"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

SAÚDE PÚBLICA NA BAHIA CHOCA PAÍS COM "SEGURO SENHOR DO BONFIM"



 
Dois hospitais baianos foram destacados em reportagem do Fantástico deste domingo (25), feita com base em um estudo realizado pelo Tribunal de Contas da União para averiguar a qualidade do atendimento em 116 centros médicos públicos, os mais procurados pela população em todo o país.
No Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, é mostrada a situação de um paciente que aguarda há mais de um mês a marcação de uma ressonância magnética.
“Olha, um paciente que teve um sangramento, uma suspeita de sangramento cerebral, em qualquer lugar do mundo seria um paciente abordado de imediato porque se for um aneurisma, por exemplo, e ele romper, o paciente morre”, afirma o médico Djalma Duarte, funcionário do HGE, sobre o caso.
Segundo o relato do profissional, o procedimento não é realizado por falta de aparelho.
Outra unidade de saúde baiana mostrada pelo programa é o Clériston Andrade, em Feira de Santana, no qual não funciona o tomógrafo, utilizado para examinar o cérebro.
Um funcionário conta que o aparelho novo já chegou há cerca de cinco meses, mas está em uma caixa, no canto de um corredor, por falta de uma sala mais ampla para instalação.
A Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) informou à reportagem que o processo de licitação da sala foi iniciado, mas ainda não há previsão para que o tomógrafo comece a funcionar.
Ainda na unidade do interior, outro funcionário diz o que é feito quando falta antibiótico.

“Você conhece o ‘seguro Senhor do Bonfim’? A gente amarra uma fita ali do lado, meu irmão, e vai”, afirma.

26 de maio de 2014
Do Bahia Notícias

INSATISFEITAS, CENTRAIS SINDICAIS DEBANDAM PARA AÉCIO E CAMPOS



 
Com mais de 6 milhões de trabalhadores filiados, as cinco maiores centrais sindicais do País estão divididas em relação à eleição presidencial – diferentemente do que ocorreu em 2010, quando todas apoiaram a petista Dilma Rousseff.

Há discordâncias até no interior de cada entidade. Até agora, as três maiores delas – Central Única dos Trabalhadores (CUT), a Força Sindical e a União Geral dos Trabalhadores (UGT) – já contam com suas cúpulas envolvidas no apoio declarado a, respectivamente, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB).

O respaldo desse apoio nas bases, porém, não é pleno. O melhor exemplo disso é a CUT, braço sindical do PT, partido da presidente. Com seus 2,2 mil sindicatos e 2,7 milhões de sócios, é a maior delas e majoritariamente pró-Dilma.
“Os servidores estão muito magoados com Dilma, que não cumpriu as promessas políticas que a elegeram. Defendemos a neutralidade da CUT nessas eleições”, disse Sergio Ronaldo da Silva, secretário-geral da confederação dos servidores federais, a Condsef, filiada à CUT. “Não é possível sustentar esse distanciamento da presidente com o movimento sindical em um segundo mandato, mas, para nós, é indiscutível que Dilma encarna o melhor projeto para os trabalhadores brasileiros”, disse Adi dos Santos, presidente da CUT em São Paulo.

Segundo ele, os servidores precisam compreender o quadro geral: “Eles ganharam muito com Lula, é verdade, mas o que perderam com Dilma? Nada. O País é muito maior que a Condsef, a CUT e todo o movimento sindical, e isso precisa ser pensado na hora do voto”.

