"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 27 de julho de 2018

O ABRIDOR IMAGINÁRIO

Quem propuser uma Previdência de capitalização terá de explicar como bancar a transição

Um físico, um químico e um economista estão numa ilha deserta, com latas de comida salvas do naufrágio, mas sem o abridor. Os dois primeiros sugerem métodos para abrir as latas baseados em suas especialidades, ambos, porém, impraticáveis. Cabe ao economista anunciar que tem a solução para o problema: "Supondo que temos um abridor de latas...".

A piada é antiga, mas surpreendentemente atual no nosso contexto, em particular no que diz respeito à reforma da Previdência. Economistas, tanto os ligados a Ciro Gomes como os a Jair Bolsonaro, defendem a transição do atual regime previdenciário, de repartição —em que os trabalhadores hoje ativos transferem recursos aos aposentados— para capitalização —em que cada pessoa recebe como aposentada aquilo que poupou ao longo de sua vida.

A vantagem no caso seria a virtual impossibilidade de déficits, desde que o sistema seja bem desenhado: como cada um recebe apenas o que poupou, não há, por definição, insuficiência de recursos que obrigue o governo a cobrir a diferença entre a arrecadação e o gasto (na verdade, como também se propõe que haja um regime de repartição para os de menor renda, há a possibilidade de algum déficit, mas bem menor que o atual).

Como é que ninguém pensou nisso antes?

A verdade é que muita gente pensou; apenas, ao contrário desses economistas, não supôs que possuísse um abridor de latas.

O cerne da questão é simples. Se pudéssemos começar um sistema previdenciário do zero, provavelmente montaríamos um regime de capitalização; o problema é que não podemos!

Considerando apenas o INSS, há cerca de 30 milhões de aposentados e pensionistas, que receberam nos últimos 12 meses algo como R$ 570 bilhões (aproximadamente R$ 1.460/mês). Esse valor é (parcialmente) bancado por 52,5 milhões de contribuintes, que recolheram R$ 381 bilhões no mesmo período, considerando tanto a parcela dos segurados como das empresas que os empregam (mesmo encargos que são "pagos" pelas empresas acabam recaindo em larga medida sobre os trabalhadores na forma de salários mais baixos). O resultado é um déficit de R$ 189 bilhões, coberto pelo Tesouro Nacional.

Caso, porém, houvesse a mudança para o regime de capitalização, as receitas atuais cairiam, pois os trabalhadores ativos passariam a depositar suas contribuições em contas individuais, o que aumentaria o déficit do atual regime.

É verdade que a atual geração de aposentados desaparecerá (perdão, mas faz parte da condição humana), porém, enquanto isso não acontecesse, o Tesouro Nacional teria de bancar a transição. Seu custo exato depende de muitas variáveis (até mesmo a redução do teto das aposentadorias, tema do qual os candidatos fogem mais rápido do que o diabo da cruz), mas a discussão é acadêmica, pois o Tesouro (mesmo descontado o resultado do INSS) não é superavitário o suficiente para cobrir a perda de receita.

É possível usar truques para mascarar as alternativas, mas não há como fugir delas: redução no valor das aposentadorias remanescentes no regime de repartição, aumento de tributos e elevação da dívida, ou, mais provavelmente, uma combinação dos três.

A conclusão é inescapável: quem propuser uma reforma previdenciária nesse sentido tem também de deixar muito claro como pretende bancar o custo da transição. Se não o fizer, pode estar certo de que possui um abridor de latas imaginário...


27 de julho de 2018
Alexandre Schwartsman
Consultor, ex-diretor do Banco Central (2003-2006). É doutor pela Universidade da Califórnia em Berkeley.
Folha de SP

SIMPLESMENTE VERGONHOSO

O PT apequena-se ainda mais ao se vangloriar dos seus próprios erros, como no episódio de domingo, quando tentou tirar Lula da Silva da cadeia

Três parlamentares de um mesmo partido realizaram uma manobra jurídica para tentar livrar da cadeia, contra todas as regras do Direito, o líder máximo da legenda. Foi por pouco, mas as autoridades judiciais conseguiram a tempo desvelar a malandragem, pondo fim à nefasta tentativa de burlar o Judiciário em favor da impunidade do político. Uma vez revelada a tramoia, seria de esperar que o referido partido estivesse profundamente envergonhado com a atitude de seus três parlamentares. A tentativa de ludibriar o Judiciário é grave atentado contra o País e contra a moralidade pública.

