"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

AS ESTÁTUAS DE LULA E DILMA, DAQUI A 50 ANOS (OU ANTES...)



Prefeito mandou derrubar estátua de Costa e Silva

Getúlio Vargas e Costa e Silva foram ditadores, entre alguns outros. Chegaram ao poder pela força. Governaram, em certos períodos, discricionariamente. Anularam os poderes Legislativo e Judiciário, um por meio de decretos-leis e da outorga de uma Constituição fascista, outro baixando o AI-5 e seguintes.
Não interromperam, e não há como supor que ignorassem, a tortura praticada contra seus adversários. Ambos utilizaram o comunismo como fantasma para justificar o arbítrio do poder público.

No entanto… No entanto, os dois inscreveram seus nomes na galeria dos presidentes da República empenhados no aprimoramento social e econômico do país, sacrificando suas vidas nesse altar.
Getúlio Vargas, com um tiro no peito para enfrentar e vencer as forças reacionárias do capital internacional e seus esbirros nacionais.
Eles temiam que depois de estabelecer leis sociais de extrema profundidade e de romper os laços do subdesenvolvimento com a implantação da siderurgia e o estímulo à produção industrial, no primeiro período, Getúlio seguisse adiante, no segundo.

Procuraram então imobilizá-lo para evitar que obtivesse sucesso com a criação da Petrobras, da Vale do Rio Doce, do BNDE e da Eletrobras.
Mais ainda, queriam impedir que aprofundasse as prerrogativas trabalhistas dobrando o valor do salário mínimo, estabelecendo a participação dos empregados no lucro das empresas, o voto do analfabeto, a desapropriação de terras improdutivas, o décimo-terceiro salário e outras iniciativas.

Foi trágica a reação do velho presidente para não ser humilhado com a segunda deposição. Deixou uma das mais contundentes denúncias da conspiração contra o Brasil: a Carta-Testamento. Saiu da vida para entrar na História, respondendo com sua vitória aos que o imaginavam derrotado. Ao ódio, retrucou com o perdão. O país convulsionou-se, os trabalhadores foram para a rua, arrependidos de não o haver respaldado enquanto vivia e resistia.

De Costa e Silva será bom não esquecer a Transamazônica, a ponte Rio-Niterói, o financiamento dos metrôs do Rio e de São Paulo.
Prestigiou a indústria nacional e interrompeu a política de desnacionalização imposta pelo antecessor. Dedicou-se à recuperação da malha rodoviária, à estabilidade econômica e à interrupção da política ditada pelos Estados Unidos, com a recusa do envio de tropas brasileiras para o Vietnã.
Transformou o sistema de ensino público e incentivou a pesquisa científica.

No final de sua vida, também trágico, insurgiu-se contra os radicais que o haviam levado a assinar o AI-5, decidindo acabar com a exceção e o arbítrio. Morreu nessa tentativa, resistindo aos generais que em seguida implantaram a mais cruel das ditaduras daquele ciclo.
Semanas após o derrame cerebral que o acometeu, já lúcido, mas sem voz e com poucos movimentos, ouviu de um auxiliar a pergunta sobre o que pretendia quando, antes de a crise se consumar, pediu papel e caneta, tentando assinar o nome, sem conseguir.

Por gestos, negou fosse para pagar mais uma prestação do apartamento que estava comprando. Também negou que era para apostar nas corridas de cavalo, que apreciava.
A pergunta veio certeira: “queria assinar o fim do AI-5 e a reabertura do Congresso, prevista para dali a uma semana?”
Confirmou a intenção e entrou em pranto convulsivo. Morreu pouco depois.

MOCINHOS E BANDIDOS

Já se escreveu não estar o mundo dividido entre mocinhos e bandidos. Todos temos características de uns e de outros, com exceção do papa Francisco. O tempo passa e a poeira vai assentando.

Todo esse longo preâmbulo se faz a propósito de duas aberrações, separadas por mais de cinquenta anos. Nas horas que antecederam a morte de Getúlio Vargas, seus adversários davam-no como desmoralizado e já deposto. Assim, no Rio, grupos de alienados pintaram cartazes de papelão onde se lia “Avenida Castro Alves”, que colaram sobre as placas da Avenida Presidente Vargas.

Pois agora um energúmeno prefeito de Taquari, terra natal de Costa e Silva, mandou retirar a estátua em sua homenagem, numa das praças locais. Tomara que a reponham logo, assim como foram arrancados os cartazes que pretendiam mudar o nome da Avenida Presidente Vargas. Até porque, se a moda pegar, não podemos imaginar o que farão com as estátuas do Lula e de Dilma, daqui a cinquenta anos…

14 de janeiro de 2015
Carlos Chagas

REFORMA AGRÁRIA DE DILMA FRACASSA E PERDE PARA LULA E FHC




A presidente Dilma Rousseff (PT) vive um dilema no campo. No seu primeiro mandato, o assentamento de famílias por meio da reforma agrária foi menor do que nas gestões dos ex-presidentes Lula (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). E, além do número desfavorável, a presidente terá que conciliar as opiniões contrárias entre os novos ministros da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), e do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), para a solução do problema.

Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) mostram que o governo Dilma tem o pior desempenho no quesito reforma agrária nos últimos 20 anos. De 2011 a 2013, 75.335 famílias foram assentadas, o que confere uma média de 25.112 por ano. No governo de seu antecessor, o ex-presidente Lula, 614.088 famílias foram beneficiadas, uma média de 76.761 por ano.

Já FHC, que também ficou oito anos no Planalto, supera, e muito, a presidente Dilma. O tucano contemplou 540.704 famílias durante seus dois mandatos, ou seja, 67.588 assentamentos a cada 12 meses. Se o modelo de gestão voltado para o agronegócio de Kátia Abreu prevalecer, Dilma pode ser a presidente que menos fez a reforma agrária.

REFORMA PONTUAL?

Em entrevista ao jornal “Folha de S.Paulo”, Kátia disse que a reforma agrária tem que ser pontual” e completou: “Latifúndio não existe mais”. A ministra e presidente licenciada da Confederação Nacional da Agricultura ignorou estudo do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) que mostra o contrário.
O último levantamento agrário realizado pelo órgão, em 2006, demonstra que existem no Brasil 5,1 milhões de estabelecimentos agrários, que totalizam 329,9 milhões de hectares (algo como o mesmo número em campos de futebol).

Deste total, 48% das propriedades têm menos de dez hectares e correspondem à área de 7,7 milhões de hectares. Por outro lado, 150 mil estabelecimentos concentram 98,4 milhões de hectares, o que compreende quase 30% do território agropecuário brasileiro.

AGRICULTURA FAMILIAR

O estudo do IBGE ainda mostra que 75% dos 16,6 milhões de trabalhadores rurais no país desempenham suas atividades na agricultura familiar. Dessa forma, a maior parte dos empregos no campo não seriam nas grandes propriedades, mas nas pequenas. A porção de terra usada para a agricultura familiar, 80 milhões de hectares, representa 24% da área agropecuária total do Brasil.

Talvez por conhecer esses números, o novo ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), um dia após a fala polêmica de Kátia, disparou: “Não basta derrubar as cercas do latifúndio. Ignorar ou negar a permanência da desigualdade e da injustiça é uma forma de perpetuá-las”.

Patrus negou conflito com Kátia e prometeu diálogo. E isso será necessário, já que qualquer mudança na política de reforma agrária depende do esforço conjunto dos dois.

14 de janeiro de 2015

AVACALHANDO OS NOVOS MINISTROS ECONÔMICOS

Josias de Souza

Para assumir o segundo mandato, Dilma interrompeu os banhos de Sol na praia que adorna a base naval de Aratu, na Bahia. No discurso de posse, queimou o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Reempossada, Dilma voltou à praia. Lendo os jornais, abespinhou-se.
E tostou o novo ministro do Planejamento, ordenando-lhe que divulgasse um autodesmentido.
 
 
DCR
 
De duas, uma: ou o sol da Bahia derreteu a memória de Dilma ou Levy e Barbosa entraram numa fria. A presidente faria um bem a si mesma se chamasse seus dois auxiliares econômicos para uma nova conversa.
Não se sabe o que disse a ambos quando os convenceu a assumir o abacaxi que herdou para si mesma. Mas já está claro que, expressando-se no mesmo idioma, os três se desentenderam.
 
Dilma queimou Levy no trecho do discurso inaugural em que virou a página da campanha presidencial. Para trás. A certa altura, ela disse: “As mudanças que o país espera para os próximos quatro anos dependem muito da estabilidade e da credibilidade da economia.” Por um instante, teve-se a impressão de que a oradora falaria sério. Mas ela retornou ao palanque na frase seguinte:
 
“Isso, para nós todos, não é novidade. Sempre orientei minhas ações pela convicção sobre o valor da estabilidade econômica, da centralidade do controle da inflação e do imperativo da disciplina fiscal, e a necessidade de conquistar e merecer a confiança dos trabalhadores e dos empresários.
Mesmo em meio a um ambiente internacional de extrema instabilidade e incerteza econômica, o respeito a esses fundamentos econômicos nos permitiu colher resultados positivos. Em todos os anos do meu primeiro mandato, a inflação permaneceu abaixo do teto da meta e assim vai continuar.”
 
