termos de estatísticas de mortalidade. Mesmo nos países que adotaram o socialismo apenas recentemente, observa-se total regressão em todos os indicadores de bem-estar.

Conclusão

Atualmente, a crítica ao consumismo vem adornada de um manto ambientalista. Segundo essa gente, temos de praticamente voltar ao estado básico da natureza, parar de dirigir automóveis, fazer uma pilha de adubos, cultivar nossos próprios vegetais, desligar nossos computadores, e comer nozes de árvores.

Esse desejo por um retorno ao primitivismo nada mais é do que uma tentativa de dar um polimento lustroso aos inevitáveis efeitos das políticas socialistas. O que essa gente está realmente nos dizendo é que devemos amar a pobreza e odiar a fartura.

Mas a beleza da economia de mercado é que ela permite a todos uma escolha. Para aquelas pessoas que preferem morar em tendas em vez de em apartamentos com encanamento, que preferem arrancar os próprios dentes em vez de ir ao dentista, e que preferem nozes arrancadas da árvore em vez de comprar latas de nozes no supermercado, elas têm perfeitamente o direito de adotar esse estilo de vida. Nada as impede.

Mas não deixe que elas digam que são contra o "consumismo". A nossa própria sobrevivência depende do ato de vender e comprar. Ser contra o comércio é ser contra a própria vida.


03 de dezembro de 2019
Lew Rockwell
Leia também:

Como o capitalismo e a globalização reduziram os preços e trouxeram progresso para todos

Por que uma sociedade poupadora enriquece e uma sociedade consumista empobrece

E SE AS ESCOLAS PÚBLICAS FOSSEM ABOLIDAS E AS PARTICULARES NÃO MAIS TIVESSEM DE SEGUIR O MEC?

Eis uma verdadeira reforma educacional. E as consequências seriam surpreendentes - e positivas



Governos de todos os países do mundo querem estar no controle da educação das crianças. Nenhum governo quer voluntariamente abrir mão desse poder.

Pode observar: no extremo, governos abrem mão de controlar infra-estrutura, saúde, segurança e até mesmo a própria moeda. Mas não abrem mão do controle educacional.

Em termos estratégicos, não há nada mais precioso que o controle da educação. Afinal, é ali que está a semente de tudo. Se toda a propaganda governamental inculcada nas salas de aula conseguir criar raízes dentro das crianças à medida que elas crescem e se tornam adultas, estas crianças não serão nenhuma ameaça ao aparato estatal. Elas mesmas irão prender os grilhões aos seus próprios tornozelos.

Pergunte a qualquer pessoa devidamente doutrinada e surpreenda-se ao constatar como o governo foi muito bem sucedido em fazer as pessoas verem os serviços de educação estatal como uma evidência da bondade do estado e da preocupação de seus burocratas para com nosso bem-estar.

E é por isso que a educação autônoma e domiciliar — a verdadeira educação — é uma enorme ameaça para qualquer regime. É por isso que ela é combatida tão veementemente pelo estado e seus burocratas. Se o estado perder o controle daquilo que entra em sua mente, ele perde o segredo de sua própria sobrevivência.

As escolas públicas já fazem parte da nossa religião cívica. Elas são a primeira evidência que as pessoas citam para mostrar como os governos municipal, estadual e federal estão sempre nos servindo. Mas há também um elemento psicológico: a maioria de nós entrega a elas alegremente os nossos filhos, certos de que o governo sempre tem em mente o melhor para os nossos interesses.

Mas será que isso realmente ocorre? Em seu livro Educação: Livre e Compulsória, Murray Rothbard mostra que a verdadeira origem e propósito da educação pública não é exatamente a educação da maneira como a imaginamos: o propósito único é fazer a doutrinação de uma religião cívica, um consenso em torno da importância do estado.

Isso explica por que a elite governamental sempre foi contrária ao homeschooling e a um ensino privado que não siga as normas do Ministério da Educação: não é o temor de notas baixas nos exames educacionais que está guiando essa atitude, mas a preocupação de que essas crianças não estejam aprendendo os valores que o estado considera importante.

