"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O POVO DO LIVRO



A acadêmica, sua editora e a direita hindu
por JULIANA CUNHA
 

A professora americana Wendy Doniger é considerada uma das maiores estudiosas do hinduísmo. Em 2009, ela publicou The Hindus: An Alternative History (Os Hindus, Uma História Alternativa), livro de quase 800 páginas que coroava seus mais de quarenta anos de dedicação ao assunto. Na obra, Doniger defende que o que hoje se conhece por hinduísmo é uma religião praticamente inventada pelos ingleses, fruto de uma síntese de práticas religiosas encontradas na Índia antes da ocupação britânica. Sua tese é a de que essa espécie de mística palatável, baseada em textos em sânscrito só conhecidos na época por uma minoria de indianos, tenha sido comprada pelas elites locais como uma forma de dar ares mais homogêneos, ocidentais, ao emaranhado religioso do país.

The Hindus foi alvo de uma série de ações legais movidas contra o braço indiano da editora Penguin pelo Shiksha Bachao Andolan, o Movimento pelo Resgate da Educação, que busca retirar do mercado e dos currículos escolares livros que denigram a imagem da religião. Dinanath Batra, presidente do grupo, é um sujeito tido pela imprensa local como testa de ferro do Bharatiya Janata, ou BJP, o partido nacionalista hindu, e como um fanático dedicado à defesa da imagem do hinduísmo.

Em fevereiro, a Penguin indiana fez um acordo judicial com o grupo de Batra que até hoje provoca protestos entre intelectuais, indianos ou não. A editora concordou em parar de publicar, retirar de circulação e destruir cópias remanescentes do livro de Doniger.  Às vésperas de eleições nacionais que serão concluídas em maio e levarão à escolha de um novo primeiro-ministro, a queima simbólica de livros parece ecoar a guinada conservadora que se observa na Índia, liderada pela direita hindu.

Os porta-vozes mais extremados desse segmento ficaram particularmente irritados com a abordagem da americana, que trata os mitos hindus como criação humana e não como revelação religiosa, além de fazer análises freudianas dos textos sagrados. Ela estabelece, por exemplo, uma comparação entre o inconsciente humano e o papel dos macacos no Ramaiana, épico atribuído ao poeta Valmiki e parte importante do cânone hindu.

Silas Guerriero, professor do Departamento de Ciências da Religião da PUC-São Paulo, concorda com a visão da pesquisadora e chama atenção para o caráter não monolítico do hinduísmo. “Não é como o catolicismo, que é uma religião mais ou menos centralizada. As práticas e concepções dos diversos grupos que nós hoje abarcamos sob o guarda-chuva do hinduísmo mudam muito. A decisão de colocar todos esses grupos juntos foi uma postura colonial e ideológica semelhante a pegar várias crenças africanas e dizer que aquilo é uma religião singular”, explicou.

O argumento mais acadêmico usado por Batra e seus defensores tenta pôr a tese de Doniger de cabeça para baixo: ela é que teria uma visão colonial da Índia. O livro foi “escrito com um fervor missionário cristão e com a agenda oculta de denegrir hindus e apresentar a religião sob um ângulo ruim”, disse ele numa representação à Justiça, em 2010. Mas Batra reconhece que o retrato erotizado de líderes religiosos e deidades – a começar pela capa, ilustrada por uma imagem em que o deus Krishna monta um cavalo formado por corpos nus de mulheres – foi o que mais o incomodou no trabalho. “Meu livro não é sobre sexo de jeito nenhum. É sobre religião, um assunto muito mais quente do que sexo”, disse Doniger – que é de origem judaica, e não cristã – num artigo para o New York Times.

A Penguin da Índia disse em um comunicado ter defendido o livro enquanto pôde, e culpou a seção 295ª do Código Penal do país, que fala sobre “atos maliciosos que visam ferir sentimentos religiosos”, pela retirada da obra. Segundo a Penguin, essa seção “tornará cada vez mais difícil para qualquer editora indiana sustentar os padrões internacionais de liberdade de expressão”.
 
Manter uma democracia com 1 277 bilhão de pessoas e oito grandes sistemas de doutrinas, sem contar as inúmeras crenças minoritárias, não é para qualquer um, mas a censura editorial indiana não se resume a desavenças religiosas. Pessoas de esquerda como a escritora Arundhati Roy acham que
a editora recuou por motivos políticos. “Não houve sequer uma ordem judicial obrigando-a a fazer isso”, ponderou Roy, que também é publicada pela Penguin.

Para ela, a censura é sinal de concessão ao candidato a premiê Narendra Modi, do BJP, um político conhecido tanto pela obsessão em exercer controle sobre materiais de leitura quanto pela onda de violência contra muçulmanos no estado de Gujarat, em 2002. Modi, que na época governava o estado, foi acusado de incitar a população hindu a um levante contra os  muçulmanos da região, num embate que durou três dias e causou a morte de 790 muçulmanos e 254 hindus.

Para Shabnam Hashmi, diretora da ONG ANHAD (Act Now for Harmony and Democracy), criada em 2003 como resposta ao massacre de Gujarat, a retirada dos livros é uma demonstração de poder da direita conservadora: “O secularismo vem perdendo espaço na Índia desde o começo dos anos 2000, e a figura de Modi, com seu apelo religioso mal disfarçado, coroa esse processo de decadência do país. Eles dizem que o livro deve ser retirado porque é ruim, porque tem informações erradas, mas esse julgamento cabe ao leitor.”

Proibir um livro talvez seja um gesto mais poderoso na Índia do que em outros países: há dois meses, uma pesquisa da empresa britânica NPO World apontou os indianos como o povo que mais lê no mundo: uma média de 10h42 de leitura por semana (contra 5h12 do brasileiro, por exemplo).
The Hindus: An Alternative History não foi o primeiro alvo da limpeza de estantes promovida por Batra nem será o último. Seu foco de atenção atual é o livro On Hinduism, também de Doniger, publicado pela Aleph Book Company em 2013. Antes disso, Batra já tinha se voltado contra o professor A.K. Ramanujan por causa de um ensaio intitulado “Three Hundred Ramayanas” (Trezentos Ramaianas), em que o acadêmico explora as diferentes versões do épico e refuta a existência de uma versão original. Em 2011, o Conselho Acadêmico da Universidade de Nova Delhi retirou o ensaio de seu programa.

Antes de tentar retirar coisas das prateleiras, Batra testou sua mão como escritor e garantiu que algo ainda pudesse ser lido: em 2001, ele editou um livro chamado The Enemies of Indianisation: The Children of Marx, Macaulay and Madrasa (Os Inimigos da Indianização: Os Filhos de Marx, Macaulay e Madraça), que conta com um capítulo sobre fatos distorcidos em livros aprovados pelo Conselho Nacional de Educação da Índia.

Quando pressionado sobre o radicalismo com o qual refuta opiniões contrárias à sua visão do hinduísmo, Batra se defende acusando outras religiões. “Fale alguma besteira sobre Maomé para ver a reação dos muçulmanos”, respondeu ele quando questionado por que não deixar Doniger falar o que quiser. “Todo mundo sabe que Jesus Cristo era um filho bastardo de Maria, mas na Europa eles não ensinam isso, dizem que ela é a Virgem Maria”, disse Batra, talvez sonhando com um Krishna igualmente assexuado.

09 de abril de 2014

ESTÁ NO AR

 


Os dias enfumaçados numa das cidades mais poluídas do planeta
por IAN JOHNSON

Na arquitetura tradicional chinesa, os princípios do feng shui recomendam que as casas sejam guarnecidas de um pequeno muro a poucos metros da entrada, como proteção contra energias maléficas. Mas na cidade de Handan essas muretas passaram a servir de anteparo para as nuvens da fumaça acre e malcheirosa que exala das fábricas. Numa noite de verão em Sihoupo, bairro de 300 habitantes na Zona Oeste de Handan, as labaredas amarelas de uma fábrica de coque – derivado de carvão empregado na produção do aço – irrompiam no céu, saturando o ar com o cheiro de ovo podre.
Para se obter o coque, concentra-se carvão betuminoso em tijolos, que então são usados como combustível dos fornos em que o ferro é fundido em aço. O processo também lança partículas cancerígenas na atmosfera. “Não podemos abrir as janelas à noite”, disse Hu Xuhui, um homem de 60 e tantos anos que mora em frente à fábrica. “Se os dias já são ruins, as noites são piores ainda.”
Handan, situada a 400 quilômetros a sudoeste de Pequim, tem um núcleo urbano de 1,4 milhão de habitantes e um vasto cinturão rural que conta com mais 8 milhões de pessoas. Fica ao lado das montanhas de Taihang, um maciço escarpado com picos pontiagudos que se espraia dos arredores de Pequim, no norte, até as bacias hidrográficas da fértil região sul do país. Durante milênios essas montanhas foram cenário de lendas e da história.
Na mitologia chinesa, elas são a morada da deusa Nüwa, a criadora dos seres humanos; na história, com seus desfiladeiros estreitos, sempre estiveram nos cálculos de estrategistas militares. Hoje, graças às ricas jazidas de carvão e minério de ferro, as montanhas constituem importante centro da siderurgia no cenário global. Uma das províncias que fazem fronteira com o maciço de Taihang é Hebei, onde se estende Handan; só essa região responde por 10% da produção de aço em todo o planeta.

Embora a poluição em Pequim tenha atraído a atenção do mundo todo nos últimos anos, o dano ambiental é muito pior nas cidades industriais de menor porte. Segundo dados do governo, das dez cidades mais poluídas da China, sete ficam na província de Hebei, e Handan é uma delas. Nos dias ruins, não se consegue enxergar o outro lado de uma estrada de quatro pistas.

Ativistas e economistas vêm alertando, há décadas, que o boom econômico da China está arruinando o meio ambiente e criando sérios riscos à saúde. Um estudo recente relatou que em 2010 a poluição do ar contribuiu para 1,2 milhão de mortes prematuras no país – quase o dobro do número de baixas por malária em todo o mundo. Outro relatório observou que a poluição causada pelo processamento de carvão reduz em cinco anos e meio a expectativa média de vida no norte do país.

Não obstante as restrições impostas pelo governo à organização independente dos cidadãos, com o propósito de dificultar a formação de grupos de pressão, os moradores de Handan e das aldeias vizinhas estão falando mais livremente dos problemas que enfrentam. Mães contam que os filhos sofrem de doenças respiratórias crônicas. Idosos se queixam de problemas digestivos, que atribuem aos alimentos cultivados na região. E muita gente menciona vizinhos que estão morrendo de câncer. Até mesmo o governo reconheceu a existência de “aldeias do câncer”, que militantes identificaram em centenas de lugares, inclusive em Handan.