Quem assistiu deve ter perguntado aos seus botões, que não responderam porque também não entenderam nada: “Se a economia encontra-se estabilizada, se os cofres públicos estão em ordem, se a inflação não fugiu ao controle e se os resultados são tão positivos, por que diabos Dilma mandou ao olho da rua o companheiro Guido Mantega?”
 
“Mais que ninguém sei que o Brasil precisa voltar a crescer”, disse Dilma noutro trecho. “Os primeiros passos desta caminhada passam por um ajuste nas contas públicas. […] Faremos isso com o menor sacrifício possível para a população, em especial para os mais necessitados.
Reafirmo meu profundo compromisso com a manutenção de todos os direitos trabalhistas e previdenciários.” Esse palavrório refrigerado não combina com o compromisso árido assumido por Levy, sob refletores, de entregar um superávit de 1,2% do PIB já em 2015. Em reais, isso significa algo como R$ 100 bilhões.
Contra esse pano de fundo, o “menor sacrifício possível” se parece muito com o sorvo de um gigante faminto.
 
Um dia depois da posse da presidente, assumiram seus postos alguns dos 39 ministros. Entre eles Nelson Barbosa. Já na pele de titular do Planejamento, ele deu uma entrevista. Indagado sobre a fórmula de reajuste do salário mínimo, sapecou: “Vamos propor uma nova regra para 2016 a 2019 ao Congresso nos próximos meses. Continuará a haver aumento real do salário mínimo”.
 
Levada às manchetes, a frase alcançou Dilma na praia. Irritada, ela tocou o telefone para Aloizio Mercadante, seu economista de cabeceira. Depois, ordenou a Barbosa que se imolasse em praça pública, desmentindo-se por escrito. Foi obedecida. Em sua nota, Barbosa foi curto e fino. Escreveu que “a proposta de valorização do salário mínimo, a partir de 2016, seguirá a regra de reajuste atualmente vigente.”
 
A regra vigente prevê que o mínimo sobe conforme a inflação do ano anterior, acrescida da variação do PIB de dois anos antes. Essa fórmula só vale até este ano de 2015. Para renová-la ou modificá-la, o governo terá de enviar um projeto ao Congresso. Barbosa apenas antecipou uma mudança que lhe parecia decidida.
 
Auxiliares de Dilma dizem que, de fato, o tema vinha sendo debatido internamente. Mas a presidente avaliou que o novo chefe do Planejamento atravessou o carro na frente dos bois. Nessa versão, Dilma só pretendia levar a novidade à vitrine no segundo semestre. Agora, babau.
 
Uma coisa é preciso dizer sobre Dilma: ela cada vez se dá melhor com ela mesma. Não fosse pela insistência de Lula, não teria dado o cavalo-de-pau econômico, sequestrando a agenda de ajustes do adversário tucano. Executada a guinada, a inadequação é cada vez mais evidente.
Dilma com Levy e Cia. a tiracolo vai passando a impressão de uma presidente que, no vaivém entre a praia baiana e o carpete brasiliense, vestiu o maiô de banho por cima do conjunto de saia e blusão que usou na posse.
 
No fundo, o modelito dos sonhos de Dilma é mesmo Guido Mantega, um ministro prêt-à-porter, pronto para ser usado. Uma evidência de que, como na moda, os gestores econômicos vão e vêm, mudam sempre; o ridículo é que é permanente.
 
Resta saber até que ponto Levy e Barbosa estão dispostos a aceitar a avacalhação.
 
14 de janeiro de 2015
Josias de Souza

MINISTRO DO ESPORTE ALUGA POR R$ 85 MIL COMPUTADORES QUE CUSTAM R$ 15 MIL

 

Ao assumir a pasta do Esporte, o pastor George Hilton (PRB-MG) reconheceu que entende pouco do ramo esportivo. Talvez não entenda muito também da gestão de verbas públicas.
 
Como deputado federal, utilizou parte da chamada verba indenizatória do seu gabinete para alugar um par de computadores do tipo iMac —21,5 e 27 polegadas, respectivamente.
 
Entre junho de 2013 e dezembro de 2014, pagou pelo aluguel R$ 84.996.
Numa boa casa de equipamentos eletrônicos, as duas máquinas podem ser compradas por menos de R$ 15 mil.
 
O repórter Gabriel Castro conta que o equipamento alugado pelo gabinete do agora ministro pertence à empresa Ideas Movies and Solutions, especializada na produção de vídeos. Por uma dessas coincidências que intrigam, trata-se da mesma logomarca que prestou serviços à malograda campanha de Hilton à prefeitura da cidade mineira de Contagem, em 2012.
 
Chama-se Alan Kardec Teixeira o dono da Ideas. Ele é ligado à Igreja Universal. A mesma organização religiosa à qual o novo ministro serve como pastor -mais uma santa coincidência!
 
Ouvido, o gabinete de George Hilton confirmou o aluguel dos dois computadores. Sustentou que o deputado preferiu alugá-los porque a verba de gabinete não poderia ser usada para comprar equipamentos do gênero. Quem quiser acreditar terá de responder: mas precisava pagar tão caro pelo aluguel?
 
14 de janeiro de 2015
Josias de Souza

ALHEIA AOS ESCÂNDALOS, DILMA LOTEIA O 2º. ESCALÃO

 

Pepe Vargas é o 'filtro' do segundo escalão

Em meio aos desdobramentos da Operação Lava Jato, Dilma Rousseff decidiu preencher os cargos do segundo escalão da máquina federal guiando-se pelo mesmo espírito de privatização que levou a Petrobras ao balcão. Autorizado pela presidente, o ministro Pepe Vargas (Relações Institucionais da Presidência) pede aos partidos que participam do empreendimento governista que lhe encaminhem sugestões de nomes para as poltronas mais cobiçadas. Exatamente como fizeram, por exemplo, PP, PT e PMDB no rateio de diretorias da maior estatal brasileira.

As legendas aquinhoadas com ministérios desejavam ocupar os postos das respectivas pastas de cabo a rabo. Dilma mandou avisar que não dará ministério de “porteira fechada” a nenhum partido. Há dois dias, numa conversa com jornalistas, o negociador Pepe enumerou os critérios que, segundo diz, serão observados nas nomeações: competência, capacidade de gestão e probidade. Dizia-se o mesmo na época em que, sob Lula, politizaram-se as nomeações na Petrobras.

O engenheiro Paulo Roberto Costa, hoje um delator incômodo, preenchia todos esses requisitos quando Lula permitiu que o PP se apoderasse da alma dele para fazer negócios na Petrobras. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato, o próprio Paulo Roberto resumiu, em 8 de outubro, a metamorfose que o transformou de funcionário exemplar em corrupto confesso:

“Eu trabalhei na Petrobras por 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos técnicos, gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos. Se houve erro —e houve, não é?— foi a partir da minha entrada na diretoria por envolvimento com grupos políticos, que usam a oração de São Francisco, que é dando que se recebe. Eles dizem muito isso. Então, esse envolvimento político, […] que tinha em todas as diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia.”

O que Paulo Roberto disse, com outras palavras, foi que os apadrinhados dos partidos políticos devem obediência aos seus padrinhos, não aos contribuintes que lhes pagam o salário. O mesmo fenômeno produziu escândalos em série no conturbado início do primeiro mandato de Dilma, forçando-a a se livrar de sete ministros em 2011. A despeito de tudo, ela repete a fórmula surrada. Planta agora os escândalos que irá colher até 2018 nas reparticões, nas autarquias e nas estatais vinculadas a cada pasta. Depois que estourarem novos escândalos, Dilma repetirá o mantra do “eu não sabia'', defenderá a realizacão de uma reforma política e proporá um pacto nacional contra a corrupção.

14 de janeiro de 2015
Josias de Souza

TRUQUE CONHECIDO

Oposicionista alerta para manobras dos envolvidos no escândalo do Petrolão para ocultar bens

rubens_bueno_24Não há “media training” que funcione quando há uma investigação séria como a desencadeada pela Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, em março de 2014. A opinião é do líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR).

O parlamentar refere-se à prisão do ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, noticiada no UCHO.INFO ocorrida nos primeiros minutos desta quarta-feira (14), no Rio de Janeiro. Em maio do ano passado, o ex-diretor chegou a ser submetido pelo governo a um treinamento de comunicação, dias antes do seu depoimento à CPMI da Petrobras.

Cerveró foi preso no Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão, no Rio de Janeiro), ao desembarcar de um voo que vinha de Londres, acusado de ter feito movimentações financeiras suspeitas após ser denunciado pelo Ministério Público Federal. O ex-diretor da estatal responde a uma ação penal pelas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.
Entre estas movimentações, o MPF aponta haver indícios de que Cerveró continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, assim como transferência de bens (valores e imóveis) para familiares.

