"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

EFEITOS IMEDIATOS


Está claro que a crise da Petrobras afeta as empreiteiras, os bancos, os fundos de pensão, as seguradoras, os fornecedores da empresa, os investidores internacionais, os investidores locais, a economia brasileira, a imagem do país. Será crise longa. Que fique claro, no entanto, que a Operação Lava-Jato não é a causa da crise, é a chance que o país tem de criar outro ambiente de negócios.

Algumas empreiteiras já estão pedindo recuperação judicial. Nem todas estavam tão frágeis como a Galvão Engenharia e a OAS. Outras poderão seguir esse caminho. Eram dependentes daquele modelo de negócios, como diz o Ministério Público. E é esse modelo de negócios que nos infelicita neste momento. É dele que precisamos nos livrar. Sabendo que tinham garantia de aditivos ou de vencer licitações viciadas, as empresas relaxavam em seus cuidados de análise de risco e planejamento estratégico.

Os bancos emprestaram para essas empreiteiras, para a Petrobras e para fornecedores que serão afetados pela redução dos investimentos na estatal. O BNDES teve reduzido seu lucro em R$ 2,6 bilhões por emprestar para a Petrobras ou por ter ampliado participação em seu capital. Curioso é o banco anunciar um lucro de R$ 8,59 bilhões, deixando de registrar que o custo para o Tesouro do dinheiro subsidiado repassado ao banco no ano passado está estimado em R$ 23 bilhões.

Os fundos de pensão são sócios de vários negócios com empresas que hoje estão suspensas dos negócios com a estatal de petróleo. E foram empurrados pelo governo para se associarem às empreiteiras que hoje estão sendo investigadas. Os fundos das estatais estão em negócios que passam por dificuldades. E eles entraram com grande parte do capital. Perderão patrimônio.

Os investidores institucionais globais que perderam dinheiro com a Petrobras já se mobilizaram e entraram com processos coletivos ou individuais, e isso trará prejuízos à empresa. Os investidores locais podem estar mais expostos ao risco do que imaginam, porque na carteira de muitos produtos financeiros existem derivativos dos ativos que agora podem ter desvalorização.

A corrupção no nível a que chegou na Petrobras produzirá inúmeros efeitos deletérios na economia, e ainda não se pode respirar aliviado. A ata da reunião do Conselho de Administração da Petrobras que aprovou a nova diretoria mostrou que o governo continua tratando a empresa como se fosse o quintal do Palácio do Planalto.

Um dos conselheiros reclamou de que eles estavam recebendo os nomes dos novos diretores escolhidos pelo governo no momento da reunião, e um dos currículos não tinha sequer o registro do sobrenome da pessoa indicada. E que receberam a lista dos diretores antes do nome do novo presidente da empresa, o que mostra um processo completamente improvisado de sucessão.

O conselheiro Sílvio Sinedino Pinheiro, um dos três votos contrários, disse que “a difícil situação porque passa a Petrobras deve-se principalmente às indicações políticas”. Ele é representante dos trabalhadores e está de saída. Mas, na reunião, sugeriu que houvesse respeito à meritocracia na escolha dos dirigentes da empresa. “As indicações por partidos políticos, como a Polícia Federal e a Justiça vêm demonstrando, acabam cobrando um alto preço em corrupção e malfeitos. Assim, os trabalhadores da Petrobras anseiam por mudanças e um bom exemplo foi a recente seleção do novo diretor de governança, que foi escolhido no mercado, com o que não concordamos, mas o foi exclusivamente por capacidade técnica e experiência para a função”.

Outro conselheiro que votou contra, José Monforte, lembrou que pelo estatuto é o Conselho de Administração que escolhe a diretoria. E disse que soube pela imprensa da reunião dos novos diretores com o acionista controlador. Monforte chama de “péssima” a governança da empresa.

A leitura da ata da reunião, com o que disseram os três conselheiros que votaram contra, mostra claramente que o governo ainda não aprendeu como exercer o papel de acionista controlador em empresa de capital aberto com acionistas no Brasil e no exterior. A esperança é que a apuração dos fatos delituosos lá ocorridos ajudem a proteger a Petrobras de erros como os que estão cobrando um preço tão caro da empresa e do país.

06 de abril de 2015
Miriam Leitão, Álvaro Gribel

O MANIFESTO DA VIRTUDE NÃO CONTABILIZADA

O Brasil estava à deriva, até que veio o encontro nacional do PT em São Paulo. Os presidentes dos 27 diretórios reuniram-se em torno do oráculo, e aí tudo ficou claro como a pele da elite branca. É sempre assim: por mais tenebrosa que seja a tempestade lá fora, quando o PT se junta em torno de Lula da Silva, tudo fica belo e luminoso. Ficamos sabendo que a crise é pura inveja que os ricos têm do povo. E saiu um novo manifesto -atenção, Brasil! - no qual o partido do mensalão e do petrolão ensina aos brasileiros o que é virtude.

