"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 9 de agosto de 2014

POR DENTRO DO JIHAD ( 4 - FINAL )


Após a volta do Afeganistão e um longo período sem contato, Nasiri encontrou-se com o DGSE e recebeu uma nova missão. Com a repressão na França e Bélgica, foi para o ambiente mais tolerante de Londres que muitos dos jihadistas começaram a se mudar. “Londres era o foco”, explica Alain Grignard um oficial antiterrorista belga, pois o local servia de trampolim para a passagem da era de extremistas islâmicos nacionais para a rede global fundada no caldeirão afegão.

A segunda metade da década de 1990 foi o período em que a capital britânica ganhou o apelido de “Londrestão”, um título dado por autoridades francesas enfurecidas com a crescente presença de radicais islâmicos em Londres e com a omissão das autoridades britânicas frente ao problema. Historicamente, Londres sempre foi um lar para os dissidentes e desde os anos 1980 cada vez mais se tornou refúgio para extremistas islâmicos que ganhavam asilo de autoridades pouco conscientes de suas atividades.

Pouco depois de chegar a Londres, Nasiri mais uma vez travou contato com o Al Ansar, agora impresso na capital britânica. Entre os que estavam envolvidos com Al Ansar em Londres estava Rachid Ramda, que fora visto na França e na Bélgica freqüentando círculos do GIA. Quando o juiz contra-terrorista francês Jean Louis Brugière pediu à Grã-Bretanha que prendesse Ramda, que era procurado por conexões com o financiamento dos atentados a bomba no metrô de Paris, a reação britânica foi dizer que não poderia prendê-lo, pois ele nada fizera de errado no Reino Unido. Ramda finalmente foi detido, mas lutou contra a extradição por dez anos, para a crescente irritação dos franceses. Somente em dezembro de 2005 foi que as autoridades da Grã-Bretanha o transferiram para a custódia francesa, sendo que ele viria a ser condenado, em Paris, em março de 2006 pelos atentados a bomba de meados dos anos 1990.

Em Londres, Nasiri foi comandado pelos serviços de Inteligência franceses e britânicos, recebendo a missão de se infiltrar na comunidade de radicais.

Abu Hamza e seus seguidores haviam transformado a mesquita de Finsbury Park no principal santuário e centro de conexões, não apenas da Grã-Bretanha, mas de toda a Europa, para aqueles comprometidos com o jihad internacional. Cerca de 200 pessoas dormiam no subsolo da mesquita. Uma estimativa calcula que 50 freqüentadores da mesquita morreram em operações terroristas e ataques insurgentes em conflitos no exterior.

A mesquita funcionava como um centro de recrutamento para grupos aliados à Al-Qaeda. Terroristas eram mandados ao Afeganistão com passagens aéreas, dinheiro e cartas de apresentação de Abu Hamza para entrar em Khaldan.

A tolerância dos britânicos, bem como sua tradição de liberdade de expressão, multiculturalismo e concessão de asilos, foram exploradas e as autoridades não desejando interferir na liberdade de expressão, não conseguiram compreender o tipo de retórica inflamada que emanava da mesquita de Finsbury Park e tampouco suas atividades.

Muitos países, além da França reclamaram dessa mesquita, mas nada foi feito. Somente em janeiro de 2003 é que as autoridades britânicas decidiram agir, fechando-a temporariamente, mas Abu Hamza continuou livre, pregando na rua em frente à mesquita. Somente quando os EUA emitiram um pedido de extradição é que as autoridades britânicas agiram, em parte pelo constrangimento causado pela pressão americana. Em outubro de 2004, Abu Hamza foi acusado e por fim condenado por ser o mentor de assassinatos e outros crimes.

Outra figura-chave espionada por Nasiri foi Abu-Watada, um palestino-jordaniano que havia entrado no Reino Unido em 1993 com um passaporte falso . A Jordânia exigiu a sua extradição, mas a Grã-Bretanha não a concedeu.

Para os militantes islâmicos a necessidade de autoridade religiosa é de grande importância. Os nomes daqueles que se acredita terem recebido treinamento religioso de Abu Qatada forma um “quem é quem” de militantes islâmicos baseados na Europa. Fitas com sermões de Abu Qatada foram encontradas no apartamento de Hamburgo usado por Muhammad Atta, um dos atacantes do 11 de setembro.

A base de operações de Abu Qatada ficava no Four Feathers Club, em Londres. Nasiri diz que autoridades britânicas mandaram-lhe deixar Abu Qatada em paz e centrar suas atividades em Hamza. Acredita-se que Qatada também tivesse contatos com o MI5, mas não está claro quem manipulava quem.

Finalmente, em fevereiro de 2001 Abu Qatada foi interrogado pela Polícia, que encontrou 170 mil libras, em dinheiro, em sua casa, parte dessa quantia dentro de um envelope onde se lia “para os mujhadin da Chechênia”.

Autoridades britânicas citam a estrutura legislativa como um problema. Em meados dos anos 1990, conspirar dentro da Grã-Bretanha para cometer atos terroristas no exterior não era crime. Assim grupos como o Hamas e os Tamil Tigers, bem como o GIA, começaram a usar o Reino Unido como pólo central. A Polícia investigava um problema apenas se existissem evidências de que leis tivessem sido desobedecidas. A Polícia e os Serviços Secretos não priorizavam a coleta de informações sobre esses grupos. Os especialistas em contraterrorismo britânicos continuavam focados no terrorismo republicano irlandês, em vez do terrorismo islâmico.

Em fevereiro de 1996, uma bomba de meia tonelada explodiu na região portuária de Londres sinalizando uma nova fase de atividades após o cessar fogo irlandês. O MI5 e a Polícia estavam envolvidos em uma disputa burocrática sobre quem comandaria a política contraterrorista na Irlanda do Norte – por fim, vencida pelo MI5 – que também canalizava recursos e energia nessa direção.

Foi somente no início de 1998 que as autoridades britânicas começaram a ouvir mais sobre a Al-Qaeda. Na época ninguém se preocupava com Abu Qatada, Abu Hamza ou as redes do Norte da África. A preocupação girava em torno de grupos de árabes que haviam chegado por volta de 1998, predominantemente do Egito, bem como de outros árabes associados a Bin-Laden, como Khalid al-Fawwaz, que se acreditava vinha administrando o escritório de mídia de Bin Laden em Londres, organizando entrevistas para jornalistas ocidentais e publicando declarações em seu nome.
Khalid al-Fawwaz foi posto sob custódia britânica à espera de extradição para os EUA.

Embora as autoridades britânicas tenham começado a considerar a ameaça da Al Qaeda a partir do início de 1998, ela era percebida como distinta de figuras como Abu Qatada, Abu Hamza e os argelinos operando no Reino Unido.

