O juiz federal Sérgio Moro, que conduz as ações da Operação Lava Jato na primeira instância, condenou nesta segunda-feira, 14, o empresário Gerson de Mello Almada, dono da Engevix, a 19 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo a denúncia do Ministério Público Federal, os dirigentes da Engevix teriam destinado pelo menos cerca de 1% sobre o valor de contratos e aditivos à Diretoria de Abastecimento da Petrobras, “destes valores sendo destinado parte exclusivamente a Paulo Roberto Costa” – ex-diretor da estatal e primeiro delator da Lava Jato.
Foram absolvidos Newton Prado Junior, Luiz Roberto Pereira e Carlos Eduardo Strauch Albero “de todas as imputações, por falta de prova suficiente de que agiram com dolo” e Enivaldo Quadrado “da imputação de lavagem de dinheiro, por falta de prova suficiente de autoria para condenação”.
BUMLAI E MAIS DEZ…
Preso pela Operação Lava Jato, o pecuarista José Carlos Bumlai foi denunciado nesta segunda-feira (14) sob acusação de corrupção, lavagem de dinheiro e gestão fraudulenta, por suspeita de ter participado de um esquema de corrupção na Petrobras e ter repassado dinheiro ao PT.
Também foram denunciados o filho e a nora de Bumlai (Maurício de Barros Bumlai e Cristiane Dodero Bumlai), três executivos do Schahin (Salim Schahin, Milton Taufic Schahin e Fernando Schahin), os ex-diretores da Petrobras Jorge Zelada e Nestor Cerveró, o ex-gerente da estatal Eduardo Musa, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o lobista Fernando Soares, o Baiano.
Esta é a primeira acusação formal do Ministério Público Federal contra Bumlai. Caso a denúncia seja aceita, Bumlai se torna réu e vai responder pelos fatos na Justiça.
DÍVIDA PERDOADA
Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário contraiu um financiamento de R$ 12 milhões com o banco Schahin, em 2004, cujos valores foram transferidos a pessoas ligadas ao PT, segundo a denúncia.
O empréstimo nunca foi pago. De acordo com o Ministério Público Federal, um acordo entre Bumlai e a Schahin, que atua na área de engenharia, garantiu que a empresa perdoasse a dívida em troca de um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras, para a operação de um navio-sonda, em 2009.
Segundo a denúncia, Bumlai se valeu do seu relacionamento com Lula para obter o contrato, considerado “irregular” pela Polícia Federal.
A quitação do empréstimo com o banco Schahin, segundo a denúncia, foi feita por meio de uma simulação de compra e venda de embriões, firmada entre as fazendas de Bumlai e do grupo Schahin –o que, para o Ministério Público Federal, caracterizou lavagem de dinheiro.
O documento será apresentado ao juiz federal Sergio Moro, responsável pelos casos da Lava Jato no Paraná. Cabe a ele aceita-la ou não. Só depois disso é que Bumlai e os outros dez denunciados virarão réus.
CASO CELSO DANIEL
Parte dos R$ 12 milhões obtidos por Bumlai foram transferidos, segundo as investigações, a uma empresa de ônibus do empresário Ronan Maria Pinto – envolvido em desvios na Prefeitura de Santo André (SP), gerida à época pelo prefeito Celso Daniel (PT).
O silêncio de Ronan Pinto sobre o esquema de corrupção no município teria sido comprado pelo PT, segundo declarou o publicitário Marcos Valério durante as investigações do mensalão. Celso Daniel era coordenador da pré-campanha de Lula à Presidência.
A Polícia Federal do Paraná não fez, por ora, novas diligências sobre o caso. No relatório que indiciou Bumlai, os investigadores apenas concluem que parte do dinheiro obtido no banco Schahin foi parar na empresa de Pinto.
“Ao menos parcialmente, o [empréstimo] mútuo destinava-se a atender aos interesses do Partido dos Trabalhadores”, informou a PF, em relatório da última sexta-feira (11).
OUTRO LADO
Bumlai, preso preventivamente há quase três semanas em Curitiba, tem negado irregularidades. Aos investigadores, afirmou que os empréstimos contraídos por si e por suas empresas foram regulares e que a operação com o banco Schahin foi quitada por meio da venda de embriões -a PF diz que a venda nunca existiu.
Em depoimento à CPI do BNDES, o pecuarista declarou que sua vida “foi construída pelo trabalho, com muito suor”, e disse que tem a consciência “absolutamente tranquila”.
“O tempo vai mostrar. Não privilegiei ninguém, não fiz isso nem aquilo, não tenho cor partidária, não sou filiado a nenhum partido político”, declarou.
16 de dezembro de 2015
Deu na Folha