É claro que o manifesto do PT não trata da estagnação econômica, nem da previsão de recessão apontada pelo Boletim Focus do Banco Central. Eles estão no Palácio há 12 anos, mas não têm nada com isso. O documento também não trata da mais recente façanha do partido - a inscrição de seu tesoureiro como réu no processo da Lava Jato. Isso é o tipo de coisa que só interessa à imprensa burguesa. E é justamente a imprensa o que preocupa os companheiros em seu mundo dourado. O manifesto propõe um projeto de lei para controlar a mídia (novidade!) - no exato momento em que a presidente dá posse ao novo ministro da Secretaria de Comunicação exaltando a... liberdade de expressão.

Dilma falou que sabe quanto a imprensa livre é importante, porque ela é uma pessoa que viveu sob uma ditadura. Atualmente, no Brasil, praticamente só Dilma viveu sob uma ditadura. Todos aprendemos a acompanhar, contritos, o sofrimento diuturno de Dilma Rousseff em sua resistência implacável aos militares. Quando começamos a achar que a batalha está concluída, o Palácio do Planalto solta mais um release sobre "Os anos de chumbo", e lá vamos nós sofrer mais um pouco ao lado de nossa heroína. Não há nada mais urgente hoje no Brasil do que apoiar Dilma contra o regime militar. Ela há de nos libertar desse inimigo morto e enterrado há 30 anos.

Enquanto a presidente luta heroicamente pela liberdade de expressão, que só ela sabe quanto é valiosa, seu partido costura docemente a mordaça. O PT já tentou colocar rédeas na mídia até através de um pacote de direitos humanos. Agora, o tal manifesto propõe uma nova regulamentação do direito de resposta. Os companheiros só vão sossegar quando a comunicação de massa no país alcançar o padrão de uma assembleia do partido. Chega de perseguição a guerreiros do povo brasileiro como João Vaccari. A cada denúncia publicada sobre as peripécias do tesoureiro na arrecadação de fundos para a revolução progressista, a mídia há de ter que abrir espaço para a resposta do guerreiro. E ele terá o sagrado direito de declarar, como seu antecessor Delúbio no mensalão, que há uma conspiração da direita contra o governo popular.

O manifesto divulgado pelo PT no dia 30 de março explica que o partido está sendo "atacado por suas virtudes". Não esclarece se entre essas virtudes está a formidável capacidade de captação de recursos junto às empresas investigadas na Lava Jato. Ou a invejável capacidade de escolher e cultivar os diretores certos para a Petrobras, sem os quais uma legião de parasitas e picaretas morreria de fome. Talvez por humildade exacerbada, o manifesto do PT não cita entre suas virtudes a façanha de ter jogado a maior empresa brasileira na lona, rebaixando-a ao grau de investimento especulativo. Tamanho virtuosismo realmente só poderia gerar inveja e perseguição.

"A campanha de agora é uma ofensiva de cerco e aniquilamento", diagnostica o manifesto. "Para isso, vale tudo. Inclusive criminalizar o PT." Eis o escândalo: estão criminalizando o PT. Será que não percebem que todos os crimes pelos quais os petistas têm sido indiciados, julgados e condenados são crimes decorrentes das suas virtudes? Será possível que essa elite golpista não aprendeu a distinguir o crime mau do crime bom?

Na reunião de cúpula, o assessor da Presidência, Marco Aurélio Garcia, esclareceu: "Ganhamos a eleição com uma narrativa que a presidente assumiu de forma corajosa". No dia seguinte, no Senado, o ministro da Fazenda tentava salvar a pele do governo com uma narrativa oposta a essa que a presidente assumiu corajosamente. Talvez seja por isso que as multidões voltaram às ruas: entenderam enfim que estão sendo governadas há 12 anos por uma narrativa

