Fazem muito pouco caso da inteligência do brasileiro. E é preciso dar o braço a torcer: tem funcionado. Mas até quando?
O mesmo advogado que defende um assassino condenado como chefe de máfia (a milícia, grande apoiadora do governo do Estado) é o mesmo advogado que defende os black bloc baderneiros, acusado de assassinato de um jornalista (em protestos contra a prefeitura e o governo do Estado).
Que coisa, não? Você (sim, você!) não acha isso um pouco estranho, no mínimo? Só queria saber como essas coisas ainda conseguem ganhar repercussão existindo a Internet…
Será que com essa trama fajuta dá para o governo aprovar leis criminalizando qualquer tipo de manifestação, nas ruas e pela web, com o vigilantismo do Marco Civil da Internet e a Lei Antiterrorismo?
Eu acho que dá.
Lembrando que o povo continua nas ruas, em todo o mundo, e agora também na Venezuela.
A repressão não tem funcionado tão bem como antigamente. Uma hora essa represa vai estourar.
O mesmo advogado que defende um assassino condenado como chefe de máfia (a milícia, grande apoiadora do governo do Estado) é o mesmo advogado que defende os black bloc baderneiros, acusado de assassinato de um jornalista (em protestos contra a prefeitura e o governo do Estado).
Que coisa, não? Você (sim, você!) não acha isso um pouco estranho, no mínimo? Só queria saber como essas coisas ainda conseguem ganhar repercussão existindo a Internet…
Será que com essa trama fajuta dá para o governo aprovar leis criminalizando qualquer tipo de manifestação, nas ruas e pela web, com o vigilantismo do Marco Civil da Internet e a Lei Antiterrorismo?
Eu acho que dá.
Lembrando que o povo continua nas ruas, em todo o mundo, e agora também na Venezuela.
A repressão não tem funcionado tão bem como antigamente. Uma hora essa represa vai estourar.



passagem cuidadosamente formulada de
Dawkins também explica por que a natureza não consiste em uma grande escaramuça
sangrenta. Para começar, os animais são menos inclinados a fazer mal aos
parentes próximos, pois qualquer gene que levasse um animal a prejudicar um
parente teria uma boa chance de prejudicar uma cópia de si mesmo
existente nesse parente, e a seleção natural tenderia a erradicá-lo. Acima de
tudo, salienta Dawkins, um outro organismo difere de uma rocha ou de um rio
porque tende a reagir. Qualquer organismo que tenha evoluído para ser
violento é membro de uma espécie cujos outros membros, em média, evoluíram para
ser igualmente violentos. Se ele atacar alguém da própria espécie, o adversário
poderá ser igualmente forte e combativo e terá as mesmas armas e defesas.
A probabilidade de que, ao atacar um membro da mesma espécie, o atacante sofra
danos é uma poderosa pressão seletiva que desfavorece a investida ou o bote
indiscriminados. Isso também descarta a metáfora hidráulica da pressão psíquica
que se acumula e por fim extravasa, bem como a maioria das teorias populares
sobre a violência, tais como a sede de sangue, o desejo de matar, o instinto
assassino e outras comichões, impulsos e ânsias destrutivas. Quando uma
tendência à violência evolui, ela é sempre estratégica. Os organismos
são selecionados para mobilizar a violência somente em circunstâncias nas quais
os benefícios esperados superam os custos previstos. Esse discernimento é
especialmente válido para as espécies inteligentes, cujo cérebro grande as torna
sensíveis à expectativa de custo e benefício em uma situação dada e não apenas à
média eventualmente computada ao longo do tempo evolutivo.
segunda causa de contenda é a
difidência, palavra que na época de Hobbes significava sobretudo “medo”, e não
“desconfiança”. A segunda causa é consequência da primeira: competição gera
medo. Se você tem motivo para suspeitar que seu vizinho está propenso a
eliminá-lo da competição, digamos, matando-o, então estará propenso a se
proteger eliminando-o primeiro, num ataque preventivo. A tentação pode aparecer,
ainda que em condições normais você não seja capaz de matar nem uma mosca –
basta não estar disposto a cruzar os braços e se deixar matar. A tragédia é que
seu competidor tem todos os motivos para maquinar o mesmo cálculo, ainda que
ele próprio seja o tipo de pessoa que não mataria uma mosca. De fato,
mesmo se souber que você não partiria para cima dele com intenções
agressivas, ele pode legitimamente recear que você esteja tentado a
neutralizá-lo por medo de que ele o neutralize primeiro, o que dará a você o
incentivo para neutralizá-lo antes, ad infinitum. O cientista político
Thomas Schelling apresenta a analogia do homem armado que surpreende em sua casa
um assaltante também armado, e cada um deles é tentado a atirar no outro para
não ser balea-do primeiro. Esse paradoxo às vezes é chamado de armadilha
hobbesiana, ou, na arena das relações internacionais, de dilema da
segurança.
