"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

REVENDO...


“Na véspera de não partir nunca,
ao menos não há que arrumar as malas”

Fernando Pessoa
– Você me disse que ia passar a vida toda tentando fazer-me feliz. – É que eu não imaginava que fosse viver tanto.
Há pouco tempo, registrei aqui neste espaço minhas percepções sobre o lado obscuro do envelhecimento. Hoje quero alterar meu ângulo de visão e tentar listar as mudanças que caracterizam o lado luminoso da velhice.
Antes de mais nada, sinto em mim que estou mais conectada com aquilo que alguns especialistas em psicologia e psiquiatria chamam de “energias sutis”. Explico melhor: ao longo da vida, vamos aos poucos abrindo mão das experiências de alta intensidade que atraem tanto os mais jovens. Aprendemos a trocar adrenalina por endorfina, a substituir a paixão por velocidade pela degustação lenta dos prazeres.
Vin 1Exemplos? Vários, a maior parte dos quais ligados aos órgãos dos sentidos: a sensação prazerosa de uma brisa tocando nosso rosto, o calor gostoso na pele quando nos sentamos ao sol em um dia frio, nosso palato e nossa língua absorvendo lentamente os sabores e os aromas de um bom vinho, nossa pele arrepiando e nossos pelos se eriçando quando alguém sussura alguma coisa íntima em nosso ouvido, nossos olhos se enchendo de água diante da ternura ou da beleza.
– Não fiquei de todo satisfeita com o transplante de quadril.
– Não fiquei de todo satisfeita com o transplante de quadril.
Depois vem a “idade do conforto”. Já não prestamos tanta atenção aos ditames da moda e às regras sociais. Em vez do salto agulha, um bom mocassim. Em vez das sensuais roupas apertadas, vastidão de tecidos de toque macio. Em vez da cirurgia plástica, um bom spa. Em vez dos almoços de negócio em lotados restaurantes fashion, comidinha caseira ingerida bem devagar em meio a um papo descontraído com os amigos. Em vez do mobiliário Bauhaus, afundar gostosamente num velho sofá que, de tão usado, já assumiu a forma de nosso corpo.
Entramos então em pleno desfrute do “tempo da delicadeza”. Nada de som muito alto, nada de comida muito temperada, nada de gargalhadas histéricas, nada de arroubos passionais, nada de ativismo político exacerbado. Mais vale observar em silêncio emocionado uma flor se abrindo do que participar de um espetáculo circense. É nossa alma que começa a exigir autocontenção.
Edgar Walter Simmons (1917-1994), artista mineiro Óleo sobre tela
Adicionar legendaby Edgar Walter Simmons (1917-1994), artista mineiro
Óleo sobre tela
Chega mais tarde, lá pelos 75 anos, uma fase que uma amiga descrevia como a da “adolescência reciclada”. Passamos a nos permitir viver experiências que nos eram proibidas em nossa juventude. Pular de paraquedas? Por que não? Ir ao cinema sozinha? Pode ser. Deixar o medo do ridículo de lado e agitar num baile da terceira idade? Hum, dá para pensar. Paquerar aquele vizinho viúvo metido a descolado? Topo! Praticar “sincericídio” o tempo todo com parentes e amigos também pode ser uma experiência libertadora. O que importa é buscar o próprio prazer, tomando apenas o cuidado de não ferir intencionalmente outras pessoas.
Dança 3Pelo que observei no comportamento dos ainda mais velhos, depois dos 80 anos tem início uma fase que passo a denominar de “infância reciclada”. Comer todas aquelas comidas gordurosas que o médico contraindicou, esquecer de tomar o remédio, cabular o banho, talvez até fugir de casa – tudo adquire um gosto delicioso de transgressão desejada, de molecagem consentida, de verdadeira autoexperimentação.
Sol 1

Loucura, diria você, ou será que, pensando bem, é uma sutil demonstração de sabedoria? Afinal, estaremos nos despedindo comsavoir-faire das últimas cores e sabores de nossa vida.
04 de maio de 2015
Myrthes Suplicy Vieira é psicóloga, escritora e tradutora.

PROCURADORA DESMENTE LULA: A INVESTIGAÇÃO POR TRÁFICO DE INFLUÊNCIA COMEÇA A TRAMITAR NO MPG



(Estadão) Responsável por conduzir as investigações no Ministério Público Federal no Distrito Federal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a procuradora Mirella Aguiar descarta a possibilidade de pedir quebra de sigilo do petista. Integrante do núcleo de Combate à Corrupção do MPF, Aguiar foi sorteada para conduzir os procedimentos de coleta de informações sobre um suposto envolvimento de Lula em tráfico de influência no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dentre as missões da procuradora está apurar se o ex-presidente atuou de forma indevida para induzir o banco a financiar obras da Odebrecht no exterior.

Os procedimentos preliminares, chamados de "notícia de fato", têm como origem uma representação, apresentada por um outro colega da procuradora, com base em reportagens jornalísticas.

 "A quebra de sigilo é algo que a Justiça não costuma dar com base em notícias anônimas e equiparo um pouco a reportagem jornalística a uma notícia dessas porque não temos prova nenhuma. Qualquer tipo de invasão da esfera da intimidade, da privacidade do investigado tem que ser fartamente fundamentada. Quando se faz a pergunta se isso daqui poderia gerar uma quebra de sigilo, a inexistência de provas neste momento não autorizaria", ressaltou ao Estado a procuradora Mirella Aguiar.

 Na análise dela, a quebra de sigilo nesta fase preliminar poderia acarretar, inclusive, anulação da investigação. "Se por acaso eu tiver esse deslize ou outro colega qualquer, de com base somente numa reportagem pedir uma quebra de sigilo e por acaso um juiz der, isso certamente será anulado no futuro. É preciso ter mais elementos. É preciso ter indícios veementes. A Constituição está certa em garantir a intimidade, senão bastava qualquer um vir aqui dizer qualquer coisa para as pessoas terem os seus sigilos afastados", afirmou.