06 de abril de 2015
Guilherme Fiuza, Revista Época

HOLODONOR - 80 ANOS DE UM TERRÍVEL GENOCÍDIO COMUNISTA



Uma das formas mais terríveis de se morrer é por fome. Seja pela interrupção abrupta ou gradual de alimentação , o ser humano passa por estágios que o levam ao total estado de bestialidade. Ao se acentuar a falta de nutrientes, o corpo começa a consumir partes menos “importantes” para poder suprir o sistema nervoso central e o miocárdio. 
É assim que aos poucos vão sendo eliminadas todas a reservas de gordura. Em paralelo, o corpo começa a consumir a musculatura. A consequência imediata é que o ser humano se torna cada vez mais fraco. 
A redução de atividades motoras colabora com a queda na temperatura, que já se daria naturalmente pela perda de gordura e pelo pouco estoque de energia. O indivíduo começa a sentir constantes e insuportáveis dores estomacais, acompanhadas de diversas dores musculares por todo o corpo. Há um acelerado processo de queda de cabelos, a pele ganha uma aparência cada vez mais pálida, há diarréias. 
Os olhos parecem saltar do rosto, tonturas são cada vez mais constantes, até que a capacidade de concentração começa a se perder e junto com ela o raciocínio começa a se debilitar. 
Os mais sortudos morrem logo devido à infecção de qualquer doença que encontre terreno fácil para desenvolver-se diante desse corpo debilitado e sem resistências imunológicas. Todos os outros vão sofrendo aos poucos, têm convulsões cíclicas, alucinações constantes, vão perdendo aos poucos o contato com a realidade até que morram definitivamente pela perda de massa corporal, queda da temperatura ou ausência de proteínas.
Se na conta individual a morte por inanição já é terrível, tente imaginar essas característias sendo desenvolvidas em uma comunidade inteira. Pessoas até pouco tempo saudáveis, produtivas e levando uma vida normal começam a ver seus vizinhos e parentes morrendo lentamente, e a perceber que eles serão os próximos. 
Não demora e, na ausência de alimentação para sua subsistência, as pessoas dão vazão aos instintos mais severos de sobrevivência e começam a praticar canibalismo. Na resistência de outros seres para se sujeitarem a servir de refeição, buscam cada vez alvos mais fáceis para a auto-preservação, e é então que começam a atacar os mais indefesos: as crianças!
Todo esse processo acima é importante para explicar um dos atos mais nefastos já vistos na História da humanidade, provocados tanto pelo ódio desumano do regime comunista como pelos procedimentos e ações pregados por tal ideologia. Estou falando da Grande Fome imposta por Stálin ao até então próspero povo da Ucrânia. Há 80 anos, nesta mesma época, entrava na fase final de inanição a população camponesa ucraniana e cossaca.
Por ser uma região fértil, produtiva e com fortes sentimentos nacionalistas, a Ucrânia foi das regiões que mais bravamente resistiu às políticas de coletivização da produção implantadas por Stálin. 
O ditador não perdoava a região por isso, e irritava-se sobremaneira com os “problemas” gerados por ali. A resistência da população fazia com que Stálin cada vez mais acelerasse o processo de coletivização e expropriação da produção, reduzindo cada vez mais a proporção da produção dos camponeses para consumo próprio e replantio. Era necessário suprir o aparelho repressor soviético, seu enorme exército e sua rede de abastecimento.
Síntese do pensamento totalitário comunista
Síntese do pensamento totalitário comunista
Quanto mais Stálin aumentava os confiscos da produção em nome de suas políticas insanas, piores eram os resultados da colheita. E não haviam mais vozes a gritar: Artistas, jornalistas, escritores, todos contra a coletivização haviam sido deportados, presos ou assassinados. Temendo por suas vidas e fracos, os ucranianos não resistiam mais. Com a redução da colheita, maiores eram as necessidades de confisco pelo Estado soviético. Esse círculo vicioso gerava paranóias persecutórias típidas de regimes totalitários: Os fiscais do partido nas lavouras, os responsáveis pela distribuição e também as autoridades policiais acusavam-se mutuamente de incompetência e corrupção, em busca de livrarem a si próprios de condenações do aparelho opressor central. Toda essa fúria desaguava nos camponeses, cada vez mais pressionados. 
Muitos eram torturados e presos por não conseguirem corresponder às expectativas dos planejadores, enterrar espigas de milho ou escondê-las em casa para sobrevivência, sonegando-as ao Estado. 
A polícia soviética fazia rondas noturnas nas plantações pois sabiam que muitos produtores agiam na escuridão para tentar reservar o produto de seu trabalho para a própria subsistência Até que chegou-se o momento em que as prisões e campos de concentração não suportavam mais produtores e esses começaram a ser devolvidos a suas lavouras. Mas quando voltavam o cenário não era animador, as outrora áreas produtivas encontravam-se degradadas.
Diante da subnutrição, as famílias começavam a tomar medidas drásticas. Pegavam seus filhos crianças e fugiam para perto das cidades, abandonando-as ali mesmo à própria sorte na esperança de que elas fossem resgatadas e alimentadas por benfeitores ou pelo aparelho estatal. Os camponeses voltavam à lavoura para esperar a própria morte e acreditavam que era melhor não ter as crianças por perto e abandonadas no campo quando morressem. 
Só que as crianças não eram salvas por ninguém, mas sim recolhidas para Delegacias. Das delegacias elas eram levadas a postos ferroviários em caminhões. Nesses postos, médicos separavam as que ainda tinham alguma condição de subsistência das que já estavam inchadas e em estado final de inanição. 
As que tinham alguma resistência iam a acampamentos, verdadeiros campos de concentração, como Holodnaia Gora, enquanto as outras eram levadas para longe da cidade e abandonadas na beira da estrada, para que morressem por ali mesmo e longe dos olhos da população. Nos locais em que as crianças eram despejadas, cavavam grandes fossas para enterrar ali mesmo as que já chegavam ao local mortas, ou aparentemente mortas (muitas foram jogadas nas fossas mesmo estando respirando).
A Fome foi ação deliberada e consciente

