"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O HUMOR DO DUKE

Charge O Tempo 03/04

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE




03 de abril de 2014

BOLSONARO RESPONDE


“Que moral tem um governo para falar em tortura quando esconde qualquer investigação sobre o sequestro, tortura e execução do prefeito Celso Daniel, justiçado pelos próprios companheiros; quando cria uma Comissão da Verdade cujos integrantes são indicados por alguém como a presidente, que, à frente de grupos terroristas como VPR, Colina e VAR-Palmares, sujou suas mãos de sangue de inocentes como o tenente Alberto Mendes Júnior, executado a pauladas nas matas do vale do Ribeira, e o recruta do Exército Mário Kozel Filho, morto por carro bomba no QG do então Segundo Exército? A esquerda continua posando de vítima na busca de compaixão, votos e poder.”
 
Jair Bolsonaro em seu artigo Censura escancarada.
 
03 de abril de 2014~
Ricardo Froes

APRENDIZ DE FEITICEIRO

Edição 90 > _esquina > Março de 2014


 
O Harry Potter do PSOL contra a “farsa da direita”
por Malu Delgado
 

Os fãs tentam entender por que diabos Harry Potter não recorre a seus poderes para curar o problema na visão e abandonar os óculos. Por que ele é o único aprendiz de feiticeiros que porta o acessório em Hogwarts? Independentemente das explicações nas fanpages, tão imaginosas quanto a saga da britânica

J. K. Rowling, o fato é que aqueles óculos são a marca registrada do bruxinho. E é por causa deles que o senador pelo Amapá Randolfe Rodrigues, candidato do PSOL à Presidência da República, é conhecido pelo nome do protagonista da série.

“Não é, Harry Potter?”, brincava o senador Magno Malta (PR-ES) numa manhã de fevereiro, num dos corredores do Senado, enquanto defendia em entrevista a redução da maioridade penal. “Hoje não é um bom dia para isso, senador. Senão conto quem é Voldemort”, revidou Randolfe.

Os óculos de Randolfe causam tanto frisson aos marqueteiros do PSOL quanto os de Harry Potter aos fãs. Há catorze anos o senador foi diagnosticado com um leve astigmatismo e comprometimento da convergência ocular. “Há duas semanas o oftalmologista me disse que não tenho mais nada.” Mas o programa do partido veiculado no início de fevereiro trazia cenas do senador com os indefectíveis óculos. O candidato não sabe o que fazer com a imagem forjada por ocasião da disputa de 2011 à presidência do Senado, da qual José Sarney (PMDB-AP) saiu vencedor por setenta votos a oito.

Além da dúvida sobre manter ou não o figurino Harry Potter no candidato, há outra mágica a ser feita pelo PSOL: rejuvenescer ainda mais o jovem Randolfe, de meros 41 anos. O marqueteiro – “Luiz Arnaldo Campos, um cineasta militante que não visa ao lucro” – vetou o uso de terno e gravata na tevê. E será preciso muito feitiço para tornar sedutor o discurso do candidato: não bastasse a voz estridente e a retórica professoral, Randolfe é, segundo um correligionário, “gongórico”, ou seja, abusa de imagens rebuscadas e muitas vezes herméticas.

Januário Martins, pai do senador e petista histórico, não aprovou o programa do PSOL: “Parecia aquelas coisas do PT de antigamente.” Randolfe admite que não vai ser fácil encantar os eleitores falando da “auditoria da dívida externa” na tevê, com as ruas em ebulição. Ele se anima, porém, com a liberdade com que o partido poderá tratar da pauta “dos costumes”, como direitos homoafetivos e a descriminalização do aborto e da maconha. A agenda das mobilizações de junho também será encampada pelo PSOL: “Tarifa zero é exequível e realizável.”
 
"Até que enfim ganhamos uma aqui dentro”, celebrava Randolfe ao final da votação em que a Proposta de Emenda Constitucional na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) sobre a redução da maioridade penal foi derrotada por 11 a 8. O senador repetia a piadinha que circulava nos corredores do Senado: “Passagem do meu estado até Brasília: 650 reais. Abastecer o carro do Senado: 400 reais. Ver a cara do Magno Malta depois da derrota da proposta: não tem preço.”

Num lapso de descontração durante o almoço em Brasília, Randolfe admitiu que é “meio sério mesmo”. Foi enfático quando o garçom lhe perguntou sobre o ponto da carne: “Passada, bem passada, muito bem passada, passadíssima.” Criado a maior parte da infância pelos avós em Pernambuco, enquanto os pais se aventuravam pelas terras promissoras do Amapá, ele credita sua aparência austera à pouca idade com que foi eleito. “Como sou o mais jovem da Casa, isso me impôs a necessidade de tentar envelhecer, ser formal, impor respeito. Na campanha vou tentar rejuvenescer.”

Entre um bocado e outro, falou das dificuldades para arrumar namorada na juventude. “Para namorar comigo tinha que resistir a pelo menos uma reunião do DCE e a uma panfletagem.” Hoje já é avô de Antônio Gabriel, filho de Thaís, sua caçula, de 18 anos. O primogênito, Gabriel, um ano mais velho que a irmã, lhe apresentou o mundo de Harry Potter. Divorciado, Randolfe vive com a nova companheira em Macapá, mas passa grande parte dos dias em Brasília. Fez poucos amigos. Não conseguiu aderir à pelada do deputado Romário (PSB-RJ) e do senador Petecão (PSD-AC) às terças-feiras. “É rara uma terça em que eu não queira fazer um pronunciamento”, justifica o flamenguista.

No dia 24 de fevereiro, Randolfe foi lançado pré-candidato do PSOL em São Paulo. É apontado como a síntese dos dois primeiros candidatos do partido à Presidência, a ex-senadora e hoje vereadora Heloísa Helena (6 575 393 votos) e Plínio de Arruda Sampaio (886 816 votos). Teria, segundo seus entusiastas, o vigor de Heloísa e a ternura de Plínio. O evento lembrava as plenárias do PT da década de 80 – boinas circulavam pelo salão, onde uma lojinha vendia livros marxistas e socialistas, bótons e camisetas do Che.
A diferença ficava por conta da Bateria Indignada, a bandinha de jovens do partido que surgiu na época das manifestações de junho. A cada discurso, a rapaziada improvisava um bordão. “Eu não recebo nenhum real... Eu tô na rua por um ideal”, cantaram antes de Marcelo Freixo discursar. Visto hoje como o único político do nanico PSOL com alguma viabilidade de não fazer feio numa aventura nacional, Freixo declinou de ser candidato à Presidência.
No dia 9 de fevereiro, teve seu nome associado pelo advogado Jonas Tadeu Filho ao manifestante black bloc acusado da morte do cinegrafista Santiago Andrade. O PSOL considera a tentativa de ligar o partido ao financiamento de black blocs uma “farsa do sistema” e diz estar afinadíssimo para tratar do assunto se “a direita” quiser ressuscitá-lo na campanha.

Dias antes de ser oficializado pré-candidato, Randolfe admitia não entender por que Freixo não aceitou concorrer. “Ele teria as melhores condições.” Para o senador, não há “razoabilidade” na recusa do colega. Freixo, deputado estadual, quer disputar a Prefeitura do Rio em 2016 e acha que precisa estar na Assembleia em 2015.
Para não morrer de vez, a única meta real do PSOL em 2014 é eleger bancadas estaduais e federais, e Freixo é fundamental nessa engrenagem.
“Pelo sim, pelo não”, Randolfe mantém no pulso uma fitinha vermelha do Senhor do Bonfim que ganhou em Salvador. A militante que lhe deu a mandinga insistiu que ele a tirasse somente no segundo turno.

03 de abril de 2014
 

DILMA ELEITA PIOR GESTORA DE IMPOSTOS DO MUNDO!


 
Pela quinta vez consecutiva, o Brasil é o país que proporciona o pior retorno de valores arrecadados com tributos em qualidade de vida para a sua população.
 
A conclusão consta de estudo do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação) que compara 30 países com maior carga tributária em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) e verifica se o que é arrecadado por essas nações volta aos contribuintes em serviços de qualidade.
 
Para medir esse retorno, o instituto criou em 2009 o Irbes (Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade).
No Brasil, ele é de 135,34 pontos; nos EUA, 165,78. O indicador de retorno é resultado da soma de dois outros parâmetros usados pelo IBPT: a carga tributária em relação ao PIB (soma das riquezas de um país), com ponderação de 15% na composição do índice, e o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), calculado com base em dados sobre educação, renda e saúde e que serve para medir o grau de desenvolvimento econômico. Esse indicador tem peso de 85% na composição do Irbes.
 
Para a carga tributária, o estudo considera as informações da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico). Os dados de IDH usados são da ONU (Organização das Nações Unidas). Ambos são de 2012, último dado disponível. No Brasil, a carga fiscal em 2012 foi de 36,27%, segundo mostra o levantamento do instituto, que atua no setor.
 
FISCO
 
A Receita Federal informou que não comentaria o assunto. Para o Fisco, a carga tributária do Brasil em 2012 foi de 35,85%. O resultado de 2013 ainda não foi divulgado. Os percentuais do IBPT e da Receita são diferentes porque o instituto considera no cálculo os valores pagos com multas, juros e correção, contribuições e custas judiciais.
 
Para o presidente do IBPT, João Eloi Olenike, o estudo reforça e mostra a necessidade de cobrar dos governos de todas as esferas -federal, estadual e municipal- a melhor aplicação dos recursos pagos pelos contribuintes. "Os brasileiros foram às ruas recentemente em protestos em que as faixas também mostravam a insatisfação com a elevada carga tributária e o pouco retorno em qualidade de vida", diz.
 
(Informações da Folha)
 
03 de abril de 2014
in coroneLeaks

SE DILMA FOR REELEITA, "TARIFAÇO" NA CONTA DE LUZ SERÁ IGUAL PARA POBRES E RICOS.

Distribuidoras estão emprestando bilhões para repassar só depois da eleição.
Lembram da mentira na TV?

Todos os consumidores vão pagar pelo empréstimo das distribuidoras de forma igual ao longo dos próximos anos. A proposta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevê que a conta de luz seja reajustada de forma igual, sem diferenciar os clientes por área ou região.
 
A proposta da Aneel regulamenta o decreto que vai permitir à Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) tomar empréstimos em nome das distribuidoras com bancos.
 
O objetivo é pagar as despesas dessas empresas com a compra de energia no mercado de curto prazo e com as usinas térmicas e, assim, evitar um aumento nas tarifas neste ano, para não atrapalhar a reeleição de Dilma. Para 2015, governo está prometendo aumento nas contas de luz da ordem de 30%.
 
03 de abril de 2014
in coroneLeaks

UM BLOGUEIRO GOVERNISTA E UM COLUNISTA DE DIREITA REESCREVEM A HISTÓRIA DA BORRALHEIRA EMERGENTE






A BORRALHEIRA CLASSE C
 
Era uma vez uma jovem nascida na Chatuba de Mesquita que sonhava encontrar um príncipe encantado no Orkut. Sem direito a hora extra, auxílio-alimentação ou vale-transporte, sem usufruir da PEC das domésticas, Cinderela da Silva era explorada numa rotina de trabalho semiescravo pela madrasta imperialista.

Sua única diversão consistia em fugir em uma van lotada para dar aulas de ciências sociais e fazer trabalhos voluntários nas periferias da corte. Aos preconceitos de classe que atravessavam seu caminho, Cinderela respondia calada: “Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante e pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante.”

Até que, num belo dia, recebeu um convite, via mala direta, para o Baile Encantado do Instituto Lula, com a presença do príncipe herdeiro, Fernando Haddad. Era uma festa para a qual todos estavam convidados: o rico, o pobre, a classe C, os movimentos sociais, os companheiros do sindicato, jornalistas brigados com a Globo e penetras de sobrenome Sarney. Cinderela vibrou com a oportunidade de ser tratada com dignidade, respeito e justiça.

