"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 28 de abril de 2014

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
 
28 de abril de 2014




OPOSIÇÃO: LULA "SURTOU", ENTREVISTA É "LAMENTÁVEL" E "NÃO FAZ BEM À DEMOCRACIA"

 

  
O senador Aécio Neves (MG), pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, afirmou nesta segunda-feira que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva agiu de forma “lamentável” ao negar o maior escândalo político da história do país e acusar o Supremo Tribunal Federal de fazer um julgamento com “praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica”, na indecorosa entrevista concedida pelo petista a uma emissora de televisão portuguesa. “Quando se combate o Judiciário, quando se combate a imprensa porque é crítica a ações do nosso grupo político, não se faz um bem à democracia”.
 
 “É lamentável ver um ex-presidente da República com afirmações que depõem contra o Poder Judiciário brasileiro”, disse o tucano. “Não podemos respeitar o Poder Judiciário quando ele toma decisões que nos são favoráveis e desrespeitá-lo quando ele toma decisões que não nos são favoráveis.”
 
Na entrevista divulgada neste final de semana, Lula tentou desqualificar o julgamento do escândalo. “O que eu acho é que não houve mensalão. Também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade”, afirmou o ex-presidente. “O tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica.”
 
Também pré-candidato à Presidência nas eleições de outubro, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB) afirmou durante evento em São Paulo que o Judiciário tem que ser respeitado. “Em qualquer democracia, decisão de Suprema Corte se cumpre, não se discute”, disse Campos. Ele tentou, porém, esquivar-se do embate direto com Lula, de quem foi ministro da Ciência e Tecnologia — Campos tem concentrado suas críticas na gestão da presidente e futura adversária Dilma Rousseff.
 
“Surtou”

O senador Agripino Maia (RN), presidente do DEM, afirmou que Lula “surtou”. “Foi uma declaração no mínimo infeliz e que nos leva a crer que Lula surtou. Todos sabem que o José Genoino comandou o PT quando ele era presidente, que o Delúbio [Soares] foi o arrecadador do dinheiro de sua campanha e que o José Dirceu é o número um do PT”, disse Maia, sobre a tentativa de Lula de se distanciar dos réus do escândalo. “Não faz o menor sentido atribuir um julgamento político a uma Corte para a qual ele indicou quase a metade dos ministros. Então, ele indicou políticos para essa função? É uma contradição monumental.”
 
Na entrevista concedida à imprensa portuguesa, Lula tentou se dissociar – de maneira desleal – dos mensaleiros que o ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores, nos anos 1980, e a conquistar o mais alto posto da República, em 2002. Ele afirmou que embora haja “companheiros do PT presos, não se trata de gente da sua confiança”.
 
Um dos companheiros é José Dirceu, que chefiou a primeira campanha eleitoral de Lula e depois, no primeiro ano de seu mandato, exerceu o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses de prisão e passa seus dias atualmente no presídio da Papuda, em Brasília. Outro companheiro é José Genoino, igualmente fundador do PT. Ele ocupou a presidência do partido entre 2002 e 2005, os anos do mensalão.
 
28 de abril de 2014
Por Reinaldo Azevedo, Veja.com

AÉCIO CRITICA LULA POR ATACAR O JUDICIÁRIO E A DEMOCRACIA


Covarde como sempre, Lula só dá entrevista sobre o Mensalão fora do país. E mente. Como sempre.

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, senador Aécio Neves (MG), classificou de "infeliz" a declaração feita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma emissora de TV de Portugal sobre o julgamento do mensalão. "É lamentável um ex-presidente da República fazer afirmações que depõem contra o poder Judiciário brasileiro, que é o esteio da democracia brasileira", afirmou Aécio nesta segunda-feira, 28, após palestra na Associação Comercial de São Paulo.

Na entrevista que concedeu à TV portuguesa, Lula disse que o tempo vai se encarregar de provar que o mensalão teve praticamente "80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Para Aécio, não se pode desrespeitar o Judiciário quando as decisões parecem ser desfavoráveis ao desejado. "Não podemos desrespeitar o Poder Judiciário. Pelo cargo que ocupou, (Lula) deveria ser o primeiro a zelar pelo respeito às nossas instituições. Foi uma declaração infeliz".

O senador mineiro participou nesta manhã de palestra na Associação Comercial de São Paulo. Em sua palestra, criticou o governo petista, dizendo que o País vive atualmente uma "herança perversa e perigosa" em razão da gestão, que, segundo ele, é marcada pela ameaça da volta da inflação e por baixos índices de crescimento.

Observação: fizeram coro a Aécio o Procurador Geral da República e vários ministros do STF.
 
28 de abril de 2014
in coroneLeaks

JOAQUIM BARBOSA: DECLARAÇÕES DE LULA MERECEM "O MAIS VEEMENTE REPÚDIO".


 
O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, disse por meio de nota divulgada na noite desta segunda-feira (28) que a "desqualificação" do tribunal é um "fato grave que merece o mais veemente repúdio".
 
Ele fez a afirmação em referência à entrevista concedida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva a uma emissora de televisão portuguesa na qual afirmou que o julgamento do mensalão teve "80% de decisão política e 20% de decisão jurídica". Na entrevista, Lula disse que não houve mensalão e que a história desse caso ainda "vai ser recontada" para se saber "o que realmente aconteceu".
"Lamento profundamente que um ex-presidente da República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira para questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte do país", afirmou na nota Joaquim Barbosa.
De acordo com o presidente do Supremo, a declaração de Lula "emite um sinal de desesperança para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e acuado pela violência". Para Barbosa, o julgamento foi conduzido de forma "absolutamente transparente" e justificou dizendo que "pela primeira vez na história do tribunal", todas as partes tiveram acesso simultâneo aos autos, todas as sessões do tribunal foram transmitidas ao vivo pela TV Justiça e os advogados dos réus puderam fazer todas as solicitações necessárias para assegurar o direito de defesa dos réus.
 
"O juízo de valor emitido pelo ex-chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome", declarou Joaquim Barbosa.

Outros ministros
Antes de Barbosa, outros ministros já tinham criticado a fala de Lula e defenderam o caráter "técnico" do julgamento do mensalão. O ministro aposentado Ayres Britto, que presidiu o Supremo na primeira etapa do julgamento do mensalão, afirmou ao G1 que não se pode contestar a “legitimidade” da decisão da Corte. "Pode-se concordar ou não concordar com a justiça material do julgamento, não, porém, com a legitimidade dele", afirmou
O ministro Marco Aurélio Mello disse que é preciso “relevar” as declarações de Lula, apesar de elas em “nada contribuírem” para o país. “É uma declaração de um integrante do PT, uma declaração que parte de um político e não de um técnico em direito", declarou.

Leia abaixo a íntegra da nota divulgada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa.
 
Lamento profundamente que um ex-Presidente da República tenha escolhido um órgão da imprensa estrangeira para questionar a lisura do trabalho realizado pelos membros da mais alta Corte do País.
A desqualificação do Supremo Tribunal Federal, pilar essencial da democracia brasileira, é um fato grave que merece o mais veemente repúdio. Essa iniciativa emite um sinal de desesperança para o cidadão comum, já indignado com a corrupção e a impunidade, e acuado pela violência. Os cidadãos brasileiros clamam por justiça.
A Ação Penal 470 foi conduzida de forma absolutamente transparente. Pela primeira vez na história do Tribunal, todas as partes de um processo criminal puderam ter acesso simultaneamente aos autos, a partir de qualquer ponto do território nacional uma vez que toda a documentação fora digitalizada e estava disponível em rede. 
 
As cerca de 60 sessões do julgamento foram públicas, com transmissão ao vivo pela TV Justiça, além de terem recebido cobertura jornalística de mais de uma centena de profissionais de veículos nacionais e estrangeiros. Os advogados dos réus acompanharam, desde o primeiro dia, todos os passos do andamento do processo e puderam requerer todas as diligências e provas indispensáveis ao exercício do direito de defesa.
 
Acolhida a denúncia em agosto de 2007, o Ministério Público e os réus tiveram oportunidade de indicar testemunhas. Foram indicadas, no total, cerca de 600. Acusação e defesa dispuseram de mais de quatro anos para trazer ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal as provas que eram do seu respectivo interesse.
 
Além da prova testemunhal, foram feitas inúmeras perícias, muitas delas realizadas por órgãos e entidades situadas na esfera de mando e influência do Presidente da República, tais como:
 
- Banco Central do Brasil;
- Banco do Brasil;
- Polícia Federal;
- COAF;
 
Também contribuíram para o resultado do julgamento provas resultantes de trabalhos técnicos elaborados por órgãos da Câmara dos Deputados, do Tribunal de Cotnas da União e por Comissão Parlamentar de Inquérito Mista do Congresso Nacional.
 
Portanto, o juízo de valor emitido pelo ex-chefe de Estado não encontra qualquer respaldo na realidade e revela pura e simplesmente sua dificuldade em compreender o extraordinário papel reservado a um Judiciário independente em uma democracia verdadeiramente digna desse nome.

Joaquim Barbosa
Presidente do Supremo Tribunal Federal 

JÁ PRA PAPUDA, GENOÍNO MENSALEIRO!


 
 
Médicos da Universidade de Brasília (UnB) que examinaram o ex-deputado federal José Genoino no dia 12 de abril concluíram que o quadro clínico do ex-parlamentar está "plenamente estabilizado" e não há gravidade. O laudo foi pedido pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, que vai decidir se Genoino continuará a cumprir em casa a pena por envolvimento com o esquema do mensalão ou se deverá ser transferido para uma prisão.