 A procuradora preferiu não dar detalhes sobre os próximos passos da investigação. A informação do início dos procedimentos foi revelada pela revista Época. Por meio do Instituto Lula, o ex-presidente rebateu as acusações e ressaltou que faz apenas palestras no exterior e não presta serviços de consultoria.

 Apesar das negativas públicas do ex-presidente, a procuradora não descartou a possibilidade de Lula ter de apresentar formalmente, em depoimento ou por meio de ofício, sua versão. "Não posso dizer o que vai ser feito. Obviamente se for o caso de se investigar, se for o caso de as investigações avançarem, se for o caso de comprovar tudo aquilo que foi dito pela imprensa, as pessoas envolvidas deverão ter espaço para apresentar as suas versões", disse. "Isso pode ser feito de diversas formas, algumas vezes mandamos ofícios pedindo que esclareça alguns pontos. Outras vezes, quando tem detalhes que são mais complexos, podemos chamar para ouvir. Mas se a pessoa reside em outro lugar, podemos pedir para outro colega de outro lugar ouvir", acrescentou.

Inicialmente, a conclusão desta fase preliminar de investigação deve ocorrer no prazo de 30 dias. Para a procuradora, ainda é cedo, entretanto, para definir uma data. "Prazo pode ser prorrogado até 90 dias no caso de se configurar um crime. Se a gente achar algum outro elemento que possa configurar improbidade, os prazos são diferentes. Podemos instaurar um procedimento preliminar de 90 dias, podendo ser prorrogado por mais 90 dias. Mas precisa de muita coisa ainda para saber se [os fatos] procedem. Hoje não tem como definir uma data".

04 de maio de 2015
in coroneLeaks

O TRIÂNGULO E O CÍRCULO


É possível ver o poder no Brasil como um triângulo: Dilma, Renan e Cunha. Olhando melhor, acho que é um círculo. Dilma é a expressão momentânea de um projeto cuja ideia fundamental é a de que os fins justificam os meios. Renan e Cunha são os instrumentos usados para enfraquecer o projeto de Dilma. Combatemos o PT com seu próprio veneno: o círculo se fecha, o triângulo é apenas uma ilusão.

O que me ajudou a concluir isto foi um texto de Maurice Blanchot sobre Hermann Broch. O escritor austríaco, em “Huguenau ou o realismo”, descreve um sistema onde não são os homens que se digladiam nem acontecimentos que se chocam. O que está em jogo são os valores de que as pessoas são protagonistas. No interior desse mundo singular, que é o mundo do sucesso, o Huguenau de Hermann Broch só pode destruir aquilo que o estorva. Ele não terá remorso nem mesmo lembrança do seu ato. Não percebe, em momento algum, o caráter irregular de sua ação.


Blanchot acentua: não é um herói de Dostoiévski, o tempo dos Demônios já passou: “Temos em Huguenau o primeiro dos homens comuns que, protegidos por um sistema e justificados por ele, vão tornar-se, sem ao menos o saber, burocratas do crime e contadores da violência”.

Transportando-me da literatura para a política, talvez tivesse sido mais brando com Dilma, Renan e Cunha se os encarasse apenas como parte de um sistema decadente que nos envolve a todos. Jamais vi uma centelha de inteligência nos discursos, entrevistas e debates de Dilma. Leio agora na entrevista da senadora Marta Suplicy que Dilma é muito culta, gosta de arte e conhece profundamente vários museus. O repórter não pediu para Marta elaborar sobre isso de conhecer profundamente vários museus. Mas, no mínimo, é uma inteligência topográfica, qualidade que deve estimular várias outras.


Sobre Renan, no passado, cheguei a formular um cartaz em que aparece com um chapéu de cangaceiro e o seguinte texto: “Se entrega, Corisco”.


No caso de Eduardo Cunha, cheguei a conectar seu olhar enviesado com um estado de espírito, de alguém sempre escondido tramando algo sospechoso.


Apesar de tudo, tanto Renan como Cunha, em seus impecáveis profissionalismos, sempre me trataram com gentileza, talvez por compreender que vivo num mundo de Dostoiévski, cercado de demônios que se extinguiram como os dinossauros, a máquina de escrever ou o emplastro Sabiá.


Quase toda semana, um empreiteiro preso ameaça arrastar para o escândalo do Petrolão Lula e o governo do PT. Mas é tudo objeto de cálculo, engenheiros pensam coisas claras. O que é melhor: delatar agora e reduzir a pena, ou ser condenado e protelar a execução da pena por vários anos? Com o tempo vão se unir como nas licitações e retalhar as denúncias premiadas como o fazem com as grandes obras: a OAS denuncia um edifício, a Camargo Corrêa uma usina, a racionalidade os acompanhará até o fim.


Vivem como nos Sonâmbulos de Hermann Broch, onde se assiste, segundo Blanchot, a uma nova forma de destino: o destino da lógica.


Transitar do triângulo ao círculo é admitir que há algo mais amplo no processo de decadência da vida pública brasileira. Mas não é fácil para meus modestos recursos. Tudo que posso é apenas querer alcançar o ponto de fechamento do círculo e ganhar o direito de observar desse ponto um todo unido. Como dizia Rilke: gosto quando o círculo se fecha, quando uma coisa se junta à outra: nada mais sábio que o círculo. Os orientais também pensavam assim, e Jung fez das mandalas o símbolo máximo da maturidade psicológica. Por enquanto ainda me perco nos triângulos e quadriláteros, apenas arranho a lógica dominante para encontrar nela os sintomas da irracionalidade.


