"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 26 de outubro de 2013

PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR


Quanto tempo a Venezuela demorou para se transformar em uma Cuba?

Quanto tempo a Argentina demorou para se transformar em uma Venezuela?

Quanto tempo o Brasil vai demorar para se transformar em uma Argentina?
 
26 de outubro de 2013

AMEBAS SENSÍVEIS


Nas cartas dos leitores da Veja desta semana há uma frase lapidar de um deles (aliás, uma) sobre o caso dos beagles raptados: “Qualquer ser vivo tem sentimentos”.
 
De fato, outro dia eu assisti um vídeo em que uma ameba se queixava a uma bromélia sobre as agruras da sua vida, chegando às lágrimas - visíveis.
 
Tem cada uma...
 
26 de outubro de 2013

ENERGÚMENOS GLOBAIS

 
Bom, dessa vez vou “copiar” mesmo o Rodrigo Constantino. Não exatamente ele, mas um vídeo que ele postou no blog sobre um tal de “Grito de Liberdade 31/10”, um “evento” obaoba da galera global, gentinha que tem merda na cabeça, que quer reunir todos os coprocéfalos em uma manifestação que nenhum deles sabe para que vai servir a não ser para azucrinar o carioca que tem que viver não só para o trabalho: acima de tudo ele tem que ter seu direito de ir e vir respeitado, o que, certamente não vai ocorrer, principalmente em função da afirmação da Mariana Ximenes sobre o acontecimento de “intervenções artísticas e lúdicas”, atraindo milhares de macacos de auditório e fã-clubes ávidos por ver seus ídolos, o que vai, obviamente, inviabilizar o trânsito.

O vídeo é uma tragédia. Aliás, o vídeo não: seus atores. Marcos Palmeira classifica vândalos presos por depredarem tudo que vêm pela frente como “presos políticos”; Camila Pitanga, garota-propaganda do governo petralha, pergunta a nós - já que esse vídeo é endereçado a todos - onde vai parar a violência, quando a pergunta deveria ser dirigida aos seus amiguinhos black blocs; Álamo Facó diz que essa gente que destrói o patrimônio público e privado, sem distinção, está sendo presa sem provas, apesar dos milhões de vídeos e imagens que dizem o contrário; Georgiana Góes acha que a “mídia está manipulando” sei lá o que, quando as imagens são tão claras; Bianca Comparato acha que a imprensa só mostra o que foi destruído, mas o que mostrar quando não há nada que tenha sido construído por essa baderna?, e mais, diz ainda que o que está sendo destruído são “lugares simbólicos”, quem sabe como uma loja de roupas masculinas ou uma que vende sandálias havaianas; Wagner Moura, o queridinho do PSOL, patrocinador assíduo de badernas, acha que “o efeito psicológico das manifestações foram muito maiores que qualquer pragmatismo”, uma rematada imbecilidade, já que se há “efeitos psicológicos” conseguidos, eles são, obviamente, resultados práticos das manifestações. O menino vermelhinho confundiu psicologia com ideologia...
 
Enfim, com todo respeito que eles me merecem, é esse bando de energúmenos que tem a pretensão de fazer alguma coisa pelo país. Vão sim, se forem ouvidos, fazer muito pela instauração do caos definitivo, já bem próximo.
Tenham o desprazer de assistir o vídeo.
26 de outubro de 2013
Ricardo Froes

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
 
26 de outubro de 2013


"BEAGLES E DEDOS PERDIDOS"

 

Foi em Londres, no dia 13 de março de 2006. Seis voluntários entraram no hospital. Estavam felizes com os cerca de R$ 10 mil que receberiam para participar do primeiro teste clínico de uma nova droga. Mal sabiam que só sairiam do hospital meses depois, sem os dedos das mãos e dos pés. Essa é a história do pior acidente ocorrido com seres humanos durante os testes de uma nova droga.

Uma hora depois de receberem uma droga denominada TGN1412, os voluntários estavam com dores no corpo, náuseas, vomitando, e com diarreia. A pressão arterial caiu. O ritmo dos batimentos cardíacos aumentou. Manchas vermelhas apareceram em todo o corpo.

Quatro horas depois veio a dificuldade para respirar. Tiveram de ser entubados e ligados a respiradores artificiais. Em 12 horas estavam na UTI. E o pior estava por vir. Múltiplos órgãos deixaram de funcionar e os voluntários foram conectados a máquinas de diálise.
A circulação do sangue foi ficando difícil à medida em que o sangue parecia vazar das veias. As alterações foram rápidas e profundas e todos receberam transfusões. Estavam confusos, com a memória e o raciocínio alterados.

O acúmulo de líquidos foi tão grande que familiares relataram ter sido quase impossível reconhecer o rosto dos jovens. A descrição do que ocorreu nas semanas seguintes só deve ser lida por pessoas com estômago forte.

Após semanas de luta, os médicos salvaram os voluntários, que além de danos em vários órgãos, saíram do hospital sem os dedos das mãos e dos pés. Haviam necrosado e tiveram de ser amputados.
O que teria dado errado? Centenas de testes clínicos são feitos todos os anos e nunca um problema como esse havia ocorrido. Hoje, sete anos depois, sabemos o que causou o problema: os macacos não são suficientemente parecidos com um ser humano.

Esse episódio foi investigado nos seus mínimos detalhes. A causa de todos os sintomas foi uma liberação massiva de citokinas, induzida pelo TGN1412 (hoje chamamos esse fenômeno de tempestade de citokinas). Ficou comprovado que o remédio não estava contaminado e o que foi injetado nos pacientes era exatamente a mesma molécula que havia sido testada anteriormente em animais.

Mas por que essa tempestade de citokinas não foi detectada nos testes pré-clínicos, feitos em animais? Os resultados em animais foram reexaminados para verificar se teria havido falsificação ou omissão de dados pela companhia farmacêutica que desenvolveu a droga. Não houve. Todos os experimentos feitos em animais puderam ser repetidos.

O TGN1412 tinha sido testado em ratos e camundongos e este efeito colateral não tinha sido observado. Os cientistas também acharam prudente fazer os testes em um outro mamífero.
Apesar de os cachorros serem muito parecidos com os seres humanos, foi decidido que o TGN1412, que agia sobre o sistema imunológico, deveria ser testado em macacos, o mamífero mais semelhante ao ser humano. Isso foi feito. De novo, nenhum problema. Finalmente, antes de injetar em seres humanos, foram feitos testes em células humanas isoladas, onde também não foi detectado o fenômeno.

Com base em todos esses testes, as agências governamentais autorizaram os testes iniciais em seres humanos. Os voluntários foram recrutados. Os resultados dos estudos pré-clínicos foram explicados a eles, que assinaram um termo de consentimento e entraram sorridentes no hospital.

Durante os últimos seis anos, os cientistas descobriram por que o TGN1412 não provoca a tempestade de citokinas em macacos ou roedores. Mas isso era impossível de prever antes do acidente. A verdade é que nunca é possível prever, com certeza absoluta, a reação de um ser humano a uma nova droga. É por isso que os voluntários são necessários. Para cada remédio que está nas farmácias existe um grupo que tomou a droga pela primeira vez.

Mas se é impossível prever, com centenas de novas drogas sendo testadas todos os anos, por que episódios como esses não ocorrem com mais frequência? A resposta é simples: eles ocorrem. Mas geralmente durante os testes em ratos, cães ou macacos. Sempre que essas reações extremas são detectadas em animais, o desenvolvimento da droga é suspenso e ela nunca chega a ser testada em humanos.

Para a maioria das novas drogas, o organismo de um rato, de um cão ou de um macaco é suficientemente parecido com o de um ser humano. O que permite aos cientistas detectar o problema antes de testar a nova droga em seres humanos. Deveríamos agradecer à evolução o fato de não sermos os únicos mamíferos a habitar o planeta.

Caso os testes em animais sejam abolidos, só restam duas alternativas: testar novas drogas diretamente em seres humanos ou abandonar o desenvolvimento de novos medicamentos.

Esse exemplo mostra quão irreal é a ideia de que esses testes possam ser feitos em computadores ou em animais menos “nobres”, como moscas ou vermes. Você aceitaria ser voluntário no primeiro teste clínico de uma droga que só tivesse sido testada em uma barata?

A verdade é que qualquer droga altera o funcionamento do organismo, e é natural que grande parte desses compostos apresente efeitos colaterais. E mesmo remédios aprovados e utilizados por todos nós apresentam riscos e efeitos colaterais (você já leu uma bula?). Quanto mais próxima do homem for a espécie animal usada nos experimentos, melhor será a chance de prever os efeitos de uma nova droga em seres humanos.

