Este é um blog conservador. Um canal de denúncias do falso 'progressismo' e da corrupção que afronta a cidadania. Também não é um blog partidário, visto que os partidos que temos, representam interesses de grupos, e servem para encobrir o oportunismo político de bandidos. Falamos contra corruptos, estelionatários e fraudadores. Replicamos os melhores comentários e análises críticas, bem como textos divergentes, para reflexão do leitor. Além de textos mais amenos... (ou mais ou menos...) .
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.
sábado, 24 de agosto de 2013
DE FRALDAS E CHUPETA
Artigos - Cultura
O ser humano é portador de eminente dignidade natural. Abdica a essa dignidade quem aceita ser passivo nas suas relações com os outros e com o Estado.
Procure, leitor, os lugares onde as pessoas são mais necessitadas e chegará àqueles em que o Estado decidiu ser tudo para todos.
Ninguém desconhecerá, por certo, o efeito da publicidade e da propaganda sobre o comportamento humano. Não fosse eficaz, o mercado publicitário não movimentaria cerca de US$ 20 bilhões por ano em nosso país. Tendo isso em vista, a propaganda política não deveria descurar, como descura, da pedagógica função cívica inerente às suas mensagens.
De uns tempos para cá, a cada campanha eleitoral, mais e mais partidos transmitem de algum modo a mensagem de que vão "cuidar bem das pessoas". Perceberam? Já passamos da fase do paternalismo e entramos num patamar superior - o maternalismo. Partidos e candidatos disputam troféus na produção de zelos maternais. Nós, os cidadãos, somos vistos nessas peças publicitárias como bebês de fraldas e chupeta, cujas vidas dependem inteiramente dos cuidados da mamãe estatal. Por isso, o "Dia das Mães" cívico deve ser aquele celebrado a cada quatro anos, no primeiro domingo de outubro, quando digitamos na boca da urna nossa mensagem de gratidão à legenda que consideramos mais jeitosa e cuidadosa. Fôssemos todos bons filhos da Pátria deveríamos ensopar as teclas com as lágrimas da nossa gratidão.
Não, não, não. Não estou exagerando. Bem, talvez um pouco, sim. Mas reconheça-se: é exatamente isso que vem sendo ensinado ao povo brasileiro mediante inesgotáveis demonstrações práticas. É a disputa dos corações para domínio das mentes. Com a generosa mão esquerda distribuem toda sorte de bônus. Com a direita enviam a conta para os pagadores de impostos. Como não poderia deixar de acontecer, enquanto "cuidam das pessoas", os agentes dessa política maternalista deixam morrer à míngua as funções essenciais do Poder Público. O pior, o mais nocivo, é que tais estratégias funcionam. E por funcionarem, deformam as consciências, convertendo pessoas em seres carentes, pets de última geração, aos cuidados do Estado.
O ser humano é portador de eminente dignidade natural. Abdica a essa dignidade quem aceita ser passivo nas suas relações com os outros e com o Estado. Fomos criados para existirmos em sociedade e em solidariedade, mas sem deixarmos de ser nós mesmos, indivíduos sempre, nos nossos erros e nos nossos acertos. E, por isso, responsáveis. Aceitar passivamente que o Estado esteja aí para cuidar da gente é desconectar-nos das fontes de energia interior que nos impelem a cuidarmos bem de nós mesmos. E equivale a transferir essa energia que é nossa, com grande perda, para as usinas cada vez mais poderosas e totalizantes do Estado.
O Estado brasileiro é forte onde deveria ser fraco e fraco onde deveria ser forte. É forte nos meios de ingerência e concentração de recursos e de poder, a ponto de estar acabando com a Federação. E fraco, fraquíssimo, em suas funções essenciais, a começar pela manutenção da ordem e segurança da sociedade. Não cabe a ele tomar dos indivíduos as rédeas dos seus destinos. Cabe-lhe criar as condições - repito: criar as condições - para que os indivíduos se desenvolvam. Portanto, só lhe compete fazer aquilo que as pessoas não possam fazer por si. E mesmo quando tais ações forem necessárias, deve o Estado reconhecer seu papel subsidiário. Fica bastante coisa para o Estado, sim. Mas sempre na justa medida, sem invadir o espaço sagrado onde cada um é soberano de si mesmo. Procure, leitor, os lugares onde as pessoas são mais necessitadas e chegará àqueles em que o Estado decidiu ser tudo para todos. Ou sequer apareceu para fazer o que deveria porque está metido onde não deve.
24 de agosto de 2013
Percival Puggina
HOMESCHOOLING: DOIS CONTRA-ARGUMENTOS E UM GRAVE ALERTA
Artigos - Educação
Camila Hochmüller Abadie refuta duas objeções comuns à escolarização em casa (homeschoolling) e alerta aos pais sobre os riscos da nova "importação de professores" planejada pelo governo do PT: "não entreguem suas crianças a estes que, apesar de não destruírem literalmente com as vidas de nossos pequenos, podem e querem deformar-lhes a alma por completo".
Um dos argumentos mais frequentemente defendidos por professores, psicólogos, pais e familiares contrários ao homeschooling não diz respeito à qualidade de ensino, mas ao "fato" de que as crianças precisam se socializar, precisam conviver com outras crianças, precisam aprender a se relacionar, a lidar com as diferenças, etc. E quanto mais as famílias encolhem, restringindo a prole a uma única criança, mais parece fazer sentido um tal argumento. No entanto, algumas coisas me fazem duvidar da boa-intenção por trás da socialização.É importante ter amigos, é importante conviver com outras crianças, todavia a infância não é um fim em si mesmo. É, eu sei, os românticos de plantão acabam de desmaiar, mas a verdade é que, tão necessário quanto brincar é o aprender a ter responsabilidades. Passa-se a maior parte da vida na idade adulta e é para ela que a criança deve ser preparada.
Mas como dar-se-á uma tal preparação se a criança convive majoritariamente com iguais, com outras crianças, e não com pessoas de diferentes faixas etárias? Quem dentre elas apontará o caminho para aquilo que devem vir a ser, se, ao redor de si, há apenas quem reforçe, seja por meio da diversão ou por meio da disputa e da inveja, aquilo que já se é? Repito, brincar é necessário, é bom, é saudável, mas não é tudo. A ênfase excessiva nos direitos gera adultos que não sabem lidar com deveres, como vemos cada vez mais todos os dias.
Além disso, a ideia de que a criança aprende a se relacionar no contato com outras crianças parece-me um tanto artificial. A criança não nasce de crianças nem entre elas, mas de adultos e entre eles, entre mãe e pai. É na relação com eles e na observação da relação entre eles que a criança aprenderá a relacionar-se. Se vem de um lar violento, a criança muito provavelmente será violenta com os demais. Se vem de um lar amoroso, muito provavelmente será amorosa. Se vem de um lar onde não recebe limites, não saberá conter-se e refrear-se, mas tentará sempre obter tudo o que lhe agrada.
Claro, quanto maior for a família, tanto a nuclear quanto a ampla, melhor, pois maior será a diversidade de situações nas quais a criança aprenderá a conviver.
No entanto, são a mãe e o pai aqueles que servirão de mestres e de estabelecedores do fundamento emocional para os relacionamentos que virão ao longo da vida, não os professores, colegas e amigos.
Outro argumento comum é aquele que fala sobre a necessária aprendizagem do convívio com os diferentes. Sim, mas pergunto: as pessoas, numa família, são todas iguais? Não possuem, cada uma, o seu temperamento, o seu jeito de lidar com as coisas, suas preferências, seus sonhos? Não é este o ambiente adequado para, debaixo do cuidado e supervisão dos pais, a criança aprender a lidar com as diferenças? Ou aprender a lidar com as diferenças é sinônimo de ser obrigado a permanecer no mesmo ambiente com quem, não raras vezes, é radicalmente diferente? Isso, para mim, assemelha-se mais a um presídio do que uma escola.
Afirmar que a criança precisa da escola para se socializar soa-me tão natural quanto afirmar que um bebê necessita de uma cadeira para ser gestado. Socialização é um processo gradual que deve começar na família nuclear, expandir-se para a família ampla, para a igreja, para as famílias dos amigos dos pais e só mais tarde, quando a criança já não for mais criança, mas um jovem com convicções definidas e firmes, para a sociedade.
E já que falei em juventude e em convicções, relembro aqui, mais uma vez (e perdoem-me os leitores assíduos, pois devem estar cansados da constante referência), o Maquiavel Pedagogo. Na obra, o autor explicita a comprovada técnica na qual, quanto mais cedo as crianças forem afastadas do ambiente doméstico, mais suscetíveis tornam-se às mais diversas influências externas. Em outras palavras, crianças (e quanto mais novas forem, melhor) não possuem as capacidades cognitivas suficientemente desenvolvidas para compreender quando estão sendo manipuladas ou forçadas a algo que contraria frontalmente o modo como vive ou aquilo em que sua família acredita, nem possuem estrutura emocional para resistir à força da autoridade dos professores ou da pressão dos colegas.
Ou seja, a um governo comprometido com a destruição das famílias e da instauração de um regime totalitário, nada melhor do que crianças que podem ir já aos 6 meses de vida para as creches estatais, ou, na "pior" das hipóteses, que irão obrigatoriamente aos 4 anos para a escola.
Aos pais é que cabe a decisão de quando e como as crianças devem participar de um convívio social mais amplo, não ao Estado. Socialização obrigatória não é socialização. É prisão.
II
Agora minha objeção volta-se contra o atual domínio de uma concepção hedonista na criação e educação de crianças.
Coisa mais fácil do mundo, em nossos dias, é fazer os pais se sentirem culpados quando as crianças são submetidas a alguma atividade tida como não-divertida. E a perda de critérios da bondosa gente que mete o bedelho onde não é chamada (que inclui desde a vizinha até o governo federal) é tamanha que não existem mais nuances: ou a criança está transbordando alegria ou está sofrendo terrível e irremediável opressão e maus-tratos psíquicos. Tudo o que a criança pode e deve fazer precisa obrigatoriamente ser divertido, caso contrário é abuso.
Agora, retomando algo que disse anteriormente, é a infância um fim em si mesma? Ou não seria um tempo especial de transição e preparação para a adultez? Claro, um tempo de maravilhamento, de espontaneidade, de curiosidade e de todas aquelas coisas lindas que são tão mais fáceis e tão mais belas nesses anos de estreia da vida. Mas, mesmo então, respeitando, admirando e cultivando momentos tão preciosos, não se pode perder a perspectiva: a vida, em geral, dura bem mais que estes anos iniciais, e não podemos entregar nossas crianças despreparadas para o que virá depois.
O que quero dizer com tudo isso pode ser resumido como o supra-sumo do politicamente incorreto em matéria de educação de crianças: precisamos trabalhar para que nossas crianças desenvolvam o senso de dever. Refiro-me, especificamente, à inclusão de atividades que se tornem parte da rotina da criança para além dos momentos de estudos e de brincadeiras, atividades estas que a ajudem a desenvolver os sentimentos de participação na família e de responsabilidade consigo e com os demais.
Por exemplo: em se tratando de crianças bem pequenas, de dois aninhos, como o meu Benjamin, ensinar-lhe e, depois, solicitar que guarde seus brinquedos, que leve suas fraldinhas (só com xixi) até a lixeira, que recolha as mamadeiras e copos de suco é perfeitamente possível; já em se tratando de crianças maiores, como a minha Chloe, que está com sete anos, ensinar-lhe e cobrar-lhe coisas como arrumar a própria cama, pentear os próprios cabelos, recolher as próprias roupas e levá-las à máquina de lavar e secar a louça são muito tranquilas.
Claro, não se deve cobrar algo que não foi suficientemente ensinado e treinado sob supervisão, nem exigir algo que esteja além das capacidades física, motora e psíquica da criança.
Também é essencial deixar sempre muito claro que tais atividades não são uma forma de castigo, mas, antes, uma parte importante da vida da criança e da vida da família; que nem sempre fazemos o que queremos, o que gostamos, o que é mais divertido, mas que precisamos fazer a nossa parte para ajudarmos uns aos outros, senão alguém acabará sobrecarregado; que quanto melhor e mais rapidamente fizermos as nossas tarefas, mais tempo teremos para as outras coisas; que precisamos aprender a fazer todas essas coisas para sermos adultos independentes e seguros, que sabem cuidar de si e de sua futura família muito bem.