"Assim, em bases estritamente objetivas e definidas, não se expressa no momento a presença de qualquer circunstância justificadora de excepcionalidade e diferenciada do habitual para a situação médica em questão, visando o acompanhamento e tratamento do paciente em apreço", concluíram os médicos. De acordo com eles, durante o exame, Genoino estava em "pleno gozo das suas faculdades mentais", "em ótimo aspecto físico" e caminhando normalmente sem restrições.

Condenado ao cumprimento em regime semiaberto à 4 anos e 8 meses por corrupção ativa, Genoino foi submetido a uma cirurgia para correção da artéria aorta em julho do ano passado. Preso em 15 de novembro, o ex-deputado ficou menos de uma semana no complexo penitenciário da Papuda. Ele foi transferido para um hospital depois de ter reclamado de problemas cardíacos e, em seguida foi para a prisão domiciliar. O ex-presidente do PT foi submetido a uma cirurgia cardíaca em junho do ano passado. 
 
(Estadão)  
 
28 de abril de 2014
in coroneLeaks

LULA: MENSALEIROS "NÃO SÃO GENTE DA MINHA CONFIANÇA".



O vídeo foi editado pelo amigo @SharpRandom

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em entrevista exibida neste domingo, 27, a uma TV portuguesa que o julgamento do processo do mensalão teve viés político e que os petistas presos por envolvimento no caso "não são de sua confiança".


Em novembro do ano passado, o Supremo Tribunal Federal (STF) decretou a prisão de três integrantes da cúpula petista por participação no esquema de compra de apoio político no Congresso no início do governo Lula, entre 2003 e 2005. Foram presos o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu; ao ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares; e ao ex-presidente nacional do partido, José Genoino.

"O mensalão teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica. O que eu acho é que não houve mensalão", afirmou ele, em uma das poucas manifestações públicas que fez sobre o caso após o fim do julgamento.

Em seguida, Lula interrompeu a repórter, que começou uma pergunta sobre o fato de pessoas da confiança do ex-presidente terem sido presas. "Não se trata de gente da minha confiança", disse Lula. E remendou: "Tem companheiro do PT preso. E eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. O que eu acho é que essa história vai ser recontada".

Lula esteve em Portugal para participar da comemoração dos 40 anos da Revolução dos Cravos.
 
(Estadão)
 
28 de abril de 2014
in coroneLeaks

SIMPLIFICAÇÃO

Você sabia?

Burocracia 2A burocracia ― maliciosamente chamada por alguns «burrocracia» ― tem mais ou menos a idade do mundo. É praga que atravanca a humanidade desde tempos bíblicos.
 
Todos hão de se lembrar das aulas de catecismo. Lá nos ensinavam ― quem sabe ainda ensinam ― a razão pela qual Jesus nasceu num estábulo. Era porque seus pais estavam de viagem.
Segundo nos disseram, José tinha de comparecer pessoalmente em seu vilarejo de origem por motivo de recenseamento ordenado pela administração romana.
Como se pode depreender, não é de hoje que essas obrigações sem sentido nos aporrinham a existência.
 
No Brasil, nos últimos anos do governo militar, foi até criado um Ministério da Desburocratização, cujo primeiro e mais longevo titular foi Hélio Beltrão. Como? Se adiantou? Bem, julgue você mesmo, distinto leitor.
 
Burocracia 4
 
Alguns países, talvez por terem tido a sorte de contar com dirigentes mais esclarecidos e mais persistentes, reduziram procedimentos administrativos ao mínimo rigorosamente necessário. Outros, porém, não tiveram a mesma felicidade.
 
O Brasil, sabemos todos, está entre os mais bem aquinhoados numa hipotética escala de empecilhos oficiais.
Mas não estamos sozinhos lá no topo. A França, surpreendentemente, também sobressai nessa classificação. É impressionante o volume de papelada que se costuma exigir dos que necessitam autorização para o que for.
 
Ciente de que o dinheiro, o tempo e o esforço despendidos em procedimentos desse tipo são um desperdício e um atraso de vida, o atual governo central nomeou uma comissão de cidadãos de bom-senso com o objetivo específico de se debruçar sobre o problema e propor soluções.
 
A incumbência do comitê é de selecionar 50 gargalos. Em seguida, os sábios disporão de seis meses para esmiuçá-los e apresentar soluções. A partir daí, tudo recomeça: mais 50 casos espinhosos serão estudados. A ideia está sendo posta em prática agora, portanto, não se sabe ainda quais serão os resultados práticos.
 
Burocracia 3
 
Um dos grandes estorvos ― e não só na França ― é a lentidão das diferentes repartições. Quando uma empresa tem alguma dúvida sobre o procedimento a adotar em determinada situação, é natural que faça uma consulta ao órgão adequado.
Atualmente, não há legislação sobre essa matéria. A repartição pode levar meses para responder. Pode até nem responder, o que deixa o consulente em situação delicada.
Pois uma das primeiras propostas será instituir o «princípio de resposta garantida». Protocolada a consulta, o órgão terá um prazo para responder. Caso não o faça, seu silêncio será considerado consentimento. Afinal, quem cala, consente.
 
Outro ponto, inimaginável em outros países, é a Declaração dos Padeiros. Sabem o que é? Explico. No ano de 1790, em plena Revolução Francesa, o governo provisório tratou de garantir o fornecimento do pão, principal alimento da população. Para ter certeza de que não faltaria, ordenou que os padeiros informassem à administração, com antecedência, os dias em que, por algum motivo, tencionavam não trabalhar.
 
Nos primeiros anos, isso não teve grande impacto, dado que ninguém saía de férias. Nos últimos 80 anos, o panorama mudou: agora todos tiram seu mês de folga a cada ano. Como o decreto ainda está em vigor, cada pequena padaria francesa é obrigada a avisar as autoridades municipais sobre o fechamento anual por motivo de férias.
 
Baguette
 
Sabem o que a autoridade faz, uma vez que toma conhecimento das férias de cada padeiro? Nada, absolutamente nada. A declaração vai parar numa caixa de papelão e terminará seus dias no porão da prefeitura. Essa ordenança do tempo da carochinha será, sem dúvida, uma das primeiras a desaparecer.
 
Mas que não se assustem os que planejam uma viagem a Paris. Com Declaração dos Padeiros ou sem ela, sempre haverá uma baguette fresquinha à espera.
 
28 de abril de 2014
José Horta Manzano

ATRITO ELÉTRICO


Não poderia haver demonstração mais eloquente do incômodo com o intervencionismo excessivo do governo que a renúncia simultânea de três dos cinco conselheiros da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que se seguiu à aprovação pela entidade da tomada de um empréstimo de R$ 11,2 bilhões.

O objetivo é cobrir o rombo financeiro nas distribuidoras de energia e evitar aumentos súbitos nas tarifas neste ano -leia-se, antes das eleições. O financiamento será pago a partir do ano que vem por meio de um encargo específico na conta de luz. A última parcela será liquidada em 2017.

Dez bancos participarão, incluindo Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, com R$ 2,5 bilhões cada um.

A CCEE, entidade privada sem fins lucrativos, sempre atuou na prestação de um serviço ao setor elétrico: registro e liquidação de contratos de compra e venda de energia entre empresas geradoras e distribuidoras. Encontra-se, agora, na desconfortável posição de mera executora da vontade do governo federal, portanto longe de sua função original.

A estruturação financeira, em si, buscou reduzir o risco para os bancos e para os associados da CCEE, que são as empresas do setor. Haverá uma conta separada para o depósito dos valores coletados dos consumidores, que não transitarão pelas contas da entidade.

Além disso, a resolução da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) explicitou que os associados não terão responsabilidade subsidiária. Ou seja, não responderão no caso de eventual inadimplência no empréstimo. Não deixa de ser desconfortável para os responsáveis legais da CCEE, porém, colocar sua assinatura na contratação de uma montanha de dívida.

Os ex-conselheiros, todos representantes do setor privado, deixaram clara a queixa por não terem sido consultados nem informados das decisões. A renúncia coletiva tem forte impacto político, ainda que não resulte em efeito prático para a continuidade da operação.

Para dissimular a verdade desagradável -o custo estimado de quase R$ 30 bilhões apenas neste ano com os desequilíbrios no setor elétrico-, o governo opta por malabarismos regulatórios. O empréstimo é mais um deles.

A conta econômica chegará em breve, é certo. Outro grande prejuízo, mais sutil, porém não menos importante, está à vista: a erosão das instituições, ora submetidas a desígnios partidários e eleitorais.

28 de abril de 2014

Editorial Folha de SP

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA CLAUDIO HUMBERTO

“A faxineira não limpou o que tinha que limpar”
Eduardo Campos (PSB), ironizando a “faxina ética” trombeteada pela presidente Dilma


COMO IDELI, PGR UTILIZOU O HELICÓPTERO DO SAMU

Foi para evitar um “mico” que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, arquivou a investigação sobre o fato de a ministra Ideli Salvatti haver utilizado, em Santa Catarina, um helicóptero do Samu destinado à remoção de pacientes graves resgatados em acidentes e tragédias naturais. É que o próprio órgão chefiado por Janot usou o mesmo helicóptero para transportar procuradores, como atestam documentos.

COMO ACUSAR?

