"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

AGUENTA, BRASIL!!!

Sarkozy, por muito menos, está em cana.

Collor, por um carro velho, perdeu o mandato.

Tia Dilma e seu comparsa, faceiros, em campanha.

000 ROQUE DEVOLVE, DILMA


03 DE JULHO DE 2014

"FILHO DE BRIZOLA CONTA TUDO". ENTREVISTA À REPÓRTER DIONE KUHN

Ele manteve as finanças nos eixos, sempre com arrecadação eficiente. Foi assim no governo do Rio Grande do Sul. Nos governos dele, sempre havia dinheiro para investir em projetos sociais. Sou suspeito para falar, mas não teve nenhum outro governo brilhante no Rio Grande do Sul depois do dele...
Entrevista publicada originalmente no jornal gaúcho Zero Hora, edição de 21 de junho de 2014

O arquiteto João Otávio, 61 anos, é o único filho de Leonel Brizola que sempre fugiu dos holofotes e da imprensa. Ao contrário de seus dois irmãos, José Vicente — o mais velho, morto em 2013 — e Neuzinha — a mais nova, morta em 2011 —, nunca brigou ou desafiou publicamente o pai. Era o filho com quem Brizola, nos últimos anos de vida, vinha conversando, reavaliando decisões políticas, como se estivesse fazendo um inventário de sua trajetória pública e privada.

Brizola foi prefeito de Porto Alegre, deputado e governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro. Morreu há 10 anos, em 21 de junho de 2004, aos 82 anos, vítima de infarto. Por ser testemunha privilegiada de momentos cruciais da vida do pai, João Otávio decidiu escrever um livro de memórias — ainda sem editor (confira um trecho abaixo).

Pai de João Eduardo, João Otávio vive hoje entre o Rio de Janeiro e o Uruguai, onde administra a fazenda que era da família e uma academia de ginástica. É incentivador da carreira política dos sobrinhos, a deputada estadual gaúcha Juliana Brizola, o vereador do Rio Leonel Brizola Neto e o ex-ministro Carlos Daudt Brizola (conhecido por Brizola Neto). Os três são filhos de José Vicente.

Durante passagem por Porto Alegre, ele aceitou, pela primeira vez, dar uma entrevista. Falou por duas horas com Zero Hora sobre a relação com o pai, os problemas da família e os erros e acertos de Brizola.

Por que escrever um livro sobre seu pai?

Eu tinha uma história para contar. Não tem mais muitas testemunhas vivas para falar de todos os períodos da vida de meu pai. Minha mãe e meus irmãos (José Vicente e Neuzinha) já morreram. Resolvi contar do ponto de vista da nossa relação.

Ser filho de Brizola ajudou ou atrapalhou?

As duas coisas. Ajudou no crescimento profissional. Soube aproveitar as oportunidades que me foram dadas. Mas tem um legado desagradável de ser filho de um político de esquerda, particularmente dele. Tudo o que se fala e se falou de Brizola é política pesada. É política a ferro e fogo. Ou amavam ou detestavam ele. Era assim no Rio e no Rio Grande do Sul. Ainda que no Rio Grande do Sul ele tenha se transformado em figura histórica respeitada já anos antes de morrer. O que não acontecia no Rio. O legado negativo é toda a falta de ter um pai, a dificuldade de relacionamento, associada a cobranças e ameaças paraque fôssemos perfeitos.

Como eram essas cobranças e ameaças?

Meu pai e minha mãe (Neusa Goulart Brizola) eram pessoas muito diferentes e, ao mesmo tempo, muito iguais. Eles se amavam muito, mas cada um tinha seu gênio. Ela vinha de uma família rica, sempre teve tudo que quis. Quando tinha 22, 23 anos, o pai dela morreu. Minha mãe teve de assumir os negócios da família junto com meu tio Jango (João Goulart, ex-presidente da República). Era uma moça bonita, elegante, inteligente e rica. Meu pai veio de família pobre, se formou à custa de muito trabalho e se fez sozinho. O casamento tinha amor, mas também teve muita conveniência política. Ela tinha surtos de poder e ele querendo conter isso. Ela estava acostumada a ter empregados. Na fazenda, eram mais de 20 famílias que viviam ali pela comida, coisas do período da escravidão. A família Goulart era vizinha de Getúlio Vargas. Tudo isso proporcionou um mundo de prosperidade e de poder para minha mãe e para o tio Jango. Por isso minha família tinha contradições muito grandes.

Que contradições?

Minha mãe queria uma coisa e meu pai queria que a gente parecesse outra. Quando pequenos, morávamos na Rua Tobias da Silva (no bairro Moinhos de Vento). Toda a família da minha mãe frequentava o Leopoldina Juvenil. Mas nós tínhamos de ir para o Grêmio Náutico União porque era mais popular. Quando o pai virou governador, foi ainda pior. Ele só queria que fôssemos num clube ainda mais popular, o Grêmio Náutico Gaúcho. Lembro que teve uma competição de natação de 50 metros. Fui participar todo animado. Só tinha um na raia, geralmente se colocavam uns cinco ou seis na raia. Esse único que competia parou na metade da prova para deixar eu ganhar. A mãe se deu conta e ficou furiosa. Ela disse "vocês nunca mais pisam aqui". Tudo porque tínhamos de fazer a imagem. Todos da família da minha mãe eram gremistas históricos. Nós tínhamos de ser colorados para parecer mais populares. E todas essas contradições apareceram mais tarde, criando problemas para mim e para os meus irmãos.

Que tipo de problemas?

De se rebelar contra ele. Eu, talvez, tenha tido um destino diferente dos meus irmãos por causa de minha madrinha, a dona Mila Cauduro, que me influenciou muito. Já o José Vicente e a Neuzinha se rebelaram muito contra o pai. Esse foi o lado ruim. O pai sempre dizia que tínhamos de lutar para conseguir as coisas, porque ele lutou, mas não se dava conta de que morávamos num palácio. Era outra realidade. E a minha mãe lutando contra isso, contra esse lado forte dele. Era difícil.

E o lado bom dos pais?

Sem dúvida que houve. Minha mãe era muito carinhosa. Ele também sabia ser quando queria.

Brizola se dedicava aos filhos?

Muito pouco. Quando morávamos em Porto Alegre, geralmente os domingos eram dedicados à família. A imagem que ficou é do pai e da mãe discutindo, e era muito desagradável. Ele adorava acampar no alto do Morro da Polícia. Uma vez, quando era prefeito da cidade, parou numa estrada que cruzava por Gravataí ou Viamão, não lembro bem. Parou na esquina e montou acampamento, fez fogo. Passamos a noite numa barraca. (risos) Meu pai era um homem do campo. E a minha mãe era a dona do campo. Essa é a história.

Eles brigavam muito?

Muito, tinham fúrias. Principalmente depois que fomos para o exílio. Ali os problemas afloraram. Eles não se davam conta, mas em Porto Alegre a gente estudava num colégio de primeira, o Farroupilha. Chegamos a Montevidéu e fomos para um de terceira categoria. De repente, estávamos num colégio onde as pessoas até roubavam dos outros. Não sabíamos direito o que estava acontecendo. Foi um choque. Não tínhamos documentação, então tivemos de ir para onde nos aceitavam. Como escrevo em meu livro, passamos de principal família dirigente de um país para bandidos fugindo da lei. Já meus primos, filhos do Jango, foram para um colégio americano. Acho que toda a natureza das histórias de contradição vem daí. Pensando bem, minha mãe casou com meu pai para fazer frente ao Jango. Já Jango casou com a Maria Thereza para fazer frente à família dele. Maria Thereza não era a pessoa que os Goulart queriam. Ela mesma dizia que caiu de paraquedas. Vai entender.

Ao contrário de José Vicente e Neuzinha, você sempre fugiu dos holofotes. Por quê?

