"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

ANOTAÇÕES POLÍTICAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

Um baiano imortal   


Em maio de 1965, corridos do golpe militar de 1964, um grupo de políticos, jornalistas, líderes sindicais e estudantes baianos escondeu-se em São Paulo no apartamento pequenino e generoso do jovem repórter da “Folha de S. Paulo” Adílson Augusto, um santo de 20 anos, ali na Major Sertório, bem em cima do João Sebastião Bar, na boca da boca.
Não era bem um apartamento. Era um quarto de pensão com sala e banheiro, no sótão de velho casarão de três andares, as escadas gemendo e um boliche (depois “La Licorne”) fazendo barulho a noite inteira.
Era “A Mansarda”. Houve noites em que dormimos 12 pessoas, empilhadas pelos cantos. Uma vez, o Adilson chegou de madrugada e não podia entrar. Não havia onde pôr seu colchonete. Como teria feito São Francisco, dormiu sentado na escada para não acordar os “hóspedes”.

“A MANSARDA”
Éramos Mário Lima, deputado federal cassado e ex-presidente do Sindicato do Petróleo em Salvador; Hélio Duque, jornalista, professor, depois deputado federal do Paraná (PMDB); Domingos Leonelli, deputado federal da Bahia (PMDB), hoje secretario do Governo da Bahia ; Luís Gonzaga, presidente do MDB de Londrina; Carlos Capinan, o magnífico poeta e  compositor; Lamego, publicitário; eu, outros.
Quase todos já havíamos perdido o ano de 1964 nos quartéis de Salvador. Cada um, clandestino, lutava para livrar-se de mais um IPM e voltar à superfície. Enquanto a justiça e a liberdade não chegavam, usávamos nomes falsos, fazíamos biscates e comíamos coletivamente nos “sunabões” paulistas: um prato para três. E o tempo passando e as absolvições demorando e o medo do flagrante dando sustos diários.

O DELEGADO
Uma noite, era aniversário de Mário Lima, chegando de Fernando de Noronha. Fomos todos comemorar no “Pilão”, saudoso botequim no subsolo de uma galeria entre a 7 de Abril e a Itapetininga. Somadas, nossas “penas” passavam de 100 anos. E ainda havia os amigos: Antonio Torres romancista, Nelito Carvalho jornalista, Ubiratã Khun Pereira, Sr. Khun.
Chegamos discretos, pedimos batidas. Ao violão, em lugar da crooner de sempre, a loura e meiga Marilu, um senhor de voz poderosa, tenor de banheiro. Aplaudimos. Ele veio para nossa mesa, cantou tangos e boleros a noite inteira, recitou poemas, pagou a conta. Manhã cedo, fomos todos embora. No dia seguinte, vimos sua foto na primeira página da “Folha”. Era o delegado do DOPS.Se soubesse,teria feito um raspa baiano.

TORRES
A consagradora eleição do romancista Antonio Torres para a Academia Brasileira de Letras (34 votos entre 39) é uma festa baiana na alma de todos nós. Alguns o conhecemos desde seu primeiro começo. Em 1958, o “Jornal da Bahia” nascia, já lá estávamos Glauber Rocha, João Ubaldo, Muniz Sodré, eu, quando apareceu um magricela de 20 anos, discreto, sorridente, simpático e, logo logo saberíamos, ótimo caráter,
Vinha do Junco, tórrido sertão baiano, então distrito de Inhambupe, hoje Satiro Dias. Repórter de excelente texto, logo foi para São Paulo, onde em 65 o reencontramos na Agencia de Propaganda “Piratininga”, laborando de dia e à noite escrevendo. Quando percebia que alguns estávamos duros para o  almoço, levavanos para a “Churrascaria do Papai” ou o “Jandaia”, ali perto da “Folha”, e  escondido pagava a conta para não nos constranger. Na desgraça é que se conhecem as pessoas. E nem desgraça era. Só fome.

A OBRA
Em 1972 Torres estreou já com sucesso no primoroso romance “Um Cão Uivando para a Lua”. Deixou no seu lugar na agencia o Carlos Capinam e foi  para Portugal. De lá trouxe “Os Homens dos Pés Redondos” (1973). A partir daí, romances em cachoeira : “Essa Terra” (1976), sua obra prima, “Carta ao Bispo” (1979),  “Adeus Velho” (1981), “Balada da Infância Perdida” (1986), “Um Taxi para Viena d´Áustria” (1991), “O Cachorro e o Lobo” (1997),  “Meu Querido Canibal” (2000), “O Nobre Sequestrador” (2003). E outros, de contos e crônicas.
Lá de cima de sua colina, Senhor do Bonfim está batendo palmas.

25 de novembro de 2013
Sebastião Nery

SEMPRE A LESMA LERDA...

 
 
25 de novembro de 2013


ELIANA CALMON DEIXA O STJ PARA ENTRAR NA POLÍTICA. E JOAQUIM BARBOSA?

A ministra Eliana Calmon pediu nesta segunda-feira (25/11) aposentadoria do seu cargo no Superior Tribunal de Justiça (STJ). De acordo com a corte, a ministra baiana deve deixar o tribunal no dia 18 de dezembro. A ministra seria aposentada compulsoriamente em 5 de novembro de 2014, quando completará 70 anos de idade. Com sua saída será aberta vaga para juiz de Tribunal Regional Federal (TRF) na composição do STJ.

A ministra faz parte da Corte Especial e do Conselho de Administração do STJ. Ela atua na Segunda Turma e na Primeira Seção do Tribunal e é diretora-geral da Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados Ministro Sálvio de Figueiredo (Enfam).

“BANDIDOS DE TOGA”

Eliana Calmon ganhou notoriedade nacional quando disse que era preciso ter cuidado com os “bandidos de toga”. A declaração foi divulgada em entrevista em 2011, pouco antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir até onde o CNJ poderia ir na investigação de magistrados. Na época corregedora-geral de Justiça, Eliana foi criticada por grande parcela da magistratura nacional e, em especial, pelo então presidente do CNJ e do STF, Cezar Peluso, que classificou as declarações de “levianas”.

Outro episódio polêmico relacionado a Eliana Calmon foi a decisão de investigar indícios de irregularidades no Tribunal de Justiça de São Paulo. Maior corte do país, por onde circulam cerca de 60% dos processos, o tribunal é conhecido pelo perfil conservador e avesso a interferências externas.

A carreira da ministra na magistratura teve início em 1979, como juíza federal na Bahia. Antes, foi procuradora da República em Pernambuco. A ministra também atuou como professora em faculdades de direito. Eliana Calmon foi a primeira mulher a ser ministra do STJ, onde começou a atuar em 1999. Ocupou interinamente a vice-presidência do STJ entre 2012 e 2013.

###

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG - A ministra Eliana Calmon está se aposentando para sair candidata. A principal hipótese é tentar o governo da Bahia ou a vaga no Senado. Tudo indica que o ministro Joaquim Barbosa vai seguir no mesmo caminho. E se sair uma chapa Barbosa/Calmon na disputa da sucessão presidencial? Caramba! Que possibilidade. (C.N.)

25 de novembro de 2013
Deu na Agência Brasil

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE



25 de novembro de 2013

O CRÍTICO DE BOLSO BACANA

Em jantares inteligentes, a sobremesa é sempre leve, porque essa gente é muito crítica

Um dos traços essenciais de nossa psicologia é que queremos ser aceitos. Muitos filósofos, entre eles Adam Smith (1723-1790), diziam que nossa imaginação é constantemente presa à inquietação de como somos vistos pelos outros, fato este que é parte saudável da vida moral social, mas que também facilmente degenera numa angústia de dependência afetiva destruidora da autonomia.