Sentada em sua sala, Song Lingdi, moradora de Sihoupo, segura uma foto plastificada do marido, um homem corpulento de 44 anos, o cabelo cortado à escovinha, que há três anos morreu de câncer de pulmão. Contou que já pediu indenização ao governo, mas teve sua petição negada. Moradores mais abastados erguem telhados de zinco no quintal, e é debaixo desse abrigo que as crianças devem ficar. Todos os dias as mulheres varrem a fuligem cinza, suficiente para encher vários baldes.
 
Desde o século III, quando pela primeira vez se extraiu enxofre da região, Handan se destaca por ser um polo industrial. Posicionada no cruzamento de duas importantes rotas comerciais, a cidade também se sobressaiu como centro cultural, berço de centenas de expressões idiomáticas enraizadas no folclore e na história do país. Uma das mais conhecidas é Handan xue bu (Aprendendo a andar em Handan), referência à anedota de um rapaz do interior que ouve dizer que os moradores de Handan são tão sofisticados que andam de um modo especial. Ele vai à cidade para aprender o trejeito, em vão. Abatido, anos depois ele volta para casa e descobre que não se lembra mais de como ele mesmo caminhava. Só lhe resta engatinhar. Moral da história: se imitar os outros, você pode perder a si mesmo.

As origens modernas do poderio industrial de Handan remontam ao século XIX, quando Li Hongzhang, um dos administradores mais competentes da China, abriu uma mina de carvão nas cercanias. Ao assumir o poder, em 1949, o Partido Comunista viu na indústria pesada, e especialmente no aço, o caminho para a modernização do país. Em 1958, o governo fundou em Handan a siderúrgica Hansteel. No ano seguinte, durante o Grande Salto para a Frente, o camarada Mao foi até lá e vaticinou que a cidade, com seu “infindável tesouro em jazidas de ferro”, seria um pujante polo do aço. Soldados e civis trabalharam em turnos ininterruptos, transportando tijolos para os canteiros de obras, em bicicletas ou em carrinhos de mão.

No início a usina produzia apenas ferro de baixa qualidade. Em 1965, conseguiu gerar as temperaturas necessárias para o fabrico de aço, mas mesmo assim a escala da produção era pequena: em 1978, a Hansteel tirava menos de 200 mil toneladas de aço anuais. Naquele ano, porém, Deng Xiaoping assumiu o poder e promoveu reformas econômicas. A iniciativa privada, praticamente banida sob o governo de Mao, foi liberada. Em 1979, a China produziu 34,5 milhões de toneladas de aço; em 1996, a cifra ultrapassava os 100 milhões de toneladas.

À medida que a siderúrgica se expandia, ia engolindo as aldeias vizinhas ou deixava-as praticamente inabitáveis, tamanha a poluição. Muitos ainda se lembram das manifestações nos anos 80 e 90, quando as pessoas se deitavam nos trilhos das ferrovias para impedir a chegada de vagões carregados de carvão.

A Hansteel começou a pagar à população do entorno uma “taxa anual de poluição” de algumas centenas de dólares, que os moradores dizem ainda receber.

A maior liberalização da economia nos anos 90 acelerou o crescimento, criando uma insaciável demanda por aço. Os fabricantes compravam do Ocidente, a um custo mínimo, siderúrgicas desativadas que eram remontadas na China. Em 2012, o país gerou 716 milhões de toneladas de aço, quase a metade do total mundial. A Hebei Steel, conglomerado do qual a Hansteel agora faz parte, é o maior fornecedor do país.

Mas a produção de aço segue o esquema comum a toda a economia chinesa: enquanto os empreendimentos bem-sucedidos atraem imitadores, raramente os ineficientes são eliminados. Protegidos pelos governos locais, os produtores em desvantagem perseguem obstinadamente uma participação de mercado, mesmo quando os lucros são pequenos. A implementação de técnicas de controle da poluição é outro problema. Ainda que o Ministério de Proteção Ambiental tenha mais poder hoje, as autoridades locais muitas vezes ignoram suas diretrizes. A prioridade delas é o crescimento econômico, há tempos

o segundo fator determinante para a carreira de um funcionário público (evitar a agitação social é o primeiro). O avanço da indústria siderúrgica fez de Handan um lugar estratégico para políticos ambiciosos, que são rapidamente promovidos e logo assumem outros cargos.
 
Quando tentei agendar uma visita à Hansteel, as autoridades locais me avisaram que era proibido divulgar dados sobre a poluição na cidade. Se eu me demorava perto de uma fábrica, era logo enxotado por um funcionário do Partido, que alertava as pessoas para não falar comigo. Um conhecido, porém, concordou em me acompanhar numa visita. Fui de carro até lá com outro metalúrgico, um homem de 39 anos, magro e cheio de energia, chamado Han Zhigang.
Han era um operário de segunda geração; seus pais, originalmente agricultores de uma aldeia próxima, haviam se mudado para Handan durante a expansão da Hansteel, na era maoista. Eles tinham o que então era chamado de “tigela de arroz de ferro” – um emprego vitalício, com todas as vantagens proporcionadas por uma grande empresa estatal num sistema comunista: creche, escola e assistência médica gratuitas, além de subsídios para moradia e alimentação.

Vimos um teatro novo, parques públicos amplos e ruas agradáveis no centro da cidade, margeadas pelas frondosas árvores de Ginkgo biloba. No entanto, conforme nos aproximávamos de Hansteel, a estrada ia ficando esburacada, em decorrência do pesado tráfego de caminhões que transportam carvão para as usinas de lavagem. Uma dessas fábricas, à nossa esquerda, estava temporariamente fechada, graças a uma iniciativa antipoluição do governo central. Passamos sob uma ferrovia por onde transitam composições de cinquenta vagões abarrotados de carvão, destinados à Hansteel.

Vinte anos atrás, quando cursava a escola técnica, Han conseguiu uma colocação como vendedor de mapas numa firma no sul da China. Naquela época, havia muita oferta de novos empregos no setor privado, com salários muito mais altos que os oferecidos pelas empresas estatais. Os pais de Han, porém, não concebiam nada mais seguro do que um emprego na Hansteel, e pediram que ele voltasse. Han, por seu lado, temia que sua geração tivesse sido muito poupada. “Eu achava que não seria capaz de dar duro”, disse ele. “Por isso pleiteei um emprego bem na frente do alto-forno. Queria experimentar a vida numa siderúrgica.” Depois de quatro anos despejando ferro fundido, ele obteve uma vaga no departamento de logística da fábrica.
 
O complexo da Hansteel abrange cerca de 600 hectares, um terço da área de Handan. Percorremos de carro sua divisa meridional, uma rua que exibia apenas restaurantes fechados com tabiques e outros prédios dilapidados. A estrada era inteiramente negra, com o pó de carvão entranhado no solo. Estacionamos diante dos portões da fábrica. Saí do carro de Han e passei para o carro do meu contato, a quem chamarei de Teng. Superamos os últimos dois postos de controle e entramos na Hansteel.

As ruas no interior do complexo eram ladeadas de choupos recém-plantados e arbustos com flores vermelhas, roxas e amarelas. Viam-se gramados bem cuidados, cercas vivas perfeitamente aparadas, irrigadores automáticos. Mulheres com chapéus de palha tratavam do jardim. Uma grande faixa dizia: “Espalhe o espírito da Hansteel. Juntos forjaremos o sonho da China.”

Teng explicou que a fábrica havia instalado um novo equipamento para recolher o pó de carvão nos altos-fornos, e vedara o depósito de minério de ferro, antes a céu aberto, de modo a impedir que o vento espalhasse a fuligem. Caminhões patrulhavam as ruas, aspirando sujeira e cinzas, lavando o chão. Antigamente, diziam que uma pessoa perdia trinta anos de vida no momento em que cruzasse os portões da siderúrgica; hoje, a siderúrgica era o local mais limpo da cidade. A Hansteel seria o sonho de consumo de qualquer inspetor de Pequim.

Embora a fábrica de coque do complexo fosse bem maior do que a de Sihoupo, era mais limpa, porém mais intensamente se sentia o fedor de enxofre. Alguns homens empurravam carrinhos cheios de equipamentos e de lixo. Outros, sentados no meio-fio, com a aparência exausta, fumavam. Teng me disse que essa seção, aberta em 2008, era moderna e muito lucrativa, e contava com apenas 4 mil empregados. Numa unidade vizinha, mais antiga, com equipamentos antiquados e menor controle de poluição – e operando no vermelho –, trabalhavam 20 mil pessoas. Se a Hansteel, de longe o maior empregador da região, fechasse aquela unidade, seria uma empresa mais ecológica e ainda mais lucrativa, mas precisaria demitir milhares de trabalhadores. “Acho que não se pode fazer isso em nenhum país do mundo, não é mesmo?”, perguntou Teng, retórico. A produção em grande escala e também o emprego em grande escala fazem parte da responsabilidade social da empresa, acrescentou.
Saí da fábrica e caminhei pelas redondezas. Num bairro chamado Mengwu, conversei com Yang Xiu-ying, uma mulher de seus 50 anos que trabalha algumas horas por dia varrendo o pó de carvão de uma das avenidas da Hansteel. Como muitos moradores, ela ainda externava amargura ao falar das terras apropriadas pela siderúrgica em suas várias expansões. E descreveu a poluição de anos piores: “Caía uma chuva negra”, disse ela. “Não dava para vestir roupas brancas.”

A fuligem negra já não domina o centro urbano de Handan, mas as casas em Mengwu e outros bairros são sacudidas a cada poucos minutos pelos trens que transportam carvão. Algumas apresentam rachaduras nas paredes. Os moradores pediram indenização ao governo, e nada. Tal como a maioria das pessoas que mora perto de fábricas, Yang não tinha nenhuma expectativa de mudança. “Não se pode lutar contra a Hansteel. A cidade de Handan é a Hansteel”, disse ela, me dando as costas.
 
Durante décadas, o governo chinês ignorou a poluição, ou pelo menos tentou acobertá-la. Em 2007, temendo agitação social, Pequim pressionou o Banco Mundial a censurar um relatório sobre as mortes provocadas pela poluição no país. Depois de um vazamento de anilina numa fábrica de produtos químicos em Jilin, 1 200 pessoas sofreram de convulsões, náusea, dificuldade respiratória e paralisia temporária.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos classifica a anilina como provável agente cancerígeno; na Europa, desde o século XIX essa substância tem sido associada a surtos de câncer em cidades industriais ao longo do Reno. As autoridades sanitárias de Pequim, porém, atribuíram os sintomas a uma “histeria coletiva”; no hospital onde estavam sendo medicadas, as vítimas foram aconselhadas a se controlar. Em 2009, depois que a embaixada americana em Pequim passou a divulgar pelo Twitter os índices de poluição aferidos pelo monitor instalado em seu telhado, uma autoridade do Ministério de Relações Exteriores da China se queixou de que os Estados Unidos estavam se intrometendo nos assuntos internos do país.