A Fome foi ação deliberada e consciente
As fugas de camponeses criavam um ambiente desolador nas cidades, e foi então que Stálin ordenou que se fechassem e controlassem todas as estações de trem das regiões atingidas pela fome, para evitar mais e mais famintos vagando nas metrópoles locais. 
Os mortos de fome acumulavam-se na cidade, toda noite dezenas de corpos eram recolhidos. Nestas coletas de corpos, começou-se a perceber cada vez mais casos de defuntos com a barriga aberta. 
Mais tarde, alguns dos “amputadores de defuntos” presos confessaram que arrancavam o fígado para fazer patês vendidos nas feiras locais.
Quando entrou o mês de Junho de 1933, Stálin e todo o Politburo já tinham claro que o castigo estava de bom tamanho, que os impactos já se faziam sentir no racionamento nacional e que não era mais possível seguir com a política de extermínio. 
Foi então que começou, aos poucos, a liberar grandes lotes de grãos para ucranianos, cossacos e cazaques. Obviamente, os efeitos do ataque genocida não foram eliminados de imediato: Centenas de milhares continuaram a sofrer os efeitos da provação vivida e estima-se que o déficit populacional total tenha superado os 10 milhões de habitantes. 
Somente na Ucrânia, é certo que mais de 3 milhões de pessoas morreram por consequência das mazelas da fome. A somar-se toda a região, os números ultrapassam 7 milhões. 7 Milhões de mortos por fome em pouco mais de um ano de progressão de políticas socialistas.
Os historiadores da Ucrânia atribuem os atos puramente ao ódio de Stálin aos ucranianos. Essa visão narra a grande fome imposta à Ucrânia como um ato de guerra. Porém, é necessário dizer que, não obstante esse motivo, o extermínio representa a pura ação político-econômica pregada pelo socialismo. 
Ainda que se tenha a particularidade de uma URSS paranóica sob a desculpa de uma inevitável guerra vindoura, e que portanto precisava sempre estocar alimentos para prováveis dificuldades futuras, tudo isso só aconteceu por uma tentativa inconsequente de implantar políticas planejadas em bancos acadêmicos por pessoas que crêem ser possível redesenhar e planificar toda a sociedade, incluindo seus meios produtivos.
A coletivização, o confisco da produção, o controle total pelo Estado dos meios produtivos e distributivos são políticas totalmente condizentes com o que prega o comunismo. 
O ódio de classe aos camponeses produtivos e prósperos, tidos por reacionários, o bloqueio e calada de todas as vozes contrárias às ações do Estado e tornar inimigos inaceitáveis todos que não enxergam o Estado como ente supremo de razão também são características típicas da mentalidade socialista. 
Após 80 anos, se não a totalidade, ao menos algumas dessas políticas continuam a gozar de prestígio. Grandes erros que resultaram em crimes horrendos contra a humanidade não deveriam ser esquecidos.
06 de abril de 2015
reaçonaria (Publicado em 3 de junho de 2013 por  em  com 38 Comentários)

PARA MAIS INFORMAÇÕES: 

Diversas fotografias de vítimas da Fome por toda a União Soviética aqui.

Documentário “HOLODOMOR” feito pela Radio Quebec, disponível no YouTube;
Holodomor – O Genocídio Ucraniano – artigo de Luís de Matos Ribeiro para a Associação Internacional de Estudos Ibero-Eslavos, disponível no SCRIBD;
Livro “Execution by Hunger: The Hidden holocaust“, do sobrevivente Miron Dolot;

