"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

TRIBUNA

Hackers tiram a Tribuna do ar para esconder a briga de Dilma e Lula   



Está ficando cada vez mais emocionante. A Tribuna da Internet deve ser o blog mais atacado por hackers neste país. Pode haver muitos motivos, é claro, em função da diversidade dos assuntos abordados. Pelas matérias postadas nos últimos dias, o mais provável é que os ataques sejam represálias a dois assuntos exclusivos: as denúncias sobre a concessão ilegal dada à TV Globo de São Paulo no regime militar e as notícias exclusivas sobre o rompimento entre Lula e Dilma Rousseff.

Mas a evolução da série de investidas piratas revela que existe uma preferência desses hackers. Nosso blog tem sido sistematicamente atacado sempre que divulga, com absoluta exclusividade, notícias sobre os gravíssimos desentendimentos entre o ex-presidente Lula e sua sucessora Dilma Rousseff, que agora passaram a ser de conhecimento público depois da explosiva entrevista da senadora Marta Suplicy ao jornal Estadão.
As matérias sobre a TV Globo não têm coincidido com os ataques, mostrando que os filhos de Roberto Marinho são muito mais democratas do que o PT.

BRIGA DE LULA E DILMA
O que nós temos publicado (e os hackers fazem tanta questão de tentar esconder) é que essa briga já é antiga e começou no final do segundo ano da gestão de Dilma, quando ela passou a se julgar capaz de conduzir o governo sozinha, sem se subordinar a Lula.
Com assim, mas depois que houve a Operação Porto Seguro, com a Polícia Federal provando o envolvimento de Rosemary Noronha em atos de corrupção, Dilma aproveitou a oportunidade para enfrentar Lula e evitar a pré-candidatura dele, que crescia avassaladoramente dentro do PT.

Era uma espécie de repetição do caso Erenice Guerra, que galgou posições no governo e chegou a ministra simplesmente por ser ligadíssima a Dilma, digamos assim.
Como todos sabem, Erenice transformou a Casa Civil num balcão de negócios de sua família, mas, em respeito a Dilma, o então presidente Lula não fez a menor carga contra Erenice, que deixou o Ministério sem receber qualquer punição, podendo inclusive ser novamente nomeada para o governo, se Dilma quiser.
Mas não é preciso, porque Erenice Guerra imitou Dirceu, Palocci, Pimentel e Delúbio, abrindo também uma consultoria, que hoje é a mais próspera de Brasília, onde se tornou uma especialista em tráfico de influência no governo federal.

O GRANDE AMOR DE LULA
No episódio envolvendo Rosemary Noronha, que não é um simples caso, mas o grande amor da vida de Lula, Dilma agiu implacavelmente. Sabia que Lula e Rose vivem um tórrido romance há mais de 20 anos, desde quando se conheceram no Sindicato dos Bancários de São Paulo, onde ela era secretária de João Vaccari Neto, que hoje é Tesoureiro do PT e está envolvido nos escândalos da Petrobras.

Lula esperava que Dilma fizesse como ele e simplesmente deixasse o caso esfriar, mas ocorreu exatamente o contrário. A presidente mandou a Controladoria-Geral da União e a Comissão de Ética do Planalto devassarem as atividades de Rose e ordenou que o Planalto “vazasse” pesadas notícias contra Rose aos repórteres Vinicius Sassine e Robson Bonin, que publicaram matérias exclusivas no Globo e na Veja, respectivamente.

CARTÃO CORPORATIVO DE ROSE
No ano passado, quando o movimento “Volta, Lula” ganho força e Dilma ficou isolada no PT, ela então jogou a última cartada. Ameaçou Lula com a divulgação dos abusivos gastos que Rose fez no cartão corporativo que recebera ao se tornar Chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo. Acuado, Lula então desistiu da pré-candidatura e Dilma foi confirmada na Convenção do PT.

São essas informações, exclusivas e absolutamente verdadeiras, que os hackers não querem ver publicadas. E tiram nosso Blog do ar com uma insistência que já se tornou monótona. Sonham em nos calar, como se isso fosse possível. Bem, todos sabem que sonhar ainda não é proibido. Mas enquanto não conseguem aprovar no Congresso a tal regulação da mídia, para transformar em realidade o sonho de cercear a liberdade de expressão, eles vão continuar nos aturando.