O terrorismo internacional e particularmente o terrorismo ligado aos islâmicos, não era visto como algo que ameaçasse diretamente o país. A França poderia ser um alvo primário, devido ao seu envolvimento na Argélia, mas não o Reino Unido.

A Grã Bretanha está sentindo agora o impacto do longo prazo de sua tolerância para com os elementos radicais nos anos 1990-. A radicalização que se espalhou em algumas comunidades britânicas não se estabeleceu da noite para o dia.

Em 1998, um novo conjunto de ações da Polícia na Bélgica resultou em mais provas de natureza internacional das redes jihadistas e da ameaça que representavam. Os detidos vinham da Argélia, Marrocos, Síria e Tunísia e tinham conexões com inúmeros grupos islâmicos diferentes, bem como com Abu Zubayda, Afeganistão, Bósnia e Paquistão. Foram descobertos detonadores e materiais para a fabricação de explosivos e havia suspeitas de que a Copa do Mundo, que se realizaria na França no meio daquele ano, seria um alvo.

A Europa sempre foi uma base central de operações da Al Qaeda, um lugar no qual diferentes grupos islâmicos radicais forjaram suas alianças. Os sinais de alerta estavam ali, mas somente uns poucos os compreenderam.

Cinco anos após os ataques de 11 de setembro, é a Europa – e o Reino Unido em particular – não os EUA, que se defronta com o maior desafio do terrorismo.

Foi uma conquista de Bin Laden a globalização da noção de jihad. Reunir grupos que antes se concentravam unicamente em seus próprios conflitos locais – na Argélia, Ásia Central, Chechênia e outras regiões - e convencê-los a fazer parte de uma luta maior. Uma luta contra o “inimigo distante” - os EUA -, que apoiava os governos aos quais se opunham. Uma luta que devia ser travada sob a bandeira da Al Qaeda.

Em fevereiro de 1998 Bin Laden divulgou uma nota declarando a formação da Frente Islâmica Mundial para a Jihad contra Judeus e Cruzados. Ele anunciou uma fatwa de que “matar os americanos e seus aliados – civis e militares – é um dever pessoal de cada muçulmano que puder fazê-lo em qualquer país em que for possível fazê-lo” . Pouco depois, em agosto de 1998 veio a primeira operação de grande escala da Al Qaeda contra os EUA, atacando suas embaixadas na Tanzânia e no Quênia.

A história de Omar Nasiri termina quando ele se muda para a Alemanha. Lá, em relação aos serviços secretos alemães, entra em colapso. Na sua visão, eles o abandonaram sem jamais fornecerem proteção e a nova identidade que os franceses haviam prometido inicialmente. Quase quatro anos depois, enquanto assistia aos atentados a bomba em Londres em 7 de julho de 2005, ele decidiu que queria contar a sua história. Isso o fez procurar a BBC e a escrever o relato dos sete anos em que viveu como espião no emergente movimento jihadista.

Esse relato foi resumido nestes quatro capítulos.

09 de agosto de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador. 

UM APELO À CIDADANIA

 

O povo brasileiro é reconhecido mundialmente por possuir uma série de qualidades e ser assolado por um elenco de defeitos.

Um amigo nos alertou que possuímos como indivíduos, virtudes e maus hábitos, entre os últimos, alguns que nem percebemos.

No momento, não pretendemos discorrer sobre as qualificações do povo nem sobre os seus vícios, ou maus costumes, exceto, apenas um, o egocentrismo arraigado.

O nome parece extravagante, contudo, como logo votaremos, este é um bom momento para rogar ao povo brasileiro que ao exercer a sua cidadania, por favor, esqueça por um segundo os seus interesses e pense no seu Brasil.

Talvez o elemento mais contundente do egocentrismo do homem nativo seja o abominável jeitinho brasileiro.

As suas consequências para o Brasil são tremendas e desmoralizantes, basta que vejamos as pesquisas internacionais, onde despontamos como o País de maior número de homicídios por ano, idem em acidentes de trabalho,  automobilísticos, de estupros  e outros atos desabonadores.

O jeitinho é um velho e carcomido hábito que em geral sublinha a falta de cidadania e, por osmose, a falta de responsabilidade.

Estamos certos que ao tentar de alguma forma obter vantagem em tudo, furando filas, entrando em festa sem ser convidado, rodando com carro no acostamento e uma infinidade de jeitinhos para se dar bem, o agente do golpe, pode estar buscando alguma vantagem para si, pecuniária ou a satisfação imoral de ser mais vivaldino que os outros.

Às vezes consegue, e julga que o macete é ser desleal e malicioso, e assim, considerar - se melhor do que os demais.

Será que por isso, não se importa quem governe o País? Quanto mais golpista é melhor?

Ou seja, o péssimo cidadão busca obter alguma vantagem, pagar menos, não pagar, ganhar algo sem fazer nada, e assim por diante. É o individuo do QI elevado em esperteza.

Este jeitoso individuo é vidrado nos seus direitos, mesmo que atropele os direitos dos outros, que julga são um bando de trouxas e imbecis.

O tal de dever é aquela obrigação que só serve para os idiotas. Como muitos pensam e agem assim, é fácil entender por que estamos à matroca. 

Hoje, próximos à votação, o nosso apelo é muito pequeno, apenas imploramos ao esperto nativo, que por um segundo, se esqueça das vantagens peculiares que a sua votação poderá trazer para si, e por uma boa ação no ato, vote em benefício da Pátria.

Acorda moleque inzoneiro, malandro de esquina, comedor de gilete e de outras guloseimas. Desperta, abra os olhos e veja que o País afunda pela sua omissão, ou melhor, submissão e falta de patriotismo.

Na prática, estamos implorando a você, que por um breve momento, seja um cidadão. Simples assim.

Pense na Pátria, no bem comum, vote consciente, num ato que se transforme em beneficio da Pátria e, portanto, no seu futuro e dos demais.

Sabemos que é difícil alguém pensar nos outros, ainda mais que cercados por cretinos, parece que o restante não vale nada. Ledo engano, a maioria é aquela que cumpre as suas obrigações.

Os patifes, os corruptos e corruptores são poucos em relação aos 200 milhões de brasileiros, e, portanto ao alijá - los de seu voto, você estará praticando a cidadania.

Não estamos citando em quem você deverá votar, pois a escolha é sua, mas mire a nossa ideológica educação, a nossa moribunda saúde, a nossa insegurança pública, a nossa ultrapassada infraestrutura, o bacanal de orgia das greves, e veja como estamos à beira de um profundo abismo.