A madrasta reaça, no entanto, moveu montanhas para proibir Cinderela de ir ao baile: privatizou rodovias, telefonou para donos de jornais e revistas, ergueu cartéis e deslocou a Tropa de Choque da PM para a porta de sua casa.

Sitiada, sentindo-se isolada do mundo pelo apartheid sociocultural opressor de uma sociedade retrógrada e machista blindada por uma oligarquia midiática, Cinderela recebeu a inesperada visita da fada madrinha. Com um topete estático na cabeça e uma varinha de condão com uma estrela vermelha na ponta, a fada entoou a canção: “Bolsa Família, Luz Para Todos, Minha Casa, Minha Vida/ Bibidi-bobidi-bu/ Junte isso tudo e teremos então/ Bibidi-bobidi-bu.”

Num passe de mágica, transformou a abóbora em um jatinho da FAB e desocupou uma fazenda improdutiva para realizar a decolagem. Uma cooperativa de tecelãs costurou um lindo vestido balonê com algodão 100% nacional. Com penteado esculpido por Celso Kamura, Cinderela estava pronta para ir ao baile. Mas havia uma condição: à meia-noite, o patrocínio da Caixa Econômica Federal cessaria e o feitiço estaria acabado.

Alegre e faceira, ela dançou a Internacional socialista, de rosto colado com o príncipe Haddad durante toda a noite. Por seu vestido chiquerérrimo, ainda foi laureada como musa LGBTTT da festa. Inebriada por doses iguais de volúpia, autoestima e Sidra Cereser, Cinderela mandava um beijinho no ombro para a madrasta recalcada quando percebeu que faltavam poucos minutos para a meia-noite. Saiu correndo, mas no caminho deixou cair no chão um pé das Havaianas, um bem-casado, um enfeitinho de mesa e dois copos de requeijão.

No dia seguinte, Haddad, o príncipe, anunciou que procuraria pela dona daquele chinelinho. Numa demonstração de humanidade, começou pela Cracolândia e, de ônibus, munido de seu Bilhete Único, rodou pela cidade em busca da amada. Encontrou Cinderela, faminta, esfarrapada e assustada num abrigo da prefeitura. Assim que o príncipe lhe calçou o chinelo, vendo que cabia à perfeição, pediu a mão dela em casamento.

Nos anos seguintes, Haddad valorizou a independência de Cinderela, respeitou-a como mulher e a incentivou a presidir uma ONG com bons convênios no Ministério do Turismo. O primeiro filho, Leon Inácio, veio ao mundo pelas mãos de um obstetra cubano. O casal viveu feliz e solidário para sempre.


A PETISTA DESLUMBRADA
 
Era uma vez uma esquerdista idiotizada que vivia encostada na casa da madrasta à espera de um Bolsa Esmola qualquer. Cinderela ficou órfã aos 6 meses quando seus pais foram combater na Guerrilha do Araguaia. Foi adotada por uma madrasta que cuidou com mão de ferro de sua educação e formação de caráter. Cinderela, no entanto, tinha um DNA comunista. Passava os dias fumando maconha e imaginando maneiras de implementar no país uma ditadura genocida em nome de “um mundo melhor”. Pelo desleixo com que realizava suas tarefas domésticas, ficou conhecida como a Princesa da Baderna.

Metade irresponsável, metade hipócrita, a princesinha, como toda comunista, no fundo sonhava em casar com um marido rico e morar numa cobertura à beira-mar no Leblon. Resistia diariamente ao trabalho honesto e ofendia a religiosidade de sua sagrada família repetindo blasfêmias vomitadas por Gregorio Duvivier.

Todos sabiam que Cinderela era a cabeça de uma gangue que recrutava bárbaros desocupados para realizar rolezinhos nas áreas civilizadas da corte. Em vez de levar um corretivo bem aplicado, a musa da baderna foi incentivada a delinquir e logo se destacou. Integrou comissões de direitos humanos para defender os bandidos que a acompanhavam e, claro, filiou-se ao PT para conhecer bandidos novos.

Num belo dia, enquanto tramava a depredação de um asilo, Cinderela recebeu uma mensagem em seu iPhone 4 convidando-a para um baile na USP regado a cerveja e tóxicos. Sua madrasta, que pagava suas contas, inclusive o cartão American Express, foi contra. Numa atitude corajosa e educativa, amarrou Cinderela a um poste e saiu para trabalhar.

Foi quando, num passe de mágica, a Fada Neoliberal apareceu. Com um vestidinho Versace, óculos escuros Dolce & Gabbana e chapéu-panamá, a fadinha foi logo lançando seu feitiço: “Livre mercado, Estado mínimo, garantias individuais/ Bibidi-bobidi-bu/ Junte isso tudo e teremos então/ Bibidi-bobidi-bu.”

Com uma varinha Louis Vuitton, transformou a abóbora em um helicóptero da família Perrela. Reduziu impostos de perfumes e disponibilizou para Cinderela um grande closet com coleções hippies e hipsters 2014-15 de grifes famosas. Mas havia uma condição: à meia-noite, o feitiço acabaria e Cinderela teria que arrumar um emprego para pagar suas contas e reembolsar as dívidas que fez com a fada. Os juros seriam de 13% ao mês. Cínica, Cinderela aceitou as condições.
No baile, Cinderela dançou a noite toda de rosto colado com um morador de rua fedido. Perto da meia-noite, no entanto, a manifestação que começou pacífica foi infiltrada por um pequeno grupo mascarado que iniciou atos de vandalismo. A princesa acabou deixando cair um frasco de vinagre e uma máscara de oxigênio na escadaria enquanto corria da Polícia Militar.

Edevaldo Maria das Dores, o morador de rua que dançou com Cinderela, começou a procurar mulheres em cujo rosto coubesse a máscara. Calhorda e ingrata, como todos os comunistas, Cinderela ignorou a busca do malcheiroso e os dois nunca mais se viram.
Cinderela casou-se com um empresário neoliberal financiado pelo BNDES e viveu hipócrita para sempre, assistindo a Manhattan Connection sob o edredom nas noites de domingo.

03 de abril de 2014
Revista Piauí, mar 14

2015 JÁ COMEÇOU

Após anos de forte crescimento do consumo, a renda das famílias está comprometida com dívidas, há escassez de mão de obra e infraestrutura opera perto do limite

Após um período de forte crescimento, o governo vem promovendo ajustes na política econômica. O ciclo de alta de taxa de juros, a maior preocupação em comunicar as estratégias fiscais e os ajustes no programa de concessão são exemplos da reorientação de política.

Mas mal começou o ano e a maior instabilidade nos mercados internacionais limitou ainda mais as alternativas de política, fazendo com que parte das correções que esperávamos apenas para 2015 fosse antecipada já para este ano.

O ajuste não é má notícia. Mesmo que o preço a pagar seja um menor crescimento no curto prazo, como um PIB mais próximo a 1,5% em 2014, ajustes bem conduzidos podem construir um ambiente melhor a partir do próximo ano. Com um ambiente global mais saudável, a recuperação gradual da confiança e menores custos de produção podem permitir investimentos mais elevados e recuperação da competitividade da economia.

Apesar de um ambiente global de maior crescimento, o ano teve inicio com novas turbulências. De acordo com o FMI, a economia global irá se expandir 3,6% este ano e 4% em 2015, após crescer 2,9% em 2013. Este cenário favorável, no entanto, tem sido acompanhado por um rebalanceamento do crescimento, com as economias desenvolvidas apresentando um melhor desempenho que os mercados emergentes. A recuperação das economias desenvolvidas reforça a expectativa de normalização dos juros internacionais, menor liquidez e, portanto, menor demanda por ativos de risco. Neste caso, os investidores se tornam mais seletivos, fazendo com que menores fluxos de capitais pressionem câmbio e juros, desacelerando as economias emergentes.

Mesmo sendo relativamente fechada, a economia brasileira não tem sido poupada. Os esforços recentes feitos pelo governo para melhorar a qualidade e a comunicação de suas políticas não têm sido suficientes para fazer frente à maior seletividade dos investidores. O risco percebido em relação ao país aumentou e permanece acima dos níveis de seus pares da América Latina. Esta menor atratividade pode ser explicada, fundamentalmente, por um ambiente de baixo crescimento, aumento do risco fiscal e inflação elevada.

Do ponto de vista do crescimento, há amplo consenso de que o desempenho recente reflete esgotamentos cíclicos e estruturais. Após anos de forte crescimento do consumo, a renda das famílias está comprometida com o pagamento de dívidas, há escassez de mão de obra e a infraestrutura opera próxima ao limite. Com uma taxa de poupança doméstica em níveis historicamente baixos, o déficit em conta corrente voltou a ser uma preocupação. Estes fatores limitaram, e continuam limitando, o crescimento econômico.

A desaceleração econômica corrente, por sua vez, elevou o risco fiscal: a política de desonerações tributárias e a expansão das despesas acima do ritmo da economia não tiveram o mérito de simplificar o sistema de impostos e estimular o crescimento, que se manteve baixo e dificulta a recuperação das receitas do governo. Conjunturalmente, há os gastos gerados pelas dificuldades atuais no setor elétrico. As indicações das agências de classificação de risco refletem a percepção dos investidores de que os riscos têm se ampliado.

A inflação não mostrou alívio, apesar do desaquecimento. A piora das contas fiscais e externas elevou a vulnerabilidade da economia e contribuiu para reduzir os ingressos de capitais, depreciando a moeda. Além disso, a tendência de alta nos preços de energia e o fato de o mercado de trabalho seguir apertado, sustentando uma tendência de alta dos preços, reforçam os desafios para conduzir as expectativas de inflação em direção ao centro da meta. Como resultado, a inflação ao consumidor permanece próxima ao limite superior da meta e acima da média observada em países latino-americanos considerados seguros para investimento.

Com amplos desafios fiscais e inflacionários, a margem de manobra para a gestão econômica se reduziu. O Banco Central tem sido levado a continuar aumentando a taxa de juros e, da mesma forma, a possibilidade de piora no risco soberano é um incentivo para a reorientação da política fiscal, inclusive com cortes em investimentos públicos.

O ambiente econômico global e doméstico, portanto, reduziu as alternativas de política e implicou uma mudança mais rápida no viés das políticas fiscal e monetária, justificando o pessimismo quanto ao crescimento no curto prazo. O lado bom é que inflação mais baixa, estabilidade de dívida e câmbio flutuante, em conjunto com menores pressões no mercado de trabalho e condições mais favoráveis de infraestrutura, podem conduzir a maior crescimento econômico no médio prazo.

Era uma história que imaginávamos contar apenas a partir de 2015.

 
03 de abril de 2014
CARLOS LOPES, GUILHERME MAIA E ROBERTO PADOVANI, O Globo

MIL E UMA INUTILIDADES

Para que serve uma comissão parlamentar de inquérito? Em tese, para que deputados e senadores investiguem um fato determinado com poderes próprios das autoridades judiciais. É o que diz o artigo 58 da Constituição.

Na prática, porém, hoje as CPIs servem a vários objetivos, nenhum deles relacionado à função propriamente dita de investigar. As comissões funcionam como palanques, chamarizes de holofotes, fábricas de manchetes, instrumentos de chantagem, objetos de negociações, ferramentas para troca de constrangimentos; com elas podem-se armar as maiores confusões confiando numa conta final de soma zero.

Mas resultam em desgaste para o Congresso como um todo e para o governo em particular, que faz toda espécie de movimentos vexatórios para evitar a instalação de uma comissão parlamentar de inquérito, com receio de que elas cumpram sua missão constitucional de trazer à luz fatos de aparência sombria.

Governos, todos eles, têm horror a CPIs. Em geral conseguem manejar a maioria para evitar sua instalação. É do jogo. Fora da regra é a manipulação escancarada de requerimentos como o que o Palácio do Planalto orientou sua base a apresentar para investigar casos que supostamente atingiriam os candidatos de oposição à Presidência da República.

