"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 29 de março de 2019

A SITUAÇÃO É MUITO MAIS SÉRIA DO QUE PARECE...

O presidente da câmara dos deputados, Rodrigo Maia, insistia em alegar que para aprovar a reforma da previdência, seria necessário “negociar”. Postergou além de todos os limites da tolerância, impedindo propositalmente que o governo avance milímetros, na sua quilométrica caminhada em busca de resgatar valores e remodelar o país.

Para que se tenha noção do verdadeiro boicote, basta que se observem as dificuldades criadas para nomear a CCJ, em seguida um relator para o projeto; criação da embaraçosa e anômala comissão extraordinária (?) para analisar os impactos da reforma – quando já existe uma instalada e permanente – Comissão de Seguridade Social e Família, por onde tramitam obrigatoriamente todos os projetos (inclusive este) relacionados ao sistema previdenciário público, privado; urbano; rural…

Empecilhos para ganhar tempo e na primeira oportunidade, derrubar o governo. Olhando no retrovisor da história, ressurge as mesmas “forças ocultas” que levaram Jânio Quadros a renuncia (Agosto 1961).

O curioso é que para previdência, não tem votos suficientes. Mas, não faltou quorum para aprovar a PEC (legislando em causa própria), que torna o orçamento impositivo, obrigando o governo pagar as emendas de bancadas. Pouquíssimas pessoas sabem o que significa “emenda de bancadas” – banidas na era petista – sob pena do presidente se transformar em “Rainha da Inglaterra”. É um ato brutal, um estupro parlamentar (coletivo) no indefeso presidencialismo.

O povo ainda não tem noção da periculosidade deste parlamento e sua verdadeira ameaça a ordem democrática. Basta seguirmos os passos do seu presidente, olhar quem o acompanha, e o monstruoso fosso que ele está aprofundando para separar a câmara de um governo legitimamente eleito.

No final da semana que passou (22.03.2019) o sogro de Rodrigo Maia (pai por afinidade) Moreira Franco, estava preso no Rio de Janeiro. Pai por afinidade, porque seu pai biológico César Maia, quer vê-lo muito bem, mas, longe dele. Onde estava Rodrigo Maia, depois que visitou Gilmar Mendes?

Em São Paulo, ao lado do governador João Dória – já em campanha para presidente – armando para aprovar a PEC das emendas de bancadas impositivas.

Explicando melhor: um parlamentar (deputado federal) tem o limite de até 10 milhões de reais – roubo escandaloso do dinheiro do contribuinte – para apresentar no orçamento como emenda individual, destinando estes recursos a quem lhes interessar: prefeituras, ONG; Fundações…

Não se dando por satisfeitos, apresentam uma emenda de bancada. Reúnem-se e propõem valores estratosféricos para serem “investidos” em seus Estados. O lobby dos deputados, o governador paga. Imagine São Paulo? São 70 deputados federais. E no restante do país? Multipliquemos por 513 para atender 27 Estados! Se o presidente não cumprir? Será cassado por improbidade administrativa. Acreditam?

Uma luta desigual… Enquanto o novo governo economiza um ou dois bilhões, a câmara cria uma despesa impositiva que leva tudo que foi poupado. Cabe ao Senado agora, cumprir com seu papel de “Casa Revisora” e derrotar esta propositura. Mas, será que este foi o preço “negociado” pelo superministro Paulo Guedes? Se não resistiu a pressão, abriu a porteira. Roubar, trair e coçar, é só começar.

Segunda etapa do previsível golpe está sendo protagonizada pelo PT. No Brasil as ideologias sempre foram desprezadas quando entrou em cena o poder e o dinheiro. Mais de 200 assinaturas já foram colhidas para apresentar uma PEC destituindo a função do vice-presidente da republica.

Caso o titular seja cassado ou ocorra algo que não possa concluir seu mandato, o vice-presidente assume apenas por 90 dias e convocará novas eleições, realizadas inclusive de forma indireta, pela câmara dos deputados.

A “velha mídia”, silencia e pauta o debate da reforma, discussão semelhante a dos sexos dos anjos pela Igreja Católica, que perdurou por seis séculos, para decidirem que anjos não têm órgãos reprodutivos como as espécies.

Estão conspirando para engessar o governo até o final do ano – apostando num inevitável desgaste – e em 2020, derrubam Jair Bolsonaro, levando com ele também seu vice Hamilton Mourão. Até dezembro, a oposição começará protocolar pedidos de impeachment.