Contudo, no início de 2013 o governo chinês resolveu tornar públicos dados da poluição atmosférica em 74 cidades – registros de leituras, de hora em hora, das estações de monitoramento em cada uma das cidades (Handan tem quatro), com base numa escala chamada Índice de Qualidade do Ar. A escala adota uma medida conhecida como MP2,5 – ou Material Particulado 2,5 –, que quantifica a concentração de partículas menores que 2,5 micrômetros. Quando inaladas, essas partículas podem aumentar o risco de ataques cardíacos, câncer e infecções respiratórias agudas, sobretudo em crianças e idosos.

Ativistas ambientais na China acreditam que a divulgação de dados pode ser uma tática do Ministério de Proteção Ambiental para criar uma pressão pública que obrigue as alas pró-indústria do governo a aceitar controles de poluição mais rigorosos. Outros sinais de mudança nas atitudes oficiais vêm ocorrendo. Em maio de 2013, Xi Jinping, o novo líder da China, declarou que a proteção ambiental seria um dos fatores para avaliar o desempenho de funcionários administrativos candidatos a promoção. Em julho, o governo noticiou que, para melhorar a qualidade do ar, nos próximos cinco anos iria gastar uma verba de 270 bilhões de dólares, grande parte dela destinada à região em torno de Handan.
 
As ações do governo refletem a conjectura de que a poluição é uma das poucas questões capazes de suscitar o desagrado de setores amplos da população, de todas as classes e etnias. Como o Partido fez da elevação dos padrões de vida seu parâmetro de sucesso, a poluição ambiental e os problemas de saúde que ela provoca minam a sua credibilidade. Em Pequim, Li Bo, veterano do movimento ambientalista chinês, me disse que a poluição “põe em questão a legitimidade do Partido, e o Partido sabe disso”.

Li trabalhou vinte de seus 43 anos em causas ambientais, e hoje é membro do conselho da mais antiga ONG ambientalista da China, Amigos da Natureza. As leis chinesas fazem de tudo para impedir que as ONGs se organizem em nível nacional, mas a Amigos da Natureza, com sede em Pequim, tem filiais em todo o país. Desde o final da década de 90, a ONG conseguiu questionar um projeto de hidrelétrica no rio Yang-tze e impedir a derrubada da floresta virgem na província de Yun-Nan, além de lutar pela preservação do antílope tibetano. No momento, sua campanha mais intensa está voltada para uma “aldeia do câncer” em Yun-Nan, onde durante anos uma fábrica de produtos químicos despejou dejetos tóxicos que escoaram para os reservatórios de água. A Amigos da Natureza vem ajudando os moradores a entrar com uma ação judicial com vistas a uma indenização: é a primeira vez que uma organização ambiental consegue levar ao tribunaluma indústria de produtos químicos.

As novas liberdades, segundo Li, vêm acompanhadas de limites claros. “Todo mundo fala da poluição, mas aquele que resolver seguir o curso de um determinado agente poluente até chegar ao poluidor corre o risco de acabar em apuros”, disse ele. “As autoridades locais podem alegar que o sujeito está prejudicando o progresso.”

Em Pequim também conheci Wang Jun e Zhang Bin, engenheiros de software que desenvolveram um aplicativo para smartphone chamado Índice de Qualidade do Ar da China. O aplicativo teve tanto sucesso que eles estavam pensando em alugar um escritório, em vez de trabalhar em seus apartamentos. O programa é capaz de calcular os níveis de poluição atmosférica do bairro, com atualizações de hora em hora e dados que remontam a meses. Pode-se passar horas acompanhando o rastro da poluição, observando a trajetória das nuvens de ar poluído pelas cidades e províncias.

Por vezes o índice registrado numa determinada estação salta de 100 ou 200 – marca que já é de dez a vinte vezes maior que a meta da Organização Mundial de Saúde – para algo como 800. A razão dessas flutuações não é clara: podem ser erros de aferição, pode ser que o equipamento de medição esteja no meiode um rolo de fumaça lançado de uma fábrica vizinha. Ninguém sabe responder com precisão. Mais importante que essas flutuações momentâneas são os dados diários e mensais, que refletem os efeitos de longo prazo sobre a saúde da população. A média do MP2,5 em Handan no primeiro semestre de 2013 foi de 130,5. A de Pequim foi 101,3 e a de Manhattan foi de 8,3. As diretrizes da OMS dizem que qualquer partícula é potencialmente prejudicial, mas estabelece uma meta de MP2,5 no nível 10. Em outras palavras, a concentração em Handan era treze vezes pior do que a meta da OMS.

Zhang e Wang abraçaram a causa ambientalista por acaso. “Na verdade, antes não prestávamos atenção à poluição, mas em 2011 houve um período de péssima qualidade do ar”, disse Zhang. “E então nos perguntamos se não haveria uma maneira mais fácil de acompanhar os índices.” No início, o aplicativo só contava com informações vindas dos tuítes da embaixada e do Consulado dos Estados Unidos, mas no início de 2013 os dois atualizaram o software de modo a incluir novos dados do governo, informações históricas, comparações entre cidades, e ainda a capacidade de localizar qualquer estação de monitoramento.
O aplicativo já foi baixado 2 milhões e meio de vezes – das quais 58 mil ocorreram depois de um infame dia de janeiro de 2013, quando uma nuvem de poluição em Pequim provocou o cancelamento de ​​voos elevou firmas estrangeiras a distribuir máscaras para seus funcionários. Agora, Zhang e Wang contabilizam em média 4 mil downloads por dia, e estão pensando em expandir o negócio para outros países. Disseram que, embora o governo não tenha interferido em seu trabalho, a vigorosa resposta do público deixou as autoridades nervosas.
 
Num sábado de manhã, em um cume silencioso das Montanhas Taihang, participei de um encontro no Clube de Montanhismo Luz do Sol. A associação foi fundada por Han, o metalúrgico que me conduziu até a fábrica. No final dos anos 90, ele começou a organizar excursões para as montanhas. “Eu não tinha um objetivo; queria apenas caminhar com amigos”, disse ele. “Trabalhava na siderúrgica, e talvez inconscientemente sentisse que precisava do contato com a natureza.”
 
Depois de casar e ter uma filha, ele levou a menina para as montanhas, para fazê-la sentir o ar puro. Em 2008, o clube já tinha tomado forma. Através dele, Han conheceu outras pessoas que não trabalhavam na siderurgia – eram funcionários do governo, profissionais liberais e empresários. Nesses contatos, descobriu que havia uma insatisfação generalizada com a forma pela qual a China, em nome do crescimento econômico, desprezara outros fatores.
 
Anos atrás, Han arrendou 10 hectares nas montanhas, um lote no qual membros do clube poderiam plantar verduras orgânicas. Com a ajuda de agricultores locais, ele espera, no futuro, abrir um restaurante orgânico e também cultivar hortas que possam oferecer verduras frescas. “As pessoas não confiam nos legumes vendidos na cidade”, disse ele, enquanto atravessávamos campos recém-arados. “Acham que está tudo envenenado.”
 
Han nos guiou até um terreno baldio repleto de aipo-silvestre. O dia estava claro, tanto quanto podem ser claros os dias em Handan, ou seja, o ar estava umas cinco vezes mais poluído que em Manhattan. De vez em quando se vislumbrava um pequeno retalho de azul no céu. Enquanto os adultos colhiam aipo em sacos plásticos, as crianças correram para uma fazenda abandonada e subiram no telhado da sede. Han tinha esperanças de reformar a casa e transformá-la num clube.
 
Nossas sacolas acabaram abarrotadas de brotos verdes; planejamos preparar guiozas para o almoço. Um dos amigos de Han, um ex-metalúrgico de cabeça raspada que atende pelo apelido de Macaco, veio nos buscar num jipe Cherokee roxo, “envenenado” com enormes pneus, luzes na capota e um barulhento motor a diesel retirado de um ônibus. Descemos as colinas em zigue-zague, parando numa cidadezinha para comprar carne de porco. De repente fomos engolfados por uma nuvem de poeira. Han gritou “As janelas!”, e Macaco fechou os vidros imediatamente.
 
Na casa de outro amigo de Han, recheamos os guiozas com aipo e carne de porco, jogando conversa fora. Contaram que as mulheres haviam começado a usar máscaras de algodão emendadas em echarpes, para proteger a garganta e o peito contra a fuligem. (Algumas semanas depois notei essas mesmas echarpes em Pequim.)
 
Uma funcionária do Partido Comunista que treina trabalhadores das indústrias de base fazia parte do grupo. Seria natural esperar que a jovem, um quadro em ascensão no Partido, ficasse na defensiva em relação à política ambiental do governo, mas ela foi direta. “Todo mundo está ciente do problema, e há o desejo explícito de melhorar a situação”, disse ela. “Estamos treinando gerentes de controle da poluição. As coisas não podem continuar assim.” Ela entrou para o clube porque se preocupava com a saúde da filha.
 
Em geral, operários e funcionários burocráticos do governo não se encontram socialmente, mas Han animou a conversa com piadas descontraídas. “Conhecem aquela do sujeito de Handan que foi para a Suíça? Lá o ar era tão puro que ele começou a se sentir mal. Tiveram que arranjar um tubo e ligar no cano de escapamento de um carro, para ele respirar um pouco até se sentir melhor."
 
Pouco antes de partir, fui até um braço do rio Zhuozhang com Wang Xiaohong, ex-funcionário público que é diretor do Clube de Natação de Inverno da cidade, uma agremiação bastante parecida com a dos excursionistas. Wang – que, junto com a mulher, tem uma loja de chá – reúne o grupo há vários anos, em locais onde o rio forma piscinas próprias para a natação. Depois do vazamento químico de 2013, o clube entrou com um processo contra a fábrica, mas abandonou o caso, ao que tudo indica sob pressão do governo. Mesmo assim, os membros estavam decididos a continuar dando suas braçadas.
 
Wang é adepto do taoismo, a religião nativa da China, que valoriza a proximidade com a natureza. Durante boa parte dos últimos dois milênios, o taoismo foi eclipsado politicamente pelo confucionismo, mais voltado para a família e a sociedade. Mark Elvin, professor emérito de história chinesa na Universidade Nacional da Austrália, já argumentou que o descaso da China pelo meio ambiente tem raízes nessa tradição. O governante ideal, segundo Confúcio, vê o domínio sobre a natureza como parte do triunfo da humanidade sobre a barbárie. Os filósofos taoistas ficaram em minoria.
 