Por outro lado, quanto mais próxima de nós for a espécie utilizada nos estudos, maior será nossa ligação afetiva, e mais penosos serão os experimentos e o sofrimento por eles causados. É por isso que, apesar de necessários, esses experimentos devem ser feitos com moderação e respeito pelos animais. Mas não se iluda, dificilmente eles poderão ser abolidos.

Eu devo um agradecimento aos invasores do instituto de pesquisa que “resgataram” os beagles. Foi observando os seus dedos envolvendo os simpáticos cães que me lembrei desse evento de 2006.

26 de outubro de 2013
FERNANDO REINACH, Estadão

"NO SETOR EXTERNO, UM DESASTRE MADE IN BRAZIL"

 

A presidente Dilma Rousseff deve terminar o ano com mais um troféu econômico, o pior resultado das contas externas em mais de uma década — exportações estagnadas, importações em alta e um enorme buraco na conta corrente do balanço de pagamentos. Nos 12 meses terminados em setembro o déficit na conta corrente chegou a US$ 80,51 bilhões, equivalentes a 3,6% do produto interno bruto (PIB), informou nesta sexta-feira o Banco Central (BC). No relatório recém-divulgado foram mantidas as projeções para 2013: saldo comercial de US$ 2 bilhões, déficit em conta corrente de US$ 75 bilhões (3,35% do PIB) e investimento estrangeiro direto de US$ 60 bilhões. Alguma melhora será necessária, portanto, para se chegar ao fim de dezembro com o cenário estimado pelo BC. Um quadro mais positivo, neste e no próximo ano, dependerá principalmente de uma recuperação da balança comercial e nesse quesito o País continua muito mal.

A exportação rendeu neste ano US$ 192,59 bilhões até a terceira semana de outubro, 1,1% menos que no ano passado em igual período. A importação consumiu R$ 193,19 bilhões, 8,7% mais que um ano antes, segundo os dados oficiais. O saldo acumulado em quase dez meses, US$ 605 milhões, só foi possível graças ao resultado favorável obtido nas três primeiras semanas do mês, um superávit de US$ 1 bilhão. Mas esse resultado embute uma exportação meramente contábil de uma plataforma de petróleo no valor de US$ 1,9 bilhão. Outras plataformas foram contabilizadas nos meses anteriores, mas foram sempre vendas fictícias, vinculadas à concessão de benefícios fiscais.

Se esses números fossem eliminados, o quadro do comércio exterior brasileiro, já muito feio pelos números oficiais, seria bem menos favorável. Para acertar as contas seria também preciso, poderiam dizer os mais otimistas, eliminar as importações de combustíveis efetuadas em 2012 e registradas só neste ano graças a um arranjo especial da Petrobrás. É verdade, mas é indispensável lembrar uma diferença entre essas compras e as vendas de plataformas. Estas só ocorreram na contabilidade, mas as compras de combustíveis foram realizadas e seria necessário incluí-las nos cálculos em algum momento. Se tivessem entrado nas contas do ano passado, o superávit comercial teria ficado bem abaixo dos US$ 19,41 bilhões divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Se as projeções do BC estiverem corretas, o Brasil vai faturar neste ano US$ 241 bilhões com as vendas ao exterior. O gasto com produtos estrangeiros chegará a US$ 239 bilhões. O valor exportado será 0,6% menor que o do ano passado e 5,8% inferior ao de 2011. A importação terá custado cerca de 7% mais que em 2012 e 5,6% mais que dois anos antes. A deterioração é inegável e a causa mais importante é o enfraquecimento da indústria brasileira, por falta de investimentos, aumento de custos e dificuldade crescente para enfrentar uma disputa mais dura em mercados mais apertados. Isso vale para o mercado nacional.

As medidas protecionistas impostas pelo governo foram insuficientes para barrar o ingresso de produtos estrangeiros. Além do mais, nenhuma barreira tornaria os produtores brasileiros mais capazes de competir fora das fronteiras, mesmo em áreas antes consideradas campos de caça tranquilos, como o Mercosul e a maior parte da vizinhança. Também na região outros produtores têm conseguido ocupar espaços crescentes sem muita oposição brasileira.

Quando se aponta a piora do balanço de pagamentos — especialmente da balança comercial —, ministros costumam citar a acumulação de reservas para mostrar a segurança do setor externo. Mesmo com intervenções no mercado cambial, como reação às turbulências do meio do ano, o BC conseguiu, graças a uma estratégia bem desenhada, evitar a perda de moeda estrangeira e preservar mais de US$ 370 bilhões. Esse é, sem dúvida, um importante fator de segurança, mas de nenhum modo pode substituir a eficiência produtiva e os acordos internacionais favoráveis à expansão do comércio.

A política brasileira tem falhado nas duas frentes. A deficiência de investimentos, o desperdício de recursos, o erro na escolha de prioridades (na política educacional, por exemplo) têm dificultado ganhos gerais de produtividade. Se as concessões derem certo, a taxa de investimentos chegará a 22,5% do produto interno bruto até 2018, segundo estimativa do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Muitos países latino-americanos já estão acima desse padrão, enquanto a taxa brasileira continua oscilando entre 18% e 19%.

Como as condições de produção foram geralmente negligenciadas nos últimos dez anos, a começar pela infraestrutura, o potencial de crescimento diminuiu, como seria previsível. Hoje esse problema é assunto da pauta internacional, pouco importando os desmentidos e esperneios do governo brasileiro.
Na outra frente, a escolha das parcerias prioritárias, também se acumularam erros desastrosos.

A diplomacia comercial pôs no alto da agenda a aproximação com mercados pouco importantes, com exceção do chinês. Mas o comércio com a China virou uma relação semicolonial, com o Brasil praticamente limitado a vender commodities, em geral de pouca ou nenhuma elaboração, e a importar manufaturados.

Os imperialistas, desprezados pela diplomacia de passeata dos governos petistas, continuam como compradores relevantes de manufaturados — e poderiam comprar muito mais se tivessem sido assinados acordos de livre-comércio. Mas nem todos criticam a estratégia comercial brasileira e o desprezo petista aos grandes mercados. No caso dos chineses e outros exportadores realistas e dinâmicos, a fantasia terceiro-mundista vivida em Brasília nos últimos dez anos elimina um possível competidor de peso.

26 de outubro de 2013
ROLF KUNTZ, Estadão

O BRASIL ESTÁ ENTREGUE A UM BANDO DE APROVEITADORES, ENQUANTO É OBSERVADO POR OUTRO BANDO DE COVARDES

 

Somos oposição. Real. Exercemos o direito de nos opor ao que julgamos deletério ou imoral. Não aceitamos números falsos. Repudiamos promessas não cumpridas, expostas a todos como um cadáver putrefato ─ como é o caso da Norte- Sul,d o Trem-Bala, da Trasnordestina, da transposição do São Francisco, das 9.000 creches e dos 800 aeroportos.

Sequer rotulamos estas obras como mal feitas. Antes, precisam ser feitas.
Somos contra a substituição do mérito pela ajuda ao companheiro ignorante, roubando de todos o direito de exercer o que o estudo e esforço sempre os deram.

Somos oposição às tentativas de comprar juízes e ministros do Supremo com se o Judiciário fosse a feira livre dos sem vergonhas do Poder Legislativo. Sim, não têm vergonha de nada.
Queremos ser o que sempre fomos: a parte decente do Brasil. A que não se corrompeu, se vendeu ou idolatrou fantoches e ídolos de pés de barro. Já é muito.

Não temos representantes. Não nos vemos em nenhuma alternativa de poder, o que nos leva, por exclusão a aceitar qualquer uma que mantenha a democracia e enxote os micilianos lulopetistas do poder.

Estamos a um ano das eleições.
Tempo que a oposição tem para formar um discurso,  bandeiras e para que nos ouçam. E é o mesmo tempo que eles têm para manter pratos equilibrando no ar. Eles sabem que em 2015 o desastre estará completo. Mas o objetivo terá sido alcançado e as esperanças de bolivarianizar, definitivamente, o país estarão renovadas.

É um jogo de perde-perde. Sabemos (não somos inocentes) que vamos perder no final. Que estaremos fazendo o trabalho que, por incompetência, medo ou covardia, as oposições nunca fizeram.

As palavras críticas nas bocas oposicionistas são ocas. Vazias como foram os anos de dócil conivência com o poder. Os textos de blogueiros e jornalistas que leio são mais aprofundados e oposicionistas que discursos de qualquer um deles.
Não me lembro de UM! Só um!

E lembro de centenas de textos, na internet, expressando até de modo repetitivo o que as oposições se recusam a ler e ouvir.
Um ano. Pouco, muito pouco tempo.
O PT sabe se equilibrar na corda bamba. É mestre no show de Monga, a mulher-gorila que usa o truque dos espelhos.