Temos outras notícias muito interessantes sobre Rosemary Noronha, Lula e Dilma, sempre com total exclusividade. Depois a gente conta, como dizia nosso genial amigo Maneco Müller, criador da crônica social brasileira, quando usava o pseudônimo de Jacinto de Thormes.

14 de janeiro de 2015
Carlos Newton

“A questão não é o Islã, é a Europa”, diz sociólogo francês   



A questão urgente, nesses dias críticos em Paris, não é o Islã. Para o sociólogo francês Raphael Liogier, diretor de um observatório de religião e professor de estudos políticos em Aix-en-Provence, o problema é a Europa.
“O desafio real não são os muçulmanos. É o fato de estarmos em uma sociedade em que existe um orgulho narcisista de quem era o centro do mundo e perdeu a influência. Isso levou a debates de identidade na Europa. Essas pessoas se dizem os ‘franceses reais’, os ‘alemães reais’, os ‘italianos reais’ e se sentem ameaçados pelo islã. ‘Multicultural’ virou uma palavra ruim.”
O debate de identidade e a atitude da sociedade, para Liogier, levam ao isolamento de comunidades e à frustração de parte da população. Marginalizados, jovens recorrem ao fanatismo religioso. O fato de isso ser feito em termos islâmicos não significa que haja relação com o Islã.
GUERRA CULTURAL
Há um sentimento de guerra cultural e pessoas como os irmãos Kouachi, diz Liogier, querem vingar-se da sociedade aderindo ao que parece ser o inimigo: o Islã.
“Não adianta eliminar o Islã para combater o extremismo. Esses jovens não vão à mesquita, eles vão até a internet”, afirma o sociólogo.
A liderança religiosa muçulmana condenou em Paris e ao redor do mundo os atentados ao “Charlie Hebdo” e ao mercado judaico e, nos discursos da reza tradicional de sexta-feira, denunciou o extremismo islâmico.
Especialistas apontam que o fato de não se converterem por meio da convivência em mesquitas faz com que radicais não tenham uma formação complexa na religião e, assim, adotem uma visão extrema que não corresponde à maioria dos demais fiéis.
“Os terroristas foram ao islã porque queriam ser jihadistas. Não viraram jihadistas porque eram muçulmanos”, afirma o sociólogo.
QUISERAM SER HERÓIS
A radicalização ocorre, porém, em diferentes partes da sociedade. Também na direita europeia, diz Liogier, citando o terrorista Anders Behring Breivik, que matou 77 pessoas em Oslo, em 2011.
São pessoas, afirma o sociólogo, que creem em uma narrativa de “guerra entre civilizações”. “Os terroristas que atacaram o ‘Charlie Hebdo’ acreditavam que os jornalistas eram os inimigos. Quiseram ser heróis”, diz.

“Como muçulmano, me choquei com as caricaturas do jornal”   



Conhecido por suas reportagens ousadas e “politicamente incorretas”, o “Charlie” estava no centro de polêmicas na França havia anos. Alguns anos atrás, cartunistas visados no ataque publicaram caricaturas do profeta Maomé, desencadeando uma onda de revolta na opinião pública e entre os franceses muçulmanos.
De acordo com o Islã ortodoxo, qualquer representação divina ou do profeta é formalmente proibida. Mas, além do caráter sacrílego da representação do profeta, o que provocou a cólera dos muçulmanos foram as simplificações e ideias equivocadas que, segundo eles, as caricaturas poderiam difundir: um Islã violento e misógino, conjugado à ridicularização da figura do profeta, mostrado às vezes em cadeira de rodas, às vezes deitado nu.
Como francês muçulmano, fiquei chocado com essas imagens. Além de chocarem minha consciência, elas contribuíram para intensificar a estigmatização dos muçulmanos na França, num período em que os atos de islamofobia não paravam de aumentar.
LIBERDADE DE EXPRESSÃO
Lamentavelmente, a chantagem usando o argumento da “liberdade de expressão” reforçou uma ideia preconcebida que vê os muçulmanos como contrários às liberdades. O ataque de quarta, rapidamente apresentado como obra de islâmicos, corre o risco de reforçar os discursos mais extremistas em relação aos muçulmanos na França.
É exatamente esse o receio compartilhado por muitos muçulmanos franceses.
SOLIDARIEDADE
A sociedade em seu conjunto exprimiu sua solidariedade e sua compaixão pelas vítimas e suas famílias. Os muçulmanos não fugiram à regra. Contudo, eles, em sua grande maioria, se negam a ser associados de qualquer maneira a esse ataque e rejeitam a ideia de que precisem pedir desculpas por ele.
Nosso livro sagrado, o Alcorão, nos ensina que “quem mata um homem mata toda a humanidade”. Hoje, com essa matança, os muçulmanos e sua religião também foram atacados.
ABDELGHANI ABDELMALEK, 27, é franco-argelino, muçulmano e vive em Paris. É mestre em comércio internacional pela Escola de Comércio Inseec Paris