Han, a julgar pelo pouco tempo que convivemos, me pareceu mais confucionista do que taoista. Seu clube nas montanhas proporciona um refúgio contra a poluição, mas também confere reconhecimento social ao metalúrgico. Já o interesse de Wang pelo meio ambiente está perfeitamente integrado a suas outras atividades – meditar, praticar a caligrafia chinesa e distribuir exemplares do texto clássico Tao Te Ching:O Livro do Caminho e da Virtude, uma das bases filosóficas do taoismo.
 
Quando chegamos à margem do rio, Wang perguntou se eu me importaria de nadar nu. Cerca de vinte homens tinham aparecido naquele dia e já estavam se despindo. Fiz o mesmo, pensando que pelo menos minha sunga seria poupada daquela água tóxica (mas não abri mão dos meus óculos de proteção). A água estava fria e refrescante. Wang foi o primeiro a mergulhar – um homem de 46 anos, de ombros largos, cabelo à escovinha e uma barba triangular destacada pelas costeletas finas.
Começamos num ritmo acelerado. Virei-me para o nado de costas, e alguém chegou nadando de peito, espanando água com braçadas irregulares. Engoli um bocado de água: tinha um gosto azedo, como uma piscina suja que acabasse de receber uma vasta dose de cloro.
 
“Essa água é limpa?”, perguntei.
“Não é potável”, disse Wang. “Mas o que não mata engorda.”
“Por que aqui só nadam homens?”
“Alguns anos atrás a qualidade da água era tão ruim que nossas associadas não queriam entrar no rio”, disse ele. “Os homens não se importavam. Depois de algum tempo, já que não havia mais mulheres, decidimos que tudo bem tirar a roupa e nadar nu.”
 
O produto químico que vazou no rio Zhuozhang era anilina. Se tivesse sido o único derramamento, estaríamos livres de perigo, pois ocorrera havia seis meses – e produtos químicos se dissolvem na água. Mas a julgar pelo número de fábricas nas margens do rio, seria difícil identificar a composição daquela água. “Vamos voltar”, gritei, e a corrente nos levou de volta para a orla.
 
Fomos até a loja de chá de Wang, forrada de prateleiras de aço onde se empilham tijolinhos de chá envelhecido tipo pu’er e bules de louça de Yixing, cidade famosa pela cerâmica. Há também saletas onde se pode meditar e tomar chá. Wang me disse que entre os membros do clube de natação havia muitos diretores de empresas. “O PIB”, e aqui ele usou a sigla em inglês, GDP, “não significa nada se uma pessoa não curte a vida.”
 
Nós nos despedimos, e saí em busca de alguma coisa para o jantar. Dei uma olhada no aplicativo do Índice de Qualidade do Ar, e meu smartphone mostrou que, naquele momento, Handan era a cidade mais poluída de toda a China. Dava para enxergar o foge respirar a fumaça. As diretrizes do governo pregavam que em dias assim as pessoas deveriam usar máscaras e não sair de casa. Passei por um parque onde havia um grupo de idosos que dançava ao som de uma música que saía dos alto-falantes. Naquele nevoeiro amarelo, eles pareciam flutuar.
 
Conversei com uma dançarina aposentada que estava tocando uma espécie de flauta feita com uma cabaça e três tubos de bambu. Segundo ela, é melhor ficar no parque do que em casa, pois há mais oxigênio perto das plantas. Encontrei uma barraquinha de kebab, com uma mesinha e cadeiras, ao lado de um antigo canal, agora seco e cheio de lixo. Do outro lado, uma estátua imortalizava a historieta do homem que tentou imitar os habitantes locais. Seu corpo estava todo desconjuntado e os joelhos meio dobrados. Ele ainda não tinha dominado o jeito de andar de Handan.

09 de abril de 2014

O TRUQUE DE MCCRACKEN

 

 
Como explicar às mulheres a regra do impedimento no futebol
por HERNÁN CASCIARI
 

Peço desculpas às eventuais leitoras, mas vou falar de futebol. Pior ainda: vou falar sobre a regra futebolística mais ininteligível para a audiência feminina, o impedimento.
Não sei se é porque estou ficando velho ou porque já estou farto de um monte de jogadores empacados na mesma linha, sem poder avançar, mas a zaga adiantada me parece cada vez mais uma tremenda estupidez. Vou explicar o porquê com duas metáforas e uma velha história.
 
I. A LEI
 
Numa remota ilha chilena, no extremo sul da Patagônia, o clima é tão cruel que todas as casas dispõem de gigantescas rodas em sua base e todos os homens com mais de 30 são alcoólatras.

A cada seis meses, bairros inteiros mudam de posição para evitar as enchentes, e todas as mulheres da ilha são espancadas pelo marido no mínimo uma vez por mês. Garoa, álcool e tédio: a mistura é fatal.

Algumas dessas mulheres criam coragem e se divorciam do marido espancador. Para sua segurança, pedem também uma ordem judicial de afastamento. A lei obriga então o ex-marido a não se aproximar mais de 500 metros da casa da ex-mulher, com a advertência de que, se o fizer, será preso ou terá de pagar uma multa altíssima.

Os ex-maridos acatam a lei e se mudam para uma pensão barata, bem longe das ex-mulheres. Na pensão ficam olhando a chuva pela janela, arrependem-se de ser tão toscos, enchem a cara e desabam em camas infectas.

Nessa mesma noite, as ex-mulheres (por despeito, vingança ou porque a lei assim permite) deslocam sorrateiramente a própria casa sobre rodas e se aproximam – metro a metro – da pensão do ex-marido.

De manhã bem cedo, as mulheres vingativas ligam para a polícia e dizem:
“O filho de puta está a menos de 500 metros da minha casa! Acudam, ele está desrespeitando a lei!”
É assim que os ex-maridos passam uma temporada na cadeia ou pagam multas, sem nunca saber muito bem por quê.
 
Comparo essas mulheres despeitadas àqueles zagueiros que, sincronizados, dão um passo à frente para deixar o adversário em posição de impedimento.
 
II. O COSTUME
Num conhecidíssimo – e falso – experimento científico sobre o comportamento corporativo, cinco macacos são enfiados numa jaula enorme. No meio da jaula, há uma escada; no alto da escada, uma banana.
 
Quando um dos macacos tenta subir a escada para pegar a fruta, de uma mangueira jorra um forte jato de água fria contra os cinco. Se mais tarde um segundo macaco, desmemoriado ou faminto, tenta subir de novo a escada para pegar a banana, os outros quatro o impedem, por medo do jato de água.
 
Nesse ponto, um dos macacos é retirado da jaula, sendo substituído por um novo. A primeira coisa que o chimpanzé forasteiro faz, obviamente, é subir a escada. Os outros quatro dão guinchos de pavor e saltam sobre ele, golpeando-o e puxando-o para baixo, para impedi-lo de subir.

O recém-chegado aprende a lição, e outro macaco da população original é trocado por um segundo animal novo. Este também tenta subir, os outros o impedem, e assim por diante. Depois de algum tempo, todos os macacos originais são substituídos.
 
Os cinco novos chimpanzés enjauladosnunca foram atingidos pelo jato de água fria, nem conhecem o castigo original. Mesmo assim, a banana continuará intacta para todo o sempre no alto da escada.
Os cinco macacos finais vão brigar, gritar e guinchar toda vez que um deles, rebelde ou morto de fome, perder o controle e tentar subir para pegar a comida. Eles sabem que não podem fazer isso, só não sabem por quê.
 
Comparo o comportamento desses primatas ao dos jornalistas esportivos e torcedores – eu inclusive – que toda segunda-feira se atracam em debates, discussões e brigas motivadas pela lei do impedimento.
 
III. A ARMADILHA
 
Na primavera de 1924, Billy McCracken e Frank Hudspeth eram zagueiros do Newcastle. Naquela época, o jeito de jogar era muito diferente – o esquema mais comum era o 2-3-5: cinco atacantes e apenas dois zagueiros. Em geral, o goleiro dava um chutão, e todos corriam como loucos atrás da bola para tentar levá-la até a meta adversária.

Embora já existisse uma lei de impedimento rústica (a famosa regra número 9, instaurada em 1848, segundo a qual um atacante devia ter pelo menos três adversários à frente), esse inciso tinha sido criado apenas para evitar que os atacantes ficassem plantados na área do adversário esperando a bola. Só para isso. E a lei era acatada sem nenhum problema.
 
Até que, em 1924, o zagueiro Billy McCracken teve uma ideia. Uma tarde, no vestiário, sussurrou para seu companheiro de zaga:
“Ei, Frank, e se no próximo domingo a gente fizer um sinal combinado e der uns passos à frente quando o goleiro do outro time lançar a bola?”
 
Frank era meio burro e demorou um pouco a entender.
“Como assim, Billy? O que a gente ganharia com isso?”, perguntou.
McCracken procurou um giz e desenhou no chão as posições do campo:
“A gente dá esse passo à frente, os dois ao mesmo tempo, e a ilusão de ótica vai fazer o juiz pensar que o jogador adversário está impedido.”
 
Frank ficou boquiaberto: não podia acreditar que, em quase oitenta anos de futebol, ninguém tivesse pensado num truque tão simples. Mas era verdade: ninguém tinha pensado nisso antes.
Quando descobriram o macete, outras equipes da liga inglesa começaram a utilizar o sistema da linha burra, e as partidas de futebol caíram drasticamente em quantidade de gols e emoção. No início dos anos 20, o público sumiu dos estádios, os atacantes não sabiam mais o que fazer e os poucos torcedores não paravam de bocejar.
 
Para piorar, quando Billy McCracken pendurou as chuteiras, virou técnico e fez questão de continuar aplicando sua invenção. E a Football Association resolveu tornar a lei do impedimento mais férrea ainda, em vez de, simplesmente, proibir a linha burra.
Tremendo erro.

A primeira mudança na regra clássica do impedimento foi introduzida em 1925 e é conhecida como regra atual. A regra clássica dizia: “Um jogador estará em posição de impedimento quando se encontrar mais próximo da linha de fundo adversária do que a bola e o antepenúltimo adversário.”
A regra atual trocou a palavra “antepenúltimo” pela palavra “penúltimo”, para que as partidas não fossem tão tediosas depois do truque inventado por McCracken.
 
Por alguns anos, os gols reapareceram, mas depois o jogo foi se tornando mais físico e técnico, até que, numa certa tarde de 1990, depois de uma Copa terrivelmente chata disputada na Itália, ficou decidido que, se o atacante e o defensor estivessem “na mesma linha”, não haveria impedimento.
Passado algum tempo, em 2003, tentou-se um novo abraço de afogado para dar ritmo ao jogo. Introduziu-se então a “posição passiva”: quando um jogador não participa da jogada, não importa se ele está em posição de impedimento.
 