Uma das formas mais seguras de se sentir aceito pelo grupo é desenvolver opiniões de rebanho. No fundo, temos horror a sermos recusados pelo bando, mas, hoje em dia, esse desejo de agradar é avassalador.


As redes sociais e sua mesmice brega, espaço de repetição do irrelevante, são prova de nossa condição de rebanho como pilar da (in)segurança psicológica.

As redes sociais criaram um novo perfil, o do crítico de bolso em versão pós-moderninha. O sonho dessa moçada, que se afoga na irrelevância e no desespero do anonimato cotidiano (que assola todos nós), é ter opiniões sobre as coisas, mas acaba mesmo falando da pizza que comeu ontem ou xingando os inimigos de plantão. O sonho de muitas dessas pessoas é frequentar jantares inteligentes nos quais gente bacana emite opiniões bacanas.

A forma mais fácil de frequentar jantares inteligentes é atacar a igreja, os EUA e a polícia. Mais sofisticado, mas que também garante acesso aos jantares inteligentes das zonas oeste e sul de São Paulo, é dizer que "o modelo social está ultrapassado". Esta frase leva algumas pessoas ao orgasmo (risadas?).

"O modelo social está ultrapassado" é a típica frase de quem quer se passar por crítico (mas, na realidade, é crítico de bolso), porque é a sociedade de mercado (ou como dizia Adam Smith, "commercial society"), a mesma que os comunistas chamam de "capitalismo", que nos retirou da miséria que é o estado natural da vida (e à qual voltamos rapidinho se o Brasil virar a Venezuela de Chávez e Maduro).


Toda riqueza que sustenta esse povo de jantares inteligentes, a começar pelo "bom vinho em conta", é fruto do mesmo modelo que consideram ultrapassado.

Aqui e ali, faça uma caricatura de quem você não consegue enfrentar porque lhe falta repertório conceitual. Diga que são racistas, "sequicistas" e homófobos. Conte, fingindo segredo, que seu filho é do círculo íntimo dos "maravilhosos" meninos do MPL e que sua filha é (incrível!!) black bloc, mas nunca bateu em ninguém.

Assim você chegará à sobremesa (leve, pois em jantares inteligentes ninguém quer engordar, porque sabe que os parceiros de jantares inteligentes são pessoas muito críticas) com segurança, sem dizer nada que ponha em risco sua cidadania de gente bacana.

Mas o que marca essa gente bacana é que na verdade nunca fala, nem tem contato real, com as pessoas fora das escolas de R$ 3.000 que paga para os seus filhos críticos desde os cinco anos de idade frequentarem, ou do seu círculo profissional chique e/ou da praia chique onde tem sua casa de praia típica de praias chiques.


O problema, quando você é um cidadão de jantares inteligentes, é que você acaba mesmo alienado e acreditando nas suas próprias críticas de bolso. Mas vamos ao que interessa. Vamos falar de um dos tópicos que autorizam você a se achar bacana e a frequentar jantares inteligentes: a polícia.

Outro dia, por acaso, conversei por cerca de três horas com um policial militar aposentado do Estado de São Paulo. Muito instrutivo, uma vez que sou egresso do mundo de gente bacana, que, portanto, nada sabe acerca do mundo real.

Ele definia sua classe como aquela que vive com a "mão no lixo" que essa gente bacana nunca vê de fato --a não ser quando resolve fazer ensaios fotográficos sobre "injustiça social". Reclama de como eles são invisíveis e de como a sociedade, na sua maioria, os considera parte do lixo. Um sofrimento profundo, devido a essa invisibilidade, marcava seu rosto de solitário. A polícia é um dos setores mais maltratados da sociedade, apesar de essencial.

Essa gente bacana sai correndo do jantar inteligente para o carro, com medo, sonhando com um baseado e uma bike em Amsterdã nas férias.

COVARDE E OUSADO


A descrição é do próprio Jeff Bezos. Ao contratar um veterano do exército para trabalhar na Amazon, ele disse: "Fisicamente sou um covarde ('chicken'), mentalmente sou ousado."

Imagine se Jeff Bezos tivesse levado adiante sua ideia de batizar a companhia que fundou há 20 anos de Relentless (implacável). "Vamos agora ouvir o CEO da Implacável.com", convocaria o líder da comissão do Senado em Washington, que um dia há de plantar o fundador da Amazon numa cadeira e ouvir sua risada nervosa numa investigação anti-truste.


Mas não é preciso ter título explícito para confirmar a intenção do nome que não emplacou, como fica claro no livro fascinante de Brad Stone, The Everything Store (A Loja de Tudo). A narrativa sobre a emergência do gigante do comércio on-line, que chega a 200 milhões de consumidores, acaba de ser escolhida Livro de Negócios do Ano pelo Financial Times. O que torna a resenha negativa escrita por Mackenzie Bezos no site da Amazon (uma estrela, de um total de cinco) ainda mais embaraçosa. Sim, Mackenzie é a senhora Bezos. E publica seus romances numa editora tradicional, não na fundada pelo marido.

O gênio analítico de Bezos o coloca entre seus pares, como Bill Gates e Steve Jobs. E, como no caso de Gates e Jobs, é o elefante que, se um dia sair da sala, traz uma interrogação para o futuro da Amazon. No momento, a companhia com vendas de US $180 bilhões, 90 mil funcionários (mais 70 mil são contratados temporariamente para o fim do ano) vai continuar a crescer.

O livro de Brad Stone foi alterado no final quando, em agosto, Bezos comprou o Washington Post da família Graham por US$ 250 milhões. Mas, ao digerir a decisão, Stone começou a ver mais coerência num Bezos dono de jornal. Lembra que ele é um leitor voraz e defensor da palavra escrita, ainda que inimigo de editoras de livros e livrarias físicas. As reuniões na Amazon começam com a leitura silenciosa de um memorando de seis páginas. Lembra que Bezos é consumido pelo fascínio com a ruptura dos modelos tradicionais de negócios e, se há uma indústria tradicional que sofre com a economia digital, é a que leva a você, leitor, esta coluna.


E, não sejamos ingênuos, o empresário de ideias descritas como vagamente libertárias, um ferrenho inimigo de limites, como a cobrança de impostos, acaba de adquirir uma influência política poderosa. De sua mansão de 2.700 m² no Lago Washington, em Seattle, Bezos pode orquestrar um exército de lobistas que lutaram, Estado por Estado, para impedir a cobrança de impostos sobre vendas on-line. Pode destruir pequenos comerciantes, ao bloquear suas lojas do site da Amazon, em Estados que não dão refresco fiscal como a Califórnia e Nova York, para mostrar a vizinhos mais pobres o poder de sua fúria competitiva. Mas, ser dono do Washington Post na capital de uma indústria só, a política, é um novo estágio de influência.