Foi o que o PT viveu nos últimos dias, só que ao contrário. Em vez de ficar profundamente consternada, a legenda tem se mostrado orgulhosa da manobra dos deputados Wadih Damous, Paulo Pimenta e Paulo Teixeira, que tentaram burlar o princípio do juiz natural a fim de tirar Lula da Silva da cadeia. Sem nenhum argumento jurídico que pudesse fundamentar a soltura do ex-presidente, eles impetraram um pedido de habeas corpus baseados tão somente no fato de que, na ocasião, o plantonista do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4.ª Região era o desembargador Rogério Favreto, cuja carreira tem fortes ligações com o PT.

Trata-se de verdadeira pirraça com o Estado de Direito. Desde domingo, lideranças petistas têm defendido a estapafúrdia ideia de que um magistrado, manifestamente incompetente para atuar no caso e manifestamente ligado ao partido, pudesse expedir alvará de soltura para o seu líder, que cumpre pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com isso, o PT deu mais um passo para a desmoralização das instituições. Como se não bastasse promover o aparelhamento do Estado nos anos em que esteve no governo federal, o PT postula abertamente que as pessoas indicadas pela legenda continuem a trabalhar em seu benefício, a despeito do que a lei determina. O desembargador Rogério Favreto foi nomeado ao TRF-4 pela presidente Dilma Rousseff.

Sem solução de continuidade, o PT também pôs em andamento virulenta campanha contra as autoridades judiciais que desvelaram a manobra dos três deputados. Em completa inversão dos fatos, disseram que o juiz Sérgio Moro, que foi o primeiro a destacar que o alvará de soltura tinha sido expedido por quem não tinha direito de fazê-lo, havia agido por conta própria, o que seria a prova de seu ativismo antipetista.

Ora, foi o próprio desembargador Favreto que intimou o juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba a manifestar-se sobre a soltura de Lula. “Solicite-se ao juízo de primeiro grau que, no prazo de cinco dias, se entender necessário, preste esclarecimentos adicionais que reputar relevantes para o julgamento desta impetração, ressaltando que o transcurso do prazo sem manifestação será interpretado como inexistência de tais acréscimos”, escreveu o plantonista no seu despacho de domingo de manhã.

Fez bem, portanto, o juiz Sérgio Moro em atender com diligência à solicitação do desembargador Favreto para que apresentasse os devidos esclarecimentos. Havia erros crassos na decisão, que necessitavam ser retificados com urgência, para evitar danos maiores. O juiz da 13.ª Vara Federal de Curitiba lembrou que o desembargador plantonista não tinha competência para atuar no processo. Moro também apontou outro erro básico contido no pedido de habeas corpus impetrado pelos três deputados petistas: tendo sido a prisão de Lula determinada pela 8.ª Turma do TRF-4, não havia como o juízo de primeiro grau ser a autoridade coatora.

O PT não parece, no entanto, interessado nos fatos e tampouco no direito. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, chamou de “intromissão arbitrária administrativa” a decisão do presidente do TRF-4, desembargador Carlos Eduardo Thompson Flores, que pôs um ponto final à insistência do desembargador Favreto em soltar Lula. Cumprindo estritamente suas atribuições institucionais, o presidente do TRF-4 dirimiu o conflito de competência, afirmando que o caso devia ser levado ao relator, pois o plantonista não era a autoridade competente para julgar o tal pedido de habeas corpus.

O partido de Lula apequena-se ainda mais ao se vangloriar dos próprios erros. O episódio de domingo não traz nenhuma glória. É simplesmente vergonhoso.


27 de julho de 2018
Editorial O Estadão

HOMENS E LOBOS

Filme 'Custódia' relembra que só existe civilização se existir sacrifício
Sim, todas as famílias felizes são iguais. Mas mesmo as famílias felizes são infelizes nas heranças e nos divórcios.

O amor definha. As máscaras caem. Ressentimentos longamente recalcados emergem com uma violência obscena. Irmãos inseparáveis, capazes de doar mutuamente um rim em caso de necessidade, são agora Caim e Abel nas palavras e nos atos. Amantes eternos viram inimigos eternos.

Onde havia gente refinada há agora animais famintos que lutam pelos despojos da riqueza ou da descendência.