Cunha contra Dilma, Renan contra Cunha, os lados se movem e não consigo ver nisto nada além de um triângulo das Bermudas onde desaparecem os frágeis barquinhos da esperança. Certamente serei acusado de pessimista, querendo ver abaixo toda essa figura geométrica. A realidade é dura, os seres humanos limitados, precisamos avançar com calma, dentro das condições existentes.


O PT jamais hesitaria em usar Cunha e Renan para alcançar seus objetivos. Mas o que deixou para a sociedade como esperança de neutralizá-lo é um Congresso independente, liderado precisamente por Cunha e Renan.


Deus me livre, mas creio que não estou sendo exato falando de um círculo. Trato de um problema que não se resolve com régua e compasso: a quadratura do círculo. Talvez olhando para fora, vendo a sociedade em movimento, consiga vislumbrar a saída. Certamente não virá de manifestações marcadas com um rígido calendário, como se a indignação tivesse que se submeter também ao compasso burocrático.


No passado sonhávamos com a imaginação no poder. Reduzidos os sonhos, vamos esperar, pelo menos, a imaginação na esquina.


04 de maio de 2015
Fernando Gabeira

FORMAS DE LUTA PARA A TOMADA DO PODER


“Onde existir um governo que tenha subido ao poder por alguma forma de consulta popular, fraudulenta ou não, e mantenha pelo menos uma aparência de legalidade constitucional, é impossível a implantação da luta armada, por não estarem esgotadas as possibilidades de luta cívica”(Che Guevara)

Sabe-se que o marxismo-leninismo não vincula o movimento revolucionário a nenhuma forma particular de luta e que desenvolve diferentes formas e métodos de atuação. Cada vez mais leva em conta que a escolha dos meios para libertar um país e a sociedade não mais dependem exclusivamente do proletariado e de seus aliados, o que lhes impõe a necessidade de dominar todas as formas de luta.

A teoria revolucionária engendrada pelo marxismo-leninismo não exclui nenhuma forma de luta, quer pacífica, quer não-pacífica, uma vez que cada tipo de luta depende apenas do nível de consciência e de organização das massas e da correlação das forças sociais e políticas.

A única questão é determinar quando e em que situação é necessário recorrer a uma ou outra forma de luta.

Aventureirismo perigoso e inconseqüente é como os comunistas definem o recurso à luta armada antes que as condições objetivas e subjetivas estejam amadurecidas, tornando sua utilização inoportuna e inconseqüente.

A luta armada, como princípio do marxismo-leninismo, é inerente aos partidos comunistas de todo o mundo, e apenas uma questão de oportunidade. Segundo Lênin, “a classe revolucionária, para realizar sua tarefa, deve saber dominar todas as formas ou aspectos de luta, sem a mínima exceção, e deve estar preparada para a mais rápida e inesperada substituição de uma forma de luta por outra”.

Aqueles que conduzem a luta contra os partidos comunistas devem ter presente que a ciência do marxismo ortodoxo descarta como ambíguos os raciocínios que admitem a possibilidade dos comunistas assumirem o Poder, numa sociedade burguesa, pela via evolutiva, assegurando sua hegemonia na economia, na cultura, nas Forças Armadas, na Educação e na própria Igreja, dispensando uma transformação revolucionária da sociedade, a destruição das estruturas do Estado-burguês e a implantação da ditadura do proletariado.

A resistência da burguesia em ver-se despojada do poder político e econômico, e de seus bens, é que impõe a necessidade da luta armada, como ficou claro em diversas conferência internacionais comunistas sobre a tática.

O surgimento de condições em que o proletariado através de sua vanguarda, o Partido Comunista, seja capaz de impor à burguesia a transformação do poder político e econômico sem resistência e sem recurso à violência contra-revolucionária, é acreditado apenas pelos inocentes-úteis, os companheiros de viagem, os oportunistas, os acomodados, os omissos e os desinformados.

04 de maio de 2015
Carlos I.S. Azambuja

A BURRICE VENCE A ESPERTEZA


O recente balanço do desastre da Petrobras é a prova contábil e irrefutável de uma triste verdade brasileira: a incompetência, a má gestão ou a simples estupidez, mesmo movidas pelas melhores intenções, dão mais prejuízos do que o roubo e a corrupção. Na devastação da Petrobras, a burrice irresponsável venceu a esperteza criminosa por 41 a 6 bilhões de reais. O que é o rombo da corrupção perto dos prejuízos que os não ladrões despreparados e incompetentes, e os que os nomearam, deram à empresa?


É o resultado de uma política de ocupação de cargos de alta importância e responsabilidade por quem tem como única credencial a lealdade ao partido ou a militância sindical.

Assim como na ditadura esses cargos eram ocupados por militares, que nada entendiam daquelas atividades, mas tinham a confiança de seus superiores de que não roubariam e não abrigariam inimigos da revolução, Lula deu a mesma função e prestigio aos sindicalistas.


O que um bancário sindicalista que luta por aumentos, participações nos lucros, hora extra, semana de 40 horas e, sobretudo, odeia visceralmente a instituição “banco” (sonha ver todos estatizados) pode entender dos complexos negócios de um banco numa sociedade de mercado?


Militância no sindicato dos petroleiros dá a alguém competência e condições técnicas para administrar grandes estruturas de exploração, refino e comércio internacional de petróleo? A resposta está no balanço da Petrobras.


Essa é uma das mais malditas heranças de Lula, a “sindicalização” do país, abrigando companheiros onde não estavam qualificados, reduzindo a politica à lógica – e à ética – das eleições sindicais, e à função, legítima e necessária, de um sindicato: conseguir mais e melhor para os seus companheiros. Faz sentido.

Mas um país não é um sindicato. Nem pertence a um partido. A mais maldita das heranças do PT é o aparelhamento das estatais para um projeto de poder que teve na Petrobras o seu melhor e pior exemplo.