A surpresa da compra do Post não impede Stone de fazer suas previsões, na conclusão de The Everything Store. Ele deixa clara a sua admiração pela companhia "mais sedutora que já existiu", embora, ao longo da narrativa, possamos notar a diferença entre respeitar um empresário e gostar dele. O objetivo de Jeff Bezos é vender tudo em toda parte. Stone prevê que Bezos vai ser dono de uma frota de caminhões para eliminar o último obstáculo independente ao sistema de entregas. Vai estender a venda de alimentos além de algumas cidades da Costa Oeste, enfrentando o Golias Walmart, de quem tomou tantos executivos que acabou sendo processado pelo concorrente. Vai se envolver em telefonia celular, já se envolve em produção e transmissão de TV.


Um dos serviços prestados por Brad Stone é desmistificar a lenda criada por Bezos sobre sua paciência (e a de seus acionistas) para aceitar prejuízos e lucros baixos por ter o foco apenas no consumidor. A Amazon mantém uma vigilância implacável sobre qualquer 'start-up' que demonstre o menor talento de cruzar seu caminho no futuro. Um caso famoso é o da bem sucedida Diapers.com, que vendia fraldas descartáveis on-line e foi colocada de joelhos até capitular e ser comprada por Bezos. Quando a Zappos.com, especializada em venda de sapatos e roupas, começou a dar atenção especial aos consumidores, recebeu o mesmo tratamento, que pode ser ilustrado com um desses filmes de natureza na África, em que a hiena mastiga partes da zebra ainda viva. A lealdade do consumidor, muito mais do que sua satisfação, move a Amazon. Uma lealdade conquistada com voracidade napoleônica.

É mais fácil se opor às condições das fábricas chinesas de iPads da Apple do que às condições desumanas nos depósitos da Amazon e corrigidas graças à reportagem de um pequeno jornal de papel na Pensilvânia. A longo prazo, as sociedades hão de examinar a ideia de que uma transação comercial existe de forma abstrata. E de que para comprar tudo por preços que não remuneram a produção, compensa destruir industrias inteiras até sobrar um só balcão planetário de vendas. Por enquanto, a refeição de Jeff Bezos está apenas começando.

UMA VEZ RATO


RIO DE JANEIRO - Mickey, o rato, está fazendo 85 anos. Os EUA comemoram isso com estardalhaço e, como sempre, intimam o mundo a soprar velinhas para um personagem que só a eles diz respeito. Mickey representa os americanos como eles se veem: adultos, justos, responsáveis, gentis, inatacáveis. Mas não é assim que o mundo enxerga os americanos.

Para mim, muito mais representativo no cânone de Walt Disney é o inimigo de Mickey, João Bafodeonça, criado em 1925 --três anos antes do próprio Mickey, cinco antes de Pluto, sete antes do Pateta e nove antes de Donald. Mas era típico de Walt que um maravilhoso vilão como João Bafodeonça, em ação até hoje, nunca passasse de coadjuvante, destinado a perder todas para o rato.


Rato este que não tinha nada de santo ao nascer. Logo em seu primeiro desenho, "Steamboat Willie" (1928), Mickey tortura um gato, roda-o pela cauda e o atira dentro do rio. E cometeu outras ignomínias com animais nos desenhos seguintes, até que Disney ordenou a sua desratização e conversão em algo parecido com um ser humano.

Mas, uma vez rato, sempre rato, e não é por acaso o ódio de Walt aos gatos, evidente em toda a sua produção. Em "Pinóquio" (1940), o gato Gedeão é um malandro odioso e repulsivo. Em "Cinderela" (1950), o gato Lúcifer, gordo e perverso, é uma constante ameaça para dois ratos esqueléticos, Gus e Jaq. Em "Alice no País das Maravilhas" (1951), o Gato é lógico, frio e insensível. Em "A Dama e o Vagabundo" (1955), os siameses Si e Õ destroem as cortinas, atacam o canário e afogam o peixinho dourado. E mesmo em "As Aristogatas" (1970), um filme que se imagina pró-gatos, há um bando de gatos vadios e desprezíveis, e o herói é um rato chamado Roquefort.

Daí ser inevitável que Walt um dia fizesse a Disney World -- a maior ratoeira humana já construída por um rato.

BEM-VINDO AO CÍRCULO


As pessoas são obrigadas a compartilhar os detalhes mais íntimos de suas vidas


Na coluna da semana passada, falei um pouco sobre o desafio de escrever ficção contemporânea na era digital e usei como exemplos Steven Hall e Thomas Pynchon. Naquela ocasião, deixei de fora outra leitura recente que também se relaciona ao tema e rendia um comentário à parte: o romance “The Circle”, de Dave Eggers. Embora seja um livro comportado em termos de forma e linguagem, ele se destaca por abordar de maneira bastante direta não apenas as novas tecnologias e serviços que transformam nossas vidas, mas também as ideologias que movem muitas empresas do setor e vêm embutidas em seus produtos.

“The Circle”, o Círculo, é o nome da empresa que, dentro do futuro próximo inventado por Eggers, desbancou o Google e o Facebook e se tornou a marca dominante no ecossistema de redes sociais, gadgets e serviços on-line. A protagonista do livro, Mae Holland, é uma garota de 24 anos que consegue um cobiçado emprego no enorme e extravagantecampus (termo pelo qual as gigantes do Vale do Silício costumam se referir a suas sedes) do Círculo.

Mae começa por baixo, trabalhando no setor de atendimento aos anunciantes. Logo nos primeiros dias, precisa abrir contas em todos os serviços do Círculo, enviar todas as suas fotos e vídeos para a nuvem, comparecer ao máximo de eventos e grupos de discussão organizados por seus milhares de contatos e galgar posições em vários rankings de participação e eficiência. Eggers tira uma onda com o estilo de vida do tech people, que o livro retrata como uma massa homogênea de escravos da originalidade, carente de aprovação nas redes sociais, para quem a experiência direta foi substituída por estatísticas, interfaces virtuais, enquetes sobre o menu vegan da cantina e abaixo-assinados contra a opressão em países distantes.


Até aí, não é um retrato muito distante do imaginário comum. Mas logo o incentivo à conectividade se transforma em coação. Mae é pressionada a compartilhar seus dados médicos e os hábitos mais íntimos. Deve monitorar e exibir seus passos, sinais vitais, sentimentos e opiniões sobre tudo em nome de um valor supremo: a transparência. Ser transparente, ou seja, abrir mão da privacidade, é sinônimo de ser generoso. A ideologia do compartilhamento total vai ganhando proporções perturbadoras. As únicas vozes dissidentes, entre elas os pais e o ex-namorado de Mae, vão sendo esmagadas em nome do direito comunitário de ter acesso a toda informação concebível. Um dos projetos do Círculo é contar os grãos de areia do Saara. Na crença de seus fundadores, o compartilhamento online do pensamento humano em tempo real só dependerá da tecnologia necessária.

O livro é em parte uma distopia totalitarista no molde de “1984”, em parte uma paródia da ideologia da geração Google. Os três lemas do Círculo — Segredos são Mentiras; Compartilhar é se Importar; Privacidade é Roubo — são alicerces da visão dominante segundo a qual um estado de vigilância total traria benefícios à Humanidade reduzindo crimes, aproximando os seres humanos e aprimorando a democracia. Eggers leva essa lógica às últimas consequências, rumo ao “fechamento do Círculo”, quando as esferas privada e pública se fundem e todo o conhecimento possível fica disponível a todos.