Todos conhecemos esses casos. Alguns de nós já os viveram —como vítimas ou algozes. É por isso que o filme "Custódia", de Xavier Legrand, nos é tão próximo. Aqueles somos nós.

E "aqueles" são Antoine (Denis Ménochet) e Miriam (Léa Drucker). Houve um tempo em que namoraram, casaram, tiveram filhos. Quando os conhecemos, esse tempo parece tão distante como a época em que os dinossauros habitaram a Terra.

Agora, Antoine e Miriam vivem nas suas trincheiras bélicas, disputando a custódia do filho Julien (assombroso Thomas Gioria). O rapaz tem 11 anos, tem medo do pai e não quer partilhar a existência com ele. A filha também não —mas, beirando os 18 anos, é quase adulta e fará o que entender.

O pai, compreensivelmente, não se conforma. Acusa a mãe de manipulações torpes. E pede em tribunal uma segunda oportunidade.

O tribunal acede ao pedido do pai. Mas o pai não está disposto a uma segunda oportunidade; ele quer regressar à primeira oportunidade e o filho serve como instrumento para esse passado que só existe na cabeça dele.

Rejeitado pela mulher e pelos filhos, Antoine se transforma em animal selvagem. É o início da sua desintegração como ser social.

O filme de Xavier Legrand é primoroso na forma como retrata esse paradoxo assustador: o momento em que o ódio pela ex-mulher suplanta até o amor pelo próprio filho. Quem disse que o amor parental era o mais forte dos sentimentos humanos? Nem sempre, leitor otimista.

Mas Antoine, na sua brutalidade instintiva, relembra-nos de uma verdade dolorosa sobre a condição humana: só existe a civilização se existir primeiro o sacrifício. Ou, melhor dizendo, a única forma de não nos matarmos mutuamente passa pela capacidade de renunciarmos às nossas vaidades e frustrações.

Freud explica isso. Mas, antes de Freud, houve Thomas Hobbes. No estado da natureza, os homens estavam entregues ao seu destino. Por isso a vida era solitária, pobre, sórdida —e curta.

Para impedir esse negro destino, foi preciso sacrificar algo no altar do Leviatã: a liberdade radical e mortal que só temos na selva, onde "o homem é o lobo do homem". Foi preciso, em suma, renunciar a ganhos imediatos em nome de um bem maior: a paz e a segurança possíveis para todos.

Sem esse sacrifício, a história não teria saído das cavernas. Aliás, a própria experiência democrática depende desse sacrifício. O professor e ensaísta britânico David Runciman, em livro recente que vou comentar na próxima coluna ("How Democracy Ends"), relembra essa verdade: um dos maiores perigos para a sobrevivência da democracia está no declínio da cultura cívica que lhe servia de suporte.

Essa cultura cívica significa uma coisa: eu aceito a vontade da maioria, mesmo que essa vontade seja contrária aos meus interesses imediatos. Por quê? Porque a continuidade do regime democrático é mais importante do que as minhas conveniências momentâneas.

Umas vezes ganhamos, outras perdemos. É a vida.

Mas a derrota da minha causa não autoriza a transformação da arena pública em campo de batalha.

Dizer que esse espírito de sacrifício está em regressão nas democracias ocidentais é, obviamente, um eufemismo. Mas é preciso acrescentar que essa regressão começa nas nossas próprias vidas —na forma como falamos continuamente de "direitos" sem nunca nos considerarmos sujeitos de "deveres".

No filme, Antoine começa por aceitar as regras da sociedade estabelecida: perante o tribunal, ele parece disposto a sacrificar as suas "dores narcísicas" em nome da convivência gentil com a mulher e do afeto que sente pelo filho.

Mas essa disponibilidade é uma ilusão: Antoine é incapaz de suportar as frustrações da realidade. O lobo suplanta o homem. O que antes poderia ser compromisso é agora um imperativo de destruição.

Não revelo o final. Exceto para concordar com a lição do filme: o inferno provocado pela recusa da civilização só pode ser redimido pelos instrumentos da própria civilização.


27 de julho de 2018
João Pereira Coutinho
Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa.
Folha de SP

QUAIS SÃO OS MITOS DE SAÚDE ESPALHADOS PELAS REDES SOCIAIS?

(Folha checa as notícias falsas que os leitores receberam e enviaram para o jornal)

Não repasse a mensagem a seus amigos e familiares. É muito importante —principalmente porque, acompanhada de apelos do tipo, ela tende a ser falsa.