O maior erro do presidente Jair Bolsonaro – conhecendo a casa onde esteve por 27 anos – foi ter confiado que o seu superministro Paulo Guedes tinha conquistado Rodrigo Maia, a quem apoiou para continuidade na presidência da câmara.

Teria sido melhor um “petista”, pelo menos o eleitor de Bolsonaro entenderia que qualquer manobra, seria “armação” de um inimigo derrotado, rancoroso e revanchista. Alguém lembra o que fez a câmara dos deputados em 2017 e 2018? Rodrigo Maia foi imposto como presidente, pelo seu sogro (pai político) Moreira Franco, ministro de Michel Temer e ex-primeiro escalão da gestão Dilma Rousseff. Como ele pagou a Temer?

Acatando duas denuncias que pedia seu impeachment, promovendo uma das maiores “farras” da história feita com o dinheiro público. Foram 15 milhões para cada deputado em cada uma das duas votações.

Depois “negociou” mais duas PEC. A da reforma trabalhista e da previdência. Recebeu pelas duas e entregou apenas uma. Em dezembro (2018) sabendo que não tinha chances de voltar a presidir a mesa diretora, garantiu aprovar a reforma da previdência até a posse da nova legislatura em fevereiro. Quando se sentiu eleito, alegou indisposição dos derrotados, mas garantiu que no final de março o caso estaria resolvido. Sem o menor pudor, jogou para Abril.

Antes da prisão do “sogrão”, estimou junho. Agora… Final do ano. Se o povo não for às ruas e enquadrá-lo… Ele e seus comparsas botarão abaixo o atual governo.



29 de março de 2019
Recebido por email
Auor não identificado

"O BRASIL ESTAVA SUBMISSO E ESTÁ SENDO LIBERTO DAS AMARRAS DO COMUNISMO E DO FORO..."

SEM PRISÕES EM SEGUNDA INSTÂNCIA, A JUSTIÇA PERDE A CREDIBILIDADE

O QUE ACONTECEU EM 1964

GILMAR MENDES NEGA VETO ÀS COMEMORAÇÕES DO GOLPE DE 64

Decisão do ministro do STF não interfere na decisão da Justiça do DF de proibir as celebrações

Gilmar Mendes, ministro do STF (Igo Estrela/Getty Images)

O ministro do STF, Gilmar Mendes, negou proibir as comemorações do golpe de 64. A decisão não interfere na sentença proferida pela Justiça Federal do DF, que vetou as comemorações no dia 31 de março, data que marcou o início da ditadura militar no país. O motivo é que os processos são diferentes e o ministro do Supremo não julgou o mérito da questão, mas, sim, o pedido.

A ação que pediu a proibição da celebração do golpe foi feito pelo Instituto Vladmir Herzog e vítimas da ditadura, com base nas declarações do porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros. 
O ministro reconhece a sensibilidade do tema para a sociedade brasileira, mas afirmou que a fala do porta-voz não era ato concreto de questionamento na corte. 
Em uma decisão longa, o ministro do Supremo lembrou dos anos do golpe até a redemocratização.

“Os anos de 1964 a 1985, também conhecidos como “anos de chumbo”, são parte da nossa história, da história jurídica e política do Brasil e da história do constitucionalismo brasileiro. Como todo fato histórico, comporta interpretações determinadas pela perspectiva de cada intérprete: suas experiências, suas ideologias, seus valores, suas vidas”, disse na sentença.

Mendes prosseguiu, afirmando que a existência de diferentes interpretações sobre o mesmo fato histórico “é, justamente, o que temos em mente ao pensar em pluralismo […] A democracia também exige cuidado com a proliferação de informações, especialmente quando descontextualizadas ou disseminadas com o intuito de gerar manchetes que não correspondem integralmente à verdade factual com todo seu contexto”.


28 de março de 2019
Revista Exame

AFINAL, O NAZISMO FOI DE EQUERDA OU DE DIREITA? - PARTE 1


Hitler vistoria tropas da SA e da SS na Alemanha.

“O marxismo-leninismo já não pode ser concebido simplesmente como ‘racional e construtivo’, e o fascismo como simplesmente ‘irracional e destrutivo’. Os principais marcadores utilizados no passado para distinguir entre a esquerda e a direita foram perdidos” (A. James Gregor, As Faces de Janus: marxismo e fascismo no século 20)

Na última semana, ressurgiu com força um debate que, de tempos em tempos, irrompe desavisadamente nas redes sociais e na imprensa: a questão do lugar ocupado pelo nazismo no espectro político. 