A diversão como algo que a criança possa supor como pretensamente onipresente nada mais faz além de produzir uma escalada na busca de mais e mais diversão, custe o que custar, de modo que as singelas alegrias de sua vidinha deixam de ser valorizadas, abrindo cada vez mais espaço para o deserto do aborrecimento e da insatisfação eternos.
A diversão como um fim em si mesma torna-se tão vazia e tediosa quanto qualquer outro vício, escravizando seus súditos, os quais sacrificam tudo o mais em seu altar, sempre crentes na promessa de que o passatempo seguinte trará a tão desejada felicidade. Em contraposição, a diversão como o presente há tempos desejado e finalmente merecido, como o evento especial, como a coroa de risadas e brincadeiras depois do trabalho e do esforço, como a conquista planejada, traz saúde à alma, renovo à disposição e ajuda a estabelecer a adequada proporção às coisas da vida. Eis aí a verdadeira "educação para a cidadania". O resto é conversinha de comunista.
III
Tirem já os seus filhos das escolas!
Acabei de tomar conhecimento, via G1, que o governo federal, além de importar médicos cubanos, já planeja a importação de, adivinhem, professores! Se restava a alguém alguma dúvida do caráter meramente ideológico de tais importações, agora já não há mais motivo para tê-la. Uma vez que todos os postos de controle na nação estão nas mãos dos esquerdopatas, é chegada a hora de disseminá-los em todas as esferas, alcançando, inclusive, nossas crianças, e na idade mais tenra possível.
Sob o pretexto de, mais uma vez, suprir a escassez de profissionais, especialmente nas áreas mais distantes do país, o governo federal pretende "melhorar" a educação pública mediante a colaboração cubana.
O que todo mundo já sabe, tanto no caso dos médicos quanto no dos professores, é que não nos falta mão de obra, mas condições de trabalho e remuneração digna aos profissionais; e sobre isso o governo não abre a boca.
Antes, prefere importar mão de obra de guerrilheiros e repassar o dinheiro por um tal "trabalho", adivinhem de novo, ao governo cubano! Sim! Os "médicos" e "professores" virão fazer esse "excelente" trabalho de arregimentação e organização revolucionária e ficarão à mercê, sempre e de novo, de seus ditadores! É o Brasil ajudando Cuba a destruir o Brasil, às custas dos brasileiros e dos cubanos!
Sei que não contamos com materiais didáticos, amparo legal ou simpatia popular, mas não podemos entregar nossas crianças a um governo que não está de modo algum preocupado com educação, mas apenas com a manutenção, propagação e intensificação de sua agenda nociva, mentirosa e destruidora de tudo o que amamos em nome de sua própria perpetuação.
Além disso, qualquer trabalho que amorosa e sinceramente desenvolvermos com nossas crianças será melhor para sua educação do que o que o governo pretende fazer - e, em certa medida, já tem feito. Já não somos tão poucas famílias homeschoolers no Brasil, já existe uma associação que defende e trabalha pelos nossos interesses junto ao governo, já existe uma rede de pessoas que trocam informações e que se ajudam mutuamente. E os resultados, adivinhem de novo, são muito melhores que os oferecidos pelas escolas!
Por favor, rezem, pesquisem, escrevam, mas, especialmente, não entreguem suas crianças a estes que, apesar de não destruírem literalmente com as vidas de nossos pequenos, podem e querem deformar-lhes a alma por completo. Não sejamos omissos, irresponsáveis, obedecendo antes aos homens do que a Deus, mas sejamos valentes como os pais de Moisés, como o próprio São José e a Virgem Maria! Eles arriscaram muito mais, sozinhos, e foram abençoados por Deus! Juntos e com a ajuda Dele podemos resistir e, mais que salvarmos os nossos filhos, podemos contribuir decisivamente para o salvamento do futuro do país!
Observações:
Dois leitores do meu blog levantaram a objeção de que a matéria do G1 não menciona a importação de professores para as salas de aulas brasileiras. Achei por bem ir atrás de mais indícios que sustentem a minha interpretação de que, apesar de não ser explicita, tal é a intenção do governo. E aqui vão eles:
Primeiro indício: Como disse ainda ontem, nos comentários, o Programa Mais Professores inspira-se no Programa Mais Médicos;
Segundo indício: Além disso, como também já havia dito, o Programa usa explicitamente a palavra "visitantes" em seu nome, mesmo que em sua versão provisória: "Programa Nacional de Professores Visitantes na Educação Básica – Mais Professores";
Terceiro indício: Assim como o Programa Mais Médicos aparentemente pretendia ser voltado aos profissionais brasileiros, o Programa Mais Professores também o pretende. No entanto, a baixa remuneração oferecida e a falta de respaldo legal fez com que os médicos brasileiros não "suprissem a demanda", de modo que o governo federal foi "forçado" a abrir-se aos estrangeiros;
Quarto indício: A Venezuela, por exemplo, como boa cobaia que é, vive os efeitos nefastos de um programa ao mesmo estilo, o chamado "Missão Ribas de Alfabetização", totalmente baseado nas teorias de Paulo Freire, isto é, puro e simples emburrecimento, aliado à doutrinação ideológica esquerdista;
Quinto indício: Como a questão não é melhoria da qualidade de vida dos brasileiros, mas disseminação ostensiva de militantes entre as mais diversas esferas da sociedade civil, o governo já estuda também a importação de engenheiros para cá;
Sexto indício: Quando um esquerdista, refiro-me ao Mercadante, afirma, rindo, que não vai fazer algo, o que se pode esperar senão exatamente o contrário? Ou alguém aí já esqueceu, por exemplo, da promessa feita por Dilma de não legalizar o aborto e, no entanto, tão rápido quanto possível, convidar uma abortista confessa, Eleonora Menicucci, para assumir como ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, sem contar a recente tentativa de modificar a lei que trata da matéria? Deixo aqui alguns outros links que tratam dos Programas Mais Médicos e Mais Engenheiros, para que se compreenda melhor a questão e seus prováveis desdobramentos:
- Nota do Conselho Federal de Medicina
- A farsa dos médicos cubanos
- Médico cubano no Brasil deve ganhar o mesmo que em Cuba, diz governo
- Mais Médicos preenche 10,5% do total de profissionais solicitados - não deixem de observar especialmente o último parágrafo!
- Para Simers, escolha do Mais Médicos no RS é política
- Depois de médicos, governo pode criar o "Mais Engenheiros"
- Importar engenheiros seria um erro, diz categoria
Por último, um breve exercício de imaginação:
Há uma porção de estranhas embalagens distribuídas ao longo de um perímetro. Em seguida, ao aproximar-se, você sente o cheiro de explosivos vindo delas. Algumas embalagens explodem, mas, por sorte, todas longe de você. Perguntas: É realmente necessário que esteja escrito TNT sobre cada embalagem para que você conclua que se tratam de explosivos? Você ficaria aguardando o pior ou advertiria em altos gritos as pessoas ao redor para que saíssem de perto o mais rápido possível?
24 de agosto de 2013
Camila Hochmüller Abadie
RELEMBRANDO A GUERRA FRIA: SANTIAGO SEGUNDO LITTIN*
Santiago do Chile — A cidade é feia, pobre e suja. Pelos buracos e lixo acumulado nas amplas avenidas, adivinha-se uma capital que um dia foi próspera e cujos habitantes desfrutaram, em passado pouco distante, um alto nível de vida. Cidadãos pobremente vestidos, em seus ternos ainda restam farrapos de dignidade - e nada mais triste do que ver um homem cheio de remendos, mas elegantemente vestido, estendendo a mão súplice para pedir alguns centavos. Lojas vazias, de vazias e tristes vitrines, restaurantes entregues às moscas, garçons olhando para nada. Mal o sol se põe sobre o Pacífico, a capital escurece e os raros privilegiados da tirania se escondem em suas tocas, temerosos da fome e da justa violência dos deserdados. Mesmo durante o dia, nota-se tensão e medo nos rostos e gestos, como se alguém que agora circula livremente pelas ruas, no momento seguinte, sabe Deus lá por que razões, pudesse estar algemado nos porões da ditadura. Um exército parece ter postos suas patas sobre a cidade. Estou em Santiago do Chile. Do Chile de Pinochet.
O poder do tirano é onipresente. Em um país privilegiado pelos deuses, que por sua geografia se permite quatro estações simultâneas, mar e montanha, deserto e neve, os tentáculos da ditadura envolvem o território todo, manifestando-se principalmente na capital. Raríssimas bancas de jornais exibem apenas a imprensa laudatória ao regime. Jornais de oposição, nem em sonhos. A imprensa internacional está banida do país e só pode ser adquirida em hotéis de luxo, onde o cidadão comum só pode entrar se estiver disposto a sérios interrogatórios pela polícia do regime ao sair, mesmo que saia sem jornal algum. As raríssimas livrarias, de paupérrimas estantes, exibem não mais que literatura técnica e alguma ficção de escritores coniventes com a ditadura.
Miséria, lixo, decadência, medo, opressão, silêncio, desconfiança: estes são os odores que todo visitante, isento de quaisquer preconceitos ideológicos, respira em um rápido giro por Santiago. Mas as cidades são como árvores, quem quiser destruí-las terá de cortar-lhes as raízes. Estão vivas as raízes de Santiago. Que um dia será Salvador. Salvador Allende.
Terminasse eu aqui esta crônica, sem ajuntar sequer uma linha a mais, conquistaria platéias e simpatias, sem falar em tribunas, lugar ao sol e quem sabe até mesmo uma sinecura num órgão público qualquer. Acontece que estaria mentindo, transmitindo, é verdade, uma mentira que todos gostam de ouvir. Como não gosto de mentir, renuncio a eventuais simpatias e passo a contar o que vi.
Para quem está acostumado a bater pernas pelas ruas de cidades como Porto Alegre ou São Paulo, Santiago exerce um poderoso impacto pela conservação e limpeza de suas ruas e passeios. Nas capitais brasileiras, há muito resignei-me a enfrentar ruas sujas e esburacadas, sem falar no lixo cotidiano nelas jogado por transeuntes sem noção alguma de cidadania, meros habitantes, nefastos usuários da cidade. Passear pelas margens do Mapocho - rio que atravessa um aglomerado de cinco milhões de almas - é respirar milagre, suas águas preservam a limpidez com que descem da Cordilheira. Para quem sofre a Beira-Mar Norte de Florianópolis - já nem falo do riacho Ipiranga ou Tietê - o Mapocho mais parece miragem de viajante perturbado pela travessia dos Andes.
Pelo Paseo de la Ahumada, rua Estado, Huérfanos, uma fauna humana e bem vestida (insisto em dizê-la humana, pois os transeuntes das ruas centrais do Rio ou São Paulo, sem ir mais longe, mais parecem animais machucados na luta pela vida) que há muito não se vê nas metrópoles da América Latina. Antes de Santiago, estive em Buenos Aires e a outrora elegante Florida, hoje, proporções à parte, mais parece rua Direita ou Nossa Senhora de Copacabana. Deixada de lado a agressão idiota - mas não perigosa - de cambistas à cata de divisas fortes, senti no centro de Santiago sensação que brasileiro algum pode hoje sentir em nossas capitais: a sensação de segurança. As ruas da capital chilena têm um ar de praça; nela vi velhos, jovens e crianças sentadas, degustando sorvetes e o espetáculo da rua em si, tanto à tarde como à noite, sem preocupação alguma com assaltos ou violência gratuita. Para mim, que já penso duas vezes quando em Porto Alegre ao atravessar a Borges e a Praça XV para freqüentar o Chalé à noite, Santiago me fez evocar a Praça da Alfândega dos anos 60, quando filosofávamos madrugada adentro preocupados com a enteléquia aristotélica ou o ser em Sartre, jamais com punhais ou revólveres.
Outra surpresa, e das melhores, os quiosques de jornais e revistas. Penso que tais quiosques são uma excelente amostragem da cultura e liberdade de expressão de um país, neles podemos auscultar que tipo de informação consomem os cidadãos e, ao mesmo tempo, que qualidade ou quantidade de informação não proíbe o Estado de ser consumida. Pois bem: nesta Santiago que imaginava cidade sitiada e sob censura, vi nas bancas uma profusão e diversidade de jornais que sequer encontrei em Paris ou Madri. Jornais em cirílico do Leste europeu, imprensa de toda Europa, Escandinávia, Alemanha, França, Itália, Espanha, Estados Unidos, América Latina, Brasil. Sabendo como esta imprensa toda é gentil a Pinochet, o espanto do turista vira perplexidade. E mais: jornais chilenos malhando, em primeira página, a ditadura. Ocorre-me evocar os quiosques tristes e monocórdios que vi em cidades do Leste europeu, mas nem preciso ir tão longe. Nenhuma banca do Rio ou São Paulo, neste Brasil 88, me oferece tal quantidade e diversidade de informação.