A Neuza Maria sempre foi problemática. Era a queridinha de meu pai, filha mulher, acostumada a ter tudo o que queria. Quando era contrariada, queria virar a mesa. E assim cresceu. Lá pelo quarto ano de exílio, tive de ir para a Inglaterra fazer uma cirurgia de correção no fêmur (em razão de um acidente de trânsito), e ela foi junto. Ficou interna num colégio. Lembro que fomos visitá-la, certa vez, e Neuzinha tinha engordado muito. A mãe ficou apavorada, quis tirá-la de lá, pois estava achando horrível. Acho que foi um erro da mãe, ela estava engordando mas não tanto assim. E a Neuzinha não queria sair de lá, estava se sentindo bem. Acabaram levando de volta ao Uruguai. Colocaram a Neuzinha numa escola britânica em Montevidéu. De lá, ela foi expulsa e nunca mais engrenou. Em seguida parou de estudar.

E José Vicente?

Com ele foi diferente. A briga dele com o meu pai sempre foi mais política. O Zé Vicente sempre foi muito desastrado, não conseguia fazer as coisas direito, parou de estudar. Chegou a ser deputado federal (eleito em 1990), mas numa época em que meu pai elegia até um poste. Não me dava muito bem com ele, embora nunca tenha rompido. Com minha irmã, a relação era mais fácil. As loucuras dela não eram comigo, eram mais para atingir meu pai. No Brasil, bem ou mal, tínhamos uma vida traçada. Depois do golpe militar, tudo mudou radicalmente. Minha mãe várias vezes entrou em crise. Talvez meus pais não se dessem conta de que nós não éramos eles, que a gente ia sofrer com toda essa mudança. Faltou um pouco de psicologia.

No início do exílio, Brizola tentou voltar por meio da guerrilha. Como foi esse período?

Ele conspirou muito, recebeu dinheiro, não tenho dúvida disso.

Dinheiro do governo de Fidel Castro?

Certamente, até porque não tinha outro para dar. Cuba era o país que estava deixando o mundo nervoso. Meu pai se agarrou no primeiro cipó. Durante os primeiros quatro meses, estava tudo tranquilo. Meu pai e Jango eram muito amigos, se frequentavam o dia inteiro. Mas o pai querendo conspirar. Tinha um grupo político forte lá, de umas 300 pessoas. Darcy Ribeiro e Waldir Pires foram a Cuba fazer essa gestão (de buscar o dinheiro para a organização da guerrilha). Quando eles voltaram, lembro que era tudo em moedas de 50 pesos mexicano. Eram umas moedas de ouro. Não sei como era o trato disso. Ele montou em uma chácara perto de Montevidéu um centro de treinamento de guerrilha. No fundo, ele via a realidade que acontecia na época com muita clareza. O país levou muito tempo para acordar.

Você chegou a frequentar essa chácara?

Fui umas três, quatro vezes. Eram os piqueniques de domingo. Esse era o motivo. Daí eu via que tinha armas lá. Ele me ensinou a atirar, eu atirava em pombas. Mas, logo depois, me desinteressei. Várias vezes chegavam cargas de armas lá. Uns três meses depois, ele brigou com meu tio de forma definitiva, romperam publicamente.

Como foi esse rompimento com Jango?

Segundo meu pai contava, ele tinha um plano de explodir o entreposto da Deal (Departamento Estadual de Abastecimento de Leite), em Porto Alegre, tinha toda uma operação montada para isso e que foi abortada. E o Jango foi contra essa operação. Lembro da minha mãe dizendo que o irmão dela não participaria e que ela não queria que meu pai também participasse. E aí romperam. Só reataram em 1976, pouco tempo antes de Jango morrer. Meu pai começou a deixar o governo uruguaio muito nervoso, a pressão do governo brasileiro para confiná-lo era grande. Acabaram confinando ele no Balneário de Atlântida (nas proximidades de Montevidéu). Isso foi em fevereiro de 1965. Era um balneário deserto. Em seguida, meu pai alugou um edifício, tinha uns 20 apartamentos. Era a base perfeita, ele driblava a polícia uruguaia. Lembro dos movimentos estranhos. A empregada tinha de entregar 20 pratos de comida, dar três batidas na porta e depois sair correndo porque não podia ver quem estava lá. Nós éramos totalmente proibidos de ir do sexto andar para cima.

Você presenciou alguma cena da guerrilha?

Teve um episódio em que ele me chamou para ir junto. Foi numa praia, à noite, ao fundo uma luz piscando e daí surgiu uma lancha de motor rápido e encalha na areia. Começaram a baixar caixas de armas, entregaram um saco de dinheiro para um cara, a lancha voltou para o barco que fazia sinal e a gente foi embora. Eu perguntava o que estava acontecendo. Meu dizia "não te interessa". Ele sempre dizia assim: "Especula, especula". No final de 1966, ele fechou tudo, decidiu comprar uma fazenda perto de Atlântida e montou um tambo de leite, que nunca deu certo. Daí começou a trabalhar, passamos por uma fase de tranquilidade. Em 1968, fui para a Inglaterra fazer a cirurgia. Nos últimos anos, os negócios estavam dando certo, ele estava comprando terras, ficando mais próspero.

Quanto veio de dinheiro de Cuba?

Dizem que foi US$ 1 milhão.

Ele falava abertamente sobre isso?

Falava, mas eu tinha de arrancar. Lembro de um baú de madeira enorme com moedas de ouro. Ele se trancava nos quartos e, certa vez, eu entrei e vi um monte de moedas. E não era pouco. Outra vez, ainda em Atlântida, cheguei a uma lanchonete e havia três brasileiros bêbados falando que eram do esquema do Brizola em Caparaó. Muito tempo depois, eu perguntei para ele se havia esse plano de armar uma guerrilha na Serra do Caparaó (divisa entre Minas e Espírito Santo). Ele disse que havia o plano de fazer algo como a revolução cubana (que começou por Sierra Maestra). Mas logo viu que o povo não iria aderir, não tinha a menor chance de dar certo. As próprias pessoas que chegavam para ser treinadas vinham de terno e sapato. Para fazer uma operação de campo como essa tinha de ter experiência em montanhas. Tanto que só durou três, quatro dias.

E o que foi feito com todo esse armamento?

Ele sempre teve paixão por armas. Tanto que quando morreu encontramos em um armário do apartamento de Copacabana vários rifles. Deu trabalho se livrar dessas armas. Como você vai justificar? Chamamos um coronel da PM que era da nossa confiança e pedimos para dar um jeito. Os últimos exemplares estão lá num contêiner na fazenda. Tem uns três ou quatro. Da grande parte do armamento ele deve ter se livrado, mas sempre guardou alguma coisa.

E o que foi feito do dinheiro?

É complicado dizer exatamente, porque eu não sei. Minha mãe tinha terras em São Borja, eles tinham uma fazenda em Mostardas, conhecida como Pangaré, e que depois ele deu metade para um projeto de reforma agrária. Minha mãe, com razão, xingou ele a vida inteira por ter feito isso. Logo que veio o golpe de 1964 essas terras foram compradas a preço de nada. No Uruguai, tinham uma fazenda de 2 mil hectares, um apartamento. Eles viviam apertados, o orçamento era limitado. Já com Jango era mais folgado, até porque ele sabia fazer negócios. Meu pai sabia mais era fazer política.

De que forma seu pai se referia a Jango?

Depois do rompimento, Jango era o satã. Tanto que em uma determinada época, eu tinha uns 16, 17 anos, quis me aproximar de meu tio para ver se era isso mesmo. Foi uma das melhores coisas. Meu pai sempre chamava os adversários daquilo que eles não eram. Com o meu pai tinha de ser do jeito dele ou de jeito nenhum. Já o Jango era conciliador, queria resolver as coisas numa boa. Ficava difícil os dois conviverem pacificamente. Tanto que tomaram caminhos diferente. A mais afetada por essa briga deles foi a minha mãe. Ela era muito amiga do irmão, cresceram juntos. No início do exílio estava tudo bem, as famílias sempre juntas, mas depois, com o rompimento, ela começou entrar em baixa, a ficar deprimida, a beber.

Brizola sabia lidar com a situação?

Foi difícil. Ela precisou ser internada várias vezes, tinha crises. E ele fica muito mal, às vezes transferia a depressão, as frustrações dele para nós. E a gente não sabia para onde ir.

Como foi a expulsão do Uruguai e viagem para Nova York?