Mais que um impeachment ou uma alternância de poder numa eleição livre e democrática, a reforma que o Brasil mais precisa é instituir a meritocracia.


04 de maio de 2015
Nelson Mota

PIZZOLATO SERÁ MAIS UM PRESO COM MORDOMIAS NA PAPUDA







A vinda do ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato da Itália ao Brasil, prevista para este início de mês, já está envolvida em polêmica. O questionamento, feito pelo Ministério Público do Distrito Federal envolve a acomodação dele no Complexo da Papuda, em Brasília, que seria com “mordomias” na cela, conforme “O Globo”, desta sexta.

O MP teria pedido informações sobre “itens de conforto diferenciado” do pavilhão e considera que há “tratamento privilegiado” no local, porque, onde cabem 60 presos, estão quatro: os condenados no mensalão Ramon Hollerbach e Cristiano Paz, o ex-deputado Natan Donadon (condenado por peculato) e José Carlos Alves dos Santos (anões do Orçamento).

As dez celas da ala, reformadas em 2014, têm portas de madeira no banheiro, vasos e pias de louça, cerâmica em parte do piso, chuveiro quente e beliche. O primeiro detento do local — Luiz Estevão — ficou lá quatro meses sozinho.

VAGAS OCIOSAS

Em ofício de 11 de março, antes da decisão da extradição, o MP pediu à Subsecretaria do Sistema Penitenciário do DF (Sesipe) para preencher vagas ociosas da ala com outros presos, o que não foi feito . “A manutenção de número reduzidíssimo de reeducandos em uma ala cujas celas, além de possuírem melhores condições, comportariam quantidade muito maior de pessoas, importa por vias transversas em conferir tratamento privilegiado”, diz o documento, segundo o jornal.

O MP ressalta que os presos na ala têm perfil socioeconômico semelhante e destoante da maioria da população carcerária. O chefe da Sesipe, João Lóssio, disse que não comentaria o assunto por “segurança”.

Pizzolato foi condenado em 2013, no caso do mensalão, a 12 anos e sete meses de prisão por ter autorizado repasse de R$ 73,8 milhões que o banco mantinha no Fundo Visanet para uma das empresas de Marcos Valério de Souza, operador do mensalão. Em troca, recebeu propina de R$ 336 mil. Ele fugiu para a Itália com passaporte falso e foi preso pouco antes da condenação no Brasil.

04 de maio de 2015
Deu em O Tempo

PIKETTY, O CASCATEIRO QUE SE TORNOU MILIONÁRIO DESCENDO O SARRAFO NO CAPITALISMO



Raras vezes mencionei o nome desse cascateiro francês, Thomas Piketty, que se pretende o Marx contemporâneo. Seu livro O capital no século XXI, que lhe rendeu uma boa fortuna, apenas repete a velha cantilena socialista contra a "desigualdade", sempre de olho no capital alheio. Fez bem o professor João Carlos Espada, de Portugal (visitado agora por Piketty), em lembrar, contra essa ladainha de ressentidos que se consideram conhecedores dos "rumos da História" (finalismo velho e barato na filosofia hegeliano-marxista), o saudoso Winston Churchill: o melhor instrumento de geração de riqueza e de combate à pobreza é a liberdade:

A visita de Thomas Piketty a Lisboa, na passada segunda-feira, produziu um curioso impacto político. Não é todos os dias que um académico, convidado por uma instituição cultural independente, aceita avistar-se com um candidato a primeiro-ministro e com um candidato a presidente da república, ambos da mesma área política. Como observaram vários analistas, não é seguro que esta politização tenha valorizado o argumento intelectual de Piketty.

Outro elemento curioso desta visita foi a aceitação quase unânime entre nós do alegado problema colocado por Piketty: o problema da desigualdade de resultados nas economias ditas capitalistas.

Toda a gente parece concordar com a asserção de que existe à partida um problema na desigualdade de resultados (a qual deve ser distinguida da pobreza e da exclusão social). Por essa razão de partida, o problema seria ainda maior se a desigualdade de resultados estivesse a aumentar (o que, aliás, não está comprovado).

Peço autorização para duvidar (e espero que, dado que ainda não entrámos em campanha eleitoral, a autorização me seja concedida, sem visto prévio de uma comissão central): não me parece evidente que a desigualdade de resultados seja em si mesma um problema — a menos que a liberdade seja percepcionada em si mesma como um problema.

Com efeito, se partirmos de uma presunção favorável à liberdade, seguir-se-á que todos os indivíduos devem ser igualmente livres perante a lei — isto é, em princípio livres, desde que não violem a lei. Indivíduos igualmente livres vão poder agir diferentemente. Das suas diferentes acções resultarão diferentes resultados. Logo, da igual liberdade perante a lei resulta a desigualdade de resultados.

Pelo contrário, se partirmos de uma presunção favorável à igualdade de resultados, seguir-se-á que os indivíduos não podem, em princípio, ser igualmente livres perante a lei. Eles só poderão ser livres de escolher acções que uma autoridade central previamente possa autorizar — com base na previsão de que essas acções não vão produzir resultados desiguais. E, caso alguma acção previamente autorizada tenha produzido uma desigualdade, o resultado dessa acção autorizada deve ser anulada para restaurar a igualdade (talvez através de um severo imposto ou, quem sabe, de uma “nacionalização”).

Estas duas perspectivas estão subjacentes ao choque fundamental entre as sociedades livres, também chamadas capitalistas, e as sociedades comandadas (comunistas, ou fascistas, ou, em grau menor, de “condicionamento industrial” do Doutor Salazar ou do despotismo esclarecido do Marquês de Pombal). Nas sociedades livres, tudo é permitido, a menos que seja explicitamente proibido pela lei geral. Nas sociedades comandadas, tudo é proibido, a menos que seja expressamente permitido por uma prévia autorização particular.