26 de maio de 2014
caminho21

CÂMERAS DE SEGURANÇA DENUNCIAM PARLAMENTARES ENVOLVIDOS COM YOUSSEF



Preso há dois meses, o doleiro Alberto Youssef ainda não pronunciou uma única palavra sobre seus negócios escusos, muito menos sobre os parceiros influentes que o ajudaram a montar o império que movimentou bilhões de dólares no Brasil e no exterior.
Na hora em que ele resolver falar — se é que isso um dia vai acontecer —, um pedaço do Congresso Nacional certamente vai ruir. No mensalão, o esquema de corrupção montado pelo governo petista para comprar apoio político, parlamentares e assessores formavam fila no caixa de uma discreta agência do Banco Rural situada em um shopping de Brasília.
O suborno era pago ali, sem muita cerimônia. Os políticos ou seus assessores chegavam, identificavam-se, recebiam o dinheiro e saíam tranquilamente. Foram descobertos porque deixaram suas assinaturas em recibos e pelos registros do sistema de segurança do prédio.
O escândalo, como se sabe, levou os principais personagens à prisão — mas a experiência não impediu mais uma surpreendente parceria, inclusive financeira, entre um criminoso conhecido e respeitáveis congressistas.
 
 
O escritório de Alberto Youssef, que funcionava numa área nobre na Zona Oeste de São Paulo, era, digamos assim, uma espécie de versão recente da então discreta agência brasiliense do Banco Rural. A base de operação do doleiro era também ponto de peregrinação de políticos de partidos sabidamente envolvidos em tramoias financeiras.
As investigações já revelaram que empresas-fantasma controladas por Youssef recebiam em suas contas inexplicáveis depósitos milionários de algumas das mais importantes empreiteiras do país. O dinheiro que entrava de um lado, por meio de contratos simulados de consultoria, saía por outro na forma de repasses a políticos e partidos.
Os mesmos políticos e partidos que indicavam os apadrinhados que contratavam as empreiteiras pagadoras. É desse triângulo equilátero da corrupção que emergem os clientes mais vistosos do doleiro. VEJA obteve os registros do prédio que durante anos abrigou o escritório de Youssef. A lista tem mensaleiro preso, assessor de ministro e deputados — vários deputados.
 
26 de maio de 2014
Rodrigo Rangel / Veja

EM UMA DURA SEMANA

A notícia começou a correr de boca em boca no meio da tarde de terça-feira. A cidade iria parar. Não uma cidade qualquer, mas a maior do Brasil, a que costuma medir seus engarrafamentos por quilômetros que parecem sempre cada vez mais esticados. Os trabalhadores voltaram para casa com dificuldade. No dia seguinte, amanheceram mais cedo para a luta de chegar ao trabalho.

Com o relato dessas cenas, expostas nos noticiários de TV, rádio, jornal, blogs e sites, é que li a entrevista do sociólogo Domenico De Masi, comemorando, mais uma vez, em seu novo livro, a suposta indolência brasileira. Segundo ele, graças aos índios, o ideal da eficiência e do produtivismo não pegou o Brasil. “Os índios não trabalhavam. Não era necessário. Tudo estava na natureza. Não precisavam nem se vestir porque o clima era bom. O brasileiro herdou do índio esse senso de ócio.”

É difícil encontrar visão mais superficial e estereótipo mais antigo sobre o Brasil, em geral; os índios, em particular. Se ele queria nos elogiar, escorregou para um lugar comum distante da realidade em todas as áreas.

Naquela quarta-feira, milhões de trabalhadores tentariam superar o quase insuperável obstáculo de uma cidade enorme com uma greve de ônibus para ir ao trabalho. Há quem tenha andado quilômetros, mesmo sem saber se ao fim do dia conseguiria voltar. Aconteceu o mesmo dias antes no Rio, com a vantagem que a greve foi anunciada no fim de um dia para começar no outro, e as pessoas puderam se organizar.

Domenico De Masi é simpático, bonachão, diz gostar muito do Brasil e tem boas ideias sobre abrir espaço no cotidiano para a criatividade e o prazer, mas ele tem errado na avaliação do que somos nós. Às vezes, até parece que o sociólogo italiano tem razão quando vemos a comparação dos índices de produtividade do Brasil comparado a outros países. Eles estão baixos e em queda. Somos reprovados em qualquer ranking feitos pelas várias entidades que se dispõem a comparar a produtividade no mundo.

O problema não é que o trabalhador brasileiro não queira ser produtivo, é que ele enfrenta barreiras demais. Não é por falta de empenho do trabalho, mas sim pelos enormes e conhecidos obstáculos que existem para que a economia seja mais produtiva. Governo após governo, especialistas apontam o dedo para a infraestrutura deficiente, a logística irracional, o excesso de burocracia, os impostos muitos e complexos, as dificuldades criadas pelo Estado que impedem que a produtividade avance.