Mas criticar as escolas públicas não é o propósito desse artigo. Existem escolas públicas decentes, assim como existem escolas públicas horríveis. Portanto, não há razão para se fazer generalizações. Também não há necessidade de ficar mostrando dados sobre resultados de exames educacionais. Vamos apenas lidar com a economia envolvida na questão.

Na ponta do lápis, somando todo o dinheiro de impostos que vai para bancar tudo o que diz respeito à educação pública (da limpeza ao salário dos professores, passando por material didático, laboratórios e quadras esportivas), e considerando o que realmente é entregue em termos de ensino e educação, o desperdício é estrondoso. Neste quesito, o custo real médio de um aluno de uma escola pública — em termos de retorno e qualidade da educação — é bem maior que o de um aluno de uma escola privada.

Isso é contrário à nossa intuição, já que as pessoas creem que as escolas públicas são gratuitas e que as escolas privadas são caras. Mas a partir do momento em que você leva em consideração a origem do financiamento de ambas as instituições (impostos versus mensalidades ou doações), verá que a alternativa privada é bem mais barata.

O custo das escolas públicas é disseminado por toda a população, ao passo que o custo das escolas privadas é coberto apenas pelas famílias dos estudantes que as frequentam.

Como será ilustrado abaixo, se pudéssemos abolir as escolas públicas e todas as leis educacionais compulsórias, e se pudéssemos substituí-las por uma educação fornecida pelo mercado, teríamos escolas melhores pela metade do preço. E seríamos mais livres também. Além disso, seríamos uma sociedade mais justa, já que apenas os usuários dos serviços de educação pagariam por seus custos.

Fazendo a transição

Mas qual o problema com esse modelo? Bem, há o problema da transição. Existem óbvias e graves dificuldades políticas. O status quo já está amontoado de um número significativo de "subscrições" a esse serviço, e é muito difícil alterar essa situação.

Mas vamos imaginar como seria. Digamos que um determinado estado da federação, que está passando por severas dificuldades orçamentárias, decidiu que os custos da educação pública são muito caros em relação às escolas privadas. Ato contínuo, a assembléia estadual decidiu abolir as escolas públicas por completo e desregulamentar a legislação sobre a oferta de escolas privadas. As prefeituras deste estado, em situação financeira igualmente claudicante, decidiram fazer o mesmo.

A primeira coisa que deve ser notada é que isso seria ilegal, já que a Constituição requer que cada estado forneça educação gratuita. Sendo assim, eu não tenho idéia do que aconteceria com aquela assembléia estadual e com as câmaras municipais. Será que seus integrantes seriam presos? Quem sabe? Certamente eles seriam processados.

Mas digamos que, de alguma maneira, esse problema foi contornado graças a, digamos, uma emenda especial na constituição, que isenta certas localidades (ou o próprio estado) caso a assembléia aprove o pedido.

Feito isso, haverá um problema com a legislação federal e com o Ministério da Educação. Estou puramente especulando, pois eu não conheço as leis relevantes, mas podemos supor que o Ministério da Educação ficaria ciente do ocorrido, e haveria algum tipo de histeria nacional. Mas digamos que miraculosamente consigamos também superar esse problema, e que o governo federal — por se tratar de uma emergência — deixe essa localidade seguir adiante com seu plano e também libere todas as escolas de seguirem o currículo imposto pelo Ministério da Educação.

Haverá dois estágios para a transição. No primeiro estágio, muitas coisas aparentemente ruins acontecerão.

Por exemplo, o que ocorrerá com as instalações físicas dessas escolas públicas? Elas serão vendidas para os arrematadores que pagarem o preço mais alto, sejam eles proprietários de uma nova escola, empresários de qualquer ramo, ou meros agentes imobiliários. Isso gerará histeria.

E quanto aos professores e funcionários? Todos dispensados. Já dá até pra imaginar a choradeira.

Adicionalmente, para os pais cujos filhos estavam nessas escolas públicas haverá o grande problema de o que fazer com as crianças durante o dia. Também haverá, obviamente, uma lamúria maciça em relação aos pobres, que irão descobrir que não têm qualquer outra opção escolar senão as escolas privadas ou o próprio ensino doméstico por conta própria (mais sobre isso abaixo).