O CABELEIREIRO DE DILMA




















No enterro do professor Lineu de Albuquerque, diretor da Faculdade Nacional de Direito do Rio, o cemitério São João Batista estava lotado. Falou o reitor da Universidade do Brasil, Pedro Calmon. Falou o ministro Hermes Lima, em nome do presidente Goulart. Quando o caixão já se cobria de flores, pronto para descer, uma voz gritou lá de longe:
– Um momento!
E um desconhecido, cara modesta, voz trêmula, fez um discurso de arrepiar coveiro. Acabou assim:
– Desculpem, os senhores não me conhecem. Eu era o barbeiro do professor Lineu de Albuquerque.
Na saída, cada um dos presentes recebia o cartão de um desconhecido, cara modesta, voz trêmula. Era o barbeiro-orador.
O BARBEIRO
No enterro do poeta Augusto Frederico Schmidt, o cemitério estava também lotado. Falou Manoel Bandeira, da Academia Brasileira de Letras. Falou Francisco Parente, jornalista e poeta. Quando o caixão já se cobria de flores, pronto para descer, uma voz gritou lá de longe:
– Um momento!
E um desconhecido, cara modesta, voz trêmula, fez um discurso também de arrepiar coveiro. Acabou assim:
– Desculpem, os senhores não me conhecem. Eu era barbeiro do poeta Augusto Frederico Schmidt.
Na saída, cada um dos presentes recebia o cartão de um desconhecido, cara modesta, voz trêmula.
Era ele.
O MINISTRO
Sem ministro da Educação, em um segundo governo de dois meses, depois de inventar o slogan gaiato de “Brasil – Pátria Educadora”, a presidente Dilma sofre o vexame de não conseguir um nome para ministro.
O PT exige que o ministério seja dele. Mas não tem quem. Um partido que nasceu da rebeldia da intelectualidade nacional aliada aos movimentos sindicais não tem um nome à altura. Os que tinha perdeu. O senador Cristovam Buarque, o professor Paulo Delgado, que honrariam qualquer governo, foram isolados e tiveram que fugir do PT.
Agora Dilma tenta nomear Gabriel Chalita, um tapa-buraco. Mas é PMDB. E nomear alguém do PMDB o Cid Gomes iria pôr a peruca e dar um piti.
O Rui Falcão, mais urubu do que falcão, tenta desesperadamente arranjar um nome. Nem no Google. Petistas ainda sensatos temem que ele tente convencer a Presidente de que a saída é a do barbeiro do São João Batista: um dos cabeleireiros da Presidente. Ninguém é contra cabeleireiro.
CASA CIVIL
Não é só na Educação. A Presidente está engasgada também na Casa Civil. Lula, o proprietário da Presidente, exige que ela tire o Aloízio Mercadanta, isto é Mercadante, um peso pesado, e o substitua ao menos por um bigode menos arrogante.Mas ele é o ultimo amigo de Dilma no governo
Talvez a solução seja lembrar o sábio mineiro Negrão de Lima:
– “Política é a ordem natural das coisas”.
Por exemplo. Aloízio Mercadante é Mercadante da mãe mas é Oliva, filho do brilhante e então poderoso general Oswaldo Muniz Oliva, da Bahia, quatro estrelas, diretor da Escola Superior de Guerra. O filho dele, Aloízio Mercadante, bem poderia ser o ministro da Defesa. Ficaria em casa.
Mas iria desbancar o Jacques Wagner. E daí? Nome judaico, cabeleira judaica, pinta judaica, excelente negociador, bom de conversas, acordos e acertos, Wagner bem poderia ir para a Casa Civil, onde a Dilma está precisando de alguém que comande a articulação política.
Não cobro nada pela consultoria. Não sou Palocci nem Dirceu.
A GUERRA
Lula disse que se a oposição continuar criticando Dilma ele vai chamar e jogar na rua o Exército do Stedile “com suas botas engraxadas”. Uma semana depois, a Dilma vai ar Rio Grande do Sul e o Stedile lhe anuncia marchas, ocupações e invasões do MST no dia 7 de abril.
As redes sociais já haviam convocado novo 15 de março para 12 de abril. É a perigosa guerra das ruas oficializada pela estupidez do governo.
06 de abril de 2015
Sebastião Nery

BREVE AULA SOBRE CREDIBILIDADE

A classe política está apavorada. Recebe tiros de muitos lados. Do Lava Jato da Petrobras e das ruas. Os estarrecedores índices de desaprovação dos atores políticos os deixam confinados na UTI do Parlamento. Como sair dali? Como resgatar parcela da boa imagem? Difícil tarefa no curto prazo. Não resta outra coisa aos representantes do povo e dos Estados (deputados e senadores), neste momento de rebuliço e mobilização social, que uma imersão profunda no terreno ético e uma aprendizagem rápida sobre o estado social do país. A análise sobre as razões que os jogam no fundo do poço da descrença poderá se transformar na chave para reencontrar o tempo perdido. Eis um breve roteiro para uma sobre credibilidade.

Mais ação, menos discurso – O verbo de palanque está saturado. Entra por um ouvido, sai noutro. Promessas não mais comovem. A sociedade, como um todo, quer ver ação. Decisão. Avanços. Reformas.

Identidade – Nesse momento, os espaços de vazio se expandem. Hora de ocupá-los com uma forte identidade. Discurso com personalidade. Hora da verdade. A imagem do político não pode ser diferente de seu conceito. Banhar o perfil com as linhas da lealdade, coerência, honestidade e senso do dever. Não querer passar imagem acima da identidade. Querer ser o que não é.

Representação - Representar o povo significa escolher as melhores alternativas para o bem estar coletivo. Um político sério se preocupa com rumos permanentes e medidas condizentes com as possibilidades das administrações (federal, estadual e municipal). Povo distingue demagogia de sinceridade.

Sabedoria - Sapiência não significa vivacidade. Sabedoria é mescla de aprendizagem, compromisso, equilíbrio, administração de conflitos, busca de conhecimentos, capacidade de convivência e racionalidade. A vivacidade é a máscara do fisiologismo.

O cheiro do povo - O cheiro do povo invade as ruas, os ônibus, os escritórios, as fábricas, até as pequenas cidades. Importa ir ao encontro do povo. Democracia participativa dá as caras. Poder centrípeto emerge das margens. O povo deixa o silêncio e abre a locução. As tarefas de Brasília não impedem que o representante respire os ares das vielas escuras dos centros e fundões do país.

Proximidade – As pessoas querem sentir os políticos mais próximos. Capazes de falar uma linguagem que expresse suas demandas, angústias e expectativas; para ganhar credibilidade, o representante deve se mostrar, aparecer, conversar olho no olho com suas bases.