Ninguém nunca pensou em impedir o truque de McCracken, que teria sido a coisa mais natural. De resto, quase nenhum de nós tinha nascido em 1924, quando Billy teve aquela conversa com Frank.
Muitos anos depois, porém, essa malandragem de vestiário amador transformaria todos os zagueiros profissionais do século XXI em mulheres despeitadas da Patagônia, e todos nós, torcedores de futebol, em chimpanzés que toda segunda-feira discutem porque ninguém pode comer sua banana sossegado.

09 de abril de 2014
 

O COMUNISMO REAL


Essa é a definição real do comunismo: controle efetivo e total da sociedade civil e política, sob o pretexto de um “modo de produção” cujo advento continuará e terá de continuar sendo adiado pelos séculos dos séculos.

Nos dicionários e na cabeça do povinho semi-analfabeto das universidades, a diferença entre capitalismo e comunismo é a de um “modo de produção”, ou, mais  especificamente, a da “propriedade dos meios de produção”, privada num caso, pública no outro.
Mas isso é a autodefinição que o comunismo dá a si mesmo: é um slogan ideológico, um símbolo aglutinador da militância, não uma definição objetiva.
Se até os adversários do comunismo a aceitam, isto só prova que se deixaram dominar mentalmente por aqueles que os odeiam – e esse domínio é precisamente aquilo que, no vocabulário da estratégia comunista, se chama “hegemonia”.
 
Objetivamente, a estatização completa dos meios de produção nunca existiu nem nunca existirá: ela é uma impossibilidade econômica pura e simples. Ludwig von Mises já demonstrou isso em 1921 e, após umas débeis esperneadas, os comunistas desistiram de tentar contestá-lo: sabiam e sabem que ele tinha razão.
 
Em todos os regimes comunistas do mundo, uma parcela considerável da economia sempre se conservou nas mãos de investidores privados.
De início, clandestinamente, sob as vistas grossas de um governo consciente de que a economia não sobreviveria sem isso. Mais tarde, declarada e oficialmente, sob o nome de “perestroika” ou qualquer outro.
Tudo indica que a participação do capital privado na economia chegou mesmo a ser maior em alguns regimes comunistas do que em várias nações tidas como “capitalistas”.
 
Isso mostra, com a maior clareza possível, que o comunismo não é um modo de produção, não é um sistema de propriedade dos meios de produção. É um movimento político que tem um objetivo totalmente diferente e ao qual o símbolo “propriedade pública dos meios de produção” serve apenas de pretexto hipnótico para controle das massas: é a cenoura que atrai o burro para cá e para lá, sem que ele jamais chegue ou possa chegar ao prometidíssimo e inviabilíssimo “modo de produção comunista”.
 
No entanto, se deixaram a iniciativa privada à solta, por saber que a economia é por natureza a parte mais incontrolável da vida social, todos os governos comunistas de todos os continentes fizeram o possível e o impossível para controlar o que fosse controlável, o que não dependesse de casualidades imprevisíveis mas do funcionamento de uns poucos canais de ação diretamente acessíveis à intervenção governamental.
 
Esses canais eram: os partidos e movimentos políticos, a mídia, a educação popular, a religião e as instituições de cultura. Dominando um número limitado de organizações e grupos, o governo comunista podia assim controlar diretamente a política e o comportamento de toda a sociedade civil, sem a menor necessidade de exercer um impossível controle igualmente draconiano sobre a produção, a distribuição e o comércio de bens e serviços.
 
Essa é a definição real do comunismo: controle efetivo e total da sociedade civil e política, sob o pretexto de um “modo de produção” cujo advento continuará e terá de continuar sendo adiado pelos séculos dos séculos.
 
A prática real do comunismo traz consigo o total desmentido do princípio básico que lhe dá fundamento teórico: o princípio de que a política, a cultura e a vida social em geral dependem do “modo de produção”. Se dependessem, um governo comunista não poderia sobreviver por muito tempo sem estatizar por completo a propriedade dos meios de produção.
Bem ao contrário, o comunismo só tem sobrevivido, e sobrevive ainda, da sua capacidade de adiar indefinidamente o cumprimento dessa promessa absurda. Esta, portanto, não é a sua essência nem a sua definição: é o falso pretexto de que ele se utiliza para controlar ditatorialmente a sociedade.
 
Trair suas promessas não é, portanto, um “desvio” do programa comunista: é a sua essência, a sua natureza permanente, a condição mesma da sua subsistência.
Compreensivelmente, é esse mesmo caráter dúplice e escorregadio que lhe permite ludibriar não somente a massa de seus adeptos e militantes, mas até seus inimigos declarados: os empresários capitalistas.
Tão logo estes se deixam persuadir do preceito marxista de que o modo de produção determina o curso da vida social e política (e é quase impossível que não acabem se convencendo disso, dado que a economia é a sua esfera de ação própria e o foco maior dos seus interesses), a conclusão que tiram daí é que, enquanto estiver garantida uma certa margem de ação para a iniciativa privada, o comunismo continuará sendo uma ameaça vaga, distante e até puramente imaginária.
Enquanto isso, vão deixando o governo comunista ir invadindo e dominando áreas cada vez mais amplas da sociedade civil e da política, até chegar-se ao ponto em que a única liberdade que resta – para uns poucos, decerto – é a de ganhar dinheiro.
Com a condição de que sejam bons meninos e não usem o dinheiro como meio para conquistar outras liberdades. Ao primeiro sinal de que um empresário, confiado no dinheiro, se atreve a ter suas próprias opiniões, ou a deixar que seus empregados as tenham, o governo trata de fazê-lo lembrar que não passa do beneficiário provisório de uma concessão estatal que pode ser revogada a qualquer momento. O sr. Silvio Santos é o enésimo a receber esse recado.
 
É assim que um governo comunista vai dominando tudo em torno, sem que ninguém deseje admitir que já está vivendo sob uma ditadura comunista. Por trás, os comunistas mais experientes riem: “Ha! Ha! Esses idiotas pensam que o que queremos é controlar a economia! O que queremos é controlar seus cérebros, seus corações, suas vidas.”
E já controlam.


(Publicado no Diário do Comércio.)
* * *
No mundo das idéias abstratas, o único que em geral os doutrinários conservadores e tradicionalistas conhecem, Putin deve ser louvado por sua resistência às "políticas de gênero". Mas louvor e censura são apenas expressões de um estado de ânimo subjetivo. Não creio ter o direito de manter os leitores atentos aos caprichos da minha alminha. Imagino que eles esperem de mim alguma ciência, alguma análise da realidade objetiva.
E, na realidade objetiva, a virada conservadora de Putin, coexistindo com a reabilitação de Stálin e a ocupação da Criméia, é apenas uma peça no complicado esquema estratégico eurasiano.

Para Putin como para o seu guru Alexandre Duguin, a moral religiosa tradicional só vale porque é um elemento de propaganda anti-ocidental entre outros. No século XIX a Rússia já prometia salvar o mundo da corrupção ocidental. O eurasianismo bebe nessa fonte como bebe no marxismo, no nazismo, no islamismo etc. etc.

09 de abril de 2014
Olavo de Carvalho

EURASIANISMO: AS AMIZADES SATANISTAS, MAÇÔNICAS E SODOMITAS DE ALAIN SORAL


 Artigos - Globalismo 
soralNeste artigo, vamos passar em revista os “valores” louvados pelos amigos de Alain Soral, que são convidados a eventos “Igualdade e Reconciliação” e/ou transmitidos nos vídeos do site da associação. As citações são autênticas, as fotos não foram retocadas, esta é a realidade do soralismo.

1.Christian Bouchet
Bouchet é um prolífico autor satanista, autor de: “O Ocultismo”, “A Wicca”, “O Neo-paganismo”, “O Espiritismo”, “A Antroposofia”, “Aleister Crowley”, “Aleister Crowley, abordagem histórica de um mago contemporâneo”, “Aleister Crowley e o movimento telemita”, “Karl Maria Wiligut, o mago de Himmler”, etc.

Christian Bouchet
confessa: “Frequentei essa organização (Ordo Templis Orientis - ver nota ao fim do artigo), como também frequentei a Golden Dawn, os martinistas, as obediências maçônicas egípcias, etc.”
dbsEm conferência proferida no colóquio Revolta contra o mundo pós-moderno, em Moscou, em 15 de outubro de 2011 (fonte), Bouchet (na foto, à esquerda de Soral) declarou:
“Quanto às versões mais esotéricas, ou mesmo ocultistas ou negras da tradição européia, nossa via da mão esquerda em qualquer espécie, a herança de Aleister Crowley, de Maria de Naglowska, de Nicolas Roerich ou de Georges Gurdjieff e de muitos outros, eu temo que numerosas versões ligadas a estas não estejam mais em exibicionismo ou na prática de uma subcultura juvenil, que na pesquisa tradicional. Eu não desaconselharei suas práticas, mas, para fugir a esses problemas, aconselharei a fazê-lo na maior discrição, praticando o que nossos irmãos muçulmanos chamam a taquia (a mentira)”.
Christian Bouchet recomenda, então, aos outros satanistas, de fazer o que ele mesmo faz, ou seja, mentir para dissimular seu satanismo e se esconder para praticar seu culto.sb1
Valores defendidos por Christian Bouchet: desordem esotérica, dupla linguagem, mentira, maçonaria, new age, satanismo, nazismo, anticristianismo, René Guenon.

(Ver: Fontes sobre Christian Bouchet
)

2.Aleksandr Dugin
O amigo russo de Alain Soral...
dugin
Dugin e judeus cabalistas, reunidos para honrar o maçom R. Guénon – Centro Cabalista Tikoun Olam, Paris, 9 de janeiro de 2011.
Dugin faz crer que é ortodoxo mas, mais precisamente, ele diz pertencer à igreja dos Antigos Crentes, que julga e rejeita o patriarcado de Moscou como herético. Dugin, portanto, não está em comunhão com a Igreja Ortodoxa Russa, cujas relações com a Igreja Católica Romana vêm sendo cada vez mais cordiais. Na verdade, Dugin não tem nada de ortodoxo, ele é new age, guenoniano e luciferiano:
Declarações de Dugin:
“Os estratos mais antigos e mais originais da Tradição afirmam a primazia do Norte sober o Sul. A simbologia do Norte é ligada a uma fonte, a um paraíso nórdico original, de onde provém toda a civilização humana (...) Os gregos antigos falavam da Hiperbórea, ilha nórdica, com sua capital, Thule. Esse país era considerado como a pátria do deus luminoso Apolo. E, em numerosas outras tradições, é possível detectar traços antigos, frequentemente esquecidos e fragmentados, de um simbolismo nórdico (...) todas as tradições sagradas honram o Centro, o Meio, o ponto onde os contrastes se suavizam, o lugar simbólico que foge às leis da entropia cósmica. Esse centro, cujo símbolo é a suástica (...), recebeu um nome diferente em cada tradição, mas foi sempre direta ou indiretamente ligado ao simbolismo do Norte. É, portanto, possível dizer que todas as tradições sagradas são, em essência, a projeção de uma Única Tradição Primordial Nórdica, adaptada a condições históricas diferentes. O Norte é o ponto cardeal escolhido pelo Logos primordial para poder se revelar na História, e cada uma de suas manifestações ulteriores não faz mais que restaurar esse simbolismo do paraíso polar”.