Muitos autores observaram este choque entre “a sociedade aberta e os seus inimigos”, desde a Grécia antiga até aos nossos dias. Mas foi talvez David Hume quem melhor captou os resultados da preferência pela igualdade em detrimento da liberdade: a pobreza e o despotismo. Disse ele, em 1777:

“Por mais igual que se torne a distribuição da riqueza, os diferentes graus de arte, interesse e indústria dos homens destruirão imediatamente essa igualdade. Ou, se controlarmos essas virtudes, reduziremos a sociedade à mais extrema indigência; e, em vez de evitarmos a necessidade e a penúria em alguns indivíduos, torná-las-emos inevitáveis para toda a comunidade. Será necessária também a mais rigorosa inquirição para detectar todas as desigualdades assim que elas surjam, bem como a mais severa jurisdição para as punir e corrigir.”

Por outras palavras, os povos que preferem a igualdade à liberdade vão produzir mais pobreza. Perante a pobreza, vão exigir ainda mais igualdade. E obterão mais pobreza. Quando descobrirem que outros povos estão a produzir riqueza, exigirão que a igualdade seja estendida a esses povos (talvez através de um “imposto global”). Obviamente, se isso fosse aceite pelos outros, todos ficariam mais pobres — mas seguramente também mais iguais, na pobreza.

Em tudo isto, como repetiu Winston Churchill, apenas fica esquecido que o mais efectivo instrumento de geração de riqueza e de combate à pobreza é a liberdade. (Público).



04 de maio de 2015
in orlando tambosi

VENEZUELA: INFLAÇÃO E PENÚRIA TRAZEM CAOS ECONÔMICO E POLÍTICO: SURREALISMO TOTAL

No socialismo venezuelano, agora há o risco de acabar a comida e os remédios


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O que é mais impressionante quando se considera todo o surrealismo da atual situação da Venezuela é que tudo já está virando rotina. As pessoas parecem não mais ter a capacidade de se indignar.


A furiosa hiperinflação que assola o país desde 2013, combinada com uma política de racionamento e de controle de preços implantada pelo governo, esvaziou as prateleiras dos supermercados do país. Itens básicos e rotineiros como xampu, farinha, açúcar, detergente, óleo de cozinhar e o já famoso papel higiênico se tornaram tão escassos no país, que os venezuelanos hoje têm de pedir permissão para faltar ao trabalho e assim poder ficar o dia inteiro em longas filas nas portas dos poucos supermercados que ainda têm tais produtos à venda.

Além daqueles que se ausentam do trabalho, também há aqueles que acordam de madrugada para ir para as filas. E há aqueles que vão para as filas no horário do almoço. Os venezuelanos estão o tempo todo enviando mensagens de texto no celular para dar informações sobre filas. Eles se transformaram em especialistas em filas.

Com uma moeda inconversível e que ninguém quer portar, com uma inflação de preços estimada em 327% ao ano, e com rígidos controles de preços, toda a distribuição de alimentos na Venezuela foi colocada sob supervisão militar desde o início de fevereiro.
Segundo essa matéria de capa do Times, enquanto os venezuelanos se aglomeram em filas que normalmente acumulam mais de mil pessoas apenas para conseguir comprar comida, "soldados armados pedem as carteiras de identidade para se certificarem de que ninguém está comprando itens básicos mais de uma vez na mesma semana".
E prossegue:

Todas as compras feitas pelos venezuelanos são computadas em um sistema de dados para garantir que cada consumidor não tente comprar os mesmos produtos racionados em um período menor do que sete dias.
Soldados patrulham as filas fora dos supermercados, policiais da guarda bolivariana ficam dentro dos supermercados, e funcionários públicos conferem as carteiras de identidade à procura de falsificações que poderiam ser utilizadas para driblar o sistema de racionamento. Procuram também por imigrantes com visto expirado. Um funcionário público da imigração grita alertando que transgressores serão presos.
[...]
O governo enviou tropas para patrulhar as enormes filas que se estendem por várias quadras. Alguns estados proibiram as pessoas de esperaram fora dos supermercados ao longo das madrugadas, e funcionários do governo estão de prontidão perto das portas de entrada e saída, prontos para prender qualquer um que tenta driblar o sistema de racionamento.

O curioso, no entanto, é que, bem ao estilo da tradição socialista, tudo isso é visto como um exemplo de "boa organização". Além dessa exigência de pedir documentos para evitar que as pessoas comprem mais de uma vez por semana, as autoridades estão ordenando os supermercados a permitirem que os clientes formem filas nos estacionamentos subterrâneos, pois assim eles não correriam o risco de sofrer queimaduras de sol.
Segundo reportagem da BBC:

Jornalistas são proibidos de filmar ou tirar fotos das prateleiras vazias. Já os consumidores também estão sob instruções rígidas. Você só pode comprar bens escassos em dias específicos da semana, dependendo do número final na sua carteira de identidade. Sendo assim, se, por exemplo, a sua carteira de identidade termina em zero ou em um, você só pode ficar em uma fila às segundas-feiras. E, ainda assim, isso não significa que o sabonete e o leite que você quer comprar estarão necessariamente disponíveis naquele dia.
[…]
É comum ver pessoas entrando em filas sem nem sequer saber o que está à venda. Elas simplesmente veem a fila, entram nela e então perguntam a quem está imediatamente à frente para o que é aquela fila. E é extremamente provável que essa pessoa à frente também tenha feito exatamente o mesmo com a pessoa que está à frente dela.

Testemunhamos uma fila que só se movia quando algumas pessoas que já estavam lá na frente desistiam de esperar e iam tentar a sorte em outro lugar. Isso significa que as pessoas que estavam lá no fim da fila, dobrando a esquina, não viam isso, e acreditavam enganosamente que estava havendo algum progresso e que a fila de fato estava se movendo. E isso as estimulava a permanecer na fila por mais tempo. 