Pode-se argumentar que há um certo desequilíbrio entre o realismo e a fantasia no mundo apresentado por Eggers, bem como personagens-espantalho facilmente incendiáveis, e leitores versados nos detalhes tecnológicos podem torcer o nariz diante de imprecisões técnicas, mas esse mundo é coerente o bastante com certas tendências atuais para que a leitura traga momentos de desconforto. Como protagonista, Mae pode parecer ingênua e submissa demais, mas ela faz parte de uma sociedade imaginada em que o conceito de privacidade já se tornou obsoleto. No mundo real, a privacidade ainda conta com legiões de defensores e é tema de debates encarniçados como o que tivemos recentemente em torno das biografias no Brasil. A força simbólica da distopia do romance depende muito da crença do leitor a respeito do valor que a privacidade continuará tendo nas próximas gerações.

De todo modo, há trechos em que o texto de Eggers consegue emular a sensação de ser tragado pelo fluxo das redes sociais com uma precisão exasperante. A vida de Mae vai sendo substituída pela administração da informação acerca da vida. É confortante ver a ficção literária dando conta disso, ou pelo menos tentando.

Dia desses o Google Plus abocanhou meus álbuns de fotos privados do Picasa e o conteúdo brotou num passe de mágica no meu smartphone. Foi tão fascinante quanto desconfortável. Em momentos assim, e ao ouvir expressões como “fulano se suicidou no Facebook”, é preciso lembrar que o Círculo não deve se fechar nunca, e que a abertura deve ser larga o bastante para que possamos sair.

 
25 de novembro de 2013
Daniel Galera, O Globo

PETRALHAS DE HONDURAS TENTAM RESISTIR AO RESULTADO DAS URNAS. INÚTIL!

A esquerda do país não deve chegar a 30% dos votos


É… Parafraseando o barbudo furunculoso, a classe petralha é mesmo internacional! Quando dispuserem de alguns minutos, vale a pena ler alguns textos da imprensa hondurenha (aqui, links dos jornais El Heraldo.hn e La Tribuna.
 
Com 58% dos votos apurados, o conservador Juan Orlando Hernández, do Partido Nacional, virtual presidente eleito, está com 34,19%.
Xiomara Castro (Libre), mulher do maluco bolivariano Manuel Zelaya, vem em segundo, com 28,33%.
O terceiro e o quarto lugares também são de candidatos à direita do espectro ideológico: Maurício Villeda Bermudez, do Partido Liberal (20,76%), e Salvador Nasralla Salum, do Partido Anticorrupção (15,59%). Há ainda quatro outros postulantes, mas não atingiram nem 1% dos votos.
 
O Libre, partido criado por Zelaya, juntou todas as tendências de esquerda de Honduras, mais sindicatos, movimentos sociais, ONGs, a esquerda católica etc. Xiomara contou ainda com o apoio ostensivo de Lula, o Apedeuta; de Daniel Ortega, o orelhudo, e de Nicolás Maduro, aquele que enxerga a figura de Chávez até num lenço usado — para ser delicado. Embora mais discreto, o presidente de El Salvador, Mauricio Funes, casado com uma petista, Vanda Pignato, também expressou simpatia pela mulher de Zelaya. O povo, no entanto, quis outra coisa.
 
Por que afirmo que a “classe petralha é internacional”? Assim como, no Brasil, os petralhas não reconhecem a autoridade de tribunal que condena os companheiros, seus congêneres, em Honduras, se negam a reconhecer eleições em que são derrotados. Até agora, o tal Libre não admitiu a vitória de Hernández, e Xiomara, neste domingo, declarou-se a presidente eleita do país. Só faltou combinar com os hondurenhos…
 
Zelaya (de microfone na mão) durante entrevista coletiva: a "laranja" sumiu
Zelaya (de microfone na mão) durante entrevista coletiva: a “laranja” sumiu
 
O Libre convocou uma coletiva de imprensa. Adivinhem quem apareceu para falar: Manuel Zelaya — sim, o golpista que foi deposto em 2009. Como sabiam praticamente todos os hondurenhos, Xiomara nunca teve existência autônoma.
Era só uma laranja do bolivariano doidivanas. A mulher deu chá de sumiço, desapareceu. Em seu lugar, falou o marido, que ameaçou convocar o povo para sair às ruas, mas desistiu.
 
Na coletiva,  jornalistas estrangeiros foram hostilizados pelos bate-paus de Zelaya, que põe o resultado das urnas sob suspeição e pede recontagem “voto a voto” — isso quer dizer o seguinte: ele não aceita perder.
 
A esquerda do país lança a suspeita de que uma conspiração internacional estaria em curso para impedir a eleição de Xiomara. As evidências, na verdade, são outras: esquerdistas da Venezuela, do Brasil, da Nicarágua e de El Salvador, estes, sim, se juntaram em apoio à candidata do Libre. Tudo em vão. A ação foi contraproducente.
Em vez de o apoio fortalecê-la, deu-se o contrário. Houve uma reação contra a interferência estrangeira nos assuntos do país.
 
Eu sei que Honduras é um pequeno país e que a resistência aos bolivarianos não pode ser tomada como uma reação do continente aos aloprados. Faço esse registro, repito, porque haverá o dia em que o Brasil, formalmente, terá de se desculpar com os hondurenhos pelos absurdos de 2009, quando deu abrigo a um golpista e incentivou uma guerra civil no país.
 
Lula tentou se meter no país de novo e quebrou a cara outra vez. Ah, sim: Funes e Ortega já reconheceram a vitória de Hernández.

25 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

LÍDERES DE DUAS ASSOCIAÇÕES DE JUÍZES IGNORAM A CONSTITUIÇÃO E ATACAM BARBOSA POR ALGO QUE NÃO ACONTECEU.

Imprensa não pode se limitar ao mero registro; tem o compromisso com a verdade

O espetáculo de desinformação continua. Os respectivos presidentes de duas associações de juízes vieram a público para, claro!, atacar Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal.
Virou moda. Isso demonstra, diga-se desde logo, o poder que tem o PT de pautar não apenas a imprensa, mas também as entidades profissionais e corporações.
 
Estão descontentes com o ministro porque ele decidiu trocar o juiz da execução das penas dos mensaleiros. Ademar Vasconcelos foi substituído por Bruno André da Silva Ribeiro. Pois é…
 
Nesta manhã escrevi um post afirmando que era impossível debater com os cronistas que chamei de “babás de mensaleiros” porque argumentam com exclamações, não com fatos e leis. É grave? É grave porque isso concorre para a desinformação do leitor comum e porque atuam como militantes de uma causa, não como analistas.
 
Mas há coisa pior: quando juízes vêm a público para acusar o presidente do STF de desrespeitar a lei e a independência do Judiciário sem, no entanto, apontar onde está essa agressão legal, aí, no que concerne ao direito, estamos no pior dos mundos. Afinal de contas, jornalistas têm, no máximo, opiniões; já os juízes têm um amplo poder de decisão sobre a vida de terceiros. Vamos ver.
 
João Ricardo dos Santos Costa, presidente eleito da Associação dos Magistrados do Brasil (AMB), mandou ver, tentando recorrer à ironia: “Pelo menos na Constituição que eu tenho aqui em casa, não diz que o presidente do Supremo pode trocar juiz, em qualquer momento, num canetaço”. Pois é… Se o doutor me enviar o endereço, eu lhe mando de presente um exemplar da Constituição. Pode ser que alguém tenha arrancado uma página do seu livrinho para anotar um número de telefone ou, sei lá, fazer a lista do supermercado.
 