Felicidade, artigo de luxo?


 
Se alguém, no meio de uma conversa um pouco mais séria e madura, te perguntasse o que significa felicidade, qual seria sua resposta sincera e imediata? Não vale frase feita, de livro de auto-ajuda, nem usar a banalidade que assola a humanidade.

Insisto: o que te faz sentir feliz no dia a dia? Seria seu casamento, tendo a dádiva do seu cônjuge ser pessoa que estimula uma sensação de afinidade, prazer, companheirismo, completude? Seriam os filhos, inspiração para enfrentar as agruras do trabalho, da luta diária para trazer a eles a recompensa, partilhar as alegrias, transmitir os conhecimentos e valores que permita que um dia eles deem seus voos-solo, num ninho de afeto, respeito?

 Seria o trabalho, onde as habilidades e dons, ou a gratificação material, a satisfação de sair de casa a cada dia e enfrentar os sagrados desafios profissionais, e voltar ao lar cheio de amor para dar?

Bem, antes de mais nada, que tal tentar traduzir essa palavra que traz no seu âmago um sentimento tão nobre e elevado, que transcende áreas afetivas, religiosas, sociais e econômicas. Afinal, felicidade é um estado de espírito, uma sensação de plenitude, a absoluta ausência de estímulos negativos, como ansiedade, medo, culpa, raiva, angústia, ciúme, insegurança entre outros.

Tudo flui, o tempo, o espaço, a vida. A felicidade é resultante da alquimia que mescla relaxamento, desapego, satisfação, paz, serenidade, numa mistura sagrada, uma dádiva que, de tão sublime, se desfaz quando o alarme das coisas mundanas dispara uma preocupação ou um sofrimento irreal e invasivo.
Então, como um despertar de um sonho maravilhoso, aquela sensação paradisíaca se desmancha e a magia nos abandona.

FALSA SATISFAÇÃO
Num mundo acelerado, de novidades que duram dias, onde o consumismo é como droga, que traz uma falsa satisfação imediata e ilusória seguida de uma ressaca e vazio que levam à crescente abstinência, banalizando a sexualidade, a tecnologia, a materialidade compensatória às frustrações e angústia que nos invade a cada dia, me pergunto se felicidade estaria em extinção ou sendo mascarada por sensações de alegrias artificiais, paixões doentias e fugazes, euforias pueris embaladas pelo álcool, droga, dinheiro mal ganho, poder passageiro ou efêmero.
Vitórias ilusórias, momentos de fama fugazes.
Invadidos e violados por multimeios, onde discrição e intimidade perdem o sentido, como relaxar? Como buscar a simplicidade, humildade, verdade que são pré-requisitos na busca da felicidade?

Vale dizer que não depender de pessoas ou coisas externas, na busca de ser feliz, já é um bom caminho. Assim como altruísmo e empatia ajudam a partilhar a felicidade.
Pois banal dizer “feliz ano novo!” Melhor, talvez, o sincero desejo para os que amamos possam ser invadidos pela sabedoria, desapego, simplicidade e, principalmente, paz de espírito!

(transcrito de O Tempo)

14 de janeiro de 2015
Eduardo Aquino

Atentado em Paris, manipulação e islamofobia   



Nada justifica a barbárie cometida em Paris. Nem as charges zombando Maomé publicadas pela revista Charlie Hebdo, nem as missões de ocupação e bombardeio realizadas pela França actualmente contra três países muçulmanos. A morte de civis não tem explicação racional.