Só que, para tragédia geral, essa fila não era para absolutamente nada. Simplesmente ouviu-se um rumor de que o supermercado em questão havia recebido uma remessa de algo — ninguém sabia o quê —, e isso bastou para que se formasse uma fila. No final, não havia nada. Apenas mais um dia perdido.
Sem comida e sem remédios

Há outro fantasma ameaçando levar ainda mais terror para os venezuelanos: a escassez de dólares no país.
A queda no preço do petróleo, o principal item exportador da Venezuela, reduziu brutalmente a entrada de dólares no país. E dado que a moeda venezuelana, o bolívar, é inconversível — nenhum estrangeiro está disposto a trocar sua moeda pelo bolívar, pois não há investimentos atrativos na Venezuela —, nenhum empreendedor na Venezuela está tendo acesso a dólares.

A única entidade na Venezuela que ainda tem dólares é o governo, e é ele quem decide qual empresa pode receber dólares para importar bens. No momento, por causa de sua escassez, a ração de dólares está suspensa.
Consequentemente, a importação de itens básicos está suspensa.

"Há uma forte tempestade se formando devido à falta de dólares. A situação é desesperadora e pode piorar ainda mais", diz Russ Dallen, chefe do Caracas Capital Markets, um banco de investimento local. Russ está há vários anos acompanhando de perto a situação da Venezuela. "Nos próximos dois ou três meses, haverá um grande desabastecimento, muito pior do que estes que estamos vivenciando — não apenas porque os estoques já estão muito baixos, mas também porque a importação de produtos que só serão demandados daqui a 8-12 semanas não está entrando no país."

Segundo reportagem do Latin America Herald Tribune:
"Os estoques, inclusive os das indústrias farmacêutica e alimentícia, estão chegando a níveis críticos", disse Eduardo Garmendia, presidente da Confederação Venezuelana das Indústrias (Conindustria). "Todo o sistema já está sendo afetado pela dificuldade de se conseguiu matérias-primas, mas tudo é ainda pior no quesito bens essenciais, pois estes estão sofrendo um impacto direto; estamos falando de remédios e comida".

No caso dos alimentos, os estoques das principais indústrias do país irão durar menos de um mês, de acordo com dados publicados pela Câmara Venezuelana da Indústria de Alimentos (Cavidea).

"Há empresas de alimentos que, até hoje, neste ano, ainda não conseguiram um único dólar", disse Pablo Baraybar, presidente da Cavídea. "Em algumas linhas de produção, temos estoques para apenas mais 10 ou 20 dias".
Isso certamente tornará as coisas exponencialmente mais difíceis para aqueles venezuelanos que sofrem diariamente para colocar comida em suas mesas.
O que pode ocorrer daqui a apenas algumas semanas é a total paralisação do país após o esgotamento de todos os estoques, pois as empresas não estão recebendo do governo os dólares necessários para pagar pelas importações.
[...]
É por isso que o governo venezuelano vem fazendo uma intensa propaganda sobre a possibilidade de que a China esteja disposta a fornecer um empréstimo de US$ 10 bilhões para projetos de infraestrutura na Venezuela.

"O governo está a todo o momento dizendo 'os chineses estão vindo, os chineses estão vindo; os chineses são os únicos que podem nos salvar desse martírio", disse Russ Dalen.
Só que, quando o dinheiro chinês chegar — caso isso realmente ocorra —, ele só poderá ser utilizado para importar produtos da China ou ser investido em projetos específicos previamente aprovados pelos governos venezuelano e chinês, o que não necessariamente irá trazer alívio para os milhões de venezuelanos, que, dentro de poucos meses, não mais conseguirão obter leite e farinha nas prateleiras dos supermercados após passarem o dia inteiro na fila.

Segundo o The New York Times, o suprimento de remédios está acabando. Salas de cirurgia estão fechadas há meses, não obstante centenas de pacientes estejam na fila de espera para cirurgias. 

Em uma clínica privada, um cirurgião conseguiu manter a sala de cirurgias funcionando porque conseguiu contrabandear dos EUA, sem que o governo venezuelano soubesse, remédios essenciais.

Paralelos com a Romênia

Acima, uma fila na Romênia em 1986; abaixo, uma fila na Venezuela em 2015
É interessante constatar que, ao redor de todo o globo, os fracassos do socialismo não apenas se originam das mesmas causas, como também tendem a se manifestar de maneiras incrivelmente similares.

Aproximadamente 30 anos atrás, do outro lado do Oceano Atlântico, os romenos também tinham o hábito de passar várias horas parados em filas que se formavam perante prateleiras vazias. A diferença é que, para os romenos, tal situação rotineira já havia deixado de ser uma mera "crise temporária", que é como a atual situação da Venezuela ainda é descrita pelo governo. Tudo já era tristemente rotineiro.

E, assim como o governo da Venezuela se gaba de sua "boa organização" para controlar as filas dos supermercados e impedir que as pessoas comprem duas vezes na mesma semana, o regime comunista da Romênia, que já estava no poder havia mais de duas décadas, dizia que o racionamento de alimentos era uma medida voltada para promover a saúde e melhorar a qualidade de vida!

Por exemplo, o ditador Nicolau Ceausescu instituiu, em 1982, um "programa de alimentação científico/racional" para o país, no qual quantidades de leite, ovos, carne, peixe etc. eram listadas, ao mesmo tempo, como recomendações de dieta e quotas permitidas para a compra. À medida que o tempo foi passando, essas rações se tornaram cada vez mais escassas.