mbora as filosofias de Hobbes e
Rousseau sejam muito mais refinadas do que “vida sórdida, brutal e curta”
versus“o bom selvagem”, seus estereótipos concorrentes da vida em
estado de natureza alimentaram uma controvérsia que perdura até os nossos dias.
Em Tábula Rasa[2002], examinei como a questão acumulou uma
pesada bagagem emocional, moral e política. Na segunda metade do século xx, a
romântica teoria de Rousseau se tornou a doutrina politicamente correta da
natureza humana, tanto como reação a doutrinas racistas anteriores sobre povos
“primitivos” como pela convicção de que se tratava de uma visão mais elevada da
condição humana. Muitos antropólogos acreditam que, se Hobbes estivesse certo, a
guerra seria inevitável ou mesmo desejável; logo, qualquer um que seja a favor
da paz deve insistir que Hobbes está errado. Esses “antropólogos da paz” (que na
verdade são acadêmicos bem agressivos – o etologista Johan van der Dennen os
chama de “máfia da paz e harmonia”) sustentam que os humanos e outros animais
têm inibições severas quanto a matar os da própria espécie, que a guerra é uma
invenção recente e que as lutasentre povos nativos foram ritualísticas e
inofensivas até eles encontrarem o colonizador europeu.
ane Goodall, a primatóloga que pela
primeira vez observou chimpanzés na natureza por longos períodos, acabou fazendo
uma descoberta estarrecedora. Quando um grupo de chimpanzés machos encontra um
grupo menor ou um indivíduo solitário de outra comunidade, eles não gritam nem
se eriçam, mas tiram vantagem de estar em maior número. Se é uma fêmea
adolescente sexualmente receptiva, podem catar piolhos entre os pelos da
estranha e tentar acasalar. Se ela carrega um filhote, eles em geral a atacam e
depois matam e comem o bebê. E, se encontram um macho solitário, ou isolado de
um grupo pequeno, perseguem-no com selvageria assassina. Dois atacantes
imobilizam a vítima e os demais o espancam, arrancam-lhe os dedos e a genitália
a mordidas, dilaceram-lhe a carne, torcem seus membros, bebem seu sangue ou lhe
arrancam a traqueia. Os chimpanzés de determinada comunidade pegaram todos os
machos de uma comunidade vizinha e os mataram um por um, evento que, se
ocorresse entre humanos, chamaríamos de genocídio. Muitos ataques não são
desencadeados por encontros fortuitos; resultam de patrulhamentos de fronteira
durante os quais um grupo de machosfaz buscas sorrateiras e transforma em alvo
todo macho solitário que localiza. Mata-se também dentro da própria comunidade.
Uma gangue de machos pode matar um rival, e uma fêmea forte, ajudada por um
macho ou outra fêmea, pode matar a cria de uma fêmea mais fraca.
primatólogo Frans de Waal salienta
que, em teoria, o ancestral em comum de seres humanos, chimpanzés e bonobos
possivelmente se assemelhava aos bonobos, e não aos chimpanzés. Nesse caso, a
violência entre coalizões de machos teria raízes menos profundas na história
evoluti-va humana. Os chimpanzés comuns e os humanos teriam desenvolvido
independentemente os ataques letais, e a prática humana do ataque pode ter se
desenvolvido historicamente em culturas específicas, e não no plano da evolução
da espécie. Nesse caso, os humanos não teriam predisposições inatas à violência
física e não precisariam de um Leviatã ou de qualquer outra instituição para se
manter
eria ótimo se a lacuna entre o
ancestral comum e os humanos modernos pudesse ser preenchida pelo registro
fóssil. Mas os ancestrais dos chimpanzés não deixaram fósseis, e não dispomos de
fósseis e artefatos de hominídeos em quantidade suficiente para fornecer
evidências diretas de agressão, como armas ou marcas de ferimentos.
isitei a reserva de
Oostvaardersplassen durante um período de dias muito azuis no início do outono.