Também não poderia faltar ao equívoco a organização de ultraesquerda chamada “Juízes para a Democracia”. Sua “presidenta” (assim ela se assina), Kenarik Boujikian, também emitiu uma nota sobre o assunto.
O texto é escandaloso, digno de uma associação que já declarou com todas as letras que existem, sim, homens que estão acima da lei. A excelentíssima manifesta a sua “preocupação com noticias que veiculam que o Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, estaria fazendo pressão para a troca de juízes de execução criminal”.
 
Notem: ela não acusa Barbosa de ter feito isso; ela só está preocupada com “com as notícias” de que ele o teria feito. Notícias? Não! Essa é uma acusação feita pelo PT e por seus vândalos da reputação alheia nas redes sociais. E Kenarik quer o quê?
Ela esclarece: “O presidente do STF tem a obrigação de prestar imediato esclarecimento à população sobre o ocorrido, negando o fato, espera-se, sob pena de estar sujeito à sanção equivalente ao abuso que tal ação representa.”
ENTENDI: A PRESIDENTE DE UMA ASSOCIAÇÃO DE JUÍZES EXIGE QUE O PRESIDENTE DO STF PROVE SER INOCENTE, EMBORA ELA SEJA INCAPAZ DE APONTAR QUE TRANSGRESSÃO ELE TERIA COMETIDO.
 
Vergonha

Vergonha alheia, é o que sinto — e ela se estende, em certa medida, à imprensa. O leitor, o telespectador, o ouvinte e o internauta não poderiam fica expostos a esse tipo de guerra suja da informação. Entendo que é obrigação profissional e moral dos jornalistas informar os fatos.
 
Da Constituição que tenho em casa — e que você tem aí ao alcance de sua tela, leitor amigo, consta, atenção, as Alínea b e m do Inciso I do Artigo 102 da Constituição — aquele que foi rasgado do exemplar da Carta que o presidente da AMB tem em casa. Lá está escrito:

“Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
I – processar e julgar, originariamente:
(…)
b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;
m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais;
 
Atenção!

A competência para a execução das penas dos condenados pelo Supremo é do… próprio Supremo. O tribunal delega isso a outro juiz, por meio de um ato chamado “ordinatório”, se ele quiser — e só se ele quiser. Barbosa poderia ter tomado para si tal função porque é dele desde sempre. O juiz que atua no caso age por sua delegação.
 
O presidente do Supremo não poderia estar a solapar a autoridade, a  independência ou a competência de juiz nenhum porque estas lhe pertencem, nesse caso, “ad nutum”. Portanto, ele as atribui a um outro juiz se e quando quiser. E também substitui aquele que atua por sua exclusiva delegação quando quiser.
 
Não, senhores! Nem o presidente da AMB nem a “presidenta” da AJD dizem qual dispositivo legal Barbosa violou. Não são bestas nem nada, não é? Ficam no simples proselitismo. Isso alimenta a gritaria nas redes sociais.
 
É interessante como a AMB e a AJD, que não rezam exatamente pela mesma cartilha, se unem nesse caso, não é? A segunda atua movida por uma pauta que é de caráter ideológico. O grupo tem uma visão bastante heterodoxa do que seja “direito”.
A AJD já defendeu vários movimentos que afrontam claramente a legalidade na suposição de que a “democracia real” (a pauta dos chamados “movimentos sociais”) entra mesmo em choque com o que chamam por lá de “democracia formal”.
Em suma: a AJD não vê mal nenhum em que se atropelem leis democraticamente instituídas se o motivo for “justo”. Só para vocês terem uma ideia, essa associação é contra a aprovação no Brasil de uma lei de combate ao terrorismo.
 
O problema da AMB com Barbosa é de outra natureza. O ministro de opôs, e por bons motivos, à criação de cinco novos Tribunais Regionais Federais, uma reivindicação de caráter puramente corporativo.
 
Ainda que eu possa achar estranho que juízes pertençam a sindicatos — afinal, como ser independente e integrar uma grei corporativa? —, vá lá que protestem contra isso e aquilo. O que é inaceitável, acho eu, é que venham a público acusar o ministro do Supremo de ter transgredido a lei quando resta evidente que isso não aconteceu.
 
No fim das contas, o que muita gente está a recusar no Brasil é mesmo o estado de direito — a menos que me provem que a execução da pena não é de competência do próprio Supremo, podendo ou não ser delegada. Que os partidários do PT estejam nessa, dá para compreender, embora não dê para endossar. Que juízes participem dessa pantomima, aí é demais.
 
Mas o blog está aqui: se o doutor Santos Costa e a doutora Kenarik quiserem provar que estou errado, lerei a argumentação com todo cuidado. Se não conseguirem, então acho que é o caso de ambos pedirem desculpas. Os brasileiros merecem a verdade, não?
 
25 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo 

DIRCEU ESTÁ CHANTAGEANDO LULA, OU SEUS ÁULICOS ESTÃO SE EXPRESSANDO MAL?

 

Ah, então José Dirceu já está ditando as regras lá da Papuda, é? Eis um homem que nasceu para comandar. Seus áulicos dizem à imprensa que ele está insatisfeito com o comportamento de Lula, de quem esperava muito mais.
Acha que o ex-presidente não está sendo enfático o bastante em defesa dos criminosos condenados. Trata-se de uma forma bem particular de chantagem.
 
Aqui e ali, em colunas oblíquas, os que se prestam ao papel de porta-vozes do presidiário elogiam o seu lado militante, aquele que pensa, acima de tudo, no partido. Isso quer dizer, em outras palavras, que ele sabe mais do que diz. Alguém que chega à posição de Dirceu, especialmente numa organização com as características do PT, pode, se quiser, botar fogo no circo — ou chutar o mastro.
 
A lona viria abaixo. Não havia como Lula não saber de tudo e mais um pouco. Ele sempre esteve no controle. O partido tem um chefe, tem um “Número 1”. No partido, funciona a regra da obediência devida.
Então por que Dirceu se transformou numa espécie de símbolo? Porque é sabido que ele busca esse protagonismo. Não é de hoje. Gos
ta de posar de pensador, de estrategista, de cérebro da luta. Empresta-se ares de Lênin de Passa Quatro. Só ele saberia a hora de avançar; só ele saberia a hora de recuar. As fotos que vieram a público já depois de sua prisão exibem o ar do vitorioso.
Se José Genoino faz o papel do herói trágico, Dirceu prefere o do calculista cínico. É e sempre será aquele que, uma vez anistiado, cutucou o braço da mulher, exibiu uma foto e disse, ainda que com outras palavras: “Eu não sou eu, eu sou outro; o seu marido é o outro, não eu. Fui”.
 
Dirceu está cobrando a presença de Lula na Papuda — e não se descarte essa possibilidade; é só questão de tempo. Ainda não foi porque algumas coisas não estão saindo exatamente conforme o planejado.
As manifestações de rua em favor dos mensaleiros, por exemplo, não aconteceram. Os protestos em defesa dos condenados às portas da Papuda não reúnem mais do que duas dezenas de aloprados, que vão lá exibir cartazes em favor dos criminosos.
 
25 de novembro de 2013
Reinaldo Azevedo

O LIVRO DE VILLA É A AUTÓPSIA DE UM EMBUSTE


Na edição de VEJA que está nas bancas, comentei o livro mais recente de Marco Antonio Villa: Década Perdida ─ Dez Anos de PT no Poder.
Segue-se o texto revisto e ampliado:

(Foto: Roberto Stuckert Filho)
(Foto: Roberto Stuckert Filho)

É muito milagre para pouco verso, constatam os brasileiros sensatos confrontados com o samba-enredo que canta as façanhas produzidas entre janeiro de 2003 e dezembro de 2013 pela fábrica de fantasias administrada pelo governo do PT.