Livrarias imensas, bem sortidas, onde não faltam livros de Fidel Castro ou Garcia Márquez, o mais ferrenho adversário de Pinochet e, curiosamente, defensor incondicional do ditador cubano. Tampouco faltam nas prateleiras obras de José Donoso ou Isabel Allende, isso para citar apenas dois opositores do regime chileno já conhecidos do leitor brasileiro. O que é no mínimo insólito em uma ditadura.
Nas vitrines e gôndolas das mercearias, víveres e bebidas do mundo todo, desde arenques do Báltico a foie gras trufado, dos mais diversos uísques da Escócia a vinhos alemães, franceses, italianos, espanhóis. E chilenos, naturalmente. Preços? Abordáveis. Para se ter uma idéia, pode-se comprar um scotch - com a certeza de que não são da reserva Stroessner - a partir de dez dólares, ou seja, o preço de um Natu Nobilis hoje. Que mais não seja, qual intelectual de esquerda não gostaria de viver em uma sociedade onde uma dose de um bom escocês custa, em bares, um dólar? Conheço não poucos exilados traumatizados com a democrática França de Mitterrand, onde um gole de uísque só é viável a partir dos cinco dólares. Piadas à parte, a farta oferta de tais produtos evidencia uma sociedade habituada a comer bem e com requinte, afinal comerciante algum seria insano a ponto de importar iguarias para turista ver.
Contava eu estas e outras coisas à uma moça ilhoa e bem-nascida, cidadã da Santa e Bela Catarina, dessas que julgam ser todo empresário um canalha, mas que jamais recusam uma cobertura facilitada por um pai empresário, dessas que jamais subiram o morro do Mocotó mas estão preocupadas com a colheita do café na Nicarágua, em suma, falava eu com um espécime típico da raça que chamo de os Novos Cafeicultores, e a objeção - a primeira objeção - caiu como um raio:
— E a miséria? Aposto que não foste visitar os bairros pobres, a periferia de Santiago.
Tinha razão em parte a jovem cafeicultora. Não visitei os bairros pobres de Santiago, afinal se troco as margens do Atlântico pelas do Pacífico, não será para ver miséria que conto meus parcos dólares. Não tenho a psicologia do francês médio, por exemplo, que mal chega ao Brasil, quer visitar favelas. Este comportamento, a meu ver doentio, parece-me ser vício de europeu inculto e de consciência pesada, que insiste em ver a miséria do Terceiro Mundo que explora, para depois contribuir com avos de seu bem-estar para guerrilhas suicidas. Se junto meus trocados para visitar um país, quero receber o que de melhor esse país tem a me oferecer. Nos anos que vivi em Paris, descia certa vez de Montmartre e enveredei pelas ruelas da Goutte d'Or, encrave árabe e paupérrimo que se alastra na cidade como mancha de óleo. Senti-me, de repente, em um território miserável para o qual jamais teria pensado em viajar, que mais não seja não será minha indignação ou revolta que resolverá o problema árabe na França. Dei meia volta, enfurnei-me na primeira boca de metrô e só voltei à superfície na Rive Gauche, a margem que mais me fascina do Sena. Não, não vi a miséria de Santiago. Mas consolei a cafeicultora: podes estar certa de que miséria existe, pois miséria está presente em qualquer metrópole do mundo.
Ela sorriu por dentro, parecia dizer: que bom que existe miséria em Santiago. O que me deixou um tanto perplexo, eu sorriria intimamente se soubesse que não existe miséria em lugar algum do mundo, independentemente de regimes políticos ou ideológicos. Ela, por sua vez, admitia a veracidade de meu relato. Ajuntei que a inflação era de seis por cento. Quando digo isto a um brasileiro, a reação normal é: "seis por cento ao mês?" Acontece que é seis por cento ao ano. Isto é sonho que, brasileiros, já nem ousamos sonhar. Se eu passar a alguém os preços de um restaurante que visitei em Santiago no mês passado, e se este alguém visitar o Chile no ano que vem, é provável que os preços continuem os mesmos ou, no máximo, tenham variado em torno de uns dez por cento a mais. Cá entre nós, não conseguimos recomendar para amanhã um restaurante no qual comemos ontem. Caiu, então, fulminante, a segunda objeção:
— Sim. Mas que preço pagaram os chilenos por este bem-estar?
Houve, no Chile, um assalto marxista e armado ao Estado e negá-lo é paranóia. Deste confronto resultaram, segundo alguns, três mil mortes. Segundo outros, quarenta mil. De qualquer forma, um preço infinitamente inferior ao preço pago pelos russos a Josiph Vissarionovitch Djugatchivili - que oscila entre vinte e sessenta milhões de cadáveres - para dar no que deu: uma confederação forçada de países pobres, alguns vivendo a nível de fome, como a Romênia e a Albânia. Bem mais barato que o preço pago pelos cambojanos a Pol Pot: dois milhões e meio de mortos, em um país de cinco milhões de habitantes, e disto não mais se fala. Sem falar que os que ficaram se jogam ao mar em jangadas, enfrentando tempestades, tubarões e piratas, ou já esquecemos os boatpeople? Sem falar nos que matou Castro - número que nenhum Garcia Márquez aventa - para instalar no Caribe seu gulag tropical. Em Cuba também há farta escolha de bebidas e gêneros alimentícios. Mas só o turista pode comprá-los, e com dólar. O cidadão cubano fica chupando no dedo. Nas praias, cheias de peixes, não há atividade pesqueira alguma, pois quem tem barco vai pra Miami.
— Justificas então tais mortes? - quis saber a moça - referindo-se, é claro, aos mortos do Chile, já que tornou-se tácito, para os fanáticos contemporâneos, que é lícito fazer correr sangue de certas pessoas e criminoso o de outras. Em suma, para usar dois conceitos que não me agradam, porque multívocos, é perfeitamente permissível fazer jorrar sangue da assim chamada direita e constitui sacrilégio, quase tabu, sangrar a assim chamada esquerda. Não justifico morte alguma, a humanidade tem pelo menos uns três mil anos de experiência histórica, milênios suficiente, parece-me, para concluirmos que não é matando que se chega a erigir a cidade humana.
— Cristaldices! - jogou-me na cara minha cafeicultora, digo, interlocutora. Pode ser. Chamo então um cineasta exilado que voltou clandestinamente ao Chile, em depoimento tomado por Gabriel Garcia Márquez, intitulado A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile, já traduzido ao brasileiro por Eric Nepomuceno e encontradiço em qualquer livraria. No capítulo significativamente intitulado "Primeira desilusão: o esplendor da cidade", depõe Littín:
— Eu atravessei o salão quase deserto seguindo o carregador que recebeu minha bagagem na saída, e ali sofri o primeiro impacto do regresso. Não notava em nenhuma parte a militarização que esperava, nem o menor traço de miséria. (...) Não encontrava em nenhuma parte o aparato armado que eu tinha imaginado, sobretudo naquela época, com o estado de sítio. Tudo no aeroporto era limpo e luminoso, com anúncios em cores alegres e lojas grandes e bem sortidas de artigos importados, e não havia à vista nenhum guarda para dar informação a um viajante extraviado. Os táxis que esperavam lá fora não eram os decrépitos de antes, e sim modelos japoneses recentes, todos iguais e ordenados.
Mais adiante:
— Na medida em que chegávamos perto da cidade, o júbilo com lágrimas que eu tinha previsto para o regresso ia sendo substituído por um sentimento de incerteza. Na verdade o acesso ao antigo aeroporto de Los Cerrillos era uma estrada antiga, através de cortiços operários e quarteirões pobres, que sofreram uma repressão sangrenta durante o golpe militar. O acesso ao atual aeroporto internacional, em compensação, é uma auto-estrada iluminada como nos países mais desenvolvidos do mundo, e isto era um mau princípio para alguém como eu, que não só estava convencido da maldade da ditadura, como necessitava ver seus fracassos na rua, na vida diária, nos hábitos das pessoas, para filmá-los e divulgá-los pelo mundo. Mas a cada metro que avançávamos, o desassossego original ia se transformando numa franca desilusão. Elena (militante da esquerda chilena que acompanha Littín) me confessou mais tarde que ela também, ainda que estivesse estado no Chile várias vezes em épocas recentes, tinha padecido o mesmo desconcerto.
Coragem, leitor de esquerda. Adelante! Leiamos Littín, só mais um pouquinho:
— Não era para menos. Santiago, ao contrário do que contavam no exílio, aparecia como uma cidade radiante, com seus veneráveis monumentos iluminados e muita ordem e limpeza nas ruas. Os instrumentos de repressão eram menos visíveis do que em Paris ou Nova York. A interminável Alameda Bernardo O'Higgins abria-se frente a nossos olhos como uma corrente de luz, vinda lá da histórica Estação Central, construída pelo mesmo Gustavo Eiffel que fez a torre de Paris. Até as putinhas sonolentas na calçada oposta eram menos indigentes e tristes do que em outros tempos. De repente, do mesmo lado em que eu viajava, apareceu o Palácio de La Moneda, como um fantasma indesejado. Na última vez que eu o tinha visto, era uma carcaça coberta de cinzas. Agora, restaurado e outra vez em uso, parecia uma mansão de sonho ao fundo de um jardim francês.
Fico por aqui. Se o leitor ainda alimenta dúvidas, que visite o Chile, preferentemente após ter deambulado por Havana. O homem só conhece comparando. Para finalizar, apenas mais uma observação, não minha, mas de Littín, que talvez elucide a prosperidade atual de seu país.
— Uma das primeiras medidas que ele (Allende) tomou no governo foi a nacionalização das minas. Uma das primeiras medidas de Pinochet foi privatizá-las outra vez, como fez com todos os cemitérios, os trens, os portos e até o recolhimento do lixo.
O que esclarece, a meu ver, o fascínio das ruas de Santiago.
24 de agosto de 2013
janer cristaldo
SANTIAGO SEGUNDO LITTÍN *
Santiago do Chile — A cidade é feia, pobre e suja. Pelos buracos e lixo acumulado nas amplas avenidas, adivinha-se uma capital que um dia foi próspera e cujos habitantes desfrutaram, em passado pouco distante, um alto nível de vida. Cidadãos pobremente vestidos, em seus ternos ainda restam farrapos de dignidade - e nada mais triste do que ver um homem cheio de remendos, mas elegantemente vestido, estendendo a mão súplice para pedir alguns centavos. Lojas vazias, de vazias e tristes vitrines, restaurantes entregues às moscas, garçons olhando para nada. Mal o sol se põe sobre o Pacífico, a capital escurece e os raros privilegiados da tirania se escondem em suas tocas, temerosos da fome e da justa violência dos deserdados. Mesmo durante o dia, nota-se tensão e medo nos rostos e gestos, como se alguém que agora circula livremente pelas ruas, no momento seguinte, sabe Deus lá por que razões, pudesse estar algemado nos porões da ditadura. Um exército parece ter postos suas patas sobre a cidade. Estou em Santiago do Chile. Do Chile de Pinochet.
O poder do tirano é onipresente. Em um país privilegiado pelos deuses, que por sua geografia se permite quatro estações simultâneas, mar e montanha, deserto e neve, os tentáculos da ditadura envolvem o território todo, manifestando-se principalmente na capital. Raríssimas bancas de jornais exibem apenas a imprensa laudatória ao regime. Jornais de oposição, nem em sonhos. A imprensa internacional está banida do país e só pode ser adquirida em hotéis de luxo, onde o cidadão comum só pode entrar se estiver disposto a sérios interrogatórios pela polícia do regime ao sair, mesmo que saia sem jornal algum. As raríssimas livrarias, de paupérrimas estantes, exibem não mais que literatura técnica e alguma ficção de escritores coniventes com a ditadura.
Miséria, lixo, decadência, medo, opressão, silêncio, desconfiança: estes são os odores que todo visitante, isento de quaisquer preconceitos ideológicos, respira em um rápido giro por Santiago. Mas as cidades são como árvores, quem quiser destruí-las terá de cortar-lhes as raízes. Estão vivas as raízes de Santiago. Que um dia será Salvador. Salvador Allende.