Na ocasião, duas equipes de cinema, uma holandesa e outra francesa, também se
encontravam lá. A equipe francesa, entre cujos créditos figura o sucesso
internacional Migração Alada, percorria a reserva cogitando de seu uso
futuro num filme sobre a história da Europa vista pelos olhos de outras
espécies. A equipe holandesa estava terminando um documentário de
longa-metragem. Numa tarde, todos entramos em nossas camionetes e fomos até o
centro do parque.
epois que terminamos nosso café,
entramos numa camionete e atravessamos os portões da reserva. O gado, os cavalos
e os cervos consumiram o alimento disponível em toda a área com tamanha
eficiência que mal se via nela um arbusto sequer – só uma extensão muito plana
de relva tosada bem rente. Passamos por alguns bandos de cervos e por uma raposa
que nos fitou de volta com olhos claros e reluzentes. Frans Vera parou a
camionete junto a um mirante sobre estacas. Subimos por uma escada estreita.
“Isto aqui é uma janela que se abre para os Países Baixos, tal como eram
milhares de anos atrás”, disse ele, indicando com um gesto a pradaria abaixo de
nós.
uidado”, advertiu-me Henri Kerkdijk. O
dia estava de novo inesperadamente azul e caminhávamos por um pasto malcuidado
na direção de uma linha de árvores. Em reação olhei para trás, o que foi um
erro, pois na mesma hora pisei num belo monte de bosta de vaca. Enquanto raspava
a bosta dos meus sapatos, tentei calcular o quanto o monte seria maior caso
tivesse sido produzido por um auroque de verdade.
uando os seres humanos chegaram à
América do Norte, por volta de 13 mil anos atrás, em torno do final da última
era glacial, exterminaram a maior parte dos grandes mamíferos do continente,
produzindo lacunas em algumas funções ecológicas fundamentais, e os
renaturalizadores do Pleistoceno propõem a introdução de animais que possam
substituí-los. Por exemplo, elefantes africanos ou asiáticos poderiam ser soltos
para ocupar o nicho do desaparecido mamute de pelagem longa. Da mesma forma,
camelos-bactrianos, nativos das estepes da Ásia Central, poderiam preencher o
nicho vago deixado pelo Camelops desaparecido na América do Norte. Os
autores – quase todos acadêmicos – imaginam uma série de experiências em pequena
escala, culminando na criação de “um ou mais ‘parques da história ecológica’”,
que cobririam “vastas extensões de trechos economicamente deprimidos das Grandes
Planícies”. Nesses imensos “parques históricos”, elefantes, camelos e leopardos
africanos – introduzidos em substituição ao extinto leopardo americano –
viveriam em liberdade. Os ecologistas classificam seu plano como “uma
alternativa otimista” ao que, de outro modo, tende a ser um futuro tomado por
“paisagens cada vez mais dominadas por ervas daninhas” e pela “extinção da
maioria dos grandes vertebrados, se não de todos”.
ewilding Europe, a organização que vem
defendendo esse tipo de iniciativa com mais vigor em todo o mundo, foi fundada
três anos atrás por dois holandeses, um sueco e um escocês. Um dos holandeses,
Wouter Helmer, mora não muito longe do local onde pastam Manolo e Rocky, e um
dia depois de visitar os touros fui encontrá-lo em sua casa, que fica à beira de
um parque, numa pequena clareira que me trouxe à mente a história de Cachinhos
Dourados e os Três Ursos.
ma bela manhã, não muito tempo depois
dessa conversa, eu estava sentada numa pequena choupana, contemplando uma pilha
de frangos mortos. Todos tinham as penas muito brancas salpicadas de sangue, e
jaziam com as cabeças semidecepadas e as pernas destroncadas em ângulos
grotescos. Depois de algum tempo, meia dúzia de abutres-fouveiros pousaram numa
árvore próxima. São imensas aves com a cabeça clara e o corpo escuro, e o grupo
da árvore parecia uma reunião de harpias. Pouco depois, um par de abutres-negros
apareceu e começou a descrever círculos no céu acima de nós. Os abutres-negros
se mostram ainda maiores que os fouveiros, com envergaduras que podem chegar a
3 metros. São aves majestosas, de ar funéreo, e contemplá-las transmite uma
certa premonição da nossa própria morte.