Nessa época estávamos todos muito mais maduros. O Uruguai estava ficando difícil, Jango já tinha morrido (em dezembro de 1976) e o meu pai se sentia seguido. Era uma ditadura feroz. Estava exilado há 13 anos, quieto, numa vida mais tranquila e um dia chegou um decreto do governo determinando cinco dias para sair do país. Eu já estava estudando no Rio de Janeiro, o Zé Vicente estava em Porto Alegre e a Neuzinha morava com eles. Fui para Montevidéu. Cheguei lá e senti o clima estava tenso. Quando o pai vinha voltando do escritório do governo uruguaio, após assinar o documento da expulsão, ele decidiu entrar na embaixada americana e pedir asilo. E daí é a história que todos conhecem. O pai sempre dizia que foi o próprio Jimmy Carter (presidente americano) quem decidiu pela entrada dele nos Estados Unidos.

E a chegada em Nova York?

O Jornal Nacional fez uma reportagem mostrando o desembarque dele. A partir dali, não sei direito por que, começou a contagem regressiva para a volta dele ao Brasil. Na minha opinião, foi a jogada mais inteligente que o meu pai fez na vida dele, a de entrar na embaixada americana e pedir asilo. Foi total feeling dele. Ele sempre disse isso, que queria testar a política de direito humanos do governo Carter. E funcionou.

Em algum momento o Brizola realmente se sentiu ameaçado de morte?

Nos últimos dias no Uruguai, sim. Mas nunca teve um atentado contra ele nesses 15 anos de exílio.

Brizola retornou ao Brasil com a Lei da Anistia, em 1979, dando início a uma terceira fase da vida. Como foi a volta?

Tão logo se instalou no Rio, o pai começou a montar o partido, a se movimentar politicamente. E minha mãe voltou a entrar em depressão. Dizia que não era isso que esperava, que queria voltar para a fazenda no Uruguai. Ela adorou o período em que estiveram em Nova York, porque lá estava ao lado dele o tempo todo. No Rio ela não conseguiu acompanhá-lo, e daí não se recuperou mais, nunca mais voltou a ser a mesma. Por pouco eles não se separaram. Ela não conseguia seguir o tranco dele. Ainda por cima ele era muito chegado a mulher, mulherengo.

A Neusa sabia dos relacionamentos dele?

Sabia. Ele negava sempre, mas estava na cara. Ficava difícil ela controlar a situação. Eles retornaram ao país no final de 1979. Entre 1980 e 1981, o pai se dedicou a montar o PDT. Na eleição de 1982 (a primeira eleição direta para governador após quase duas décadas de ditadura), o pai só passou a ser o favorito na disputa nos últimos dois meses de campanha, mas a mãe já estava em Nova York em tratamento. A situação estava ruim. Ela retornou ao Brasil três meses depois de ele ter tomado posse. Tentou assumir algumas funções assistenciais.

Que tipo de tratamento ela fez?

Psiquiátrico, para tentar superar toda essa mudança. No Brasil, não tinha a menor condição. Quando ela voltou, teve um período de recuperação, mas, em seguida, ela parou de acompanhar ele. Eu já estava trabalhando numa construtora como arquiteto recém-formado. Era residente de uma obra. Meu pai saltou nas pesquisas, e a construtora viu que eu tinha que ter outras funções. Sem falar que já juntava gente para me pedir emprego. Não tinha mais condições de eu continuar naquele escritório. Pedi para sair, para a grande decepção deles. Fui ajudar meu pai, mas ele também não deixava eu chegar muito perto dele. Até que surgiu a possibilidade de eu contribuir no projeto de construção do sambódromo.

Por que ele não deixava você chegar perto?

Ele achava que não era da nossa conta. Quando a gente perguntava alguma coisa, a resposta era a mesma: "Isso não é da sua conta". Como se quisesse nos proteger. Dizia "você tem de aprender muito para chegar até aqui, olha quem eu sou e olha quem tu és". No fundo, era uma pessoa muito carinhosa, como todo bom político. Nos tratava como aliados políticos ocasionais. E não éramos, né?

O sambódromo foi a primeira missão que ele lhe deu?

De trabalho, foi. Ele disse que eu poderia ser o fiscal da obra. Ali cresci profissionalmente, já estava com 27 anos. No fim, já estava dirigindo a obra toda. Mas, antes disso, ainda no exílio, fui várias vezes para Portugal (onde Brizola morou por um tempo), fazia ligações para ele, já gerenciava os negócios no Uruguai. Ele sempre manteve o José Vicente distante disso tudo. Tanto que ele montou um negócio totalmente separado para ele no Uruguai.

Por que Brizola confiava mais em você?

Ele via que eu não gastava dinheiro, que me preocupava com o equilíbrio econômico dos negócios. Eu tinha outra visão. Mas, na infância, não foi assim. O pai e a mãe davam muito mais coisas para o Zé Vicente porque ele era o primogênito. Na família da minha mãe sempre teve o culto ao primogênito. Não sei de onde veio isso, nem todas as famílias do Rio Grande do Sul faziam isso. Então o maior sempre tinha os privilégios e era o dono da verdade. E o meu irmão sempre teve um caráter violento, eu brigava muito com ele. Eu sempre levava a pior, a razão sempre estava com ele. E isso foi me distanciando um pouco deles. Isso fazia eu ir muito na casa da minha madrinha (Mila Cauduro). Ela me ensinava etiqueta, coisas que, para meu pai, eram mundanas demais. Comecei a ver o mundo de uma forma diferente. Ela me ensinou que o dinheiro não vinha fácil e era preciso saber gastar. Ela me influenciou muito. Tenho certeza de que optei pela arquitetura por causa disso.

O segundo mandato de Brizola como governador do Rio (1991-1994) foi muito contestado. Foi ali que ele soube que o sonho de chegar à Presidência estava sepultado (Brizola concorreu para presidente nas eleições de 1989 e 1994)?

Não. O sonho de chegar à Presidência foi sepultado em 1989. Foi uma eleição muito estranha. Eu acompanhei bem porque ali já tinha voz ativa, sempre dentro dos limites que ele permitia. Mas cada vez ele me ouvia mais. Às vezes, tinha uma atitude debochada, tipo "você não sabe de nada, tem muito que aprender". E adorava fazer isso na frente dos outros, para a minha desgraça (risos). Mas. voltando a 1989, ele mesmo dizia que tinha uma coisa que prendia ele para trás. O general Golbery (do Couto e Silva, chefe da Casa Civil dos governos militares de Geisel e Figueiredo) foi muito inteligente. Até hoje a política brasileira vive de suas decisões e ensinamentos. Ele criou esse modelo partidário que está aí, dividindo o sindicalismo, deixando ascender o Lula, uma pessoa que não era comprometida com o passado. Lula era muito mais fácil de ser digerido em 1989. Os militares botaram uma carga de negativismo em cima do legado de Getúlio, Jango e Brizola. Principalmente no modelo sindical criado por Getúlio. Eles queriam sepultar a história. Meu pai tentou se aproximar de Lula diversas vezes, mas ele sempre o hostilizava. Então a esquerda ficou dividida em 1989. Ainda colocaram as candidaturas de Ulysses Guimarães e Mário Covas para tirar votos da esquerda. Já a direita se uniu em torno de Fernando Collor. Foi ali que meu pai se convenceu que era muito difícil se tornar presidente.

Como era a relação de Brizola com Lula?

O pai tentou muito se aproximar dele. O ponto mais próximo foi na eleição de 1998 (quando Brizola concorreu como vice de Lula), mas não tinham chance de vencer. Depois, quando Lula ganhou, em 2002, o José Dirceu (braço direito de Lula, que viria a ser ministro) não deixou que meu pai fosse ministro de nada. Disse que era para colocar Brizola como embaixador no Uruguai. Primeiro cogitaram que ele fosse ministro da Agricultura, depois, da Educação. Acabou não ficando com nada.

O convite para ser embaixador foi feito?

Sim, foi feito. Mas o pai me dizia: "Ainda vou ter de ficar apertando a mão desse cara (José Dirceu) na pista do aeroporto de Montevidéu como se fosse empregado dele". As relações entre Brizola e Lula terminaram muito mal. (Quando Brizola morreu, ambos já estavam rompidos politicamente)

Quais foram os maiores acertos do seu pai?

