O valor do ingresso é compatível com o perfil dos frequentadores dos estádios? Isso pouco interessa aos que faturam, politicamente inclusive, com obras extraordinárias
Circulou recentemente pela imprensa uma série de artigos defendendo a tese de que os projetos de intervenção urbana devem se fixar, exclusivamente, nos seus resultados práticos e imediatos. De uma maneira geral, esse pensamento reflete um viés ideológico que tem o pragmatismo de resultados como a maneira mais eficaz para atender os interesses políticos de ocasião. Trata-se de uma retórica focada no aqui e agora, que dispensa qualquer compromisso de longo prazo.
No admirável mundo das cidades virtuais, onde quase tudo é possível, é comum a utilização de estratégias publicitárias e de sofisticados recursos visuais para “vender” projetos urbanos das mais variadas espécies. Alguns, no entanto, não resistem a uma avaliação crítica mais apurada. Afinal, do virtual para o real há uma distância significativa. No entanto, quando as dificuldades se resumem aos aspectos de ordem financeira desponta a “parceria público-privada” como solução ideal para viabilizar a realização da obra.
Esse foi o modelo escolhido para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Todavia, para perplexidade geral, foi divulgado que os R$ 2,6 bilhões previstos inicialmente para a organização da Copa já alcançaram — pasmem — o montante de R$ 8,9 bilhões. Contradizendo o que havia sido dito sobre a participação majoritária do capital privado na realização dessas obras, 90% dos recursos empregados estão sendo bancados pela União, pelos estados e pelos municípios, através de empréstimos concedidos generosamente pelo BNDES. Mais uma vez, seguindo o propalado pragmatismo de resultados, privatizaram as obras e estatizaram os seus custos.
Independentemente ou não da relevância desses investimentos, algumas dúvidas pairam no ar em relação ao futuro de tais arenas esportivas. Estariam elas adequadas à precária estrutura regional das competições esportivas brasileiras? O alto valor dos ingressos é compatível com o perfil socioeconômico dos frequentadores dos nossos estádios? Lamentavelmente, essas questões pouco interessam àqueles que estão faturando, inclusive politicamente, com essas obras extraordinárias.
No Rio, inúmeras intervenções urbanas estão sendo feitas para receber a Copa e as Olimpíadas. Para os defensores do pragmatismo de resultados basta divulgar algumas sedutoras apresentações virtuais dos projetos para impressionar a população e consolidar essas realizações no tempo presente. Resta saber se o baixo padrão de qualidade verificado em algumas construções feitas para os Jogos Pan-Americanos de 2007 irá se repetir nas obras para as Olimpíadas. O afundamento do terreno da Vila dos Atletas e a interdição do Engenhão são exemplos que fundamentam essa preocupação.
Esse questionamento não se restringe, exclusivamente, às obras de exceção. Se considerarmos a falta de um modelo consistente de planejamento e a maneira açodada como estão sendo feitas as obras nas cidades brasileiras é de se esperar, para elas, um futuro sombrio. Além do mais, há o fato de que a elaboração dos projetos executivos, de um modo geral, tem sido entregue às empreiteiras responsáveis pela execução das obras. Em outras palavras é o mesmo que dar à raposa a responsabilidade de cuidar das galinhas dos ovos de ouro.
Para não transparecer má vontade, não custa esclarecer que nos Estados Unidos é comum separar essas funções e adotar como prazo para a elaboração dos projetos o mesmo tempo que se destina à execução da obra. No Brasil, contudo, projetar pensando o futuro parece ser uma atitude estranha para certas pessoas que ignoram a história, negam o passado e vivem exclusivamente de resultados que se esgotam no presente. Infelizmente, esse é o triste quadro da atual realidade política brasileira.
Circulou recentemente pela imprensa uma série de artigos defendendo a tese de que os projetos de intervenção urbana devem se fixar, exclusivamente, nos seus resultados práticos e imediatos. De uma maneira geral, esse pensamento reflete um viés ideológico que tem o pragmatismo de resultados como a maneira mais eficaz para atender os interesses políticos de ocasião. Trata-se de uma retórica focada no aqui e agora, que dispensa qualquer compromisso de longo prazo.
No admirável mundo das cidades virtuais, onde quase tudo é possível, é comum a utilização de estratégias publicitárias e de sofisticados recursos visuais para “vender” projetos urbanos das mais variadas espécies. Alguns, no entanto, não resistem a uma avaliação crítica mais apurada. Afinal, do virtual para o real há uma distância significativa. No entanto, quando as dificuldades se resumem aos aspectos de ordem financeira desponta a “parceria público-privada” como solução ideal para viabilizar a realização da obra.
Esse foi o modelo escolhido para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Todavia, para perplexidade geral, foi divulgado que os R$ 2,6 bilhões previstos inicialmente para a organização da Copa já alcançaram — pasmem — o montante de R$ 8,9 bilhões. Contradizendo o que havia sido dito sobre a participação majoritária do capital privado na realização dessas obras, 90% dos recursos empregados estão sendo bancados pela União, pelos estados e pelos municípios, através de empréstimos concedidos generosamente pelo BNDES. Mais uma vez, seguindo o propalado pragmatismo de resultados, privatizaram as obras e estatizaram os seus custos.
Independentemente ou não da relevância desses investimentos, algumas dúvidas pairam no ar em relação ao futuro de tais arenas esportivas. Estariam elas adequadas à precária estrutura regional das competições esportivas brasileiras? O alto valor dos ingressos é compatível com o perfil socioeconômico dos frequentadores dos nossos estádios? Lamentavelmente, essas questões pouco interessam àqueles que estão faturando, inclusive politicamente, com essas obras extraordinárias.
No Rio, inúmeras intervenções urbanas estão sendo feitas para receber a Copa e as Olimpíadas. Para os defensores do pragmatismo de resultados basta divulgar algumas sedutoras apresentações virtuais dos projetos para impressionar a população e consolidar essas realizações no tempo presente. Resta saber se o baixo padrão de qualidade verificado em algumas construções feitas para os Jogos Pan-Americanos de 2007 irá se repetir nas obras para as Olimpíadas. O afundamento do terreno da Vila dos Atletas e a interdição do Engenhão são exemplos que fundamentam essa preocupação.
Esse questionamento não se restringe, exclusivamente, às obras de exceção. Se considerarmos a falta de um modelo consistente de planejamento e a maneira açodada como estão sendo feitas as obras nas cidades brasileiras é de se esperar, para elas, um futuro sombrio. Além do mais, há o fato de que a elaboração dos projetos executivos, de um modo geral, tem sido entregue às empreiteiras responsáveis pela execução das obras. Em outras palavras é o mesmo que dar à raposa a responsabilidade de cuidar das galinhas dos ovos de ouro.
Para não transparecer má vontade, não custa esclarecer que nos Estados Unidos é comum separar essas funções e adotar como prazo para a elaboração dos projetos o mesmo tempo que se destina à execução da obra. No Brasil, contudo, projetar pensando o futuro parece ser uma atitude estranha para certas pessoas que ignoram a história, negam o passado e vivem exclusivamente de resultados que se esgotam no presente. Infelizmente, esse é o triste quadro da atual realidade política brasileira.
15 de fevereiro de 2014
Luiz Fernando Janot, O Globo