“Esta dissimulação é um modelo que envolvidos neste escândalo têm adotado para tentar despistar as autoridades sobre o tamanho real da fortuna que fizeram dilapidando a Petrobras. E outro detalhe: a estatal gastou um dinheirão com o Cerveró para treiná-lo em CPIs, mas isso não funciona nos tribunais”, comentou Rubens Bueno.
Foster também transferiu imóveis
A atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, também teria recorrido à doação de imóveis a parentes após estourar o escândalo sobre a compra da refinaria de Pasadena, no Texas. A informação foi divulgada em agosto de 2014 pelo jornal “O Globo”. De acordo com o diário carioca, os bens transferidos estão localizados no estado do Rio de Janeiro.

O líder do PPS acredita que a confiança na Petrobras só será retomada com o afastamento da atual cúpula da empresa, que durante anos a fio funcionou como palco para o maior escândalo de corrupção da história nacional.
O Petrolão passou a funcionar com mais ênfase após a eclosão do fatídico Mensalão do PT, como forma de manter a chamada base de apoio ao então presidente Luiz Inácio da Silva. Diante da essência criminosa que domina a maioria do Parlamento nacional, o esquema avançou no governo de Dilma Rousseff, que fechou os olhos para o esquema.

“O que a presidente da República tem de fazer é afastar toda a diretoria e adotar medidas efetivas para responder aos brasileiros e ao mundo que estão assistindo a um derretimento da Petrobras promovido pelas mãos de bandidos”, acrescentou o deputado.

14 de janeiro de 2015
ucho.info

LULA CHIQUE

 

carlos_brickmann_16De acordo com a versão da máquina oficial, Marta Suplicy detona o PT por se sentir sem espaço para disputar a Prefeitura de São Paulo. Põe divergências pessoais acima dos interesses partidários. Aliás, dizem, nunca foi muito petista. E o que busca é um pretexto para sair do PT sem perder o mandato de senadora.

Pode ser – desde que não se conheça Marta Suplicy. É petista de raiz, das que adoram Lula. Analisemos o que disse: que quis Lula candidato no lugar de Dilma, que a equipe econômica liderada por Guido Mantega não estava funcionando, que Aloizio Mercadante quer ser candidato à Presidência em 2018 (e apenas finge apoiar Lula, enquanto articula seu próprio nome).

Deve ser coincidência – mas há algum tempo pessoas que conversam com Lula atribuem a ele críticas duras a Mercadante e a Mantega, e queixas de que Dilma não o ouviu quando recomendou a substituição do ministro da Fazenda. Marta diz que Lula a estimulou a integrar o movimento Volta, Lula, para fazê-lo candidato no lugar de Dilma; e depois recuou, talvez por achar que a troca de candidato seria ruim para ambos.

E que é que diz Lula? Nada – três dias depois do tiroteio de Marta, mantém-se no mais retumbante silêncio. O Instituto Lula diz, em tímida nota, que os dois se encontraram pela última vez em agosto – ou seja, dois meses antes da eleição, a tempo de discutir uma eventual troca de candidato.
O tema foi discutido? A nota do Instituto Lula segue a diretriz atual do chefe supremo: o silêncio é de ouro.

A pergunta que não quer calar: não estará Lula falando pela voz de Marta?
Bombardeio
A máquina de destruição de reputações que o PT montou na Internet já está em ação contra Marta Suplicy. Juca Ferreira, o ministro da Cultura favorito de Pablo Capilé, aquele ativista do Fora do Eixo, disse que as críticas de Marta a ele foram como se tivesse levado uma bolsada de Louis Vuitton na cabeça.

O requinte do guarda-roupa de Marta sempre levantou alguma inveja no partido, mas agora o ataque é direto. Falta acusá-la de servir boa bebida em suas festas. Mas Marta gosta de briga. Atacá-la pode até deixá-la mais animada do que já está.
Dura na queda
Este colunista conhece Marta há quase 40 anos e, embora nunca tenha votado nela, sempre a apreciou como gente e a respeitou pela franqueza.
Marta é combativa, guerreira, arrojada; não tem medo de cara feia; sua gestão como prefeita, embora marcada pelos aumentos de impostos (que levaram ao apelido Martaxa), teve pontos positivos, como os CEUs, escolas de tempo integral de ótima qualidade, e o bilhete único dos ônibus. É do tempo em os petistas enfrentavam com dureza os políticos que detestavam, e que hoje fazem parte do Governo Dilma.

Fale ou não em nome de Lula, Marta não deve ser subestimada. E, quando diz que Aloízio Mercadante é arrogante e prepotente, saiba: se ela acha, é.
Pátria Educadora
Sim, Dilma disse num dia que o lema de seu Governo seria Brasil, Pátria Educadora. E, na mesma semana, houve cortes no Orçamento federal. Os maiores cortes atingiram o Ministério da Educação. Mas a Pátria Educadora não é apenas a Educação: é também a Cultura. E o Museu Nacional, com 196 anos de história, maior instituição latino-americana de Antropologia e História Natural, fechou as portas ao público.

Motivo: há três meses a Universidade Federal do Rio de Janeiro não paga as empresas terceirizadas de limpeza e segurança. Os serviços foram paralisados e o museu não podia mesmo receber visitantes. Por que a UFRJ, subordinada ao Ministério da Educação, parou de pagar? Porque o Governo Federal parou de repassar as verbas para esses serviços.
O salário de dezembro dos funcionários não saiu, nem o vale-transporte. E os R$ 4 milhões que prometeram liberar nesta semana não resolvem o problema.
É a Pátria Educadora em ação.
Futebol enlouquecido
Os clubes e a Confederação Brasileira de Futebol são entidades privadas, certo? Há controvérsias: quando a situação financeira dos clubes faz com que suas dívidas fiscais exijam sucessivas providências legislativas para que não fechem, é hora de patrulhar como usam o dinheiro. Há coisas estranhas no futebol brasileiro.

O Corinthians contratou o volante Cristian, encostado num clube turco, e vai-lhe pagar mais de R$ 400 mil mensais. Cristian é bom? Nunca foi ótimo, mas ao deixar o Brasil, há cinco anos, era bom jogador. Passados seis anos, sabendo-se que num futebol pouco competitivo não tinha lugar, estará bem? Vale o gasto?

O Palmeiras contratou Dudu, jogador de 23 anos que fez certo sucesso no Grêmio. Dudu estava no Dínamo de Kiev, que também não é clube de primeira linha. Não despertou o interesse de clubes europeus. É jovem, veloz – por que é tão fácil trazê-lo? Talvez por ter feito apenas oito gols, como atacante, em 52 jogos pelo Grêmio? Vale R$ 19 milhões pelo passe, mais uns R$ 400 mil mensais?
Quem paga?
OK, se os clubes são privados, que cada um pague quanto puder para contratar jogadores adequados. Um jogador que leve a vitórias, que atraia público, merece ganhar muito. Mas isso vale desde que o dinheiro seja do clube, que o clube esteja em dia com seus impostos. Sem que esteja em dia, quem paga a conta?

14 de janeiro de 2015
Carlos Brickmann é jornalista e consultor de comunicação. Diretor da Brickmann & Associados, foi colunista, editor-chefe e editor responsável da Folha da Tarde; diretor de telejornalismo da Rede Bandeirantes; repórter especial, editor de Economia, editor de Internacional da Folha de S. Paulo; secretário de Redação e editor da Revista Visão; repórter
 

TRIBUNA

Hackers tiram a Tribuna do ar para esconder a briga de Dilma e Lula   



Está ficando cada vez mais emocionante. A Tribuna da Internet deve ser o blog mais atacado por hackers neste país. Pode haver muitos motivos, é claro, em função da diversidade dos assuntos abordados. Pelas matérias postadas nos últimos dias, o mais provável é que os ataques sejam represálias a dois assuntos exclusivos: as denúncias sobre a concessão ilegal dada à TV Globo de São Paulo no regime militar e as notícias exclusivas sobre o rompimento entre Lula e Dilma Rousseff.

Mas a evolução da série de investidas piratas revela que existe uma preferência desses hackers. Nosso blog tem sido sistematicamente atacado sempre que divulga, com absoluta exclusividade, notícias sobre os gravíssimos desentendimentos entre o ex-presidente Lula e sua sucessora Dilma Rousseff, que agora passaram a ser de conhecimento público depois da explosiva entrevista da senadora Marta Suplicy ao jornal Estadão.
As matérias sobre a TV Globo não têm coincidido com os ataques, mostrando que os filhos de Roberto Marinho são muito mais democratas do que o PT.

BRIGA DE LULA E DILMA
O que nós temos publicado (e os hackers fazem tanta questão de tentar esconder) é que essa briga já é antiga e começou no final do segundo ano da gestão de Dilma, quando ela passou a se julgar capaz de conduzir o governo sozinha, sem se subordinar a Lula.
Com assim, mas depois que houve a Operação Porto Seguro, com a Polícia Federal provando o envolvimento de Rosemary Noronha em atos de corrupção, Dilma aproveitou a oportunidade para enfrentar Lula e evitar a pré-candidatura dele, que crescia avassaladoramente dentro do PT.