Ele manteve as finanças nos eixos, sempre com arrecadação eficiente. Foi assim no governo do Rio Grande do Sul. Nos governos dele, sempre havia dinheiro para investir em projetos sociais. Sou suspeito para falar, mas não teve nenhum outro governo brilhante no Rio Grande do Sul depois do dele. Já nos dois governos do Rio foi mais difícil, tinha oposição do governo federal. Mesmo assim, fez um plano de investimentos que poucos fizeram até hoje. A eficiência administrativa era muito boa. Praticamente não havia endividamento.

E os maiores erros políticos?

A minha visão foi que ele subestimou o poder dos Estados Unidos antes do golpe militar. Ele achava que o poder dos americanos era só nas armas. Não era. O poder estava também em Wall Street e em Hollywood. O primeiro comanda a engrenagem financeira, o outro comanda como o mundo pensa e se comporta. Pouco antes de morrer, conversando com ele na fazenda, perguntei se ele não tinha se dado conta disso. Mas ele não aceitava. Nunca compreendeu que era muito difícil fazer as reformas de base da maneira que queria. Estava claro que quem mandava eram os Estados Unidos. Daí vem um gaúcho querendo implantar reformas. Outro erro estratégico ocorreu quando ele voltou ao Brasil (em 1979, depois de um exílio de 15 anos). Poderia ter chegado à Presidência e feito parte das reformas que tanto queria se tivesse sido um pouco mais flexível, se tivesse se aberto mais para a direita.

Que avaliação você faz do PDT?

A avaliação é muito ruim. Tudo se desvirtuou muito. De um lado, tem os meus sobrinhos, com suas aspirações legítimas. São jovens, têm o gene da política. Por outro, todo esse grupo que controla o PDT. Toda essa briga é devastadora. Meu medo é que, nas próximas eleições, a resposta venha. O partido não tem mensagem, simplesmente quer se juntar com outros para ter cargos. Nunca foi o que o pai quis fazer. Meu pai sempre preferiu ficar no ostracismo a fazer composições. Me pergunto por que o Carlos Lupi (presidente do partido desde que Brizola morreu) não sai candidato nas eleições se ele está tão bem, tão firme, tem tantos diretórios na mão? Meu sempre dizia que o partido tem de ser controlado por quem tem votos.

Os seus sobrinhos carregam o DNA do avô?

Cada um tem um pouquinho. Todos os três são inteligentes. A mãe e a avó deles (Nereida e Dóris Daudt) fizeram muito o caráter deles. Tudo que talvez o José Vicente não tenha dado, elas conseguiram. Também tiveram a chance de conviver com meu pai. Eles têm tudo para serem grandes políticos. Eu não tive esse DNA.

Por que você não teve esse DNA?

Talvez porque me identificava mais com o estilo de meu tio (João Goulart) do que com o de meu pai. Minhas natureza é mais calma, conciliadora. E isso não era aceito. A maneira de fazer política para o meu pai era fazer do jeito que ele queria.

O seu irmão, José Vicente, chegou a ser deputado, mas não vingou como político.

Não, não vingou. Ele só foi deputado porque a situação era muito fácil. O Zé Vicente se elegeu em 1990, quando meu pai se elegeu pela segunda vez governador do Rio, com 60% dos votos válidos. Minha mãe trabalhou todo tempo para eleger o filho. Lembro que ela renasceu naquele período.

Você leu o livro sobre a sua irmã, Neuzinha?

Não li todo. Mas a Laila (filha de Neuzinha) quis fazer o livro a partir de depoimentos gravados da mãe. Não conheço o autor do livro, mas minha irmã sempre foi de uma imaginação fértil demais. Gostava de aumentar as histórias. Tem vários episódios em que não dá para acreditar. Que ela tinha problemas com drogas toda nossa geração teve, uns mais, outros menos. É um relato da vida dela, da imaginação dela.

Você sente saudade do seu pai?

Sinto. Sinto falta, mas, em outras horas, não sinto, por tudo que passei. Vou contar uma coisa importante. Alguns anos antes de ele morrer, começou a pedir para eu retornar dos Estados Unidos (João Otávio morava em San Diego, onde tinha uma empresa de construção e reforma de casas). Ele dizia: "João, está na hora de você voltar para casa, de ficar por aqui". Também não sabia se aquele era o meu projeto de vida ficar construindo casas. Quando voltei, em 2002, passei a conviver mais com ele. Viajávamos todos os meses para o Uruguai. Virei um companheiro de viagem. Tudo acontece por uma razão. Aproveitei esses momentos juntos para falar sobre tudo, como se tivesse saneando minha relação com ele. Falei sobre todos os assuntos bons e ruins.

Que tipo de conversa?

Eu perguntava coisas como "você nunca pensou que seus filhos cresceram num palácio e que jamais poderiam estudar numa escola rural ou ser engraxates na Galeria Chaves, que a nossa educação era outra, que não adiantava forçar para parecermos mais do povo?". Ou "por que vocês nos criaram com tão pouco amor próprio?" Ele respondia: "Porque eu não sabia fazer melhor, achava que era o certo". Aos poucos, fui entendendo o outro lado. Consegui conversar de uma forma que jamais conseguira.

Por que ele rompeu com seu irmão mais velho, José Vicente?

No auge da briga dos dois (entre 2000 e 2003), o pai me mostrou um álbum de fotografias em que aparecia uma foto dos três filhos pequenos sentados em um murinho da casa de Capão da Canoa. E ele me perguntou como se não soubesse a resposta: "Nós criamos vocês a pão-de-ló, como pode seu irmão ter saído assim?" Ele me perguntava querendo saber onde foi que errou, sem admitir que sabia onde tinha errado. Eu disse que ele tinha nos criado sem muito amor-próprio em função da sua profissão, sempre querendo que as coisas estivessem no lugar que ele queria. Nós éramos uns brinquedinhos. Falei para ele da atitude de querer ralhar com a gente na frente dos outros para dar exemplo. Essas conversas foram saneando nossa relação.

Alguma vez você rompeu com seu pai?

Nunca, mas ficaram muitos danos. E isso fazia com que eu tivesse bloqueios. O pai e a mãe nos dividiam, quando crianças, para poder nos controlar. Isso deixou os irmãos muito desunidos.

Quando você foi se dar conta disso?

Só depois de adulto. Tanto que, uma vez, eu disse a ele que não adiantava mais falar mal do Zé Vicente para mim pois eu não poderia resolver os problemas dele. O pai tinha dificuldade de fazer a gente conhecer o mundo como ele realmente era. A relação era de muita nitroglicerina, piorada com o exílio. Ele tinha só 42 anos quando foi obrigado a deixar o país. Eu tinha 11, o Zé, 13, e a Neuzinha, nove. Do dia para a noite, a sorte e a fortuna da família mudaram radicalmente.

Brizola, em algum momento, no final da vida, admitiu os erros familiares que cometeu?

Uns 15 dias antes de morrer, ele chamou minha prima, a Denize (filha de João Goulart). Queria pedir desculpas para ela, em nome de meu tio, da minha mãe e dele, por tudo que eles fizeram de errado na relação com os filhos e sobrinhos. Era como se estivesse passando a vida a limpo. E, em seguida, ele se foi. Só soube dessa conversa depois que ele morreu.

