Em site, grupo apresenta casos e faz críticas ao programa do governo federal
O novo terreno de retaliação dos médicos brasileiros aos cubanos contratados pelo Programa Mais Médicos, do governo federal, é a internet. Um blog hospedado no endereço maismedicos.tumblr.com vem colhendo desde outubro receitas supostamente prescritas por médicos estrangeiros e que mostrariam desde dificuldade com a língua portuguesa até erros na escolha de medicamentos. As publicações, espalhadas pelas redes sociais, criticam a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Saúde, Alexandre Padilha.
Há casos como indicação de pacientes para oftalmologista cujo quadro clínico apresentado seria de “lagrimão tupido”, que não existe na literatura médica, além de indicações aparentemente equivocadas de antibióticos e até de medicamentos para Mal de Parkinson.
— O que está sendo denunciado realmente gera preocupação. As prescrições precisam realmente de uma boa avaliação desapaixonada, inclusive para saber da veracidade. Porque há casos de prescrição de antibióticos em que o paciente vai tomar uma medicação e não vai combater o agente infeccioso corretamente e ainda fazer com que essa pessoa passe a fazer resistência — diz o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Emmanuel Fortes.
Cubano diz que não se constrange com críticas
O GLOBO foi ao município de Santo Antônio do Descoberto (GO), a 50 km de Brasília, e conversou com um dos alvos dos profissionais brasileiros, o médico cubano Lázaro Raul Parra Ofarrill. Uma receita de sua lavra é exposta no site com críticas aos erros de português. Ofarrill confirmou que o documento exposto é de sua autoria e disse não se sentir constrangido.
— Não me incomoda. Eu gosto daqui, vim sozinho e a recepção é muito boa. Estão muito contentes com nosso trato — diz Ofarrill, de 44 anos, que trabalhou antes na Venezuela por seis anos e desde outubro mora na cidade goiana.
Ele minimizou também a crítica, feita por brasileiros na internet, que relatam frequentes encaminhamentos de pacientes atendidos pelos cubanos a médicos brasileiros:
— Nós somos a porta de entrada do sistema. Eu atendo a pacientes com nosso conhecimento. Se o paciente requer outro atendimento mais profundo, encaminho ele a outro especialista, porque somos médicos gerais integrais, como um clínico geral no Brasil. Nós atendemos a população mais necessitada, porque nenhum médico brasileiro ou de qualquer outro país que está trabalhando em hospitais gosta de ir para os lugares mais afastados.
A paciente Soraia Amâncio da Silva, 18 anos, que levava pela primeira vez a filha de 26 dias ao posto de saúde, dizia-se satisfeita com o atendimento.
— Antes não tinha médico aqui e o outro posto de saúde é muito longe. Ele foi bem explicativo e para eu entender bem (o que ele dizia) ele dava umas pausas — defende Soraia.
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que os profissionais do Mais Médicos são acompanhados por supervisores ligados a universidades públicas e fiscalizados pelos conselhos regionais de medicina. Ainda assim, o ministério afirma não ter encontrado erros nas prescrições expostas no site: “As denúncias sobre supostos erros publicadas pelo referido site foram verificadas e foi constatada diferença de prescrição e não erro. Até o momento, não temos a constatação de consequência adversa para o paciente em nenhuma das situações ali mencionadas”, diz o ministério.
07 de janeiro de 2014
Paulo Celso Pereira - O Globo
Há casos como indicação de pacientes para oftalmologista cujo quadro clínico apresentado seria de “lagrimão tupido”, que não existe na literatura médica, além de indicações aparentemente equivocadas de antibióticos e até de medicamentos para Mal de Parkinson.
— O que está sendo denunciado realmente gera preocupação. As prescrições precisam realmente de uma boa avaliação desapaixonada, inclusive para saber da veracidade. Porque há casos de prescrição de antibióticos em que o paciente vai tomar uma medicação e não vai combater o agente infeccioso corretamente e ainda fazer com que essa pessoa passe a fazer resistência — diz o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Emmanuel Fortes.
Cubano diz que não se constrange com críticas
O GLOBO foi ao município de Santo Antônio do Descoberto (GO), a 50 km de Brasília, e conversou com um dos alvos dos profissionais brasileiros, o médico cubano Lázaro Raul Parra Ofarrill. Uma receita de sua lavra é exposta no site com críticas aos erros de português. Ofarrill confirmou que o documento exposto é de sua autoria e disse não se sentir constrangido.
— Não me incomoda. Eu gosto daqui, vim sozinho e a recepção é muito boa. Estão muito contentes com nosso trato — diz Ofarrill, de 44 anos, que trabalhou antes na Venezuela por seis anos e desde outubro mora na cidade goiana.
Ele minimizou também a crítica, feita por brasileiros na internet, que relatam frequentes encaminhamentos de pacientes atendidos pelos cubanos a médicos brasileiros:
— Nós somos a porta de entrada do sistema. Eu atendo a pacientes com nosso conhecimento. Se o paciente requer outro atendimento mais profundo, encaminho ele a outro especialista, porque somos médicos gerais integrais, como um clínico geral no Brasil. Nós atendemos a população mais necessitada, porque nenhum médico brasileiro ou de qualquer outro país que está trabalhando em hospitais gosta de ir para os lugares mais afastados.
A paciente Soraia Amâncio da Silva, 18 anos, que levava pela primeira vez a filha de 26 dias ao posto de saúde, dizia-se satisfeita com o atendimento.
— Antes não tinha médico aqui e o outro posto de saúde é muito longe. Ele foi bem explicativo e para eu entender bem (o que ele dizia) ele dava umas pausas — defende Soraia.
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que os profissionais do Mais Médicos são acompanhados por supervisores ligados a universidades públicas e fiscalizados pelos conselhos regionais de medicina. Ainda assim, o ministério afirma não ter encontrado erros nas prescrições expostas no site: “As denúncias sobre supostos erros publicadas pelo referido site foram verificadas e foi constatada diferença de prescrição e não erro. Até o momento, não temos a constatação de consequência adversa para o paciente em nenhuma das situações ali mencionadas”, diz o ministério.
07 de janeiro de 2014
Paulo Celso Pereira - O Globo
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