Terminasse eu aqui esta crônica, sem ajuntar sequer uma linha a mais, conquistaria platéias e simpatias, sem falar em tribunas, lugar ao sol e quem sabe até mesmo uma sinecura num órgão público qualquer. Acontece que estaria mentindo, transmitindo, é verdade, uma mentira que todos gostam de ouvir. Como não gosto de mentir, renuncio a eventuais simpatias e passo a contar o que vi.
Para quem está acostumado a bater pernas pelas ruas de cidades como Porto Alegre ou São Paulo, Santiago exerce um poderoso impacto pela conservação e limpeza de suas ruas e passeios. Nas capitais brasileiras, há muito resignei-me a enfrentar ruas sujas e esburacadas, sem falar no lixo cotidiano nelas jogado por transeuntes sem noção alguma de cidadania, meros habitantes, nefastos usuários da cidade. Passear pelas margens do Mapocho - rio que atravessa um aglomerado de cinco milhões de almas - é respirar milagre, suas águas preservam a limpidez com que descem da Cordilheira. Para quem sofre a Beira-Mar Norte de Florianópolis - já nem falo do riacho Ipiranga ou Tietê - o Mapocho mais parece miragem de viajante perturbado pela travessia dos Andes.
Pelo Paseo de la Ahumada, rua Estado, Huérfanos, uma fauna humana e bem vestida (insisto em dizê-la humana, pois os transeuntes das ruas centrais do Rio ou São Paulo, sem ir mais longe, mais parecem animais machucados na luta pela vida) que há muito não se vê nas metrópoles da América Latina. Antes de Santiago, estive em Buenos Aires e a outrora elegante Florida, hoje, proporções à parte, mais parece rua Direita ou Nossa Senhora de Copacabana. Deixada de lado a agressão idiota - mas não perigosa - de cambistas à cata de divisas fortes, senti no centro de Santiago sensação que brasileiro algum pode hoje sentir em nossas capitais: a sensação de segurança. As ruas da capital chilena têm um ar de praça; nela vi velhos, jovens e crianças sentadas, degustando sorvetes e o espetáculo da rua em si, tanto à tarde como à noite, sem preocupação alguma com assaltos ou violência gratuita. Para mim, que já penso duas vezes quando em Porto Alegre ao atravessar a Borges e a Praça XV para freqüentar o Chalé à noite, Santiago me fez evocar a Praça da Alfândega dos anos 60, quando filosofávamos madrugada adentro preocupados com a enteléquia aristotélica ou o ser em Sartre, jamais com punhais ou revólveres.
Outra surpresa, e das melhores, os quiosques de jornais e revistas. Penso que tais quiosques são uma excelente amostragem da cultura e liberdade de expressão de um país, neles podemos auscultar que tipo de informação consomem os cidadãos e, ao mesmo tempo, que qualidade ou quantidade de informação não proíbe o Estado de ser consumida. Pois bem: nesta Santiago que imaginava cidade sitiada e sob censura, vi nas bancas uma profusão e diversidade de jornais que sequer encontrei em Paris ou Madri. Jornais em cirílico do Leste europeu, imprensa de toda Europa, Escandinávia, Alemanha, França, Itália, Espanha, Estados Unidos, América Latina, Brasil. Sabendo como esta imprensa toda é gentil a Pinochet, o espanto do turista vira perplexidade. E mais: jornais chilenos malhando, em primeira página, a ditadura. Ocorre-me evocar os quiosques tristes e monocórdios que vi em cidades do Leste europeu, mas nem preciso ir tão longe. Nenhuma banca do Rio ou São Paulo, neste Brasil 88, me oferece tal quantidade e diversidade de informação.
Livrarias imensas, bem sortidas, onde não faltam livros de Fidel Castro ou Garcia Márquez, o mais ferrenho adversário de Pinochet e, curiosamente, defensor incondicional do ditador cubano. Tampouco faltam nas prateleiras obras de José Donoso ou Isabel Allende, isso para citar apenas dois opositores do regime chileno já conhecidos do leitor brasileiro. O que é no mínimo insólito em uma ditadura.
Nas vitrines e gôndolas das mercearias, víveres e bebidas do mundo todo, desde arenques do Báltico a foie gras trufado, dos mais diversos uísques da Escócia a vinhos alemães, franceses, italianos, espanhóis. E chilenos, naturalmente. Preços? Abordáveis. Para se ter uma idéia, pode-se comprar um scotch - com a certeza de que não são da reserva Stroessner - a partir de dez dólares, ou seja, o preço de um Natu Nobilis hoje. Que mais não seja, qual intelectual de esquerda não gostaria de viver em uma sociedade onde uma dose de um bom escocês custa, em bares, um dólar? Conheço não poucos exilados traumatizados com a democrática França de Mitterrand, onde um gole de uísque só é viável a partir dos cinco dólares. Piadas à parte, a farta oferta de tais produtos evidencia uma sociedade habituada a comer bem e com requinte, afinal comerciante algum seria insano a ponto de importar iguarias para turista ver.
Contava eu estas e outras coisas à uma moça ilhoa e bem-nascida, cidadã da Santa e Bela Catarina, dessas que julgam ser todo empresário um canalha, mas que jamais recusam uma cobertura facilitada por um pai empresário, dessas que jamais subiram o morro do Mocotó mas estão preocupadas com a colheita do café na Nicarágua, em suma, falava eu com um espécime típico da raça que chamo de os Novos Cafeicultores, e a objeção - a primeira objeção - caiu como um raio:
— E a miséria? Aposto que não foste visitar os bairros pobres, a periferia de Santiago.
Tinha razão em parte a jovem cafeicultora. Não visitei os bairros pobres de Santiago, afinal se troco as margens do Atlântico pelas do Pacífico, não será para ver miséria que conto meus parcos dólares. Não tenho a psicologia do francês médio, por exemplo, que mal chega ao Brasil, quer visitar favelas. Este comportamento, a meu ver doentio, parece-me ser vício de europeu inculto e de consciência pesada, que insiste em ver a miséria do Terceiro Mundo que explora, para depois contribuir com avos de seu bem-estar para guerrilhas suicidas. Se junto meus trocados para visitar um país, quero receber o que de melhor esse país tem a me oferecer. Nos anos que vivi em Paris, descia certa vez de Montmartre e enveredei pelas ruelas da Goutte d'Or, encrave árabe e paupérrimo que se alastra na cidade como mancha de óleo. Senti-me, de repente, em um território miserável para o qual jamais teria pensado em viajar, que mais não seja não será minha indignação ou revolta que resolverá o problema árabe na França. Dei meia volta, enfurnei-me na primeira boca de metrô e só voltei à superfície na Rive Gauche, a margem que mais me fascina do Sena. Não, não vi a miséria de Santiago. Mas consolei a cafeicultora: podes estar certa de que miséria existe, pois miséria está presente em qualquer metrópole do mundo.
Ela sorriu por dentro, parecia dizer: que bom que existe miséria em Santiago. O que me deixou um tanto perplexo, eu sorriria intimamente se soubesse que não existe miséria em lugar algum do mundo, independentemente de regimes políticos ou ideológicos. Ela, por sua vez, admitia a veracidade de meu relato. Ajuntei que a inflação era de seis por cento. Quando digo isto a um brasileiro, a reação normal é: "seis por cento ao mês?" Acontece que é seis por cento ao ano. Isto é sonho que, brasileiros, já nem ousamos sonhar. Se eu passar a alguém os preços de um restaurante que visitei em Santiago no mês passado, e se este alguém visitar o Chile no ano que vem, é provável que os preços continuem os mesmos ou, no máximo, tenham variado em torno de uns dez por cento a mais. Cá entre nós, não conseguimos recomendar para amanhã um restaurante no qual comemos ontem. Caiu, então, fulminante, a segunda objeção:
— Sim. Mas que preço pagaram os chilenos por este bem-estar?
Houve, no Chile, um assalto marxista e armado ao Estado e negá-lo é paranóia. Deste confronto resultaram, segundo alguns, três mil mortes. Segundo outros, quarenta mil. De qualquer forma, um preço infinitamente inferior ao preço pago pelos russos a Josiph Vissarionovitch Djugatchivili - que oscila entre vinte e sessenta milhões de cadáveres - para dar no que deu: uma confederação forçada de países pobres, alguns vivendo a nível de fome, como a Romênia e a Albânia. Bem mais barato que o preço pago pelos cambojanos a Pol Pot: dois milhões e meio de mortos, em um país de cinco milhões de habitantes, e disto não mais se fala. Sem falar que os que ficaram se jogam ao mar em jangadas, enfrentando tempestades, tubarões e piratas, ou já esquecemos os boatpeople? Sem falar nos que matou Castro - número que nenhum Garcia Márquez aventa - para instalar no Caribe seu gulag tropical. Em Cuba também há farta escolha de bebidas e gêneros alimentícios. Mas só o turista pode comprá-los, e com dólar. O cidadão cubano fica chupando no dedo. Nas praias, cheias de peixes, não há atividade pesqueira alguma, pois quem tem barco vai pra Miami.
— Justificas então tais mortes? - quis saber a moça - referindo-se, é claro, aos mortos do Chile, já que tornou-se tácito, para os fanáticos contemporâneos, que é lícito fazer correr sangue de certas pessoas e criminoso o de outras. Em suma, para usar dois conceitos que não me agradam, porque multívocos, é perfeitamente permissível fazer jorrar sangue da assim chamada direita e constitui sacrilégio, quase tabu, sangrar a assim chamada esquerda. Não justifico morte alguma, a humanidade tem pelo menos uns três mil anos de experiência histórica, milênios suficiente, parece-me, para concluirmos que não é matando que se chega a erigir a cidade humana.
— Cristaldices! - jogou-me na cara minha cafeicultora, digo, interlocutora. Pode ser. Chamo então um cineasta exilado que voltou clandestinamente ao Chile, em depoimento tomado por Gabriel Garcia Márquez, intitulado A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile, já traduzido ao brasileiro por Eric Nepomuceno e encontradiço em qualquer livraria. No capítulo significativamente intitulado "Primeira desilusão: o esplendor da cidade", depõe Littín:
— Eu atravessei o salão quase deserto seguindo o carregador que recebeu minha bagagem na saída, e ali sofri o primeiro impacto do regresso. Não notava em nenhuma parte a militarização que esperava, nem o menor traço de miséria. (...) Não encontrava em nenhuma parte o aparato armado que eu tinha imaginado, sobretudo naquela época, com o estado de sítio. Tudo no aeroporto era limpo e luminoso, com anúncios em cores alegres e lojas grandes e bem sortidas de artigos importados, e não havia à vista nenhum guarda para dar informação a um viajante extraviado. Os táxis que esperavam lá fora não eram os decrépitos de antes, e sim modelos japoneses recentes, todos iguais e ordenados.
Mais adiante:
— Na medida em que chegávamos perto da cidade, o júbilo com lágrimas que eu tinha previsto para o regresso ia sendo substituído por um sentimento de incerteza. Na verdade o acesso ao antigo aeroporto de Los Cerrillos era uma estrada antiga, através de cortiços operários e quarteirões pobres, que sofreram uma repressão sangrenta durante o golpe militar. O acesso ao atual aeroporto internacional, em compensação, é uma auto-estrada iluminada como nos países mais desenvolvidos do mundo, e isto era um mau princípio para alguém como eu, que não só estava convencido da maldade da ditadura, como necessitava ver seus fracassos na rua, na vida diária, nos hábitos das pessoas, para filmá-los e divulgá-los pelo mundo. Mas a cada metro que avançávamos, o desassossego original ia se transformando numa franca desilusão. Elena (militante da esquerda chilena que acompanha Littín) me confessou mais tarde que ela também, ainda que estivesse estado no Chile várias vezes em épocas recentes, tinha padecido o mesmo desconcerto.
Coragem, leitor de esquerda. Adelante! Leiamos Littín, só mais um pouquinho:
— Não era para menos. Santiago, ao contrário do que contavam no exílio, aparecia como uma cidade radiante, com seus veneráveis monumentos iluminados e muita ordem e limpeza nas ruas. Os instrumentos de repressão eram menos visíveis do que em Paris ou Nova York. A interminável Alameda Bernardo O'Higgins abria-se frente a nossos olhos como uma corrente de luz, vinda lá da histórica Estação Central, construída pelo mesmo Gustavo Eiffel que fez a torre de Paris. Até as putinhas sonolentas na calçada oposta eram menos indigentes e tristes do que em outros tempos. De repente, do mesmo lado em que eu viajava, apareceu o Palácio de La Moneda, como um fantasma indesejado. Na última vez que eu o tinha visto, era uma carcaça coberta de cinzas. Agora, restaurado e outra vez em uso, parecia uma mansão de sonho ao fundo de um jardim francês.