Trecho do livro de memórias que João Otávio está escrevendo:


"Nós nos mudamos para um apartamento no centro de Montevidéu ao lado da Casa do Governo, apenas a sete quadras de distância da escola. No primeiro ano, fomos sempre levados para a escola por um motorista, por razões de segurança, mas, como as coisas se acalmaram, tornou-se possível se comportar mais como cidadãos normais. Às vezes, nossa mãe nos levava a pé para a escola no período da manhã . Em uma dessas vezes, vi um amigo da minha ex-escola no Brasil caminhar no sentido oposto com sua mãe.
— Mamãe, olha — eu falei, animadamente
— É o Pedro!
— É mesmo. Vamos lá e dizer 'olá' — disse minha mãe.
Naquele momento, a mãe do Pedro nos viu e eu nunca vou esquecer o olhar de horror que atravessou seu rosto enquanto Pedro levantou a mão para acenar. Ela agarrou o braço dele e os dois fugiram tão rápido quanto eles podiam. Ela sequer tentava fingir. Embora eu não entendia o que estava acontecendo, minha mãe entendeu completamente. Para qualquer brasileiro, naqueles tempos, ser associado com alguma coisa a ver com Leonel Brizola era arriscar prisão, literalmente e socialmente.
— Vamos para casa — disse ela, dando-me um abraço.
E eu vi que ela estava chorando.
— Leonel — ela gritou, logo que entrou em casa.
— Você não vai acreditar no que aconteceu ...
Eu comecei a entender um pouco melhor o que estava acontecendo. Fui até o meu quarto. Meu pai tentou acalmá-la e, depois de um tempo, veio e sentou ao meu lado na cama, colocando o braço em volta dos meus ombros.
— Você tem que entender, João, que essas coisas são tão precisas quanto um cálculo estrutural. Quando você está no poder, você atrai muita gente, todos querem chegar perto de você. Mas, quando você está exilado, eles vão fugir de você, verão apenas seus defeitos. Você vai ver na vida que, quando se está no governo, todo mundo é seu amigo e tudo é belo, mas quando você está fora, todos vão estar à procura de razões para evitar você. Eles são como abutres, circulando no céu, observando e esperando você tropeçar antes de atacar e se alimentar do seu cadáver.
Como um engenheiro, ele foi sempre soube explicar as coisas em termos precisos."


03 de julho de 2014

ELEITOR DO PT

000 roque ELEITOR DO PT
 
03 de julho de 2014


A CULPA TAMBÉM VAI TER COPA

 


O que todos os “otarius brasilianus” precisam saber, passando essa euforia futebolística que veda os olhos deles. Não deixe de ver…


https://www.youtube.com/watch?v=JMq1_82Io_M&feature=player_embedded

03 de julho de 2014
 

É SOBRENATURAL: A NOVA ORDEM MUNDIAL

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA JORGE SERRÃO

Pesquisas do Banco Central e de revendedores de veículos mostram problemas com crédito e inadimplência
 

O funcionamento do sistema financeiro, a política de juros altos, a absurda carga tributária em 56 impostos, a burocracia e lerdeza judicial que atrapalham o respeito aos contratos, o aumento do custo de vida (gerando carestia ou inflação) - que tornam o crédito arriscado para quem fornece, temerário e caro para quem pega – são os principais gargalos que precisam ser resolvidos, urgentemente, na política econômica brasileira. Do contrário, fica inviabilizado qualquer esforço produtivo e empreendedor. As empresas e as pessoas quebram!

O problema ficou claro na divulgação, ontem, de duas pesquisas. O estudo “O brasileiro e sua relação com o dinheiro”, elaborado pelo Banco Central do Brasil, mostrou uma queda na posse de cartões de crédito e débito, indicando uma estagnação no acesso da população ao sistema bancário. O levantamento mensal da Federação Nacional dos Veículos Automotores (Fenabrave) – setor que responde por 5% do PIB brasileiro – chamou a atenção para as dificuldades de crédito e a alta da inadimplência, causando impactos negativos sobre as vendas de carros e motos. As vendas do setor caíram 17,3% em junho, na comparação com igual período de 2013.

A Fenabrave calcula que a aprovação de crédito está abaixo de 40% nos pedidos de financiamento de automóveis. Maior é a dificuldade de honrar o crédito contratado. É evidente o comprometimento da renda das famílias. Estima-se uma inadimplência média de 5%. A cada 100 inadimplentes, os bancos conseguem recuperar 15 carros em um prazo que ultrapassa 200 dias. Na média, após essa recuperação, com a depreciação do valor do automóvel, multas, IPVA atrasado e despesas com busca e apreensão, os bancos retomam cerca de R$ 10 mil de um valor médio financiado de R$ 25 mil. 

Ou seja, a situação é péssima para quem não consegue pagar. Porém, aparentemente ruim para os bancos – que ainda faturam algum com os leilões e revenda dos veículos apreendidos.

Treinamento para a fraude?

Os super ataque de hackers, emitindo boletos falsos contra os bancos, chama a atenção para um risco em futuro próximo.

Será que o mesmo não pode acontecer com o sistema de transmissão e totalização de votos do nosso dogmático e inauditável sistema eletrônico de votação?

O tema da insegurança eleitoral já começa a ser tratado, com mais seriedade, pela “oposição” – já que é a única maneira de Dilma Rousseff ser reeleita, nas atuais problemáticas condições político-econômicas.

Sugestão

Flavio Meneghetti, presidente da Fenabrave, sugeriu ontem que seria mais fácil e barato rever o sistema legal de retomada de veículos por quem está inadimplente do que manter os descontos do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) – como tem feito o governo.

Na avaliação de Meneghetti, se houvesse garantia de recuperação do automóvel em 30 ou 60 dias no máximo, os bancos não criariam tanta dificuldade para o crédito como ocorre atualmente.

No Brasil, com o modelo em vigor, o veículo deixa de ser uma garantia segura para quem empresta dinheiro.

Menos judiciário?

O Ministério da Justiça lançou ontem a Estratégia Nacional de Não Judicialização.

A finalidade da Enajud é usar mecanismos como negociação, conciliação, mediação e arbitragem para prevenir e reduzir o número de litígios judiciais, que são caros e morosos.

Da média de 25 milhões de processos ingressados por ano na Justiça do país, 51% envolvem o setor público, 38% as instituições financeiras e 6% as empresas de telecomunicações.

Luiz Carlos Trabuco, que preside o Bradesco e a Confederação Nacional das Instituições Financeiras (CNF), e Murilo Portugal, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), apoiam o combate à judicialização – que afeta o Custo Brasil.

Fies da Pós

O Ministério da Educação (MEC) acredita que a nova modalidade de expansão dos contratos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) a cursos de mestrado e doutorado e para cursos técnicos do ensino médio poderá atingir cerca de 31,6 mil estudantes, matriculados em mais de 600 programas de pós-graduação presenciais em 170 instituições privadas.

Mas, atenção: os Cursos de lato sensu, como especializações e MBA, não poderão solicitar financiamento.

Confira a portaria do MEC no link:

http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=30&data=02/07/2014

Haverá inadimplência no final?


O Fies foi criado em 2001 para atender somente a alunos que desejassem estudar em cursos de graduação em instituições privadas de ensino superior.

Por meio do contrato, o estudante paga, a cada três meses, o valor máximo de R$ 50, que corresponde somente aos juros incidentes do financiamento.

Ao fim do curso, já com o diploma na mão, o estudante tem 18 meses de período de carência para se reestruturar e se preparar para saldar as dívidas, que podem ser parceladas em até três vezes no período financiado do curso, acrescido de 12 meses.

Riocentro trancado


Por dois votos a um, a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 2ª Região decidiu ontem trancar a ação penal que responsabilizava cinco militares e um civil pelo atentado à bomba no Riocentro, em 30 de abril de 1981.

A maioria dos desembargadores entendeu que o crime, ocorrido há 33 anos, está prescrito por não se configurar em crime contra a humanidade, uma vez que não ficou comprovada a participação do Estado na ação.

O Procurador Regional da República Rogério Nascimento, que fez a sustentação oral, já avisou que o Ministério Público vai recorrer da decisão com recursos Especial, junto ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), e Extraordinário, junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Inverdade Ideológica

A Comissão Nacional da Verdade classificou de “deploráveis” os relatórios das Forças Armadas concluindo que não ocorreram torturas e outras violações em sete unidades militares durante a tal “ditadura militar”:

"A Comissão Nacional da Verdade deplora e lamenta profundamente o entendimento exarado nos três relatórios de que não há comprovação da ocorrência de tortura e outras graves violações de direitos humanos nas instalações militares investigadas".

Nas sindicâncias dos militares, a pedido da comissão, marinha, Exército e Aeronáutica responderam que não houve desvio de função nessas unidades militares.