Você que votará, deve ter capacidade para realizar uma boa escolha e por certo é lúcido o suficiente para avaliar como vamos mal, após mais de uma década de irresponsabilidades, um período em que grassou a impunidade, a corrupção e o desmando institucionalizado.

Acordar disposto a ser um cidadão brasileiro, votando pelo futuro desta maravilhosa terra é tudo que pedimos, ou melhor, imploramos, para o seu e para o nosso bem, e para os futuros cidadãos brasileiros.

Acorda, desligado, despreocupado e desinteressado e entra na nossa imensa fila para expurgar a virulenta praga que corre nas veias da Pátria e tem prostrado uma Nação, em coma econômico - financeiro e moral.

09 de agosto de 2014
Valmir Fonseca Azevedo Pereira é General de Brigada, reformado.

SUPOSIÇÕES


Será que a esquerda que enfrentou a ditadura e foi por ela derrotada, possuía entre seus líderes mais expressivos, elementos pertencentes à chamada "elite branca", expressão criada pelo atual governo petista para designar o grupo representativo que, durante a copa, num rompante espontâneo de rejeição, vaiou a presidente Dilma? 

Poderiam eles, os líderes, caso fossem vitoriosos naquela ocasião, situação de hoje, ser classificados com o rótulo de esquerda caviar, inexistente à época, que remete à situação na qual comunistas declarados não abrem mão das delícias do capitalismo?  

É muito provável que a resposta para as duas perguntas seja afirmativa, uma vez que os atuais governantes no Planalto e os beneficiados pela anistia, por serem considerado vítimas, alguns hoje aquinhoados com polpudas indenizações concedidas às custas do contribuinte brasileiro, tiveram origem na camada superior da classe média e vivem hoje um padrão de vida no qual estão presentes as delícias do capitalismo contra o qual lutaram, desfrutando de seus privilégios e confortos, bem ao estilo do cenário imaginados por George Orwell no seu "Animal Farm", quando os porcos que lideraram o levante na fazenda se confundiram, após a consolidação do poder, com os homens e passaram a usufruir dos antigos luxos  e comodidades desfrutados por estes antes da revolução. 

Somente suposições....

09 de agosto de 2014
Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.

VISÃO D'ÁFRICA

«Au Brésil, j’ai vu beaucoup de blancs et de métis, mais peu de noirs»

«No Brasil, vi muitos brancos e mestiços, mas poucos negros»
 
 
Jean-Pierre EssoFoi o comentário de Jean-Pierre Esso, jornalista camaronense que passou um mês no Brasil cobrindo a Copa do Mundo, ao demonstrar que, por olhos africanos, o mestiço não costuma ser visto como negro.
Comprovou que a tese da “gota de sangue”, copiada do modelo americano por nosso atual governo federal, não vigora em terras d’África. Por aquelas bandas, a “gota de sangue” funciona, antes, no sentido inverso. 
 
09 de agosto de 2014
José Horta Manzano

A ESCOLHA PELA VIOLÊNCIA EPIDÊMICA



 

Não existe um departamento na Organização das Nações Unidas (ONU) que distribua a violência de forma igualitária para todas as nações do mundo. Cada país, em grande medida, faz suas próprias escolhas históricas: socioeconômicas, educativas, formas de controle social, tipos de policiamento, funções e treinamento desse policiamento, a seleção dos casos e dos réus que serão enviados para os juízes, o aproveitamento ou o aniquilamento da sua juventude, etc.
Feitas as escolhas pelas elites dominantes (escolas ou prisões, tecnologia de ponta ou favelização, ciência ou crenças populares, aprimoramento da mão de obra do jovem ou o seu extermínio, etc.), sabe-se o patamar de violência correspondente. Hoje tudo isso já é nitidamente quantificável.
Qual a relação que existe entre desigualdade, baixa qualidade de vida, ridícula escolarização, renda per capita insuficiente e a violência hiperepidêmica?
Considerando o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que mede a escolaridade, expectativa de vida e renda per capita, Gini, que mede a desigualdade de cada país, e os homicídios, a média do 1º grupo é 1,6 mortes para cada 100 mil pessoas. Mas, no mundo mais civilizado e distributivo existe um paraíso invejável que conta com menos de 1 assassinato para cada 100 mil pessoas: trata-se dos países escandinavos (Dinamarca, Suécia, Finlândia, Islândia e Noruega) ou que estão em processo de escandinavização (Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Holanda, Bélgica, Coreia do Sul, etc.).
Para comparar, vejamos os números do Brasil: com IDH de 0,744, estamos no segundo grupo e muito longe de alcançar o primeiro (que começa com 0,800). Pior: nosso progresso tem sido muito lento. Nos anos 80, nosso aumento médio do IDH – o índice estava em 0,545 em 80 - foi de apenas 1,16% por ano, ritmo que diminuiu para 1,10% nos anos 90; entre 2000 e 2013, o acréscimo foi de 0,67% e, desde 2008, o Brasil perdeu quatro posições, enquanto a China avançou dez.
Estando no segundo grupo (que vai de 0,700 a 0,799), não é de se estranhar que o Brasil tenha alta violência, a ponto de amedrontar os juízes (que a cada dia se distanciam da força do direito para se preocuparem com o direito à força).
Estamos muito além da média de 11,3 homicídios para cada 100 mil pessoas (nossa taxa é de 29 para 100 mil, quase três vezes mais, o que justifica falarmos em violência hiperepidêmica). Mas por que o Brasil destoa do seu grupo e conta com violência hiperepidêmica?
Porque, desde logo, nossa desigualdade é obscênica (0,519 no Gini). A desigualdade média do grupo do Brasil é de 42,7 ou 0,427 (no Gini). O Brasil é quase dez pontos mais que isso. Qualidade de vida precária aliada à desigualdade obscênica resulta em violência hiperepidêmica.
De qualquer modo, convém ressaltar que o fenômeno da violência não é exclusividade do Brasil. Hoje, é praticamente mundial, porque no mundo conturbado, violento, autoritário e conflitivo em que vivemos, de profunda anomia (crise ou desmoronamento das normas e dos valores), em lugar do império da lei e do Estado de direito (idealizado para a contenção da violência), vem predominando o Estado de exceção ou o subterrâneo, que são irrigados pelo estado de polícia, que jamais deixou de existir paralelamente ao Estado de direito, elegendo antes o "inimigo" da vez, porque sem um inimigo não se pode por em movimento a maquinaria da guerra (sanguinária, torturante e genocida) (veja Zaffaroni 2012/2: 16 e ss.).
A boa notícia é que a violência não é uma lei física ou implacável da natureza (como a lei da gravidade). Tudo que o humano faz, ele pode desfazer.
09 de agosto de 2014
Luiz Flávio Gomes é jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil.