Fico por aqui. Se o leitor ainda alimenta dúvidas, que visite o Chile, preferentemente após ter deambulado por Havana. O homem só conhece comparando. Para finalizar, apenas mais uma observação, não minha, mas de Littín, que talvez elucide a prosperidade atual de seu país.
— Uma das primeiras medidas que ele (Allende) tomou no governo foi a nacionalização das minas. Uma das primeiras medidas de Pinochet foi privatizá-las outra vez, como fez com todos os cemitérios, os trens, os portos e até o recolhimento do lixo.
O que esclarece, a meu ver, o fascínio das ruas de Santiago.
O poder do tirano é onipresente. Em um país privilegiado pelos deuses, que por sua geografia se permite quatro estações simultâneas, mar e montanha, deserto e neve, os tentáculos da ditadura envolvem o território todo, manifestando-se principalmente na capital. Raríssimas bancas de jornais exibem apenas a imprensa laudatória ao regime. Jornais de oposição, nem em sonhos. A imprensa internacional está banida do país e só pode ser adquirida em hotéis de luxo, onde o cidadão comum só pode entrar se estiver disposto a sérios interrogatórios pela polícia do regime ao sair, mesmo que saia sem jornal algum. As raríssimas livrarias, de paupérrimas estantes, exibem não mais que literatura técnica e alguma ficção de escritores coniventes com a ditadura.
Miséria, lixo, decadência, medo, opressão, silêncio, desconfiança: estes são os odores que todo visitante, isento de quaisquer preconceitos ideológicos, respira em um rápido giro por Santiago. Mas as cidades são como árvores, quem quiser destruí-las terá de cortar-lhes as raízes. Estão vivas as raízes de Santiago. Que um dia será Salvador. Salvador Allende.
Terminasse eu aqui esta crônica, sem ajuntar sequer uma linha a mais, conquistaria platéias e simpatias, sem falar em tribunas, lugar ao sol e quem sabe até mesmo uma sinecura num órgão público qualquer. Acontece que estaria mentindo, transmitindo, é verdade, uma mentira que todos gostam de ouvir. Como não gosto de mentir, renuncio a eventuais simpatias e passo a contar o que vi.
Para quem está acostumado a bater pernas pelas ruas de cidades como Porto Alegre ou São Paulo, Santiago exerce um poderoso impacto pela conservação e limpeza de suas ruas e passeios. Nas capitais brasileiras, há muito resignei-me a enfrentar ruas sujas e esburacadas, sem falar no lixo cotidiano nelas jogado por transeuntes sem noção alguma de cidadania, meros habitantes, nefastos usuários da cidade. Passear pelas margens do Mapocho - rio que atravessa um aglomerado de cinco milhões de almas - é respirar milagre, suas águas preservam a limpidez com que descem da Cordilheira. Para quem sofre a Beira-Mar Norte de Florianópolis - já nem falo do riacho Ipiranga ou Tietê - o Mapocho mais parece miragem de viajante perturbado pela travessia dos Andes.
Pelo Paseo de la Ahumada, rua Estado, Huérfanos, uma fauna humana e bem vestida (insisto em dizê-la humana, pois os transeuntes das ruas centrais do Rio ou São Paulo, sem ir mais longe, mais parecem animais machucados na luta pela vida) que há muito não se vê nas metrópoles da América Latina. Antes de Santiago, estive em Buenos Aires e a outrora elegante Florida, hoje, proporções à parte, mais parece rua Direita ou Nossa Senhora de Copacabana. Deixada de lado a agressão idiota - mas não perigosa - de cambistas à cata de divisas fortes, senti no centro de Santiago sensação que brasileiro algum pode hoje sentir em nossas capitais: a sensação de segurança. As ruas da capital chilena têm um ar de praça; nela vi velhos, jovens e crianças sentadas, degustando sorvetes e o espetáculo da rua em si, tanto à tarde como à noite, sem preocupação alguma com assaltos ou violência gratuita. Para mim, que já penso duas vezes quando em Porto Alegre ao atravessar a Borges e a Praça XV para freqüentar o Chalé à noite, Santiago me fez evocar a Praça da Alfândega dos anos 60, quando filosofávamos madrugada adentro preocupados com a enteléquia aristotélica ou o ser em Sartre, jamais com punhais ou revólveres.
Outra surpresa, e das melhores, os quiosques de jornais e revistas. Penso que tais quiosques são uma excelente amostragem da cultura e liberdade de expressão de um país, neles podemos auscultar que tipo de informação consomem os cidadãos e, ao mesmo tempo, que qualidade ou quantidade de informação não proíbe o Estado de ser consumida. Pois bem: nesta Santiago que imaginava cidade sitiada e sob censura, vi nas bancas uma profusão e diversidade de jornais que sequer encontrei em Paris ou Madri. Jornais em cirílico do Leste europeu, imprensa de toda Europa, Escandinávia, Alemanha, França, Itália, Espanha, Estados Unidos, América Latina, Brasil. Sabendo como esta imprensa toda é gentil a Pinochet, o espanto do turista vira perplexidade. E mais: jornais chilenos malhando, em primeira página, a ditadura. Ocorre-me evocar os quiosques tristes e monocórdios que vi em cidades do Leste europeu, mas nem preciso ir tão longe. Nenhuma banca do Rio ou São Paulo, neste Brasil 88, me oferece tal quantidade e diversidade de informação.
Livrarias imensas, bem sortidas, onde não faltam livros de Fidel Castro ou Garcia Márquez, o mais ferrenho adversário de Pinochet e, curiosamente, defensor incondicional do ditador cubano. Tampouco faltam nas prateleiras obras de José Donoso ou Isabel Allende, isso para citar apenas dois opositores do regime chileno já conhecidos do leitor brasileiro. O que é no mínimo insólito em uma ditadura.
Nas vitrines e gôndolas das mercearias, víveres e bebidas do mundo todo, desde arenques do Báltico a foie gras trufado, dos mais diversos uísques da Escócia a vinhos alemães, franceses, italianos, espanhóis. E chilenos, naturalmente. Preços? Abordáveis. Para se ter uma idéia, pode-se comprar um scotch - com a certeza de que não são da reserva Stroessner - a partir de dez dólares, ou seja, o preço de um Natu Nobilis hoje. Que mais não seja, qual intelectual de esquerda não gostaria de viver em uma sociedade onde uma dose de um bom escocês custa, em bares, um dólar? Conheço não poucos exilados traumatizados com a democrática França de Mitterrand, onde um gole de uísque só é viável a partir dos cinco dólares. Piadas à parte, a farta oferta de tais produtos evidencia uma sociedade habituada a comer bem e com requinte, afinal comerciante algum seria insano a ponto de importar iguarias para turista ver.
Contava eu estas e outras coisas à uma moça ilhoa e bem-nascida, cidadã da Santa e Bela Catarina, dessas que julgam ser todo empresário um canalha, mas que jamais recusam uma cobertura facilitada por um pai empresário, dessas que jamais subiram o morro do Mocotó mas estão preocupadas com a colheita do café na Nicarágua, em suma, falava eu com um espécime típico da raça que chamo de os Novos Cafeicultores, e a objeção - a primeira objeção - caiu como um raio:
— E a miséria? Aposto que não foste visitar os bairros pobres, a periferia de Santiago.
Tinha razão em parte a jovem cafeicultora. Não visitei os bairros pobres de Santiago, afinal se troco as margens do Atlântico pelas do Pacífico, não será para ver miséria que conto meus parcos dólares. Não tenho a psicologia do francês médio, por exemplo, que mal chega ao Brasil, quer visitar favelas. Este comportamento, a meu ver doentio, parece-me ser vício de europeu inculto e de consciência pesada, que insiste em ver a miséria do Terceiro Mundo que explora, para depois contribuir com avos de seu bem-estar para guerrilhas suicidas. Se junto meus trocados para visitar um país, quero receber o que de melhor esse país tem a me oferecer. Nos anos que vivi em Paris, descia certa vez de Montmartre e enveredei pelas ruelas da Goutte d'Or, encrave árabe e paupérrimo que se alastra na cidade como mancha de óleo. Senti-me, de repente, em um território miserável para o qual jamais teria pensado em viajar, que mais não seja não será minha indignação ou revolta que resolverá o problema árabe na França. Dei meia volta, enfurnei-me na primeira boca de metrô e só voltei à superfície na Rive Gauche, a margem que mais me fascina do Sena. Não, não vi a miséria de Santiago. Mas consolei a cafeicultora: podes estar certa de que miséria existe, pois miséria está presente em qualquer metrópole do mundo.
Ela sorriu por dentro, parecia dizer: que bom que existe miséria em Santiago. O que me deixou um tanto perplexo, eu sorriria intimamente se soubesse que não existe miséria em lugar algum do mundo, independentemente de regimes políticos ou ideológicos. Ela, por sua vez, admitia a veracidade de meu relato. Ajuntei que a inflação era de seis por cento. Quando digo isto a um brasileiro, a reação normal é: "seis por cento ao mês?" Acontece que é seis por cento ao ano. Isto é sonho que, brasileiros, já nem ousamos sonhar. Se eu passar a alguém os preços de um restaurante que visitei em Santiago no mês passado, e se este alguém visitar o Chile no ano que vem, é provável que os preços continuem os mesmos ou, no máximo, tenham variado em torno de uns dez por cento a mais. Cá entre nós, não conseguimos recomendar para amanhã um restaurante no qual comemos ontem. Caiu, então, fulminante, a segunda objeção:
— Sim. Mas que preço pagaram os chilenos por este bem-estar?
Houve, no Chile, um assalto marxista e armado ao Estado e negá-lo é paranóia. Deste confronto resultaram, segundo alguns, três mil mortes. Segundo outros, quarenta mil. De qualquer forma, um preço infinitamente inferior ao preço pago pelos russos a Josiph Vissarionovitch Djugatchivili - que oscila entre vinte e sessenta milhões de cadáveres - para dar no que deu: uma confederação forçada de países pobres, alguns vivendo a nível de fome, como a Romênia e a Albânia. Bem mais barato que o preço pago pelos cambojanos a Pol Pot: dois milhões e meio de mortos, em um país de cinco milhões de habitantes, e disto não mais se fala. Sem falar que os que ficaram se jogam ao mar em jangadas, enfrentando tempestades, tubarões e piratas, ou já esquecemos os boatpeople? Sem falar nos que matou Castro - número que nenhum Garcia Márquez aventa - para instalar no Caribe seu gulag tropical. Em Cuba também há farta escolha de bebidas e gêneros alimentícios. Mas só o turista pode comprá-los, e com dólar. O cidadão cubano fica chupando no dedo. Nas praias, cheias de peixes, não há atividade pesqueira alguma, pois quem tem barco vai pra Miami.
— Justificas então tais mortes? - quis saber a moça - referindo-se, é claro, aos mortos do Chile, já que tornou-se tácito, para os fanáticos contemporâneos, que é lícito fazer correr sangue de certas pessoas e criminoso o de outras. Em suma, para usar dois conceitos que não me agradam, porque multívocos, é perfeitamente permissível fazer jorrar sangue da assim chamada direita e constitui sacrilégio, quase tabu, sangrar a assim chamada esquerda. Não justifico morte alguma, a humanidade tem pelo menos uns três mil anos de experiência histórica, milênios suficiente, parece-me, para concluirmos que não é matando que se chega a erigir a cidade humana.
— Cristaldices! - jogou-me na cara minha cafeicultora, digo, interlocutora. Pode ser. Chamo então um cineasta exilado que voltou clandestinamente ao Chile, em depoimento tomado por Gabriel Garcia Márquez, intitulado A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile, já traduzido ao brasileiro por Eric Nepomuceno e encontradiço em qualquer livraria. No capítulo significativamente intitulado "Primeira desilusão: o esplendor da cidade", depõe Littín:
— Eu atravessei o salão quase deserto seguindo o carregador que recebeu minha bagagem na saída, e ali sofri o primeiro impacto do regresso. Não notava em nenhuma parte a militarização que esperava, nem o menor traço de miséria. (...) Não encontrava em nenhuma parte o aparato armado que eu tinha imaginado, sobretudo naquela época, com o estado de sítio. Tudo no aeroporto era limpo e luminoso, com anúncios em cores alegres e lojas grandes e bem sortidas de artigos importados, e não havia à vista nenhum guarda para dar informação a um viajante extraviado. Os táxis que esperavam lá fora não eram os decrépitos de antes, e sim modelos japoneses recentes, todos iguais e ordenados.