Leia, abaixo, o artigo do General Rocha Paiva: Doispontos fora da curva: resposta a Miriam Leitão

Petralhada sórdida

Andrea Falcão, ex-mulher de Aécio Neves, usou ontem seu facebook para denunciar uma das muitas armações sórdidas que a petralhada vai promover naquele que promete ser a campanha eleitoral mais infame dos últimos tempos:

“Andam espalhando um texto totalmente mentiroso para atingir o meu ex-marido, Aécio, usando a mim e a nossa filha de forma irresponsável. É um material criminoso, que chega a dizer que eu o teria acusado de usar nossa filha para fazer contrabando de diamantes para o exterior! O texto é tão absurdo que beira o ridículo e subestima a inteligência do leitor. Eu me admiro que pessoas supostamente ‘esclarecidas’ estejam divulgando uma baixaria dessas, só explicável em função de muita má-fé. Aécio é um homem de bem, um grande amigo, ex- marido presente, por quem tenho um imenso carinho, assim como por toda a sua família, tão querida. É um pai apaixonado, dedicado e muito parceiro na criação e educação de nossa filha. Ela ama demais esse pai, e sabe o homem correto que ele é. Esse tipo de covardia, nos causa enorme indignação, fortalecendo ainda mais a nossa amizade e união”.
Aécio Neves foi na mesma balada de Andrea:

“Divido com vocês a indignação da minha ex-esposa, Andrea, em seu Facebook, sobre o falso conteúdo que circula nas redes sociais, atribuindo a ela, entre várias mentiras, a afirmação de que eu usaria nossa filha, Gabriela, para fazer contrabando internacional de diamantes. O absurdo e a covardia dos autores dessa calúnia são exemplos de tudo o que não podemos mais aceitar na atividade política no nosso país. O Brasil merece uma campanha eleitoral limpa. Os brasileiros têm o direito de conhecer a verdade sobre os candidatos. A quem interessa espalhar tanta mentira, tanta calúnia?”, rebateu Aécio.

Todo tempo do mundo...



Tatuagem


Protesto Mortal?


Mensaleiros trabalhando...


 

 
03 de julho de 2014
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.

O PARTIDO DOS DOSSIÊS, DOS ALOPRADOS E DOS MENSALEIROS ATACA AÉCIO COM CALÚNIAS NAS REDES SOCIAIS

                      É o desespero dos corruptos.

Aécio e a filha Gabriela

O candidato do PSDB a presidência Aécio Neves (MG) reagiu, nesta quarta-feira, ao envolvimento do nome de sua filha, Gabriela, de 22 anos, em ataques que teriam sido feitos por militantes ligados a seus adversários nas redes sociais. As postagens afirmam que sua ex-mulher Andrea o acusava de ter usado a filha para fazer contrabando internacional de diamantes. O candidato tucano chamou as postagens de “sórdida” e “covarde”, e também replicou em sua página no Facebook um desafabo feito por Andrea.


“Andam espalhando um texto totalmente mentiroso para atingir o meu ex-marido, Aécio, usando a mim e a nossa filha de forma irresponsável. É um material criminoso, que chega a dizer que eu o teria acusado de usar nossa filha para fazer contrabando de diamantes para o exterior! O texto é tão absurdo que beira o ridículo e subestima a inteligência do leitor. Eu me admiro que pessoas supostamente ‘esclarecidas’ estejam divulgando uma baixaria dessas, só explicável em função de muita má-fé. Aécio é um homem de bem, um grande amigo, ex- marido presente, por quem tenho um imenso carinho, assim como por toda a sua família, tão querida. É um pai apaixonado, dedicado e muito parceiro na criação e educação de nossa filha. Ela ama demais esse pai, e sabe o homem correto que ele é. Esse tipo de covardia, nos causa enorme indignação, fortalecendo ainda mais a nossa amizade e união”, diz a íntegra do texto publicado por Andrea.

Aécio chamou o boato de mais uma mentira “irresponsável”, fabricada para atingi-lo. O presidenciável disse que não se deixará abater pelas “agressivas mentiras inventadas” contra ele:

“Divido com vocês a indignação da minha ex-esposa, Andrea, em seu Facebook, sobre o falso conteúdo que circula nas redes sociais, atribuindo a ela, entre várias mentiras, a afirmação de que eu usaria nossa filha, Gabriela, para fazer contrabando internacional de diamantes. O absurdo e a covardia dos autores dessa calúnia são exemplos de tudo o que não podemos mais aceitar na atividade política no nosso país. O Brasil merece uma campanha eleitoral limpa. Os brasileiros têm o direito de conhecer a verdade sobre os candidatos. A quem interessa espalhar tanta mentira, tanta calúnia?”, rebateu Aécio.

(O Globo)

04 de julho de 2014
in coroneLeaks

VENCEU A TRAMPA, DENUNCIA URIBE

 
Passados alguns dias depois do choque com a vitória roubada do camarada Juan Manuel Santos, o Notalatina faz nova edição comentando aquele fatídico 15 de junho e denúncias feitas pelo ex-presidente Uribe dois dias antes das eleições em sua conta de Twitter. Entretanto, em vez de escrever um texto, preferi traduzir e publicar dois artigos: o primeiro, que dá nome a esta edição, da lavra do ex-presidente e senador eleito Álvaro Uribe, e o segundo do querido amigo Ricardo Puentes Melo. E o faço porque eles dizem tudo, melhor do que eu poderia fazê-lo, sobre o que aconteceu no segundo turno da eleição presidencial na Colômbia. Leiam com atenção e desfrutem, sobretudo o vídeo no final. 
 
Comunicado do ex-presidente Uribe.
 
Nossa gratidão à doutora Marta Lucía Ramírez e aos milhões de colombianos que acompanharam esta luta.
Em nome da paz, o governo Santos impulsionou a maior corrupção da história caracterizada por abuso de Governo, entrega de somas de dinheiro a parlamentares para compra de votos, oferta de dinheiro do Governo a Prefeitos e Governadores para forçá-los a intervir ilegalmente na campanha em favor do presidente-candidato, compra de votos, violação da Lei de Garantias, propaganda ilegal com dinheiro do Estado em pauta publicitária que coincide com a publicidade do candidato-presidente.

CRÔNICA DA DERROTA ANUNCIADA

PP de Maluf abandona o PT de Padilha e anuncia apoio ao PMDB de Skaf 



O diretório estadual do PP-SP, presidido pelo deputado Paulo Maluf, decidiu nesta segunda-feira, último dia do prazo para a composição das alianças, abandonar a campanha de Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo do estado de São Paulo, para apoiar a candidatura de Paulo Skaf (PMDB).

Com o recuo do PP – um mês depois do aperto de mão entre Maluf e Padilha para selar o apoio -, o PT perde mais um partido da base aliada do governo federal. PDT, PROS e PSD também já declararam apoio a Skaf.

Além disso, Padilha perde cerca de um minuto na propaganda eleitoral e conta agora apenas com o apoio do PR e do PCdoB. O candidato petista aparece em terceiro lugar nas pesquisas com 3% das intenções de voto, atrás de Skaf, com 21%, e do governador Geraldo Alckmin (PSDB), com 44%.

A decisão do PP foi formalizada após um dia inteiro de reunião entre os membros da executiva estadual, que aprovou a debandada por maioria dos presentes. A sigla estava descontente com a falta de espaço na chapa petista e entendeu que com o PMDB teria mais chances de aumentar sua bancada de deputados.

O senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional da sigla, viajou para São Paulo para tentar demover Maluf da articulação.
- O que pesou foi a questão de composição da chapa majoritária, eles queriam um espaço maior. Conversei com Maluf, deixei clara minha posição contrária a essa mudança – afirmou Nogueira.
Skaf afirmou não houve negociação para o PP compor chapa e que o partido “é muito bem-vindo”.

03 de julho de 2014
Julianna Granjeia
O Globo

"OUVIREMOS OS CONSELHOS!"

Artigos - Governo do PT

Documento nº 91 da CNBB defende "conselhos" e "radicalização da democracia".
Os progressistas assumiram postos de comando, tornaram-se ordenadores de despesa, formaram seus "conselhos" e os doutrinaram na ideologia marxista, para justificar e legitimar os encaminhamentos da "democracia radical" dentro da Igreja, relegando os padres conservadores aos papéis secundários de vigários, sem poder algum de decisão.


Em 2010, por ocasião da 48ª Assembléia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, realizada em Brasília (para comemorar o jubileu de ouro da fundação da capital federal, em pleno planalto central do País, o então secretário-geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa apresentou o documento nº 91: "Por uma Reforma do Estado com Participação Democrática", assinado em 11 de março daquele ano, meses antes do pleito que elegeria Dilma Rousseff como presidente.