Era uma espécie de repetição do caso Erenice Guerra, que galgou posições no governo e chegou a ministra simplesmente por ser ligadíssima a Dilma, digamos assim.
Como todos sabem, Erenice transformou a Casa Civil num balcão de negócios de sua família, mas, em respeito a Dilma, o então presidente Lula não fez a menor carga contra Erenice, que deixou o Ministério sem receber qualquer punição, podendo inclusive ser novamente nomeada para o governo, se Dilma quiser.
Mas não é preciso, porque Erenice Guerra imitou Dirceu, Palocci, Pimentel e Delúbio, abrindo também uma consultoria, que hoje é a mais próspera de Brasília, onde se tornou uma especialista em tráfico de influência no governo federal.

O GRANDE AMOR DE LULA
No episódio envolvendo Rosemary Noronha, que não é um simples caso, mas o grande amor da vida de Lula, Dilma agiu implacavelmente. Sabia que Lula e Rose vivem um tórrido romance há mais de 20 anos, desde quando se conheceram no Sindicato dos Bancários de São Paulo, onde ela era secretária de João Vaccari Neto, que hoje é Tesoureiro do PT e está envolvido nos escândalos da Petrobras.

Lula esperava que Dilma fizesse como ele e simplesmente deixasse o caso esfriar, mas ocorreu exatamente o contrário. A presidente mandou a Controladoria-Geral da União e a Comissão de Ética do Planalto devassarem as atividades de Rose e ordenou que o Planalto “vazasse” pesadas notícias contra Rose aos repórteres Vinicius Sassine e Robson Bonin, que publicaram matérias exclusivas no Globo e na Veja, respectivamente.

CARTÃO CORPORATIVO DE ROSE
No ano passado, quando o movimento “Volta, Lula” ganho força e Dilma ficou isolada no PT, ela então jogou a última cartada. Ameaçou Lula com a divulgação dos abusivos gastos que Rose fez no cartão corporativo que recebera ao se tornar Chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo. Acuado, Lula então desistiu da pré-candidatura e Dilma foi confirmada na Convenção do PT.

São essas informações, exclusivas e absolutamente verdadeiras, que os hackers não querem ver publicadas. E tiram nosso Blog do ar com uma insistência que já se tornou monótona. Sonham em nos calar, como se isso fosse possível. Bem, todos sabem que sonhar ainda não é proibido. Mas enquanto não conseguem aprovar no Congresso a tal regulação da mídia, para transformar em realidade o sonho de cercear a liberdade de expressão, eles vão continuar nos aturando.

Temos outras notícias muito interessantes sobre Rosemary Noronha, Lula e Dilma, sempre com total exclusividade. Depois a gente conta, como dizia nosso genial amigo Maneco Müller, criador da crônica social brasileira, quando usava o pseudônimo de Jacinto de Thormes.

14 de janeiro de 2015
Carlos Newton

“A questão não é o Islã, é a Europa”, diz sociólogo francês   



A questão urgente, nesses dias críticos em Paris, não é o Islã. Para o sociólogo francês Raphael Liogier, diretor de um observatório de religião e professor de estudos políticos em Aix-en-Provence, o problema é a Europa.
“O desafio real não são os muçulmanos. É o fato de estarmos em uma sociedade em que existe um orgulho narcisista de quem era o centro do mundo e perdeu a influência. Isso levou a debates de identidade na Europa. Essas pessoas se dizem os ‘franceses reais’, os ‘alemães reais’, os ‘italianos reais’ e se sentem ameaçados pelo islã. ‘Multicultural’ virou uma palavra ruim.”
O debate de identidade e a atitude da sociedade, para Liogier, levam ao isolamento de comunidades e à frustração de parte da população. Marginalizados, jovens recorrem ao fanatismo religioso. O fato de isso ser feito em termos islâmicos não significa que haja relação com o Islã.
GUERRA CULTURAL
Há um sentimento de guerra cultural e pessoas como os irmãos Kouachi, diz Liogier, querem vingar-se da sociedade aderindo ao que parece ser o inimigo: o Islã.
“Não adianta eliminar o Islã para combater o extremismo. Esses jovens não vão à mesquita, eles vão até a internet”, afirma o sociólogo.
A liderança religiosa muçulmana condenou em Paris e ao redor do mundo os atentados ao “Charlie Hebdo” e ao mercado judaico e, nos discursos da reza tradicional de sexta-feira, denunciou o extremismo islâmico.
Especialistas apontam que o fato de não se converterem por meio da convivência em mesquitas faz com que radicais não tenham uma formação complexa na religião e, assim, adotem uma visão extrema que não corresponde à maioria dos demais fiéis.
“Os terroristas foram ao islã porque queriam ser jihadistas. Não viraram jihadistas porque eram muçulmanos”, afirma o sociólogo.
QUISERAM SER HERÓIS
A radicalização ocorre, porém, em diferentes partes da sociedade. Também na direita europeia, diz Liogier, citando o terrorista Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas em Oslo, em 2011.
São pessoas, afirma o sociólogo, que creem em uma narrativa de “guerra entre civilizações”. “Os terroristas que atacaram o ‘Charlie Hebdo’ acreditavam que os jornalistas eram os inimigos. Quiseram ser heróis”, diz.

“Como muçulmano, me choquei com as caricaturas do jornal”   



Conhecido por suas reportagens ousadas e “politicamente incorretas”, o “Charlie” estava no centro de polêmicas na França havia anos. Alguns anos atrás, cartunistas visados no ataque publicaram caricaturas do profeta Maomé, desencadeando uma onda de revolta na opinião pública e entre os franceses muçulmanos.
De acordo com o Islã ortodoxo, qualquer representação divina ou do profeta é formalmente proibida. Mas, além do caráter sacrílego da representação do profeta, o que provocou a cólera dos muçulmanos foram as simplificações e ideias equivocadas que, segundo eles, as caricaturas poderiam difundir: um Islã violento e misógino, conjugado à ridicularização da figura do profeta, mostrado às vezes em cadeira de rodas, às vezes deitado nu.
Como francês muçulmano, fiquei chocado com essas imagens. Além de chocarem minha consciência, elas contribuíram para intensificar a estigmatização dos muçulmanos na França, num período em que os atos de islamofobia não paravam de aumentar.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Lamentavelmente, a chantagem usando o argumento da “liberdade de expressão” reforçou uma ideia preconcebida que vê os muçulmanos como contrários às liberdades. O ataque de quarta, rapidamente apresentado como obra de islâmicos, corre o risco de reforçar os discursos mais extremistas em relação aos muçulmanos na França.
É exatamente esse o receio compartilhado por muitos muçulmanos franceses.
SOLIDARIEDADE
A sociedade em seu conjunto exprimiu sua solidariedade e sua compaixão pelas vítimas e suas famílias. Os muçulmanos não fugiram à regra. Contudo, eles, em sua grande maioria, se negam a ser associados de qualquer maneira a esse ataque e rejeitam a ideia de que precisem pedir desculpas por ele.
Nosso livro sagrado, o Alcorão, nos ensina que “quem mata um homem mata toda a humanidade”. Hoje, com essa matança, os muçulmanos e sua religião também foram atacados.
ABDELGHANI ABDELMALEK, 27, é franco-argelino, muçulmano e vive em Paris. É mestre em comércio internacional pela Escola de Comércio Inseec Paris

Felicidade, artigo de luxo?


 
Se alguém, no meio de uma conversa um pouco mais séria e madura, te perguntasse o que significa felicidade, qual seria sua resposta sincera e imediata? Não vale frase feita, de livro de auto-ajuda, nem usar a banalidade que assola a humanidade.

Insisto: o que te faz sentir feliz no dia a dia? Seria seu casamento, tendo a dádiva do seu cônjuge ser pessoa que estimula uma sensação de afinidade, prazer, companheirismo, completude? Seriam os filhos, inspiração para enfrentar as agruras do trabalho, da luta diária para trazer a eles a recompensa, partilhar as alegrias, transmitir os conhecimentos e valores que permita que um dia eles deem seus voos-solo, num ninho de afeto, respeito?

 Seria o trabalho, onde as habilidades e dons, ou a gratificação material, a satisfação de sair de casa a cada dia e enfrentar os sagrados desafios profissionais, e voltar ao lar cheio de amor para dar?

Bem, antes de mais nada, que tal tentar traduzir essa palavra que traz no seu âmago um sentimento tão nobre e elevado, que transcende áreas afetivas, religiosas, sociais e econômicas. Afinal, felicidade é um estado de espírito, uma sensação de plenitude, a absoluta ausência de estímulos negativos, como ansiedade, medo, culpa, raiva, angústia, ciúme, insegurança entre outros.