Um ano para as oposições é a eternidade, pelo ritmo que sempre se portou. Para a seita, um ano é um fim de semana, como comprovam a ânsia de continuidade ao assalto aos cofres e perpetuação da imoralidade já demonstradas.

A oposição não demonstra ter bandeiras. Mas está com a mortalha pronta. Sabe como nunca ser dividida, brigando por um naco do bolo que sequer foi ao forno. Lutando pela primazia de ser o perdedor.

Enquanto isso, vemos a campanha de Dilma já nas ruas, usando dinheiro público, benesses a apaniguados, butim da base alugada, ajeitamentos dos piratas na nau da insensatez, escárnio com a lei eleitoral e repetição das fantasias alucinadas que a alguém com dois neurônios, provocam risos. E asco.

Estamos absolutamente sós. Somos a oposição.
O Brasil está entregue a um bando de aproveitadores e é observado por um de covardes.
Um ano de expectativa de que surja uma bandeira de luta, entre tantas que oferecemos.
Sinto que não haverá.

E um ano de repetição de um programa/discurso que se repete há 11 anos.
Sei que será assim.
Sou pessimista ?

26 de outubro de 2013
REYNALDO ROCHA

MAIS MÉDICOS: MENOS AGENTES DE SAÚDE




O PARLAMENTO E AS GALERIAS

           
          Artigos - Movimento Revolucionário
Raras, raríssimas vezes se alguma houve, vi "o povo", ou a dita "sociedade civil", ou ainda a "cidadania ativa" ocupando as galerias dos parlamentos. 

No início dos anos 60, ainda adolescente, estudante secundarista, eu frequentava quase diariamente a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, que então funcionava no velho casarão da Rua Duque de Caxias. Família de sete filhos, em minha casa só se conhecia o silêncio das madrugadas. Então, às tardes, após as aulas matinais no Colégio Júlio de Castilhos, eu me refugiava na Biblioteca Pública de onde, completados os estudos do dia, cruzava a praça na direção da Assembléia onde meu pai viria a ser deputado alguns anos mais tarde. Fazia-o por perceber, ali, um centro de poder político onde se tratavam, com conhecimento, em bom português, as grandes teses e os grandes temas de interesse do Estado. Volta e meia, nessas ocasiões, da tribuna e do microfone de apartes, serviam-se às galerias brilhantes debates, travados entre homens públicos que eram, também, respeitáveis intelectuais.

Desde então, vi as galerias dos parlamentos como um espaço cívico. Não é por outra razão que nos plenários, em todos os plenários, existem dois espaços, o exclusivo dos parlamentares e o destinado ao público. Essa concepção se alinha com a ideia de que o plenário é um lugar de encontro entre os representantes e a comunidade. Um lugar onde esta presencia a conduta daqueles. Em especial, suas opiniões e votos. Em condições normais de temperatura e pressão, os parlamentares falam e o distinto público acompanha.

De uns anos para cá, no entanto, com não pequena frequência, instala-se o tumulto e o presidente dos trabalhos se obriga às advertências de praxe. "Silêncio! Silêncio! Há um orador na tribuna. Se não houver silêncio suspenderei a sessão e determinarei à segurança que desocupe as galerias!". Essa advertência é sempre proferida, jamais atendida e nunca cumprida. Mudou o comportamento das galerias. Por bom tempo, como coordenador de bancada na Assembléia Legislativa, pude frequentar os dois ambientes e observar o que acontece em ambos. Mais modernamente ainda, a própria tevê traz as sessões legislativas para dentro das nossas casas, ao conforto das poltronas. Nessas observações aprendi a respeitar, independentemente de alinhamentos políticos e ideológicos pessoais, os parlamentares que não se deixam intimidar pela pressão das galerias. Principalmente quando dizem a elas o que tantas e tantas vezes, em função de seus pleitos e de sua conduta, merecem ouvir.

Constatei, dessas observações, o quanto é comum confundir-se o público das galerias com Sua Excelência o povo, soberano dos regimes democráticos. São dois equívocos fatais, o das galerias que se consideram como "o povo" no exercício do munus que lhes é inerente nas sociedades políticas e o equívoco dos parlamentares que ouvem as galerias como quem auscultasse o povo. Errado! Raras, raríssimas vezes se alguma houve, vi "o povo", ou a dita "sociedade civil", ou ainda a "cidadania ativa" ocupando as galerias dos parlamentos. E essa é a constatação que desejo trazer à reflexão dos leitores.

As pessoas que volta e meia lotam os espaços públicos dos plenários são, quase sempre, membros de grupos de interesse. São pessoas que comparecem a determinada sessão com o objetivo de pressionar pela aprovação ou rejeição de alguma proposta de seu específico interesse. E o grupo que se congrega em torno de algum interesse específico dificilmente não está, ao mesmo tempo, aumentando a conta a ser paga pelo povo. Não, o povo não está nas galerias. Está trabalhando e vai pagar a conta.

Quod erat demonstrandum, como se dizia, tempos idos, nas aulas de geometria. Como queríamos demonstrar. A voz das galerias não fala pelo povo. Essa é e continuará sendo uma tarefa dos bons parlamentares. Estes, poucos que sejam, sabem que a política deve promover o bem comum e nesse sentido sempre deliberam.


26 de outubro de 2013
Percival Puggina

ESPECIALISTAS ANALISAM A ARTICULAÇÃO DO CRIME ORGANIZADO NO PAÍS

 

O Ministério Público do Estado de São Paulo descobriu recentemente que, desde 2011, o Primeiro Comando da Capital (PCC) planejava atacar autoridades, incluindo o governador paulista Geraldo Alckmin. Além disso, o MP-SP teve acesso a documentos com as transcrições dos áudios que comprovam o envolvimento de policiais civis e militares com a facção criminosa.

Leandro Piquet Especialistas analisam a articulação do crime organizado no país
Leandro Piquet

O cientista político e coordenador do Programa de Pesquisa em Segurança e Criminalidade do Núcleo de Pesquisas em Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Leandro Piquet, observa que os integrantes do PCC contam com uma estrutura de rede, se articulando dentro e fora dos presídios. “Não observamos uma hierarquia orientando as atividades. Na verdade, os integrantes do PCC se reúnem para realizar ações, como roubo a bancos e cargas, com o mesmo modus operandi”, analisa.

Piquet comenta que, desde 2006, quando houve a rebelião no antigo presídio de Carandiru, homônimo ao bairro na zona norte de São Paulo, as forças policiais convivem com ondas de ataques violentos a postos e integrantes das corporações. O objetivo dessas ações, segundo ele, é pressionar as polícias, o sistema penitenciário e a justiça por meio de cooptação e intimidação, situações que implicam no funcionamento das instituições.

“Como podem investigar e julgar crimes, quando cooptados pelo crime? A intimidação também gera dinâmicas muito negativas. A polícia, por exemplo, reage de forma muito violenta ou impedida de entrar nas áreas em que o crime organizado é articulado, de tal forma que limita as ações de policiamento e o atendimento a chamadas. Nas prisões, o crime organizado determina regras e prejudica presos não articulados com o grupo”, analisa.

Especialista do Instituto Millenium, Piquet cita o caso da cidade do Rio de Janeiro como um exemplo de enfrentamento a organizações criminosas. “Antes da instalação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), algumas áreas não contavam com atendimento policial. A presença do crime praticamente levava à suspensão do serviço de polícia, não só de policiamento, como também de investigação”, afirma.

Causas

Juarez Dietrich Especialistas analisam a articulação do crime organizado no país
Juarez Dietrich

O cientista político comenta não ser possível estabelecer uma causa comum ao crime organizado nas diversas cidades do país. “No Rio, nas décadas de 1980 e 1990, houve um abandono do policiamento em favelas e uma mais tolerância e convivência com o jogo do bicho. Essa estrutura de corrupção foi devastadora. Já em São Paulo, o dinamismo logístico do estado favoreceu as atividades ilícitas”, pondera.

Para o advogado e especialista do Imil Juarez Dietrich a situação do crime organizado não é resultado apenas de falhas oficiais e do vazio de políticas públicas nas áreas mais relevantes para a sociedade, como segurança, saúde e educação. Ele considera que há uma articulação maior do que a população tem conhecimento, com objetivos e propósitos bem definidos. “As drogas, o crime organizado e muitos outros ‘movimentos’ se converteram em ferramentas, em políticas”, opina Dietrich.

Soluções

Apesar dos casos de articulação de grupos para práticas criminosas, Piquet considera que o Brasil está em um grau de nível um, quando comparado a outros países. “Estamos muito no início. É preciso dar uma resposta a essa atuação criminosa, com o mínimo de inteligência e capacidade de levar esses infratores a tribunal”, diz.