Naqueles dias da 48ª Assembléia, estive em Brasília, e procurei vários bispos, inclusive o próprio Dom Dimas, chamando a atenção do Plano Nacional de Direitos Humanos 3 (http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=4030), que o então presidente Lula havia apresentado nas vésperas do Natal do ano anterior, e que causou grande apreensão em vários setores da sociedade brasileira.
Solicitamos que a CNBB tivesse um posicionamento firme sobre o aspecto anticristão do PNDH3. Mas não foi possível tal posição. Os temas da Assembléia vinham das bases, e um deles era o documento nº 91. "Um tema para entrar aqui em discussão vem das bases, dos conselhos!", ressaltou um dos prelados. Em relação ao PNDH3, a apreensão inicial foi apenas passageira.
Logo as vozes se calaram, e vieram as acomodações conhecidas.  A execução do PNDH3 continuou como prioridade do governo do PT, legitimado pelo silêncio e conivência de muitos. Depois que passou a chiadeira inicial, o PT se sentiu respaldado a agir com mais celeridade aos propósitos contidos no PNDH3. 

HOMICIDA VERSUS SUICIDA


Uma avaliação das limitações humanas não está presente em lugar algum nas ações ou teorias neoconservadoras. Deste modo, é improvável que eles evitem aventuras estrangeiras, déficits de orçamento ou aquele tipo de conservadorismo compassivo (que significa o derradeiro colapso da própria civilização).

Parece que estamos a testemunhar uma operação de distração que alveja a fronteira dos EUA com o México (que por sinal está abarrotada de pessoas). Qualquer pessoa com faro estratégico deveria estar alarmada com o rumo que esse caso está tomando.


É um fato objetivo, queiram ou não, que alguém investiu muito para bagunçar nossa fronteira. Agora, inclusive, a patrulha de fronteira enviou pessoas do Arizona para o Texas. Entretanto, as principais rotas do tráfico de drogas que chegam aos EUA passam pelo Arizona.
E como bem sabemos, esses são os mesmos caminhos usados por Moscou no passado para contrabandear armas de destruição em massa (ADM) sem que fossem detectados pelos nossos serviços de segurança.

Sendo assim, há razão para nos preocuparmos, especialmente se considerarmos que a Rússia voltou ao seu elevado estado de alerta e à consequente mobilização e exercício de tropas.
Ao mesmo tempo, o Iraque está sendo perdido para um tipo de blitzkrieg terrorista.

Tudo isso é muito desconcertante, embora Washington continue com sua costumeira estupidez. Enquanto o inimigo se movimenta em todos os fronts, nossos líderes em Washington estão como gatinhos cegos: perdidos e condenados. Eles não sabem o que estão fazendo e não conseguem vislumbrar a ameaça letal que se forma no horizonte.

A MEDIOCRIDADE SE REPETE

Num esforço para salvar metade do ano, ou pelo menos evitar um segundo semestre tão ruim quanto o primeiro, o governo prorrogou o incentivo fiscal à indústria automobilística e à de móveis. Apesar do mau estado das contas públicas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, desistiu de recompor as alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) recolhido nos dois setores. A pouco mais de três meses da eleição, o cálculo político é claro: qualquer agrado aos empresários e qualquer sinal de melhora, num quadro de fragilidade econômica, podem resultar em ganho para a presidente-candidata Dilma Rousseff. Durou pouco a disposição do ministro, proclamada em 2013, de reduzir as desonerações para reforçar o caixa do governo. Em tempo de eleições, os fundamentos da economia, já desprezados em anos anteriores, ficam ainda mais desimportantes.

Com a prorrogação do benefício, a redução do IPI para o setor automobilístico deve resultar, neste ano, em renúncia fiscal de R$ 1,6 bilhão. O agrado aos fabricantes de móveis deve custar R$ 320 milhões, segundo cálculos citados pelo ministro da Fazenda. A soma pode parecer pequena, mas qualquer receita é importante quando as contas fiscais estão esburacadas. Em maio, as contas do setor público - União, Estados, municípios e estatais - foram fechadas com um déficit primário de R$ 11,05 bilhões, o maior para o mês e o segundo maior da série do Banco Central (BC), superado apenas pelo rombo de R$ 20 bilhões em dezembro de 2008.

A corrida, agora, é para evitar a confirmação das assustadoras projeções de crescimento econômico. Economistas do mercado financeiro e de consultorias independentes projetam uma expansão de 1,1% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e de 1,5% em 2015. Para 2014, os técnicos do BC reduziram sua estimativa de 2% para 1,6%, segundo relatório divulgado na semana passada.

Para a produção industrial, o pessoal do mercado calcula uma redução de 0,14% neste ano e uma expansão medíocre de apenas 2,2% no próximo - modestíssima recuperação depois de mais um tombo.

O esforço do governo para impedir um desastre maior no segundo semestre dificilmente produzirá resultados significativos. Amplamente usado nos últimos anos, esse tipo de política foi insuficiente para salvar o País da estagnação. O PIB cresceu 2,7% em 2011, 1% em 2012 e 2,5% em 2013, enquanto muitos outros emergentes conseguiam taxas entre 4% e 6%.

Os números brasileiros teriam sido bem piores sem o desempenho, quase sempre vigoroso, do agronegócio. A maior parte da indústria, nos setores extrativo e de transformação, pouco avançou. O setor de construção, depois de avançar durante algum tempo, também perdeu vitalidade.

A prorrogação parcial dos incentivos, agora concentrados em dois setores, corresponde, portanto, à manutenção de uma estratégia de alcance muito curto. Como política de expansão da economia, essa orientação foi um fracasso, como indicam os dados oficiais.

Para explicar - e justificar - o fracasso, o governo atribui os infortúnios do País às condições internacionais. Se a explicação valesse, ficaria difícil dar contas do desempenho muito melhor de outros emergentes, com crescimento maior, inflação menor e endividamento público mais contido.

A estagnação econômica do Brasil é obviamente causada pela combinação de outros fatores, todos de origem interna. São problemas conhecidos, como infraestrutura insuficiente e inadequada, tributação irracional, desperdício de recursos públicos, intervenções desastradas do governo e pouca segurança para investir e, de modo geral, custos muito maiores que os dos concorrentes.

Favores fiscais e financeiros a setores selecionados - e, em alguns casos, com enorme proteção alfandegária - servem apenas para produzir efeitos de curta duração e pouco impacto no conjunto das atividades. Nada disso contribui para elevar o potencial de crescimento e salvar o País do atoleiro. A crise brasileira é, sobretudo, uma crise de competência governamental.

 
03 de julho de 2014
Editorial O Estadão

FISIOLOGISMO E TRAIÇÕES DE CAMPANHA

Dilma volta atrás na ‘faxina ética’ e reabre cofres dos Transportes ao PR, mas partidos da oposição, assim como todos, selam as mais contraditórias alianças nos estados


Credita-se a Lula a previsão de que nas eleições deste ano o “bicho" iria “pegar”. Houve interpretações variadas do sentido do termo, todas mais ou menos coincidentes: o PT faria tudo para acrescentar mais quatro aos longos 12 anos de permanência no Palácio do Planalto. Confirma-se a antevisão lulista.

É exemplar, no mau sentido, a decisão da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff de se curvar ao esquema corrupto do PR, que administrou o Ministério dos Transportes desde a ascensão de Lula, em 2003, voltando atrás na decisão que tomou na fase da "faxina ética” quando demitiu o ministro Alfredo Nascimento, senador pelo Amazonas e presidente da legenda.

Pois ela se reaproximou de Nascimento, tirou César Borges do cargo de ministro e recolocou no lugar Paulo Sérgio Santos, secretário-geral da Pasta quando Nascimento foi ministro. Paulo Sérgio, embora filiado ao PR, é considerado técnico de carreira. Ontem, o partido cobrou o que deseja no troca-troca: quer de volta o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), convertido por Nascimento num balcão de negociatas, das quais participava o hoje mensaleiro trancafiado Valdemar Costa Neto. Que, da cadeia, participou desta costura espúria. Em questão, pouco mais de um minuto de acréscimo na campanha eleitoral .