Tudo flui, o tempo, o espaço, a vida. A felicidade é resultante da alquimia que mescla relaxamento, desapego, satisfação, paz, serenidade, numa mistura sagrada, uma dádiva que, de tão sublime, se desfaz quando o alarme das coisas mundanas dispara uma preocupação ou um sofrimento irreal e invasivo.
Então, como um despertar de um sonho maravilhoso, aquela sensação paradisíaca se desmancha e a magia nos abandona.

FALSA SATISFAÇÃO
Num mundo acelerado, de novidades que duram dias, onde o consumismo é como droga, que traz uma falsa satisfação imediata e ilusória seguida de uma ressaca e vazio que levam à crescente abstinência, banalizando a sexualidade, a tecnologia, a materialidade compensatória às frustrações e angústia que nos invade a cada dia, me pergunto se felicidade estaria em extinção ou sendo mascarada por sensações de alegrias artificiais, paixões doentias e fugazes, euforias pueris embaladas pelo álcool, droga, dinheiro mal ganho, poder passageiro ou efêmero.
Vitórias ilusórias, momentos de fama fugazes.
Invadidos e violados por multimeios, onde discrição e intimidade perdem o sentido, como relaxar? Como buscar a simplicidade, humildade, verdade que são pré-requisitos na busca da felicidade?

Vale dizer que não depender de pessoas ou coisas externas, na busca de ser feliz, já é um bom caminho. Assim como altruísmo e empatia ajudam a partilhar a felicidade.
Pois banal dizer “feliz ano novo!” Melhor, talvez, o sincero desejo para os que amamos possam ser invadidos pela sabedoria, desapego, simplicidade e, principalmente, paz de espírito!

(transcrito de O Tempo)

14 de janeiro de 2015
Eduardo Aquino

Atentado em Paris, manipulação e islamofobia   



Nada justifica a barbárie cometida em Paris. Nem as charges zombando Maomé publicadas pela revista Charlie Hebdo, nem as missões de ocupação e bombardeio realizadas pela França actualmente contra três países muçulmanos. A morte de civis não tem explicação racional.

Mas a forma como a mídia e os formadores de opinião tratam o assunto, revela o preconceito social e a manipulação de ideias sobre o que é o mundo muçulmano, o terrorismo em todas as suas formas e até o papel do Ocidente no mundo.

Em primeiro lugar, a grande maioria das vítimas do terrorismo islâmico são muçulmanos. Isso geralmente não é publicado ou conhecido pelas pessoas comuns, que submetidas à manipulação de informações acredita que o mundo muçulmano é contra a Europa livre e cristã.

Os muçulmanos do Oriente Médio morrem por causa do extremismo, cuja origem é muito variada. Uma origem clara é a deturpação da religião feita por parte de grupos que buscam dominar as massas, com a ajuda de alguns governos, principalmente as monarquias árabes e seus aliados ocidentais, incluindo a França.

SIMPLIFICAÇÃO
Que aconteçam ataques terroristas não significa que o mundo muçulmano e o Ocidente estão enfrentados. Isso é uma simplificação falsa e etnocêntrica, que coloca a Europa cristã e os Estados Unidos no papel de fiscal e juiz universal.

Por outro lado, coloca os muçulmanos em uma posição de incivilizados como se a maioria apoiasse o que aconteceu ontem, em Paris. Nada está mais longe da realidade, uma vez que todos os dias no Iraque, Líbia, Síria e Iêmen eles mesmos sofrem as conseqüências do fundamentalismo.

Além disso, a opinião pública ocidental ficou chocada com o ataque atroz de ontem, mas é surda ao massacre de muçulmanos no Oriente Médio, muitas vezes perpetrada por grupos armados e treinados pela OTAN.

Ou seja, se o ataque acontece no Iêmen – há poucos dias houve um com 30 mortos -, nada acontece porque “os muçulmanos são bárbaros e gostam de matar uns aos outros”. Mas quando o ataque acontece em Paris, o ódio contra tudo o que seja estrangeiro floresce como na década de 30 nos países do Eixo. Se a isto se acrescenta uma Europa em crise, a combinação é extremamente preocupante.

QUEM SE BENEFICIA?
Para entender o que aconteceu devemos analisar quem ganha com a matança de civis.
A extrema direita leva água ao seu moinho, uma vez que a islamofobia está crescendo na França, Alemanha, Suécia e Grã-Bretanha e os seus princípios se veem reafirmados com os assassinatos.

A Frente Nacional de Le Pen, que ganhou as eleições do ano passado, no Parlamento Europeu, superando o resto dos partidos franceses, é grandemente beneficiada.

A França atua militarmente em três países muçulmanos: Mali, República Centro Africana e o Iraque. Tem mais de três mil soldados nestes três países e luta contra os islamitas. No Iraque, a França luta contra o Estado Islâmico, apoiando o Curdistão iraquiano para que consiga uma maior autonomia em relação a Bagdá e possa ser um fornecedor de gás e petróleo para a Europa, uma alternativa aos produtos russos.

No entanto, o governo francês não luta, mas apoia o Estado islâmico do outro lado da fronteira da Síria, juntamente com a Turquia e Qatar.

DUPLA ESTRATÉGIA
Esta dupla estratégia não é popular entre os cidadãos franceses que percebem que os muçulmanos “invadem” as suas cidades, quando na verdade as mulheres que professam esta fé são atacadas apenas por fazê-lo. Assim, toda a comunidade é estigmatizada.

O ataque em Paris será explorado pelo governo de Hollande, pela Frente Nacional e até mesmo por Nicolas Sarkozy, que em 2011 ajudou a levar ao poder os radicais islâmicos que derrubaram Gaddafi na Líbia. Por conseguinte, em toda a Europa vão crescer o etnocentrismo, a xenofobia e a simplificação.

O terrorismo islâmico é uma realidade, mais cruel no Oriente Médio do que na Europa, mas não é a única forma de terrorismo.
O financiamento de grupos armados, a intervenção direta em países estrangeiros feita pela França, e a pilhagem dos recursos no Iraque e as ex-colônias francesas na África também são terrorismo, que com ataques como o de Paris, parecem cada vez mais justificados pela opinião pública e os grandes meios de manipulação de massa.

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

14 de janeiro de 2015
 Maximiliano Sbarbi Osuna

Governo e Petrobras encenam uma tragédia de erros   



Temos algumas opções para avaliar as reações do governo em torno dos escândalos de corrupção na Petrobras. A primeira é a de que o governo tenta empurrar o problema com a barriga, na esperança de que o tema faça parte da paisagem e todos se acostumem.

A segunda hipótese é a de que o governo não sabe o que fazer, por isso teme dar um passo adiante e piorar tudo. Além disso, teme que um simples mexer nas peças do tabuleiro possa desencadear novas investigações. Como se, ao abrirmos o armário, caíssem dezenas de esqueletos.

A terceira hipótese é a de que o governo está dividido sobre o que fazer. Caso se leve ao pé da letra o que a presidente Dilma Rousseff disse em sua posse sobre o combate à corrupção, não ficará pedra sobre pedra, e o PT, entre outros partidos, vai sangrar muito. Haverá também gente muito importante sangrando.

Considerando o governo, sua competência política e sua estratégica e, ainda, a fratura em sua base política, onde se inclui o próprio PT, a hipótese mais provável é uma quarta que junta todas as três anteriores.

Vamos à quarta: o governo espera que o tema deixe as páginas principais dos jornais ou seja relegado a espaços menos nobres. Até lá, confia em conseguir juntar sua base política para impor uma estratégia que reduza os danos causados pelos escândalos. Porém, não sabe como fazer isso e tampouco tem competência para tal.

Além do mais, está dividido sobre o que fazer. Teme que mais ex-diretores da Petrobras resolvam confessar outros crimes; assim como teme os acordos de delação premiada e os acordos de leniência que estão a caminho.

GRAÇA DESMORALIZADA
Dilma insiste em manter como presidente da empresa Graça Foster, que está completamente desmoralizada. Sobretudo após a acusação do Tribunal de Contas da União de que a estatal criou empresas de fachada com laranjas para operar a construção de gasodutos no Nordeste.

Considerando as opções mencionadas, a reação do governo é equivocada. O certo, neste momento, é demitir toda a diretoria, profissionalizar a escolha e empreender uma ampla limpeza na empresa. O governo comete um grave erro, pois demonstra ser conivente com os malfeitos que ocorreram no interior da maior empresa da América Latina. O entorno político do governo se fecha para ver se o tsunami passa. Mas não vai passar.

O potencial destruidor do caso Petrobras é monumental. E não apenas em nível nacional. Internacionalmente, o tema já está fora de controle. Existe quase uma dezena de ações contra a empresa, além das investigações que correm na Securities and Exchange Commission (SEC) e no Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

DILMA SERÁ INVESTIGADA?
Todos os conselheiros da Petrobras, inclusive Dilma Rousseff, podem ser investigados e, eventualmente, punidos criminalmente pelo ocorrido. Tempos atrás, quando ainda era ministra da Casa Civil, Dilma disse, em uma declaração à televisão (que circula na internet), que a empresa seguia padrões SOX de legislação anticorrupção.