Assim surgiu a ideia de uma CPI sobre o cartel dos trens do Metrô de São Paulo e os negócios relativos ao Porto de Suape, em Pernambuco, tendo como endereço Aécio Neves e Eduardo Campos. Se a proposta fosse para valer, tudo bem. A questão é que não é. Trata-se apenas de um estratagema para levar à rejeição da CPI da Petrobras.

Quer dizer, ao governo federal pouco importa se os casos do metrô e do porto merecem ser investigados. Basta que a Petrobras não seja objeto de atenção no campo político. Atenção com potencial de repercussão eleitoral negativa, bem entendido. Em matéria de uso político da empresa o governo do PT é o último a poder acusar os adversários, pois dessa matéria-prima muito se valeu e dela está roendo até o caroço.

De culpas. No momento em que aceitaram abrir sindicâncias para apurar ocorrência de torturas e mortes em estabelecimentos militares em diversas capitais do país, as Forças Armadas assumiram também o compromisso de não fugir da verdade histórica, já devidamente documentada e testemunhada. Pelo menos é o que está posto se não pretenderem se desmoralizar apresentando, ao fim dos trabalhos, relatórios que deem a essas investigações o caráter de simulação e acobertamento.

No caso de um resultado consistente, os militares pela primeira vez poderão admitir a responsabilidade da instituição pela violência extrema, nesses anos todos atribuída a excessos de agentes que teriam agido à revelia dos comandantes. Seria um passo importante na pacificação dos espíritos.

Um simbolismo que em nada afetaria a Lei de Anistia, cuja revogação não se dá por um mero ato de vontade, é de difícil execução. Precisaria necessariamente passar pelo Congresso hoje formado por pessoas e forças inteiramente alheias aos termos do pacto que abriu o caminho para retomada da democracia. O respeito àquele contrato firmado mediante as circunstâncias da época (final da década de 70) completa-se como um ato perfeito se todas as partes adotarem a baliza da verdade.

Não fecha. O vice-presidente da Câmara, André Vargas, primeiro disse que viajou de Londrina a João Pessoa no avião do doleiro Alberto Youssef, investigado pela Polícia Federal, porque os voos comerciais estavam muito caros. Depois afirmou ter se oferecido para pagar a despesa com o combustível estimada em R$ 20 mil. Uma das duas (ou ambas) versões é falsa: naquele trecho a passagem mais cara – “top”, comprada de última hora – sai a R$ 2.313.

 
03 de abril de 2014
Dora Kramer, O Estadão

MINORIA AMEAÇADA

 

A oposição levará ao Supremo tribunal Federal (STF) a decisão do presidente do Senado, Renan Calheiros, de, na prática, acatar a manobra situacionista e aceitar a realização de uma CPI da Petrobras enxertada de questões regionais que procuram atingir os dois principais candidatos oposicionistas à Presidência da República: uma investigação sobre o Porto de Suape, em Pernambuco, e as denúncias de cartelização no metrô paulista nos governos tucanos desde Mario Covas.

Ao enviar à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado o assunto, admitindo que uma CPI possa ser ampliada antes mesmo de ser instalada, Renan Calheiros está dando uma interpretação bizarra, que ele chamou de singela , à jurisprudência do STF, que já decidiu pela possibilidade de ampliação do temário de comissões parlamentares, mas dentro do mesmo escopo.

Como disse o senador Aécio Neves no debate de ontem do Senado, a partir dessa interpretação não haverá nunca mais CPIs em funcionamento, pois toda maioria poderá enxertar temas desconexos com o objetivo de inviabilizar a investigação do tema central.

O que está em discussão é a possibilidade de uma minoria parlamentar atuar na fiscalização dos governos. A senadora Ana Amélia, do PP do Rio Grande do Sul, chamou a atenção para o perigo de o Congresso ser manipulado pela maioria a ponto de inviabilizar a atuação da oposição, mas mantendo a aparência de uma instituição democrática.

Ela se referiu ao depoimento da deputada venezuelana cassada Maria Corina, que deu um depoimento no Senado sobre a opressão que a oposição sofre na Venezuela por parte da maioria chavista, retirando a capacidade de ação da minoria.

A CPI como instrumento da minoria e, portanto, fundamental à democracia, tem sido ressaltado em diversos momentos no Supremo. O ministro Celso de Mello, em determinado voto, disse que a prerrogativa de investigar da minoria, já deferida, não poderia ser comprometida pelo bloco majoritário. Não se pode deslocar para o Plenário a decisão final da instalação da CPI, já que é poder constitucional das minorias o de fiscalizar, investigar e responsabilizar, a quem quer que seja, por atos administrativos .

Também o ex-procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, definiu a intenção do legislador com relação às CPIs: (...) tenta-se impedir que investigações parlamentares fiquem sujeitas aos caprichos da maioria, geralmente desinteressada em apurar certos fatos que possam colocar em risco a reputação e os interesses que representa .

O consultor legislativo do Senado, Marcos Santi, afirma: No ato de criação de CPI, com a leitura e a publicação do requerimento, ou mesmo após a consumação dessas fases, as correntes parlamentares que a ela se opõem muitas vezes tentam inviabilizar o inquérito parlamentar . Ele diz que entre as diversas maneiras de se tentar inviabilizar uma CPI, a análise da constitucionalidade do requerimento é das mais comuns e se caracteriza como um obstáculo adicional a ser superado para se viabilizar o inquérito parlamentar .

Esse confronto expõe, segundo ele, o que é denominado ´tensão entre o direito das minorias´, que, em tese, deveria estar assegurado com o preenchimento dos requisitos de criação da CPI, ´e os interesses da maioria´. O ministro Celso de Mello se refere com frequência em seus votos ao direito das minorias parlamentares de fiscalizar, de investigar e de promover o pertinente inquérito parlamentar , norma de garantia instituída pelo § 3º do art. 58 da Constituição da República.

A oposição, apoiada por senadores e deputados da base aliada, conseguiu também a formação de uma CPI mista para investigar a Petrobras, o que obrigará os governistas a novas manobras regimentais, com o auxílio da presidência do Senado, para barrar a investigação.

Provavelmente, a batalha regimental está perdida para a oposição devido à adesão de parcela ponderável do PMDB às manobras comandadas pelo Palácio do Planalto para impedir a investigação da Petrobras. Mas a luta política dará munição à oposição na campanha eleitoral.

03 de abril de 2014
Merval Pereira, O Globo

DEMOCRACIA RELATIVA

 
BRASÍLIA - A democracia avança no Brasil, lenta e gradualmente, e anda para trás na Venezuela, célere e gravemente.

No Brasil, mesmo com enorme atraso em relação à Argentina, ao Uruguai, ao Chile..., a Comissão da Verdade tem exposto fatos e depoimentos impressionantes e as Forças Armadas, que jamais admitiram a tortura, criam comissões de sindicâncias para investigar essa prática em instalações militares. Decisão inédita e de grande significado.

Com a sua índole pacífica e no seu próprio ritmo, o Brasil vai aos poucos tornando oficial aquilo que todos já sabíamos por livros, entrevistas, alguns documentos. É, efetivamente, um reencontro com a sua história.

Mais cedo ou mais tarde, haverá a revisão da Lei da Anistia, que, compactuada entre os dois lados, impede até hoje processos, condenações e penas para agentes que torturaram, mataram e ocultaram cadáveres de opositores que, desarmados, estavam sob a custódia do Estado.

Mas não será tão já e a voz de comando partiu da presidente da República e comandante em chefe das Forças Armadas, Dilma Rousseff, ao defender os "pactos políticos" -leia-se a Lei da Anistia. Carregando, ela mesma, as marcas da tortura e das prisões, Dilma está, sabiamente, monitorando a oportunidade.

É de se supor que a revisão da Lei da Anistia virá, mas quando os responsáveis hierárquicos ou diretos pela tortura já estiverem em sua maioria mortos. Será uma manifestação simbólica, uma satisfação à história despojada de objetivo prático.

E a Venezuela? Jornais fecham por falta de papel, políticos são sumariamente cassados, manifestantes são presos, o número de mortos só cresce e a guerra extrapola fronteiras, com Maduro falando aos "povos" e a oposição cobrando os governos.

"Quantos mais assassinados para que os democratas do hemisfério escutem nossa voz?", indagou a deputada cassada Maria Corina, ontem, em Brasília. Quem vai responder?

03 de abril de 2014
Eliane Catanhêde, Folha de

DESTRUINDO O ESTADO BRASILEIRO

Constitui singular paradoxo a crescente destruição do Estado brasileiro nos governos de partidos de tendências, ao menos no discurso, estatizantes.

A mídia oferece, dia após dia, abundantes exemplos de má gestão, incúria contumaz, desqualificação técnica nas decisões. É notório o fracasso das políticas públicas de segurança pública, educação, saúde, mobilidade urbana etc.

A razia realizada na Petrobras e Eletrobras produziu uma catástrofe, com expressiva perda de valor de mercado, endividamento elevado e recorrentes prejuízos. O dano é de tal magnitude que se anunciado, em passado recente, seria tido como alucinação.

No Banco do Brasil e na Caixa Econômica há uma contínua e crescente perda de qualidade nos serviços prestados, sem falar na temerária política de crédito do BNDES.

Esse estranho desapreço pelo Estado explica, também, as práticas de fisiologismo e de aparelhamento, sua variedade radical. Os ministérios passam a ser um múltiplo do número de partidos que integram a denominada "base aliada", aos quais se somam as "tendências" e as bancadas, em cada uma das casas congressuais, dos partidos.

As "indicações", contudo, não se limitam aos ministérios. Alcançam, além disso, as diretorias das autarquias, fundações, agências reguladoras e estatais, o que gera um caldo de cultura próprio para o florescimento de todas as modalidades de corrupção.

Para os conselhos de administração das estatais são designadas autoridades de elevado coturno como forma apenas de elevar seus vencimentos, fraudando descaradamente o conceito de teto de remuneração dos servidores públicos.

Esse processo é de tal sorte exuberante que, em Brasília, a demanda dos órgãos públicos ultrapassou os limites fixados no plano urbanístico para projetar-se sobre os espaços antes destinados à atividade privada, assumindo proporções mastodônticas.

Receio que nenhuma pessoa bem informada, salvo os responsáveis pelas atividades de protocolo, conheça, simultaneamente, os nomes dos ministérios e de seus respectivos titulares.

Para justificar esse estado de coisas se recorre à cínica tese da governabilidade, deduzida do chamado presidencialismo de coalização, que frequentemente se converte em colisão por motivos poucos virtuosos.

Como reação primitiva à promiscuidade na provisão das funções públicas de confiança, exsurge o corporativismo, que tanto quanto o fisiologismo e o aparelhamento é uma forma nociva de indevida apropriação do Estado.

A aversão à meritocracia se estende ao Judiciário. É particularmente ultrajante a trajetória de humilhações a que se submetem magistrados, membros do Ministério Público e advogados que almejam assento nos tribunais. São obrigados a recrutar, quase sempre sem o mínimo pendor para a tarefa, apoio de políticos e dos membros dos tribunais para exercer aquilo que deveria decorrer tão somente de sua qualificação jurídica e moral. No limite, esse perverso ritual tende a comprometer a imparcialidade dos julgamentos.

Nesse quadro patológico, tem destaque o desprestígio do princípio constitucional da eficiência. Não há avaliações, minimamente consistentes, dos servidores ou dos serviços públicos. Não se buscam soluções para os problemas com base em critérios de eficiência, que sequer existem. A cada deficiência se responde, toscamente, com expansão do efetivo de pessoal, sem nenhuma preocupação com suas repercussões sobre o equilíbrio fiscal.

Ainda no âmbito da eficiência, é lamentável a banalização das greves no serviço público. Tornou-se comum o que deveria ser um recurso extremo, revelando a supremacia do interesse corporativo sobre o coletivo, tendo o povo como vítima indefesa. Sem lei, por negligência dos Poderes Executivo e Legislativo, as greves hoje são limitadas, precariamente, por uma decisão do STF.