Geralmente em tons alarmistas, as chamadas fake news trazem elementos inusitados e, seja logo de cara ou ao final, pedem que o conteúdo seja passado adiante.

A área da saúde é uma das favoritas. Afinal, é imprescindível saber como se proteger contra um infarto sozinho, qual ingrediente natural poderia curar um câncer ou que chá pode prevenir o surgimento da gripe, certo? Pena que seja tudo mentira.

Abaixo, a Folha checa as notícias falsas enviadas pelos leitores por meio do WhatsApp. Para participar, o número é 11 99490-1649.

- Cebolas fatiadas podem evitar gripe e outras doenças, atraindo vírus e bactérias?

Não. A história inventada se passa no ano de 1919, quando a humanidade sofria os efeitos da gripe espanhola, que matou dezenas de milhões em todo o mundo. Ao visitar agricultores (não se sabe onde), um médico (não se sabe quem) teria descoberto um método usado por uma família capaz de prevenir a gripe: cebolas cortadas.

Elas absorveriam os vírus do ar. O tal médico, ao analisar amostras das cebolas apodrecidas no microscópio, teria observado partículas virais.

À época, embora a existência dos vírus era conhecida, não era possível observá-los. A primeira imagem só veio em 1940 com o auxílio de um microscópio eletrônico.

Segundo o conhecimento médico vigente, não é possível dizer que cebolas previnem gripe ou outras doenças infecciosas. Elas podem, inclusive, ser foco de propagação de fungos e bactérias ao serem deixadas para apodrecer em temperatura ambiente nos cômodos da casa.

- Farinha ajuda a tratar queimaduras?

Não. A mensagem espalhada começa com a história de um veterinário vietnamita que teria tratado uma emergência de maneira inusitada, enfiando uma mão queimada do paciente em um saco de farinha. Dez minutos depois, a dor teria ido embora.

O boato não tem sentido, explica Samuel Mandelbaum, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Não existe nada que comprove que a farinha ajuda, pelo contrário. Se o local estiver inchado e soltando líquido, a farinha vai grudar e virar uma massa. Quando o médico tiver que fazer a limpeza da lesão no hospital, pode haver dor e sangramento. Melhor deixar a farinha para fazer pizza e macarrão.”

O melhor tratamento é a imersão da região queimada em água fria ou gelada, o que pode até impedir o surgimento das dolorosas bolhas, se for feito rapidamente, além de promover alívio imediato --e não só dez minutos depois.

Também é importante deixar de lado outros produtos como óleo e pasta de dente, diz o médico.

-Água quente com limão consegue matar células cancerígenas?

Não. Nas mensagens, supostamente o diretor do hospital do exército chinês pede a ajuda para espalhar a novidade: chá de limão (ou limonada quente) seria capaz de matar células cancerígenas e regular a pressão sanguínea.

Já houve estudos com substâncias derivadas do limão e de outras plantas que ficaram conhecidos como limonoides. Elas teriam potencial antitumoral, bactericida e fungicida, entre outras propriedades.

Não há, porém, evidências de que a substância, fria ou aquecida, trataria ou preveniria o câncer em humanos. Sabe-se que alimentação balanceada e exercícios físicos podem reduzir as chances.

Homeopatia e fígado de boi podem prevenir gripe? Não. Há um rumor de que um determinado remédio homeopático seria capaz de prevenir a infecção pelo vírus da gripe. Mas, como é recorrente na área da homeopatia, não há estudos científicos confiáveis que comprovem o benefício.

Outra mensagem afirma que o diretor do Hospital das Clínicas da USP, sem mencionar seu nome, teria dado algumas dicas para prevenir a gripe: evitar multidões, tomar vitamina C, consumir acerola e laranja e comer fígado de boi.

O próprio hospital já desmentiu a origem do alerta, mas, analisando os fatos, temos que: 1) evitar multidões pode até minimizar a chance de esbarrar com alguma pessoa doente, mas, ainda assim, o vírus pode chegar a qualquer pessoa pelo ar, 2) não há uma relação comprovada entre o consumo de vitamina C e a prevenção de gripe e 3) o bom estado nutricional, com ou sem consumo de fígado, pode ajudar o organismo a lidar com a moléstia.

“O que pode evitar a gripe, e ainda com algumas limitações, é a vacina”, diz a infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas Rosana Richtmann.