Fica patente que ela tinha completa noção das consequências de eventuais malfeitos na empresa. Portanto, salvo a proteção diplomática de ser presidente da República do Brasil, tudo conspira a favor de uma punição exemplar para diretores e conselheiros. Imaginem o vexame para o país.

Sem uma reação digna e corajosa, a tragédia de erros vai continuar e pode levar o governo para um beco sem saída.

(transcrito de O Tempo)

14 de janeiro de 2015
Murillo de Aragão

BTG vira alvo da Lava Jato por compra de ativos da Petrobras na África   

Em 2013, o BTG comprou 50% dos ativos da Petrobras na África, por US$ 1,5 bilhão. Conforme a Folha publicou no ano passado, a transação se mostrou um ótimo negócio para o banco.

Oito meses depois, a Petrobras Oil & Gas, que controla as operações da estatal naquele continente, pagou dividendos, pela primeira vez em sua história, no valor de US$ 300 milhões. Em menos de um ano, o BTG obteve um retorno de 10% sobre o investimento.

A venda para o BTG começou a ser desenhada e se concretizou na gestão da atual presidente da estatal, Graça Foster, que assumiu a companhia no início de 2012.

Até então, a área internacional da Petrobras era dirigida por Jorge Zelada, afilhado do PMDB. Logo após assumir a presidência da estatal, Graça tirou Zelada, e ela própria passou a acumular os negócios na área internacional, como a venda dos ativos na África.

MENOS DA METADE
A equipe de Zelada já estudava se desfazer de parte dos poços no continente africano. Os técnicos chegaram a realizar uma avaliação pela qual seria possível captar US$ 3,5 bilhões com a venda de apenas 25% dos ativos. Em 2013, o BTG comprou 50% dos ativos por US$ 1,5 bilhão. Ou seja, levou o dobro pagando menos da metade.

Essa transação entrou no radar dos investigadores da Lava Jato. Como a Petrobras é controlada pelo governo, a Controladoria Geral da União também tem o dever de apurar se o patrimônio público foi lesado de alguma forma nessa operação.

Ainda como ministro da CGU, Jorge Hage confirmou à coluna, no final do mês passado, que a controladoria recebeu material dos investigadores da Lava Jato e que também já abriu sua própria investigação.

“Embora o trabalho esteja num estágio mais inicial do que esses últimos que temos divulgado, tem esse da África. Está num estado mais inicial [do que as demais frentes relacionadas à Petrobras] porque não temos condição de fazer tudo ao mesmo tempo”, disse Hage.

SUSPEITAS REFORÇADAS
As suspeitas de que a transação beneficiou o BTG foram reforçadas no início do ano passado. Um funcionário de carreira com mais de 30 anos na Petrobras passou a colaborar com os investigadores da Lava Jato. Sem ter seu nome identificado até aqui nos inquéritos policiais, ele colocou em dúvida a idoneidade de dois funcionários destacados por Graça Foster para tocar a venda dos ativos na África.

Num depoimento prestado à Polícia Federal no Rio de Janeiro, em abril do ano passado, o informante afirmou que o negócio foi ruim para a Petrobras. Conforme revelou a Folha no ano passado, Ele disse que o valor real do quinhão abocanhado pelo BTG seria de US$ 3,5 bilhões, do mesmo modo que apontavam as avaliações até 2012.

De abril do ano passado para cá, os investigadores reuniram mais elementos sobre a venda de ativos da Petrobras na África. Foi esse o material encaminhado para a CGU.

Se a CGU ainda está no começo, não se sabe aonde a PF já chegou até aqui. E essa não é a única preocupação de André Esteves, do BTG, com os desdobramentos da Lava Jato.

INVESTINDO EM TUDO…
O banco BTG Pactual se notabilizou nos últimos anos por uma estratégia agressiva de crescimento. Além de fazer um bom caixa com operações de tesouraria no mercado financeiro, o banco investiu mais de R$ 30 bilhões em setores tão díspares quanto farmácias e exploração de petróleo. Parte desse investimento foi feito com capital do próprio banco, e outra parte, com recursos de clientes.

Muitos de seus negócios foram impulsionados com dinheiro dos fundos de pensão de companhias estatais, entre os quais a Petros, dos funcionários da Petrobras. BTG, Petros e outros fundos de pensão uniram seus recursos, por exemplo, na Sete Brasil, que fornece sondas de perfuração para a Petrobras.

O BTG é o maior acionista individual da Sete Brasil. Entre 2011 e 2013, Pedro Barusco foi o diretor de Operações da Sete Brasil. Até 2010, Barusco era gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque, preso na Operação Lava Jato. Para não ser preso, Barusco fechou acordo de delação premiada e prestou depoimento à Polícia Federal. Confessou que, juntamente com Duque, participava de um esquema para favorecer um cartel de empreiteiras que recorrentemente fraudavam licitações da Petrobras.

Admitiu ter recebido propina relacionada a mais de 60 contratos. Prontificou-se a devolver aos cofres públicos US$ 97 milhões do dinheiro sujo que embolsou. Barusco citou nominalmente diversas empreiteiras que faziam parte do esquema. Será que ele tem algo a dizer também sobre a relação da Sete Brasil com a Petrobras? A Sete Brasil é a maior fornecedora de sondas de perfuração da Petrobras para os campos do pré-sal.
Procurado pela coluna, o BTG informou por meio de sua assessoria que não se manifestaria sobre o assunto.


CERVERÓ EM CANA... CADÊ OS OUTROS, CERVERÓ?

EX-DIRETOR DA PETROBRAS, NESTOR CERVERÓ, É PRESO PELA POLÍCIA FEDERAL AO DESEMBARCAR NO AEROPORTO DO RIO PROCEDENTE DE LONDRES.
Nestor Cerveró será transferido para prisão em Curitiba, base das investigações da operação Lava Jato (Foto de Veja).
Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras, foi preso pela Polícia Federal no início da madrugada desta quarta-feira no aeroporto internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. Cerveró foi detido por volta de 0h30 ao desembarcar de uma viagem a Londres.
 
Acusado de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, que apura o esquema de corrupção na Petrobras, o ex-diretor da estatal tinha depoimento marcado para quinta no Ministério Público Federal do Rio. Cerveró será transferido para Curitiba, base das investigações da Lava Jato, ainda nesta quarta. 
 
Em declaração para a GloboNews, o advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, afirmou que ainda não conhece a fundamentação para a prisão preventiva, mas que "estranha" a detenção de seu cliente. "Eu entendo que não existe motivo para a prisão, já que ele informou às autoridades sobre a viagem e retornou para prestar o depoimento", disse Ribeiro.
 
Propina – De acordo com a acusação contra Cerveró, aceita pela Justiça em dezembro, o ex-diretor recebeu 15 milhões de dólares, a partir da mediação do lobista Fernando Baiano, para a consolidação de um contrato com a Samsung. Depois de ter embolsado a propina, Cerveró, na condição de diretor da Área Internacional da Petrobras, recomendou à Diretoria Executiva da estatal a contratação da empresa sul-coreana por 586 milhões de dólares.
 
Em uma segunda etapa, por meio de Fernando Baiano, Cerveró teria recebido mais 25 milhões de dólares para que a Samsung conseguisse um contrato para o fornecimento de outro navio sonda para perfuração de águas profundas ao custo de 616 milhões de dólares. O total de 40 milhões de dólares em vantagens indevidas, que o empresário Julio Camargo afirma ter sido destinado a Fernando Baiano, terminou, segundo apuração do Ministério Público, nas mãos de Cerveró.
 
 
14 de janeiro de 2015
in aluizio amorim

"COMPROMISSO COM A MEDIOCRIDADE"

 

Quando a presidente reeleita Dilma Rousseff anunciou o executivo da área financeira Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, a direita reagiu com espanto e a esquerda, com raiva. No entanto, ela apenas seguiu o figurino de seu primeiro governo, inspirado em seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva.
No caso específico, ela foi buscar o profissional para decepar os nós da economia a serem enfrentados no segundo governo em dois lugares confiáveis: o segundo escalão da assessoria do adversário tucano, Aécio Neves, e a indicação do banqueiro amigo Lázaro de Mello Brandão, chefe do segundo maior banco privado do País e velho aliado.

O chamado mercado ficou perplexo porque não contava com a astúcia de nossa figura “chapolinesca”. Por falta de desconfiômetro e de sagacidade, os magnatas do negócio financeiro contavam com mais uma figurinha acadêmica carimbada do PT, nos moldes de Guido Mantega, o descartado, ou Aloizio Mercadante Oliva, a bola da vez na sinuca de madame. Ledo e “ivo” engano, dir-se-ia antigamente.
Este escriba, precavido, não se surpreendeu por dois motivos: primeiramente, por ter aprendido a entender os atos da alta cúpula petralha no poder, sempre opostos à retórica da propaganda com a qual engana o eleitorado; e, em segundo lugar, por se lembrar de, em palestra no Conselho de Economia da Fiesp, o respeitado macroeconomista Octavio de Barros, vice-presidente do Bradesco, ter feito em priscas eras apaixonadíssimo discurso de louvação à gestão econômica do nosso padim Ciço do Agreste.