VACAS (NEM TÃO) SAGRADAS

 
 
Uma das “vacas sagradas” da esquerda atua – além da eterna reverência ao velhaco Karl Marx – são os modelos econômicos e sociais dos países nórdicos, notadamente o sueco. Não raro, sempre que tentamos demonstrar as inegáveis vantagens do capitalismo sobre quaisquer modelos socialistas, chovem argumentos baseados no sucesso dos sistemas de bem estar praticados naqueles países.
Já tive a oportunidade de escrever acerca do modelo sueco, explicando que a Suécia é uma economia de mercado, engessada, em boa medida, pelo pesado fardo de um Estado inchado, malgrado bastante eficiente, pelo menos quando comparado com a maioria dos demais Estados. Embora os arautos da esquerda enxerguem na Suécia um exemplo indiscutível de como combinar altos níveis de prosperidade e qualidade de vida com altos índices de redistribuição de renda, a história revela algo bem distinto: o sucesso daquela nação nórdica não decorre das políticas de bem-estar, mas apesar delas.
Independentemente das discussões acerca da sua eficiência econômica, a maior prova de que, mesmo após a introdução do modelo de bem estar, a Suécia – assim como os demais países do norte europeu – continuou respeitando todas as instituições clássicas do modelo capitalista; como lembrou o economista Scott Summer, está no ranking de Liberdade Econômica divulgado pela Heritage Foundation.  De acordo com ele Hong Kong e Singapura estão há anos nos primeiro e segundo lugares da publicação.  No entanto, se nós restringirmos a análise a 8 das 10 categorias que formam o ranking (deixando de fora os quesitos impostos e gastos do governo), quem apareceria em primeiro lugar seria a Dinamarca, enquanto a Suécia ficaria entre os seis primeiros.
Portanto, apesar de possuírem cargas tributárias e gastos públicos elevados, os países nórdicos apresentam níveis elevadíssimos de liberdade nos negócios, no mercado de trabalho (legislação trabalhista), liberdade de comércio (principalmente com o exterior), liberdade financeira e de investimentos.
Alguns dirão que a Heritage Foundation é uma instituição conservadora e, portanto, não confiável.  Ocorre que os países nórdicos também figuram todos no topo do ranking “Doing Business”, divulgado pelo Banco Mundial.  De acordo com esse estudo, também anual, a Dinamarca aparece em 5º, a Noruega em 9º e a Suécia em 14º lugar, entre os 189 países analisados.  Isso quer dizer que o ambiente de negócios nessas nações, consideradas por muitos da esquerda como exemplo de socialismo moderno, é muito mais atrativo aos investimentos privados do que vários daqueles tachados rotineiramente pela própria esquerda de modelos neoliberais, como o Brasil.

Em resumo, como demonstram os dados acima, altos impostos e gastos públicos elevados, por si sós, não são sinônimos de socialismo.

09 de agosto de 2014
João Luiz Mauad é Administrador de Empresas e Diretor do Instituto Liber

A EVOLUÇÃO DOS MERCADOS


 
Em função da premente necessidade do mercado em receber informações financeiras sempre mais especificas e qualitativas para tomada de decisões, cada vez mais, como se pode constatar  na última década, as empresas fazem uso maciço de tecnologia para suportar a elaboração de seus planos estratégicos e consequentemente para gerir seus processos em todas as suas fases mais importantes quais sejam no âmbito de compras, produção, custeio, vendas, pessoal, financeiro, contábil e de divulgação, entre outros.    

Um exemplo disso é a crescente utilização dos sistemas integrados de gestão empresarial, que eficaz e apropriadamente amarram dados já inseridos em vários módulos, objetivando a geração de informações detalhadas sobre qualquer área ou situação da Companhia.

Ao lado de toda esta evolução tecnológica, infelizmente avoluma-se também a complexidade das fraudes e o consequente uso da contabilidade para fins ilegítimos.
Frente a este cenário desafiador e em constante mutação encontra-se o auditor independente que, além da manutenção permanente e atualizada de seus conhecimentos técnicos face aos pronunciamentos contábeis cada vez mais profundos e específicos, também precisa se desenvolver profissionalmente promovendo o mesmo ao seu pessoal e trabalhar com ferramentas adequadas para acompanhar esta evolução.

Abordemos então, entre vários aspectos importantes de um serviço de auditoria de qualidade, três relevantes, em que o auditor independente deve promover uma abordagem moderna, objetivando o acompanhamento deste processo evolutivo em seus clientes:

Fase de Planejamento dos Serviços:  Nesta fase, que por direcionar toda abordagem do serviço em todos os seus estágios é bastante sensível, é imprescindível lançar mão cada vez mais do conhecimento profundo prévio dos negócios de seus clientes e consequentemente de seus principais e mais impactantes riscos para a arquitetura do planejamento de cada fase da auditoria.  Não se permite hoje ao auditor iniciar um planejamento de auditoria sem entender profundamente todos estes aspectos.

Fase de Desenvolvimento dos Serviços: Já no desenvolvimento dos serviços de auditoria o auditor independente deve sempre estar focado na avaliação da qualidade dos controles dos seus clientes, para isto se suportando do conhecimento e das premissas e definições desenvolvidas na fase de planejamento.  A base para confiança ou não em determinados controles e os respectivos testes de auditoria derivados serão parte fundamental para a conclusão dos serviços.  Outro fator importante nesta fase são as ferramentas de auditoria, que devem ser construídas com alta tecnologia de tal forma a suportar com bastante segurança a finalização dos testes.  Como exemplo cito o uso presente do processo de analytics para coletar as mais diversas informações, compara-las, extrair dados, efetuar subseleções para analises categóricas e consequentemente auxiliar na conclusão quanto à adequação razoável dos valores apresentados em diversas contas selecionadas para testes.

Capacitação Técnica do Auditor e de seu Pessoal: Tão importante quanto os outros aspectos já citados, é a capacitação do auditor e de seus profissionais para a execução dos serviços num mercado em franca evolução, pois por mais que se busque eficiência com profissionalismo nas fases de planejamento e desenvolvimento dos serviços, sem a bagagem técnica necessária os resultados serão consideravelmente afetados. Para isso, o Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil tem contribuído com o mercado, com suas discussões e análises dos respectivos pronunciamentos contábeis, com a construção e emissão de Comunicados Técnicos, bem como pelo relacionamento com órgãos reguladores e oferta de treinamentos para educação profissional continuada. O auditor independente, além de ter que estar sempre atualizado tecnicamente, deve se preocupar em continuamente treinar seu pessoal para em conjunto desenvolver serviço e alta qualidade.