-Tamiflu contém erva-doce? Seria possível tratar a gripe com chá?

Não. O boato do diretor do HC é acompanhado da dica de que seria possível tratar a gripe apenas tomando chá de erva-doce, que seria a fonte do remédio fosfato de oseltamivir (Tamiflu). A Roche, fabricante do remédio, afirma que não há erva-doce ou anis-estrelado na fórmula do medicamento, como se especula.

Também não há na literatura médica nenhuma indicação de que erva-doce apresentaria algum efeito sobre a gripe.

"Divulgar que um chá teria capacidade de matar vírus revolta a gente", diz Richtmann. "Se as pessoas atrasam o início do tratamento, a chance de mortalidade aumenta."

Estamos comendo ovos artificiais importados da China? Não. Dois vídeos têm circulado com denúncias de uma suposta invasão de ovos artificiais chineses.

Um deles mostra uma fabricação de “ovos sintéticos” a partir de substâncias gelatinosas que formam uma espécie de geleca. Ou seja, são brinquedos, não parte de um plano de envenenamento em escala global. Outro boato do tipo é o da alface de plástico, usada para fazer mostruários de alimentos no Japão.

Em outro vídeo dos ovos, uma brasileira diz que um ovo que ela adquiriu (de aspecto normal, a julgar pelo vídeo) teria casca muito dura e, por isso, seria chinês e artificial.

A empresa Perfa, cujo logotipo consta na embalagem dos ovos, manifestou-se a respeito em junho em sua página do Facebook: “Apesar de acreditarmos que os consumidores conseguem perceber as inverdades do vídeo, o nome da empresa está sendo exposto de maneira indevida e ilegal”

Por fim, não haveria motivo para falsificar ovos, ao menos não no Brasil, devido à abundância do item em nosso mercado interno e ao baixo custo.

- É verdade que graviola trata o câncer melhor que quimioterapia?

Não. E pior: o nome de Rafael Sato, oncologista de Londrina, acompanha um arquivo de áudio que divulga os supostos benefícios da graviola no tratamento e para prevenir o câncer.

Nas palavras do narrador, a graviola e suas folhas teriam substâncias capazes de destruir células tumorais muito mais rapidamente do que a quimioterapia, além de melhorar o sistema imunológico.

Fora a aparente tentativa de manchar o nome de Sato, a mensagem pode causar danos para quem tem câncer, no caso de a pessoa abandonar o tratamento convencional em favor de outro "natural", para o qual não há evidência sólida.

- Arroz paquistanês está contaminado com um vírus mortal?

 Não. Desta vez a história começa assim: “Um amigo meu que trabalha na alfândega diz que chegou uma remessa de arroz e que os padrões de saúde não foram respeitados, porque traz um vírus que só é visto no Paquistão.”

Falta informação: não há referência ao nome do tal vírus, nem quem importou o arroz nem quem o vende.
O boato é antigo e passou por diversos países, como Portugal, Panamá, República Dominicana e Zimbábue —e desmentido.

Certa vez, em 2013, um carregamento de arroz da marca paquistanesa Dana entrou em quarentena no México após a inspeção descobrir que havia contaminação por um pequeno besouro, praga que afeta grãos. Talvez daí a cisma e os boatos envolvendo marca, que não é encontrada no Brasil.

- Adultos também têm que se vacinar contra sarampo durante campanha do governo? 

Não exatamente, Uma imagem repassada une duas verdades que, juntas, geram uma mensagem confusa.

A primeira é que, de fato, em breve começa a campanha de vacinação contra o sarampo, de 6 a 31 de agosto em todo o país. Mas ela é direcionada a crianças de 1 a 5 anos e àquelas que deixaram de receber as doses na idade adequada. “São elas que correm mais risco, e a cobertura vacinal na faixa etária está baixa. O ministério precisa fazer uma campanha focada”, diz Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

A segunda notícia verdadeira da mensagem é que adultos também podem se vacinar —quem tem até 29 anos tem que tomar duas doses e quem tem até 49, uma —mas não é ideal que o façam durante a campanha. Os adultos que quiserem atualizar as vacinas podem ir aos postos e centros de imunizações em suas operações de rotina.

- Um hospital de Sorocaba, no interior de SP, está descartando córneas por falta de receptores?