Um dos caminhos, segundo o cientista político, é tratar homicídio de juízes, policiais e promotores de forma diferenciada, com um agravante maior sobre as penas dos criminosos, contribuindo para inibir a ocorrência desses casos. Além disso, Piquet destaca ser necessário atuar no operacional da polícia.
“Não há integração na articulação das polícias, comprometendo as investigações e os inquéritos”, constata. “É preciso contar ainda com uma corregedoria proativa, pois crime organizado também se combate com supervisão e correição na polícia”, completa.

Dietrich acrescenta que é preciso garantir a liberdade de imprensa. “No curto prazo, além daqueles com papéis relevantes nos poderes do Estado agirem com firmeza, é necessário que os jornalistas sejam livres para revelar a origem e os propósitos destes movimentos”, conclui.

26 de outubro de 2013
IMIL

EM BADERNEIRO NÃO SE BATE NEM COM FLOR...

Vamos voltar no tempo. Não muito longe. Só cinco meses atrás. Voltemos às festas juninas, digo, à gloriosa Revolução de Junho de 2013. Quando dona Dilma dizia que depredar ônibus, carros e bancos eram manifestações pacíficas próprias da democracia.

“O Brasil hoje acordou mais forte. A grandeza das manifestações de ontem comprovam (o plural é dela) a energia da nossa democracia, a força da voz das ruas e o civismo da nossa população. É bom ver tantos jovens e adultos, o neto, o pais, o avô juntos com a bandeira do Brasil cantando o hino nacional, dizendo com orgulho ‘eu sou brasileiro’ e defendendo um país melhor. O Brasil tem orgulho deles”, disse então a presidente.

Temos então que o Brasil se orgulha de seus baderneiros. Fernando Henrique Cardoso, que de seu glorioso climatério assistia de camarote os distúrbios de rua, perdeu uma ocasião única de ficar calado. Desqualificar os protestos dos jovens em São Paulo e outras capitais "como se fossem ação de baderneiros" constitui, na avaliação do ex-presidente, "um grave erro". Para ele, "dizer que essas manifestações são violentas é parcial e não resolve. É melhor entendê-las, perceber que essas manifestações decorrem da carestia, da má qualidade dos serviços públicos, das injustiças, da corrupção".

Enquanto dizia isso, os “jovens” arrombavam os portões do palácio Bandeirantes, onde governa seu companheiro de partido, Geraldo Alckmin. Se estava faltando o governador vir a público para dizer que o arrombamento da porta do palácio Bandeirantes era uma manifestação legítima e própria da democracia – pensei com meus botões.

Não faltou. Alckmin, que uma semana antes classificara os manifestantes como "vândalos" e "baderneiros", logo acudiu com panos quentes: "Queria fazer um elogio às lideranças do movimento e também à segurança pública e à Polícia Militar”. Para o governador, a primeira reunião com os utópicos desvairados do Movimento Passe Livre (MPL) foi positiva. "Foi uma reunião muito madura, muito proveitosa."

Assustados com as manifestações nas ruas, os políticos, sempre à procura do que rende mais votos, apressaram-se a tomar a defesa dos baderneiros. Fernando Haddad, incontinenti, congelou o preço das passagens. A conta da Revolução de Junho já chegou: metade dos contribuintes paulistanos terá de pagar aumento consecutivo do IPTU até 2018.

Haddad fixou tetos de aumento de 20% para imóveis residenciais e de 35% para os comerciais em 2014, e de 10% e 15%, respectivamente, a partir de 2015. Com isso, 1,5 milhão de contribuintes, ou 49,7% dos 3,1 milhões, pagará resíduos do reajuste por mais de quatro anos. De algum lugar precisa sair o subsídio às reivindicações dos “jovens”. Estourou no bolso da classe média.

Apenas seis meses depois de declarar que “a grandeza das manifestações comprovam (o plural é dela) a energia da nossa democracia, a força da voz das ruas e o civismo da nossa população”, vários meses depois das contínuas depredações de imóveis, que custaram mais de seis milhões de reais aos cofres públicos, dona Dilma tem outra concepção dos “jovens e adultos”.

Neste sábado, a presidente classificou como "barbárie" os atos de vandalismo ocorridos na noite de ontem em São Paulo e cobrou punição dos responsáveis pelo quebra-quebra realizado por mascarados na região central da cidade, aliás os mesmos que depredavam em junho passado.

"São barbáries antidemocráticas. A violência cassa o direito de quem quer se manifestar livremente. Violência deve ser coibida", disse a presidente por meio do Twitter. "As forças de segurança têm a obrigação de assegurar que as manifestações ocorram de forma livre e pacifica", acrescentou.

Em junho passado, a barbárie era das forças de segurança. Hoje, mudou o sinal. Em vez de louvar a “grandeza das manifestações” de “jovens e adultos”, ela cobrou que a Justiça puna os abusos, nos termos da lei. Os atos de vandalismo que geraram destruição no centro da cidade teve início durante o Ato do Movimento Passe Livre (MPL) – o mesmo movimento que gerou os vandalismos de junho – em defesa do transporte gratuito.

"Agredir e depredar não fazem parte da liberdade de manifestação. Pelo contrário", acrescentou a presidente. Em junho, agredir e depredar comprovavam “a energia da nossa democracia, a força da voz das ruas e o civismo da nossa população”.

A manifestação de ontem, segundo o Estadão, terminou com 78 pessoas detidas. Claro que não ficarão nem duas ou três horas em cana. As cenas de destruição se concentraram no Terminal Parque Dom Pedro II quando manifestantes quebraram dez ônibus e a bilheteria.

Na ação também foram depredados 17 caixas eletrônicos e orelhões. No meio do quebra-quebra, o coronel da PM Reynaldo Rossi foi agredido com uma placa de ferro e após ser espancado por alguns mascarados deu entrada no Hospital das Clinicas com fratura na escápula e suspeita de traumatismo craniano.

Espanta ver que a força pública foi impotente para impedir a quebra de ônibus, bancos, caixas eletrônicos e orelhões. Não conseguiu sequer impedir o espancamento de um de seus comandantes. Os policiais, pelo visto, têm agido como agem ante os usuários do crack: apenas assistem o crime sendo praticado sob seus olhos. As declarações irresponsáveis de Dilma, Fernando Henrique e Alckmin constituíram poderoso combustível para a fogueira.

Um dogma não pode ser quebrado: em baderneiros não se bate nem com flor. Quanto a policiais, podem ser espancados à vontade.


26 de outubro de 2013
janer cristaldo

O BÔNUS E O ÔNUS... ASSIM SE FAZ "POLÍTICA" NO BRASIL DO PT

Dinheiro da Bolsa Família é maior que repasse federal em 8% das prefeituras brasileiras. Bônus do programa fica para Dilma, ônus fica para prefeitos
Centenas de pessoas se aglomeraram na porta da sede maceioense do Bolsa Família (Foto: Henrique Pereira/ G1)
 
Em 457 cidades brasileiras o dinheiro repassado para o Bolsa Família já supera a receita obtida com o Fundo de Participação dos Municípios, principal fonte de recursos de pequenas prefeituras. A maioria dos casos (435) está nas regiões Norte e Nordeste do país. O dinheiro do programa de transferência de renda cai diretamente na conta das famílias beneficiadas, enquanto os recursos do FPM, composto pela receita de impostos como o IPI e o Imposto de Renda, entra no caixa da prefeitura e é usado basicamente para o custeio, com pagamento de funcionários.
 
Para o presidente da Confederação Nacional de Municípios, Paulo Ziulkoski, o programa de transferência de renda impõe responsabilidades às prefeituras sem prever o custeio completo dessas ações. Para receber o Bolsa Família, o beneficiário precisa cumprir condições, como deixar em dia a vacinação dos filhos e manter a frequência escolar de crianças e adolescentes em ao menos 85%. As prefeituras atuam principalmente na fiscalização desses requisitos, no cadastramento e no acompanhamento das famílias.
 
"O município é chamado para executar tudo. Gasta mais em pessoal para atender todo o cadastramento, cruzar informações de evasão escolar, cobertura de vacinação. Isso é carro, pessoal, diárias, papel e ninguém calcula isso", afirma Ziulkoski. Neste ano, o governo federal repassou R$ 250 milhões às prefeituras para apoiar a gestão do programa. Ziulkoski afirma que o Bolsa Família amenizou a dependência da população mais pobre das prefeituras no interior, mas diz que a injeção de recursos do benefício e o estímulo à economia local não incrementaram a arrecadação dos municípios. A grande informalidade no comércio em localidades pequenas é uma das causas. Ele afirma que a maioria das cidades têm no Fundo de Participação quase metade de suas fontes de receitas.
 