Mas a forma como a mídia e os formadores de opinião tratam o assunto, revela o preconceito social e a manipulação de ideias sobre o que é o mundo muçulmano, o terrorismo em todas as suas formas e até o papel do Ocidente no mundo.

Em primeiro lugar, a grande maioria das vítimas do terrorismo islâmico são muçulmanos. Isso geralmente não é publicado ou conhecido pelas pessoas comuns, que submetidas à manipulação de informações acredita que o mundo muçulmano é contra a Europa livre e cristã.

Os muçulmanos do Oriente Médio morrem por causa do extremismo, cuja origem é muito variada. Uma origem clara é a deturpação da religião feita por parte de grupos que buscam dominar as massas, com a ajuda de alguns governos, principalmente as monarquias árabes e seus aliados ocidentais, incluindo a França.

SIMPLIFICAÇÃO
Que aconteçam ataques terroristas não significa que o mundo muçulmano e o Ocidente estão enfrentados. Isso é uma simplificação falsa e etnocêntrica, que coloca a Europa cristã e os Estados Unidos no papel de fiscal e juiz universal.

Por outro lado, coloca os muçulmanos em uma posição de incivilizados como se a maioria apoiasse o que aconteceu ontem, em Paris. Nada está mais longe da realidade, uma vez que todos os dias no Iraque, Líbia, Síria e Iêmen eles mesmos sofrem as conseqüências do fundamentalismo.

Além disso, a opinião pública ocidental ficou chocada com o ataque atroz de ontem, mas é surda ao massacre de muçulmanos no Oriente Médio, muitas vezes perpetrada por grupos armados e treinados pela OTAN.

Ou seja, se o ataque acontece no Iêmen – há poucos dias houve um com 30 mortos -, nada acontece porque “os muçulmanos são bárbaros e gostam de matar uns aos outros”. Mas quando o ataque acontece em Paris, o ódio contra tudo o que seja estrangeiro floresce como na década de 30 nos países do Eixo. Se a isto se acrescenta uma Europa em crise, a combinação é extremamente preocupante.

QUEM SE BENEFICIA?
Para entender o que aconteceu devemos analisar quem ganha com a matança de civis.
A extrema direita leva água ao seu moinho, uma vez que a islamofobia está crescendo na França, Alemanha, Suécia e Grã-Bretanha e os seus princípios se veem reafirmados com os assassinatos.

A Frente Nacional de Le Pen, que ganhou as eleições do ano passado, no Parlamento Europeu, superando o resto dos partidos franceses, é grandemente beneficiada.

A França atua militarmente em três países muçulmanos: Mali, República Centro Africana e o Iraque. Tem mais de três mil soldados nestes três países e luta contra os islamitas. No Iraque, a França luta contra o Estado Islâmico, apoiando o Curdistão iraquiano para que consiga uma maior autonomia em relação a Bagdá e possa ser um fornecedor de gás e petróleo para a Europa, uma alternativa aos produtos russos.

No entanto, o governo francês não luta, mas apoia o Estado islâmico do outro lado da fronteira da Síria, juntamente com a Turquia e Qatar.

DUPLA ESTRATÉGIA
Esta dupla estratégia não é popular entre os cidadãos franceses que percebem que os muçulmanos “invadem” as suas cidades, quando na verdade as mulheres que professam esta fé são atacadas apenas por fazê-lo. Assim, toda a comunidade é estigmatizada.

O ataque em Paris será explorado pelo governo de Hollande, pela Frente Nacional e até mesmo por Nicolas Sarkozy, que em 2011 ajudou a levar ao poder os radicais islâmicos que derrubaram Gaddafi na Líbia. Por conseguinte, em toda a Europa vão crescer o etnocentrismo, a xenofobia e a simplificação.

O terrorismo islâmico é uma realidade, mais cruel no Oriente Médio do que na Europa, mas não é a única forma de terrorismo.
O financiamento de grupos armados, a intervenção direta em países estrangeiros feita pela França, e a pilhagem dos recursos no Iraque e as ex-colônias francesas na África também são terrorismo, que com ataques como o de Paris, parecem cada vez mais justificados pela opinião pública e os grandes meios de manipulação de massa.