09 de agosto de 2014
Francisco A. M. Sant’Anna é Diretor Nacional de Comunicação do Ibracon – Instituto dos Auditores Independentes do Brasil

POR DENTRO DO JIHAD ( 3 )

 


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net
Por Carlos I. S. Azambuja

Os ataques de 11 de setembro de 2001 não vieram do nada. Durante os anos 1990, uma série de movimentos islâmicos violentos começou a se congregar, desviando seu foco dos conflitos locais, em seus países, para o “inimigo distante” dos EUA e do Ocidente. A organização emergente ficaria conhecida como Al-Qaeda. O relato de Omar Nasiri, autor de Por Dentro do Jihad apresenta uma percepção particular desse período crucial que parece pouco compreendido.

Sua história é única, especialmente porque ele fornece a perspectiva incomum de alguém que se infiltrou nessas redes terroristas. A noção freqüentemente repetida de que a derrota do terrorismo exige um bom serviço de Inteligência e a coleta de dados de Inteligência exige indivíduos dispostos a arriscar suas vidas para se transformarem em espiões, E suas histórias raramente são contadas.

Esse foi o início da introdução ao livro de Omar Nasiri, escrita em setembro de 2006 por Gordon Corera, correspondente da BBC para Assuntos de Segurança.Este texto é um resumo do que escreveu Gordon Corera.

Tendo passado mais de sete anos trabalhando para os Serviços de Inteligência franceses, britânicos e alemães, Nasisi apresenta a visão de quem está por dentro de como essas agências funcionam e seu relato de reuniões, conversas e técnicas de espionagem dos vários serviços é de um raro detalhamento.

Mas o que fica claro de seu relato é que a rede emergente era muito mais organizada e determinada do se supunha. Os campos de treinamento afegãos foram a incubadora da atual ameaça terrorista, e Nasiri oferece o quadro mais detalhado até agora da vida dentro desses campos – um quadro bem mais rico e preocupante do que qualquer outro já visto (1)

Embora nascido no Marrocos, os argelinos desempenham um papel central no relato de Nasisi, já que eles constituíam o núcleo da rede terrorista islâmica na Europa antes do 11 de setembro. A Argélia mergulhou em uma sangrenta guerra civil após o Exército ter cancelado as eleições de janeiro de 1992 para impedir que a Frente Islâmica de Salvação (FIS) conquistasse o poder.

A violência eclodiu e um conjunto de grupos insurgentes apareceu. O mais violento era o Grupo Islâmico Armado (GIA). Acredita-se que até 3 mil argelinos tenham combatido os soviéticos no Afeganistão nos anos 1980 e a Argélia foi o primeiro país a sentir o impacto do retorno dos veteranos da guerra afegã. O GIA era liderado por centenas de homens endurecidos pela guerra que voltaram radicalizados e dispostos a empregar táticas cada vez mais brutais. O GIA atraiu o apoio de redes dentro das comunidades de imigrantes na Europa. A princípio essas redes de apoio lidavam principalmente com propaganda, mas logo passaram a oferecer dinheiro, auxílio logístico, como passaportes falsos e, por fim, armas ao GIA.

Quando regressou à Bélgica em 1994, Nasiri descobriu que a casa de sua mãe havia se tornado um importante centro de operações do GIA. O boletim informativo Al Ansar era feito e distribuído ali. Ele emergiu como a publicação oficial do GIA, embora com o passar do tempo artigos de outras fontes começassem a ser divulgados, inclusive de outras organizações islâmicas, como o Grupo Combatente Islâmico líbio, grupos
marroquinos e grupos egípcios ligados a Aiman al-Zawahiri. O Al Ansar foi o pioneiro da união de redes militantes islâmicas nacionais em um movimento global e seus textos eram um alerta às autoridades do que vinha pela frente.

Não demorou muito para que o sangrento conflito na Argélia começasse a se alastrar para a Europa. A França, o antigo senhor colonial da Argélia, na visão dos jihadistas, havia apoiado o golpe e, desse modo, tornou-se um alvo. A primeira ilustração dramática da ameaça surgiu quando um grupo de terroristas do GIA dominou um jato da Air-France na pista do aeroporto de Argel em 24 de dezembro de 1994.

Em março de 1995 uma série de buscas foram iniciadas pelas autoridades belgas e, durante uma busca em um veículo foi encontrado um pacote contendo um manual de treinamento terrorista de 8 mil páginas, cujo frontispício o dedicava a Bin Laden. O manual revelou um verdadeiro tesouro de informações e uma das primeiras indicações da extensão da rede e do papel de Bin Laden em suas operações. Isso foi confirmado poucos meses depois, no verão de 1995, quando uma onda de atentados a bomba atingiu a França, inclusive o metrô de Paris.

Uma corrente de pensamento sustenta que o GIA desde o começo estava tomado por espiões do serviço secreto argelino. E mais, que estes incluíam agentes provocadores que, por volta de 1995, estavam deliberadamente direcionando a campanha de violência para a França, para tentar atrair Paris para o conflito, opondo-se aos islâmicos apoiando o Estado argelino.

De acordo com um ex-oficial de Inteligência, cerca de cem a duzentos residentes franceses viajaram para o Afeganistão para receber treinamento durante a década de 1990. Alguns filiaram-se ao jihad internacional, outros simplesmente queriam poder voltar para casa e apregoar que sabiam manejar um AK-47

Nasiri mostrou-se capaz de cumprir sua missão e o relato de suas viagens oferece um retrato pessoal extremamente revelador de como se infiltrou em círculos jihadistas e abriu caminho até o núcleo da Al-Aqeda. Viajando através da Turquia e depois Paquistão, ele infiltrou-se em grupos islâmicos radicais.

Em Peshawar, Paquistão, Nasiri conheceu o palestino Abu Zubayda, coordenador e controlador do acesso a vários campos de treinamento afegãos. “Ele era um homem que fazia as coisas acontecerem, no sentido administrativo”, explica Mike Scheuer, chefe da unidade Bin Laden da CIA de 1996 a 1989. Abu Subayda acabou sendo preso em março de 2002.

Cerca de duas dúzias de campos de treinamento foram montados no Afeganistão. Os campos tiveram um papel fundamental na transição do jihad original dos anos 1980, para o jihad de múltiplas nações dos anos 1990, bem como na emergência do final da década de 1990 de umjihad global sob a Al-Qaeda. Eles foram o caldeirão nos quais diferentes grupos começaram a trabalhar juntos, forjando uma identidade comum,

Não existia uma única fonte de recursos ou controle dos campos. O Afeganistão estava mergulhado no caos em meados dos anos 1990. Os soviéticos tinham sido expulsos em 1989. Um governo submisso liderado por Mohammad Najibullah, durou até 2002, quando foi derrubado pelas facções mujahidin, que começaram a lutar entre si pelo poder, sendo que vários chefes tribais ficaram com o controle de bolsões do país.