Esse Estado inchado e ineficiente, que flerta com o abismo, decorre, principalmente, da voracidade intervencionista combinada com uma visão centrada na perpetuação do poder.

Sua reconstrução é tarefa para estadistas.

 
03 de abril de 2014
Everardo Maciel, O Estadão

NADA DE MAIS


 
03 de abril de 2014
Carlos Alberto Sardenberg, O Globo

DILMA, A BOLSA E BOATOS SOBRE RUMORES

Maluquice no mercado vira do avesso com boatos sobre rumores da queda de Dilma em pesquisas

HÁ DOIS MESES, os donos do dinheiro grosso faziam arruaça na praça financeira mundial, no Brasil em particular. As ações da Petrobras passavam pelo picador de papel. Em meados de março, a Bovespa sangrava vermelho escuro, em baixa de 13% no ano. Ontem, a Bolsa voltou ao azul.

A maluquice tem mão dupla.

Com exceção de uma baixa, aliás temporária, nas taxas de juros de longo prazo nos Estados Unidos, não aconteceu nada de muito relevante ou inesperado na finança e na economia mundiais.

Na finança e na economia brasileiras tampouco ocorreu mudança de nota. O fato de o Banco Central indicar que a campanha de aumento da taxa de juros será esticada, como o fez outra vez ontem, não tem nada a ver com a maluquice festeira da Bolsa, pelo contrário.

O cenário básico, deteriorado, ainda é o mesmo. As taxas de juros longas por aqui ainda dobram as do início do ano passado, ou quase por aí. A economia vai crescer tanto quanto no ano passado ou menos. As perspectivas para inflação e juros de curto prazo (Selic) pioraram, garantia extra de que 2015 será outro ano de lerdeza econômica. De resto, a Petrobras parece uma empresa ainda mais avariada do que faz um bimestre.

Por enquanto, a explicação sobre os movimentos do mercado por aqui são, por exemplo, banalidades costumeiras, nem por isso equivocadas, como dizer que o preço dos ativos brasileiros, ações em particular, estava em nível de liquidação.

No mais, continua aquele rumor sobre boatos (sic) políticos estarem influenciando a Bolsa, aqueles que temos ouvido desde 20 de março: estaria crescendo a probabilidade de Dilma Rousseff perder a eleição ou até mesmo a candidatura (para Lula).

A especulação de ontem baseava-se outra vez na expectativa de que a candidata Dilma Rousseff e seu governo vão aparecer mal na foto da pesquisa Datafolha que será publicada no sábado, pesquisa que, no entanto, ainda está em andamento. O que dava impulso ao boato "no mercado" era a explicação antecipada que o próprio governo vinha vazando a respeito de um possível resultado ruim no Datafolha.

Isto é, segundo o boato governista, as pesquisas que vinham dando vantagem grande a Dilma Rousseff estariam defasadas, não tendo captado a "campanha" recente contra o governo (inflação mais alta, rolos na Petrobras, CPI etc.). O próprio governo já teria captado, em suas pesquisas, o desgaste presidencial. Logo, o possível tombo de Dilma no Datafolha evidenciaria esse período de "dificuldades temporárias" para o governo.

A possibilidade incrementada de derrota de Dilma implicaria a vitória de um candidato "pró-mercado", segue o argumento baseado no rumor. No mínimo, o tombo nas pesquisas e a enxurrada de más notícias para seu governo poderiam colocar a presidente contra a parede, obrigando-a a implementar desde agora mudanças em sua política econômica.

Sim, tudo parece especulação desvairada, mas a culpa não é do colunista. Pode bem ser que alguns outros motivos estejam influenciando o preço das ações (e estão), mas povos dos mercados e seus porta-vozes têm enfatizado essa versão dos fatos e fatores da reviravolta na Bolsa.
 
03 de abril de 2014
Vinicius Torres Freire. Folha de SP

PETROBRAS COMPRA REFINARIA DE ÓLEO DE PEROBA EM PASADENA


Petrobras compra refinaria de óleo de peroba em Pasadena

Lula besuntou Dilma com óleo de peroba

PRÉ-SAL - Para desanuviar as suspeitas de que tenha feito péssimos negócios em Pasadena, o Conselho da Petrobras acaba de aprovar a compra de uma refinaria de óleo de Peroba no mesmo local. "O material será de grande utilidade para lubrificar as justificativas que daremos daqui em diante", defendeu Graça Foster.

Dilma Rousseff ratificou que o preço pago pela refinaria, US$ 32 bilhões mais o estado de Roraima, é justo. "A demanda por óleo de peroba só faz crescer. É um mercado potencial, ainda mais em ano de Copa do Mundo e eleições", completou. Animado com a aquisição, Luiz Inácio da Silva, ex-presidente em exercício, discursou em cima de um barril: "Muito em breve, seremos uma nação soberana, autossuficiente na produção de óleo de peroba", cravejou.

O Conselho da empresa, formado por Tiririca, Narcisa Tamborindeguy, Kléber BamBam, Luciana Gimenez e Eike Batista, aprovou a transação sem restrições. "A peroba é nossa!", comemorou o diretor de novos negócios, e presidente do Conselho, Homer Simpson.

03 de abril de 2014
The Piaui Herald

CPI DA PETROBRAS NÃO SERÁ INSTALADA A TEMPO PARA A COPA


CPI da Petrobras não será instalada a tempo para a Copa

Dilma alterou o corte de cabelo para desviar o foco das obras atrasadas


PASADENA - Pressionada por ter permitido gastos estratosféricos com a Copa do Mundo, a presidenta Dilma Rousseff se defendeu: "Não tive acesso prévio ao contrato que assinamos com a FIFA. Recebi apenas um resumo, com uma página e meia, uma caxirola e um boneco do Fuleco", explicou.

Após tabelar com Ronaldo numa caixa de brita, a presidenta subiu em um tapume e discursou para os operários do Itaquerão. "Temos que colocar as coisas em perspectiva. A Arena Corinthians será erguida em menos tempo a Igreja Sagrada Familia, que a Muralha da China e que as Pirâmides do Egito", enumerou. "As condições de segurança são melhores do que o processo de constução de paz no Oriente Médio", concluiu.

Em seguida, Dilma comemorou a notícia de que a CPI da Petrobras não será instalada a tempo para a Copa.

03 de abril de 2014
The Piaui Herald

ANDRÉ VARGAS DO PT. O BOBO DA CORTE NO PAÍS DO "NÃO SEI DE NADA".

É meus caros, vocês lembram desta imagem?

Ela foi feita no dia em que o EMINENTE Ministro Joaquim Barbosa foi ao congresso para participar da abertura do ano legislativo e foi alvo de uma patetice e falta de decoro, para não falar de civilidade, cordialidade e respeito aos poderes da república por parte do dePUTAdo André Vargas do PT.  Como senpre...o PT.

O paralamentar ergueu o braço e cerrou o punho em um gesto de, na minha opinião, o grito dos derrotados, pois todos os que ergueram o braço antes desse palhaço estavam indo em CANA. E não saíram da cadeia até hoje para meu deleite. Estão lá desde Novembro do ano passado.

Bem, o "nobre" parlamentar foi pego com a boca no penico.
O palhação além de afrontar um dos poderes da república mostrou com seu patético gesto que o Tiririca, apesar de ser palhaço profissional, tem mais decoro que  muito PTralha.

O gesto em sí foi apenas a mostra de que André Vargas não sabe nada de nada, bancou o bobinho diante do país e não atingiu Joaquim Barbosa. Não atingiu pelo fato de JB saber quem é e o que é, agora o PTralha, pobre coitado metido a engraçadinho e revolucionário de araque. Ou, o bobo da corte quis bancar o engraçado para a patuleia de taarados ideológicos do seu bando e deu no que deu. 

E olhem que não precisou de muito tempo para que ficasse exposta a face Tupiniquim do dePUTAdo, já está enrolado em trampolinagem, e o gesto de revolucionário de araque se torna ainda mais patético diante de um paralamentar que vive de pedir favores a bandido. Mesmo que o julgamento do mensalão fosse uma injustiça, o comportamento de André Vargas pôs a perder a pouca credibilidade que ele acreditava possuir.
Apenas mais um bobão que perdeu uma ótima oportunidade de se matar pelo bem do país.

 Explodiu na mídia o escândalo da semana, como vcs sabem, no Brasil do PT toda semana tem um escândalo novo, se não, mais do que um.
A notícia está abaixo.

 Do portal G1
 
"O vice-presidente da Câmara, deputado André Vargas (PT-PR), viajou no início do ano em um avião emprestado pelo doleiro Alberto Yousseff, preso em março pela Polícia Federal na operação Lava Jato. A informação foi publicada nesta terça-feira (1º) pelo jornal "Folha de S.Paulo".
A assessoria do deputado confirmou a viagem. Em nota, André Vargas disse que tem relação com Yousseff há 20 anos. Os dois se conhecem de Londrina, no Paraná.
"Estranho o vazamento seletivo de mensagens pessoais. Onde se tenta confundir com alguma ilegalidade, uma relação de 20 anos, de moradores de uma mesma cidade", diz a nota.
O deputado, ainda por meio de nota, disse também que as relações com Yousseff se deram "dentro da legalidade".
"Conhecer alguém há 20 anos não é crime. Alberto Youssef é empresário de minha cidade. Dono do maior hotel da cidade. E os encontros, contatos e a relação se deram dentro da legalidade. Qualquer homem público poderia passar por isso." "


Eu queria bem entender uma coisa, se os congressistas custam uma fortuna todos os anos para os cofres públicos, porque diabos eles nunca pagam as passagens do próprio bolso?
É avião de mafioso, de quadrilheiro, de doleiro, de empreiteiro, e os da FAB levando e trazendo essa corja pelo país e tudo "di grátis", ao menos para os bolsos dos nobres políticos, pois o povão arca com a naba continuamente.

E como sempre a velha máxima do "EU NÃO SABIA" entrou em operação, foi assim com o EX presidente Defuntus Nadasabendus no caso do mensalão, semana passada foi com a PresidANTA Dilmarionett Dentuça e a refinaria Nuzestaduzunidus, e agora com esse pústula.

PTista nunca sabe de nada, e é por isso que o país caminha célere para o brejo, de não saber em não saber estão quebrando a PTroubrás, os juros voltaram a explodir, a economia patina, a inflação já chegou, as obras para a Copa custando uma baba e nada de ficarem prontas, risco de apagão, elevação dos impostos para cobrir rombos eleitoreiros e o Preçal, oras o Preçal...Etc...Etc...Etc...

O que mais preocupa é ver que no congresso temos uma legião de inuteis que custam uma bala aos cofres da união para nada.
Ficam de lesco lesco fazendo de conta que trabalham, não se preocupam com o país, vejam o parto que foi para conseguirem uma CPI da PTroubrás que vai dar em pizza, e quando um de seus pares, claro, do time vermelho, é pego em alguma trampolinagem, todos se calam, não abrem uma única investigação e a impunidade é liquida e certa. e O CUMPANHÊRO É INOCENTINHO.

A vergonha que é o congresso nacional, a total inutilidade dele para a manutenção da democracia e o custo elevado para manter essa cangalha de filhos da puta recebendo fábulas para fazer porra nenhuma, já são o suficiente para que se feche aquele prostíbulo.

Muitos dirão que o fechamento do congresso é um atentado a democracia, mas....Com ele funcionando, a democracia está indo para o brejo, fora o prejuízo.
 