O trabalhador brasileiro dedica 150 dias de trabalho do ano apenas para pagar impostos, calculou-se na semana passada. E, mesmo assim, diligentemente ele vai ao trabalho nesta corrida diária de obstáculos. A piora da mobilidade urbana tira horas e forças dos trabalhadores nas empresas e, pior, tempo de convívio com a família. A verdade sobre os brasileiros é que trabalhamos muito, a despeito das dificuldades criadas pela falta de investimento na limpeza do caminho que nos leva e traz do trabalho e escoa mercadorias.

A ideia da abundância da natureza tornando os índios indolentes ignora questões elementares. É difícil viver da floresta, preservando-a. Não é fácil acordar a cada dia e buscar alimentos que não estão disponíveis numa prateleira de supermercado, têm que ser extraídos, preparados, caçados, pescados, mantendo-se o delicado equilíbrio de uma floresta. Sobre o clima ameno que dispensava roupa, seria bom contar aos desavisados que dentro de uma floresta tropical a temperatura cai fortemente à noite. Não é fácil a tarefa de se adaptar a essas oscilações fortes.

O ócio criativo contém uma ideia melhor do que Domenico de Masi sugere ao explicar o Brasil e sua suposta negação do “produtivismo” e eficiência. Como “produtivismo”, ele explica que vem da influência ruim dos americanos. No mundo globalizado, todos temos que ser eficientes e não há nada de errado nisso, nem o conceito pertence a um país.

Já fomos vítimas das simplificações grosseiras do pensamento etnocêntrico estrangeiro várias vezes. Mas, numa semana em que o Brasil exausto lutava para trabalhar, para elevar sua produtividade, contra todos os obstáculos criados pela conjuntura e por problemas de infraestrutura, foi pior. Temos qualidades a serem ressaltadas por quem nos olha com visão amiga, mas a indolência não é elogio, é ofensa. Que o simpático italiano se aprofunde mais em nos entender. Ele encontrará o que elogiar.

 
26 de maio de 2014
Miriam Leitão, O Globo

ATRASOS NO PAC DA DILMA CAUSARAM R$ 28 BILHÕES DE PREJUÍZOS AO PAÍS, SEGUNDO CNI

 

PAC, o projeto de marketing mais caro da história deste pais. Bilhões e bilhões para construir um poste.

A demora do governo em concluir no prazo obras de infraestrutura incluídas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) causou um prejuízo de R$ 28 bilhões à sociedade, apenas num grupo de seis projetos analisados pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O valor é próximo ao que se estima gastar na realização da Copa.
O estudo procura medir os benefícios que deixaram de ser gerados para o País apenas pela demora. Leva em conta, por exemplo, o que poderia ter sido a produção agropecuária no Nordeste, caso a transposição do São Francisco tivesse ficado pronta no prazo fixado pelo governo. Ou as receitas de exportação de minérios e grãos que deixaram de ocorrer pelo atraso na construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
 
Em todos os casos foi considerado também o custo de oportunidade – o custo do dinheiro público aportado nas obras que ainda não gerou benefícios. "Se o programa deveria ficar pronto em três anos e sai em seis, isso reduz a produtividade global da economia", diz o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Coelho Fernandes. Ele explica que a dificuldade em administrar megaprojetos não é exclusiva do Brasil. Porém, os prazos estourados tornaram-se praticamente uma regra, o que merece atenção.
A CNI propõe que o próximo governo, seja qual for, intensifique o programa de concessões em infraestrutura. Para Coelho, esse é um campo em que a economia pode aumentar sua produtividade, visto que as reformas trabalhista e tributária demorarão a sair e gerar efeitos. Sugere, também, iniciativas para melhorar a qualidade dos projetos e para facilitar o licenciamento ambiental. O estudo faz parte de um conjunto de 43 documentos-propostas que serão entregues aos presidenciáveis em junho, quando a entidade pretende fazer um debate dos candidatos com os industriais.
 