Embora Bin Laden tenha deixado o Afeganistão após o fim da guerra com os soviéticos e residisse no Sudão no começo dos anos 1990, ele continuou a financiar alojamentos e instalações de treinamento dentro do Afeganistão, inclusive, segundo Nasiri, a alimentação no campo que freqüentou.

Pouco depois, o ISI - Serviço de Inteligência do Paquistão (1) - começou a apoiar o Talibã como uma força proposta para estabilizar o Afeganistão e fortalecer os interesses de segurança do Paquistão.

Em meados dos anos 1990 o número de nacionalidades representadas e a disciplina de treinamento eram notáveis e muito maiores do que anteriormente se suspeitava. Grupos da Argélia, Chechênia, Caxemira, Quirguistão, Filipinas, Tadjiquistão e Uzbesquistão recebiam treinamento militar que colocariam em prática quando retornassem a seus países. Grande número de árabes, especialmente da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Iêmen, também passaram por lá, assim como terroristas da Europa, África do Norte e outras regiões, que desejavam participar dojihad.

O treinamento que Nasiri recebeu em Khaldan era altamente organizado e extensivo. Boa parte do aprendizado baseava-se em manuais de treinamento dos EUA obtidos durante a luta contra os soviéticos. Os participantes também passavam quase o mesmo tempo em treinamento religioso. A preparação espiritual era considerada um aspecto central do jihad, mais importante que o treinamento físico.

Entre os que passaram por Khaldan havia terroristas envolvidos nos dois ataques, de 1993 e 2001, Ao World Trade Center (inclusive Mohammad Atta, líder dos ataques do 11 de setembro); pessoas envolvidas nos atentados a bomba de 1998 contra embaixadas dos EUA, Ahmed Ressam, o fracassado bombardeador do milênio, os dois britânicos dos “sapatos-bombas”, Richard Reid e Sajid Badat; e Zacarias Moussaoui, sentenciado em 2006 à prisão perpétua pelo envolvimento no complô do 11 de setembro. Mas o líder de Khaldan em meados dos anos 1990 era um homem chamado Ibn al-Sheikh al-Libi, com quem Nasiri passou um tempo considerável. al-Libi havia combatido no Afeganistão da década de 1980.

Preso em novembro de 2001, al-Libi foi o primeiro membro do alto escalão da Al-Qaeda a ser capturado pelos EUA após os ataques. Depois de uma disputa entre o FBI e a CIA ele foi entregue ao Egito, onde pode ter sido submetido a maus tratos sendo que informações extraídas de seu interrogatório foram utilizadas por autoridades dos EUA para declarar a existência de vínculos entre o Iraque e a Al-Qaeda, com base na alegação de al-Libi de que o Iraque oferecera treinamento à Al-Qaeda a partir de dezembro de 2000. Isso foi citado pelo vice-presidente Cheney , pelo secretário de Estado Collin Powell, em seu decisivo discurso na ONU em fevereiro de 2003, e pelo presidente George Bush, em Cincinnati, em outubro de 2002, quando declarou que “ficamos sabendo que o Iraque treinou membros da Al-Qaeda na produção de bombas, venenos e gazes”.

O problema era que al-Libi mentiu. Em janeiro de 2004, al-Libi desmentiu suas declarações sobre o Iraque, forçando a CIA a cancelar inúmeros relatórios de Inteligência baseados em suas declarações.

Especulou-se que ele estaria deliberadamente fornecendo informações falsas para fazer os EUA atacarem o Iraque, pois expressava seu desagrado pelo regime secular de Saddam Hussein no Iraque e era um homem altamente treinado para resistir a interrogatórios. Na primavera de 2006, segundo alguns relatos, al-Libi foi entregue às autoridades líbias.

Em Khaldan, a formação de Nasiri parece tê-lo diferenciado dos demais recrutas, tanto assim que ele foi um dos poucos selecionados para seguir ao campo de Durunta, mais avançado. Durunta fornecia um treinamento mais individualizado em explosivos e terrorismo. Em Khaldan os recrutas aprendiam a detonar explosivos; em Durunta eles aprendiam a fazer explosivos e detonadores a partir do zero. Em Durunta o treinamento não era para o combate militar, mas para serem indivíduos solitários que agiriam como os clássicos agentes terroristas que ficam na espera até chegar a hora da ação – um agente dormente – necessitando assim de um conjunto diferente de habilidades.

Entre os que se formaram em Durunta antes da sua destruição por ataques aéreos dos EUA no fim de outubro de 2001, está Ahmed Ressam, mas tarde condenado por envolvimento no complô de atentado a bomba contra o Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Havia agentes de Inteligência nos campos perto da fronteira paquistanesa, mas outros campos, como os de Durunta, eram muito mais difíceis de serem infiltrados. Algumas estimativas afirmam que, entre 1996 e os ataques de 11 de setembro , de 10 mil a 20 mil terroristas passaram pelos campos para serem treinados. Outros acreditam que esse número pode chegar a 100 mil. Ninguém apurou para onde foram esses terroristas, ou quem eles, por sua vez, foram treinar.

No momento em que Nasiri saiu do Afeganistão, na primavera de 1996, Bin-Laden retornou e chegou num momento crucial, em que o Talibã estava conquistando o poder.. Em setembro o Talibã já havia tomado Jalalabad e forneceria a Bin-Laden e à Al-Qaeda um porto seguro no qual começariam a planejar operações mais drásticas.

 (1) Vide Por Dentro do Jihad 1 e 2
 
 09 de agosto de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador. 

POR DENTRO DO JIHAD ( 2 )



 

Entre 1994 e 2000, Omar Nasiri trabalhou como agente secreto para os principais serviços externos de Inteligência da Europa - incluindo a DGSE (Direction Genérale de la Securité Exterieure), da França, e o MI5 e MI6, da Grã-bretanha. Do submundo das células islâmicas da Bélgica até os campos de treinamento do Afeganistão e as mesquitas radicais de Londres, ele arriscou a vida para derrotar a emergente rede global que o Ocidente viria a conhecer como Al-Qaeda.