Não. Há mais de 15 anos, antes mesmo de grupos de WhatsApp surgirem, circula esse boato sobre o Hospital Oftalmológico de Sorocaba. A instituição estaria com córneas sobrando e descartando material por falta de receptores.

É boato. O hospital, referência no país na área, já se manifestou sobre o assunto. "Temos a preocupação que isso [boato] possa diminuir o número de doações no Brasil. Atualmente existem mais de 25 mil pessoas na fila de espera por um transplante de córnea", diz em seu site.

O transplante é usado como tratamento para doenças como ceratocone, distrofias e perfurações.

- O Hospital Sírio-Libanês desenvolveu uma vacina contra o câncer de pele e dos rins? 


Não exatamente. O boato já tem uns bons anos e diz que o hospital teria tecnologia para desenvolver uma vacina terapêutica contra câncer de pele e de rins à base de um pedaço do tumor do próprio paciente. Há, inclusive, telefone de contato e um link que não levam a lugar algum.

Houve, porém, no passado uma pesquisa da qual o Sírio-Libanês participou. Mas, segundo o hospital, “os resultados mostram um grau de atividade limitado, beneficiando temporariamente apenas um pequeno número de pacientes. Até o momento não há evidência de cura que possa ser atribuída a estas vacinas.”

- Tossir e respirar fundo pode ajudar durante um ataque cardíaco?

Não. O boato sugere que seria possível sobreviver a um infarto fazendo exercícios respiratórios e tossindo. “Isso não tem sentido”, diz Antonio Carlos Carvalho, professor de cardiologia da Universidade Federal de São Paulo. “E, na maioria dos casos, o paciente nem teria tempo ou consciência pra fazer isso.”

“As pessoas têm que se conscientizar de que infarto é uma das condições que mais matam atualmente. Se existe uma falta de ar, uma dor no peito, é preciso procurar um serviço médico o quanto antes para reduzir a chance de ter um evento sombrio”, diz Roberto Kalil Fillho, presidente do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP).

- O sal mineral oferecido para o gado é melhor do que o refinado?

Não. A voz do áudio compartilhado diz que o sal de cozinha é maléfico, enquanto o sal mineral dado para o gado traria vantagens por ter micronutrientes como ferro, zinco, cobre, manganês, selênio, cromo, níquel e silício. O "sal de vaca" teria, inclusive, propriedades anti-hipertensivas.

Segundo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, a substituição não tem sentido. "Esse sal é dado para o gado como um suplemento, porque a dieta desses animais é pobre nesses nutrientes."

Hipertensos podem usar o sal light, que tem cloreto de potássio e ajuda no relaxamento dos vasos.

- Há um grupo de pessoas com Aids espalhando a doença por meio de testes de glicemia?

Segundo a mensagem, pessoas “aidéticas”, a mando da Baleia Azul —jogo macabro que esteve em evidência no noticiário no ano passado—, estariam passando de casa em casa sob o pretexto de medir a taxa de glicemia para transmitir HIV para as pessoas. Outra mentira: a Polícia Militar teria feito um alerta a respeito.

O vírus da Aids sobrevive por pouquíssimo tempo fora do organismo. Em poucos minutos o poder de infecção vai a praticamente zero. De todo modo, há o risco de outras doenças, como hepatites e infecções por bactérias, serem propagadas por meio de objetos perfurantes ou cortantes que não sejam novos ou esterilizados.

- A família do ex-ministro da Saúde Ricardo Barros é dona da Qualicorp? A empresa se beneficiou da gestão de Barros? 

Não. A mensagem diz que o engenheiro e ex-ministro Ricardo Barros (PP-PR) não é médico. Até aí, a informação procede. Mas é mentira que a empresa Qualicorp seria da família dele. “Como companhia de capital aberto, fundada há 21 anos, a empresa possui milhares de colaboradores diretos e de acionistas no Brasil e no exterior. A relação de acionistas, inclusive, é pública e está disponível no site da Comissão de Valor Mobiliários (CVM) a quem se interessar pela verdade”, diz a empresa, por nota enviada à reportagem.“

A companhia informa ainda que a origem de sua receita é a intermediação de contratação privada e voluntária de planos de saúde coletivos por parte do cliente. A empresa nunca pleiteou qualquer tipo de ajuda e/ou financiamento público de qualquer natureza.”O texto ainda diz que o ex-ministro teria interesse em revogar o Estatuto do Idoso, o que não ocorreu.

- Um médico que descobriu a cura do câncer foi morto? 