O helicóptero do Samu foi usado pela Procuradoria da República de Tubarão (SC) e a Procuradoria da República em Santa Catarina.

LEVANDO AUTORIDADE

Em Tubarão, o helicóptero foi requisitado para transportar, em agosto de 2013, o subprocurador-geral da República Mário Gisi, em serviço.

DOCUMENTADO

Os procuradores pediram o helicóptero através dos ofícios PRMT/n° 664/2013 e PR/SC/GABPC/nº 7233/2013 (cópias em poder da coluna).

SEM ILÍCITO

Em seu despacho, o procurador-geral Rodrigo Janot afirma não haver encontrado “elementos que configurem qualquer ilícito penal” de Ideli.

BRASIL VAI CONTINUAR SEM EMBAIXADOR NA BOLÍVIA

O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Ricardo Ferraço (PMDB-ES), manterá sobrestada, na gaveta, a indicação do novo embaixador do Brasil em La Paz.

Até que reavalie as relações com o governo do cocaleiro Evo Morales, que coleciona molecagens contra o Brasil – da invasão à refinaria da Petrobras à recusa de salvo-conduto ao senador que ficou 445 dias refugiado na nossa embaixada.

PERSEGUIÇÃO CRUEL

O senador Ricardo Ferraço também continua inconformado com a perseguição do governo ao diplomata brasileiro Eduardo Saboia.

NOS CONFORMES

O advogado e ex-ministro José Dirceu, mensaleiro recolhido à Papuda, está em dia com a inscrição na OAB-SP: “Situação regular”.

FALA QUE EU TE ENTENDO

Uma gíria que deverá sair definitivamente de moda na Petrobras e na entourage do doleiro Alberto Youssef após as escutas da PF: “Sacou?”.

ELA QUER O FÍGADO

A presidente Dilma está possessa com o senador Pedro Taques (PDT-MT), que protocolou na terça (22) representação na Procuradoria-Geral pedindo que ela seja investigada pela compra da refinaria de Pasadena.

DEPUTADO LOBISTA

A Fundação dos Economiários Federais (Funcef) complicou ainda mais a já embolada vida do deputado André Vargas (sem partido - PR). A Funcef afirma que seu diretor só recebeu o doleiro Alberto Youssef após pedido do deputado.

FIM DOS TEMPOS

Líder do PPS, Rubens Bueno (PR) diz ter ficado surpreso com decisão do presidente Renan Calheiros de tentar derrubar a CPI exclusiva da Petrobras: “Ele deixou de lado o Senado para defender o governo”.

SAMBA DO CRIOULO

Os líderes do governo, Arlindo Chinaglia (SP), e do PT, Vicentinho Alves (SP), não se entendem. Na votação da suspensão do tucano Carlos Leréia, um orientou pela aprovação e o outro liberou a bancada.

O PASTOR É POP

Após passagem polêmica na Comissão de Direitos Humanos, o pastor Marco Feliciano (PSC) lidera ranking político no Facebook, com 840 mil curtidas, seguido de Romário, 820 mil, e Eduardo Campos, 787 mil.

ESTRANHO

Algo falta ser dito na história de “DG”. Ele foi sepultado no jazigo da família no cemitério São João Batista, que custa uma fortuna para quem, até recentemente, era mototaxista na favela do Pavão-Pavãozinho.

E NA COPA?

Deputados estão indignados com os péssimos serviços nos aeroportos. Na terça, avião da TAM, voo 3710, de São Paulo para Brasília, abriu as portas para o desembarque em meio a um temporal, a 3m do ônibus.

NO VENTILADOR

Políticos do PT atribuem denúncias envolvendo a Petrobras e o doleiro Alberto Youssef à suposta briga interna entre delegados da Polícia Federal, que ameaçam jogar no ventilador esquemas de toda ordem.

PENSANDO BEM...

...as denúncias ligando o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha ao doleiro Youssef colocaram a campanha dele na UTI... do SUS.


PODER SEM PUDOR

TUDO SOBE

Uma comissão de moradoras, liderada por insistentes carolas de uma paróquia, insistiu para se reunir com o então prefeito de Juazeiro do Norte (CE), Mozart Cardoso de Alencar.

Quando finalmente recebeu o grupo, Mozart descobriu o que as senhoras estavam ali para protestar contra os aumentos no preço da carne. Como ele nada tinha com o assunto, desabafou impaciente:

- É óbvio que o preço da carne tá subindo, porque tudo está subindo: sobe a minissaia, sobe foguete, sobe astronauta, sobe elevador. Tudo sobe... aliás, só não sobe mesmo é a batina do padre. E sabem por quê? Porque eles nem usam mais aquele troço...

E encerrou a reunião.


28 de abril de 2014
Coluna do Claudio Humberto

DE NOMES INFELIZES

 

Quem tem nome ridículo ― como Rolando Escada Abaixo, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Adolf Hitler da Silva ― já está preparado para situações engraçadas. Faz parte do jogo.
 
Já quem tem nome apenas exótico não imagina que vá passar apuro. No entanto, foi o que aconteceu dia 23 de abril com uma jovem francesa. A espantosa notícia nos vem pelo jornal Le Dauphiné Libéré.
 
A jovem estava sonhando com aquela viagem fazia tempo. Seriam as primeiras férias com a família nos EUA. Afiveladas as malas, dirigiram-se os quatro ― casal mais dois filhos ― ao Aeroporto de Genebra (Suíça), o mais à mão para quem vive na Savoia francesa.
 
Avião 3
 
Na hora do registro no balcão, o atendente comunicou à moça que ela estava na lista negra das autoridades americanas e que, por isso, não poderia embarcar. Sem maiores explicações. Não adiantava chorar nem bater o pé. Quando se trata de segurança nacional, os americanos não brincam em serviço. Preferem exagerar pra mais que pra menos.
 
Decepcionados, os quatro ex-futuros viajantes voltaram para casa. As férias estavam estragadas. Mas… qual a razão dessa surpreendente proibição? A francesa imagina que só pode ter sido por causa de seu nome.
De origem iugoslava, seu nome de solteira é Alic Aida. Nos escaninhos dos computadores, algum algoritmo há-de ter associado Alic Aida a… Al-Qaeda!
 
A moça garante que, no original, Alić se pronuncia Alitch. Não adiantou. Computadores não estão nem aí para a pronúncia.
 
28 de abril de 2014
José Horta Manzano

BRASIL EM PRETO E BRANCO

«Tra favelas in rivolta, scioperi della polizia e infrastrutture inesistenti, la kermesse del pallone potrebbe finire con il mostrare il volto del Brasile che l’Occidente ha voluto dimenticare nella fretta di trovare un posto in cui riversare capitali e speranze.»
 
*** *** ***
 
«Entre favelas conflagradas, greve na polícia e infraestrutura inexistente, a quermesse do futebol poderia acabar mostrando a imagem do Brasil que o Ocidente quis ignorar na pressa de encontrar um refúgio onde investir capital e esperança.»
Gea Scancarello, do diário italiano Lettera 43em reportagem publicada em 25 abril 2014.
 
28 de abril de 2014
Brasil de longe

UMA AGONIA SEM FIM


 

O temor eleitoral do PT, especialmente do Palácio do Planalto diante das seguidas quedas de Dilma Rousseff  nas pesquisas eleitorais, levou a legenda (e a presidente) a adotar medidas acertadas.

Primeiro, o PT começou a pressionar o deputado André Vargas, enroladíssimo com o doleiro Alberto Youssef  (já preso) a renunciar o seu mandato por não ter saída: muito provavelmente o Conselho de Ética da Câmara irá cassá-lo.

Em segundo, entregou os pontos, deixou combater a CPI exclusiva da Petrobras, aprovada pela oposição no Senado, na medida em que a ministra do Supremo, Rosa Weber, concedeu uma liminar provisória favorável à oposição.
 
As duas decisões do partido, ambas oriundas do Palácio do Planalto a partir de aconselhamentos da assessoria de Dilma, têm sentido. Tanto ela como o partido estavam e estão sangrando na medida em que, diariamente, (sem aquela de dia sim, dia não) estão na mídia, diante do que está a acontecer com a principal empresa brasileira, símbolo maior que vem dos anos 50 do século passado. A Petrobras está rota. Perdeu dois terços do seu valor de venda e ainda continua caindo, mesmo com o pré-sal.
 
Já o deputado André Vargas está de tal maneira sujo e sem saída que passou a ser um estorvo para o partido em ano eleitoral. Por que passa a ser, ele próprio, uma demonstração das maracutaias praticadas por integrantes da legenda, distante de ser o que já foi, ou seja, ostentar a auréola de um partido limpo, diferenciado dos demais. Bastou chegar ao poder e tudo mudou. Assim, para evitar o pior, embora o pior já esteja instalado, o PT quer dele se livrar o mais rápido possível.
 
A não ser na época do mensalão, o Partido dos Trabalhadores não atravessa uma fase tão perniciosa, tão desgastante e, pior ainda, quando as eleições já estão visíveis, porque acontecem dentro de seis meses. O PT e Dilma Rousseff estão contra a parede, embora a presidente tenha colaborado para que o assunto Petrobras crescesse e tomasse um fôlego inusitado. Tudo começou com aquela nota em que ela, tentando se livrar, se afogou, escrevendo do próprio punho que recusava a responsabilidade sobre a compra da refinaria de Pasadena por não ter, à época, em mãos, quando presidia o Conselho  Deliberativo da petrolífera, informações sobre duas cláusulas perniciosas.
 