A letra garante que Lula, escalado pela Divina Providência para dar um jeito na herança maldita de FHC, só precisou de oito anos para fazer o que não fora feito em 500 ─ e repassar a Dilma Rousseff uma Pasárgada da grife Oscar Niemeyer. E a sucessora só precisou de meio mandato para passar a presidir uma Noruega com praia, sol de sobra, Carnaval e futebol pentacampeão.

O único problema é que, até agora, nenhum habitante do país real conseguiu enxergar esse prodígio político-administrativo. Nem vai conseguir, avisa a leitura de Década Perdida ─ Dez Anos de PT no Poder (Record; 280 páginas; 45 reais), do historiador Marco Antonio Villa.

O Brasil maravilha registrado em cartório nunca existiu fora da imaginação dos pais, parteiros e tutores do embuste mais longevo da era republicana. Para desmontar a tapeação, bastou a Villa exumar verdades reiteradamente assassinadas desde o discurso de posse do produtor, diretor, roteirista e principal personagem da ópera dos farsantes.

“Diante das ameaças à soberania nacional, da precariedade avassaladora da segurança pública, do desrespeito aos mais velhos e do desalento dos mais jovens; diante do impasse econômico, social e moral do país, a sociedade brasileira escolheu mudar e começou, ela mesma, a promover a mudança necessária”, decolou Luiz Inácio Lula da Silva ao pendurar no peito a faixa entregue por Fernando Henrique Cardoso. “Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu presidente da República.”
A chegada do Homem Providencial à terra devastada, sem rumo e órfã de estadistas abriu o cortejo de bazófias, bravatas e invencionices que, para perplexidade dos que enxergam as coisas como as coisas são, parece ainda longe do fim.

Nunca antes neste país tanta gente foi ludibriada por tanto tempo, comprova a didática reconstituição conduzida por Villa.
Nunca se mentiu tão descaradamente sem que um único e escasso político oposicionista se animasse a denunciar, sem rodeios nem eufemismos, a nudez obscena do reizinho. Em férias desde o início do século, a oposição parlamentar assistiu passivamente à montagem do Evangelho Segundo Lula, uma procissão de fraudes que enfileira pelo menos um assombro por ano.

Já no primeiro, o salvador da pátria conferiu a todos os viventes aqui nascidos ou naturalizados o direito de comer três vezes por dia. E a fome acabou. No segundo, com a reinvenção do Bolsa Família, estatizou a esmola.
 E a pobreza acabou. Não pôde fazer muito em 2005 porque teve de concentrar-se na missão de ensinar a milhões de eleitores que o mensalão nunca existiu — e livrar os companheiros gatunos do embarque no camburão que só chegaria em 2013. Indultado liminarmente pela oposição e poupado pela Justiça, o camelô de si mesmo atravessou os anos seguintes tentando esgotar o estoque de proezas fictícias.

Festejou o advento da autossuficiência na produção de petróleo, rebaixou a marolinha o tsunami econômico, proibiu a crise americana de dar as caras por aqui, condenou a seca do Nordeste a morrer afogada nas águas transpostas do Rio São Francisco, criou um sistema de saúde perto da perfeição e inaugurou mais universidades que todos os doutores que o precederam no cargo, fora o resto. E sem contar o que andou fazendo depois de nomear-se conselheiro do mundo.

Dilma teve de conformar-se com o pouco que faltava. Fantasiou de “concessão” a privatização dos aeroportos, por exemplo. Por falta de fregueses, criou o leilão de um lance só para desencalhar o pré-sal. Acrescentou alguns metros à Ferrovia do Sarney. Obrigada a cuidar da inflação em alta e do PIB em baixa, deixou para depois o trem-bala mais lento do mundo. Mas melhorou extraordinariamente a paisagem do país já desprovido de pobres ao anunciar pela TV a completa erradicação da miséria.

Haja vigarice, gritam os fatos e estatísticas que Villa escancara numa narrativa clara, irrefutável e contundente. Lula escapou do naufrágio graças à política econômica de FHC, que não se atreveu a mudar, e à bonança financeira mundial só interrompida no crepúsculo do segundo mandato.
Sobrou para Dilma Rousseff: o “espetáculo do desenvolvimento” prometido pela herdeira só não perde em raquitismo para os de Floriano Peixoto e Fernando Collor, os dois mais retumbantes fiascos econômicos do Brasil republicano. 
Alheio aos problemas políticos e administrativos que comprometem o futuro da nação, o projeto do governo do PT está reduzido a um tópico só: eternizar-se no poder.

“O partido aparelhou o Estado”, adverte Villa. “Não só pelos seus 23 000 cargos de nomeação direta. Transformou as empresas e bancos estatais, e seus poderosos fundos de pensão, em instrumentos para o PT e sua ampla clientela. Estabeleceu uma rede de controle e privilégios nunca vista na nossa história.

Em um país invertebrado, o partido desmantelou o que havia de organizado através de cooptação estatal. Foram distribuídos milhões de reais a sindicatos, associações, ONGs, intelectuais, jornalistas chapa-branca, criando assim uma rede de proteção aos desmandos do governo: são os tontons macoutes do lulopetismo, os que estão sempre prontos para a ação.”
O Brasil perdeu outra década. O PT ficou no lucro. E Lula ganhou mais do que todos.

25 de novembro de 2013
in Augusto Nunes, Veja

DÍVIDA PÚBLICA ATINGE MAIOR PATAMAR DA HISTÓRIA EM OUTUBRO

Endividamento do governo dobrou para 2,023 trilhões de reais nos governos Lula e Dilma - recorde da série histórica do Tesouro

Produção de cédulas de notas de 50 reais na Casa da Moeda no Rio de Janeiro
Dívida pública: patamar de 2 trilhões foi ultrapassado em
outubro (Marcelo Sayão/EFE)

A dívida federal, que contabiliza os endividamentos do governo nos mercados interno e externo, avançou 1,69% em outubro ante setembro, para 2,023 trilhões de reais, o maior da série histórica, informou o Tesouro Nacional nesta segunda-feira.
A dívida chegou ao patamar de 2 trilhões apenas uma vez, em dezembro de 2012, segundo a série do Tesouro. Mas ainda ficou abaixo dos 2,02 trilhões verificados em outubro.
A série mostra ainda que a dívida pública dobrou entre 2004 e 2013, nos governos Lula e Dilma. 

Segundo o Tesouro, a dívida pública interna cresceu 1,91% em outubro, atingindo 1,934 trilhão de reais — impulsionada pelas emissões de títulos públicos no valor de 18,62 bilhões de reais e pagamento de juros de 17,53 bilhões de reais.
Do total das emissões feitas no mês passado, o Tesouro emitiu 2,350 bilhões de reais para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), usada para financiar a redução das tarifas de energia.
Já a dívida externa diminuiu de 2,73% em outubro para 88,5 bilhões de reais – contra 91,3 bilhões de reais no mês anterior.

Leia também:
 
Uma das principais causas do aumento da dívida na última década foi o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que recebeu 300 milhões de reais em repasses do Tesouro nos últimos quatro anos — na década, a dívida total aumentou em 1 bilhão de reais, ou seja, o BNDES responde por 30% do aumento.

