Em reportagem de Diego Escosteguy e Flávia Tavares, a revista Época afirma que os documentos já apresentados pela Odebrecht sustentam as principais acusações feitas pelos 78 delatores da empreiteira. Como se sabe, os dirigentes da empresa operavam a corrupção de duas maneiras – em dinheiro vivo, no Brasil, para não haver rastreamento bancário, e em contas no exterior.
No caso do dinheiro vivo, as provas quase sempre se resumem a registros na planilha do Setor de Operações Estruturadas, conhecido como “Departamento de Propina” e na outra planinha do programa Drousys de computador.
OUTRAS PROVAS – Além disso, há mensagens internas em e-mails e em celulares citando os políticos, as negociações e os pagamentos, além de notas fiscais, ligações telefônicas diretas, reservas de hotéis, aquisição de passagens aéreas e até contratos celebrados com empresas ligadas aos envolvidos no esquema de corrupção.
Para lastrear as denúncias dos 78 delatores, esses documentos já foram anexados pelos advogados da Odebrecht aos autos e complicam demais a situação dos políticos denunciados, especialmente os que receberam caixa 2 ou propinas em contas no exterior.
SERRA E PAES – Entre os que estão relacionados por terem recebido depósitos no exterior destacam-se o senador José Serra (PSDB-SP), com o equivalente a R$ 32 milhões (parte em dinheiro vivo), o ex-prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), com R$ 24,7 milhões, e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), com R$ 30 milhões.
Outro caso de comprovação direta envolve o atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), através de contrato assinado entre a Construtora Norberto Odebrecht S/A e a DM Desenvolvimento de Negócios Internacionais Ltda., quando o político petista era ministro do Desenvolvimento no governo Dilma Rousseff e mandava o BNDES liberar financiamentos à empreiteira.
A própria ex-presidente Dilma aparece citada nos e-mails internos da Odebrecht, relacionados à liberação de cerca de R$ 150 milhões em dinheiro vivo e em contas no exterior, em troca de apoio à empreiteira junto à Petrobras, BNDES e outros órgãos públicos.
EM E-MAILS – Também aparecem citados em e-mails internos da Odebrecht os atuais ministros Blairo Maggi, da Agricultura, e Marcos Pereira, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
Outros seis ministros aparecem recebendo caixa 2 ou propinas nas planilhas da empreiteira – Eliseu Padilha, Casa Civil; Moreira Franco, Secretaria de Governo; Gilberto Kassab, Ciência, Tecnologia e Comunicações; Aloysio Nunes, Relações Exteriores; Bruno Araújo, Cidades; e Helder Barbalho, Integração Nacional.
No caso do senador Aécio Neves, também há registros de R$ 7.3 milhões em dinheiro vivo, para caixa 2 do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) e existe, ainda, um contrato com a PVR Propaganda e Marketing Ltda.
LULA E OUTROS – Muitos outros políticos aparecem com registros nas planilhas da Odebrecht, como o ex-presidente Lula da Silva, cuja vultosa conta era operada pelo ex-ministro Antonio Palocci.
Também aparece nas planilhas o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), com R$ 10,3 milhões em dinheiro vivo para campanhas eleitorais, assim como os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Eunício Oliveira (PMDB-CE) e Edison Lobão (PMDB-MA).
Outros que estão nas planilhas são o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), com registros de ligações telefônicas diretas, o presidente da Assembléia estadual, Jorge Picciani (PMDB), e os ex-deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
CRUZAR OS DADOS – O próximo passo das investigações é fazer o cruzamento desses dados. Políticos como Serra, Aécio e Paes, que caíram na armadilha de receber em contas no exterior, serão fatalmente incriminados. As maiores dificuldades serão encontradas para comprovar os pagamentos em dinheiro vivo, embora haja abundantes provas testemunhais. De toda forma, as imagens desses envolvidos já estão desgastadas pelas simples citações.
O mais importante é que a festa está apenas começando, porque vêm aí as delações de do ex-ministro Antonio Palocci, do empresário Léo Pinheiro, da OAS, e do engenheiro Renato Duque, ex-diretor da Petrobras, e haverá repescagem da Andrade Gutierrez, da Queiroz Galvão e da UTC, pelo menos. Não vai faltar assunto.
01 de maio de 2017
carlos newton