A gasolina também foi racionada em apenas 25 litros por mês, e a fila para conseguir o combustível frequentemente envolvia um esforço conjunto, no qual dois amigos se revezavam na fila em turnos diários, dentro do mesmo carro, esperando seu momento para abastecer. Enquanto um ficava na fila, o outro ia trabalhar.

E para garantir que os romenos não iriam consumir muita gasolina, o governo adotou um rodízio, segundo o qual os carros não poderiam circular nos fins de semana dependendo do número final de suas respectivas placas.
Por fim, dado que os meses de inverno na Romênia são muito piores do que os da Venezuela, aquecimento e água quente só estavam disponíveis durante algumas horas do dia. Assim como televisão e eletricidade.

À época, as autoridades comunistas gostavam de se gabar dizendo que os cidadãos romenos usufruíam todos os benefícios da vida moderna, mas nenhuma de suas injustiças. O regime de Nicolás Maduro também emite opiniões similares sobre o Ocidente — que represente seu suposto inimigo, a epítome do capitalismo cruel, e o único culpado pelas tribulações do país.
No entanto, em ambos os casos, é o socialismo que está fadado a terminar em colapso e na total destruição da atividade econômica, bem como na desintegração de todo o tecido social. Se a atual situação da Venezuela ainda impressiona alguém, é porque falta conhecimento econômico e histórico. Se o exemplo venezuelano das consequências inevitáveis do socialismo ainda surpreende, isso só mostra como as lições econômicas e históricas são rapidamente esquecidas.

Fora essas lições, resta-nos apenas a esperança de que os venezuelanos, no futuro, irão se lembrar com algum humor dos bizarros momentos deste período. Nos 50 anos em que viveram sob o comunismo, os romenos criaram um vasto folclore de piadas jocosas, muito provavelmente como uma válvula de escape para lidar com a situação tenebrosa em que viviam. Eis uma delas:

O filho de um medalhão do Partido Comunista da Romênia foi estudar nos Estados Unidos. Tão logo chegou aos EUA, ele enviou um curto telegrama ao pai: "Vida longa ao Partido Comunista, já que eu nunca irei retornar."



04 de maio de 2015
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Autores:
Carmen Dorobat é pós-doutoranda em economia na Universidade de Angers e professora na Bucharest Academy of Economic Studies.
Leandro Roque é o editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.
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Leia também:
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A queda no preço do petróleo coloca a Venezuela no limiar do colapso
Venezuela, Rússia e os efeitos da queda do preço do petróleo
Vencendo a opressão - a vida na Polônia da década de 1980
Um tributo ao povo polonês
A importância de zombar do regime



Diversos Autores
Fonte: Instituto Ludwig von Mises Brasil

CORRUPÇÃO GENERALIZADA, INSTRUMENTO DA OPRESSÃO COMUNISTA



Em fevereiro, o governo socialista de Pequim ordenou a execução de cinco empresários que haviam formado grandes fortunas, de acordo com o site FranceTVinfo. Entre eles, o milionário da indústria mineira Liu Han, seu irmão e três sócios.
É impossível formar uma grande fortuna sob um regime socialista nivelador sem ter importantes cumplicidades com o seu sistema hegemônico.
"As desigualdades econômicas são incompatíveis com o socialismo". Essa foi a causa invocada pelos ideólogos marxistas para produzir a maior chacina da História. Porém, necessidades concretas impostas pelo progresso mundial do comunismo exigem por vezes uma tolerância do regime para com capitais privados.
No presente momento, a China precisa deles para alcançar sua almejada hegemonia na economia mundial, que progride a olhos vistos.
Mas o regime também tem necessidade de deixar claro que, se tolera essas desigualdades, é de modo transitório, pois a metafísica igualitária comunista continua sendo o objetivo final do sistema.
Por isso ele precisa fazer execuções de caráter didático, como as desses novos ricos, escolhidos de acordo com critérios mais ou menos arbitrários e mais ou menos de cumplicidade.
Os cinco condenados foram acusados de integrar uma gangue mafiosa e de ordenar diversos assassinatos. Nisto eles em nada se diferenciavam da maior e mais assassina gangue mafiosa existente no país: o Partido Comunista Chinês.
Mas a lição igualitária precisava ser dada para toda a China.
Nos últimos meses também foram presos 68 altos dirigentes do Partido Comunista, entre os quais o prefeito de Nanquim, 15 generais e 72 mil funcionários de baixo escalão.
Essas prisões talvez estejam ligadas às lutas partidárias internas que precederam a ascensão do novo dono comunista da China, o presidente Xi Jinping, que passou a expurgar o PC de seus concorrentes ao cargo supremo.
Xi disse que expurgaria “tigres” e “moscas”, entendendo por “tigres” altos funcionários acusados demagogicamente por ele de terem se enriquecido à custa do povo. As “moscas” seriam os pequenos chefes locais que extorquem propinas do povo por qualquer serviço: um emprego, uma cama no hospital ou escola para o filho.
Essas “moscas” vão sendo substituídas por pessoas de confiança do novo ditador máximo e tudo continua como dantes no quartel de Mao Tsé-Tung.
O presidente anuncia que o povo está fazendo sua revanche e que a campanha anticorrupção vai melhor do que nunca. Ai de quem achar o contrário!
Como em todo governo socialista, a corrupção na China é generalizada e instrumento poderoso para manter sob controle todos os funcionários que sujam suas mãos, querendo ou não.
Considerando-se as dimensões do país, a estrutura da corrupção montada pelo regime envolve “volumes de dinheiro cada vez mais colossais e métodos cada mais crapulosos”, segundo Zu Daizheng, ex-ministro e membro do Partido Comunista desde 1937.
Zu já viu muitos outros expurgos e a manutenção do mesmo sistema corrupto para sujeitar o país aos ditadores de turno de Pequim.