Combate à corrupção - A corrupção está no alvo dos órgãos de controle. Que decidiram ir fundo para descobrir o rastro do dinheiro desviado. Denúncias sobre negociatas e trocas de favores ilícitos vão continuar a ser o prato da mídia.

Propostas concretas – O copo está transbordando. Não dá mais para disfarçar. Os modelos da velha política e da economia se esgotam. Estão saturados. O povo quer ver propostas concretas, viáveis, simples. A população dispõe de entidades que a representam em diversos foros, algumas delas com atuação política tão densa quanto o Congresso. Resta ao político atentar para os novos polos de poder que se multiplicam no arquipélago político.

Simplicidade e modéstia - Um homem público não precisa se vestir com o manto divino. A honraria que cargos conferem é passageira. Mandatos pertencem ao eleitor. Ser simples não é balançar crianças no colo, comer cachorro quente na esquina ou gesticular para famílias nas calçadas. A simplicidade é o ato de pensar, dizer e agir com naturalidade. Sem artimanhas e maquiagens.

Celeridade – A sociedade está na frente da política. Anda mais rápida. Está cansada de patinação política, o fato de a velha política continuar a puxar o país para o passado.

Autonomia – O cidadão age com autonomia. Torna-se mais consciente, crítico e exigente. Banha-se nas águas da Cidadania. Significa que conserva olhar mais apurado para os atores políticos.

Estado e Nação - O político pode até lutar por um Estado diferente da Nação que o povo quer. A Nação é a Pátria, que acolhe, que orgulha o povo; é o território onde os cidadãos se sentem bem e gostam de viver e constituir um lar. O Estado é a entidade técnico-jurídico-institucional, comprimida por interesses e dividida por conflitos, que pessoas de diversas classes estão sempre a criticar. Aproximar o Estado da Nação constitui a missão basilar da política. Compromisso cívico inegociável. O Brasil de hoje exibe esses contornos.


06 de abril de 2015
Gaudêncio Torquato

OPORTUNISMO PARTIDÁRIO


SOLIDARIEDADE CONVOCA PARA ATO 'FORA DILMA' NO DIA 12
O FOLHETO DO SOLIDARIEDADE DESTACA A EXPRESSÃO ''FORA DILMA''



O FOLHETO DO SOLIDARIEDADE DESTACA A EXPRESSÃO
''FORA DILMA'' (FOTO EBC)


Em evento promovido por entidades da indústria e centrais sindicais, pessoas a serviço do partido Solidariedade - liderado pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho - distribuem panfletos em que anunciam o protesto contra o governo da presidente Dilma Rousseff, marcado para o próximo dia 12. Os organizadores ressaltaram que o evento desta segunda-feira, 6, é apartidário, mas o deputado Paulinho é um dos integrantes da mesa.

O folheto do Solidariedade destaca a expressão "Fora Dilma" e destaca os números negativos da última pesquisa CNT/MDA, como o fato de 84% dos entrevistados acreditarem que Dilma não cumpriu promessas de campanha. "Ninguém aguenta mais, ajude o Solidariedade a derrubar o governo Dilma", diz o panfleto.

Em evento promovido por entidades da indústria e centrais sindicais, pessoas a serviço do partido Solidariedade - liderado pelo deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho - distribuem panfletos em que anunciam o protesto contra o governo da presidente Dilma Rousseff, marcado para o próximo dia 12. Os organizadores ressaltaram que o evento desta segunda-feira, 6, é apartidário, mas o deputado Paulinho é um dos integrantes da mesa.

O folheto do Solidariedade destaca a expressão "Fora Dilma" e destaca os números negativos da última pesquisa CNT/MDA, como o fato de 84% dos entrevistados acreditarem que Dilma não cumpriu promessas de campanha. "Ninguém aguenta mais, ajude o Solidariedade a derrubar o governo Dilma", diz o panfleto. (AE)


06 de abril de 2015
diário do poder

PROVAS CONTUNDENTES DAS PROPINAS

TROCA DE E-MAILS PROVA QUE QUEIROZ GALVÃO PAGOU PROPINA
SÃO CITADOS EX-MINISTRO DE DILMA, DEPUTADOS DO PP E RAUPP (PMDB)



OS BENEFICIADOS SERIAM O EX-MINISTRO NEGROMONTE
E OS DEPUTADOS DO PP TEIXEIRA (PE), MEURER (PR),
CORRÊA (PE) E O SENADOR VALDIR RAUPP (PMDB-RO)
(FOTOS: ABR E FOTOS PÚBLICAS)


Uma das provas mais robustas obtidas na Operação Lava Jato mostra que a empreiteira Queiroz Galvão pagou na campanha de 2010 propinas de R$ 7,5 milhões, na forma de doações eleitorais, , em troca de contratos na Petrobrás. O conjunto de provas é uma troca de e-mails entre o doleiro Alberto Youssef e um dirigente da empreiteira, Othon Zanoide de Moraes Filho, que chegou a ser preso por cinco dias, após a sétima fase da Operação Lava Jato, deflagrada em 14 de novembro.