“O homem do Norte é um ser particular, dono de uma intuição direta do Sagrado. Para ele, o Cosmos é uma textura de símbolos, cada um deles sendo tirado do segredo pelo olho do Príncipe Primordial espiritual. O homem do Norte é o “homem solar”, Sonnenmensch, não absorvendo a energia, como fazem os buracos negros, mas a gerando, difundindo a luz, a força e a sabedoria, a partir de seu fluxo de criação espiritual. A civilização nórdica pura desapareceu com os antigos hiperbóreos, mas seus mensageiros fixaram as bases para todas as tradições atuais. Esta “raça” nórdica de Mestres está na origem da religião e da cultura de povos de todos os continentes e de todas as cores de pele.”

É sempre a mesma baderna esotérica, é impossível sair dela, mas a coisa interessante vem aqui:
Dugin:
“Durante esse combate, a chama da “ressurreição do Norte espiritual”, a chama da Hiperbórea, transforma a realidade geopolítica. A nova ideologia mundial é a ideologia da Restauração Final, colocando um ponto final na história geopolítica da civilização – mas não o ponto que queriam colocar os arautos globalistas do Fim da História. A variante materialista, ateísta, anti-sagrado, tecnocrata, atlantista, do Fim, é transformada em um epílogo diferente: a Vitória Final do Avatar sagrado, a vinda do Destino Terrível...”
Aí está: “... escolhido pelo Logos primordial para poder se revelar na História”, cujo fim é “a Vitória final do Avatar sacrado”... isso não é nada além da doutrina luciferiana de Alice Bailey:

Alice Bailey, fundadora do Lucifer Trust, 1925.: “Mais tarde, por volta do fim do grande ciclo, o futuro Avatar (...) tomará um corpo físico, manifestando assim sobre o plano físico a força do Logos na distribuição da Lei... saindo do abismo... saindo da sombra e da obscuridade para voltar ao esplendor do dia, Ele que se manifestou, o Avatar...”
O “Avatar” esperado e desejado tanto por Aleksandr Dugin quanto por Alice Bailey é Lúcifer. Não há nenhuma dúvida sobre o luciferismo de Dugin, que o confessa aqui publicamente, muito clara e explicitamente. Ele não o esconde, não usa sequer palavras veladas. Apenas os luciferianos esperam “a Vitória Final do Avatar sagrado”.
Consequentemente, tudo o que não é “tradicional”, ou seja, luciferiano e maçônico, deve ser submetido ou destruído:
"Segundo a opinião dos eurasianistas, cada tradição religiosa ou sistema de fé local, mesmo o mais insignificante, é patrimônio de toda a humanidade. As religiões tradicionais dos povos, religadas às diversas heranças espirituais e culturais, merecem a mais extrema atenção e o maior interesse. (...) os pregadores de doutrinas e de ensinamentos não-tradicionais, e todas as outras forças orientadas para a destruição, devem ser ativamente combatidos.”
(Aleksandr Dugin).
E, certamente:
“Mas eu constatei que nós temos mais em comum com a Nova Direita que com os católicos. Eu compartilho numerosas opiniões de Alain de Benoist. O que não é o caso, em relação aos católicos modernos. Eles querem, com efeito, converter a Rússia e isso não é compatível com nossos projetos. Eu considero Alain de Benoist como sendo o intelectual mais importante da Europa hoje. A Nova Direita, por exemplo, não quer impor o paganismo europeu aos outros. No que concerne a Evola, eu o considero como um mestre e uma figura simbólica da Revolta Final e da Grande Renascença, como o é, também, Guénon. Para mim, nessa época sombria que atravessamos, esses dois pensadores representam a essência da Tradição Ocidental.”
(Aleksandr Dugin)
O “nós” de Dugin não faz referência à Igreja Ortodoxa Russa, à qual ele não pertence, mas à sua seita ocultista particular. Bem evidentemente, os católicos não têm nenhuma intenção de converter a Rússia, pois o que eles teriam a converter? Catolicismo e Ortodoxia se assemelham como duas gotas d’água. A semelhança é muito grande para a Igreja latina, e quase perfeita para as Igrejas católicas do Oriente, maronita, siríaca, caldéia, melquita (principalmente), armênia, etc. cada uma tão católica quanto as outras. Não, o que afasta Dugin dos católicos e o reaproxima dos maçons, é que ele não tem nada de cristão e que ele é pura e simplesmente luciferiano.
Dugin não é ortodoxo, tampouco nacionalista:
“O conceito de nação é um conceito capitalista, ocidental. Por sua parte, o Eurasianismo, ao contrário do nacionalismo, destaca as diferenças culturais e étnicas, não apenas uma unificação baseada no indivíduo. Nós nos diferenciamos do nacionalismo porque nós defendemos um pluralismo de valores. Nós defendemos ideias, não a nossa comunidade ou nossa sociedade.”
(Aleksandr Dugin)
Ainda que russo, Dugin não parece ter se curado da ideologia e de seu desenvolvimento natural, o fanatismo. A febre ideológica perturba a percepção dos limites que possui, que causam indispensavelmente violência aos outros homens, não se retendo por nenhum amor nacionalista pela sua “comunidade” ou “sociedade” e as pessoas que a compõem... Pode-se, sempre “unificar” ideias contrárias, forçando-as a acoplamentos antinaturais, nenhuma ideia jamais reclamou de ser forçada a entrar em uma ideologia malformada, um sincretismo, um ecletismo incoerente... Funciona de outra forma quando se trata de homens. O nacionalismo retorna aos limites concretos da vida humana, à história de um povo, aos pais, aos vizinhos, às fronteiras naturais, poder-se-ia definir a nação como limitação em opisição à hubris material do imperialismo e à mental da ideologia. Essa sabedoria foi magnificamente concretizada pelo reinado de Luís XIV, cuja glória foi de dar à França uma fronteira, glória radiante do interior, sem que tenha sido necessário enviar seus exércitos para morrer até diante de Moscou.
Dugin não é nacionalista porque ele é globalista, como todos os new age e maçons:
“Poderíamos dizer que o eurasianismo é a filosofia da globalização multipolar, chamando à união de todas as sociedades e todos os povos da terra, para construir um mundo original e autêntico, do qual cada componente virá organicamente das tradições históricas e culturas locais.”
(Aleksandr Dugin)
Globalista e imperialista:
“O Regnum dos Nacional-bolcheviques, seu Império do Fim, é a realização perfeita da maior Revolução, continental e universal. É o retorno dos Angos, a ressurreição do Herói, a revolta do Coração contra a ditadura da Razão. Esta ÚLTIMA REVOLUÇÃO é ocupação do Acéfalo, do Acéfalo portador da Cruz, da Foice e do Martelo, coroado pela suástica eterna.”
(Aleksandr Dugin)

duginsatanazi
Dugin Sol Negro Satan
Com o emprego do nome “Acéfalo”, Dugn faz, aqui, referência a Aleister Crowley, que transpôs um hino helenístico a Aképhalos ou o deus-sem-cabeça tornado, sob sua pena, o próprio Satã:
Ó Satã-Sol... Gire a Roda, Ó meu Pai, Ó Satã, Ó Sol!” (Aleister Crowley)
“Avatar sagrado”, “Acéfalo”, “Sol Negro”, não são mais que alguns dos nomes dados a Satã por seus adeptos.
Valores defendidos por Aleksandr Dugin: desordem esotérica, new age, luciferismo, satanismo, nazismo, antissemitismo, anticristianismo, antinacionalismo, globalismo, René Guénon.
 
3. Laurent James
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Algumas palavras de Laurent James para começar, ou recomeçar:
“Enquanto as primeiras cerâmicas Jômon viram a luz do dia, a civilização de Mû já existia há alguns milhares de anos. A pirâmide submarina de Yunaguni é, hoje, um dos mais maravilhosos testemunhos dessa civilização, a qual se desenvolveu plenamente durante a Idade da Prata, ou seja, no momento onde o Cro-Magnon se instalava na Europa. Toda a distância entre o Leste e o Oeste provem de que o Paraíso primordial (o Pólo Norte) permaneceu fixo no imaginário nipônico durante muito mais tempo que a oeste dos Urais, onde a queda foi mais duramente sentida, do fato do desaparecimento brutal do Neandertal. Enquanto a China e a India resultam de uma mistura racial entre, de uma parte, certas colônias atlantes indo-européias (Tokharianos para a China e Arianos para a India) e, de outra parte, certas colônias lemurianas vindas do planalto do Sahul (povos yue para a China e austral-dravidianos para a India), o Japão é o único país a nunca ter conhecido atlantes sobre seu solo. Assim, é uma mistura entre hiperbóreos (Jômons, Aïnus) e lemurianos (reino de Ryûkyû, Kyûshû) que deu a esse país sua especificidade radical, e notadamente essa permanência do nomadismo metafísico.”
O blasfemo e o sacrilégio são, aparentemente, menos envolventes que a carne fresca. Mas o prazer de Laurent James deve ser, aqui, mais cerebral, o exibicionismo, a copulação no vômito, as cruzes cristãs projetadas no fundo, a paródia de missa com crânios de bodes, tudo isso deve significado mais místico.
Laurent James é conhecido por provocação, inspirada pelos grupos Pussy Riot e Femen, em um santuário católico francês.
Valores defendidos por Laurent James: desordem esotérica, maçonaria, new age, satanismo, nazismo, blasfêmia, pornografia, prostituição, sadomasoquismo, anticristianismo, René Guénon.


jovanovic4.Pierre Jovanovic
Pierre Jovanovic beneficia-se de uma reputação de jornalista econômico, mas 90% de seus livros são new age:
“Pesquisa sobre a existência de anjos guardiões”, “O Padre do tempo”, “Biografia do Arcanjo Gabriel”, “Enoque, diálogos com Deus e os anjos”, “O Explorador do Outro Lado”, “O Livro dos Segredos de Enoque”, “A Mentira universal (Enki e Ninhursag)”, “Nossa Senhora do Apocalipse, 777, a queda do Vaticano e de Wall Street segundo São João”... nada além de new age.
Jovanovic é capaz de dizer “eu mijo na Igreja” e, em menos de um minuto de intervalo, “em todo caso, eu sou católico”...