*
Reforma Agrária achincalhou os proprietários até a morte
A revolução comunista na China conduzida por Mao-Tsé-Tung seguiu as pegadas da Rússia com aspectos surpreendentes.
Assim que se apossava de uma região, o comunismo chinês empreendia a Reforma Agrária. Mas antes de eliminar os proprietários, desmoralizava-os o quanto podia.
Eles eram, por exemplo, submetidos ao “comício da acidez”: os parentes e empregados deviam acusá-los das piores infâmias até que “entregassem os pontos”, sendo então executados pelos presentes. Um proprietário teve que puxar um arado sob as chibatadas de colonos, até perecer.
Chegou-se a obrigar membros da família de um fazendeiro a comer pedaços da carne dele, na sua presença, ainda vivo!
A Reforma Agrária chinesa extinguiu de 2 a 5 milhões de vidas, sem contar aqueles que nunca voltaram entre os 4 a 6 milhões enviados aos campos de concentração.

04 de maio de 2015
LUIS DUFAUR
(Fonte: “Livro Negro do Comunismo revela o maior crime da História”, revista Catolicismo, fevereiro de 2000).

DEPOIS DO CAOS


Mês passado, neste espaço, sugeri a Dilma Rousseff convocar um plebiscito. Matéria para consulta popular há de sobra, fato que deixaria a presidente à vontade para escolher a que lhe conviesse. O ponto crucial, a não descurar sob hipótese alguma, seria deixar bem claro que sua permanência no cargo estaria vinculada ao resultado da consulta popular. Pisar em ovosApoiada pelos brasileiros, levaria o mandato até o fim, e não se falaria mais nisso – afinal, não se pode chamar eleitores às urnas a cada semana. Se, no entanto, os votantes se atrevessem a rejeitar a proposta, ela renunciaria, pura e simplesmente, ao mandato. Fiel a seu estilo, sairia de cabeça erguida, por decisão pessoal. Ficaria patente que valoriza o nobre sentimento da honra.
Assoberbada de trabalho e sobrecarregada de preocupações, a mandatária não há de ter tido tempo de avaliar a sugestão. Ou talvez, desacostumada a seguir conselhos, tenha decidido manter-se inabalada e inabalável. Cada um é que sabe onde lhe aperta o sapato.
A vida (não só a da presidente) anda um bocado complicada, convenhamos. A insegurança assusta, incertezas atulham o horizonte. A gente às vezes se sente mergulhado numa autêntica casa de mãe joana, uma espelunca onde todos gritam e ninguém tem razão. Paira no ar a impressão de que conquistas e avanços, que acreditávamos consolidados, andam evaporando num processo inexorável de dissolução.
Dilma ministerio 1Ministro que entra, ministro que sai; mandatária-mor em palpos de aranha e visivelmente isolada; antigos presidentes dando palpites sobre tudo e sobre todos, como se em roda de botequim estivessem; congressistas desacreditados; revelação diária de detalhes novos de roubalheiras antigas. Arre! Tudo contribui para aumentar a desagradável sensação de que o coreto bagunçou de vez. Aos cidadãos comuns que somos, restam o desencanto e, mais que tudo, a certeza de que nos caberá pagar a conta.
Nós, brasileiros, temos tendência a exagerar os aspectos negativos de todo acontecimento. Acentuamos de tal modo a face ruim, que acabamos incapazes de enxergar o lado positivo. Alguns asseguram que essa curiosa peculiaridade está inscrita no tema astral do País. Dizem que assim são as coisas e que é impossível contrariar o carma nacional. Como não sou do ramo, prefiro dar de barato e não comprar essa briga.
OmeletteNão se faz omelete sem partir ovos. Não se constrói o novo sem demolir o antigo. Não se ganha guerra sem travar batalha. O brado da sabedoria popular é incontestável: todo avanço, todo progresso, toda conquista pressupõe a falência da estrutura antiga. Exige mudança. Provoca crise. Abre um túnel que temos de atravessar para chegar à luz do outro lado.
Erramos ao dar exagerada importância à crise, que é passageira. Convém fazer das tripas coração e considerar que o atual momento conturbado é passagem obrigatória que conduz à transformação do modelo exaurido.
Quando se sacode a árvore, os frutos podres se esborracham no chão. É o que está acontecendo. Alguns sinais já sorriem no horizonte. Semana passada, antiga proposta de voto distrital foi aprovada no Senado. Tímido, o projeto restringe a prática a alguns poucos municípios. Mas é passo na boa direção.
Discussão 3«Toda unanimidade é burra. Quem pensa com a unanimidade não precisa pensar» – sentenciou Nélson Rodrigues. Durante doze anos, afagados pela brisa leve da bonança econômica, estivemos anestesiados. Pouco se nos dava que o comportamento de medalhões fosse tortuoso: tinham todos direito ao apoio negligente e (quase) unânime da nação distraída.
Dissensões pipocam hoje na classe política. A presidente colide com o Senado, que abalroa a Câmara, que esbarra em líderes partidários, que estranham o STF. Não é motivo pra se deixar abater, distinto leitor! Ao contrário, esse cafarnaum é pra lá de salutar. A presença de vulto todo-poderoso na chefia do Executivo, como ocorreu nos últimos anos, empalidece os outros poderes, desequilibra o conjunto e distorce o espírito republicano.
Faixa presidencialA todo presidente com baixa aprovação popular, corresponde um Congresso revigorado. Parlamento fortalecido e voto distrital são notícias auspiciosas. Afinal, se a presidente foi eleita com o voto de metade dos eleitores, o Congresso representa a totalidade dos brasileiros.
Não nos deixemos abater pelas nuvens escuras que encobrem o sol neste momento. Que desabem, que se precipitem e que se dissipem. Bom marinheiro ensina que, depois da tempestade, é garantido: vem bom tempo.
04 de maio de 2015
Jose Horta Manzano
Artigo publicado pelo Correio Braziliense