Seria o nazismo de direita (como normalmente se acredita) ou de esquerda (como defendem alguns contestadores)? 
O gatilho para a nova rodada de discussões tão mal conduzidas quanto inúteis foi um vídeo postado no Facebook pela Embaixada da Alemanha no Brasil, no qual se afirmava a importância da memória do Holocausto para a sociedade alemã contemporânea e se condenava o renascimento do “extremismo de direita” no país.

Entrando de gaiato no ambiente de intensa polarização política que marca a presente corrida eleitoral brasileira, o material provocou uma inusitada chuva de comentários críticos por parte de internautas de direita, que, desejando naturalmente se livrar da batata quente, questionaram a pertinência daquela classificação, sugerindo, ao contrário, ter sido o nazismo um movimento de extrema-esquerda, porque, afinal, seu partido levava o nome oficial de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. 
Como não podia deixar de ser, internautas de esquerda empurraram a batata quente de volta à origem. Respaldados pela versão ortodoxa, que aprendemos desde os tempos do ensino fundamental, fizeram troça dos contestadores, sob o argumento triunfal de que “todo mundo sabe que o nazismo é de direita, ora bolas”.

Surpreso com tamanha repercussão, o chefe da missão diplomática alemã no Brasil, Georg Witschel, deu a vitória final aos ortodoxos, afirmando não haver na Alemanha nenhuma “voz séria” que classificasse o nazismo como de esquerda, e decretando a ignorância ou a desonestidade como as únicas causas possíveis da polêmica. 
Exultantes, os vitoriosos (dentre os quais, curiosamente, se incluíam muitos jornalistas da grande imprensa) aproveitaram a deixa para zombar ainda mais de seus interlocutores, tratados como um bando de brasileiros caipiras que, segundo eles, “passavam vergonha querendo ensinar história do nazismo aos alemães”.

Com espantosa arrogância, o jornal O Globo arvorou-se o papel de fiscal oficial do cânon historiográfico, denunciando o que chamou de fake history (a mais recente atualização do rótulo difamatório “fake news”, com o qual a grande imprensa procura estigmatizar qualquer informação que conteste o jornalismo de péssima qualidade que ela vem praticando ao longo dos últimos anos), e exibindo o seguinte quadrinho, mediante o qual procurava intimidar previamente algum leitor mais cético: “Mito: O nome era Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, logo, de esquerda. Consenso: A palavra ‘socialista’ era um chamariz (sic). O nazismo era de extrema-direita”.

Sim, para o jornal O Globo, o fato de Adolf Hitler e seus seguidores se dizerem socialistas não passava de um maroto golpe de marketing. Eis o que acontece quando o estagiário é abandonado na redação com a ordem expressa de manipular a informação, mas sem quaisquer instruções específicas de como fazê-lo.

Dispomos hoje de amplo acesso a uma quantidade gigantesca de fontes sobre o nacional-socialismo, incluindo memórias e diários privados de alguns dos mais próximos colaboradores de Hitler, nomes como Albert Speer, Hermann Rauschning, Otto Wagner e o próprio Joseph Goebbels. 
O que o exame desse material nos permite concluir é o exato oposto do que, por meio de seu estagiário, o jornal O Globo tenta nos impor como verdade histórica inquestionável. 
Era justamente o discurso antibolchevique que Hitler julgava interessante proclamar em público, a fim de inflamar o ânimo dos seguidores. 
Já a sua dívida intelectual para com o socialismo marxista só costumava ser confessada em privado, a amigos e aliados íntimos. “Aprendi muito com o marxismo, e não tenho medo de admiti-lo”, ele confessou a Rauschning em certa ocasião. Como escreve o historiador britânico George Watson: “Hoje está claro, para além de qualquer dúvida razoável, que Hitler e seus associados viam-se como socialistas, e que outros, incluindo social-democratas, também assim os consideravam. O título nacional-socialismo era tudo menos hipócrita. Até 1945, as evidências eram mais privadas que públicas, o que talvez seja em si mesmo significativo”.

A discussão recente ilustra bem o nível médio do debate público no Brasil contemporâneo, com seu festival de bravatas, carteiradas, argumentos de autoridade e muito histrionismo de parte a parte. 