É uma constante muito forte entre os amigos de Alain Soral: marchas mascaradas, enganar o público, vandalismo, criar contestações.


Valores defendidos por Pierre Jovanovic: desordem esotérica, guénonismo, new age, sodomia, luciferismo, anticristianismo.



5.Vincent Reynouardvr
Pequeno protegido da “Igualdade e Reconciliação”, Vincent Reynouard escreve, em seu manifesto “Por que sou Nacional-Socialista”:
“Em 16 de outubro de 1946, Joachim von Ribbentrop, Wilhelm Keitel, Ernst Kaltenbrunner, Alfred Rosenberg, Hans Frank, Wilhelm Frick, Julius Streicher, Fritz Sauckel, Alfred Jodl, Arthur Seyss-Inquart foram enforcados pelos vencedores. Mais de sessenta anos depois, eu me inclino respeitosamente diante de sua memória. Eu me inclino igualmente diante da memória de Hermann Göring, que escapou do enforcamento engolindo uma ampola de cianureto e, principalmente, diante da memória de Adolf Hitler, que não quis sobreviver à derrota. Porque isso não deve ser um segredo para ninguém, eu sou profundamente nacional-socialista.” (Vincent Reynouard)
Sua grande ambição é tentar provar que é possível, que faz sentido, ser católico e nazista. Em uma entrevista, ele cita esta frase:
“Estou, ao contrário, convencido de que um católico fiel pode ser nacional-socialista, como eu também, em virtude dessa convicção, sou nacional-socialista.” (S. Pirchegger)
Que ele faz sua e que resume todo o personagem. Reynouard nada mais é que um enésimo elo da corrente de manipulação já antiga, que consiste em atribuir ao catolicismo a responsabilidade dos teósofos e maçons na gênese do nazismo; é o sósia “direitista” das manobras começadas à esquerda por Rolf Hochhuth em 1963, cujo produto final foi o filme de Costa-Gavras com Mathieu Kassovitz.
Reynouard empreende muitos esforços para tentar convencer, mas, infelizmente para ele, a Igreja já lhe tinha puxado o tapete:
“Não crê em Deus aquele que se contenta em fazer uso da palavra Deus em seus discursos, mas somente aquele que, com esta palavra sagrada, chega ao verdadeiro e digno conceito da Divindade. Qualquer um que identifique, em uma confusão panteísta, Deus e o universo, rebaixando Deus às dimensões do mundo ou elevando-o às de Deus, não é um crente em Deus. Quem, seguindo uma pretensa concepção dos antigos germanos de antes de Cristo, coloca o sombrio e impessoal Destino no lugar do Deus pessoal, nega de fato a Sabedoria e a Providência de Deus, que ‘age forte e suavemente de um extremo a outro do mundo’ (Sabedoria, 8, 1) e conduz todas as coisas a um bom fim: tal pessoa não pode fingir pertencer ao número dos que creem em Deus. Quem exalte a raça, ou o povo, ou o Estado, ou uma forma do Estado, ou os depositários do poder, ou qualquer outro valor fundamental da comunidade humana – necessárias e honoráveis na ordem terrestre – quem eleva essas noções além de seu valor normal, divinizando-as por um culto idólatra, essa pessoa inverte e falsifica a ordem das coisas criada e ordenada por Deus, estando longe da verdadeira fé em Deus e de uma concepção da vida correspondente a essa fé.” (Encíclica “Mit brennender Sorge”, Papa Pio XI, 1937, texto integral)
Pio XI é particularmente afiado nesse texto endereçado à Alemanha de 1937: para ele, e para a Igreja Católica, os nazistas não creem em Deus e estão longe da fé católica, a Igreja Católica não reconhece católicos nazistas nem nazismo católico, difícil ser mais claro.
Mas é fascinante ver Reynouard, que diz também ter sido “muito influenciado por René Guénon”, sustentar a possibilidade de ser tanto católico quanto nazistas, como outros sustentam que se pode ser simultaneamente católico e maçom, e nos dois casos contra a vontade da Igreja que afirma, pela autoridade dos Papas, e não por simples párocos interioranos, que é impossível ser católico e nazista, como é impossível ser católico e maçom.
Dugin se passa por ortodoxo, sendo luciferiano, Reynouard se finge de católico enquanto, de acordo com a própria Igreja Católica, ele não crê em Deus, Bouchet declara ser católico romano, sendo também luciferiano... Que fúria, entre os amigos de Soral, de fingir ter uma religião que não é a sua! Será uma espécie de moda? Ou pose? Ou imitação de um modelo de outra época, Guénon, talvez, que tem sucesso no tour de force de se fingir de católico e depois de muçulmano, enquanto foi sempre maçom? Mistério...
Valores defendidos por Vincent Reynouard: nazismo, maçonaria, ateísmo, sedevacantismo, René Guénon.


6.Guillaume Faye
Ainda um burguês, diplomado em ciências políticas, tendo trabalhado com pornografia e, na imprensa, para as os veículos de mídia Figaro, Paris-Match, VSD, France 2, Skyrock, e teórico da Nova Direita de Alain de Benoist, se entregando ao neopaganismo... Alain Soral o promove em sua associação “Igualdade e Reconciliação”:
gfGuillaume Faye escrevia na revista “Elementos”, de Alain de Benoist:
“Falemos da Europa, dos Estados Unidos, da América Latina, da União Soviética ou da India. É preciso repensar o mundo em termos de conjuntos orgânicos e de solidariedade real: comunidades de destino continentais, grupos de povos coerentes e ‘otimamente’ homogêneos por suas tradições, sua geografia, e seus componentes etnoculturais.”
“A nação, escreve François Perroux, realidade viva e dinâmica, torna-se umas das fontes de energia essencial para reestruturar a sociedade mundial e sua economia (...). Os habitantes da Terra se unem em nações armadas, impérios, comunidades hesitantes e tentam economicamente formar regiões de nações (Bertrand Russel). Esses agrupamentos se encontram – nem fechados, o que é impossível, nem abertos sem reservas (...). Nessas associações de nações, serão necessários projetos coletivos de infraestrutura, investimento, difusão de produtos e de rendimentos. É na medida em que as nações, testemunhas e defensores dos povos, favorecerão essa rarefação dos poderes econômicos e essa descentralização de seus efeitos, que se desenhará certa reciprocidade no desenvolvimento que não se constrói espontaneamente pelo jogo dos interesses privados”
(O Mundo da Economia, 9 de outubro de 1979)
“Essas associações de nações são geopoliticamente possíveis e romperiam o quadro econômico e estratégico atual. Cada grande região planetária poderia assim ver coincidir, em seu espaço de vida, um relativo parentesco cultural, uma comunidade de interesses políticos, certa homogeneidade étnica e histórica, e fatores macroeconômicos que possibilitam um desenvolvimento autônomo sem recursos à mendicância internacional (5). Um novo nomos da terra, para retomar a expressão de Carl Schmitt, poderia surgir assim, fundado sobre uma sociedade de comunidades e não mais sobre uma pseudo comunidade de sociedades.” (Elementos, no. 34, abril/maio de 1980).
Isso é de um europeísmo, ou mesmo de um globalismo, perfeitamente explícito.
Em uma entrevista, ele se define como nietzschiano:
“Isso significa romper com os princípios socráticos, estóicos e, depois, modernos de igualitarismo humano, de antropocentrismo, de compaixão universal, de harmonia utópica universalista. Isso significa aceitar a inversão possível de todos os valores (Umwertung) em desfavor da ética humanista. Toda a filosofia de Nietzsche está fundada sobre a lógica do vivente: seleção dos mais fortes, reconhecimento do poder vital (conservação da linhagem a todo custo) como valor supremo, abolição de normas dogmáticas, busca da grandeza histórica, ideia da política como estética, “desigualitarismo” radical, etc.”
E nesta outra entrevista:
Gaie France Magazine, no. 4, outubro de 1986 (diretor da publicação: Michel Caignet, neonazista e pedófilo)
pp. 13 a 18 – Entrevista com Guillaume Faye, sobre o tema “Homossexualidade: “catamorfose” da sexualidade ou renascimento dos deuses?”
p. 18 – Pergunta: É possível dizer que a homossexualidade dos modernos é a decadência da pederastia?
Resposta: Eu penso que a homossexualidade à californiana é um empobrecimento considerável da pederastia e da homossexualidade guerreira dos Antigos. Ela me parece mesmo relativamente perversa.
Pergunta: A pederastia é o grande tabu do mundo moderno. Devemos condená-la?
Resposta: Todos os comportamentos sexuais me parecem aceitáveis. O problema é o uso dos prazeres como prática e afirmação de si. Os modernos condenam a pederastia mas, através dela, o que eles condenam é uma concepção pagã e “desigualitária” da sexualidade e um sistema de transmissão de valores que concorre com o seu. Condenar a pederastia: em nome de quê?
...ele não faz mais que justificar a predação sexual por Nietzsche e o “desigualitarismo”: os mais fortes fazem o que querem dos mais fracos...
No sumário deste outro número de Gaie France:
Entrevistas com a Nova Direita (Alain de Benoist e sua panelinha neopagã); Gabriel Matzneff entre nós (notório pedófilo, defendido por Soral em uma de suas entrevistas); um escritor pagão: Pierre Gripari (homossexual, antissemita, anticristão, próximo do movimento de Alain de Benoist).
Valores defendidos por Guillaume Faye: neopaganismo, europeísmo, globalismo, antinacionalismo, anticristianismo, racismo.