03 de abril de 2014
omascate

CONTRATO DE RISCO




Como a Vale assinou um acordo para assumir todos os custos de uma transação bilionária e obscura na Guiné
 
por CONSUELO DIEGUEZ
 

A sede da AGN Participações fica no 3º andar de um prédio envidraçado na avenida Brigadeiro Faria Lima, numa das áreas comerciais mais valorizadas de São Paulo. A empresa, com negócios ainda embrionários em mineração e energia, foi criada em dezembro de 2011 por Roger Agnelli, nove meses depois que ele foi destituído da presidência da Vale, que comandou durante dez anos de forma quase imperial. Agnelli tenta, na sua empresa, constituída com um capital de 500 milhões de reais, recuperar o prestígio que angariou nos anos da Vale. Seus negócios atuais incluem uma mina de cobre no Chile, minas de potássio no Brasil e um projeto de bioenergia em Moçambique. Na mineração, ele se associou ao banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, um dos mais atilados captadores de negócios, com quem estuda a aquisição de novas minas. São todos investimentos de longo prazo, ainda longe de dar retorno aos acionistas.

Enquanto Agnelli esteve à frente da Vale, entre 2001 e 2011, o lucro da companhia saltou de 3 bilhões de reais para 30 bilhões. A produção de minério de ferro duplicou, e a empresa, que era a oitava mineradora do mundo, passou a ser a segunda maior, atrás apenas da anglo-australiana BHP Billiton. Na sua gestão, a Vale se internacionalizou, comprando minas e empresas ao redor do planeta. Em 2006, numa demonstração de força, adquiriu a portentosa canadense Inco, produtora de níquel, que logo se transformou num importante gerador de caixa para a mineradora. Agnelli parecia não ter limites em seus planos de transformar a companhia na maior empresa do setor. Nem a crise financeira global de 2008 refreou seu ímpeto.

Mas, como costuma acontecer com administrações longevas, a de Agnelli começou a ser questionada. Suas relações com alguns diretores da empresa, preocupados com sua excessiva ousadia, azedaram. Alguns deles se demitiram. Outros preferiram confrontá-lo, embora a tática tivesse pouca influência nas decisões do presidente.

Em 2010, mesmo com parte dos executivos contrários à operação, a Vale comprou 51% de participação num projeto de exploração nas montanhas de Simandou, na República da Guiné, um pequeno país miserável na costa ocidental africana. A área é uma das maiores reservas de ferro do mundo ainda intactas. Para entrar no negócio, a mineradorabrasileira se associou ao empresário israelense Beny Steinmetz, dono da Beny Steinmetz Group Resources, ou BSGR.

Até 2008, o direito de exploração de Simandou pertencia à anglo-australiana Rio Tinto, que o havia adquirido em 1997. O então presidente da Guiné, o ditador Lansana Conté, cassou a metade da concessão da Rio Tinto pouco antes de morrer e a transferiu a Steinmetz, um expert em transações de diamantes, mas sem nenhuma familiaridade com a extração de minério de ferro. Dois anos depois, em 2010, o israelense selou o acordo com a brasileira. A Rio Tinto, uma das principais concorrentes da Vale no mundo, revoltou-se ainda mais depois que a rival se meteu num negócio que ela ainda lutava para recuperar.

[Na reportagem “O tesouro, o mercador, o ditador e sua amante”, que piauí publica nesta edição a partir da p. 18, Patrick Keefe relata em detalhes a disputa pelo controle da exploração de Simandou. A Vale aparece de maneira secundária, na condição de sócia de Steinmetz, sem que as razões, os termos e as circunstâncias de sua entrada no negócio fossem objeto de investigação.]

A associação da gigante brasileira com um neófito na mineração de ferro resultou na criação da VGB – Vale Beny Group, uma sociedade que, até agora, só trouxe dor de cabeça para a Vale. A mineradora se viu na desconfortável situação de ter o nome vinculado a uma transação sobre a qual pesam acusações de suborno, e cuja legitimidade está sendo questionada pelo atual governo da Guiné, por entidades internacionais de combate à corrupção e pela Justiça americana.

A suspeita de que a concessão de Simandou tenha sido obtida de forma irregular por Steinmetz começou a ser investigada por iniciativa do novo presidente, Alpha Condé, que tomou posse no final de 2010, depois das primeiras eleições democráticas em décadas na Guiné. Condé também pretendia revisar os contratos de exploração e alterar o Código Mineral para permitir que o Estado tivesse maior participação nos royalties.
O megainvestidor George Soros, a quem o presidente guineano conhecia de longa data, passou a atuar como seu interlocutor nessa questão. Aconselhou que Condé contratasse os serviços de Scott Horton, advogado do escritório americano DLA Piper, especialista em investigações sobre corrupção em todo o mundo. À revista New Yorker, Horton disse que “para enfrentar um sujeito como Steinmetz, o governo de Condé precisava de ajuda externa”.
 
Roger Agnelli, de 54 anos, é um homem magro e jovial. Seus olhos são grandes, escuros e redondos, como os de um peixe. Os cabelos crespos são domados por uma escova, o que lhe dá a aparência de ter saído há pouco do cabeleireiro. Fios grisalhos despontam em torno das têmporas e no alto da cabeça. Encontrei-me com ele no começo de uma tarde abafada de janeiro, na sala de reuniões da agn, ocupada por uma grande mesa rodeada por cadeiras coloridas, numa decoração que faz pensar mais num escritório de jovens empreendedores da internet do que no vetusto negócio de mineração.

O executivo procura se encaixar nesse novo cenário. Sua expressão está mais relaxada que nos tempos da Vale. Sua fala é mais descontraída e ele sorri com certa frequência. Exibia um saudável bronzeado adquirido nos dias que passou em sua casa no balneário de Angra dos Reis, no Rio. O terno, seu uniforme na Vale, foi substituído por calça jeans, camisa branca de linho aberta no colarinho, blazer azul-marinho e sapatos esportivos. Sentou-se à vontade numa das cadeiras. Ao seu lado, mais formal, estava Fabio Eduardo Spina, um jovem advogado de cabelos cortados rente à cabeça, olhos claros e sorriso largo, que Agnelli trouxe com ele da Vale e a quem deu uma participação na AGN. Spina era diretor da mineradora e foi o consultor jurídico na compra de Simandou.

Agnelli tragou um cigarro eletrônico que desprende uma fumaça de vapor de água. Explicou que o bastonete de acrílico não fazia mal e o ajudava na tentativa de parar de fumar. “Eu tinha deixado o cigarro, mas um dia, velejando com um amigo, na Itália, aceitei um charuto”, contou, dando mais uma tragada. “Foi a minha desgraça. Depois disso passei a fumar até cinco charutos por dia. Não dava. Agora, estou usando essa cigarrilha para ver se abandono o vício.” Em seguida, emendou a pergunta. “Então, qual o motivo da nossa conversa?” Embora já o tivesse alertado da razão da entrevista por um e-mail enviado em dezembro, expliquei que se tratava de Simandou e da associação da Vale com Beny Steinmetz, arquitetada durante sua gestão. Agnelli sorriu, abriu os braços e, como se referisse a alguém por quem nutrisse simpatia, exclamou: “Grande Beny!”

Desde que começaram a pipocar as notícias de que a concessão da BSGR para explorar a riqueza da Guiné estaria comprometida por ilegalidades, Agnelli vinha evitando se manifestar. Explicou-me a razão. “A Vale não tem nada a ver com isso. Está absolutamente correta, limpa”, disse. “Além do que, eu não sou mais presidente da companhia. Saí de lá em 2011 e não tenho conhecimento do que aconteceu depois.” Lembrei que o negócio tinha sido fechado por ele, durante sua gestão. Agnelli não aceita ser criticado por essa associação.

Alegou que, se há algum problema com a concessão, a questão tem que ser resolvida entre Steinmetz e a Guiné. “Eles é que têm que se entender”, disse, batendo na mesa. “A Vale fez o que tinha que fazer e, na época, não havia nada que desabonasse o Beny.”

Quando conheceu Steinmetz, ou Beny, como sempre se refere ao sócio da Vale, Agnelli teve a impressão de que era um tipo “superinteligente, bem relacionado, com uma boa estratégia, além de cordial e muito simpático”. Fez uma pausa e lançou mão de um argumento pedestre para explicar a possibilidade de o sócio da mineradora não ser o que ele imaginava no início, embora considere difícil ter se enganado sobre a sua índole: “Tem gente que casa com ex-prostituta e só vai saber que a mulher foi prostituta anos depois. Ou casa com veado e vai saber anos depois. Não tenho nada contra nenhum dos dois, mas, como faz?”

Fabio Spina entrou na conversa, introduzindo o linguajar formal dos advogados. “Antes de fechar o contrato fizemosuma due diligence. A Vale contratou dois escritórios internacionais de advocacia, o Cleary Gottlieb e o Clifford Chance, para proceder a uma investigação independente de como essa concessão foi obtida. Nenhum deles encontrou nada de suspeito”, explicou. A empresa também contratou a firma americana Nardello & Co para examinar a transação. Todos os cuidados legais, segundo Spina, foram tomados antes de a empresa selar a sociedade com a BSGR. Um deles foi atender às exigências da Lei de Práticas Corruptas no Exterior, que cobra de empresas com ações na Bolsa de Nova York garantias de que seus negócios em outros países não tenham se beneficiado de falcatruas. Além disso, insistiu o advogado de forma enfática, ainda que num tom de voz baixo, a Vale respondeu também aos questionários da Lei Antissubornodo Reino Unido, mesmo que não tenha ações negociadas em Londres. A análise investigativa, na sua avaliação, foi feita “na maior extensão possível que um comprador podia fazer”. “A Vale tem tudo registrado. Mandamos um questionário para o Beny responder e ele garantiu que não houve corrupção, nem pagamento ilegal”, disse Spina.

Respirou fundo e acrescentou mais um dado à vigorosa defesa do negócio fechado por eles: “Falar em perspectiva é fácil.” E recordou: “Na época, não havia um único artigo de jornal contra o Beny. Nada que indicasse que ele poderia não ser um empresário correto. Nunca iríamos jogar o nosso nome e o da Vale em um negócio suspeito. Quando o Roger assumiu a Vale, era uma empresa de 8 bilhões de dólares; quando a deixou, valia 160 bilhões. Você acha que íamos jogar tudo isso no lixo para fazer um negócio ilegal?”
 
Antes da associação da Vale com a BSGR, Agnelli e Steinmetz mal se conheciam. O vínculo do israelense com a mineradora brasileira se resumia ao fato de uma de suas empresas ser fornecedora de equipamentos para uma mina da Vale na Nova Caledônia, território francês na Oceania. Agnelli sustenta que as primeiras conversas de Steinmetz sobre Simandou se deram com o diretor de Exploração Mineral e Energia da Vale, Eduardo Ledsham, que foi demitido após a saída de Agnelli e hoje é o CEO da B&A  Mineração, criada em parceria com André Esteves. “Eles se encontraram num congresso de mineração, acho que no Canadá, e o Beny falou de Simandou e da disposição de vender parte do ativo para a Vale. Disse que tinha a jazida, mas não tinha capital para tocar o negócio sozinho”, contou Agnelli.

Ledsham, segundo o ex-presidente da Vale, se empolgou com a proposta, que também ganhou a simpatia de José Carlos Martins, até hoje diretor da área de ferrosos e estratégia.
Martins era um entusiasta da expansão da Vale para além da exploração do minério de ferro. Sua ideia era desenvolver toda a cadeia de produção, inclusive com a criação de um parque siderúrgico que pudesse transformar parte do minério da Vale em aço, de valor agregado muito mais alto. Essa estratégia esbarrava em dois grandes problemas: primeiro, a escassez de energia, gargalo crônico da infraestrutura brasileira, especialmente danoso numa atividade como a siderurgia. Segundo, a necessidade de extração de mais minério, justamente num momento em que a Vale estava tendo dificuldades de aumentar sua produção.