Colocado diante dessa poluída urbe de simplificações, frases feitas e meias-verdades manipuladas, o estudioso sério não pode, é claro, se deixar intimidar. 
Quem quer que pretenda compreender adequadamente o fenômeno do nacional-socialismo deve agir como o anacoreta a caminho do deserto, escapando desse zum-zum-zum tão letal para a inteligência. 
Deve, sobretudo, rejeitar os termos do debate tal como têm sido postos. 
Livre do jogo de aparências e interesses mesquinhos que o cercam, e tendo dedicado tempo a devorar estoicamente seleta bibliografia, o interessado no assunto não tardará a perceber o seguinte: a opinião heterodoxa segundo a qual o nazismo é inequivocamente de esquerda (interpretação simplista baseada em imprecisão conceitual, bem como no desprezo por diferenças significativas entre o nazismo e o socialismo de matriz marxista) não é mais embaraçosa do que a ortodoxia, a que “todo mundo sabe”, segundo a qual ele é inequivocamente de direita (interpretação também carente de justa definição prévia, e que padece do problema simétrico e inverso, qual seja o de ignorar semelhanças fundamentais entre o nacional- e o internacional-socialismo).

O fato é que um assunto de tamanha complexidade não é coisa para palpiteiros e amadores. E, claro está, não pode ser equacionado pelo decreto informal de um burocrata a quem, mesmo sendo alemão, não se deve conceder a priori tamanha autoridade intelectual, assim como a um burocrata brasileiro não se deve necessariamente conferir o título de expert em história do Brasil. Até porque, ao recorrer ao argumento da ausência de “vozes sérias” classificando o nazismo como de esquerda, o referido burocrata alemão diz, quando muito, uma meia-verdade, ignorando que alguns dos mais importantes estudiosos dos movimentos de massa do século 20 (nomes como Leszek Kolakowski, Vassily Grossman, Jacob L. Talmon, Eric Voegelin, Hannah Arendt, Friedrich Hayek, Erik von Kuehnelt-Leddihn, Hans Maier, Juan J. Linz, Alain Besançon, Pierre Chaunu, Eric Hoffer, George Orwell, Richard Overy, Robert Conquest, John Gray, Stanley Payne, A. James Gregor, entre muitos outros) também tendem a rejeitar a associação fácil e imediata entre nacional-socialismo e direita, como se se tratasse de movimento essencialmente anátema ao socialismo marxista. 
Mutatis mutandis, esses autores chegaram à conclusão de haver mais semelhanças que diferenças entre os dois tipos de socialismo, justificando que ambos fossem tratados como espécies de um mesmo gênero de fenômenos revolucionários, às vezes agrupados sob o conceito de “totalitarismo” (Arendt, Orwell, Conquest, Hayek), às vezes sob o de “religião política” (Voegelin, Meier, Linz), ou mesmo de “milenarismo político” (Talmon, Gray). 

Ademais, no meio acadêmico especializado, a dicotomia esquerda vs direita tem sido amplamente contestada como ferramenta heurística adequada à compreensão de movimentos como o nazifascismo
Nas palavras do cientista político A. James Gregor, professor emérito da Universidade da Califórnia (Berkeley) e um dos maiores especialistas contemporâneos em fascismo: “Por mais conveniente e instrutiva seja a distinção entre direita e esquerda no âmbito da política local, ela é amplamente irrelevante no tratamento dos movimentos revolucionários que moldaram o cenário internacional nos últimos 100 anos”. 
Como se vê, o autor não teve a sorte de aprender com os notáveis especialistas da redação de O Globo que a identificação entre nazismo e direita é um “consenso” absoluto, que só um idiota ousaria contestar.

Pretendo, a partir deste que deverá ser o primeiro de uma série de artigos dedicados ao assunto, recolocar o debate no trilho certo, compartilhando com os leitores algo do que aprendi ao longo de quase uma década de estudo sobre as ideologias revolucionárias modernas. 

Para se compreender adequadamente o fenômeno, é preciso antes de tudo lidar com a longa história das interpretações do nazifascismo – ou daquilo que, na literatura especializada (ver autores como Roger Griffin, Robert O. Paxton, Stanley Payne, entre outros), se convencionou chamar de “fascismo genérico”, de modo a diferenciá-lo do fascismo de Mussolini propriamente dito. Além disso, há de se enfrentar o complexo problema das definições conceituais, sem as quais todo esforço comparativo se torna um trabalho de Sísifo.