Mais adiante:
— Na medida em que chegávamos perto da cidade, o júbilo com lágrimas que eu tinha previsto para o regresso ia sendo substituído por um sentimento de incerteza. Na verdade o acesso ao antigo aeroporto de Los Cerrillos era uma estrada antiga, através de cortiços operários e quarteirões pobres, que sofreram uma repressão sangrenta durante o golpe militar. O acesso ao atual aeroporto internacional, em compensação, é uma auto-estrada iluminada como nos países mais desenvolvidos do mundo, e isto era um mau princípio para alguém como eu, que não só estava convencido da maldade da ditadura, como necessitava ver seus fracassos na rua, na vida diária, nos hábitos das pessoas, para filmá-los e divulgá-los pelo mundo. Mas a cada metro que avançávamos, o desassossego original ia se transformando numa franca desilusão. Elena (militante da esquerda chilena que acompanha Littín) me confessou mais tarde que ela também, ainda que estivesse estado no Chile várias vezes em épocas recentes, tinha padecido o mesmo desconcerto.
Coragem, leitor de esquerda. Adelante! Leiamos Littín, só mais um pouquinho:
— Não era para menos. Santiago, ao contrário do que contavam no exílio, aparecia como uma cidade radiante, com seus veneráveis monumentos iluminados e muita ordem e limpeza nas ruas. Os instrumentos de repressão eram menos visíveis do que em Paris ou Nova York. A interminável Alameda Bernardo O'Higgins abria-se frente a nossos olhos como uma corrente de luz, vinda lá da histórica Estação Central, construída pelo mesmo Gustavo Eiffel que fez a torre de Paris. Até as putinhas sonolentas na calçada oposta eram menos indigentes e tristes do que em outros tempos. De repente, do mesmo lado em que eu viajava, apareceu o Palácio de La Moneda, como um fantasma indesejado. Na última vez que eu o tinha visto, era uma carcaça coberta de cinzas. Agora, restaurado e outra vez em uso, parecia uma mansão de sonho ao fundo de um jardim francês.
Fico por aqui. Se o leitor ainda alimenta dúvidas, que visite o Chile, preferentemente após ter deambulado por Havana. O homem só conhece comparando. Para finalizar, apenas mais uma observação, não minha, mas de Littín, que talvez elucide a prosperidade atual de seu país.
— Uma das primeiras medidas que ele (Allende) tomou no governo foi a nacionalização das minas. Uma das primeiras medidas de Pinochet foi privatizá-las outra vez, como fez com todos os cemitérios, os trens, os portos e até o recolhimento do lixo.
O que esclarece, a meu ver, o fascínio das ruas de Santiago.
24 de agosto de 2013
janer cristaldo
SANTIAGO SEGUNDO LITTÍN *
Santiago do Chile — A cidade é feia, pobre e suja. Pelos buracos e lixo acumulado nas amplas avenidas, adivinha-se uma capital que um dia foi próspera e cujos habitantes desfrutaram, em passado pouco distante, um alto nível de vida. Cidadãos pobremente vestidos, em seus ternos ainda restam farrapos de dignidade - e nada mais triste do que ver um homem cheio de remendos, mas elegantemente vestido, estendendo a mão súplice para pedir alguns centavos. Lojas vazias, de vazias e tristes vitrines, restaurantes entregues às moscas, garçons olhando para nada. Mal o sol se põe sobre o Pacífico, a capital escurece e os raros privilegiados da tirania se escondem em suas tocas, temerosos da fome e da justa violência dos deserdados. Mesmo durante o dia, nota-se tensão e medo nos rostos e gestos, como se alguém que agora circula livremente pelas ruas, no momento seguinte, sabe Deus lá por que razões, pudesse estar algemado nos porões da ditadura. Um exército parece ter postos suas patas sobre a cidade. Estou em Santiago do Chile. Do Chile de Pinochet.
O poder do tirano é onipresente. Em um país privilegiado pelos deuses, que por sua geografia se permite quatro estações simultâneas, mar e montanha, deserto e neve, os tentáculos da ditadura envolvem o território todo, manifestando-se principalmente na capital. Raríssimas bancas de jornais exibem apenas a imprensa laudatória ao regime. Jornais de oposição, nem em sonhos. A imprensa internacional está banida do país e só pode ser adquirida em hotéis de luxo, onde o cidadão comum só pode entrar se estiver disposto a sérios interrogatórios pela polícia do regime ao sair, mesmo que saia sem jornal algum. As raríssimas livrarias, de paupérrimas estantes, exibem não mais que literatura técnica e alguma ficção de escritores coniventes com a ditadura.
Miséria, lixo, decadência, medo, opressão, silêncio, desconfiança: estes são os odores que todo visitante, isento de quaisquer preconceitos ideológicos, respira em um rápido giro por Santiago. Mas as cidades são como árvores, quem quiser destruí-las terá de cortar-lhes as raízes. Estão vivas as raízes de Santiago. Que um dia será Salvador. Salvador Allende.
Terminasse eu aqui esta crônica, sem ajuntar sequer uma linha a mais, conquistaria platéias e simpatias, sem falar em tribunas, lugar ao sol e quem sabe até mesmo uma sinecura num órgão público qualquer. Acontece que estaria mentindo, transmitindo, é verdade, uma mentira que todos gostam de ouvir. Como não gosto de mentir, renuncio a eventuais simpatias e passo a contar o que vi.
Para quem está acostumado a bater pernas pelas ruas de cidades como Porto Alegre ou São Paulo, Santiago exerce um poderoso impacto pela conservação e limpeza de suas ruas e passeios. Nas capitais brasileiras, há muito resignei-me a enfrentar ruas sujas e esburacadas, sem falar no lixo cotidiano nelas jogado por transeuntes sem noção alguma de cidadania, meros habitantes, nefastos usuários da cidade. Passear pelas margens do Mapocho - rio que atravessa um aglomerado de cinco milhões de almas - é respirar milagre, suas águas preservam a limpidez com que descem da Cordilheira. Para quem sofre a Beira-Mar Norte de Florianópolis - já nem falo do riacho Ipiranga ou Tietê - o Mapocho mais parece miragem de viajante perturbado pela travessia dos Andes.
Pelo Paseo de la Ahumada, rua Estado, Huérfanos, uma fauna humana e bem vestida (insisto em dizê-la humana, pois os transeuntes das ruas centrais do Rio ou São Paulo, sem ir mais longe, mais parecem animais machucados na luta pela vida) que há muito não se vê nas metrópoles da América Latina. Antes de Santiago, estive em Buenos Aires e a outrora elegante Florida, hoje, proporções à parte, mais parece rua Direita ou Nossa Senhora de Copacabana. Deixada de lado a agressão idiota - mas não perigosa - de cambistas à cata de divisas fortes, senti no centro de Santiago sensação que brasileiro algum pode hoje sentir em nossas capitais: a sensação de segurança. As ruas da capital chilena têm um ar de praça; nela vi velhos, jovens e crianças sentadas, degustando sorvetes e o espetáculo da rua em si, tanto à tarde como à noite, sem preocupação alguma com assaltos ou violência gratuita. Para mim, que já penso duas vezes quando em Porto Alegre ao atravessar a Borges e a Praça XV para freqüentar o Chalé à noite, Santiago me fez evocar a Praça da Alfândega dos anos 60, quando filosofávamos madrugada adentro preocupados com a enteléquia aristotélica ou o ser em Sartre, jamais com punhais ou revólveres.
Outra surpresa, e das melhores, os quiosques de jornais e revistas. Penso que tais quiosques são uma excelente amostragem da cultura e liberdade de expressão de um país, neles podemos auscultar que tipo de informação consomem os cidadãos e, ao mesmo tempo, que qualidade ou quantidade de informação não proíbe o Estado de ser consumida. Pois bem: nesta Santiago que imaginava cidade sitiada e sob censura, vi nas bancas uma profusão e diversidade de jornais que sequer encontrei em Paris ou Madri. Jornais em cirílico do Leste europeu, imprensa de toda Europa, Escandinávia, Alemanha, França, Itália, Espanha, Estados Unidos, América Latina, Brasil. Sabendo como esta imprensa toda é gentil a Pinochet, o espanto do turista vira perplexidade. E mais: jornais chilenos malhando, em primeira página, a ditadura. Ocorre-me evocar os quiosques tristes e monocórdios que vi em cidades do Leste europeu, mas nem preciso ir tão longe. Nenhuma banca do Rio ou São Paulo, neste Brasil 88, me oferece tal quantidade e diversidade de informação.
Livrarias imensas, bem sortidas, onde não faltam livros de Fidel Castro ou Garcia Márquez, o mais ferrenho adversário de Pinochet e, curiosamente, defensor incondicional do ditador cubano. Tampouco faltam nas prateleiras obras de José Donoso ou Isabel Allende, isso para citar apenas dois opositores do regime chileno já conhecidos do leitor brasileiro. O que é no mínimo insólito em uma ditadura.
Nas vitrines e gôndolas das mercearias, víveres e bebidas do mundo todo, desde arenques do Báltico a foie gras trufado, dos mais diversos uísques da Escócia a vinhos alemães, franceses, italianos, espanhóis. E chilenos, naturalmente. Preços? Abordáveis. Para se ter uma idéia, pode-se comprar um scotch - com a certeza de que não são da reserva Stroessner - a partir de dez dólares, ou seja, o preço de um Natu Nobilis hoje. Que mais não seja, qual intelectual de esquerda não gostaria de viver em uma sociedade onde uma dose de um bom escocês custa, em bares, um dólar? Conheço não poucos exilados traumatizados com a democrática França de Mitterrand, onde um gole de uísque só é viável a partir dos cinco dólares. Piadas à parte, a farta oferta de tais produtos evidencia uma sociedade habituada a comer bem e com requinte, afinal comerciante algum seria insano a ponto de importar iguarias para turista ver.
Contava eu estas e outras coisas à uma moça ilhoa e bem-nascida, cidadã da Santa e Bela Catarina, dessas que julgam ser todo empresário um canalha, mas que jamais recusam uma cobertura facilitada por um pai empresário, dessas que jamais subiram o morro do Mocotó mas estão preocupadas com a colheita do café na Nicarágua, em suma, falava eu com um espécime típico da raça que chamo de os Novos Cafeicultores, e a objeção - a primeira objeção - caiu como um raio:
— E a miséria? Aposto que não foste visitar os bairros pobres, a periferia de Santiago.
Tinha razão em parte a jovem cafeicultora. Não visitei os bairros pobres de Santiago, afinal se troco as margens do Atlântico pelas do Pacífico, não será para ver miséria que conto meus parcos dólares. Não tenho a psicologia do francês médio, por exemplo, que mal chega ao Brasil, quer visitar favelas. Este comportamento, a meu ver doentio, parece-me ser vício de europeu inculto e de consciência pesada, que insiste em ver a miséria do Terceiro Mundo que explora, para depois contribuir com avos de seu bem-estar para guerrilhas suicidas. Se junto meus trocados para visitar um país, quero receber o que de melhor esse país tem a me oferecer. Nos anos que vivi em Paris, descia certa vez de Montmartre e enveredei pelas ruelas da Goutte d'Or, encrave árabe e paupérrimo que se alastra na cidade como mancha de óleo. Senti-me, de repente, em um território miserável para o qual jamais teria pensado em viajar, que mais não seja não será minha indignação ou revolta que resolverá o problema árabe na França. Dei meia volta, enfurnei-me na primeira boca de metrô e só voltei à superfície na Rive Gauche, a margem que mais me fascina do Sena. Não, não vi a miséria de Santiago. Mas consolei a cafeicultora: podes estar certa de que miséria existe, pois miséria está presente em qualquer metrópole do mundo.