Foram analisados o aeroporto de Vitória, o principal projeto de esgotamento sanitário em Fortaleza (Bacia do Cocó), a transposição do São Francisco, a Fiol, a duplicação da BR-101 em Santa Catarina e as linhas de transmissão das usinas do Madeira. A maioria dos projetos ainda está em andamento.
Atraso. Das obras selecionadas, a que causou maior prejuízo foi a transposição do São Francisco. Originalmente estava prevista para terminar em junho de 2010 (eixo Leste) e dezembro de 2012 (eixo Norte). Como isso não ocorreu, o estudo estima quanto deixou de ser produzido pela agropecuária local, já considerando um crescimento proporcionado pela disponibilidade constante de água. E subtraiu da conta o custo da energia que deixará de ser gerada pela redução do fluxo de água para a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf).
 
Os economistas da CNI chegaram a um total de R$ 11,7 bilhões de 2010 a 2015. A isso, foram somados R$ 5 bilhões referentes ao custo de oportunidade do dinheiro aplicado na obra, orçada em R$ 8,2 bilhões. A história da transposição segue o roteiro clássico de obra atrasada no País. Segundo o estudo, foi iniciada em 2005, baseada num projeto pouco detalhado de 2001 – que, evidentemente, estava desatualizado. Seguiram-se vários ajustes.
Para andar mais rápido, foi dividida em 14 subcontratos. Mas o que em tese ia acelerar a construção virou um pesadelo gerencial. A própria presidente Dilma Rousseff reconheceu que o governo subestimou a complexidade do projeto.
O Ministério da Integração Nacional afirma que a licitação da obra, em 2007, passou pelo crivo do Tribunal de Contas da União. Os ajustes ocorrem principalmente porque os canais, que chegam a 477 km, passam por diferentes tipos de terreno. Foi necessária, também, a negociação com concessionárias de água e esgoto. Segundo a pasta, a obra será concluída em 2015.
 
(Estadão)
26 de maio de 2014
in coroneLeaks 

ROMÁRIO, DEPUTADO DO PSB,. NÃO TEM ESCOLHA: É OBRIGADO A FICAR DO LADO DO SEU "PEIXE" EDUARDO CAMPOS

 


 
O ex-atacante Romário voltou a criticar publicamente a organização da Copa do Mundo no Brasil e, mais uma vez, Ronaldo, membro do COL (Comitê Organizador Local).
Desta vez, Romário criticou as declarações dadas pelo Fenômeno na última semana contra o Governo Federal.
"Todo mundo sabe minhas bandeiras e minhas colocações. Não mudo meu lado dependendo de como está o jogo", disse Romário no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro.
Nem poderia mudar. É deputado federal eleito pelo PSB. Se mudar de lado, pode ser expulso por infidelidade partidária.
 
26 de maio de 201
 

ISSO AÍ É UMA PRESIDENTE OU UM "ESPECTRO FANTASMAGÓRICO"?

 

 
A oposição reagiu fortemente ao discurso da presidente Dilma Rousseff, que durante a abertura da 17º Congresso da União da Juventude Socialista, do PCdoB, no sábado, voltou a recorrer ao discurso do medo para associar uma eventual vitória de Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) ao retrocesso, ao desemprego, e à adoção de medidas impopulares, que ela qualificou de "espectros fantasmagóricos".
 
Para a oposição, Dilma demonstra desespero antes mesmo da campanha iniciar. Eles avaliaram que os ataques dela são fruto de marketing, e que ela não tem discurso próprio, mas segue apenas o que dizem seu marqueteiro, João Santana, ou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
 
A participação da presidente no encontro não estava programada e foi confirmada em cima da hora no sábado. Para os militantes do PCdoB, partido que domina o Ministério do Esporte desde o governo Lula, Dilma disse que não havia sido eleita para criar desemprego, nem para acabar com a política industrial ou varrer a corrupção para debaixo do tapete. Em outro momento, afirmou:
 
— Quem tem lado sabe que é preciso estar atento, é preciso estar ao mesmo tempo com um olho no futuro e outro no passado. Esse olho no passado é para evitar que espectros fantasmagóricos tentem voltar com as ameaças às conquistas dos brasileiros, que eles já chamam abertamente de medidas impopulares e que significam arrocho salarial, desemprego e recessão.
 