Simultaneamente, as mensalidades das escolas privadas iriam disparar: afinal, houve uma redução na oferta de escolas e um aumento na demanda por ensino privado. Vários alunos que estavam nas escolas públicas serão matriculados em escolas privadas. Maior demanda gerará maior preço.

Os mais pobres serão os mais atingidos, mas mesmo os pais de classe média e classe alta também sofrerão, pois as mensalidades das escolas particulares de seus filhos aumentarão.

Dito isso, tudo parece bem catastrófico, certo? De fato.

Mas essa foi apenas a primeira etapa. Se de alguma forma conseguirmos chegar à fase dois, algo completamente diferente irá emergir.

Para começar, com essas escolas públicas abolidas, os impostos sobre propriedade (IPTU), sobre automóveis (IPVA), e sobre serviços (ISS e ICMS), que antes eram utilizados para financiar essas escolas públicas, poderão ser substantivamente reduzidos. Vale lembrar que, hoje, quase 40% da renda das pessoas é confiscada pelos três níveis de governo na forma de impostos. Uma grande redução nesses impostos liberaria mais dinheiro para os indivíduos deste estado. Não seria exagero dizer que a redução desses impostos poderia trazer — por baixo — um aumento de pelo menos 25% na renda dessas pessoas.

Consequentemente, com esses impostos reduzidos, haverá dinheiro extra para pagar as mensalidades escolares. Principalmente para os mais pobres.

Em um segundo momento, com as atuais escolas privadas lotadas, haverá uma demanda premente por novas escolas. Havendo demanda, empreendedores de todo o país em busca de lucros irão rapidamente inundar o estado, fornecendo escolas que irão concorrer entre si. Isso pressionará os preços das mensalidades para baixo.

Além disso, é viável supor que igrejas e outras instituições cívicas também conseguirão arrecadar dinheiro suficiente para pagar pela educação dos mais pobres.

De início, é provável que as novas escolas seguirão o modelo das escolas públicas tradicionais, com a mesma carga horária e oferecendo as mesmas matérias. Mas, após um período de tempo, novas alternativas surgirão.

Haverá escolas fornecendo aulas durante a metade do dia. Haverá escolas grandes, médias e pequenas. Algumas terão 40 crianças por sala de aula, e outras terão quatro ou uma. Haverá uma expansão maciça de tutores particulares.

Escolas sectárias de todos os tipos irão surgir. Pequenas escolas serão abertas para atender interesses localizados: ciências, literatura clássica, música, teatro, computadores, agricultura etc. Surgirão escolas que permitirão apenas alunos do mesmo sexo. Se haverá ou não esportes ou filosofia na grade curricular de uma dada escola, isso será algo deixado unicamente para os pais decidirem.

Ademais, o já surrado modelo de "ensino básico, fundamental e médio" não mais será o único. As turmas não serão necessariamente agrupadas somente por idade. Algumas terão como base a capacidade e o nível de avanço dos alunos. As mensalidades variarão de gratuitas até extremamente caras. Empresas privadas poderiam fornecer bolsa de estudo para determinados colégios cuja grade curricular possa formar mão-de-obra do interesse dessas empresas.

O ponto principal é que o cliente — os pais — estariam no comando.

Simultaneamente, serviços de transporte surgiriam para substituir o antigo sistema de ônibus escolares. As pessoas poderiam ganhar dinheiro comprando vans e fornecendo transporte. Em todas as áreas relacionadas à educação, oportunidades de lucro iriam abundar.

E, para aqueles que não querem colocar filhos na escola, sempre há a internet. Hoje, há vários programas gratuitos de aprendizagem via internet (como por exemplo a Khan Academy). Basta os pais entrarem na internet, fazerem o download do material curricular e seguirem as instruções. Dá trabalho e exige dedicação? É claro que sim. Mas quem disse que ter filhos é um passeio?

Em resumo: o mercado para a educação iria operar da mesma maneira que qualquer outro mercado — como o de alimentos, por exemplo. Onde houver uma demanda, e obviamente as pessoas demandam educação para seus filhos, haverá uma oferta. Existem grandes redes de supermercado, e existem empórios e quitandas. Existem mercearias e existem armazéns sempre dispostos a prestar seus serviços para toda essa rede. O mesmo ocorre com outros bens, e ocorreria o mesmo com a educação.