Ela sorriu por dentro, parecia dizer: que bom que existe miséria em Santiago. O que me deixou um tanto perplexo, eu sorriria intimamente se soubesse que não existe miséria em lugar algum do mundo, independentemente de regimes políticos ou ideológicos. Ela, por sua vez, admitia a veracidade de meu relato. Ajuntei que a inflação era de seis por cento. Quando digo isto a um brasileiro, a reação normal é: "seis por cento ao mês?" Acontece que é seis por cento ao ano. Isto é sonho que, brasileiros, já nem ousamos sonhar. Se eu passar a alguém os preços de um restaurante que visitei em Santiago no mês passado, e se este alguém visitar o Chile no ano que vem, é provável que os preços continuem os mesmos ou, no máximo, tenham variado em torno de uns dez por cento a mais. Cá entre nós, não conseguimos recomendar para amanhã um restaurante no qual comemos ontem. Caiu, então, fulminante, a segunda objeção:
— Sim. Mas que preço pagaram os chilenos por este bem-estar?
Houve, no Chile, um assalto marxista e armado ao Estado e negá-lo é paranóia. Deste confronto resultaram, segundo alguns, três mil mortes. Segundo outros, quarenta mil. De qualquer forma, um preço infinitamente inferior ao preço pago pelos russos a Josiph Vissarionovitch Djugatchivili - que oscila entre vinte e sessenta milhões de cadáveres - para dar no que deu: uma confederação forçada de países pobres, alguns vivendo a nível de fome, como a Romênia e a Albânia. Bem mais barato que o preço pago pelos cambojanos a Pol Pot: dois milhões e meio de mortos, em um país de cinco milhões de habitantes, e disto não mais se fala. Sem falar que os que ficaram se jogam ao mar em jangadas, enfrentando tempestades, tubarões e piratas, ou já esquecemos os boatpeople? Sem falar nos que matou Castro - número que nenhum Garcia Márquez aventa - para instalar no Caribe seu gulag tropical. Em Cuba também há farta escolha de bebidas e gêneros alimentícios. Mas só o turista pode comprá-los, e com dólar. O cidadão cubano fica chupando no dedo. Nas praias, cheias de peixes, não há atividade pesqueira alguma, pois quem tem barco vai pra Miami.
— Justificas então tais mortes? - quis saber a moça - referindo-se, é claro, aos mortos do Chile, já que tornou-se tácito, para os fanáticos contemporâneos, que é lícito fazer correr sangue de certas pessoas e criminoso o de outras. Em suma, para usar dois conceitos que não me agradam, porque multívocos, é perfeitamente permissível fazer jorrar sangue da assim chamada direita e constitui sacrilégio, quase tabu, sangrar a assim chamada esquerda. Não justifico morte alguma, a humanidade tem pelo menos uns três mil anos de experiência histórica, milênios suficiente, parece-me, para concluirmos que não é matando que se chega a erigir a cidade humana.
— Cristaldices! - jogou-me na cara minha cafeicultora, digo, interlocutora. Pode ser. Chamo então um cineasta exilado que voltou clandestinamente ao Chile, em depoimento tomado por Gabriel Garcia Márquez, intitulado A Aventura de Miguel Littín Clandestino no Chile, já traduzido ao brasileiro por Eric Nepomuceno e encontradiço em qualquer livraria. No capítulo significativamente intitulado "Primeira desilusão: o esplendor da cidade", depõe Littín:
— Eu atravessei o salão quase deserto seguindo o carregador que recebeu minha bagagem na saída, e ali sofri o primeiro impacto do regresso. Não notava em nenhuma parte a militarização que esperava, nem o menor traço de miséria. (...) Não encontrava em nenhuma parte o aparato armado que eu tinha imaginado, sobretudo naquela época, com o estado de sítio. Tudo no aeroporto era limpo e luminoso, com anúncios em cores alegres e lojas grandes e bem sortidas de artigos importados, e não havia à vista nenhum guarda para dar informação a um viajante extraviado. Os táxis que esperavam lá fora não eram os decrépitos de antes, e sim modelos japoneses recentes, todos iguais e ordenados.
Mais adiante:
— Na medida em que chegávamos perto da cidade, o júbilo com lágrimas que eu tinha previsto para o regresso ia sendo substituído por um sentimento de incerteza. Na verdade o acesso ao antigo aeroporto de Los Cerrillos era uma estrada antiga, através de cortiços operários e quarteirões pobres, que sofreram uma repressão sangrenta durante o golpe militar. O acesso ao atual aeroporto internacional, em compensação, é uma auto-estrada iluminada como nos países mais desenvolvidos do mundo, e isto era um mau princípio para alguém como eu, que não só estava convencido da maldade da ditadura, como necessitava ver seus fracassos na rua, na vida diária, nos hábitos das pessoas, para filmá-los e divulgá-los pelo mundo. Mas a cada metro que avançávamos, o desassossego original ia se transformando numa franca desilusão. Elena (militante da esquerda chilena que acompanha Littín) me confessou mais tarde que ela também, ainda que estivesse estado no Chile várias vezes em épocas recentes, tinha padecido o mesmo desconcerto.
Coragem, leitor de esquerda. Adelante! Leiamos Littín, só mais um pouquinho:
— Não era para menos. Santiago, ao contrário do que contavam no exílio, aparecia como uma cidade radiante, com seus veneráveis monumentos iluminados e muita ordem e limpeza nas ruas. Os instrumentos de repressão eram menos visíveis do que em Paris ou Nova York. A interminável Alameda Bernardo O'Higgins abria-se frente a nossos olhos como uma corrente de luz, vinda lá da histórica Estação Central, construída pelo mesmo Gustavo Eiffel que fez a torre de Paris. Até as putinhas sonolentas na calçada oposta eram menos indigentes e tristes do que em outros tempos. De repente, do mesmo lado em que eu viajava, apareceu o Palácio de La Moneda, como um fantasma indesejado. Na última vez que eu o tinha visto, era uma carcaça coberta de cinzas. Agora, restaurado e outra vez em uso, parecia uma mansão de sonho ao fundo de um jardim francês.
Fico por aqui. Se o leitor ainda alimenta dúvidas, que visite o Chile, preferentemente após ter deambulado por Havana. O homem só conhece comparando. Para finalizar, apenas mais uma observação, não minha, mas de Littín, que talvez elucide a prosperidade atual de seu país.
— Uma das primeiras medidas que ele (Allende) tomou no governo foi a nacionalização das minas. Uma das primeiras medidas de Pinochet foi privatizá-las outra vez, como fez com todos os cemitérios, os trens, os portos e até o recolhimento do lixo.
O que esclarece, a meu ver, o fascínio das ruas de Santiago.
A OLIGARQUIA DOS FERREIRA GOMES NO CEARÁ: CID, CIRO E IVO
SEM LICITAÇÃO, GOVERNADOR DO CE GASTA R$ 78 MILHÕES COM HELICÓPTEROS
Um deles é só para uso pessoal; artifícios dispensam concorrência
O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), está montando uma frota de helicópteros, integrada por quatro aeronaves equipadas com o que há de mais moderno — sem licitação.
Enquanto a União discute, há anos, qual empresa estrangeira (alemã, sueca, francesa ou americana) oferece melhores condições para a compra de caças para a Aeronáutica, Cid Gomes não teve dúvidas: usou uma brecha no Programa de Modernização Tecnológica da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que dispensa licitação especificamente para compra de equipamentos — não exatamente helicópteros — para operar, junto ao banco alemão MLW Intermed, a compra milionária de quatro helicópteros biturbinados. Até agora, pelas três últimas aeronaves que começaram a chegar no dia 19, o governo do Ceará já desembolsou R$ 78 milhões.
No entanto, os “equipamentos” adquiridos via Promotec não servem às atividades da Secretaria de Ciência e Tecnologia.
A primeira aquisição pelo programa aconteceu em 2010, com o Eurocopter EC-135P2+, prefixo PR-GCE, oficialmente comprado “para fins de operação junto à Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior e Superintendência Estadual de Meio Ambiente”, segundo o extrato de inexigibilidade de licitação.
Mas a aeronave nunca serviu à finalidade original. De padrão luxo, é usado pelo governador. Os três últimos foram comprados em setembro do ano passado e começaram a ser entregues semana passada.
— A compra dos helicópteros foi financiada pelo banco alemão MLW. O financiamento foi aprovado pela Câmara Comercial Brasil-Alemanha, pela Assembleia Legislativa, pelo Senado Federal e seguiu todos os trâmites legais — justificou o governador, por meio de sua assessoria, completando: — Por meio de um ato de cessão, serão utilizados pela Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas, órgão ligado à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social. Ou seja, essas aeronaves reforçarão as ações de polícia e transportarão com segurança e agilidade as vítimas de violência.
Contrato não menciona helicóptero
Para não fugir ao objetivo do Promotec, o contrato de compra publicado no Diário Oficial do Estado, em agosto passado, para a aquisição dos três últimos aviões pela Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior, curiosamente não fala em helicópteros, e sim em fornecimento de “equipamentos e instrumentos técnico-científicos e educacionais”.
Assim foi aprovado pelos órgãos citados pelo governador. Um dos três, usado pela polícia, está registrado na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), como de propriedade da Secretaria de Ciência e Tecnologia.
As explicações de Cid Gomes, entretanto, não convenceram o deputado Heitor Ferrer (PDT-CE), que tem denunciado episódios de mau uso do dinheiro público no estado. Incansável opositor do governador, Ferrer enviará ao governo do estado um requerimento de informações para pedir detalhes da compra, valores pagos à empresa alemã e destinação das aeronaves.
Ele diz que, sem licitação, o governo burlou a Lei 8.666, que prevê a participação de empresas e a escolha do menor preço.
— Vivemos no Ceará o império de um governante que se estabelece como um monarca absoluto. Quem garante que não houve superfaturamento e outros desvios? Além dos gastos que podem ter sido superfaturados com essa frota nova, temos um levantamento de gastos com aluguel e frete em jatinhos e helicópteros no governo Cid que chega a R$ 68 milhões. Que governo para voar! Isso é o que eu chamo de governo voador — criticou Heitor Ferrer.
Logo que começou a operar, o aparelho comprado em 2010 e usado pelo governador chamou a atenção da população em uma das aterrissagens no jardim do Palácio da Abolição, em 2011. De uma das janelas vizinhas, o internauta identificado nas redes sociais por Flyerjoker postou uma foto do helicóptero, que chamou atenção pela beleza.
“Cá estou quando me aparece, de frente para a minha varanda, o ‘novo’ Helicóptero do Gov. Do Estado. Pousou no Palácio do Governo, trazendo alguns Pax... Não tinha como não fazer umas fotos do bixo (sic)”, postou Flayerjoker. “Aeronave muito bonita!!!, um prato cheio para os parlamentares da oposição ao governo na AL/CE”, comentou Alexandre Magno, outro internauta: “Luxo purinho!! Investiram bem nosso dinheiro heim!!! “
Heliponto em casa de campo
Vereador petista em Fortaleza, Guilherme Sampaio também disse que os desmandos sob a gestão da “oligarquia dos Ferreira Gomes” no Ceará estão fora de controle, tanto do Tribunal de Contas do Estado (TCE) como na Assembleia Legislativa, que controla com uma maioria esmagadora. Na Assembleia, de 46 deputados, apenas quatro fazem oposição ao governador.
— Os irmãos Cid, Ciro e Ivo Ferreira Gomes agem com uma atitude despótica aqui no Ceará. Criaram uma oligarquia e uma superioridade que os habilita a agir dessa forma — diz o vereador, anunciando que amanhã a executiva do PT cearense deve se reunir para rediscutir a aliança com o PSB no estado.
Ainda por meio de sua assessoria, Cid negou que tenha usado recursos públicos para a construção de um heliponto em sua casa de campo na Serra da Meruoca, perto de Sobral, como denunciaram seus adversários. “Não existe nenhum heliponto custeado por verba pública no referido imóvel”, negou o governador.
Sobre a primeira aeronave, comprada em 2010 pelo Promotec, e que seria de uso exclusivo do governador, a assessoria informou que ela é de propriedade do estado e é utilizada para monitoramento e fiscalização de obras por parte das secretarias de estado. Ocasionalmente, é utilizada para transporte de autoridades, informou a assessoria do governador.
24 de agosto de 2013
MARIA LIMA - O Globo
APRENDIZADO COM JOAQUIM
Ao tempo em que toca adiante a fase final e definitiva, que deverá desaguar no cumprimento das sentenças dos réus, condenados no julgamento do processo do Mensalão – com afinco, rigor necessário e sem titubeios ou meias palavras no trabalho a cumprir, “porque o país e a sociedade têm pressa” – o ministro presidente do STF, Joaquim Barbosa, continua a demonstrar sua enorme e inesgotável capacidade de surpreender.