A professora de economia da Universidade Federal de Pernambuco Tatiane Menezes afirma que o aumento da renda gerado pelos repasses do Bolsa Família gera maior demanda por serviços públicos, mas isso ocorre sem que os municípios tenham melhorado sua saúde financeira. "Há ganho de bem-estar para a população. Mas acaba trazendo mais gastos para a prefeitura, que tem que ver médico, iluminação, segurança. É bom para a cidade, mas não tão bom para a prefeitura, que não tem muitas fontes de arrecadação", diz.
 
(Informações Folha de São Paulo)
 
26 de outubro de 2013
in coroneLeaks

SÃO PAULO SITIADA: BLACK BLOC ESPANCA COMANDANTE DA PM CHUCHU


Manifestantes agridem e roubam arma do coronel Reynaldo Rossi durante confronto no Terminal D. Pedro, no Centro (Foto: Iacio Teixeira/Coperphoto/Estadão Conteúdo)

 
O coronel da Polícia Militar de São Paulo Reynaldo Simões Rossi, comandante da região central da capital, foi espancado na noite de ontem por um grupo de cerca de dez manifestantes mascarados, adeptos à tática "black bloc". O policial, integrante da cúpula da PM, teve a clavícula quebrada e sofreu cortes no rosto e na cabeça. Ele foi levado para o Hospital das Clínicas, onde permanecia em observação até a conclusão desta edição. Até o início da madrugada, a polícia tentava identificar os agressores.
 
A agressão ocorreu na entrada terminal de ônibus Parque D. Pedro, o maior da capital, durante um protesto organizado pelo MPL (Movimento Passe Livre) que reuniu cerca de 3.000 pessoas na região central, segundo a PM. O comandante foi atacado logo depois de parte dos manifestantes iniciar a depredação do terminal. Caixas eletrônicos e catracas que dão acesso ao local foram quebrados. Um ônibus foi parcialmente incendiado.
 
Em meio ao tumulto, um grupo de mascarados cercou o comandante e passou a agredi-lo com socos e pontapés. Ele foi derrubado, mas conseguiu se levantar. Neste momento, um dos mascarados golpeou o policial na cabeça usando uma placa de ferro. O coronel foi socorrido por um policial disfarçado, que afastou os agressores com uma arma em punho.
 
Amparado por colegas, ele seguiu andando até um carro da PM, que o levou para o Hospital Clínicas. No banco de trás, fez um apelo aos gritos a um subordinado que ficou no local. "Segura a tropa, não deixa a tropa perder a cabeça". A arma e o rádio de comunicação dele desapareceram.
 
INTERLOCUTOR
 
Responsável pelo policiamento do centro, ele acompanhava a manifestação a alguns metros de distância. Ontem, a operação estava a cargo do tenente-coronel Wagner Rodrigues. Rossi é um oficial conhecido na corporação como "operacional". Gosta de comandar seus homens na rua e não apenas de sua sala, comportamento incomum entre oficiais de sua patente. Parte de sua carreira foi construída em unidades de elite da polícia, como o Choque e COE (operações especiais). É tido como bom negociador em situações de reféns. Nos protestos deste ano, muitas vezes sentou-se no chão para dialogar com o organizadores de protestos.
 
(Folha de São Paulo)
 
26 de outubro de 2013
in coroneLeaks 

PETISTA ACUSA DILMA DE PILHAR O PRÉ-SAL


 
 
"Dilma privatizou rodovias, portos, aeroportos, o pré-sal e diz que não foi privatização. Não foi? Chamaram a Shell, a Total e as estatais chinesas para morder o nosso petróleo. É um processo de pilhagem".
 
Declaração de Serge Goulart, candidato à presidência do PT, o segundo da direita para a esquerda. Leia aqui a notícia sobre o barraco no debate do PT.
 
26 de outubro de 2013
in coroneLeaks

MANÉ GARRINCHA, A ALEGRIA DO POVO!

"A vida torta de Mané Garrincha"




Suas pernas formavam um arco. A esquerda, onde a deformação era mais notável, tinha 6 centímetros mais que a outra. Já era um milagre que andasse. Inadmissível que jogasse futebol. É inacreditável que logo no segundo treino, torto e desajeitado nos seus dezenove anos, desse meia dúzia de dribles “num tal de Nílton Santos”: para ele, entre a “enciclopédia do futebol”, pelo seu jogo prodigioso, e Pincel e Suingue, seus companheiros no Esporte Clube Pau Grande, a diferença era nenhuma. Essa é a história no seu começo.
 
 
A lenda nasceu junto. Cresceu na Suécia em 1959 e tornou-se infinita no Chile em 1962. Esfriou na Inglaterra em 1966. Desapareceu na poeira de campos anônimos na Colômbia, Uruguai, Argentina e Itália. E reapareceu angustiadamente no Maracanã, duas semanas atrás, para 50.000 pessoas que enfrentaram a chuva e a noite para ver um jogo que normalmente seria ouvido no radinho de pilha. Suas pernas continuavam formando um arco. Outra vez, mas por outros motivos, era um milagre que jogasse futebol. Torto e desajeitado nos seus 31 anos, Mané Garrincha ganhou palmas de um povo ávido em reencontrar sua velha alegria. Essa é a lenda no seu crepúsculo.
 
Entre a história e a lenda, entre o Garrincha de dezenove anos do Botafogo e o de 38 do Olaria, acentuou-se dramaticamente a linha que separa a realidade da ficção. É a mesma linha que divide quase vinte anos de glórias e humilhações, de baixezas e desprendimento, de heroísmos e ingenuidade. A mesma que fez com que Nílton Santos, um dia, fosse outro jogador que não Pincel, ou Suingue. É a linha que Mané, com seus dribles impossíveis e sua imaginação de criança, jamais respeitou, porque sequer suspeita de sua existência.
 
A sentença – O povo que correu ao Maracanã sabe, mas não quer saber, que perdeu para sempre sua alegria. Garrincha, ao longo dos anos, perdeu muito mais que o seu gênio para criar essa alegria em campo. Não está apenas mais gordo, mais lento e mais velho, mas também um pouco mais triste. Nenhum jogador brasileiro, salvo Pelé, mereceu mais o paraíso do que ele. Nenhum craque de sua categoria, especialmente Pelé, chegou tão perto do inferno. Há muitos anos – nove, no mínimo – não é mais o mesmo. Em 1962, o ano da Copa sem Pelé, em que Garrincha fez o seu papel e o do gênio ausente, um exame médico aparentemente de rotina, para apurar “umas dores muito fortes no joelho”, chegou a um laudo inquietante.
 
“Eu levei Mané ao ortopedista Mário Jorge”, conta o jornalista Sandro Moreira, um dos responsáveis pela divulgação da quantidade de histórias engraçadas sobre o jogador. A sentença, no entanto, veio depois de três horas e não era cômica: “Se não parar de jogar durante três meses, estará inutilizado para o futebol.” Parecia exagerado, principalmente para o Botafogo, que precisava de Mané numa excursão, sob pena de perder 50% dos lucros. A operação foi adiada. O fim da carreira, automaticamente, antecipado.
A decadência – Mané, o otimista, concordava com seu time. Ele já era campeão carioca
pelo Botafogo duas vezes (em 1957 e 1961), ganhara o Torneio Rio-São Paulo em 1962, além das duas copas. Era a época em que o Botafogo considerava “normal, da personalidade dele”, que Garrincha fosse a Pau Grande jogar pelada com amigos. Quando o joelho começou a doer, depois de 1963, o Botafogo reclamou pelos longos períodos que Garrincha passava em tratamento. Foi operado meniscos naquele ano e, como o médico era de fora, o clube não quis pagar.
 
No ano seguinte, com os jogadores “come e dorme” (os que moram no clube e treinam sem grandes esperanças de chegar a algum lugar), perdera o posto de titular e era multado em 50% do salário por se recusar a excursionar pelo interior (“Se não sou titular no Maracanã, não sou titular em nenhum outro lugar”, defendia-se ele). Já era chamado de “moleque” no próprio boletim do clube, numa nota assinada pelo diretor de propaganda. Da lenda, então, restava só a lembrança.
 
Garrincha já saíra das gírias esportivas para as manchetes dos jornais de escândalo, encantados com a notícia de que ele deixara a mulher e oito filhos em Pau Grande para viver com a cantora Elza Soares (com quem casou em 1966, na embaixada da Bolívia), e as notícias sobre suas dívidas cresciam como só os rumores sabem crescer. Não bastava, assim, que Garrincha não tivesse nada. Era necessário que ele, quase derrotado, ainda ficasse devendo.
 
Em família – A triste sorte de Garrincha, nessa época, não chegou a surpreender ninguém. João Saldanha, técnico do Botafogo em 1957, ano em que Garrincha ganhou seu primeiro campeonato pelo time, lembra o episódio do “tal de Nílton Santos” como sintoma muito claro de sua alienação e do que estava para acontecer. Garrincha, diz ele, não é um poeta: “É um primitivo, um matuto, meio índio, meio selvagem, criado num submundo de miséria e ignorância, um lugar atrasado onde nem o trem parava”.
 