O líder do PSDB na Câmara, Antônio Imabassahy (BA), contestou a presidente e disse que as afirmações dela não correspondem à verdade: — Na verdade, ela deve ter sido orientada pelo marqueteiro, porque sempre que se encontra forte dificuldades, ela convoca o marqueteiro para dizer o que ela tem de fazer. O que ela diz não corresponde à verdade. É uma fantasia. O governo é muito ruim, ela se revelou uma administradora incompetente, não demonstrou liderança para fazer transformações e reformas que o Brasil necessita, e se submete à vontade dominante do ex-presidente Lula.
Imbassahy acredita que há um desespero no governo. — O desespero invade o Palácio do Planalto e aí ela recorre a esse expediente. Mas a população cada vez dá menos importância ao que ela fala e acredita cada vez menos nela e no governo dela.
José Agripino, líder do DEM, fez uma avaliação semelhante. Mas, para ele, ao dizer que não foi eleita para colocar o país de joelhos, por exemplo, Dilma faz exatamente o contrário. — Ela não foi eleita para isso, mas está fazendo do Brasil um país sem competitividade, colocando, sim, a indústria de joelho graças a uma política econômica equivocada. Ela nega o que justamente está fazendo e os dados estão aí para provar.
E complementou: — O que ela devia ter feito no passado, para evitar o que está acontecendo agora, ela não fez. Demorou muito, por exemplo, para fazer as concessões dos aeroportos e estamos vendo o resultado.
Líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg foi irônico: ele afirmou que foram os quatro anos de governo de Dilma que podem deixar a população com medo: — A população está ficando com medo de mais quatro anos de Dilma porque o pais não cresce, a inflação aumenta e a presidente insiste no viés autoritário. O Brasil não aguenta mais isso.
Mendonça Filho (DEM-PE) também apontou desespero na presidente. — Quando bate o desespero, ela apela para o discurso do medo, ao qual está adotando mais cedo do que se imaginava. Isso demonstra que a derrota está batendo na porta dela. A campanha sequer teve início e ela está reagindo com apelação, que não tem sintonia com a realidade. Se o povo tem que ter medo é da inflação, do crescimento pífio e da corrupção na Petrobras. Esse é o medo do hoje.
 
(O Globo)

MPF ENTRA COM AÇÃO CONTRA DILMA PARA TIRAR DO AR PROPAGANDA ENGANOSA DA COPA


O procurador Ailton Benedito contra a propaganda mentirosa do governo sobre a Copa
 
O Ministério Público Federal (MPF) em Goiás instaurou ação civil pública e requereu a concessão de liminar para a suspensão imediata da campanha publicitária "Todos ganham (Hexa)", que promove a marca "A Copa das Copas", executada pelo governo federal para divulgar o Mundial Fifa 2014. Também foi requerido que outras campanhas do governo sobre a Copa obrigatoriamente se restrinjam a um "caráter educativo, informativo ou de orientação social". 
 
A publicidade foi vista como propaganda positiva de compromissos que a União não conseguiu cumprir. Para o autor da ação, o procurador da República Ailton Benedito, a campanha publicitária "não condiz com a verdade". A ação foi instaurada na quinta-feira, 22, e divulgada na tarde desta segunda, 26.
 