Uma das razões para isso era a demora na aprovação de uma licença ambiental do Ibama que permitisse explorar uma nova mina de ferro, a Serra Sul, em Carajás, no Pará. A Vale entrara com o pedido de licença em 2004, mas o processo se arrastou e começava a comprometer a capacidade da empresa de atender às encomendas, sobretudo da China, seu maior comprador. Naquele momento, o preço do minério atingia o recorde histórico de 200 dólares por tonelada. A Vale saiu em busca de novos negócios pelo mundo. A frustrada tentativa de aquisição da canadense Alcan, fabricante de alumínio, em 2007, foi um deles.
A Rio Tinto acabou desembolsando 38 bilhões de dólares e ficou com a empresa. A insistência de Roger Agnelli em adquirir a companhia canadense foi um dos motivos, à época, da saída de alguns executivos graúdos da Vale. Eles avaliavam que era um projeto muito arriscado e poderia comprometer o caixa da empresa.

A realidade provou que estavam certos. Em 2008, quando a crise chegou, a Rio Tinto se viu em apuros em razão da compra da Alcan. Tom Albanese, então presidente da mineradora anglo-australiana, foi pedir ajuda a Agnelli. Estava desesperado para vender alguns ativos e, dessa forma, recompor o caixa da Rio Tinto. Agnelli viu ali uma oportunidade e foi às compras. A Vale levou uma mina de ferro em Corumbá, no Mato Grosso, e uma de potássio, na Argentina.

Mas, em troca das transações que facilitavam a vida da Rio Tinto, Agnelli queria uma contrapartida: fazer uma joint venture com a concorrente comprando metade da sua participação em Simandou. “Eu sentei com o Tom Albanese e disse: ‘Tom, vocês estão com problema de caixa e Simandou me interessa. Você vai acabar perdendo essa reserva. Você está sem fôlego para investir lá agora.’” Segundo ele, o governo da Guiné já vinha alertando a Rio Tinto sobre a possibilidade de lhe tomar a concessão caso não desenvolvesse a área. As duas empresas chegaram a fazer um memorando de entendimento. Na hora de fechar negócio, a Rio Tinto pediu 4 bilhões de dólares, conforme a versão de Agnelli.
Ele considerou o valor excessivo e recusou a oferta. “Acho que não queriam nos vender”, disse.

Agnelli sacudiu os ombros num movimento de desdém e, em seguida, disse ter respeitado a decisão da Rio Tinto. “Em negócio não tem essa história de se sentir ou não traído”, falou. “É preciso respeitar a decisão de quem é o dono. E eles já estavam conversando com os chineses.” A desforra veio em abril de 2010, quando a Vale assinou o contrato com a BSGR para exploração da área tomada da Rio Tinto. Albanese cortou relações com Agnelli. Ele diz não ver razões para a reação do ex-concorrente. “A forma como a Rio Tinto perdeu a concessão foi absolutamente legal, dentro do Código Mineral vigente na Guiné. Não havia motivos para os protestos da companhia. Eles estão lá há vinte anos e, até agora, não fizeram nada”, argumentou.

Em 2011, a Rio Tinto fechou um acordo, dessa vez com o governo de Alpha Condé, para garantir a exploração da metade que mantivera de Simandou. A mineradora anglo-australiana terá como sócia a chinesa Chalco, que pagou 1,35 bilhão de dólares para entrar no negócio.
 
Esfregando as mãos na mesa, Agnelli se pôs a fazer uma análise do caso da Guiné. Disse que, na época, o negócio fazia todo o sentido para a Vale. Simandou, geologicamente, é semelhante a Carajás – antes da divisão das placas continentais, tratava-se de uma mesma região. O minério dessas minas é considerado o melhor do mundo, em função do alto teor de ferro: em Carajás ele é de 67%, enquanto nas minas das principais concorrentes da Vale o teor é de 30%. Essa qualidade dá uma vantagem competitiva à mineradora brasileira em termos de preço, já que seu minério pode praticamente ir direto para os altos-fornos das siderúrgicas, sem necessitar passarpor processos de purificação. A vantagem, porém, se perde na logística. É muitomais difícil e caro levar para a China o minériodo Brasil. Bem mais barato, o frete de transporte da Austrália, onde ficam as principais minas das concorrentes – ainda que com ferro de pior qualidade –, é decisivo para virar o jogo.

Para a Vale, a exploração de Simandou poderia solucionar dois problemas ao mesmo tempo: o estrangulamento da produção em Carajás e a desvantagem logística. “A Vale seria imbatível porque ficaria em pé de igualdade com suas rivais em termos de frete e com um minério de qualidade muito superior”, disse o consultor Cláudio Frischtak, especialista em mineração. Se em tese o projeto parecia fazer sentido, mostrava-se extremamente duvidoso quando confrontado com dados da realidade. Um dos que mais questionavam a viabilidade de Simandou era Fábio Barbosa, então diretor-financeiro da Vale. De opiniões firmes, ele passou a ter embates frequentes com Agnelli e José Carlos Martins, defensores fervorosos da parceria com Steinmetz.

Barbosa fazia vários questionamentos. A começar pelo valor e condições da compra. A Vale concordou em pagar 2,5 bilhões de dólares a Steinmetz para ficar com 51% da área, sendo que 500 milhões seriam desembolsados na assinatura do contrato, à vista. Barbosa desconfiava que Steinmetz, que não pagara nada pela concessão, só estava tentando passá-la adiante. Teria um lucro estúpido apenas com o recebimento dessa primeira parcela. Não seria um parceiro, mas um atravessador.

A segunda grande questão se referia ao custo da implantação do projeto. Embora fosse um minério de excelente qualidade, havia uma dificuldade imensa para a sua extração. A região de Simandou é montanhosa, coberta por densa floresta e de difícil acesso; não há qualquer infraestrutura de transporte para escoar o minério; inexistem redes de comunicação e elétrica, falta mão de obra qualificada. A instabilidade política da região também é um complicador. Além da própria Guiné, vizinhos como Serra Leoa e Libéria vivem reféns de diferentes grupos que disputam o poder, em crise crônica. Computando todos esses fatores, Barbosa fazia os cálculos e as contas não fechavam. Se quisesse extrair o minério da Guiné, a Vale teria que enterrar uma fortuna que eles ainda não tinham conseguido dimensionar.
 
Para os que compartilhavam a posição de Barbosa, havia um grande desequilíbrio na sociedade entre a Vale e a BSGR, uma vez que uma das exigências de Steinmetz para vender metade da concessão era que a mineradora brasileira bancasse, sozinha, todo o desenvolvimento do projeto. Isso significava construir do zero não só uma ferrovia para escoar o minério, mas também a rede elétrica e a de comunicação. Mesmo não colocando dinheiro, a participação de 49% de Steinmetz não seria diluída. Para Barbosa, isso era um despropósito sem tamanho. “A Vale se comprometeu a carregar o Beny”, ouvi de um executivo da mineradora brasileira. Para Steinmetz, a transação não podia ter sido melhor. Ele, que colocara apenas 160 milhões de dólares em Simandou, em um estudo de viabilidade, passou a ser sócio de um negócio de 5 bilhões, considerando que sua parte teria valor equivalente à do outro sócio.
 
Na sala de reuniões de sua empresa, Agnelli empertigou-se na cadeira colorida. Sustentou que os entraves ao desenvolvimento da infraestrutura eram pequenos diante do poderio da Vale. “A Vale tem uma enorme experiência em operar em áreas difíceis”, disse. E assegurou que, da forma como havia sido idealizado, o projeto tinha tudo para dar certo. A principal dificuldade seria contornada com a construção de uma ferrovia que passaria pela Libéria. Simandou fica muito mais próxima da costa liberiana, que também tem a vantagem de ter um porto com profundidade suficiente para receber os gigantescos navios de minério. A alternativa, a saída pela Guiné, é infinitamente mais custosa. Ela exige a construção de uma ferrovia de 650 quilômetros, numa região acidentada. Além disso, a costa guineana é muito rasa, obrigando à construção de um molhe de mais de 20 quilômetros mar adentro para que os navios possam atracar.

Os sócios de Simandou tinham consciência de que o escoamento do minério pelo país vizinho era condição essencial para viabilizar o projeto. E aí entrariaa rede de relacionamentos de Steinmetz. Para convencer a Vale, o israelense afirmou aos executivos da mineradora que havia conseguido a autorização tanto do governo da Guiné quanto da Libéria para que o minério de Simandou fosse escoado por solo liberiano. O problema é que a garantia foi dada de boca, sem qualquer documento que a registrasse. Foi com uma expressão de inocência que Agnelli explicou o acerto com o sócio: “OBeny nos disse que estava tudo certo, que ele já havia conversado com o governo da Libéria e com o da Guiné e que todos concordaram que o minério de Simandou seria escoado pela Libéria”, contou, pitando mais uma vez seu cigarro eletrônico.

Caso cumprisse o que prometera, Steinmetz demonstraria uma força política de que nenhum outro empresário fora capaz. Até então, a Guiné vetara sistematicamente a alternativa de saída pela Libéria, que já havia sido proposta pela Rio Tinto. A imposição de que o escoamento do minério de Simandou seja feito por uma ferrovia através da Guiné está registrada no Código Mineral local. É um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da extração no país.
 
No começo de abril de 2010, semanas antes de o contrato entre a Vale e a BSGR ser fechado, um relatório de técnicos do governo da Guiné condenou o negócio. O documento, ao qual piauí teve acesso, pontificava que a BSGR não tinha sequer direito a repassar a concessão para outra empresa, porque tinha sido autorizada apenas a fazer um estudo de viabilidade da jazida. E reafirmava que, pelas leis minerais guineanas, o transporte do minério de Simandou não poderia ser feito através da Libéria, conforme Steinmetz vinha pleiteando.

Somente poderia passar pelo país vizinho o minério que fosse produzido em Monte Nimba, outra região, cuja concessão é da BHP Billiton. “No que se refere à concessão entre a BSGR e a Vale, ela é feita em violação do artigo do Código Mineral de 1995”, diz o documento.

O código estabelece que “a permissão de pesquisa não é divisível, nem pode ser objeto de cessão ou transferência, mesmo em caso de morte”. Um conselheiro de Alpha Condé me contou recentemente que esses argumentos foram discutidos à exaustão com o então ministro de Minas da Guiné, no governo anterior ao de Alpha Condé, mas que ainda assim o negócio foi autorizado.

Em fevereiro, encontrei-me com um ex-executivo da Vale num café no Leblon, na Zona Sul carioca. Ele acompanhou as discussões com a BSGR e confirmou que, ao final, a única garantia que a empresa tinha de que a ferrovia passaria pela Libéria era a palavra de Steinmetz. “Não havia nenhum documento assinado pelos governos dos dois países de que isso seria autorizado”, disse ele. Perguntei-lhe se era sinal de amadorismo desembolsar 500 milhões de dólares confiando apenas na promessa de um empresário cujo relacionamento com a Vale era incipiente. Ele me respondeu de forma lacônica: “No mínimo.”

No dia 30 de abril de 2010, Steinmetz chegou ao Rio, junto com outros executivos da BSGR, para a assinatura do contrato com a Vale, na sede da companhia, no Centro da cidade. Fábio Barbosa, como diretor-financeiro da mineradora brasileira, recusou-se a assiná-lo. Orientou os executivos da sua área a também não assumir tal responsabilidade. “Ele, como responsável pela assinatura do balanço da Vale junto à SEC (órgão de fiscalização do mercado acionário americano), dizia que, caso os acionistas da Vale fossem prejudicados com o negócio, quem iria preso seria primeiro o Roger, e, depois, ele”, contou esse executivo. No lugar de Barbosa, quem assinou o documento foi José Carlos Martins, como diretor executivo, além de Agnelli, como CEO da Vale s.a. Beny Steinmetz não colocou seu nome. Pelo lado da BSGR, a responsabilidade legal do negócio coube a um diretor chamado David Clark.