Esse fim de mundo, Pau Grande, não tem cinema, nem cartório, nem mais nada. Quase tudo – terrenos, empregos, pessoas – pertence à fábrica América Fabril, uma tecelagem que hoje, mal se recuperando de uma concordata, não consegue reempregar todos os seus antigos funcionários.
 
Mané Garrincha nasceu ali, quarto filho de uma família numerosa e marcada pela tragédia. O pai, guarda, morreu de cirrose. Uma irmã, Teresa, morreu aos catorze anos de barriga d’água. Outra, ao cair de um caminhão num dia de festa, e o filho desta, agora com dezesseis anos, perdeu uma perna quando caiu de um trem.
 
Garrincha estudou até o segundo ano primário e, como todo mundo no lugar, foi trabalhar na fábrica. Carregava carrinhos de pano enquanto sua namorada, Noir (Noir, na certidão de nascimento, e Nair, na de casamento: o escrivão corrigiu o que lhe pareceu grafia errada), já era qualificada como tecelã. Ela lhe dava cigarros, frutas, amendoim. Ele deu o troco que podia dar e os dois se casaram em 1953 (ele com dezenove, ela com dezesseis anos) já com a primeira filha encomendada. Além de Teresa, hoje com dezoito anos, viriam outras sete – para encher a casa de três quartos, sala, cozinha e banheiro, presente da fábrica quando Garrincha ganhou a primeira Copa.
 
Teresa já trabalha como fiandeira, mas está de licença desde que perdeu no trabalho o dedo anular direito, há dois anos, e sofreu um trauma nervoso. Garrincha está muito presente na casa de dona Noir, agora com 36 anos, quadris largos, cabelos curtos e esticados, fala fluente de quem já se acostumou a responder perguntas, acendeu velas no dia da volta do ex-marido contra o Flamengo. “Manuel”, diz ela, “era um primor de marido, uma beleza de casa, eu tinha até empregada.”
 
Depois, porém, “viraram a cabeça dele” e desde então sua vida entrou em compasso de espera. Diz que Garrincha lhe deve 20 mil cruzeiros de pensões, que não teria pago desde que ele foi para a Europa; tem esperança de recebê-los agora, descontados dos salários de Garrincha no Olaria, 1.000 cruzeiros por mês. Sustenta-se e às filhas com o auxílio-doença de Teresa, 250 cruzeiros de pensão do governo da Guanabara (votada no governo Negrão de Lima) e 200 que o Botafogo dá, numa regularidade duvidosa, como homenagem à família do maior jogador que teve em toda a sua história.
 
Saco sem fundo – Nem sempre a vida foi tão dura para dona Noir e suas filhas. Garrincha, como tantos personagens famosos e folclóricos, literalmente nadava em dinheiro em 1958, quando veio da Suécia campeão do mundo. Bebeu para valer (cachaça e batida de limão) em Pau Grande, jogou pelada com Suingue e Pincel e entrou no armazém de seu Joaquim com uma sacola de dinheiro, pagando em dólar todas as contas em atraso dos moradores de Pau Grande. Mais tarde, ao procurar um banco, levava a mala de lona que ganhara da companhia aérea e de dentro dela tirou pacotes de dinheiro amarrados com barbante e notas remendadas com esparadrapo.
 
Havia cheques de mais de um ano idade e Garrincha contou que foram encontrados entre os brinquedos de suas filhas. Era um louco, deliciosamente irresponsável. Quando perdeu a forma passou a ser apenas irresponsável. As histórias sobre o que Garrincha deixou que lhe roubassem formam o saco sem fundo de sua infeliz vida financeira. Não parecia preocupar-se com isso, na época. Tinha amigos, contava com eles. Em 1959, por exemplo, o Botafogo não queria pagar-lhe 80.000 cruzeiros velhos por mês porque um dos diretores do time, engenheiro, dizia que nem ele ganhava tanto, embora também não fosse um Garrincha na sua profissão. O Botafogo pagou 78.000 cruzeiros. Os dois restantes saíram dos bolsos do técnico Saldanha e de Renato Estelita, responsável pela política de profissionalismo que manteve no clube jogadores como Garrincha, Nílton Santos, Didi e Amarildo.
 
Nas vésperas da Copa de 1962, dirigentes do Botafogo apressaram a renovação de seu contrato, antes que ele se valorizasse. Deram a Garrincha 120.000 cruzeiros velhos de ordenados, 3 milhões em luvas e um terreno sem valor em Saquarema. Radiante, ele chegou a agradecer ao clube pelo grande negócio.
“Gente boa” – Em 1972, porém, já não há grandes negócios para Garrincha. Ele parece não entender: “Hoje em dia é assim, o sujeito só pensa em ganhar dinheiro. Até esses meninos que estão começando já têm um pai para orientar, imagine”. Seu nome não perdeu a magia. Mas ele recusa qualquer outro tipo de negócio – restaurante, posto de gasolina, qualquer coisa – porque “não tenho pensamento nem queda para isso”. Parece encurralado entre o campo do Olaria, onde treina de manhã, e o grande apartamento alugado mobiliado (espelhos, candelabros, móveis velhos) em Copacabana, diante da praia, por 5.000 cruzeiros mensais. De lá só sai praticamente para ir ao clube (não gosta de praia) e de tarde e de noite vê tudo na televisão, “menos anúncio”.
 
O apartamento, que ele detesta, é a herança de seu último desastre financeiro: a perda de 200.000 cruzeiros, metade do preço de uma casa que estava comprando com Elza e que foram perdidos pela falta de pagamento do restante, na época em que viajaram para a Itália.
 
De resto, nem gosta mais de beber, como antigamente: “Para que? Já bebi tudo que podia, só não bebi veneno”. Reclama que quase não é visitado. Quando aparece alguém, o sorriso e a alegria de Garrincha abrem-se em abraços e tapinhas nas costas: “Oi, gente boa, gente boa…”
 
“Gente boa”, do melhor ao péssimo, foi tudo o que Garrincha viu na vida, dentro e fora do campo. “Gente boa” já eram os times que no começo da década de 50 nem queriam vê-lo treinar. “Gente boa” também deviam ser as moças do basquete do Vasco da Gama que riam muito da sua pobreza, com aquelas camisas de algodão barato. “Gente boa”, enfim, foram todos que o ajudaram, bajularam e exploraram, e todos os que hoje em dia sumiram da sua casa. “Os meus amigos de futebol têm a sua vida, são livres, sabe como é, né”, diz o craque, sem pronunciar jamais uma frase de condenação a quem quer que seja. Ao Botafogo, por exemplo, de onde saiu depois de treze anos, ele gostaria de voltar, “porque o pessoal daquele tempo já morreu todo”. Quando vivo, em 1966, o “pessoal todo” vendeu Garrincha ao Corinthians sem sequer se dar ao trabalho de avisá-lo.
 
Foi o começo de uma peregrinação que ainda não terminou. Saiu do Corinthians no mesmo ano, esteve na humilde Portuguesa do Rio, excursionou na Bolívia. Jogou no Bangu, andou pelos campos do interior e em Goiás seu nome era o chamariz, junto com o do craque local Goiano. Treinou no Fluminense e no Vasco. Em 1968, na Colômbia, fez um jogo ruim pelo Deportivo Barraquilla (deveria ganhar 600 dólares por partida), levou uma vaia e voltou sem jogar uma segunda vez. Não teve sorte nos treinos do Nacional, em Montevidéu, nem nos do Boca Juniors, de Buenos Aires. Tentou, sem sucesso, jogar no Flamengo.
 
Em abril de 1969, finalmente, a andança sem frutos sofreu uma interrupção brutal quando seu carro bateu num caminhão na rodovia Presidente Dutra e sua sogra, Rosália Maria Gomes, morreu. Foi condenado a dois anos de prisão, com direito a “sursis”, por homicídio culposo, e absolvido em 1971. Elza conta que a morte de sua mãe foi a pior fase na vida de Garrincha. O Brasil, na época, parecia definitivamente fechado para ele.
 
Estrangeiro – Mané Garrincha, o “passarinho” desligado, o homem bom e sem ressentimentos, devia mesmo estar sendo vítima do destino. Ele se lembrou de que fora do Brasil deveria haver muito mais “gente boa”. Em 1963, por exemplo, os dois times mais famosos da Itália, ambos de Milão, a Internazionale e o Milan, disputavam o ponta-direita brasileiro já considerado legendário. Chegaram a oferecer meio bilhão de liras (montante inédito até então na Itália) pelo seu passe, mas o Botafogo queria muito mais e os entendimentos foram suspensos. Em princípios de 1970, lembrado disso e da carreira feliz de brasileiros como Angelo Sormani, campeão italiano, Amarildo e Mazola, entre outros, Garrincha foi viver na Itália. Era um ídolo, mas infelizmente chegara tarde demais: os times estavam proibidos de comprar jogadores estrangeiros desde 1965, a menos que fossem descendentes de italianos.
 
