"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

SATURAÇÃO

Os meu amigos talvez tenham estranhado o silêncio, a ausência de matérias postadas, durante esse início de ano. Creio que precisamos respirar ares menos fétidos, que transpiram desse noticiario político cotidiano, essa interminável lamentação de uma política medíocre, em que se debatem essas farsas de direita, esquerda, centrão, centro disso, centro daquilo... uma guerra para assumir o controle, o poder, o centro das decisões, em que se ditam as regras para continuar esse descaminho, com as mesmas figurinhas, que apenas usufrem absurdas mordomias. Se vistas em algum país, por favor, me informem.

Monteiro Lobato dizia, há muitos anos atrás, que o mal do Brasil eram as saúvas. Hoje temos uma nova espécie de saúva, que destrói, arrasa, corrompe, não apenas o campo, mas um país inteiro. 

Esse é o novo câncer que assola o nosso pobre país... Talvez 'novo' seja um exagêro, pois que nossa história registra a presença das saúvas, já faz muito tempo!

Vivemos, ainda, aquela condição que o escritor S. Zweig, denominou "país do futuro"...

(Brasil, País do Futuro (Brasilien: Ein Land der Zukunft), é o título em português da obra do autor judeu-austríaco Stefan Zweig, que no final da metade do século XX se radicou na cidade fluminense de Petrópolis, fugindo do nazismo.

Segundo seu principal biógrafo, Alberto Dines, a obra constitui-se em "caso único de livro convertido em epíteto nacional"; foi recebida fora do país como uma revelação, mas também com incompreensão.[1] Dines publicou, ainda, um histórico do próprio livro, intitulado "Stefan Zweig no país do futuro – a biografia de um livro".) (Wikipédia)

O temor é que diante da sanha voraz das saúvas, esse futuro nunca chegue! Que continuemos assistindo esse triste espetáculo da corrupção!

Há momentos, em que precisamos nos desligar desse "mimimi" de cronistas e comentaristas políticos, que se repetem em denúncias, que alimentam um noticiário escabroso de desmandos e fraudes, de desmonte das instituições, até mesmo da própria Constituição, que já virou letra morta, sem eficácia para impor limites ao desrespeito dos direitos civis, dos direitos de cidadania, sem mais autoridade para limitar o arbítrio e o autoritarismo.

Mas a denúncia é importante! diria alguém, ou muitos 'alguéns'!

Será que a denúncia, pura e simplesmente, é tão importante assim, se não há respostas imediatas, punindo, ou coibindo a incidência? Será que a denúncia simplesmente, que apenas alimenta notíciários, não termina por ser coadjuvante da inércia dos poderes e da construção de uma injustiça crônica? Será que a denúncia, com o tempo, não termina por consolidar a corrupção, tornando-a um fato banal, que já faz parte da "política", criando a imagem da "banalidade", e que termina assimilada pela sociedade como um "aspecto da política"? Quem não se lembra "do rouba, mas faz??"

Pois é... Enquanto as saúva agem, não tão silenciosamente e sob o manto do poder, o cidadão fica entregue ao "futuro"... E gerações são condenadas a verem o espetáculo do desenvolvimento nos demais países, e sonharem em 'tirar a poeira das sandálias' e migrarem para o "sonho do futuro" em terras estrangeiras! 

Brasil, país do futuro...

08 de janeiro de 2025

prof. mario moura


A FICÇÃO CHAMADA NATAL

  A FICÇÃO CHAMADA NATAL

O Natal tornou-se uma ficção! Uma grande ficção! Paro para refletir: o que celebramos nesta data, em que supostamente, teria nascido o Salvador, o Cristo?

Uma pergunta simples, mas que nos envergonhamos ao responde-la. Seria a festa da chegada da Boa Nova, a vinda do Amor, do "amai-vos uns aos outros, como eu vos amei!" Ou a realidade nos diz que "não se trata mais disso?" 

São outros tempos, e o Cristianismo tornou-se apenas uma crença, sem compromisso, ou obrigações com os meus semelhantes. 

Aliás, constumo interrogar-me, vez ou outra: quem é o meu próximo?" Nesse turbilhão de individualismos, quem é o meu próximo? Aquele que concorda comigo, aquele que divide comigo o conforto de uma mesma classe social, e que não me obriga a aceitar que divida seus sofrimentos comigo, ou aquele que apenas me convida para o riso fácil, o divertimento, a alegria?

Pergunta um pouco mais difícil, também é possível de ser feita: em que se transformou o ser humano? Quando foi que aguçamos nossas garras, quando aumentamos a ganância, quando ampliamos o nosso ego, que nos engoliu?

Ou será que tal pergunta é ociosa, pois que sempre tivemos as garras afiadas, pois que sempre fomos gananciosos, porque sempre invejamos a riqueza alheia?

Milhares de pessoas morrendo em guerras sucessivas, na Ucrânia, na Coréia do Norte... Centenas de mísseis sobre Israel, civis palestinos vítimas de bombardeios... A ferocidade de organizações terroristas... guerras que sequer sabemos onde estão ocorrendo...

No banquete de Natal, com a família em torno de uma farta mesa, com boas bebidas, esquecemos que logo ali na esquina, um desabrigado, encolhido tenta dormir, burlando a fome e o frio.

Quão distante estamos dessa "promessa" do Cristo!!

Quantos indigentes estão a espera de uma esmola...

O exercício da consciência, nos encurrala em becos sem saída! Ou nos conformamos com a miséria humana, ou invejamos a coragem dos missionários que se internam em povoados da África, ou até mesmo aqui, no sertão nordestino, com a escassez que revela o milagre da vida continuar existindo, apesar de curta e sofrida.

Como escrever uma crônica de Natal, quando a realidade do nosso mundo é um soco na boca do estômago? Fechar os olhos e a consciência para o sofrimento de grandes agrupamentos humanos, que nos cercam, seria uma solução? Começo a crer que sim, pois que assim vivemos, nos esforçando para não enxergar as dores que assolam a vida de milhares de pessoas ao nosso redor.

As crianças abençoadas esperam Papai Noel, para trazer-lhes os sonhados presentes de Natal!! Porque as crianças são a luz do mundo!

Ingênuas, elas esperam Papai Noel,  porque esquecem o sofrimento e a amargura, até mesmo a sede, as dores e a fome, enfeitiçadas que são, quando olham as luzes coloridas que enfeitam as cidades.

Ainda assim, diante da nossa cegueira, alimento secretamente a esperança de que a exaustão de tanto sofrimento, acordará o coração do homem, porque a vida é bela e exuberante!

Termino, lembrando-me do que disse Carl Sagan:

"Diante da vastidão do espaço e da imensidão do tempo, é uma alegria partilhar um planeta e uma época com vocês."

03 de dezembro de 2024

prof.mario moura