(artigo enviado por Sergio Caldieri)

14 de janeiro de 2015
 Maximiliano Sbarbi Osuna

Governo e Petrobras encenam uma tragédia de erros   



Temos algumas opções para avaliar as reações do governo em torno dos escândalos de corrupção na Petrobras. A primeira é a de que o governo tenta empurrar o problema com a barriga, na esperança de que o tema faça parte da paisagem e todos se acostumem.

A segunda hipótese é a de que o governo não sabe o que fazer, por isso teme dar um passo adiante e piorar tudo. Além disso, teme que um simples mexer nas peças do tabuleiro possa desencadear novas investigações. Como se, ao abrirmos o armário, caíssem dezenas de esqueletos.

A terceira hipótese é a de que o governo está dividido sobre o que fazer. Caso se leve ao pé da letra o que a presidente Dilma Rousseff disse em sua posse sobre o combate à corrupção, não ficará pedra sobre pedra, e o PT, entre outros partidos, vai sangrar muito. Haverá também gente muito importante sangrando.

Considerando o governo, sua competência política e sua estratégica e, ainda, a fratura em sua base política, onde se inclui o próprio PT, a hipótese mais provável é uma quarta que junta todas as três anteriores.

Vamos à quarta: o governo espera que o tema deixe as páginas principais dos jornais ou seja relegado a espaços menos nobres. Até lá, confia em conseguir juntar sua base política para impor uma estratégia que reduza os danos causados pelos escândalos. Porém, não sabe como fazer isso e tampouco tem competência para tal.

Além do mais, está dividido sobre o que fazer. Teme que mais ex-diretores da Petrobras resolvam confessar outros crimes; assim como teme os acordos de delação premiada e os acordos de leniência que estão a caminho.

GRAÇA DESMORALIZADA
Dilma insiste em manter como presidente da empresa Graça Foster, que está completamente desmoralizada. Sobretudo após a acusação do Tribunal de Contas da União de que a estatal criou empresas de fachada com laranjas para operar a construção de gasodutos no Nordeste.

Considerando as opções mencionadas, a reação do governo é equivocada. O certo, neste momento, é demitir toda a diretoria, profissionalizar a escolha e empreender uma ampla limpeza na empresa. O governo comete um grave erro, pois demonstra ser conivente com os malfeitos que ocorreram no interior da maior empresa da América Latina. O entorno político do governo se fecha para ver se o tsunami passa. Mas não vai passar.

O potencial destruidor do caso Petrobras é monumental. E não apenas em nível nacional. Internacionalmente, o tema já está fora de controle. Existe quase uma dezena de ações contra a empresa, além das investigações que correm na Securities and Exchange Commission (SEC) e no Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

DILMA SERÁ INVESTIGADA?
Todos os conselheiros da Petrobras, inclusive Dilma Rousseff, podem ser investigados e, eventualmente, punidos criminalmente pelo ocorrido. Tempos atrás, quando ainda era ministra da Casa Civil, Dilma disse, em uma declaração à televisão (que circula na internet), que a empresa seguia padrões SOX de legislação anticorrupção.

Fica patente que ela tinha completa noção das consequências de eventuais malfeitos na empresa. Portanto, salvo a proteção diplomática de ser presidente da República do Brasil, tudo conspira a favor de uma punição exemplar para diretores e conselheiros. Imaginem o vexame para o país.

Sem uma reação digna e corajosa, a tragédia de erros vai continuar e pode levar o governo para um beco sem saída.

(transcrito de O Tempo)

14 de janeiro de 2015
Murillo de Aragão

BTG vira alvo da Lava Jato por compra de ativos da Petrobras na África   

Em 2013, o BTG comprou 50% dos ativos da Petrobras na África, por US$ 1,5 bilhão. Conforme a Folha publicou no ano passado, a transação se mostrou um ótimo negócio para o banco.

Oito meses depois, a Petrobras Oil & Gas, que controla as operações da estatal naquele continente, pagou dividendos, pela primeira vez em sua história, no valor de US$ 300 milhões. Em menos de um ano, o BTG obteve um retorno de 10% sobre o investimento.

A venda para o BTG começou a ser desenhada e se concretizou na gestão da atual presidente da estatal, Graça Foster, que assumiu a companhia no início de 2012.