Novamente, o consumidor é quem iria comandar. Ao fim e ao cabo, o que iria surgir não seria totalmente previsível — o mercado nunca é —, mas o que quer que acontecesse, seria de acordo com os desejos do público consumidor.

Após essa segunda fase e última fase, este estado (e suas cidades) emergiria como um dos mais desejáveis do país. As alternativas educacionais seriam ilimitadas.

Como as escolas seriam? Parece-me óbvio que:
O custo da educação cairia ano após ano, com as empresas encontrando maneiras de fornecer educação de qualidade a custos cada vez menores. E todo o dinheiro que você gasta hoje para pagar pelas escolas públicas por meio de impostos ficaria integralmente com você, para gastar como achar melhor.
A concorrência faria com que as escolas tivessem de melhorar ano após ano. Não dá para fazer previsões, mas é bem possível que houvesse escolas em que as crianças não teriam de ficar mais do que 3 horas por dia para receber uma educação muito superior à obtida hoje nas escolas controladas pelo governo.
As escolas seriam tão mais estimulantes, que as crianças poderiam perfeitamente querer passar várias horas por dia explorando o mundo da matemática, da história, da geografia, da literatura, da redação ou de qualquer outro tema que tenha despertado sua imaginação.
Dado que não haveria nenhum Ministério da Educação impondo um determinado tipo de currículo para todo o país, não veríamos mais as brigas amargas sobre os conteúdos ministrados, sobre a necessidade ou não de se ensinar religião, "sensibilidade social" e educação sexual; não haveria problemas com a imposição estatal de "kit-gay" ou com a aceitação ou não de professores homossexuais. Se uma escola quisesse se especializar exclusivamente em esportes, por exemplo, caberia aos pais decidir se querem ou não que seus filhos estudem ali. A liberdade definiria as escolhas. Não mais haveria as centenas de controvérsias que vemos na educação atual, completamente controlada pelos burocratas do Ministério da Educação. Se você não gosta do que a escola do seu filho está ensinando, você simplesmente vai atrás de outra melhor — do mesmo jeito que vai atrás de um supermercado que tenha o que você quer.
Haveria dezenas de opções disponíveis para você — escolas mais severas, escolas com disciplinas especiais, como música e cinema, escolas alternativas e até mesmo escolas que ofereçam um ensino completo sobre o funcionamento do livre mercado e do empreendedorismo, o que iria ajudar seu filho a obter uma vida mais confortável quando crescesse, além de poupar seu cérebro de infecções marxistas. Algumas escolas poderiam perfeitamente criar um currículo personalizado baseando-se em suas expectativas e nas capacidades de seu filho, ao passo que outras ofereceriam uma educação mais simples a um custo menor para aqueles que precisam economizar.

E então as pessoas deste estado iriam desfrutar as melhores escolas do país pela metade do preço das escolas públicas. E aquelas que não têm filhos não teriam que pagar um centavo pela educação alheia. Pode algo ser mais atraente?

Conclusão

Infelizmente — e isso não é compreendido por todos —, enquanto o governo puder tributar os cidadãos para lhes fornecer serviços educacionais a preço marginal zero, todo um serviço educacional privado que poderia existir jamais é criado.

Não deixa de ser irônico constatar essa contradição: ao mesmo tempo em que o governo vigilantemente pune empresas que praticam "concorrência predatória" (leia-se: fornecem produtos e serviços a preços baixos), ele próprio incorre nessa prática — só que de maneira totalmente coerciva, pois o faz com o dinheiro que confisca da população — no serviço educacional.

Não há nada de específico na educação que nos faça duvidar de que o mercado poderia fornecê-la. Assim como qualquer produto ou serviço, a educação é uma combinação de terra, trabalho e capital direcionados a um objetivo claro: a instrução de assuntos acadêmicos e relacionados, os quais são demandados por uma classe de consumidores, majoritariamente pais.

E então: qual estado será o primeiro a tentar essa alternativa e nos mostrar o caminho?


03 de dezembro de 2019
Anthony P. Geller


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