Agora, pela primeira vez, em um livro editado pela Editora Record - "Por dentro do Jihad" - (1), Nasiri compartilha a história de sua vida - precariamente equilibrada entre o mundo dos jihadistas islâmicos e dos espiões que os perseguem. Como árabe e muçulmano, ele pôde se infiltrar nos rigidamente controlados campos de treinamento afegãos, onde encontrou homens que mais tarde se tornariam os terroristas mais procurados da Terra: Ibn al-Sheikh al-Libi, Abu Zubayda e Abukhabab al-Masri. Enviado de volta à Europa, Nasiri tornou-se um intermediário de mensagens trocas entre o recrutador-chefe da Al-Qaeda no Paquistão e o clérigo radical de Londres, Abu Qatada.  

Em suma, "Por dentro do Jihad" oferece uma perspectiva inteiramente original da batalha que se desenvolve contra a Al-Qaeda. Omar Nasiri, nome fictício, nasceu no Marrocos e atualmente vive na Alemanha. 
Eis mais um trecho de "Por Dentro do Jihad":

“Em Durunta (um dos centros de treinamento de guerrilheiros internacionalistas no Afeganistão), começamos o treinamento com explosivos. Havia uma espécie de sala de aula em um dos alojamentos e Assad Allah escrevia fórmulas no quadro negro ou fazia demonstrações em uma grande mesa. Antes de mais nada, ele nos ensinou procedimentos de segurança. Passamos dias nisso, memorizando as temperaturas e umidades adequadas para a estocagem de diferentes componentes e aprendendo sobre os vários equipamentos de segurança – luvas, máscaras contra gazes, óculos – a serem usados com inúmeros produtos químicos e explosivos, Assad Allah também ensinou o que fazer se alguma experiência desse errado.

Ele não se cansava de dar o mesmo aviso:
Vocês têm um visto e devem trazê-lo todos os dias à aula. Mas eu posso tirar o visto a qualquer momento. Se vocês violarem os procedimentos de segurança, eu os mandarei para casa imediatamente. Nós sabíamos que ele não estava brincando.

Nós ficávamos no laboratório ou na sala de aula todos os dias pro cerca de 10 horas. Só parávamos para comer e fazer a salat (1). Trabalhávamos com química e matemática bastante complicadas e tínhamos que ter extrema concentração. Aprendemos a fazer todos os explosivos a partir do zero, Essa era a idéia: para onde quer que fôssemos, nós não teríamos acesso a explosivos de categoria militar ou material industrial. Nós teríamos que nos virar com o que conseguíssemos encontrar.

Aprendemos a fazer as mais diferentes coisas: pólvora, RDX, tetril, TNT, dinamite, C2, C3, C4, Semtex, nitroglicerina e daí por diante. Aprendemos a fazer cada um com produtos que poderíamos encontrar em lojas ou roubar de laboratórios escolares. Xarope de milho, tintura para cabelo, limões, lápis, açucar, café, sal de Epsom, naftalina, baterias, fósforos, tintas, produtos de limpeza, água sanitária, fluido de freios, fertilizantes, areia. Cada um desses contém componentes de diferentes tipos de materiais explosivos. Aprendemos como decompor esses produtos e como transformá-los em bombas. Eu até mesmo aprendi como fazer uma bomba com a minha própria urina.

Nós testávamos os explosivos perto de algumas ruínas na extremidade do campo. Quase sempre usávamos quantidades muito pequenas, mas medíamos a velocidade da explosão para calcular quais seriam os efeitos com cargas maiores. Falamos como e quando usar diferentes tipos de explosivos. Aprendemos quais materiais deveríamos utilizar para explodir um trem, quanto de explosivos precisaríamos e como posicioná-lo nos trilhos para obter o máximo de impacto. Aprendemos a explodir carros e prédios.

Falávamos bastante sobre aviões. Estes eram difíceis de explodir devido à segurança nos aeroportos. Ficamos sabendo que Semtex era o mais fácil de levar à bordo, por ser quase impossível de detectar. Mas o Semtex era difícil de se obter, Assad Allah lembrava-nos. Também aprendemos sobre explosivos líquidos.

Fazíamos anotações sobre tudo nos cadernos pequenos que ganhamos no campo. Mas, no fim, eles esperavam que soubéssemos tudo de cor. Quando chegasse a hora de usar os explosivos, nós não teríamos um manual diante de nós. Assim, passávamos pelas fórmulas infindáveis vezes até conseguirmos repeti-las durante o sono. E Assad Allah nos submetia a provas todos os domingos, para se assegurar que havíamos aprendido.

Certa ocasião, Assad Allah falou sobre um incidente que ocorrera durante seu próprio treinamento em explosivos. O seu grupo estava aprendendo a fazer nitroglicerina e um dos irmãos não prestava atenção. Ele deixou os materiais esquentaram mais do que o permitido. Felizmente, o instrutor viu o termômetro bem a tempo de evitar que os materiais explodissem. Havia mais 7 pessoas no laboratório e todas poderiam ter morrido.

- Vai explodir! – ele gritou para o irmão.

Havia uma pia cheia de gelo bem ao lado do recruta e ele deveria ter jogado o material ali para esfriar. Mas, em vez disso, ele correu para a porta com a bomba-relógio líquida nas mãos. Assim que saiu, a mistura explodiu. A explosão arrancou os dois braços na hora e destruiu um dos olhos.

- O irmão sobreviveu? – perguntei.

- Sim – Assad Allah responde – Ele vive agora em Londres e prega nas mesquitas. Seu nome é Abu Hamza.

Na época eu não tinha idéia de quem era esse homem e nem a importância que ele viria a ter em minha vida.

Um dia, Abdul Kerim e eu entramos em uma mesquita e vimos alguém pendurado nas vigas pelos tornozelos. Seus olhos estavam vendados e ele gritava. Havia vários irmãos parados ao redor. Eles gritavam com o prisioneiro e um apontava uma arma para a sua cabeça.

Senti calafrios. É isso que fazem com espiões, pensei. Isso é o que vai acontecer comigo, se eu for pego. Meu estômago revirou, mas não tive muito tempo para pensar nisso porque Abu Mousa veio por trás e nos tirou da mesquita.

- O que está acontecendo? – perguntei.

- Eles são do outro campo – falou. – Um dos irmãos vai numa missão. Os outros estão preparando-o para o interrogatório, no caso de ser pego. Não sabemos o que ele vai dizer. Ele pode revelar alguma coisa sobre sua missão e vocês não devem saber nada sobre ela..

Ele deve ter percebido nossa decepção e, logo depois, passou a ler um livro, em voz alta, escrito em árabe, sobre interrogatórios. Desde as primeiras frases o livro era fascinante, e incrivelmente detalhado. Começava listando os diferentes estágios de um interrogatório: da prisão, passando pelas perguntas iniciais, até as ameaças e a tortura. E, aí, vinha a série de todas as diferentes coisas que os interrogadores poderiam fazer: pendurá-lo de cabeça para baixo em sua cela, espancá-lo com as mãos, cassetetes ou fios elétricos, deixá-lo nu por vários dias, arrancar as unhas, queimar a pele com cigarros ou fogo, atacá-lo com cães, acertá-lo na virilha ou dar choques nos genitais. A lista não tinha fim e Abu Mousa disse que todas essas técnicas haviam sido empregadas em irmãos em diferentes países.