Composição da dívida — Em relação à composição da dívida, os títulos prefixados atingiram 40,74% do total, ante 40,36% em setembro.
Os papéis corrigidos pela inflação somaram 35,04% do total, ante 35,10% no mês anterior. Já os títulos atrelados aos juros básicos ficaram em 19,95% do total, menor que os 20,04% no mês anterior.

Leia também:Mudança de regra de superávit pode sepultar (de vez) credibilidade do país

Entre os detentores dos papéis, a participação dos investidores estrangeiros caiu em outubro para 16,91%, frente 17,22% em setembro.

25 de novembro de 2013
(Com Reuters)

LULA VAN DAMME: CONTORCIONISMO DO PT

Vídeo satiriza a ótima campanha da Volvo, dessa vez mostrando a, digamos, ELASTICIDADE de Lula.

 
A essa altura, todos já devem ter visto a ótima propaganda da volvo, com o ator Van Damme. Se não, vejam agora.
Como é comum, as sátiras aparecem. E, diante dos fatos recentes, ninguém melhor que Lula para mostrar o que de fato é uma ABERTURA CONTORCIONISTA de pernas – e princípios.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=udZ7vNCE6NM

25 de novembro de 2013
Gravatai Merengue

NILTON SANTOS É INTERNADO NO RIO DE JANEIRO COM INSUFICIÊNCIA RESPIRATÓRIA

Ex-lateral da seleção brasileira sofre de mal de Alzheimer há cinco anos 
 
No último sábado, o ex-lateral-esquerdo do Botafogo e da seleção brasileira, Nilton Santos, foi internado no Rio de Janeiro.
De acordo com o clube carioca, que confirmou a informação, o ídolo sofreu insuficiência respiratória, mas a pedido da família, o nome do hospital em que ele permanece vem sendo mantido em sigilo.
Aos 88 anos, Nilton Santos foi diagnosticado com mal de Alzheimer em 2008 e vive em uma clínica da cidade.
 
 
Nilton Santos sofre de Alzheimer há 5 anos - Divulgação/Botafogo
Divulgação/Botafogo
Nilton Santos sofre de Alzheimer há 5 anos

 
Vale a pena ler  "A alegria de um coroa", por Armando Nogueira
 
 
Acordou bem cedinho. Estava louco para rever a sua cidade. Abriu a janela do apartamento e deu de cara com uma colossal manhã de sol, dessas que só mesmo o Rio de Janeiro é capaz de aprontar em pleno inverno.
 
Pois a história que agora te conto, leitor, passou-se no recente mês de agosto.

Para não perder tempo, que as férias eram brevíssimas, o nosso amigo tomou uma xicrinha de café preto, enfiou no bolso uma pera, pra mais tarde, e saiu pelo Aterro do Flamengo, feliz da vida, de bermudas e tênis "Conga".

Caminhava e distribuía seu contentamento entre as árvores do Aterro, boas amigas que ele já não via há dez anos, quando deixou o Rio para ir cuidar de uma fazendola no interior de Minas.

Pelas tantas, quis tomar sol. Despiu a camisa de malha, deitou na arquibancada do campinho de futebol de salão e assim ficou um tempão, entregue ao regozijo de merecido repouso. Tamanho era o sossego que até chegou a tirar uma soneca.

- Ei, moço! bom-dia!

Era a voz de um dos três garotos que chegavam com uma indisfarçável secura de bola.

- Quer fazer um racha com a gente? A gente joga dois-contra-dois.

Deitado estava e deitado respondeu, no embalo:

- Vamos lá, pelada é comigo mesmo!

Resoluto, levantou-se, sacudiu as pernas e foi logo entrando no campo. Um campo de barro. O dono da bola, um menino de seus quinze anos, fez a apresentação da turma:

- Eu sou o Marcio, esse aí é o Dico e aquele é o Leo.

Nem esperou que o coroa se identificasse. Queria mais era começar logo o racha.

- Olha aqui, vai ser eu e o Dico contra o senhor e o Leo.

Pela rapidez da escalação, o coroa sentiu que devia estar entrando numa fria: o bom de bola, ali, devia ser o Dico. Discretamente, deu uma olhada e viu que o Leo não tinha a menor pinta. De qualquer modo, chamou de lado o Leo e propôs uma chave: o Leo lá na frente, ele mais atrás. Antes, porém, um teste sem aparentar outra intenção a não ser aquecer o corpo: na verdade, queria mesmo era saber se o Leo era de bola, ou não.
 
Tocou a bola na direção do Leo para ver que bicho dava. A bola beliscou a canela do Leo. O coroa chegou a pensar em desistir. Um sujeito de 61 anos, meio barrigudo, cheio de cabelos brancos:

- Meu Deus, o que é que estou fazendo aqui no meio desses meninos; uns meninões de quinze anos?

O diabo é que ele já tinha aceito o desafio. Não ficava bem correr da raia. Afinal de contas, não era a primeira, nem seria a última vez que a vida metia o nosso coroa em batalhas decisivas.

No meio do campo, o dono da bola vai cantando as regras do jogo: a partida é de cinco. Quem fizer cinco primeiro, ganha. Não vale gol direto. Não pode pegar a bola com a mão, só se já começar no gol de saída.

E como ninguém sequer pensou em jogar no gol, a partida começa com os quatro na linha. No centro do campo de terra batida, a bola de futebol de salão, por sinal que um tanto surrada.

A saída, lógico, é do Marcio. Marcio pro Dico, Dico pro Marcio, que tenta um drible. O coroa, vigilante, rouba a bola e contra-ataca. Procura o Leo. O Leo ficou lá atrás, paradão, sem saber pra que lado ir. O coroa então chuta do meio do campo. Gol!

- Não vale - grita o Marcio - eu avisei ao senhor que não vale gol direto. O senhor tem que passar a bola pro Leo! Ou o Leo pro senhor!

Gol anulado, começa tudo de novo. Saída com o Marcio. O coroa pede tempo. Cochicha uma tática no ouvido do Leo.

Bola em jogo. O Leo dispara e vai ficar plantado bem juntinho da baliza, como pediu o coroa.

Em dez minutos, o time do coroa já está ganhando de três a zero, três gols do Leo. O esquema funciona bem, mas o jogo é incessante, lá e cá. Agora mesmo, o Dico acaba de fazer o dele: três a um. E o Marcio delira com a reação.

Nova saída. O coroa arranca pelo meio dos dois, parece um foguete; vai em frente e entrega, mais uma vez, embaixo dos paus para o Leo fazer o quarto gol.

A essa altura, o coroa já passeia pelo campo, absoluto. Por sua vez, o time adversário já esta literalmente descadeirado.

- Vai, pereba - berra o Marcio, colérico, para o Dico - Vai nele! Você não disse que o coroa não é de nada? Toma a bola dele, palhaço!

A dissensão nas hostes inimigas é profunda. O Marcio e o Dico vão acabar saindo na porrada. Pelo menos é o que pressente o coroa, achando, por isso, que o melhor é liquidar logo essa conta.

Vamos, então, mais que depressa ao quinto e derradeiro gol dessa inesquecível partida. Porque inesquecível, leitor, já, já saberemos.