Youassef afirmou, em depoimento sob delação premiada, que as propinas foram pagas a candidatos do PP, entre eles Mário Negromonte (PP-BA), ex-ministro de Cidades do governo Dilma, e o senador Valdir Raup (RO), presidenter nacional em exercício do PMDB.

O depoimento de Youssef foi feito à Justiça em 11 de fevereiro passado. “Todos os valores repassados são provenientes de vantagens indevidas decorrentes do esquema existente na Petrobrás”, afirmou o doleiro à força-tarefa da Operação Lava Jato.

Em um e-mail, Moares Filho, o dirigente da empreiteira Queiroz Galvão pediu ajuda ao doleiro:

“PRIMO (apelido de Youssef) A seguir a relação de recibos faltantes, desde já agradeço a ajuda”. Segue, então, de forma numerada oito registros de valores que totalizam R$ 4 milhões.

“O e-mail se refere apenas à parcela das doações em que faltavam os recibos, mas o total das doações oficiais foi de aproximadamente R$ 7,5 milhões de reais, todos provenientes da Queiroz Galvão”, afirmou Youssef.

No e-mail, o executivo da Queiroz Galvão cobra os recibos dos valores pagos a quatro políticos nominados na mensagem: Aline Corrêa, “250.000,00”; Roberto Teixeira, “250.000,00; Nelson Meurer “500.000,00”; e Roberto Brito “100.000,00”.

Há ainda o registro de R$ 100 mil em nome de “PP de Pernambuco”, R$ 500 mil para o “PP da Bahia”, outros R$ 300 mil para “PMDB de Rondônia” e o de maior valor “R$ 2,04 milhões destinado ao “Diretório Nacional P. Progressista”.

A lista interceptada pela Lava Jato, em março de 2014, quando Youssef seria preso em São Luís (MA), é o registro “dos recibos faltantes”, explicou o doleiro. “Ou seja, das pessoas que tinham recebido os valores da Queiroz Galvão, como doação ‘oficial’, mas que ainda não haviam enviado seus recibos para a construtora”. (Com informações da AE)



06 de abril de 2015
diário do poder

FIM DAS PROPINAS FAZ PT ECONOMIZAR PARA PAGAR CONTAS
















Com caixa avariado devido à falta de doações de empresas, que se retraíram com denúncias de corrupção na estatal, partido de Dilma Rousseff adota contenção de despesas em seus diretórios, que inclui corte de pessoal e de passagens aéreas
Demissões, cortes de gastos, aperto orçamentário. Não é apenas o ajuste fiscal proposto pelo governo Dilma Rousseff que tem incomodado o PT. Em meio a uma queda brutal de arrecadação provocada pela redução das doações privadas desde que o tesoureiro João Vaccari Neto passou a ser investigado pela Operação Lava Jato, o partido está enfrentando um ajuste drástico em suas próprias contas.
Depois de mais de uma década de bonança, o partido está sendo forçado a economizar por falta de dinheiro, mesmo diante de um forte aumento do Fundo Partidário neste ano – o Congresso aprovou a elevação de R$ 289,56 milhões pagos em 2014 para R$ 867,56 milhões.
O uso de passagens aéreas por dirigentes foi limitado, diretórios regionais demitiram funcionários, o aluguel de espaços para eventos foi otimizado e até o uso de telefones foi restrito.
TELEFONES LIMITADOS
Integrantes da Executiva Nacional do PT, órgão responsável pela administração direta do partido, tiveram a verba de telefonemas reduzida de R$ 500 para R$ 100. Muitos deles preferiram trocar de celular, optando por operadoras mais baratas.
Verbas com táxi, combustível, alimentação, serviços técnicos de terceiros, advogados e gráficas também foram contingenciadas. Segundo a direção do partido, a única área que não foi afetada é a de comunicação, para onde são direcionados todos recursos economizados em outras despesas. Apesar disso a implantação da TV PT está atrasada em quase um mês.
Na reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com presidentes estaduais e dirigentes, na segunda-feira passada, quase toda a executiva petista viajou com passagens pagas do próprio bolso ou compradas com pontos acumulados em programas de fidelidade.
Desde o início deste ano, o único dirigente que tem autonomia para reservar passagens aéreas sem pedir autorização é o presidente nacional do partido, Rui Falcão. Depois dos gastos com pessoal, que em 2013 somaram R$ 13 milhões, as viagens são o principal item de despesas do PT, com R$ 7 milhões.
FESTA DE POBRE
No aniversário de 35 anos realizado em Belo Horizonte, em fevereiro, dirigentes de outros Estados que participaram de um seminário de formação política pagaram as despesas do próprio bolso. Vários deles percorreram centenas de quilômetros de automóvel e fizeram vaquinhas para pagar o combustível. Alguns se hospedaram de favor nas casas de amigos ou correligionários.
A festa contrastou com a época das vacas gordas, quando dezenas de convidados eram hospedados nos melhores hotéis das cidades com todas despesas custeadas pelo partido. O evento, que nos primeiros anos do PT no governo incluía shows musicais, jantares, bancas de charutos e produções hollywoodianas, este ano contou apenas com um ato político no Minas Centro. A música ficou por conta de um violeiro solitário.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – A matéria é muito reveladora, porque mostra que no tempo das propinas o PT era uma festa no estilo de Hemingway. Agora, é tempo de vacas magras e tossindo o tempo todo. Ficou faltando dizer se Lula continua com carteira assinada, recebendo salário do PT na condição de “assessor”, com função de “aspone”(C.N.)