frank7. Franck Abed
O muito medíocre, muito suave e muito soporífero, Franck Abed, entretanto, terminou por ganhar o direito de figurar na constelação luciferiana de Soral. Esse tipo sofre da mesma neurose de impostura que seus camaradas soralianos, da necessidade irreprimível de se fazer passar pelo que ele não é: ele se passa, em todo lugar, por um político, enquanto não é, na verdade, nada além de um bedel de cursinho pré-vestibular...
Esse judeu mal-convertido defende um “tradicionalismo político” em oposição ao nacionalismo (obrigado, Guénon!) e muito hostil ao Front National... Isso deve ser, agora, bem assimilado: não se deve esperar, dos soralianos, nada além de uma mistura de conceitos.
Abed se apresenta como “intelectual – escritor – teórico monarquista”... Felizmente, nenhuma lei proíbe a vaidade nem o grotesco. Ele, com efeito, cometeu uma espécie de aberração literária, a infame paródia de Ligações Perigosas, onde ele expõe, em um estilo terrível, fantasias sexuais e mundanas: a história de um judeu típico que dorme com uma católica, um velho fetiche tão asquenaze quanto sefardita...
O interessante, então, é que a base comum sobre a qual se coloca a panelinha soraliana, além do fato de ser apresentados pelo site de Alain Soral, aparece de maneira perfeita e clara.
Valores defendidos por Franck Abed: mitomania, pornografia, globalismo, antinacionalismo, dupla-linguagem, satanismo, luciferismo, René Guenon.
salim8. Salim Laïbi, o dito “Livre Pensador”
Soral apresenta toda a atualidade do pobre Salim Laïbi, que escolheu se chamar “O Livre Pensador” e é um discípulo histérico do maçom René Guenon, filiado à Grande Loja da França em 1909:
Salim Laïbi (na foto, à esquerda de Soral) declara: “Guénon (...) é um autor genial, o maior pensador francês de todos os tempos. (...) R. Guénon teve sucesso graças a um trabalho metódico de uma riqueza incrível assim como um estilo de escrita único devido à sua formação intelectual, para esclarecer tudo. Sua leitura é calmante, chega-se a mudar as palavras e explicar a desordem. Seu campo de ação é extraordinariamente amplo. (...) Todo seu pensamento se apoiando sobre uma doutrina de uma clareza ofuscante. (...) R. Guénon permite ao pesquisador sair fácil e definitivamente da confusão moderna ambiente e insuportável e com uma simplicidade desconcertante, de tão límpida que é a verdade e de tanto que ela se impõe.”
Valores defendido por Salim Laïbi: livre pensamento, maçonaria, desordem esotérica, antinacionalismo, ódio contra a França e o povo francês, René Guénon.

9.Kémi Séba
O extraordinário Kémi Séba, nascido Stellio Capo Chichi, deve, ele também, finalmente integrar essa galeria de retratos. Este “nazista negro” de ideologia flutuante é o profeta da doutrina do Kémitismo, divagação “maçonizante” inspirada pela religião egípcia. Séba entrará na História por ter criado o insulto “antikémita”, que seus sectários podem futuramente usar contra os judeus. Uma pérola!
kemiEscutemos o que Kémi, orador que nunca perde o fôlego, quer nos dizer:
“Seria necessário muito mais tempo para evocar todos os autores que me inspiraram. É verdade que René Guénon é um deles, mais não é o único. Mas o que foi marcante para mim, é que René Guénon é um “homem branco”, para retomar um termo conveniente, que teve relação com tradições nas quais eu me reconheço perfeitamente. Eu, o Negro, comecei a procurar a minha verdade pela raiz, retornando à gênese da cosmogonia africana. Ele, Guénon, o Branco, começou por estudar o hinduísmo, uma espiritualidade transmitida pelos Arianos, os brancos. Ele partiu, então, da história dos seus para retornar à submissão ao Único, ou seja, ao islã. Graça às minhas leituras de Guénon, eu saí do prisma do “islã, religião árabe”. Ele me fez compreender bem que o islã existe desde a noite dos tempos, mas que o Profeta Maomé – que a paz esteja com ele – veio lembrar e completar o que miríades de povos tinham recebido e, depois, esquecido.”
Kémi alia-se, ele também, ao maçom Guénon, necessariamente, e o Islã existiria “desde a noite dos tempos”... Reconhece-se bem, aí, a desordem esotérica dos guénonianos. Além disso, os “kémitas” adoram Osiris, Isis, Horus, Hator e pretendem descender dos faraós que eram, sem dúvida, muçulmanos contra a própria vontade. O outro fato interessante é a sua adesão ao pan-africanismo e sua militância a favor de uma união política da África, em um sentido inequivocamente globalista.
Valores defendidos por Kémi Séba: nazismo, kémitismo, antissemitismo, new age, maçonaria, pan-africanismo, globalismo, René Guénon.

10. Alain de Benoist
benoistUma menção especial para Alain de Benoist que, em um momento ou outro, promoveu e difundiu cada um desses “valores” por meio de seus livros e revistas (Krisis, Nouvelle École, Élements): desordem esotérica, maçonaria, new age, satanismo, ateísmo, nazismo, eugenia, racismo, anticristianismo, luciferismo, antinacionalismo, europeísmo, globalismo, imperialismo, pornografia, federalismo europeu, gênero, pederastia, prostituição, homossexualidade, neopaganismo, império, René Guénon... tudo sendo largamente pago pela família Bloch (família judia proprietária do Figaro e do grupo Dassault) para escrever no Figaro, Valeurs Actuelles e Le Spectacle du Monde.
Benoist se esforça muito para parecer sério e respeitável, mas é impossível para ele, que não consegue se conter, e a incontinência esotérica o toma, como os outros:
“Os Atlantes, diz Platão, utilizavam uma matéria preciosa, o “oricalco”. Tratava-se, muito provavelmente, do âmbar amarelo, do qual a Europa do Norte fazia, dois mil anos antes da nossa era, um comércio intenso. O deus Apolo, a quem os Dóricos prestavam culto na Grécia, não retornava, supostamente, todos os anos à Hiperbórea, lá onde, sobre as margens do Eridano (o Eider), suas irmãs choravam lágimas de âmbar? “Ora, existe apenas um lugar”, sublinha Spanuth, “onde se extrairia o âmbar amarelo na Antiguidade. E é precisamente no litoral do Schleswig-Holstein, entre o Mar do Norte e o Báltico”. Também para lá que conflui o Elba, o Weser e o Eider, rios cujo curso foi brutalmente modificado por catástrofes naturais ocorridas precisamente no século XIII antes da nossa era. Essas catástrofes que causaram o colapso das margens do Mar do Norte e do Báltico são relacionadas às que provocaram a ruína da civilização cretense e a erupção do vulcão de Tera-Santorini, devastaram o império hitita na Ásia e o reino micênico na Grécia. “Tudo isso”, prossegue Spanuth, “nos leva à vizinhança da ilha Helgoland, no Mar do Norte, que corresponde exatamente à descrição dada por Platão da capital sagrada dos Atlantes, a antiga Basiléia”. Etimologicamente, Helgoland (heiliges Land) significa “terra sagrada”...” (Alain de Benoist)
benoist
Benoist: “Eu nunca renunciei à militancia em favor de uma Europa politicamente unificada”.
René Guénon: “Todo ‘nacionalismo’ se opõe necessariamente ao espírito tradicional...”
ConclusõesSoral denuncia o satanismo, a maçonaria, o globalismo, o imperialismo, a pornografia, etc., mas ele navega em tudo isso: seus amigos fazem essas teorias todas as manhãs, diante de seus cafés (e a prática, durante as noites) e, no fim do caminho, existe a submissão total às potências que governam o mundo. No discurso dos amigos de Soral, encontramos uma mesma estrutura, um mesmo acúmulo de camadas: radical, depois esotérico, depois globalista... é também a estrutura de “Igualdade e Reconciliação”.
Soral, rebelde? Soral, inimigo do sistema? Soral, demolidor da corrupção das elites? Só os ingênuos acreditam nisso. Soral está no coração do sistema de dinheiro e perversão, seu percurso nunca se desviou – moda, televisão, publicidade, arte contemporânea, estrume, sempre estrume, ainda estrume, e seus amigos de hoje estão todos envolvidos até o pescoço com satanismo, luciferismo, maçonaria e todas as porcarias possíveis e imagináveis. O presente artigo nada mais é que um breve apanhado do mundo onde navega Soral, podemos cavar ainda mais, e sempre encontrar a mesma matéria, a fossa é profunda e parece inesgotável. E infelizmente eu não invento nada, nada faço além de citar os textos deles, que eles criaram e tornaram públicos, tudo está acessível a quem quiser verificar por si mesmo. E isso é apenas a superfície, a espuma...
É preciso saber, enfim, que de todo esse grupinho, nenhum foge ao destino. Eles não são nem mais nem menos talentosos que seus modelos (Blavatsky, Guénon, Evola, Wiligut, Crowley, Alice Bailey, etc.), estão presos na mesma cola, no mesmo nível, o nível da desordem esotérica que o ponto em comum de todos, o paradigma e o limite de todos. E se existiu um lugar particularmente apropriado para reunir a panelinha soraliana, é a “meditation room” da ONU, em Nova York, que é mantida pelo Lucis Trust (Lucifer Trust) de Alice Bailey:


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É de lá que sai a desordem esotérica e de lá que eles conduzem seus adeptos, as ovelhas desgarradas que eles são encarregados de conduzir ao lar do consenso. Certas polícias sustentam que eles pensam estar prontos a romper com a ordem social, elas os empurram à ruptura para melhor recuperá-los, controlando mesmo a passagem ao ato subversivo e antisocial... a panelinha soraliana é uma polícia desse tipo, cujo domínio não é penal, mas social e político. O importante tanto em um quanto em outro caso é, por um lado, de posicionar aqueles que estão prontos a abandonar o consenso e, por outro lado, de prepará-los bem para recuperá-los, uma vez que lhes deram o tapa nas costas que os desequilibrou... eles creem cair na subversão, mas é no coração do império e de sua corrupção que eles se encontram.
Então, você é soraliano? Você bebe os vídeos mensais do seu herói e crê piamente que Soral é um rebelde que se opõe ao sistema? E você deu a ele seu nome, endereço, dinheiro e dados bancários…? Tem alguém olhando para você, chorando de rir... e não sou eu!


Nota:
* - Michaël Kuhnen, morto em 1991, líder neonazista e chefe da Ordo Templi Orientis, é o teórico dos pedonazistas, onde se fundem a apologia dos SA de Ernst Röhm, homossexualidade e sadismo. Caignet, líder da “Europaïsche Bewegung” na França e, ele também, grão-mestre de um ramo francês da OTO, foi condenado em vários casos ruidosos de pedofilia. A direção belga de “Synergie” colaborava com a editora de Caignet que editava a revista “Palestre”, com o subtítulo “Os caminhos da santa ordem masculina” e traduzia ali textos de Hans Bühler de tendência pedófila. Teórico de confrarias masculinas nos anos 20 e 30, Bühler desenvolvia teorias próximas das de Kühnen. Autor de “Nacional-socialismo e homossexualidade”, Künen “desenvolvia ali uma mística paganista das confrarias masculinas germânicas”, especifica, ainda, o Reseau Voltaire. (Link).



Adaptado. Fonte:
http://neriencomprendreenpire.wordpress.com/2013/12/08/les-amities-satanistes-maconniques-et-sodomites-dalain-soral/
(Artigo originalmente publicado no site “Dans la peau d’Alain Soral”, atualmente indisponível.)
 
09 de abril de 2014
Blog Dans la peau d’Alain Soral
Tradução: Milena Popovic