Nas últimas duas semanas, retomadas as atividades na Suprema Corte do Brasil, em ambiente minado por velhos truques de astúcias judiciais protelatórias, além de novas armadilhas, o ministro Joaquim segue aparentemente inabalável em sua missão de magistrado. E vai além, na invejável conduta política e pessoal, como demonstrado nos mais recentes e duros embates.
Joaquim Barbosa tem suprido com sobras, dentro e fora do Tribunal que ele comanda (com alcance muito além das fronteiras nacionais) duas das carências mais sentidas do Brasil destes tempos temerários que atravessamos: a de firmeza nas atitudes e a de exemplos significativos dos homens públicos.
Com o andar da locomotiva reposto aos trilhos, depois dos trancos e abalos dos últimos dias, estou cada dia mais convencido do relevante papel do presidente do STF no aclaramento de questões essenciais da Justiça e do Jornalismo. Principalmente no enfrentamento das desconfianças e medos recíprocos de um lado e do outro.
Na historicamente complexa e intrincada relação com juízes, nas coberturas jornalísticas de processos judiciais (comecei minha carreira de repórter cobrindo o Fórum Rui Barbosa para o jornal A Tarde, na Bahia), um dos principais ensinamentos do caso Mensalão se dá exatamente nesse ponto. Isso, sem dúvida, a partir do jeito próprio e especial de ser e de atuar do presidente Joaquim.
O julgamento que corre no Supremo, despido dos salamaleques entre pares (jornalistas também), que o ministro Barbosa abomina e não suporta declaradamente, exibe, com todas as nuances e contrastes, uma realidade que durante décadas e décadas se manteve intocada. Nos julgamentos nos fóruns e nas coberturas da imprensa, para regozijo e gozo intelectual das duas partes, em suas respectivas feiras de vaidades.
O presidente do STF mostra com palavras e ações práticas, no seu trabalho no comando (repita-se) do processo Mensalão, aquilo que o experiente jornalista argentino Claudio Andrada, do Clarin, já havia apontado em 1993, no lúcido depoimento no livro “Entre Periodistas”, editado por Teódulo Dominguez.
Um guia de como pensar e fazer jornalismo que não canso de ler, reler e citar, pois a cada dia parece mais atual e verdadeiro em cada uma de suas 228 páginas e mais de uma dezena de entrevistas-depoimentos. Tudo com estilo e arte de quem sabe fazer perguntas e de quem sabe dar boas respostas.
Ali está dito que justiça tem duas partes: a da justiça em si e, logo, a da política: “A política está presente em todas as resoluções tomadas pela justiça, em qualquer nível, seja um juiz da primeira instância ou um juiz da Corte Suprema”, assinala Andrada.
Isso fica muito mais evidente na Corte Suprema. Aí fica delineado o rol político jogado pelo juiz. Política, porque ao ter como função o controle das leis, a aplicação da lei e sua implementação, além do zelo essencial pelo cumprimento da Constituição, o magistrado está cumprindo uma função eminentemente política.
“Além disso, porque às vezes deve sentenciar sobre assuntos que tem fundo político e que não é de maneira alguma uma simples questão judicial”, resume Claudio Andrada em “Entre Periodistas”.
E acerta na mosca, na Argentina ou no Brasil.
O resto é a velha desconfiança e medo recíprocos decorrentes da relação de juízes e jornalistas, não apenas nos seus respectivos e específicos campos do conhecimento, técnicas e práticas profissionais, mas também no campo pessoal.
A sociedade brasileira, com o julgamento do Mensalão, parece entender cada dia melhor esta realidade, à medida que o processo se aproxima do desfecho.
Até lá, vale prestar sempre mais atenção nos ensinamentos que saem da Corte comandada pelo ministro Joaquim, neste julgamento histórico e sem precedentes. Vale para magistrados e jornalistas.
24 de agosto de 2013
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta.
O GOVERNADOR E O JORNAL
Tarso Genro, governador do Rio Grande do Sul
O governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, do PT, é um estudioso da liberdade de imprensa. Nas horas vagas de sua função - que, ao que parece, são muitas -, decidiu pesquisar o maior jornal de seu estado, o Zero Hora, do Grupo RBS.
Como detesta improvisos e amadorismos, quis basear seu estudo em dados científicos. Contratou, então, um instituto especializado nesse tipo de pesquisa – a Foco Opinião e Mercado Ltda., de Santa Catarina – para avaliar se o dito jornal é ou não imparcial nas coberturas que faz de seu governo.
Para tanto – detalhe irrelevante -, serviu-se do tesouro do Estado, de lá sacando a módica quantia de R$ 400 mil, que, claro, não fará falta a ninguém. Não se sabe a que conclusão chegou a tal pesquisa, que não foi – e provavelmente não será – publicada.
O Ministério Público de Contas do Rio Grande do Sul não entendeu - e não gostou: “Não se depreende qual a finalidade e o interesse público, em possível desatendimento às disposições constitucionais, na realização dos gastos”, diz o texto da representação que o procurador-geral Geraldo Da Camino encaminhou ao Tribunal de Contas do Estado.
Os procuradores em geral são chatos. Têm sempre dúvidas e suspeitas e estão sempre procurando alguma coisa errada. Daí o nome da função. No caso, porém, o procurador achou estranho gastar R$ 400 mil numa pesquisa que poderia sair quase de graça.
De fato, para aferir a imparcialidade de um jornal basta lê-lo, o que implica a aquisição do exemplar, na faixa dos R$ 2. Mas – e isso escapa à perspicácia do procurador -, o governador talvez tenha feito a opção mais cara para não contaminar a resposta com suas idiossincrasias e preconceitos.
Possivelmente, já tenha sua resposta pessoal, mas não julgou suficiente: quer ser justo. Por isso, acionou a Secretaria Estadual de Comunicação e Inclusão Digital, para encomendar o serviço. O que são, afinal, R$ 400 mil, sobretudo quando não nos pertencem, não é? O que, afinal, é o dinheiro público?
Há controvérsias: uns acham que, sendo público, não é de ninguém – e, portanto, é de qualquer um; outros, inversamente, acham que, sendo público, é de todos, o que não autoriza ninguém a dele se servir, senão em benefício de todos. O governador não se mete nessas polêmicas. É imparcial.
Cultor da liberdade de imprensa, quer ter certeza das intenções e pontos de vista do maior órgão de imprensa de seu Estado. Não se sabe exatamente para quê, pois, goste ou não, parcial ou não, terá que continuar a conviver com o jornal, cujas atividades estão sob garantias constitucionais.
Mas essa é uma questão posterior.
O governador neste momento se concentra na pesquisa. Quer entendê-la. A Foco Opinião perguntou a 2.400 gaúchos se acham a Zero Hora imparcial. E se for? E se não for? E se der empate? É denso – e tenso - o mistério que cerca o Palácio do Piratini. Ninguém pode falar sobre o assunto.
O governador certamente terá feito reuniões prolongadas com sua equipe para decifrar os enigmas que a pesquisa lhe infunde. Se Zero Hora lhe fosse favorável – e nesse caso a imparcialidade seria bem vinda -, a pesquisa talvez fosse desnecessária. Não sendo – e aí a imparcialidade é inaceitável -, é preciso tomar providências.
A melhor delas, tudo indica, seria governar melhor. Mas não exageremos. Enquanto não houver uma conclusão fundamentada, o melhor é guardar silêncio – e lamentar que iniciativa tão séria, tão comprometida com os fundamentos do Estado democrático de Direito, esteja sendo questionada por míseros R$ 400 mil.
24 de agosto de 2013
Ruy Fabiano é jornalista.
ACORDA, BRASIL! A BOMBA-RELÓGIO DO BOLSA FAMÍLIA
http://www.youtube.com/watch?v=lscZhYdxors&feature=player_detailpage
24 de agosto de 2013
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Num determinado momento do comentário, ouço o seguinte: "este dinheiro está sendo mal empregado. Então eu penso: está sendo mal empregado ou está sendo empregado segundo os interesses do governo, que através deste programa bolsa-família cria um curral eleitoral?
Fica evidente que se trata de um engodo e que o comentarista acerta quando afirma que melhor destino teria esse monte de dinheiro, se fosse investido em educação formal e técnica. E o que aconteceria se este povo fosse educado, capaz de escolher com mais propriedade o seu candidato? Capaz de buscar informações para votar melhor? Capaz de ficar independente do cabresto político da política, local ou federal?
Quem anda pelo interior do nordeste, Ceará, por exemplo, pode observar que o programa esvaziou a procura pelo trabalho. O programa criou um 'bolsão' de ociosos, que apenas esperam o fim do mês, para formar extensas filas nas portas dos bancos, para receber a 'bolsa'...
Não há mais precisão de trabalhar. Nem de fazer o seu roçado. Nem de buscar qualquer remuneração que exija trabalho. Quem tem 'bolsa' não precisa trabalhar...
m.americo
24 de agosto de 2013
NOTA AO PÉ DO TEXTO
Num determinado momento do comentário, ouço o seguinte: "este dinheiro está sendo mal empregado. Então eu penso: está sendo mal empregado ou está sendo empregado segundo os interesses do governo, que através deste programa bolsa-família cria um curral eleitoral?
Fica evidente que se trata de um engodo e que o comentarista acerta quando afirma que melhor destino teria esse monte de dinheiro, se fosse investido em educação formal e técnica. E o que aconteceria se este povo fosse educado, capaz de escolher com mais propriedade o seu candidato? Capaz de buscar informações para votar melhor? Capaz de ficar independente do cabresto político da política, local ou federal?
Quem anda pelo interior do nordeste, Ceará, por exemplo, pode observar que o programa esvaziou a procura pelo trabalho. O programa criou um 'bolsão' de ociosos, que apenas esperam o fim do mês, para formar extensas filas nas portas dos bancos, para receber a 'bolsa'...
Não há mais precisão de trabalhar. Nem de fazer o seu roçado. Nem de buscar qualquer remuneração que exija trabalho. Quem tem 'bolsa' não precisa trabalhar...
m.americo
ENQUANTO A POLÍCIA FEDERAL TEM QUE ECONOMIZAR R$ 275 MILHÕES, ESTILISTA GANHA R$ 2,8 MILHÕES PARA DESFILAR EM PARIS
Graças à perua-mor dos ministérios de Dilma (tem cabimento uma idiota como Marta Suplicy ser ministra da Cultura?), o estilista Pedro Lourenço poderá captar até R$ 2,8 milhões por intermédio da Lei Rouanet para participar da Semana de Moda em Paris.
Assino embaixo o que Reinaldo Azevedo escreveu:
“Esse rapaz é filho de dois badalados estilistas brasileiros: Reinaldo Lourenço e Glória Coelho. Ele tinha, sei lá, um sete anos, e já era considerado o Mozart do mundo fashion tupiniquim.
Que eu saiba, os pais nunca precisaram de dinheiro público para fazer carreira. Esse cara tem, atenção!, VINTE E DOIS ANOS. Nas ideias, no entanto, tem a idade do atraso e da miséria brasileira.
Ele acha que uma das tarefas do governo é socorrer empresas que quebram. Vamos lá: se Pedro Lourenço quebrasse, quantos empregos deixariam de ser gerados no Brasil? Qual seria o prejuízo efetivo dos brasileiros?
A esmagadora maioria não poderia comprar as suas roupas ainda que quisesse. Eu sou contra qualquer lei de incentivo, já escrevi aqui, mesmo para a cultura propriamente. Mas vá lá: qualquer brasileiro pode, desde que tenha o gosto para tanto, ouvir um músico de vanguarda que eventualmente conte com apoio oficial.
Mas quem pode comprar as roupas do janota enfatuado? Quem tem dinheiro para isso:? ATENÇÃO! É LEGÍTIMO QUE OS ENDINHEIRADOS COMPREM O QUE LHES DER NA TELHA! Eu quero saber é por que esse rapaz vai participar de um evento da alta moda em Paris com o dinheiro dos desdentados. A perua enlouqueceu.”
Essa perua tem que ser presa, junto com todos os outros ministros. Se não for por outras coisas que os comprometam mais, por pura canalhice! Não há outro termo para definir o que faz esse governo!
24 de agosto de 2013
Por Ricardo Froes
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