06 de abril de 2015
Ricardo Galhardo
O Estado de S. Paulo

CORTE DE 80 BILHÕES NO ORÇAMENTO DIVIDE O GOVERNO DILMA














O jornalista Valdo Cruz, em reportagem publicada na Folha de São Paulo do dia 4, revelou que o projeto de cortar 80 bilhões de reais no orçamento da União para este ano, de autoria do ministro Joaquim Levy, está dividindo o governo. A presidente Dilma Rousseff, assim, terá que assumir a decisão final quanto à iniciativa, que também depende de aprovação pelo Congresso. Valdo Cruz assinala que os ministros da área política temem que a dimensão de tal corte paralise as ações do Poder Executivo e projete o Brasil num panorama de recessão logo ao início do segundo mandato da presidente reeleita.
Como alguém disse no passado, o remédio pode ser tão forte que, ao invés de curar, faça piorar o doente. O problema não se esgota na redução em si, mas nos seus efeitos junto a população. Some-se a isso a iniciativa das distribuidoras de energia elétrica, que segundo Danilo Fariello em O Globo de sábado, desejam antecipadamente repassar aos consumidores as taxas prováveis de inadimplência, diante do processo de aumento de preços do mercado.
Tal repasse, é claro, seria feito através de nova elevação de tarifas. Como tal elevação evidentemente atingiria a indústria, o comércio, o setor de serviços e também as residências, fácil é concluir que causaria um acréscimo generalizado no mercado de consumo levando a uma ainda maior retração do poder aquisitivo popular.
DESCAPITALIZAÇÃO
Estamos, assim, diante de mais um processo de descapitalização da força de trabalho, pois está implícito que os salários não serão reajustados nos mesmos níveis das majorações projetadas para os preços. Mais uma vez, portanto, o peso dos cortes nos gastos públicos terminaria sendo transferido para todos nós, pois o sistema empresarial condena a concessão de direitos sociais. No final da ópera, a elevação dos preços acima dos salários atingirá ainda com maior intensidade a aprovação do governo Dilma Rousseff.
A matéria de Valdo Cruz tem um significado político muito importante, na medida em que assinala a divisão do Executivo em pelo menos duas correntes, bastante tradicionais no passado, mesmo desde os tempos do presidente Juscelino Kubitschek: as correntes monetarista e estruturalista.
JK conseguiu harmonizar as duas tendências e o resultado foi o êxito de seu plano de metas. O mesmo desafio, 60 anos depois, coloca-se agora à mesa da presidente Dilma Rousseff, só que com uma diferença fundamental da popularidade alcançada por JK e a popularidade negativa registrada agora. O impasse, assim, se acentua e o seu campo de opção diminui e sua decisão torna-se urgente. Ou um caminho ou o outro, que enfrenta o obstáculo de uma inflação acima das metas originais. Essas metas, no entanto, sempre foram fictícias, pois ninguém vai supor que o índice inflacionário depois de atingir 6,5%, em 2014, fosse capaz de retroceder a 4,5 em 2015. Os preços, os exemplos históricos explicam, depois de subir não baixam mais. Estou me referindo, é claro aos preços do mercado de consumo interno, impulsionados expressivamente também pela força devastadora da corrupção que envolve quase todos os setores produtivos nacionais.
DESCRÉDITO
A corrupção gera também um estado de espírito que, se provoca descrédito de um lado nas ações do governo, de outro impulsiona a volúpia do roubo sem limites. Tanto assim que o sistema corrupto não se restringiu à Petrobrás, mas se expandiu a outras áreas vitais para o desenvolvimento econômico como o das obras ferroviárias e rodoviárias.
Vale acrescentar que a volúpia de se apoderar dos bens públicos levou até à montagem de um esquema tenebroso de chantagem na Receita Federal, através de processos em julgamento no CARF. Portanto, tal volúpia generalizou-se no governo, que infelizmente não deu a resposta de firme condenação aos ladrões, que a sociedade esperava. E que continua aguardando.
A reação contrária da opinião pública ao atual governo é um reflexo dessa espera que ameaça eternizar-se. Inclusive como a revista Veja publicou, com a montagem de um esquema destinado a evitar que o empresário Ricardo Pessoa, preso em Curitiba, possa ser atendido na sua proposta de delação premiada. Pessoa, como personagem de Hitchcock é o homem que sabia demais. A edição da Veja está nas bancas esta semana, depois dela não será fácil a confirmação do esquema que ela divulgou.

06 de abril de 2015
Pedro do Coutto