Uma suposta notícia divulgada por um site em português diz que o médico James Bradstreet teria sido morto por ter descoberto a cura contra o câncer.É verdade que ele morreu em 2015, aos 60 anos, após ser baleado no peito em uma cidadezinha da Carolina do Norte (EUA). Seu corpo foi encontrado por um pescador em um rio.

Uma arma foi encontrada na água, próxima ao corpo. O xerife local disse que havia indícios de suicídio.Bradstreet era contrário às vacinas e defendia tratamentos não ortodoxos para o autismo, condição que afetava seu filho e seu enteado, como injeções de GcMAF, fator ativador de macrófagos, substância já presente no organismo humano.

O médico estava ligado a uma empresa que distribuía ilegalmente a substância, considerada experimental e sem qualquer eficácia comprovada pelas autoridades regulatórias.A mentira é que o GcMAF seria um tratamento de baixo custo para o câncer, o que não tem respaldo em trabalhos científicos, diz o oncologista Fernando Maluf.

- Médicos conselheiros ganham por produtividade ao processar colegas no Conselho Regional de Medicina de São Paulo? 

Não. Uma mensagem acompanhada de uma planilha de valores de pagamentos mensais do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) diz que os conselheiros da entidade teriam poder e motivação para criar inquéritos contra outros médicos, já que seriam remunerados por isso.

O órgão diz, em nota, que as denúncias são instauradas apenas com a identificação completa do denunciante, com a descrição dos fatos e com a identificação do médico denunciado, na presença de provas documentais. Como não há denúncias anônimas, não seria possível inventá-las ou fabricá-las.“As denúncias são recebidas também do Ministério Público, da imprensa e de instituições, como o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), entre outros.

As denúncias são avaliadas por um colegiado e, se consideradas procedentes, transformam-se em processos éticos-profissionais, julgados por um colegiado.”As remunerações mostradas na planilha, que chegam a superar os R$ 30 mil por conselheiro por mês, totalizando anualmente uma despesa de R$ 10 milhões. Os valores pagos aos médicos, diz o Cremesp, têm limites mensais estabelecidos pela Resolução CFM nº 2.175/2017 e remuneram o comparecimento dos conselheiros em sessões plenárias, reuniões de diretoria e atividades judicantes.

O órgão diz que divulga suas despesas em seu site. “O Cremesp repudia, ainda, as tentativas de macular a imagem e a história de profissionais honestos, bem como enlamear a entidade com informações levianas, típicas de um período eleitoral que o órgão está atravessando. Alguns concorrentes tentam, inescrupulosamente, agir com ética questionável a fim de atingir seu objetivo maior: o poder”, conclui a nota.


27 de julho de 2018
Gabriel Alves
SÃO PAULO
Folha de SP

O QUE É O BÓSON DE HIGGS?


O que é o Bóson de Higgs?


27 de julho de 2018

BIG BANG: A HISTÓRIA COMPLETA - DOCUMENTÁRIO


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27 de julho de 2018

MARCELO GLEISER EXPLICA O BÓSON DE HIGGS OU PARTÍCULA DE DEUS - PARTES 4 E 5/5

MARCELO GLEISER EXPLICA O BÓSON DE HIGGS OU PARTÍCULA DE DEUS - PARTE 2 E 3/5

MARCELO GLEISER EXPLICA O BÓSON DE HIGGS OU PARTÍCULA DE DEUS - PARTE 1/5


Marcelo Gleiser explica o Bóson de Higgs ou partícula de Deus - Canal Livre (BAND) - Parte 1/527 de julho de 2018

ISAAC NEWTON, CIÊNCIA MODERNA, E O PEDANTISMO BRASILEIRO (OLAVO DE CARVALHO)


Isaac Newton, Ciência Moderna, e o pedantismo brasileiro - Olavo de Carvalho


27 de julho de 2018

ISAAC NEWTON PAI DA CIÊNCIA ERA OCULTISTA E ALQUIMISTA


Isaac Newton Pai da Ciência era Ocultista e Alquimista


27 de julho de 2018

O LOGOS DIVINO


O Logos Divino #0.6


27 de julho de 2018

A PARTÍCULA DE DEUS (BÓSON DE HIGGS) E O SER (OLAVO DE CARVALHO)


A partícula de Deus (bóson de Higgs) e o Ser- Olavo de Carvalho


27 de julho de 2018