Manuel Francisco dos Santos conformou-se em ser companheiro de Elza Soares, que ganhava bem como cantora, e a fazer propaganda de café para o IBC, por 1.000 dólares mensais. Alguns o reconheciam como vendedor de café e se entristeciam, outros pensavam que ele era um vendedor qualquer e tratavam-no com grosseria. O Brindis, um time de terceira classe, tentou contratá-lo como consultor técnico, mas de novo a sua origem impediu a transação. Para piorar tudo recebia telefonemas anônimos e ameaçadores, em italiano, acusando-o de ter “traído o Brasil” e que ele, Elza e seus filhos seriam castigados. A polícia nada conseguiu apurar. Mudaram-se para Tor Vajanica, um balneário, e a vida continuou correndo devagar, com as raras alegrias de algum jogo beneficente entre velhos jogadores famosos, como o que fez em Milão no ano passado, ou então entre times improvisados com jogadores que vinham de todos os cantos do mundo.
 
Sem paralelos – Foi portanto com alguma tristeza, mas sem nenhuma surpresa, que correu pela Itália e depois pelo Brasil a notícia de que o maior ponta-direita do mundo estava jogando, de camiseta vermelha e calção branco, com um time de amadores formado de açougueiros de Tor Vajanica, num campeonato reunindo trabalhadores de bar, mecânicos e operários do lugar. “Eu faço isso”, dizia Garrincha na época, “para me divertir e me manter em forma.” Mas no principal jogo do campeonato o time dos açougueiros perdeu para o dos mecânicos por 5 a 4 (quatro passes de Garrincha) e sua carreira como amador terminou nessa derrota. Ele se defendeu de novo: “Aqui não posso nem correr, que quebro o pé. O campo é cheio de pedras e buracos”.
 
Parecia realmente o fim da linha. Mas ainda não. Saldanha, referindo-se à inconsciência de Garrincha em relação às pessoas e aos negócios, diz que ela também impede que ele sinta que o verdadeiro craque tem vergonha de fazer certas coisas, como jogar entre açougueiros. Prefere sair e se esconder num sofrimento íntimo do que exibi-lo num campo. Foge da realidade.
 
Garrincha, que mal vê a realidade, não finge nem tenta esconder coisa alguma. Pensa, em 1972, que é o mesmo de 1962, e por motivos bem simples: hoje, como ontem, sente um prazer de menino brincando com a bola, de mexer com os companheiros de time, de achar graça nos próprios dribles. Paradoxalmente, essa falta de percepção lhe dá força. Sua situação, agora, é mais triste para os outros do que para ele mesmo: no campo, Garrincha não tenta o impossível, corre o que pode correr, dribla o que sabe e tudo acaba dando certo. A ilusão é soberana. Ninguém o ataca seriamente. Ninguém quer machucá-lo e nenhum jogador teria nervos para agüentar a culpa de ter sido o responsável por uma contusão de Mané. Uma jogada de corpo é o quanto basta para que o estádio o aplauda e comece a rir. Em todos esses anos, e em todas as suas derrotas, não apareceu realmente um candidato sério ao seu lugar. Zequinha, Rogério e Cafuringa, por exemplo, fazem hoje um pouco de cada coisa que Mané fazia, mas não sintetizam, como ele, a capacidade múltipla de pique, drible, cruzamento e chute. Jairzinho – que Garrincha considera o maior ponta-direita do Brasil – lembrou na última Copa um pouco desse estilo único, desconcertante e inexplicável. Mas não existe outro Garrincha. Como jamais existiu alguém, que, como ele, no final de um campeonato do mundo (o de 1958), surpreendeu-se com a vitória do Brasil: “Mas não vai haver returno”?
 
O anti-Pelé – Todos, enfim, querem ajudar Garrincha. Saldanha, “que se esqueceu dele” em 1969, elogiou no seu programa de rádio a volta do craque, principalmente porque “50.000 pessoas significam um carinho que ele merece”. Sandro Moreira, seu amigo, não foi ao jogo e o “tal de Nílton Santos”, o bicampeão de 46 anos e bem sucedido homem de negócios, também não foi, pelo mesmo motivo. Diz Santos: “Quero guardar a imagem do homem que jogou ao meu lado durante dez anos e que foi o maior jogador de futebol do mundo”.
 
É irônico que o maior jogador de futebol do Brasil, junto com Pelé e às vezes maior que ele, fosse justamente o anti-Pelé, em tudo. Em casa ou no campo, por exemplo, Garrincha escuta histórias e gritos que o bom senso de Pelé jamais levariam em conta. Há a aritmética doméstica de sua mulher e musa Elza Soares: “Com 80 minutos de partida, Mané ainda pode decidir um jogo. Quarenta por cento de Mané é melhor que cem por cento de muita gente”. Há o incentivo de Roberto Pinto, treinador do Olaria, que durante os momentos menos brilhantes de Mané durante o jogo com o Rio Branco, em Vitória, na semana passada (o Olaria perdeu de 2 a 1), gritava: “Não tem importância. Tá ótimo. O jogo é amistoso. Sábado, contra o América, é que é para valer”. Há o coro de seus poucos amigos, repleto de adjetivos e acusações a tudo e todos, no passado, e há quem hoje afirme que Garrincha não tem mais saúde para jogar futebol. Há os torcedores, que o amam e lhe pedem autógrafos na rua, como aconteceu em Vitória na semana passada, pessoas que querem que ele dê “uma ajudazinha” na primeira comunhão da escola, às 6 horas da manhã, ou o velho torcedor que exige de Garrincha que volte a ser o maior porque sempre acreditou que “esse tal de Pelé não vale nada”. E há, sempre, a sua crença cega na “boa gente”. Foi para Vitória na véspera e não sabia bem por quê. “Sei não. Acho que se eu não for antes as pessoas de lá não acreditam. Devo ser um chamarisco”. O estádio Engenheiro Araripe, na noite seguinte, estava lotado (renda de 40.000 cruzeiros, muito acima da média local) para ver o “chamarisco”. Com algum orgulho, fontes do Olaria anunciam que ainda este mês Mané fará outra proeza: dará o pontapé inicial num jogo em Juazeiro, Bahia.
 
Portas abertas – Levando gente ao Maracanã, parando o trânsito nas ruas de Vitória, ganhando mais palmas em Juazeiro e outras cidades em que o Olaria fizer excursões, Garrincha, a não ser pelo seu futebol e pela idade, continua o mesmo. A Carlinhos, dezenove anos, ponta-direita do Rio Branco, ele dizia na semana passada, com ar de pai preocupado: “Você tem que se cuidar. Treinar, jogar bola, saber com quem anda. Ganhe dinheiro. Se você perde um jogo, ninguém mais vai querer saber de você. Você deve ser pobre, né? Jogador de futebol é sempre pobre”.
 
Garrincha é sempre assim. Será recebido, em todos os lugares, principalmente em Pau Grande, onde dona Noir continua esperando a sua volta, porque “as portas estão abertas”. Psicologicamente, dizem que Garrincha jamais cresceu além da fronteira de Pau Grande. Talvez jamais volte para ficar, mas ainda este mês estará lá para assinar os papéis de autorização do casamento de Edenir, sua filha de dezessete anos. Noir tem pressa nesse casamento. Ainda este ano, Mané Garrincha, a alegria do povo, vai ser avô.

26 de outubro de 2013
Augusto Nunes - Veja
Geraldo Mayrink
Publicado em VEJA em 8 de março de 1972

"LE MONDE" COLOCA DILMA COMO BODE EXPIATÓRIO DE PROTESTOS DOS BRASILEIROS

 
  • Folhapress
    A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia de inauguração de escolas em Belo Horizonte: no olho do furacão A presidente Dilma Rousseff discursa durante cerimônia
  • de inauguração de escolas em Belo Horizonte: no olho do furacão

A cena se tornou cotidiana, quase comum. Centenas de pessoas expressando seu descontentamento para depois serem dispersadas sob efeito de gás lacrimogêneo, lançado nos confrontos entre grupos mascarados e uma polícia brasileira brutal como sempre.
No Rio de Janeiro, na última segunda-feira (21), foi contra o leilão de uma jazida de petróleo em alto mar. Os professores do ensino público, em greve há 79 dias, acabaram de votar, na quinta-feira, pela volta às aulas. Os bancários suspenderam suas atividades por semanas, e até a polícia militar protestou por um aumento de salário.
 