Surpreenderam-se os desatentos que não prestaram atenção nesses aparentes detalhes, que, na verdade, são essenciais. O filmete dos banqueiros tomando a comida do trabalhador para associar Neca Setubal, do Itaú, com a adversária Marina Silva era apenas uma patranha de marqueteiro.
Como Napoleão espalhou a sábia lição de que “do traidor só se aproveita a traição”, aviso dado antes de mandar fuzilar o alcaguete que lhe delatou as posições das tropas inimigas, Dilma sabe que se ganha o voto com a mentira do marketing político, mas se governa com quem conhece o caminho real das pedras.
 
Pois então: avisou que ia convidar o presidente do banco amigo, Luiz Trabuco, e recebeu-o na companhia de seu Brandão, que vetou a solução, mas apresentou uma saída razoável na pessoa de Levy, ex-luminar da gestão lulista. O discurso do banqueiro rapace serve para levar os votos dos tolos. A boa gestão recomenda o uso da frieza dos dedos de tesoura disponíveis – a velha fábula de ganhar com a esquerda e guiar com a direita. Até porque, se não der certo, é só trocar. Não faltarão nomes no colete de seu Brandão.
 
Os futuros ministros do segundo governo que vêm sendo indicados também não foram inspirados nos discursos do palanque eletrônico, mas nas lições do mestre Maquiavel de Caetés. Que importa se a presidente da Confederação Nacional da Agricultura, Kátia Abreu, assumiu a defesa sub-reptícia de uma “ordem medieval do trabalho” (apud Miriam Leitão) ao recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a implementação de normas explícitas a serem obedecidas pelos proprietários rurais, acusando-as de “preconceito ideológico contra o capitalismo”? A futura ministra é uma direitista do peito, amarrada à chefe por laços de afeto e admiração mútuos, assim como a Graciosa da Petrobrás.
 
Antes de nomear os novos ministros, a presidente tentou transferir parte de sua responsabilidade para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedindo acesso à delação premiada de Paulinho do Lula e de Beto Youssef para evitar nomear receptadores de propinas da roubalheira da Petrobrás.
O ex-relator do mensalão, Joaquim Barbosa, chamou a iniciativa de “degradação institucional”. O loquaz ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, confessou o absurdo, em vez de dar uma de João sem braço. Ficou claro que na nomeação de seu primeiro escalão a chefe do governo leva em conta apenas as notícias do dia, em vez de compulsar os prontuários de seus futuros auxiliares.
 
O líder da minúscula bancada governista do PRB na Câmara, George Hilton, vai tomar conta do Ministério do Esporte durante a Olimpíada no Rio, mesmo já tendo sido flagrado pela polícia carregando R$ 600 mil em pacotes de dinheiro vivo num avião privado.
Kátia Abreu, Eduardo Braga e Hélder Barbalho são réus na Justiça. Aldo Rebelo tem ficha limpa, mas isso não basta para, com as palavras de ordem pré-históricas do PCdoB, comandar a pasta de Ciência e Tecnologia. Deus nos acuda.
 
Cid Gomes foi escolhido para o Ministério da Educação, apesar de ter sido acusado de pagar com dinheiro público o aluguel de um avião particular para viajar com a família (a sogra inclusive) para a Europa. E de ter conquistado com mérito a fama de Mecenas do semiárido por pagar cachês altíssimos a cantores como Ivete Sangalo e Plácido Domingo. Não o recomenda ao cargo a acusação de ter reagido a uma manifestação de professores afirmando:
“Quem quer dar aula faz isso por gosto, não por salário. Se quer ganhar dinheiro, deixa o ensino público e vai pro privado”.
 
Sua saída do Partido Socialista Brasileiro (PSB), traindo Eduardo Campos para ficar com a presidente, que obteve votação espetacular no Ceará, o recomendou para o cargo muito mais do que o trabalho pioneiro de seu secretário adjunto de Educação, Maurício Holanda Maia, mais adequado para o cargo.
 
A reunião de bons burgueses com antigos delinquentes e derrotados nas urnas e o “museu de novidades” (apud Josias de Souza) não bastarão, contudo, para definir com justiça a Esplanada dos Ministérios sob Dilma 2.
Sua principal característica genérica é a mediocridade ampla, geral e irrestrita. A mediocridade tirânica, que não se basta, que tudo faz para se impor e governar, é a marca do governo que nos espera e do destino que nos fará engolir.
 
14 de janeiro de 2015
 José Nêumanne Pinto, Publicado no Estadão

ENTREVISTA: A REFORMA POLÍTICA SEGUNDO MARCELO FREIXO (PSOL)

    
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freixo


Durante a ressaca pós-eleição onde um dos grandes saldos é a polarização com uma onda conservadora insuflando um impeachment e até ressuscitando a ditadura militar, fui conversar com o deputado estadual Marcelo Freixo do PSOL, que iniciará seu terceiro mandato na ALERJ, onde hoje preside a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania.

O debate sobre a corrupção assumiu o protagonismo nessas eleições e continua estampando a capa das revistas e dos jornais. Marcelo Freixo foi muito criticado ao apoiar Dilma no segundo turno em meio à onda dos escândalos, questionamento que ele considera expressão de uma ‘despolitização’.

“Eu refleti muito sobre a corrupção como carro-chefe do debate político. Isso é o resultado da despolitização da política, quando você não entende qualquer mecanismo político e leva para o comportamental.”

A urgência da reforma política para a democratização do Estado foi o tema central desta conversa – “corrupção a gente combate com reforma política” -, sendo prioritário na reforma política o financiamento público de campanha e o voto em lista com dois turnos.
“Com o financiamento público de campanha empreiteira não compra mais prefeito, não compra mais governador. A disputa política tem que ser feita a partir do projeto político e não de quem se vendeu.”

A crise de representatividade na política nacional se fez presente nas manifestações de junho, e o deputado que tem grande possibilidade de sair candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2016 propõe um projeto político de campanha atravessado pela população, com participação direta durante a campanha discutindo pontos de interesse.

“Quem ganhou a eleição no Rio de Janeiro foi o não-voto (35,8% da votação total), enquanto o Pezão ficou em segundo (55,78% dos votos válidos). Isso mostra que o modelo esgotou. A grande aliança que eu vou costurar em 2015 não será com nenhum partido, será com a sociedade civil.”

Crítico à atual gestão do Rio de Janeiro, Freixo considera que a cidade virou palco de negócios, aponta os problemas reais com o sistema policial e as famosas UPPs que têm seu erro na origem, de acordo com ele.

*

Qual seu balanço sobre as UPPs no Rio de Janeiro?

As UPPs não surgem como um projeto de segurança pública, com os critérios da segurança pública. Temos uma polícia com a mesma concepção de guerra, do inimigo e não uma polícia de proximidade. Desde as condições de trabalho e tudo que envolve a polícia, à hierarquia e à militarização.
O mapa das UPPs não segue o mapa da criminalidade e da segurança pública, mas dos investimentos, dos que pagam, da cidade-negócio. E se fosse ter uma UPP em cada favela a polícia do Rio de Janeiro teria que ser maior do que o exército dos EUA e Israel juntos, é inviável.
Quando o Estado não entra com a possibilidade de garantia de direitos ele joga sobre a polícia a possibilidade do conflito. Você não avança nos direitos, e não avança com a democracia. O morador acaba se dirigindo à polícia com assuntos que não dizem respeito à polícia, como por exemplo, pra falar sobre coleta de lixo, sobre fazer uma festa. Você não traz uma nova relação com as pessoas.

Existe uma possibilidade real de você se candidatar à prefeitura do Rio em 2016?

Depende de uma decisão partidária, mas é bem provável que eu saia candidato pelo PSOL. Fui candidato na última eleição e fiquei em segundo lugar com 29%, uma votação expressiva. Só não houve segundo turno porque teve uma concentração de forças políticas, o Eduardo Paes teve um apoio de 22 partidos com 16 minutos de TV enquanto eu tive um minuto apenas.
A gente acaba de sair de uma eleição muito vitoriosa, fui o deputado mais votado do Brasil com 350.408 votos.
Hoje nós temos uma bancada com 5 deputados estaduais. o nosso candidato – Tarcisio Motta – ao governo saiu do completo desconhecimento pra ser a grande surpresa da eleição, com uma votação na cidade do Rio de Janeiro que foi o dobro do candidato do PT.
Eu não fui o mais votado só na zona sul, eu fui o mais votado em diversas áreas, inclusive de milícia onde eu sequer pude colocar o pé.
Fui o deputado mais votado com o menor custo. Eu não gosto desse cálculo porque ele é perigoso, mas a imprensa fez. Se você faz o cálculo do total de votos por quanto eu gastei, cada voto meu saiu a 61 centavos. Isso porque existe a alternativa da rede social.