A primeira lição era simples: um mujahid (2) deve guardar tudo para si mesmo. A melhor maneira de impedir a revelação de segredos era, antes de mais nada, não os ter. Percebi que era por isso que, desde o primeiro dia, nós recebemos ordens de nunca falar com outros sobre nossa vida fora dos campos. Não era apenas porque tinham medo de espiões. Era porque queriam se assegurar de que nenhum dos irmãos pudesse revelar muita coisa se cedesse sob pressão.

Mas a fé, e não o segredo, era, de longe, a arma mais importante à disposição do mujahid. Um verdadeiro mujahid pode suportar qualquer coisa se estiver sofrendo por Deus. Ele deve se preparar para o interrogatório e a tortura do mesmo modo que se prepara para qualquer outro tipo de batalha. Abu Mousa foi bastante claro quanto a isso: o interrogatório era uma espécie de guerra psicológica. E assim, como na guerra de verdade, não havia como um irmão pudesse perder. Ou ele derrotava o inimigo ou morria como um mártir.

for capturado, o irmão não deve, jamais, ceder qualquer informação e deve compreender que nenhuma vantagem pode ser conseguida assim. Somente levaria a mais tortura, porque os interrogadores perceberiam que o prisioneiro teria segredos para revelar. Mas os interrogadores jamais o matariam, porque não teria utilidade morto.

Como explicado por Abu Mousa, o interrogatório era uma grande oportunidade para um irmão. Ele poderia aprender mais sobre o inimigo e disseminar contra-informação que ajudasse seu grupo a atingir o objetivo. Esse tipo de manipulação exige habilidade e os irmãos devem praticar isso, assim como treinam para o uso de uma arma. Ele deve aprender a fazer os interrogadores falarem. Quanto mais durar o interrogatório, mais informações os interrogadores revelarão sobre o que sabem e sobre sua estratégia. O irmão pode usar essas informações para delinear suas próprias respostas, para dizer ao inimigo mentiras que pareçam verdades. Para um mujahid, o contra-interrogatório é apenas mais uma batalha tática.

Muitos anos depois eu pensaria novamente nessa lição, quando comecei a aprender mais sobre Ibn al-Sheikh al-Libi e seu papel dentro do que veio a ser conhecido por al-Qaeda. Ibn Shekh continuou a dirigir campos de treinamento no Afeganistão durante os anos 1990 e era próximo a bin-Laden. Ele foi capturado logo após a invasão dos americanos ao Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro, sendo levado de avião para o Egito, onde foi torturado pela CIA. Lá, ele disse aos interrogadores que Saddam Hussein dera à al-Qaeda informações sobre a confecção de armas químicas. Era às informações de Ibn Shekh que George W. Bush e Collin Powell se referiam quando disseram ter provas de que Saddam Hussein tinha conexões com a al-Qaeda. Eles usaram o que Ibn Sheikh lhes contara para justificar a invasão do Iraque.

Mas tarde Ibn Shekh disse que a historia a respeito de Saddam Hussein não era verdadeira. Na verdade, a CIA sabia que a história de Ibn Shekh não era confiável bem antes de Collin Powell se referir a ela em seu famoso discurso na ONU. Mas, quando esse fato emergiu, já não tinha mais importância. A América já estava em guerra.

Muitos dizem que Ibn Shekh mentiu aos captores por desespero, porque estava sendo torturado brutalmente. Eu sei que isso não é verdade. Ela havia sido preparado para interrogatórios, do mesmo modo que o irmão da mesquita estava se preparando. Ele sabia o que fazer.        

Não. Ibn Sheikh não cedeu à pressão da tortura. Ele manipulou seus interrogadores com a mesma habilidade com que empunhava sua arma. Ele sabia o que seus interrogadores queriam e ficou contente em dar-lhes. Elequeria ver Saddam derrubado ainda mais do que os americanos. Como ele nos disse em Khaldan, o Iraque era o próximo grande jihad.                                                                                                                                                                                                                          

Em algum lugar, numa câmara de tortura secreta. Ibn Sheikh venceu sua batalha”.
                                                                                                                    
                                  ______________________________

(1)   Salat ou Salah (árabe:صلاة ) refere-se às cinco orações rituais que cada muçulmano deve realizar diariamente voltado para Meca. É um dos Cinco Pilares do Islão (arkan al-Islam). Em outras línguas estas orações são chamadas de Namaz.
(2) Mujahid - muçulmano envolvido no que ele considera ser uma jihad

09 de agosto de 2014
Carlos I. S. Azambuja é Historiador. 

OCIDENTE, A PRÓXIMA VÍTIMA



Como diria Nelson Rodrigues é uma “obtusidade córnea” a atitude ocidental, sobretudo da esquerda, a respeito do conflito entre Israel e o Hamas. Israel é, apenas, a primeira e mais visível fronteira do Choque de Civilizações previsto por Samuel Huntington.

Israel é o único enclave da civilização ocidental em um oriente dominado pelo Islã. E o objetivo da Jihad, a Guerra Santa, não é catequizar os infiéis, como fez o Cristianismo ao longo de sua história, mas, simplesmente, eliminá-los, destruí-los. E os infiéis para os islamitas radicais somos todos nós, membros da civilização judaico-cristã ocidental. Essa mesma entidade fluida cujos princípios libertários e democráticos permitem à esquerda se manifestar livremente contra a resistência de Israel à Jihad islâmica.

O autoritarismo islamita não vai se limitar a perseguir a eliminação de Israel. Em seguida virão os foros de democracia e civilidade de todo o Ocidente. Ou será que Al Qaeda, Hamas, Irmandade Muçulmana, Hezbollah, Boko Haram, Aiatolás iranianos e o novo Califado recém surgido no Iraque vão se contentar em somente riscar Israel do mapa? Certamente não, a cruzada contra os infiéis prosseguirá adiante. Aproxima-se o dia em que as mulheres ocidentais serão submetidas à mutilação genital e obrigadas a usar burca.

Ao não defender Israel com veemência o Ocidente, principalmente a esquerda, dá um tiro no próprio pé. Nosso estilo de vida, com democracia, liberdade e pluralismo, será a próxima vítima do extremismo muçulmano.

09 de agosto de 2014
Ney Carvalho é Historiador, Escritor e Especialista do Instituto Liberal.