Até então, a área internacional da Petrobras era dirigida por Jorge Zelada, afilhado do PMDB. Logo após assumir a presidência da estatal, Graça tirou Zelada, e ela própria passou a acumular os negócios na área internacional, como a venda dos ativos na África.

MENOS DA METADE
A equipe de Zelada já estudava se desfazer de parte dos poços no continente africano. Os técnicos chegaram a realizar uma avaliação pela qual seria possível captar US$ 3,5 bilhões com a venda de apenas 25% dos ativos. Em 2013, o BTG comprou 50% dos ativos por US$ 1,5 bilhão. Ou seja, levou o dobro pagando menos da metade.

Essa transação entrou no radar dos investigadores da Lava Jato. Como a Petrobras é controlada pelo governo, a Controladoria Geral da União também tem o dever de apurar se o patrimônio público foi lesado de alguma forma nessa operação.

Ainda como ministro da CGU, Jorge Hage confirmou à coluna, no final do mês passado, que a controladoria recebeu material dos investigadores da Lava Jato e que também já abriu sua própria investigação.

“Embora o trabalho esteja num estágio mais inicial do que esses últimos que temos divulgado, tem esse da África. Está num estado mais inicial [do que as demais frentes relacionadas à Petrobras] porque não temos condição de fazer tudo ao mesmo tempo”, disse Hage.

SUSPEITAS REFORÇADAS
As suspeitas de que a transação beneficiou o BTG foram reforçadas no início do ano passado. Um funcionário de carreira com mais de 30 anos na Petrobras passou a colaborar com os investigadores da Lava Jato. Sem ter seu nome identificado até aqui nos inquéritos policiais, ele colocou em dúvida a idoneidade de dois funcionários destacados por Graça Foster para tocar a venda dos ativos na África.

Num depoimento prestado à Polícia Federal no Rio de Janeiro, em abril do ano passado, o informante afirmou que o negócio foi ruim para a Petrobras. Conforme revelou a Folha no ano passado, Ele disse que o valor real do quinhão abocanhado pelo BTG seria de US$ 3,5 bilhões, do mesmo modo que apontavam as avaliações até 2012.

De abril do ano passado para cá, os investigadores reuniram mais elementos sobre a venda de ativos da Petrobras na África. Foi esse o material encaminhado para a CGU.

Se a CGU ainda está no começo, não se sabe aonde a PF já chegou até aqui. E essa não é a única preocupação de André Esteves, do BTG, com os desdobramentos da Lava Jato.

INVESTINDO EM TUDO…
O banco BTG Pactual se notabilizou nos últimos anos por uma estratégia agressiva de crescimento. Além de fazer um bom caixa com operações de tesouraria no mercado financeiro, o banco investiu mais de R$ 30 bilhões em setores tão díspares quanto farmácias e exploração de petróleo. Parte desse investimento foi feito com capital do próprio banco, e outra parte, com recursos de clientes.

Muitos de seus negócios foram impulsionados com dinheiro dos fundos de pensão de companhias estatais, entre os quais a Petros, dos funcionários da Petrobras. BTG, Petros e outros fundos de pensão uniram seus recursos, por exemplo, na Sete Brasil, que fornece sondas de perfuração para a Petrobras.

O BTG é o maior acionista individual da Sete Brasil. Entre 2011 e 2013, Pedro Barusco foi o diretor de Operações da Sete Brasil. Até 2010, Barusco era gerente-executivo da Diretoria de Serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque, preso na Operação Lava Jato. Para não ser preso, Barusco fechou acordo de delação premiada e prestou depoimento à Polícia Federal. Confessou que, juntamente com Duque, participava de um esquema para favorecer um cartel de empreiteiras que recorrentemente fraudavam licitações da Petrobras.

Admitiu ter recebido propina relacionada a mais de 60 contratos. Prontificou-se a devolver aos cofres públicos US$ 97 milhões do dinheiro sujo que embolsou. Barusco citou nominalmente diversas empreiteiras que faziam parte do esquema. Será que ele tem algo a dizer também sobre a relação da Sete Brasil com a Petrobras? A Sete Brasil é a maior fornecedora de sondas de perfuração da Petrobras para os campos do pré-sal.
Procurado pela coluna, o BTG informou por meio de sua assessoria que não se manifestaria sobre o assunto.


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