Mas o “bicho pega" não apenas no fisiologismo. Todos os partidos, da situação e da oposição, se esmeram na construção das mais escalafobéticas e contraditórias alianças regionais, com o mesmo objetivo: mais tempo na propaganda eleitoral.

No Rio de Janeiro, Dilma Rousseff evita o candidato do seu partido ao governo do estado, Lindbergh Farias, para desfilar em palanques de inaugurações com o adversário dele, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, partido cuja seção fluminense está com o tucano Aécio Neves, por enquanto o principal adversário de Dilma. Por sua vez, o candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, Alexandre Padilha, é "cristianizado" porque se mostra inviável, enquanto o PT namora Paulo Skaf, do PMDB. E este, por sua vez, deseja distância pública de Dilma, pois pretende ser sinônimo de renovação em São Paulo. Já Paulo Maluf, do PP, tirou até foto com Padilha, mas, em cima da hora, abraçou Skaf. Em Minas, outro colégio eleitoral importante, o PSB apoia Aécio Neves, o adversário do seu presidente e candidato Eduardo Campos. Situações como essa se repetem pelo país.

Tudo confunde o eleitorado, incentiva os votos nulos e brancos e desestimula a participação política. Impede a renovação de quadros, e até contribui para eternizar o fisiologismo, por falta de oxigenação na política. E nem chega a ser necessária uma enorme reforma política para combater o mal. Teriam grande e positivo efeito o fim das coligações em eleições proporcionais, para evitar que legendas inexpressivas herdem votos alheios, e o estabelecimento de cláusula de barreira a partidos sem voto. Que a orgia das negociações eleitorais deste ano viabilize, enfim, as mudanças.

 
03 de julho de 2014
Editorial O Globo

APOSTANDO NOS VELHOS REMÉDIOS

Diminuir a carga tributária é meritório, mas fazê-lo na base do casuísmo, como no caso do IPI dos automóveis, é insistir no crescimento da economia pela via do consumo em detrimento da poupança e do investimento

Em 2008, no auge da crise econômica mundial provocada pela bolha imobiliária norte-americana, o Brasil adotou uma política econômica que o salvou do efeito dominó que varreu o planeta. Aquele tsunami, nas palavras do então presidente Lula, não passaria de uma “marolinha” entre nós, pois reduções de impostos para setores importantes da economia, como o automotivo e o dos eletrodomésticos da linha branca, manteriam o consumo em alta, preservariam os empregos e a arrecadação tributária pouco sofreria em razão do aumento da produção industrial.

De fato, na aparência, passamos praticamente incólumes pelos efeitos do crash americano que abalou as mais fortes economias do mundo. A indústria automobilística se recuperou e nunca se venderam tantas geladeiras e fogões. Esses setores, além de ter impostos reduzidos, foram também estimulados pela expansão do crédito. Não faltaram elogios e palavras de admiração sobre o modo como o Brasil se saiu do flagelo – mas já naquela época os mais atentos e experientes nomes da economia apontavam para o perigo de que o benéfico casuísmo se transformasse em regra, com resultados ruins para a economia brasileira no médio e longo prazos.

Os males previstos pelos economistas ortodoxos seriam provocados pela discricionaridade na concessão de benefícios em favor de alguns setores em detrimento de outros e, consequentemente, pela desorganização geral da economia. Além do que, com certeza, chegaria um momento de esgotamento da escalada de consumo. E, no rastro desses desacertos, certamente veríamos a volta da inflação e dos altos juros, do desemprego e da queda da arrecadação, aprofundando o desequilíbrio das contas públicas.

Este é o quadro que vivemos hoje no país, fruto da transformação em regra daquilo que deveria ser passageiro. Mas, ainda assim, o governo não dá demonstrações de ter aprendido a lição. A política econômica inaugurada em 2009 quebrou fundamentos daquela instituída no governo Fernando Henrique Cardoso, calcada na estabilidade da moeda e na clareza das regras estabelecidas – fatores essenciais para a segurança dos investimentos e para a atração de empreendedores. Ao contrário, já com Dilma Rousseff no poder e Guido Mantega mantido na Fazenda, o país não consegue enxergar o ponto de retorno.

Esta visão acaba de se firmar agora com a decisão do governo de manter alíquotas reduzidas do IPI para a indústria automobilística. Não que impostos menores não sejam um ardente desejo dos brasileiros, vítimas de uma das mais altas cargas tributárias do mundo. Mas a questão de fundo, neste momento, é outra: é a insistência do governo em manter o modelo de crescimento via consumo, modelo esse que dá visíveis e graves sinais de esgotamento e que tende a aprofundar as dificuldades de crescimento da economia, somadas à pressão inflacionária (contida com outras medidas heterodoxas, como o represamento dos preços dos combustíveis) e à diminuição do ritmo da criação de empregos. Enquanto isso, o estímulo à poupança e ao investimento, que trariam melhores resultados de médio e longo prazo, segue desprezado.

Talvez – outra vez casuisticamente – a manutenção do IPI reduzido tenha motivação eleitoral, o que leva a supor que, tão logo sejam fechadas as urnas, o país venha a sofrer solavancos de efeitos ignorados, mas certamente desagradáveis. Tudo porque continuamos a insistir na política da “marolinha” enquanto os países que melhor compreenderam o tsunami se recuperam com solidez.


03 de julho de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR

PLANO PARA SÃO PAULO

Novas diretrizes para o desenvolvimento urbano incluem aproximar empregos de residências e incentivar o uso do transporte coletivo

Com um ano e meio de atraso, a Câmara Municipal enfim aprovou o novo Plano Diretor da cidade de São Paulo, importante instrumento legal que estabelece princípios e diretrizes para o desenvolvimento urbano pelos próximos 16 anos.

Tendo recebido 44 votos favoráveis e 8 contrários, o texto reflete, em suas linhas mestras, o pensamento cada vez mais consensual entre urbanistas e a tendência das metrópoles do mundo desenvolvido. Trata-se de promover o adensamento populacional perto de eixos de transporte público e de aproximar empregos de residências.

Em outras palavras, será permitida a construção de espigões nas cercanias de corredores de ônibus, linhas férreas e estações de metrô. Além disso, prédios com mais de uma vaga de garagem por apartamento serão mais custosos nesses eixos. Nos miolos dos bairros, como regra geral, as edificações não poderão ter mais de oito andares.

As orientações são bem-vindas. Ao mesmo tempo em que buscam assegurar relativo respiro a algumas regiões, estimulam o uso do transporte coletivo em uma cidade infelizmente habituada a conviver com o trânsito dantesco.

Para que tais medidas se convertam em aumento do bem-estar da população, é crucial que os meios públicos de transporte recebam a devida atenção das autoridades. De nada adianta aproximar as pessoas de um sistema saturado, desconfortável e ineficiente --isso sem mencionar seu alcance limitado.

No intuito de deixar a cidade mais simpática para o pedestre --o que ajuda a diminuir deslocamentos de carro--, novos empreendimentos em algumas avenidas deverão ter calçadas mais largas que as atuais, enquanto prédios com estabelecimentos comerciais no térreo encorajarão que compras, por exemplo, sejam feitas a pé.

Em sua faceta social, o Plano Diretor incentiva a construção de empreendimentos voltados à população de baixa renda, numa tentativa de mitigar o grave problema habitacional --o deficit na região metropolitana é de 700 mil unidades.

Uma das ações nesse sentido é a expressiva ampliação do número de Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis), áreas destinadas à edificação de moradias populares ou à regularização fundiária e urbanística. A ferramenta, porém, havia sido incorporada ao plano de 2002 e, até aqui, não se mostrou capaz de atingir os objetivos.

Muito dependerá dos próximos passos, com zoneamento, leis de uso e ocupação do solo e outros diplomas municipais. A pressão será enorme. Se o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) mobiliza milhares na defesa de seus interesses, empresas de construção e do setor imobiliário lideraram as doações aos vereadores eleitos.

Caberá ao prefeito e a seus sucessores, bem como aos legisladores, fazer com que as boas intenções do Plano Diretor não se percam em meio à disputa por vantagens pontuais. É o futuro da cidade como um todo que está em jogo.

 
03 de julho de 2014
Editorial Folha de SP