O Marcio faz um passe longo para o Dico. O demônio do coroa, como sempre, adivinha a jogada, corta o centro com o peito em pleno ar e, antes que a bola caia no chão, amortece na coxa direita. Da coxa, a bola escorre para o peito do pé e pronto: uma, duas, três... o homem começa uma sucessão de embaixadas; faz nove em plena corrida. Na décima, depõe a bola na linha do gol, bem em cima da linha:

- Taí, Leo, faz o quinto e acaba logo o jogo.

- O Marcio, uma fera, vai apanhar a bola e nem volta para dizer até logo. O Dico sai de fininho, mal dá um tchau. O Leo, não, o Leo dá um abraço legal no companheiro de time.

O coroa senta de novo na arquibancada, tira do bolso a pera, dá uma mordida triunfal e fica ruminando, em silêncio, o bendito fruto de uma bela vitória.
 
Os três meninos foram embora sem saber que deram uma certa alegria ao coroa Nilton Santos, também chamado "A Enciclopédia do Futebol".
 
25 de novembro de 2013
(Com Blog Ancelmo Gois - O Globo)
O Estado de S. Paulo

"INDULTO NATALINO" PODE LIVRAR GENOÍNO E JEFFERSON, QUADRILHEIROS DE LULA

'Indulto natalino' pode livrar Genoino e Jefferson.  Decisão caberá a Dilma, que ainda não editou o decreto; pela Constituição, apenas o presidente da República pode conceder o benefício
 
 
A um mês do Natal, os ex-presidentes do PT José Genoino e do PTB Roberto Jefferson podem se livrar das condenações do processo do mensalão, caso venham a ser beneficiados pelo indulto. Reservadamente, os advogados de defesa e pessoas próximas aos condenados têm discutido pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a anulação das penas na prisão, em regime semiaberto, e multa contra os dois por conta do delicado estado de saúde por que passam.
  
Pela Constituição, somente o presidente da República tem poderes para conceder o indulto. Todos os anos a Presidência edita um decreto em que fixa novos parâmetros de extinção ou comutação (substituição de punição mais grave por mais branda) das penas de prisão e multa de condenados.
 
Como na maioria dos anos o benefício é divulgado às vésperas das festas de fim de ano, o decreto é popularmente chamado de "indulto natalino". Mas ele tem validade o ano todo, o que significa que o pedido pode ser feito a qualquer momento. Dilma Rousseff ainda não editou o decreto de 2013, o que deve ocorrer nas próximas semanas.
 
Cabe ao juiz de execução - que no processo do mensalão é o ministro Joaquim Barbosa -, declarar o indulto caso o condenado satisfaça todos os requisitos previstos no decreto. As defesas de José Genoino e Roberto Jefferson, que também é advogado criminalista, avaliam que seus clientes podem ser beneficiados pelos atuais parâmetros.
 
O pedido se baseia no Decreto n° 7.873, do ano passado, que prevê o indulto para seguinte hipótese: às pessoas "acometidas de doença grave e permanente que apresentem grave limitação de atividade e restrição de participação ou exijam cuidados contínuos que não possam ser prestados no estabelecimento penal".
 
Um levantamento feito pelo Broadcast Político nos decretos desde 1989 revela que, de 2010 até os dias de hoje, não tem havido mudanças no parâmetro para quem é acometido de "doença grave". O delator do mensalão, Roberto Jefferson, discute a possibilidade de pedir a extinção das punições após ser vítima de um câncer no pâncreas e ter sido condenado no ano passado pelo Supremo a 7 anos e 14 dias de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
 
Em outubro, a defesa do petebista pediu ao Supremo para ele cumprir pena em casa por conta do quadro de saúde "grave e irreversível". O Supremo rejeitou o pedido no último dia 13, mas Joaquim Barbosa disse que a situação poderia ser reavaliada no momento da execução da pena, prevista para ser decretada esta semana. Pessoas próximas ao petebistas, porém, já o aconselharam a pedir o indulto ao STF tão logo seja encerrado o processo (trânsito em julgado). Até o momento, não há uma decisão tomada.
 
Por parâmetros semelhantes aos do ex-presidente do PTB, José Genoino também pode avaliar entrar com o pedido. No final de julho, ele se submeteu a uma cirurgia para colocação de um implante para substituir a aorta do coração. Preso desde sexta-feira da semana retrasada, o ex-presidente do PT tem apresentado alterações na pressão arterial e teve aceito um pedido provisório de prisão domiciliar ou hospitalar.
 
Ele aguarda uma decisão definitiva sobre seu pedido de cumprir prisão em casa - Joaquim Barbosa deve decidir a questão nos próximos dias, quando deve receber um laudo da junta médica que avaliou Genoino no final de semana.
 
O advogado Luiz Fernando Pacheco, que defende Genoino, admitiu que está "em estudo" pedir indulto ao ex-presidente do PT. Pacheco, entretanto, não quis se pronunciar sobre os detalhes da estratégia. "Já estão indultados pelo menos dois: Roberto Jefferson e José Genoino", sustenta o advogado Luiz Francisco Corrêa Barbosa, ex-defensor de Jefferson no processo e amigo do ex-presidente do PTB.
 
Nos casos de Jefferson e Genoino, a declaração de indulto seria feita, segundo o decreto em vigor, após comprovação por laudo de médico oficial da "doença grave" ou, na falta do documento, avaliação de um médico designado por Joaquim Barbosa. Se o pedido for rejeitado, a defesa pode entrar com recurso para ele ser apreciado pelo plenário do Supremo ou impetrar um habeas-corpus na própria Corte, que seria distribuído para outro ministro - no recesso forense, época em que pedidos como esse podem chegar, o caso poderia ser decidido pelo vice-presidente do STF, Ricardo Lewandowski.
 
Além do advogado, o pedido de indulto pode ser feito pelo próprio condenado, cônjuge ou companheiro, parente e por várias instituições, como Defensoria Pública, Ordem dos Advogados do Brasil e Ministério Público.

25 de novembro de 2013
Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

DEPUTADO PRESO VAI RECEBER APOSENTADORIA INTEGRAL SEM TER DIREITO A ELA

          
Câmara confirma que deputado receberá R$ 26,7 mil em caso de invalidez
            
genoino no hospital em 21 de novembro de 2013 - Naira Trindade
Era só pressão alta

A Câmara confirmou que o deputado corrupto, José Genoino (PT-SP), mesmo sem completar os 35 anos de contribuição necessários, terá direito à aposentadoria integral de R$ 26.723,13 caso seja confirmada a condição de invalidez permanente. Enquanto os meros mortais suam a camisa para garantir uma aposentadoria miserável do INSS, o corrupto pode ser beneficiado pela manobra do PT, que pediu vista do processo contra Genoino.

Atualmente, ele já faz jus a R$ 20.004,16 que recebe pelos 24 anos e 6 dias de contribuição como parlamentar desde 1983. Caso seja cassado, Genoino passará a receber a aposentadoria proporcional, mas de acordo com a assessoria da Câmara, houve um pedido de antecipação da reavaliação de Genoino, originalmente prevista para janeiro de 2014, “em face do agravamento do estado de saúde do deputado”.

joaquim barbosa 2
Ele pode acabar com a bagunça

O pedido é uma clara tentativa de aposentá-lo com benefícios integrais, quando a cassação deixaria de ser opção. O único impedimento de mais uma mão boba no dinheiro do contribuinte é que o pedido está aguardando deliberação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, que não deu mole para o bando mensaleiro.

25 de novembro de 2013
André Brito