No entendimento do MPF o conteúdo publicitário da atual campanha atinge inadequadamente o inconsciente coletivo, de forma subliminar, com mensagens de que o governo federal cumpriu tudo que estava compromissado. Ele discorreu também que a publicidade sugere que a organização do evento transcorreu sem problemas; que todas as ações, programas e políticas públicas necessárias foram planejados e executados completa e adequadamente; que não se utilizaram recursos públicos no evento; que a Copa proporciona, exclusivamente, resultados positivos para o país; que existe unânime aprovação do evento. 
"Enfim, que todos os brasileiros já estão unidos, vestindo a camisa amarela da seleção e calçados de chuteira, esperando apenas o momento de comemorar, sambar, festejar a vitória do Brasil", citou. O procurador requereu a aplicação de multa diária de R$ 5 milhões à União e de multa diária pessoal de R$ 1 milhão aos agentes do governo, no caso de retardamento no cumprimento da decisão.
Cita Ailton Benedito, que a campanha do governo vem anunciando que o torneio trará grandes benefícios aos brasileiros, em função de investimentos públicos que teriam sido realizados na infraestrutura urbana e nos serviços públicos, benefícios que, segundo a narrativa oficial, serão permanentes. "Entretanto, essa não é a realidade que se verifica". 
 
Ele recorre ao noticiário sobre problemas em vários empreendimentos projetados para aeroportos, o transporte público e trânsito, sendo que vários foram cancelados ou substituídos por outros de menor impacto e, ainda assim, não serão concluídos a tempo. "A situação evidencia os efeitos da desorganização, da falta de planejamento, da incompetência em executar o que se planejou quanto à infraestrutura e aos serviços voltados à realização da Copa", diz.
Tempo e dinheiro
 
Para o MPF/GO, como o Brasil foi homologado no ano de 2007 para sediar a Copa, contando com sete anos para se organizar, teve grande oportunidade e tempo suficiente para executar planos de investimento que efetivamente investissem e corrigissem as mazelas da infraestrutura e dos serviços públicos, principalmente nas cidades-sede. 
 
No entanto, se baseando em notícias do início de maio, especialmente reportagem da Folha de São Paulo, o país tinha concluído menos da metade daquilo que se comprometeu fazer. Das 167 intervenções anunciadas, apenas 68 estão prontas, ou seja, 41%. Outras 88 obras (58%) ainda estão incompletas ou ficarão para depois da Copa. Por fim, 11 obras foram abandonadas e não sairão do papel.
 
(Estadão)

DILMA SUCATEIA IBGE PARA ESCONDER DADOS REAIS SOBRE A ECONOMIA E DESEMPREGO


 
A cada trimestre, a PNAD Contínua investiga 211.344 domicílios particulares permanentes em cerca de 3 500 municípios. Por isso, possui maior precisão das estimativas de desemprego, especialmente nas áreas rurais. Em janeiro, a divulgação que a taxa real de desemprego no Brasil é de 7,4% em vez de 4,9% causou uma crise no governo, que quis cancelar a pesquisa. Um movimento dos pesquisadores impediu que o trabalho fosse interrompido, como queriam os petistas, mas Dilma Rousseff tem outras formas maléficas de esconder os números: não está oferecendo os recursos necessários para a pesquisa. Matéria abaixo é do Valor Econômico.
 
O coordenadores estaduais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad Contínua) enviaram, na última  sexta-feira, 23, carta para a presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, na qual pedem a melhoria das condições de trabalho no instituto. No documento, os coordenadores afirmam entender que é “premissa fundamental do IBGE o primor pela qualidade de suas pesquisas, pela sua autonomia técnica e pelo seu papel estratégico na estrutura do Estado brasileiro”.
 
“Neste sentido, vemos com preocupação que a credibilidade alcançada a duras penas pelo instituto tenha sido publicamente colocada em dúvida no último mês, com foco na Pnad Contínua”, diz a carta. Os coordenadores argumentam que o IBGE precisa ter como fundamento um corpo funcional “altamente qualificado em todas as suas instâncias”, da coleta de dados aos dirigentes, passando pelas fases intermediárias de processamento das informações e das estruturas de gestão.
 