A partir daí aconteceram embaraços e tão-somente embaraços, sem ninguém se entender sobre o bilionário (em dólares) prejuízo da empresa-símbolo. A atual presidente da Petrobras, Graça Foster, diz que foi um péssimo negócio. O ex-presidente, José Sérgio Gabrielli, diz que foi um bom negócio para a época e que a presidente deve assumir a responsabilidade que lhe cabe. Dilma perde pontos nas pesquisas. Falar em mensaleiro, na época em que aconteceu o escândalo, no governo Lula, era uma coisa, porque os brasileiros não sabiam (hoje sabem) o que significava mensaleiro. Falar em Petrobras, porém, é tocar em um ícone brasileiro, o sonho do desenvolvimento, a tal ponto que ser petroleiro, trabalhar na empresa, era quase uma benção, era um fator de orgulho dos seus trabalhadores. Hoje, a estatal foi aparelhada pelo fisiologismo nefasto da política petista para agradar à base de sustentação do governo. Se alguém disser que nunca se ouviu fatos sobre corrupção como hoje acontece, não seria um exagero. O país está enlameado pela política rasteira em prejuízo da República. Não há a menor dúvida. É certo que a corrupção sempre acompanhou, lado a lado, os governos de Pindorama.
 
A propósito, somente a propósito sobre o que está acima escrito, o “ínclito” presidente do Senado, Renan Calheiros, em nota, avisou que recorrerá da decisão do Supremo, alegando a independência entre os três poderes. Afinadíssimo com quem estiver no poder, seja lá quem for, ele seguramente criará mais problemas para o Palácio do Planalto e para Dilma Rousseff. Os governistas podem – e devem – criar uma CPI para apurar o que aconteceu com os trens e o metrô paulistanos e, também, com os gastos estonteantes da refinaria Faria e Lima, em Pernambuco, na tentativa de alcançar os pré-candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos. Assim como a oposição pode aparecer com uma CPI mista (Câmara e Senado) para aprofundar as investigações na petrolífera.
 
Enquanto isso, a presidente Dilma Rousseff não deve estar a dormir bem. Deve sonhar com pesquisas, com quedas monumentais e, no sonho, vê Lula à distância como a dizer que não tem nada com isso. Ora, ora. Cada poste tem seu dono.
 
 28 de abril de 2014
Coluna de Samuel Celestino publicada no jornal A Tarde

EM ENTREVISTA, LULA DIZ QUE MENSALEIROS NÃO SÃO "GENTE DE SUA CONFIANÇA"



O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva parece ser adepto da máxima "uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade”. Em entrevista indecorosa à TV portuguesa RTP, publicada neste domingo no site da emissora, Lula — a quem caberia  defender no exterior as instituições brasileiras, fosse ele estadista e não chefe de partido — desqualificou o trabalho do Supremo Tribunal Federal e afirmou que as condenações do julgamento do mensalão foram, em sua maioria, políticas e não jurídicas.
 
"O que eu acho é que não houve mensalão. Eu também não vou ficar discutindo a decisão da Suprema Corte. Eu só acho que essa história vai ser recontada. É apenas uma questão de tempo, e essa história vai ser recontada para saber o que aconteceu na verdade", afirmou o ex-presidente. "O tempo vai se encarregar de provar que no mensalão você teve praticamente 80% de decisão política e 20% de decisão jurídica."
 
Àquilo que Lula "acha" se contrapõem as provas das 5 000 páginas dos autos do mensalão. São documentos, perícias e testemunhos que demonstram que em seu governo instituiu-se um grande esquema de compra de apoio parlamentar. Num tribunal formado majoritariamente por ministros indicados pelo próprio Lula e por sua sucessora, Dilma Rousseff, as evidências foram tidas como suficientes para mandar para a cadeia algumas figuras centrais de seu partido — mesmo depois de esgotadas todas as instâncias de recurso previstas pela legislação. 
 
O ex-presidente, aliás, tratou de se dissociar, de maneira desleal, dos mensaleiros que o ajudaram a fundar o Partido dos Trabalhadores, nos anos 1980, e a conquistar o mais alto posto da República, em 2002. Ele afirmou que embora haja "companheiros do PT presos, não se trata de gente da sua confiança".
 
Um desses companheiros é José Dirceu, que chefiou a primeira campanha eleitoral de Lula e depois, no primeiro ano de seu mandato, exerceu o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Dirceu foi condenado a 7 anos e 11 meses de prisão e passa seus dias atualmente no presídio da Papuda, em Brasília.
 
Outro companheiro é José Genoíno, igualmente fundador do PT. Ele ocupou a presidência do partido entre 2002 e 2005 — a era do mensalão, e um momento em que Lula exercia hegemonia absoluta sobre as engrenagens do PT. 
 
28 de abril de 2014
Carlos Graieb / Veja

MAIS MÉDICOS: FRAGMENTOS SOBRE A LOUCURA



 
Nem eu nem meus colegas brasileiros rejeitamos a ideia de mais médicos, afinal essa é uma aspiração planetária. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), faltam no mundo 4,3 milhões de médicos e enfermeiras, carência impossível de ser ignorada, pois penaliza 1 bilhão de pessoas, como sempre aquelas que perambulam à margem da existência digna.
 
O que eu e a imensa maioria dos médicos brasileiros não conseguimos aceitar é a forma como o programa Mais Médicos foi imposto à nação. Para dissimular a indecência na saúde, nossos governantes trouxeram médicos cubanos. Iniciativa de grande apelo aos mais distraídos, mas ilegítima, injusta, inconsistente e empulhadora.
 
Iniciativa ilegítima por violar as leis e os valores da sociedade brasileira. Como aceitar que profissionais recebam menos de 10% do que foi anunciado; cidadãos proibidos de expressar seus sentimentos, vivendo em cativeiros, num país onde a liberdade constitui uma conquista inegociável de seu povo.
 
Injusta porque, em três anos, serão transferidos R$ 5 bilhões para Cuba, país igualmente carente, mas que não pode ser privilegiado em detrimento dos desvalidos do Brasil. País habitado por 60 milhões de analfabetos e por 6,5 milhões de pessoas vivendoem extrema pobreza, que vão para a cama sem saber se terão o que comer no dia seguinte.
 
Também injusta porque, para implementar um programa tão inconsistente, nossas autoridades demonizaram os médicos brasileiros, cuja competência e abnegação é reconhecida dentro e fora de nossas fronteiras. O ex-ministro Alexandre Padilha escreveu nesta Folha que os médicos brasileiros aprendiam com os pacientes pobres nos hospitais públicos, para depois só tratar ricos.
 
Poucas vezes testemunhei algo tão preconceituoso, perigoso e mentiroso. O ex-ministro, que diz ter estudado medicina, sabe que em todo o planeta existe um contrato social não escrito: médicos aprendem em hospitais universitários e, como retribuição, os pacientes recebem cuidados orientados ou providos por professores, que se colocam entre os mais competentes médicos de cada país.
 
Iniciativa inconsistente porque os médicos cubanos, com formação dúbia, serão incapazes de exercer qualquer ação médica efetiva em ambientes degradados e abandonados. O que farão frente a um paciente com dor aguda no peito? Se do céu cair um eletrocardiograma, não saberão interpretá-lo. Se por intuição desconfiarem de um infarto, não conseguirão tratá-lo. Se alguma divindade conseguir transportar o paciente para um centro mais desenvolvido, inexistirão vagas nos hospitais do SUS. Atendido no setor de emergências, ele morrerá pelo infarto e de frio, pois terá que utilizar o seu cobertor para forrar o chão gélido, onde será despejado e não atendido.
 
Iniciativa empulhadora porque atribui a ruína da saúde à falta de médicos nos rincões, quando na verdade a indecência instalou-se porque o Brasil tem sido dirigido por governantes desonestos e de uma inépcia inabalável.
 
Governo cujo Ministério da Saúde promoveu, nos últimos cinco anos, o fechamento de 286 hospitais ligados ao SUS e deixou de utilizar, em 2012, R$ 17 bilhões dos parcos recursos a ele destinados. Valor com o qual teriam sido construídas e equipadas 18 mil unidades básicas de saúde e com o qual menos corpos estariam despencando diante das portas impenetráveis dos hospitais públicos.
 
Dirigentes coniventes com a corrupção, que segundo a ONU apoderou-se, em 2012, de R$ 200 bilhões da riqueza do Brasil, suficientes para construir 9 milhões de residências populares. Também muitos leitos hospitalares se contabilizados os descaminhos recentes da turma do punho cerrado, do bando das mãos lambuzadas de petróleo ou do time dos pés entortados.
 
Lamento prever a ruína próxima do Mais Médicos. Os cubanos já estão migrando para centros mais prósperos e os nossos governantes, sob jugo da marquetagem eleitoreira e com mentiras repetidas, esforçam-se para esconder os frangalhos da ação tresloucada.
Restarão no palco do horror, abandonados e resignados, aqueles que nunca conseguirão expressar a desilusão.

MIGUEL SROUGI, 67, professor titular de urologia da Faculdade de Medicina da USP, é pós-graduado em urologia pela Universidade Harvard (EUA) e presidente do Conselho do Instituto Criança é Vida
 
28 de abril de 2014
 

O BRASIL E O CAPITAL NO SÉCULO XXI




Um fenômeno está varrendo o pensamento econômico contemporâneo. Como há muito tempo não se via, um livro está provocando uma tempestade de debates nos países mais ricos do mundo, especialmente nos Estados Unidos, e as ondas devem chegar em breve a todas as partes do mundo, inclusive ao Brasil.
 