“Ao fim do século 20, é provável que fascismo continue sendo o mais vago dos principais conceitos políticos” escreveu o historiador Stanley Payne logo no primeiro parágrafo de Uma História do Fascismo (1914-1945), obra de referência sobre o tema, manifestando uma inquietação que tem perturbado pesquisadores profissionais durante décadas, mas que não parece ser nem sequer concebida pelos jornalistas brasileiros. 
Payne acrescentou ainda: “Fascista tem sido uma das pechas políticas mais recorrentemente utilizadas, normalmente como sinônimo de ‘violento’, ‘brutal’, ‘repressivo’ ou ‘ditatorial’. No entanto, se fascismo não significar nada além disso, provavelmente seria preciso classificar os regimes comunistas, por exemplo, como os mais fascistas de todos, destituindo a palavra de qualquer especificidade funcional”.

Abordando, com o máximo de profundidade permitido pelos limites de um texto jornalístico, aqueles dois elementos do problema – o do histórico de interpretações e o das definições –, pretendo fornecer aos leitores os instrumentos para um juízo fundamentado sobre o debate, sem me esquivar do dever de, ao fim do trajeto, apresentar a minha própria conclusão pessoal. 
O objetivo é incentivar os leitores a que não se deixem pautar nem pelos falsos consensos impostos a fórceps por uma classe falante habituada a mascarar a própria ignorância mediante o controle hegemônico dos meios de formação da opinião pública; nem, tampouco, por contestações superficiais, pouco embasadas e politicamente tendenciosas.

Quem afirma seguramente que o nazismo foi um movimento de extrema-direita deveria, no mínimo, antes de repeti-la por aí feito um papagaio, conhecer a origem dessa interpretação. Suspendendo, por ora, uma apreciação do seu mérito, convém lembrar que ela nasce dentro do campo intelectual marxista-leninista, e que, portanto, é politicamente marcada desde o início, sendo tributária das premissas gerais do materialismo histórico. O contexto para o surgimento dessa interpretação é a guerra intestina irrompida no seio do marxismo italiano por ocasião da Primeira Guerra Mundial, uma cisão que opôs os “marxistas renegados” (Mussolini e seguidores) aos marxistas ortodoxos – os primeiros favoráveis à entrada da Itália na guerra; os segundos, mais fiéis ao internacionalismo socialista, contrários. 
O fascismo surgia como uma “heresia do socialismo” (aliás, assim como o bolchevismo, segundo o historiador Richard Pipes).

Aquela luta fratricida foi tão intensa que, eventualmente, a vertente ortodoxa começou a negar peremptoriamente as origens marxistas dos primeiros fascistas, passando a atribuir a “deserção” de seus antigos quadros à venalidade pessoal e ao oportunismo. 
O próximo passo na lógica da negação foi conceber o próprio fascismo como um todo, justamente com os seus “apóstatas” marxistas, como venal e oportunista. Daí para a formulação final de que o fascismo era um “instrumento da burguesia” ou do “capital financeiro” foi um pulo. Imediatamente após a famosa Marcha sobre Roma de 1922, os marxistas-leninistas italianos puseram-se a produzir vasta literatura teórica pretendendo explicar o caráter necessariamente “reacionário” e “direitista” do fascismo, uma literatura que acabaria dando forma às concepções de toda a intelligentsia esquerdista ocidental acerca do fenômeno. 
A interpretação encaixou-se tão bem nos esquemas conceituais preconcebidos de tantos marxistas europeus que, por mais de um século, se manteve como parte inerente da sabedoria folclórica da ciência política. 
A partir de então, o fascismo seria para sempre concebido como uma patologia política, uma excrescência “de direita, reacionária e desumana”, ao passo que o marxismo-leninismo seria tido por “de esquerda, progressista e humanista”. 
Como veremos nos próximos artigos, mesmo que essa visão não tardasse a ser contestada dentro da própria tradição intelectual marxista, ela continua até hoje sendo reproduzida no senso comum midiático, como o confirma a querela em torno do vídeo da embaixada alemã.

29 de março de 2019
Flávio Gordon

DESTRUIÇÃO CRIMINOSA DA AUTOESTIMA E DA DIGNIDADE NACIONAL

CRIMES DO COMUNISMO CUBANO QUE A ESQUERDA NÃO CONTA

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