Agnelli deu mais uma pitada e continuou seu relato. Frisou que, embora não tivesse a garantia formal dos governos, havia no contrato a cláusula de que o pagamento dos 2 bilhões de dólares restantes só seria efetuado depois que se resolvesse a questão da ferrovia. E que nos encontros que teve com o Conselho de Administração da companhia deixara isso claro. “Eu conversei com todos os integrantes do conselho”, disse-me Agnelli, aparentando absoluta tranquilidade. “Foi registrado em ata e todos os acionistas estavam conscientes de que pagaríamos 500 milhões de dólares para termos a opção de comprar os 51% de Simandou. Caso não conseguíssemos que a ferrovia saísse pela Libéria, não pagaríamos o restante. Perderíamos os 500 milhões por não desenvolvermos a jazida, mas ficaríamos sócios em Simandou.” E justificou mais uma vez, como quem repete um mantra: “Era importante estrategicamente para a Vale não deixar a Rio Tinto sozinha lá com acesso a todo aquele minério.”
 
À época em que o negócio foi fechado, o presidente do conselho da Vale era Sérgio Rosa, que era também presidente da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, o maior acionista individual da mineradora. Rosa confirmou a amigos que endossou a proposta, assim como todos os outros conselheiros, por avaliar que se tratava de um bom negócio. O argumento de Agnelli de que estariam em pé de igualdade com a Rio Tinto foi suficiente para convencer os conselheiros. “Era muito difícil para eles questionar o Roger”, disse-me um executivo da companhia. “Ele era o operador e a empresa vinha dando resultados fabulosos. Acho que os conselheiros ficavam temerosos de ir contra suas ideias.” O fato, segundo esse executivo, é que o conselho nunca teve ciência do quefoi assinado. “Eles apenas foram informados da estratégia, mas não conheciam os detalhes do contrato.”

O contrato, no entanto, não garantia que a Vale permaneceria dona dos 51% se não pagasse os 2 bilhões de dólares restantes, caso a questão logística não fosse solucionada. Ou seja, se a Vale não saldasse sua dívida com o israelense até 2011, independentemente do resultado da negociação em torno da ferrovia, sua participação ficaria reduzida a apenas 10% de Simandou – o equivalente a 500 milhões de 5 bilhões.
Em resumo, a mineradora pagou meio bilhão de dólares a Steinmetz sem qualquer garantia de que a ferrovia sairia pela Libéria. E ainda concordou em ter sua participação significativamente reduzida, na eventualidade de que a promessa não fosse cumprida.

Um advogado que examinou o contrato, um calhamaço de quase 200 páginas, questionou a forma como o negócio foi aprovado pela companhia brasileira. “É estranho que o conselho tenha autorizado a Vale a desembolsar meio bilhão de dólares antes que o problema da ferrovia estivesse resolvido”, disse ele, durante um almoço no Rio de Janeiro, em meados de fevereiro. “Se o negócio só seria economicamente viável se a ferrovia saísse pela Libéria, me parece lógico que era preciso, antes, acertar formalmente essas condições.” Sua avaliação é de que o contrato deveria conter uma cláusula obrigando Steinmetz a devolver o dinheiro caso ele não conseguisse viabilizar a questão logística. “No mínimo, a Vale deveria ter imposto o pagamento de uma multa ao empresário”, sugeriu.

Os problemas da Vale com o sócio israelense não demoraram a aparecer. As faturas dos gastos com a instalação do canteiro de obras em Simandou passaram a chegar ao escritório da VGB – a empresa resultante da sociedade – em Conacri, capital da Guiné, e quem tinha de pagá-las era a Vale, uma vez que o contrato não previa o desembolso de nenhum centavo pela BSGR. Certo dia, executivos da mineradora receberam uma conta milionária referente ao leasing do avião particular de Beny Steinmetz, com o qual ele roda o mundo.
Os responsáveis pelo reembolso das despesas se recusaram a pagar.

“Nós dissemos ao Beny que os gastos com o avião particular dele não eram de responsabilidade da Vale, não faziam parte do projeto”, contou-me um executivo da companhia envolvido no processo. Steinmetz reagiu mal: disse que ou bem a Vale pagava aquele custo ou ele, como sócio, não autorizaria mais nenhuma despesa feita pela Vale (na verdade, a assinatura era sempre de um representante da empresa; ele mesmo nunca assinava nada). Numa sociedade, as despesas precisam ser referendadas pelos sócios. Caso os representantes da BSGR se recusassem a autorizá-las, as obras parariam. “Ele ia sempre até o limite. Dizia ‘então vamos parar’. Ele não levava adiante, mas ousava nos intimidar”, contou esse executivo. “Essa não é a melhor forma de se fazer negócio.”

 No mundo concreto das obras, as coisas também não estavam dando certo. Quando os técnicos da Vale entraram em Simandou para entender o projeto, tiveram clareza da dificuldade de sua implementação. “O Martins argumentara que a Rio Tinto não tinha conseguido desenvolver Simandou porque fora ineficiente, mas que a Vale conseguiria fazê-lo”, contou um outro executivo, referindo-se ao diretor aliado de Agnelli.
Não era simples assim. Não havia na Guiné trabalhadores qualificados para tocar as obras. Pensou-se em empregar o fly-in e fly-out adotado pelas plataformas de petróleo, um esquema de revezamento que alternaria o trabalho das equipes: a cada quinze dias um grupo de operários brasileiros iria para Simandou e outro voltaria para o Brasil, retornando à Guiné quinze dias depois, e assim por diante. Funciona bem em plataformas, cujas distâncias são, no máximo, de 300 quilômetros da costa. No caso da Guiné, a milhares de quilômetros do Brasil, a solução exigiria a contratação de um Boeing 747, que teria que aterrissar na Libéria, de onde os operários seriam levados até a montanha do minério por caminhos precários. Era inviável e a ideia foi abandonada.

Havia ainda problemas com a segurança dos equipamentos. O roubo de material era comum. “Era desesperador. Não tinha nada lá, nem infraestrutura, nem energia, nem segurança. Não havia como se comunicar com o escritório em Conacri caso fosse preciso contratar algo com urgência”, contou um funcionário da Vale que participou dessa primeira etapa do projeto.
 
O presidente Alpha Condé assumiu a Presidência em dezembro de 2010. Como toda a negociação de Steinmetz fora feita com os governos anteriores, adversários do novo presidente, Agnelli achou por bem que ele e o sócio visitassem Condé para falar de suas intenções na Guiné. Chegaram a Conacri no dia seguinte à posse e foram seencontrar com Condé em sua casa. O momento não era o mais propício. Enquanto os três conversavam no andar de cima, o irmão do presidente era velado no andar de baixo.
Agnelli disse que foi um encontro amigável e que Condé demonstrou grande interesse em conhecer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em menos de um mês, em janeiro, seria substituído por Dilma Rousseff no Palácio do Planalto. Condé evitou dar garantias sobre o futuro da operação em curso, mas na conversa reivindicou, como contrapartida ao negócio, que a Vale e seu sócio construíssem uma ferrovia urbana ligando Conacri aos distritos mais próximos, empreendimento relevante num país em que a maioria da população se desloca a pé.

Agnelli concordou e voou para Washington, onde conversou com o Banco Mundial para tratar do financiamento da ferrovia urbana na Guiné. Não conseguiu apoio. De lá mesmo, ligou para Lula. Falou do desejo de Condé de conhecê-lo e pediu também a intercessão do então presidente no negócio. Acreditava que o prestígio de Lula poderia levar o presidente guineano a olhar com mais simpatia a presença da Vale na Guiné. Aproveitou para pedir que o BNDES liberasse recursos para a ferrovia de Conacri.

No dia 1º de janeiro de 2011, Lula passou a faixa presidencial para Dilma. Nessa mesma data, de acordo com o contrato entre a Vale e a BSGR, vencia o prazo para a solução da cláusula da saída da ferrovia pela Libéria. Dez dias depois, a Vale teria que depositar na conta do israelense 2 bilhões de dólares. O imbróglio, porém, não se resolvera. Steinmetz não conseguiu cumprir o que havia prometido. No final de fevereiro, menos de dois meses depois de deixar a Presidência, Lula voou para a Guiné junto com Agnelli, no avião da Vale. Lá foi saudado com entusiasmo pela população. O ex-presidente se hospedou na casa de Condé. Agnelli, acompanhado de sua mulher, seguiu para o Novotel, onde costumam ficar os altos executivos estrangeiros. Subiu as escadas até seu apartamento, no 4º andar – evitou o elevador dadas as frequentes quedas de energia no país.

No dia seguinte, 22 de fevereiro, houve uma cerimônia para o lançamento da pedra fundamental do projeto da Vale em Simandou. Lula assistiu a tudo ao lado de Condé. Suava sob o calor escorchante. Em seguida, houve um almoço para as autoridades. À mesa junto com Condé, cercados por seguranças, sentaram-se Lula, Agnelli e sua mulher. Logo após se acomodarem, Beny Steinmetz se aproximou e parou diante deles, comoquem se convida a tomar assento. Olhou insistentemente para o presidente, que desviou o olhar. Criou-se uma situação constrangedora, percebida pelos convidados. Um integrante do cerimonial conduziu Steinmetz a outra mesa. Era ordem de Condé que o israelense não se sentasse na mesa principal.

 “Ali ficou claro para mim que o presidente Condé não tinha um bom relacionamento com o Beny”, disse-me Agnelli. Perguntei-lhe se ele sabia por quê. Agnelli respondeu que o mal-estar decorria do fato de Steinmetz não ter pago impostos à Guiné pela quantia que recebeu da Vale. “Eu fui falar com o Soros. Eu disse: ‘George, me diga o que é, que eu tento resolver. Eu falo para o Beny pagar’”, contou Agnelli, relatando que, depois disso, Soros não lhe deu retorno.

O lançamento da pedra fundamental deu esperança aos brasileiros de que o projeto seria aprovado. Mas, com a queda em desgraça do parceiro bem relacionado, a garantia de que a ferrovia sairia pela Libéria era um sonho cada vez mais distante. Steinmetz deixou isso claro para os executivos da Vale. Em março, sugeriu que procurassem outros caminhos para resolver a questão da ferrovia, já que ele não poderia mais ajudá-los. E os deixou sozinhos no negócio, jogando sobre a Vale a responsabilidade de resolver o impasse.

Em qualquer negócio, a despeito de sua dimensão, quando uma das partes se sente lesada, presume-se que ela recorra à Justiça para obter alguma forma de reparação. Esse seria o caminho a ser tomado pela Vale. No entanto, no caso da sociedade com Steinmetz, essa possibilidade não existia. Pessoas que leram o contrato disseram que a Vale se comprometeu a não processar a BSGR ou qualquer empresa do grupo de Steinmetz (e ainda qualquer diretor, empregado, agente ou consultor da empresa e do grupo do israelense) caso se sentisse prejudicada pelo acordo. “É inacreditável que uma empresa do tamanho da Vale, com a sua excelência e importância no mercado, tenha concordado que uma empresa júnior, absolutamente irrelevante na mineração de ferro, lhe impusesse esse tipo de condição”, avaliou um experiente advogado envolvido no assunto. “Nunca vi uma coisa dessas.”

Depois disso, Roger Agnelli ficou numaposição vulnerável. Em 2008, durante a crise global, ele já havia se desgastado com o presidente Lula por ter demitido 1 300 funcionários, alegando corte de custos. Também contrariou o presidente ao encomendar navios à China, num momento em que o governo queria acelerar a construção naval no país. “O Roger estava certo”, disse-me um executivo da companhia. “A Vale é uma empresa com ações no mercado e não podia se sujeitar a exigências descabidas do governo, que queria se intrometer na administração da empresa. A Vale não é a Petrobras, onde o governo faz ingerência sem parar.”

As relações com Lula se normalizaram, mas Agnelli nunca teve um bom entendimento com a presidente Dilma. Em março de 2011, numa viagem à África, declarou a jornalistas que não aguentava mais tanta corrupção no Brasil. Selou ali o seu destino. A cada dia, sua posição na empresa ficava mais debilitada.
 