Trata-se de “O Capital no Século XXI”, do economista francês Thomas Piketty, de 42 anos, que nas últimas semanas vem sendo comparado a Marx, Keynes, Tocqueville, com seu livro de quase 700 páginas na tradução inglesa (incluindo índice, tabelas e ilustrações) alcançando o primeiro lugar de venda da Amazon, e sendo comparado aos grandes clássicos dos fundadores da Economia (inclusive O Capital, de Marx, ao qual o título faz alusão).
 
O sucesso é tanto que a imprensa americana vem descrevendo a viagem do autor pelos Estados Unidos como um tour de rock star, em que palestras acadêmicas normalmente sonolentas transformam-se em eventos de forte excitamento, com pessoas acumulando-se pelos cantos, lutando para entrar na sala e telões instalados para os que ficaram de fora.
 
Parecem ser duas as razões para o sucesso estrondoso de Piketty e seu livro. O primeiro é que o tema central é a desigualdade, que se transformou na grande questão dos países ricos depois da crise global de 2008 e 2009.
 
O segundo motivo é que Piketty não é mais um filósofo ou intelectual de humanas pouco versado em números tecendo vociferações retóricas ou elucubrações incompreensíveis contra as injustiças e opressões do mundo. Na verdade, o francês é um economista com forte base matemática, que foi professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT) entre 1993 e 1995. Além disso, seu livro é em grande medida baseado num trabalho (em equipe) maciço e exaustivo ao longo de 15 anos, de levantamento de bases de dados sobre riqueza e renda em diversos países, em boa parte a partir de fontes tributárias.
 
Em outras palavras, o autor de “O Capital no Século XXI” não pode ser descartado como alguém “que não sabe fazer contas”, como os economistas mais bem preparados costumam se referir (várias vezes com razão) aos que “contestam o sistema” apenas com argumentos emocionais.
 
A tese central do livro, a esta altura já bastante conhecida e divulgada, é que o capitalismo tende, sim, a aumentar a desigualdade, porque os rendimentos do capital crescem mais do que o PIB, que é o parâmetro para a tendência de expansão da renda do trabalho. Assim, por mais que os trabalhadores labutem, a sua renda ficará progressivamente defasada em relação à riqueza dos capitalistas, muito dos quais simplesmente herdaram suas fortunas.
 
Evidentemente, o livro trata de muitos outros temas, como as super remunerações dos executivos americanos, para as quais Piketty não enxerga fundamento em termos de produção de valor econômico equivalente. Um charme extra do livro são digressões sobre desigualdade e heranças, a partir de fontes literárias como Honoré de Balzac e Jane Austen.
 
Piketty também busca mostrar como a queda da desigualdade nas economias mais avançadas em meados do século passado foi um acidente de percurso, causado por grande destruição de riqueza no topo da distribuição em função de episódios históricos como a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial. A partir dos anos 80, porém, a lógica básica do capitalismo se reinstalou, e a desigualdade voltou a crescer.
 
Piketty propõe, como solução para o problema por ele indicado, aumento da progressividade dos impostos e uma tributação global sobre a riqueza.
 
Apesar da aclamação como um livro com fôlego de clássico, o que é reconhecido mesmo pelos que discordam das teses de Piketty, “O Capital no Século XXI” está longe de ter se tornado uma unanimidade. Como seria de esperar, os muitos dados, interpretações e teses do trabalho estão sendo contestados e discutidos acirradamente. Não há dúvida, porém, de que o livro mudou a configuração do debate econômico atual, em cujo centro permanecerá por muito tempo.
 
Brasil
 
No Brasil, um país que na verdade reduziu notavelmente a desigualdade de renda ao longo de quase 15 anos, será curioso observar o impacto de O Capital no Século XXI e seus possíveis efeitos na discussão eleitoral.
 
Um fato que chama a atenção é que a distribuição no Brasil melhorou por razões que não estão no centro dos debates provocados pelo livro de Piketty. Aqui, a queda da desigualdade esteve ligada a aumento da formalização, elevação do salário mínimo, massificação de programas sociais e melhora da educação. Esses ingredientes, porém, não têm fôlego infinito – quando e se o Brasil reduzir o seu nível ainda elevadíssimo de desigualdade para padrões mais normais, nossas armas atuais de distribuição serão menos eficazes, e os mecanismos inerentes ao capitalismo apontados por Piketty podem levar a má distribuição a recrudescer.
 
No Brasil, apesar de toda a melhora social recente, os muito ricos são ainda pouco tributados na comparação com outros países, como mostra recente levantamento da PricewaterhouseCoopers (PWC) produzido para a BBC Brasil. É um assunto que teria tudo para esquentar o debate eleitoral.
 
28 de abril de 2014
Fernando Dantas

EU ESTOU POR FORA

Você se sente igual a mim ou está por dentro do escândalo de Pasadena?

Salamanca é uma cidade universitária, na Espanha, toda de pedras douradas, pontuada por monumentos, palácios e praças. Na Universidade de Salamanca, fundada em 1218, Lula recebeu na semana passada o título de doutor honoris causa. O ex-presidente preferiu não falar nada sobre a polemica de Pasadena. Alegou "estar fora" do Brasil. Você está por dentro do escândalo? Imagino que acompanhe a novela nos mínimos detalhes, pela imprensa. Não? Cansou? Acha que não vai dar em nada?
 
São bilhões demais, personagens demais, corretoras, laboratórios, empreiteiras e multinacionais, provas de corrupção em vários níveis, bandidos de toda sorte e escalão, doleiros, executivos, políticos, ministros, fantasmas. É um roteiro difícil de destrinchar até para um país viciado em telenovelas. Um enredo quase inverossímil de tão sujo, envolvendo “nossa” Petrobras. A primeira marca institucional, em 1958, era um losango amarelo, de contorno verde, com a palavra “Petrobrás”, ainda com acento, em azul. Em 1994, perdeu o acento, passou a não seguir as regras gramaticais, tornou-se um logotipo.

Imagino que, se fizessem uma pesquisa simples, em todo o Brasil, com uma única pergunta – “o que é Pasadena? (pa-ssa-di- n­a)” –, o cidadão comum teria dificuldade de responder, ou mesmo de pronunciar corretamente o nome da refinaria americana. Depois que a lama veio à tona, quem primeiro disse que a compra de Pasadena foi um “mau negócio” foi a presidente da Petrobras, Graça Foster. Ela também afirmou que a Petrobras “não é uma quitanda”. Não é mesmo, isso a gente sabe.

Tenho uma intuição, posso estar errada: o cidadão comum não lê mais nenhuma reportagem sobre a Petrobras, a não ser que se anuncie aumento da gasolina. Olha os títulos do escândalo, com desânimo. Deveria ler mais, se quisesse votar com consciência. Mas não. O cidadão comum está “por fora”. É na ignorância, no cansaço e na descrença que o governo aposta.

Pasadena, passa boi, passa boiada, e o cidadão comum não consegue se relacionar com reportagens que citam valores estratosféricos e esmiuçam detalhes técnicos como “a arqueação dos tanques de armazenamento da refinaria”, saques milionários sem registro, milhares de barris de petróleo que somem em trânsito ou dossiês confidenciais. Na pesquisa nacional, poderíamos também perguntar ao cidadão comum o que é “put option”. Corremos o risco de ele se sentir ofendido. “Put... o quê?”

Para que o cidadão comum e eu não fiquemos tão por fora, só resta mesmo criar uma CPI séria, concentrada na Petrobras, com poderes criminais, depoimentos no Congresso de todos os envolvidos... e que comece rápido, antes de o país parar tudo para ver os jogos da Copa. O tempo ruge. O governo federal sabe disso, o Congresso também. Dilma não quer uma CPI investigando apenas Pasadena.

Não é bom. Porque Pasadena está ligada umbilicalmente à alegada incompetência gestora de Dilma. O negócio piorou quando o ex-presidente da Petrobras José Sergio Gabrielli, do núcleo lulopetista da novela, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, afirmou: “Dilma não pode fugir da responsabilidade dela”. Gabrielli não gostou de ser apontado como único responsável por um “parecer falho e incompleto”. Quem mais se rebelará contra o script?

É importante que o cidadão comum saiba que o mau negócio da compra de Pasadena já é investigado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pelo Tribunal de Contas da União, pela Controladoria-Geral da União e pela própria Petrobras.

O ideal é que se investigue também, a jato, a extraordinária rede de propinas construída pelo ex-diretor da Petrobras, o engenheiro Paulo Roberto Costa, um vilão de folhetim. A rede envolve dezenas de empresas, no Brasil e no exterior, e vários partidos políticos.

Dilma e o PT preferiam uma CPI ecumênica. Que investigasse simultaneamente a Petrobras e os podres de Aécio Neves e Eduardo Campos, em São Paulo e em Pernambuco. Uma CPI assim, agindo em três frentes ao mesmo tempo, não faz sentido, não conseguiríamos ligar lé com cré. O Brasil não está preparado para isso. Deveríamos abrir três CPIs. Afinal, temos tempo de sobra, é ano de eleição e só estamos totalmente atrasados para sediar a Copa do Mundo.