A longa lista expressa bem o elusivo clima social do momento. "As autoridades estão tendo dificuldades para encontrar uma resposta inicial às reivindicações multiformes ouvidas desde o movimento de protestos de junho, não houve nenhuma reforma de envergadura até o momento", afirma Carlos Vainer, coautor de "Cidades Rebeldes" (Ed. Boitempo). "A força da criação política se esgotou", diz Vladimir Safatle, professor de filosofia da Universidade de São Paulo. "É uma situação excepcional, totalmente inédita desde o fim da ditadura (1964-1985). Estamos vivendo uma crise de representação onde os partidos não conseguem avaliar o nível de insatisfação da população. Essa impotência política leva a protestos e à radicalização."

 Na linha de frente, a presidente Dilma Rousseff, herdeira de Luiz Inácio Lula da Silva, no poder há dois anos e meio, de repente se transformou em bode expiatório, alvo do repúdio exprimido por quase um milhão de pessoas no auge dos protestos.
Em queda livre nas pesquisas, ela tentou impor uma ampla reforma de um sistema político que para a maioria dos manifestantes se tornou um símbolo intolerável de corrupção e de clientelismo. A proposta foi cortada pela raiz por uma grande maioria de deputados e senadores. Rousseff prometeu voltar a ela após as eleições presidenciais de 2014, mas mesmo dentro do PT (Partido dos Trabalhadores), houve quem fosse contra tal iniciativa.

 No início de julho, a presidente lançou o programa "Mais Médicos", que prevê o envio de centenas de médicos estrangeiros e quase 3.500 cubanos para essas regiões mais pobres onde os médicos brasileiros se recusam a se instalar. A iniciativa, que deveria dar uma primeira resposta aos protestos de junho que haviam colocado em evidência as insuficiências em matéria de saúde, de transporte público e de educação, havia sido elaborada vários meses antes do estouro da revolta.

 Quando as autoridades lembraram que todos os royalties resultantes da venda da maior jazida de petróleo do Brasil iam ser destinados à educação (75%) e à saúde (25%), elas não explicaram que essa divisão havia sido elaborada antes de 2013. Os lucros só deverão entrar nos cofres do Estado daqui a sete ou oito anos. "As pessoas não são bobas", diz Safatle. Nas pesquisas, a presidente se recuperou um pouco, com 38% de aprovação, bem longe dos 58% que tinha antes do início dos protestos.

 De personalidade complexa e reservada, Rousseff suavizou seu discurso e fez diversas reuniões com os líderes do Congresso que ela havia perigosamente negligenciado. Ela reativou sua conta no Twitter e criou uma página no Facebook para se reaproximar das redes sociais que, segundo pessoas próximas, tanto a maltrataram.
 
Ainda hoje, Rousseff venceria as eleições presidenciais em qualquer situação. Mas a maioria dos observadores preveem uma corrida mais aberta desde que foi anunciada no dia 6 de outubro a surpreendente aliança entre Eduardo Campos, líder do PSB (Partido Socialista Brasileiro), e Marina Silva, segunda colocada na eleição presidencial de 2010 e cuja candidatura à eleição de 2014 foi entravada pela recusa da Justiça em legalizar seu partido político. Os dois são ex-membros de governos de coalizão de Lula e essa associação é um reflexo do desgaste do PT, no poder há quase onze anos.
 
Um PT criado em 1980 e que, pela primeira vez, se encontra "não ao lado de um movimento social, mas sim do lado contrário do povo", observa Fernando de Barros e Silva, diretor da revista "Piauí". "O único partido verdadeiramente popular que o Brasil conheceu se transformou em um representante do establishment, contra o qual hoje as pessoas se revoltam," ele diz.

 As gigantescas obras para a Copa do Mundo de 2014 agravaram o sentimento de exclusão e reavivou o trauma da corrupção. O PT acentuou uma crise de representação. Essa constatação talvez explique a recente tirada de Lula no jornal espanhol "El País", onde ele afirmou que esses movimentos de protestos são "saudáveis". "Eu gostaria que não nos esquecêssemos para quê fomos criados..."
 
Durante uma mesa-redonda organizada no Rio pelo jornal "O Globo", o editorialista Merval Pereira, o ex-deputado do PT Chico Alencar e o cientista político Geraldo Tadeu Monteiro concordaram: "As manifestações perderam força em relação a junho, mas elas podem voltar a qualquer momento."

26 de outubro de 2013
Nicolas Bourcier, do Rio de Janeiro
Tradutor: Lana Lim
 
NOTA AO PÉ DO TEXTO
 
Interessante! Bode expiatório? Por que bode expiatório, se ele fez parte do governo lulopetista?!
m.americo

"UMA LDO DA GASTANÇA"

Já em mau estado pelo excesso de gastos, as contas da União poderão ser mais prejudicadas com a adoção de novos dispositivos incluídos no relatório final do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), aprovado na quinta-feira pela Comissão Mista de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso. Um dos itens acrescentados torna obrigatória, a partir do próximo ano, a liberação de recursos para certas despesas determinadas por emendas parlamentares individuais. É uma antecipação do orçamento impositivo, previsto em proposta de emenda constitucional (PEC) ainda na fila de votação do Senado. Depois de aprovada pelos senadores, essa proposta ainda passará por uma segunda votação na Câmara dos Deputados.
 
 
Segundo o relator do projeto da LDO, deputado Danilo Forte (PMDB-CE), dificilmente a presidente Dilma Rousseff vetará aquele dispositivo. Não pode interessar ao Executivo, em sua opinião, abrir uma disputa com o Congresso em ano de eleição. Se essa avaliação for correta, o Tesouro será forçado, mesmo sem a PEC, a liberar recursos equivalentes a até 1,2% da receita corrente da União para emendas parlamentares.
 
Pelas estimativas atuais, isso equivalerá a cerca de R$ 12,8 milhões para emendas de cada um dos 594 senadores e deputados. É um valor menor que o previsto nas normas atuais, de R$ 15 milhões, mas a liberação será obrigatória. No regime em vigor, a realização desse tipo de gasto depende do arbítrio do Executivo e a liberação é concedida, em muitos casos, em troca de apoio em votações no Parlamento.
 
O regime atual pode ser defeituoso, mas permite ao Executivo o controle de uma parcela do gasto federal - que é excessivo. Além do mais, a qualidade das emendas parlamentares é normalmente muito baixa. As verbas previstas são destinadas, na maior parte dos casos, a projetos de interesse paroquial, a clientelas eleitorais e, não raro, a organizações civis dirigidas por laranjas.
 
Mesmo os projetos mais honestos caberiam mais propriamente em orçamentos estaduais ou municipais. Muitos deputados e senadores se comportam, na apresentação de emendas, como vereadores com mandato federal. No conjunto, essas emendas, mesmo quando isentas de fraudes, acabam resultando em pulverização de recursos federais e, portanto, em desperdício. Apenas combinam com o baixo grau de planejamento característico da administração de recursos da União.
 
Parlamentares favoráveis ao orçamento impositivo costumam invocar, em defesa de sua posição, o ideal de equilíbrio entre Poderes. Tendo o Executivo o poder de arbitrar a liberação de verbas, o sistema atual deixa os parlamentares em desvantagem, dependentes da boa disposição de quem comanda o Tesouro e sujeitos a pressões por barganhas políticas. Isso pode ser verdadeiro, mas descreve apenas uma parte dos fatos. Raramente os parlamentares demonstram algum empenho em cuidar da boa gestão do dinheiro dos contribuintes, como se a responsabilidade pela administração fiscal coubesse apenas ao Executivo.
 
Além disso, a LDO estaria aprovada no fim de junho, se deputados e senadores cumprissem suas obrigações mínimas. Os parlamentares nem sequer poderiam ter saído de férias sem ter liquidado essa obrigação. Saíram, no entanto, embora de forma extraoficial. A aprovação do relatório ocorreu com quase quatro meses de atraso. É muito difícil reconhecer a quem age dessa forma alguma autoridade moral para defender um orçamento impositivo.
 
Outro dispositivo, enxertado pelo deputado André Vargas (PT-PR), torna dispensável a consulta ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para aumento de gastos do Judiciário e do MP, por exemplo, com reajustes salariais, criação de cargos e abertura de varas ou tribunais. Se mantida na versão final da LDO, essa iniciativa enfraquecerá o controle interno do Judiciário e do Ministério Público. Como presidente do CNJ, o ministro Joaquim Barbosa, do STF, havia tentado barrar a instalação de quatro Tribunais Regionais Federais, defendida, por notável coincidência, pelo deputado André Vargas.

26 de outubro de 2013
 Editorial do Estadão