Há a possibilidade de coligação com o PT na eleição para a Prefeitura do Rio de Janeiro em 2016?

Com determinados segmentos do PT, não necessariamente no todo. Quando eu fui candidato à prefeitura do Rio de Janeiro em 2012 teve uma parte do PT que me apoiou, chamavam os ‘petistas com Freixo’, eu acho que essa fração pode ser maior na próxima eleição. Mas não sei se isso faz com que os partidos se aproximem. Atualmente o PT apoia o prefeito Eduardo Paes.

Qual a estratégia de campanha para 2016?

Não quero me reunir em cúpulas partidárias, fazendo o velho troca-troca, do escambo político de tempo de TV por cargos. Esse modelo faliu.
Em 2015 nós vamos formar um grupo de trabalho, de estudo, com pessoas de várias áreas do Rio de Janeiro para fazer um esqueleto de um projeto de cidade que é algo muito maior que o PSOL.
Que cidade a gente quer? A cidade do cimento ou do sentimento? A gente quer a cidade do sentimento.
Radicalizar a democracia, ampliar a capacidade das pessoas de participação na vida pública.
E no segundo semestre de 2015 esse esqueleto vai paras as redes sociais pra que isso se multiplique num grande debate, para que cada cidadão possa dar sua opinião, por que isso dá um sentimento de pertencimento. Como diz o Neruda a vida é uma escolha, as consequências cada um que arque com as suas.

As manifestações de junho foram uma mudança de paradigma, para o bem e para o mal. Surgiu uma onda reacionária. Qual a relação?

A despolitização da política causa isso. Um exemplo é o debate da corrupção. Como sou uma pessoa muito marcada pelo enfrentamento à corrupção fui questionado ao ter apoiado a Dilma no segundo turno. Diziam que eu apoiei a corrupção. Como se o PSDB fosse a referência ética do Brasil!
Corrupção a gente combate com reforma política. O debate é pedagógico. Eu refleti muito sobre a corrupção como carro chefe do debate político. Quando não se entende qualquer mecanismo político se leva para o comportamental.

Sobre a questão da representatividade nas manifestações – apareceu uma ojeriza à representatividade?

A crise de representatividade era a expressão da despolitização da política e do nacionalismo exacerbado. Uma sociedade que bota um milhão de pessoas na rua, bota de tudo na rua. E o resultado foi que levou a um congresso mais conservador. Se você despolitiza a política o que vai determinar é o poder econômico, o poder do voto religioso, dos centros sociais, cada vez mais conservadores. Você tem as emissoras e o poder econômico.

E o partido Podemos na Espanha?

É novo, muito novo. A gente ainda está tentando entender, eles próprios do Podemos ainda estão tentando entender diante da velocidade com que as coisas aconteceram. Mas a Espanha tem um índice de desemprego altíssimo, de desencanto completo com a política da representatividade. A taxa de desemprego entre os jovens chega a 50% na Espanha. É entre os jovens que o Podemos dialoga e cresce. E o Podemos, assim como o PSOL, tem uma inversão de pauta familiar, onde o filho influencia o voto do pai. A juventude começa a ser o protagonista na política.

Como funciona a estrutura partidária do Podemos?

Eles trabalham com uma rotatividade maior. Eles têm um programa muito parecido com o que a gente está querendo fazer, que se chama movimento. Não vamos apresentar um programa de governo feito por meia dúzia de especialistas. Teremos um debate permanente colocado no circuito das ideias alcançando um maior número de pessoas.

Isso dialoga com a reforma política. Quais são os pontos prioritários da reforma política?

Número um: financiamento público de campanha.
A luta política é pedagógica. Hoje no Rio de Janeiro as pessoas não sabem dizer o nome de 5 vereadores. Isso é um absurdo.
É uma luta de construção de olhar, de construção de possibilidades, de consensos. E a reforma política está muito longe do debate cotidiano das pessoas. Elas pensam que isso é coisa do político. Delegam até que explode, então nada os representa. Eles sabem muito mais o que não querem do que o que querem. Pra construir um projeto político eu tenho que que ter política na cabeça. A indignação é muito importante mas não leva a lugar nenhum. O que aconteceu em junho são sentimentos, não manifestações. Manifestação é saber onde eu quero chegar.

Mas foi um começo.

Sim um começo extraordinário e que se espalha. Altera comportamentos, altera reações. Para financiamento público de campanha é decisivo. Você não pode continuar tendo empreiteiras financiando campanhas.
Se eu tiver que elogiar o governo do PT vou falar do salário mínimo, da redução do número de miseráveis. Mas isso não pode acontecer exclusivamente pela via do acesso ao mundo do consumo, tem que ser acompanhado de uma mudança institucional de serviços de qualidade, de educação, saúde e transporte, que não aconteceu. O SUS, que é um avanço, é inviabilizado quando se destina o dinheiro para os bancos. O BNDES hoje é um captador de dinheiro público para beneficiar os financiadores de campanhas.
Quem tem a gestão dos trens da Supervia no Rio de Janeiro é a Odebrecht, a gestão do metrô é a OAS, das barcas Rio Niterói é CCR, ou seja as empreiteiras tem a gestão de toda a mobilidade urbana do Rio de Janeiro. São as empreiteiras que financiam as campanhas, quem determina o tempo que você vai gastar da sua vida no deslocamento são as empreiteiras.
Como a gente disse na campanha: quem escolhe a música é quem paga a orquestra. A música que o Pezão canta, que o Eduardo Paes canta, que o Cabral cantou nos cabarés parisienses, quem paga a orquestra são as empreiteiras. Com o financiamento público de campanha empreiteira não compra mais prefeito, não compra mais governador.

E o formato?

Isso não pode acontecer isoladamente. A proposta apresentada pela CNBB e pela OAB em que foi feito o plebiscito no dia 7 de setembro, propõe o financiamento público com voto em lista e a eleição do voto em lista no Parlamento em dois turnos. Isso é interessante, porque na Europa o voto em lista, onde o partido determina quem está na frente, está numa crise de representatividade muito grande. Essa burocracia partidária, tanto da direita quanto da esquerda estão muito cristalizadas, gerando um afastamento muito grande do conjunto de desejos da sociedade.
A proposta da reforma política da OAB e da CNBB é que se defina um partido, onde eles terão que dizer o que eles pensam – hoje boa parte das mais de 30 legendas não pensam nada, são legendas de mercado, que alugam e fazem uma grande ciranda financeira. O Eduardo Paes tinha apoio de mais de 20 partidos, que ele não saberia nem nomear e, se perguntasse o que cada partido desse tinha como eixo central, seria risada. São legendas criadas para serem vendidas, para gerar tempo de TV. Eu sou contrário à coligação na proporcional, ou seja coligação pra deputado.
A sociedade vai votar nos programas do partido e no segundo turno se votaria para alterar a ordem da lista. No primeiro turno vota na legenda e no segundo turno no candidato. Isso funciona casado com financiamento público de campanha. Assim você quebra a burocracia partidária.

Como vai funcionar na prática a democracia direta, com a reforma politica e como aprovar com esse Congresso?

Muito difícil. Ainda não sei o tamanho dessa onda conservadora, se é só uma onda ou um tsunami. Ela é preocupante porque nasce como antipetismo, por erros e acertos do PT, mas é também anti qualquer projeto de esquerda. Quem dera que o PT fosse aquilo de que ele está sendo acusado!
Onde a gente mais pode avançar hoje, concretamente, é no debate das cidades, no modelo de organização. A gente vive a cidade, não vive o país. O modelo de orçamento participativo já é uma coisa antiga, é preciso fazer com que os moradores de cada bairro possam opinar sobre, por exemplo, o transporte de sua área.
Ter espaços de debates criados pelas prefeitura para resolver os problemas que cada bairro tem. Temos que ampliar o canal de escuta para que chegue na câmara, na prefeitura. A partir disso você vai dar um sentimento de pertencimento.
Eles que me acusam de bolivariano, mas isso acontece em Nova York e em Berlim mais do que na Venezuela. Não é possível que a gente não consiga ampliar a democracia pelas redes virtuais.

Como lidar com essa onda reacionária? O preconceito histórico do Brasil está exposto como nunca esteve, com isso o absurdo também fica exposto.

Os fascistas saíram do armário. Eu me posicionei publicamente no plenário com o jornalista que chamou os nordestinos de bovinos. Lamentei o desconhecimento histórico dele. Ele queria que o nordeste votasse em quem? E ninguém quer falar da eleição em Minas e no Rio que foi onde definiu a eleição.
O debate entre a direita e esquerda sempre foi mais no viés econômico. Agora surge uma disputa social de uma concepção de sociedade, há um debate social sobre as cotas, programas das bolsas, dos conselhos, isso é ruim.

15 de janeiro de 2015
Tracy Segal