A ministra do STF Rosa Weber decidiu enfrentar a bancada de Dilma e mandar instalar de imediato no Senado a CPI da Petrobras, escândalo nacional. Em defesa da “autonomia do Senado”, Renan Calheiros prometeu recorrer contra a CPI, mas de Roma. Logo depois da Páscoa esticada, em Alagoas, Renan foi para a Itália por seis dias, em viagem paga por nós, para ver a canonização de José de Anchieta, como bom católico que é. O vice-presidente Michel Temer também foi. A fé desse povo de Brasília move montanhas.

* Versão online corrigida, para refletir o teor correto das declarações do ex-presidente Lula

28 de abril de 2014
Ruth de Aquino

LA PAURA FA NOVANTA

 

Naquela reunião entre bons camaradas, em 8 de abril, há 20 dias, Lula, o chefe de todos os chefes, afirmou que o governo federal deve fazer um debate "ofensivo" para rebater as denúncias contra a Petrobrás e defender a estatal com "unhas e dentes". E orientou os nove blogueiros sentados à sua volta que participassem dessa defesa.
 
Longe de mim fazer qualquer analogia entre o número de convidados para o copo d’ água no Instituto Lula e o acidente que vitimou o ex-presidente. Minha analogia é outra, que explico.
 
De acordo com a Cabala hebraica, na Bíblia não há palavra, letra ou signo sem algum significado misterioso correlato. O mundo não seria nada além de um conjunto de símbolos a serem decodificados. O estudo da Cabala é sofisticado e confesso, está muito acima de minhas possibilidades.
 
Portanto não é nela que vou falar, mas em uma teoria napolitana que, ouso dizer, se baseou livremente na Cabala: a Smorfia, que se dedica ao desejo muito humano de compreender o significado dos sonhos, sempre misteriosos e instigantes, relacionando-os à nossa vida de todos os dias, interpretando símbolos e números.
 
De acordo com a Smorfia, o número 9 está relacionado à ninhada. E o 90 ao medo. Daí vem o ditado italiano La Paura Fa Novanta. Será a paura que está minando o PT?




O medo nos leva a ver nas sombras monstros terríveis e a agir de modo impensado. A impressão que dá é que o PT, líderes e militantes, estão sob o efeito de uma paura de arrepiar os cabelos na nuca. Lula já havia pedido aos blogueiros do seu coração que defendessem com “unhas e dentes” a Petrobras e tudo aquilo em que “nós acreditamos” (sic). Disse mais: “que partissem para cima”.
 
Mais recentemente, o PT organizou um “camping digital” onde começou a treinar suas milícias para combater, nas redes sociais, “os que expõem os inimigos do partido”. Lá se ouviu a recomendação: “Não deixem ataque sem defesa”.
 
Churchill, ao prometer naquele vozeirão estupendo, We Shall Never Surrender!, deixou muito claro a quem se referia. Todos sabiam quem era o inimigo mortal daquele homem que aos 66 anos levantou seu país e muitas outras nações com a força de sua fé e seu amor pela liberdade e pela democracia.
Lula está com 68 anos. Quer levantar o Brasil para defender o PT e a joia da Coroa, a Petrobras. Mas não diz quem são os inimigos. Por paura?
 
Seria dona Dilma, que disse claramente que assinou o contrato de compra da Pasadena por ter sido mal informada? Ou a presidente da Petrobras que admitiu: aquela compra foi um mau negócio? Ou seriam os funcionários da empresa que alegam 'cumpríamos ordens'?
 
Agora desponta no horizonte o rombo na Petros. Segundo O Globo de ontem, são 75 mil os funcionários da Petrobras e subsidiárias que contam com a Petros para suas aposentadorias. Fundo que tomou um rombo que, corrigido, pode chegar a 500 milhões.
Motivo para paura, pois, é o que não falta...

28 de abril de 2014
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa, professora e tradutora

A MELHOR PROFISSÃO DO MUNDO

 

Agradecemos a Luís Antônio Nikão Duarte, da Agência JB, o envio do texto do discurso de Gabriel García Márquez, proferido na 52ª Assembleia da Sociedad Interamaricana de Prensa (SIP), em Los Angeles (EUA), em 7 de outubro de 1996. Os principais trechos estão publicados abaixo, em português; no pé, a íntegra, em espanhol. 

     Há uns cinquenta anos não estavam na moda escolas de jornalismo. Aprendia-se nas redações, nas oficinas, no botequim do outro lado da rua, nas noitadas de sexta-feira. O jornal todo era uma fábrica que formava e informava sem equívocos e gerava opinião num ambiente de participação no qual a moral era conservada em seu lugar.

Não haviam sido instituídas as reuniões de pauta, mas às cinco da tarde, sem convocação oficial, todo mundo fazia uma pausa para descansar das tensões do dia e confluía num lugar qualquer da redação para tomar café. Era uma tertúlia aberta em que se discutiam a quente os temas de cada seção e se davam os toques finais na edição do dia seguinte. Os que não aprendiam naquelas cátedras ambulantes e apaixonadas de vinte e quatro horas diárias, ou os que se aborreciam de tanto falar da mesma coisa, era porque queriam ou acreditavam ser jornalistas, mas na realidade não o eram.

O jornal cabia então em três grandes seções: notícias, crônicas e reportagens, e notas editoriais. A seção mais delicada e de grande prestígio era a editorial. O cargo mais desvalido era o de repórter, que tinha ao mesmo tempo a conotação de aprendiz e de ajudante de pedreiro. O tempo e a profissão mesma demonstraram que o sistema nervoso do jornalismo circula na realidade em sentido contrário. Dou fé: aos 19 anos, sendo o pior dos estudantes de direito, comecei minha carreira como redator de notas editoriais e fui subindo pouco a pouco e com muito trabalho pelos degraus das diferentes seções, até o nível máximo de repórter raso.

A prática da profissão, ela própria, impunha a necessidade de se formar uma base cultural, e o ambiente de trabalho se encarregava de incentivar essa formação. A leitura era um vício profissional. Os autodidatas costumam ser ávidos e rápidos, e os daquele tempo o fomos de sobra para seguir abrindo caminho na vida para a melhor profissão do mundo - como nós a chamávamos. Alberto Lleras Camargo, que foi sempre jornalista e duas vezes presidente da Colômbia, não tinha sequer o curso secundário.

A criação posterior de escolas de jornalismo foi uma reação escolástica contra o fato consumado de que o ofício carecia de respaldo acadêmico. Agora as escolas existem não apenas para a imprensa escrita como para todos os meios inventados e por inventar. Mas em sua expansão varreram até o nome humilde que o ofício teve desde suas origens no século XV, e que agora não é mais jornalismo, mas Ciências da Comunicação ou Comunicação Social.

O resultado não é, em geral, alentador. Os jovens que saem desiludidos das escolas, com a vida pela frente, parecem desvinculados da realidade e de seus problemas vitais, e um afã de protagonismo prima sobre a vocação e as aptidões naturais. E em especial sobre as duas condições mais importantes: a criatividade e a prática.

Em sua maioria, os formados chegam com deficiências flagrantes, têm graves problemas de gramática e ortografia, e dificuldades para uma compreensão reflexiva dos textos. Alguns se gabam de poder ler de trás para frente um documento secreto no gabinete de um ministro, de gravar diálogos fortuitos sem prevenir o interlocutor, ou de usar como notícia uma conversa que de antemão se combinara confidencial.

O mais grave é que tais atentados contra a ética obedecem a uma noção intrépida da profissão, assumida conscientemente e orgulhosamente fundada na sacralização do furo a qualquer preço e acima de tudo. Seus autores não se comovem com a premissa de que a melhor notícia nem sempre é a que se dá primeiro, mas muitas vezes a que se dá melhor. Alguns, conscientes de suas deficiências, sentem-se fraudados pela faculdade onde estudaram e não lhes treme a voz quando culpam seus professores por não lhes terem inculcado as virtudes que agora lhes são requeridas, especialmente a curiosidade pela vida.

É certo que tais críticas valem para a educação geral, pervertida pela massificação de escolas que seguem a linha viciada do informativo ao invés do formativo. Mas no caso específico do jornalismo parece que, além disso, a profissão não conseguiu evoluir com a mesma velocidade que seus instrumentos e os jornalistas se extraviaram no labirinto de uma tecnologia disparada sem controle em direção ao futuro.

Quer dizer: as empresas empenharam-se a fundo na concorrência feroz da modernização material e deixaram para depois a formação de sua infantaria e os mecanismos de participação que no passado fortaleciam o espírito profissional. As redações são laboratórios assépticos para navegantes solitários, onde parece mais fácil comunicar-se com os fenômenos siderais do que com o coração dos leitores. A desumanização é galopante.

Não é fácil aceitar que o esplendor tecnológico e a vertigem das comunicações, que tanto desejávamos em nossos tempos, tenham servido para antecipar e agravar a agonia cotidiana do horário de fechamento.

Os principiantes queixam-se de que os editores lhes concedem três horas para uma tarefa que na hora da verdade é impossível em menos de seis, que lhes encomendam material para duas colunas e na hora da verdade lhes concedem apenas meia coluna, e no pânico do fechamento ninguém tem tempo nem ânimo para lhes explicar por que, e menos ainda para lhes dizer uma palavra de consolo.

'Nem sequer nos repreendem', diz um repórter novato ansioso por ter comunicação direta com seus chefes. Nada: o editor, que antes era um paizão sábio e compassivo, mal tem forças e tempo para sobreviver ele mesmo ao cativeiro da tecnologia.