Ainda em março de 2011, Agnelli perdeu um importante aliado no Conselho de Administração. Sérgio Rosa foi substituído na presidência da Previ e do conselho da Vale por Ricardo Flores, um executivo de carreira do Banco do Brasil. A indicação de Flores foi bem aceita pelos acionistas. Ele tinha muito mais familiaridade com o mercado acionário do que o antecessor, cuja trajetória fora construída no sindicalismo bancário e na militância do PT. A partir daí, as relações de Agnelli com o conselho mudaram radicalmente. Ao contrário de Rosa, Flores passou a cobrar de Agnelli que enviasse com pelo menos quinze dias de antecedência a pauta das reuniões ao conselho, bem como os documentos sobre os temas que seriam discutidos. Até então, os conselheiros tomavam conhecimento dos assuntos em cima da hora. “O Roger tinha uma ascendência muito grande sobre o conselho”, contou-me um alto executivo da Vale. “Isso mudou depois da chegada do Flores.”

Encontrei-me com um ex-integrante do conselho numa tarde de dezembro. Ele contou que Flores irritou-se com Agnelli numa certa reunião porque não tinha recebido a pauta com antecedência. No encontro seguinte, o fato se repetiu e Flores cancelou areunião. Mas foi por causa de Simandouque a relação desandou de vez. O presidente do conselho da Vale pediu para ver o contrato com Steinmetz. Depois de analisá-lo, concluiu que tinha sido muito prejudicial à companhia. Questionou cláusula por cláusula. Ficou possesso ao saber que a Vale pagara os 500 milhões de dólares sem qualquer garantia; que assumira toda a responsabilidade financeira do projeto; que estava impedida de processar o sócio.

Durante a reunião em que o assunto foi tratado, alguns conselheiros tentaram argumentar que não tiveram conhecimento de todos aqueles “detalhes”. Flores levantou a voz. “Como não sabiam? Ninguém aqui é menino. Todo mundo tem responsabilidade por esse contrato.”
Agnelli foi avisado, em março de 2011, de que não continuaria mais à frente da empresa. Nem Flores, como presidente do conselho, nem a presidente Dilma o queriam mais lá. Privatizada em 1997, no governo Fernando Henrique Cardoso, a Vale nunca se desvinculou do Estado. Seus maiores acionistas são a Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, o BNDES-par (o braço acionário, com participação nas empresas, do banco estatal de desenvolvimento) e outros dois fundos de pensão estatais, o Petros, dos funcionários da Petrobras, e o Funcef, da Caixa Econômica Federal.
Ou seja, mesmo privatizada, a Vale tem no governo seu principal acionista. Os outros sócios relevantes são o Bradesco e a japonesa Mitsui. Os 46% restantes são ações negociadas em Bolsa.

Agnelli chegou à Vale aos 38 anos, logo após a privatização, como representante do Bradesco no conselho, onde ficou até ser alçado à presidência da mineradora. Sua atuação no conselho logo o catapultou ao comando da companhia. O Bradesco sempre lhe deu suporte, mas depois de seu desgaste com Dilma o banco foi pressionado a aceitar sua destituição da Vale.
No final de abril, Flores apoiou o nome de Murilo Ferreira para o cargo. Sugerido por headhunters, Ferreira era funcionário de carreira da própria Vale, tinha sido diretor da companhia e ocupara a presidência da canadense Inco. Deixara a Vale em 2008, estremecido com Agnelli após ter discordado da tentativa de compra da Alcan, em 2007. No período de transição entre os dois presidentes da Vale, Agnelli se recusou a ceder um espaço para Ferreira no escritório da presidência.

Pouco depois de tomar posse, em maio de 2011, Murilo Ferreira foi a Conacri para uma audiência com Condé. Ouviu do presidente que a Guiné não queria negócios com Steinmetz. Caso desejasse permanecer em Simandou, a Vale teria que se livrar do sócio. Condé também sustentou que a ferrovia do minério teria que passar por seu país, e não pela Libéria.

Surpreso, Ferreira perguntou se o presidente havia mudado de ideia quanto ao trajeto da ferrovia, já que, na presença de Lula, ele havia confirmado o acordo sobre esse assunto. Tanto que assentara a pedra fundamental para construção da ferrovia urbana em Conacri, contrapartida para a aprovação do projeto. Condé lhe respondeu que a cerimônia tinha sido uma encenação em respeito ao ex-presidente, a quem admirava, mas que, assim que o brasileiro partiu, ele deu seguimento à disposição de rever todos os contratos na área de mineração. Aproveitando-se dessa brecha, a Vale declarou força maior e suspendeu a aplicação de todas as cláusulas contratuais com a BSGR, inclusive a possibilidade de ver reduzida de 51% para 10% sua participação na sociedade. Também paralisou o projeto e cancelou todos os pagamentos a Steinmetz. Ainda assim, a Vale continua com despesas de manutenção em Simandou para garantir a licença.
 
Numa manhã de janeiro, encontrei-me com Murilo Ferreira no 16º andarda sede da Vale. Ferreira tem um sorriso afável. A fala é mansa, puxada nos essesdo interior de Minas Gerais. Costuma fugir das perguntas mais delicadas argumentando que precisa analisar tudo caso a caso. Ele se sentou à cabeceira de uma comprida mesa de madeira da sala de reuniões. Ao seu lado, estava o jovem advogado Clóvis Torres, consultor-geral da empresa, cuja aparência ansiosa e tensa contrastava com a do chefe.

Ferreira disse não falar sobre hipóteses em relação ao futuro da Vale em Simandou. Após muita insistência, admitiu que a logística é fundamental no projeto. Iniciou serenamente sua peroração: “Mineração de ferro depende tanto do minério como da logística. A associação dos dois é que permitirá calcular se o negócio é competitivo.” E continuou, com voz pausada: “O que faz o minério diferente após as especificações é a sua capacidade de escoamento. Existem reservas boas, notáveis. Mas é preciso somar uma porção de coisas para falar em que classe você coloca o minério. Não basta dizer que o minério é muito bom. Se é preciso 700 quilômetrosde estrada de ferro para escoá-lo, tchau. Se tenho que fazer um molhe de 50 quilômetros, tchau. A reserva pode ser excelente, mas vai continuar inexplorada.”

Desde que assumiu o cargo ele tenta uma solução para Simandou, mas não comenta a iniciativa de seu antecessor de comprar a concessão. “Quem sou eu para questionar? Se o conselho da época aprovou o negócio, é porque o achou bom.” Além disso, disse ele, as circunstâncias mudaram. O preço do minério caiu de 200 dólares a tonelada para 130 dólares.
O mundo entrou em recessão, e a China não é mais tão demandante de ferro. Nesse meio tempo, a mina de Serra Sul, em Carajás, recebeu licença para operar, e a expectativa é de que produzirá 50 milhões de toneladas por ano. Isso não significa, disse ele, que a Vale não precise desenvolver novas reservas. Comentei então que havia grande expectativa no mercado para saber se a Vale iria desenvolver Simandou, já que isso muito provavelmente teria impacto no preço futuro do minério. Ferreira cruzou as mãos e abriu um sorriso: “Eu sou mineiro de Uberaba. Só afirmo alguma coisa depois de ter muita certeza. Essas pressões vêm de gente que quer me ver escorregar em casca de banana.”

Indiretamente, contudo, fez uma crítica ao comportamento de Agnelli em relação aos negócios. “Os estudos que estamos exigindo hoje para aprovação dos projetos no conselho são muito mais detalhados. O mercado estava inconformado com o fato de a Vale apresentar projetos sem muitos detalhes. Eu peco pelo outro lado. Gosto de ter os projetos muito detalhados. Todos só são apresentados com possibilidade de execução.”
 
Em 2012, um ano após ter deixado a Vale, Agnelli deu mais uma mostra de seu estilo. Uma reportagem da revista Exame dizia que ele e André Esteves, à frente da B&A, estavam tentando se apoderar da concessão da Vale em Simandou. Asher Avidan, braço direito de Steinmetz na BSGR, chegou a vir ao Brasil denunciar a estratégia. Agnelli nega que isso tenha ocorrido e se diz vítima de calúnia. “Esse Asher Avidan é um maluco, um desequilibrado”, protestou. Perguntei-lhe por que não o tinha processado. “Para quê? Nem aqui ele mora”, justificou-se.

Foi um momento tenso para Murilo Ferreira. “A notícia me causou muito desassossego”, confessou. “Depois o André Esteves me ligou e disse que não era verdade”, concluiu o atual presidente. Na mineradora, comenta-se nos corredores que um intermediário do Planalto procurou Esteves e deixou claro que a presidente Dilma não queria que ele se metesse com a Vale.
A questão agora é saber como Ferreira fará para se desvencilhar de seu sócio inconveniente. Ele nega que tenha intenções de se desfazer da aliança com Steinmetz – com quem se comunica somente por intermédio de advogados – antes de ter provas de que o israelense subornou governantes da Guiné. “Eu não posso afirmar se ele corrompeu ou não pessoas do governo. Isso quem decidirá é a Justiça. Somente depois a Vale poderá dizer se desfaz ou não a sociedade. Vamos esperar o julgamento.”
Perguntei-lhes e ele considerava Steinmetz um bom parceiro, levando em conta os pontos extremamente desfavoráveis à Vale no contrato. Ferreira desconversou. “O contrato tem cláusula de sigilo. Não falo sobre isso.”
Os advogados envolvidos no caso esperam o julgamento nos Estados Unidos do francês Frédéric Cilins, previsto para o final deste mês de março. Cilins, que trabalhou para Steinmetz na Guiné, foi flagrado pelo FBI tentando convencer uma das viúvas do ditador Lansana Conté a destruir provas de uma propina que ela teria recebido para que a BSGR ganhasse a concessão em Simandou.

No dia 11 de fevereiro, Murilo Ferreira e o consultor-geral Clóvis Torres tiveram um encontro sigiloso com Alpha Condé, em Conacri. Foram pedir que a comissão técnica – encarregada de avaliar se houve suborno por parte da BSGR para conseguir a concessão em Simandou – adiasse o resultado da sua sindicância por sessenta dias. Condé determinara que, caso a comissão encontrasse indícios fortes de corrupção, a concessão poderia ser cancelada. Tudo leva a crer, segundo um conselheiro de Condé, que a comissão encontrou esses indícios. Segundo esse mesmo conselheiro, Ferreira alegou que a Vale entrou com uma ação na Justiça americana pedindo autorização para se desfazer da sociedade com a BSGR por motivo justo.

Murilo Ferreira pediu que o governo da Guiné esperasse a decisão judicial. Caso a sociedade se desfaça, a Vale ficará sozinha no negócio em Simandou. Condé lhe disse que tem o maior interesse na permanência da empresa na Guiné e concordou em dar mais prazo para que a companhia resolva a questão da sociedade com Steinmetz.
 
Agnelli criou um neologismo em inglês para a discussão em torno do pagamento ou não de propina ao governo da Guiné. “Bullshitagem”, de bullshit, algo como “bobagem” no idioma bretão. “Dizem, dizem”, irritou-se. “O fato é que se essa jazida já estivesse sendo explorada a Guiné estaria vendo o dinheiro entrar. Está tudo parado e eles continuam na miséria.”
O executivo está convencido de que fez o melhor negócio para a Vale. Disse que a África é o futuro e ele quer estar lá com a sua empresa. “Eu adoro a Guiné. Quero estar lá para ajudar aquela gente a se desenvolver. Adoro aqueles negão.” Sua empresa em sociedade com André Esteves tenta negociar com a BHP Billiton parte da concessão em Monte Nimba, no sul do país.

Ao me acompanhar até a saída, Agnelli caminhou pelo comprido corredor da empresa, cujas dependências ele havia me mostrado. Na parte central há uma sala grande, com decoração também colorida, onde ficam as bancadas das doze pessoas que hoje trabalham na AGN Participações. Ao final do corredor, há uma sala de reuniões menor e uma copa. Comentei com ele que o local era espaçoso. Ele reagiu com espanto, quase duvidando da minha avaliação. “Você acha?” Respondi que sim, provocando: “Mas não é uma Vale.” Ele respondeu de pronto. “Ainda” – e sorriu.

03 de abril de 2014
Revista Piauí, mar 14