A pressa e a restrição de espaço, creio, minimizaram a reportagem, que sempre tivemos na conta de gênero mais brilhante, mas que é também o que requer mais tempo, mais investigação, mais reflexão e um domínio certeiro da arte de escrever. É, na realidade, a reconstituição minuciosa e verídica do fato. Quer dizer: a notícia completa, tal como sucedeu na realidade, para que o leitor a conheça como se tivesse estado no local dos acontecimentos.

O gravador é culpado pela glorificação viciosa da entrevista. O rádio e a televisão, por sua própria natureza, converteram-na em gênero supremo, mas também a imprensa escrita parece compartilhar a idéia equivocada de que a voz da verdade não é tanto a do jornalista que viu como a do entrevistado que declarou. Para muitos redatores de jornais, a transcrição é a prova de fogo: confundem o som das palavras, tropeçam na semântica, naufragam na ortografia e morrem de enfarte com a sintaxe.

Talvez a solução seja voltar ao velho bloco de anotações, para que o jornalista vá editando com sua inteligência à medida que escuta, e restitua o gravador a sua categoria verdadeira, que é a de testemunho inquestionável. De todo modo, é um consolo supor que muitas das transgressões da ética, e outras tantas que aviltam e envergonham o jornalismo de hoje, nem sempre se devem à imoralidade, mas igualmente à falta de domínio do ofício.

Talvez a desgraça das faculdades de Comunicação Social seja ensinar muitas coisas úteis para a profissão, porém muito pouco da profissão propriamente dita. Claro que devem persistir em seus programas humanísticos, embora menos ambiciosos e peremptórios, para ajudar a constituir a base cultural que os alunos não trazem do curso secundário.

Entretanto, toda a formação deve se sustentar em três vigas mestras: a prioridade das aptidões e das vocações, a certeza de que a investigação não é uma especialidade dentro da profissão, mas que todo jornalismo deve ser investigativo por definição, e a consciência de que a ética não é uma condição ocasional, e sim que deve acompanhar sempre o jornalismo, como o zumbido acompanha o besouro.

O objetivo final deveria ser o retorno ao sistema primário de ensino em oficinas práticas formadas por pequenos grupos, com um aproveitamento crítico das experiências históricas, e em seu marco original de serviço público. Quer dizer: resgatar para a aprendizagem o espírito de tertúlia das cinco da tarde.

Um grupo de jornalistas independentes estamos tratando de fazê-lo, em Cartagena de Indias, para toda a América Latina, com um sistema de oficinas experimentais e itinerantes que leva o nome nada modesto de Fundação do Novo Jornalismo Ibero-Americano. É uma experiência piloto com jornalistas novos para trabalhar em alguma especialidade - reportagem, edição, entrevistas de rádio e televisão e tantas outras - sob a direção de um veterano da profissão.

A mídia faria bem em apoiar essa operação de resgate. Seja em suas redações, seja com cenários construídos intencionalmente, como os simuladores aéreos que reproduzem todos os incidentes de vôo, para que os estudantes aprendam a lidar com desastres antes que os encontrem de verdade atravessados em seu caminho. Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade.

Quem não sofreu essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida, não pode imaginá-la. Quem não viveu a palpitação sobrenatural da notícia, o orgasmo do furo, a demolição moral do fracasso, não pode sequer conceber o que são. Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderia persistir numa profissão tão incompreensível e voraz, cuja obra termina depois de cada notícia, como se fora para sempre, mas que não concede um instante de paz enquanto não torna a começar com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.


***  

El mejor oficio del mundo

A una universidad colombiana se le preguntó cuáles son las pruebas de aptitud y vocación que se hacen a quienes desean estudiar periodismo y la respuesta fue terminante: “Los periodistas no son artistas”. Estas reflexiones, por el contrario, se fundan precisamente en la certidumbre de que el periodismo escrito es un género literario.

Hace unos cincuenta años no estaban de moda las escuelas de periodismo. Se aprendía en las salas de redacción, en los talleres de imprenta, en el cafetín de enfrente, en las parrandas de los viernes. Todo el periódico era una fábrica que formaba e informaba sin equívocos, y generaba opinión dentro de un ambiente de participación que mantenía la moral en su puesto. Pues los periodistas andábamos siempre juntos, hacíamos vida común, y éramos tan fanáticos del oficio que no hablábamos de nada distinto que del oficio mismo. El trabajo llevaba consigo una amistad de grupo que inclusive dejaba poco margen para la vida privada. No existían las juntas de redacción institucionales, pero a las cinco de la tarde, sin convocatoria oficial, todo el personal de planta hacía una pausa de respiro en las tensiones del día y confluía a tomar el café en cualquier lugar de la redacción. Era una tertulia abierta donde se discutían en caliente los temas de cada sección y se le daban los toques finales a la edición de mañana. Los que no aprendían en aquellas cátedras ambulatorias y apasionadas de veinticuatro horas diarias, o los que se aburrían de tanto hablar de los mismo, era porque querían o creían ser periodistas, pero en realidad no lo eran.

El periódico cabía entonces en tres grandes secciones: noticias, crónicas y reportajes, y notas editoriales. La sección más delicada y de gran prestigio era la editorial. El cargo más desvalido era el de reportero, que tenía al mismo tiempo la connotación de aprendiz y cargaladrillos. El tiempo y el mismo oficio han demostrado que el sistema nervioso del periodismo circula en realidad en sentido contrario. Doy fe: a los diecinueve años –siendo el peor estudiante de derecho– empecé mi carrera como redactor de notas editoriales y fui subiendo poco a poco y con mucho trabajo por las escaleras de las diferentes secciones, hasta el máximo nivel de reportero raso.

La misma práctica del oficio imponía la necesidad de formarse una base cultural, y el mismo ambiente de trabajo se encargaba de fomentarla. La lectura era una adicción laboral. Los autodidactas suelen ser ávidos y rápidos, y los de aquellos tiempos lo fuimos de sobra para seguir abriéndole paso en la vida al mejor oficio del mundo… como nosotros mismos lo llamábamos. Alberto Lleras Camargo, que fue periodista siempre y dos veces presidente de Colombia, no era ni siquiera bachiller.
La creación posterior de las escuelas de periodismo fue una reacción escolástica contra el hecho cumplido de que el oficio carecía de respaldo académico. Ahora ya no son sólo para la prensa escrita sino para todos los medios inventados y por inventar.

Pero en su expansión se llevaron de calle hasta el nombre humilde que tuvo el oficio desde sus orígenes en el siglo XV, y ahora no se llama periodismo sino Ciencias de la Comunicación o Comunicación Social. El resultado, en general, no es alentador. Los muchachos que salen ilusionados de las academias, con la vida por delante, parecen desvinculados de la realidad y de sus problemas vitales, y prima un afán de protagonismo sobre la vocación y las aptitudes congénitas. Y en especial sobre las dos condiciones más importantes: la creatividad y la práctica.

La mayoría de los graduados llegan con deficiencias flagrantes, tienen graves problemas de gramática y ortografía, y dificultades para una comprensión reflexiva de textos. Algunos se precian de que pueden leer al revés un documento secreto sobre el escritorio de un ministro, de grabar diálogos casuales sin prevenir al interlocutor, o de usar como noticia una conversación convenida de antemano como confidencial. Lo más grave es que estos atentados éticos obedecen a una noción intrépida del oficio, asumida a conciencia y fundada con orgullo en la sacralización de la primicia a cualquier precio y por encima de todo. No los conmueve el fundamento de que la mejor noticia no es siempre la que se da primero sino muchas veces la que se da mejor. Algunos, conscientes de sus deficiencias, se sienten defraudados por la escuela y no les tiembla la voz para culpar a sus maestros de no haberles inculcado las virtudes que ahora les reclaman, y en especial la curiosidad por la vida.

Es cierto que estas críticas valen para la educación general, pervertida por la masificación de escuelas que siguen la línea viciada de lo informativo en vez de lo formativo. Pero en el caso específico del periodismo parece ser, además, que el oficio no logró evolucionar a la misma velocidad que sus instrumentos, y los periodistas se extraviaron en el laberinto de una tecnología disparada sin control hacia el futuro. Es decir, las empresas se han empeñado a fondo en la competencia feroz de la modernización material y han dejado para después la formación de su infantería y los mecanismos de participación que fortalecían el espíritu profesional en el pasado. Las salas de redacción son laboratorios asépticos para navegantes solitarios, donde parece más fácil comunicarse con los fenómenos siderales que con el corazón de los lectores. La deshumanización es galopante.

No es fácil entender que el esplendor tecnológico y el vértigo de las comunicaciones, que tanto deseábamos en nuestros tiempos, hayan servido para anticipar y agravar la agonía cotidiana de la hora del cierre. Los principiantes se quejan de que los editores les conceden tres horas para una tarea que en el momento de la verdad es imposible en menos de seis, que les ordenan material para dos columnas y a la hora de la verdad sólo les asignan media, y en el pánico del cierre nadie tiene tiempo ni humor para explicarles por qué, y menos para darles una palabra de consuelo. “Ni siquiera nos regañan”, dice un reportero novato ansioso de comunicación directa con sus jefes. Nada: el editor que antes era un papá sabio y compasivo, apenas si tiene fuerzas y tiempo para sobrevivir él mismo a las galeras de la tecnología.

Creo que es la prisa y la restricción del espacio lo que ha minimizado el reportaje, que siempre tuvimos como el género estrella, pero que es también el que requiere más tiempo, más investigación, más reflexión, y un dominio certero del arte de escribir. Es en realidad la reconstitución minuciosa y verídica del hecho. Es decir: la noticia completa, tal como sucedió en la realidad, para que el lector la conozca como si hubiera estado en el lugar de los hechos.

Antes que se inventaran el teletipo y el télex, un operador de radio con vocación de mártir capturaba al vuelo las noticias del mundo entre silbidos siderales, y un redactor erudito las elaboraba completas con pormenores y antecedentes, como se reconstruye el esqueleto entero de un dinosaurio a partir de una vértebra. Sólo la interpretación estaba vedada, porque era un dominio sagrado del director, cuyos editoriales se presumían escritos por él, aunque no lo fueran, y casi siempre con caligrafías célebres por lo enmarañadas. Directores históricos tenían linotipistas personales para descifrarlas.

Un avance importante en este medio siglo es que ahora se comenta y se opina en la noticia y en el reportaje, y se enriquece el editorial con datos informativos. Sin embargo, los resultados no parecen ser los mejores, pues nunca como ahora ha sido tan peligroso este oficio. El empleo desaforado de comillas en declaraciones falsas o ciertas permite equívocos inocentes o deliberados, manipulaciones malignas y tergiversaciones venenosas que le dan a la noticia la magnitud de un arma mortal. Las citas de fuentes que merecen entero crédito, de personas generalmente bien informadas o de altos funcionarios que pidieron no revelar su nombre, o de observadores que todo lo saben y que nadie ve, amparan toda clase de agravios impunes. Pero el culpable se atrinchera en su derecho de no revelar la fuente, sin preguntarse si él mismo no es un instrumento fácil de esa fuente que le transmitió la información como quiso y arreglada como más le convino. Yo creo que sí: el mal periodista piensa que su fuente es su vida misma –sobre todo si es oficial– y por eso la sacraliza, la consiente, la protege, y termina por establecer con ella una peligrosa relación de complicidad, que lo lleva inclusive a menospreciar la decencia de la segunda fuente.

Aún a riesgo de ser demasiado anecdótico, creo que hay otro gran culpable en este drama: la grabadora. Antes de que ésta se inventara, el oficio se hacía bien con tres recursos de trabajo que en realidad eran uno sólo: la libreta de notas, una ética a toda prueba, y un par de oídos que los reporteros usábamos todavía para oír lo que nos decían. El manejo profesional y ético de la grabadora está por inventar. Alguien tendría que enseñarle a los colegas jóvenes que el casete no es un sustituto de la memoria, sino una evolución de la humilde libreta de apuntes que tan buenos servicios prestó en los orígenes del oficio. La grabadora oye pero no escucha, repite –como un loro digital– pero no piensa, es fiel pero no tiene corazón, y a fin de cuentas su versión literal no será tan confiable como la de quien pone atención a las palabras vivas del interlocutor, las valora con su inteligencia y las califica con su moral. Para la radio tiene la enorme ventaja de la literalidad y la inmediatez, pero muchos entrevistadores no escuchan las respuestas por pensar en la pregunta siguiente.

La grabadora es la culpable de la magnificación viciosa de la entrevista. La radio y la televisión, por su naturaleza misma, la convirtieron en el género supremo, pero también la prensa escrita parece compartir la idea equivocada de que la voz de la verdad no es tanto la del periodista que vio como la del entrevistado que declaró. Para muchos redactores de periódicos la transcripción es la prueba de fuego: confunden el sonido de las palabras, tropiezan con la semántica, naufragan en la ortografía y mueren por el infarto de la sintaxis. Tal vez la solución sea que se vuelva a la pobre libretita de notas para que el periodista vaya editando con su inteligencia a medida que escucha, y le deje a la grabadora su verdadera categoría de testigo invaluable. De todos modos, es un consuelo suponer que muchas de las transgresiones éticas, y otras tantas que envilecen y avergüenzan al periodismo de hoy, no son siempre por inmoralidad, sino también por falta de dominio profesional.

Tal vez el infortunio de las facultades de Comunicación Social es que enseñan muchas cosas útiles para el oficio, pero muy poco del oficio mismo. Claro que deben persistir en sus programas humanísticos, aunque menos ambiciosos y perentorios, para contribuir a la base cultural que los alumnos no llevan del bachillerato. Pero toda la formación debe estar sustentada en tres pilares maestros: la prioridad de las aptitudes y las vocaciones, la certidumbre de que la investigación no es una especialidad del oficio sino que todo el periodismo debe ser investigativo por definición, y la conciencia de que la ética no es una condición ocasional, sino que debe acompañar siempre al periodismo como el zumbido al moscardón.

El objetivo final debería ser el retorno al sistema primario de enseñanza mediante talleres prácticos en pequeños grupos, con un aprovechamiento crítico de las experiencias históricas, y en su marco original de servicio público. Es decir: rescatar para el aprendizaje el espíritu de la tertulia de las cinco de la tarde.

Un grupo de periodistas independientes estamos tratando de hacerlo para toda la América Latina desde Cartagena de Indias, con un sistema de talleres experimentales e itinerantes que lleva el nombre nada modesto de Fundación para un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Es una experiencia piloto con periodistas nuevos para trabajar sobre una especialidad específica –reportaje, edición, entrevistas de radio y televisión, y tantas otras– bajo la dirección de un veterano del oficio.

En respuesta a una convocatoria pública de la Fundación, los candidatos son propuestos por el medio en que trabajan, el cual corre con los gastos del viaje, la estancia y la matrícula. Deben ser menores de treinta años, tener una experiencia mínima de tres, y acreditar su aptitud y el grado de dominio de su especialidad con muestras de las que ellos mismos consideren sus mejores y sus peores obras.

La duración de cada taller depende de la disponibilidad del maestro invitado –que escasas veces puede ser de más de una semana–, y éste no pretende ilustrar a sus talleristas con dogmas teóricos y prejuicios académicos, sino foguearlos en mesa redonda con ejercicios prácticos, para tratar de transmitirles sus experiencias en la carpintería del oficio. Pues el propósito no es enseñar a ser periodistas, sino mejorar con la práctica a los que ya lo son. No se hacen exámenes ni evaluaciones finales, ni se expiden diplomas ni certificados de ninguna clase: la vida se encargará de decidir quién sirve y quién no sirve.

Trescientos veinte periodistas jóvenes de once países han participado en veintisiete talleres en sólo año y medio de vida de la Fundación, conducidos por veteranos de diez nacionalidades. Los inauguró Alma Guillermoprieto con dos talleres de crónica y reportaje. Terry Anderson dirigió otro sobre información en situaciones de peligro, con la colaboración de un general de las Fuerzas Armadas que señaló muy bien los límites entre el heroísmo y el suicidio. Tomás Eloy Martínez, nuestro cómplice más fiel y encarnizado, hizo un taller de edición y más tarde otro de periodismo en tiempos de crisis. Phil Bennet hizo el suyo sobre las tendencias de la prensa en los Estados Unidos y Stephen Ferry lo hizo sobre fotografía. El magnífico Horacio Bervitsky y el acucioso Tim Golden exploraron distintas áreas del periodismo investigativo, y el español Miguel Ángel Bastenier dirigió un seminario de periodismo internacional y fascinó a sus talleristas con un análisis crítico y brillante de la prensa europea.

Uno de gerentes frente a redactores tuvo resultados muy positivos, y soñamos con convocar el año entrante un intercambio masivo de experiencias en ediciones dominicales entre editores de medio mundo. Yo mismo he incurrido varias veces en la tentación de convencer a los talleristas de que un reportaje magistral puede ennoblecer a la prensa con los gérmenes diáfanos de la poesía.
Los beneficios cosechados hasta ahora no son fáciles de evaluar desde un punto de vista pedagógico, pero consideramos como síntomas alentadores el entusiasmo creciente de los talleristas, que son ya un fermento multiplicador del inconformismo y la subversión creativa dentro de sus medios, compartido en muchos casos por sus directivas. El solo hecho de lograr que veinte periodistas de distintos países se reúnan a conversar cinco días sobre el oficio ya es un logro para ellos y para el periodismo. Pues al fin y al cabo no estamos proponiendo un nuevo modo de enseñarlo, sino tratando de inventar otra vez el viejo modo de aprenderlo.

Los medios harían bien en apoyar esta operación de rescate. Ya sea en sus salas de redacción, o con escenarios construidos a propósito, como los simuladores aéreos que reproducen todos los incidentes del vuelo para que los estudiantes aprendan a sortear los desastres antes de que se los encuentren de verdad atravesados en la vida. Pues el periodismo es una pasión insaciable que sólo puede digerirse y humanizarse por su confrontación descarnada con la realidad. Nadie que no la haya padecido puede imaginarse esa servidumbre que se alimenta de las imprevisiones de la vida. Nadie que no lo haya vivido puede concebir siquiera lo que es el pálpito sobrenatural de la noticia, el orgasmo de la primicia, la demolición moral del fracaso. Nadie que no haya nacido para eso y esté dispuesto a vivir sólo para eso podría persistir en un oficio tan incomprensible y voraz, cuya obra se acaba después de cada noticia, como si fuera para siempre, pero que no concede un instante de paz mientras no vuelve a empezar con más ardor que nunca en el minuto siguiente.

Gabriel Garcia Marquez

28 de abril de 2014