Carência de mão de obra
 
“Mas estamos sofrendo um dramático processo de esvaziamento do corpo funcional por aposentadorias e pedidos de exoneração sem que haja uma recomposição a contento destas vagas via concurso público e a suficiente valorização salarial. Entendemos que a opção pela massificação da contratação temporária, com poucos direitos e baixos salários, não supre as necessidades básicas de pessoal da casa”, continua a carta.
Carência de verbas
 
Os signatários da carta afirmam que há atualmente um contexto de contingenciamento orçamentário “que levou ao adiamento e à suspensão de pesquisas importantíssimas, como a Contagem da População e a Pesquisa de Orçamentos Familiares”. “Somos reconhecidos pela informatização de nossos processos de trabalho, mas não temos recursos suficientes para investimentos na compra de equipamentos essenciais para novas operações.”
Carência de equipamentos
 
Segundo o documento, se calcula que, para a Contagem da População, seriam necessários, aproximadamente, 220 mil novos equipamentos. “Hoje não temos sequer condições de adquirir 4.000 equipamentos, tão necessários para a implementação de melhorias nos sistemas tanto da Pnad Continua como do CNEFE [Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos], pesquisas que vem se arrastando em máquinas obsoletas”, argumentam os coordenadores.
Segundo eles, a “precária situação orçamentária” levará à realização da contagem da população sem que se tenha a oportunidade de fazer os testes necessários que já poderiam ser executados nestas duas pesquisas. “A infraestrutura logística que contamos para a realização da coleta da PNAD Contínua é inadequada à realização das tarefas em diversas regiões. Não nos faltam apenas veículos e motoristas, precisamos também que a frota seja adequada às realidades locais”, acrescenta a carta.
Por fim, os coordenadores argumentam que “não é admissível” a falta de uma estrutura de supervisão de campo institucionalizada para a Pnad Contínua. “A falta de pessoal e recursos para a realização periódica de treinamentos presenciais constituem um reflexo da ausência de estrutura que nos impõe a cotidianamente fazer sempre mais com cada vez menos recursos. O que está em risco é nosso bem mais precioso: a qualidade da informação”, finalizam os coordenadores. O documento é assinado por 20 coordenadores da Pnad Contínua do instituto
 
26 de maio de 2014
in coroneLeaks

MOVIMENTO AEZÃO GANHA FORÇA NO RIO

 

 
 
Terceiro colégio eleitoral do país, ficando atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais, o Rio de Janeiro tem cerca de 12 milhões de eleitores. O número representa 8,5% do eleitorado nacional, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O PSDB tem pequena expressão política no estado e, em 2010, Serra fez apenas 22,5% dos votos no primeiro turno. Perdeu para Marina Silva, que alcançou 31,5% dos votos. No segundo turno, Dilma abriu uma diferença sobre Serra de 1,7 milhão de votos, quase 15% da diferença nacional.
 
O Rio é essencial para uma vitória nas eleições. Mesmo assim, a estratégia de Aécio Neves (PSDB) de se aproximar do PMDB de Sérgio Cabral e Jorge Picciani incomoda - e afasta - alguns dos mais tradicionais aliados do partido e principais lideranças tucanas no Rio. O DEM, o ex-prefeito do Rio, Cesar Maia, por exemplo, ainda espera o apoio do PSDB à sua candidatura ao governo estadual, mas o arranjo orquestrado nacionalmente não exigiria a exclusividade de Aécio no Estado.
O cientista político Cesar Romero, da PUC-Rio, avalia que a estratégia de Aécio de apostar em uma aliança suprapartidária com o PMDB é a sua melhor cartada no Estado. Na sua visão, o movimento do "Aezão", como está sendo chamada a aliança informal que reúne o apoio de parte do PMDB fluminense à candidatura de Aécio no plano nacional e ao governador Luiz Fernando Pezão, no Rio, é expressão da fraqueza do PSDB no Estado.
 
"Na falta de uma candidatura expressiva, o partido tem que buscar uma base que não é sua e, no Rio, quem tem máquina é o PMDB", diz Romero. "Oficialmente Aécio não conta com nada de muito relevante ao apoiar a candidatura do Cesar Maia, mas, na prática, ele pode vir a contar com a máquina do PMDB". Integrantes do PSDB no Estado assumem que a prioridade do partido no Rio não é o apoio ao DEM de Cesar Maia, mas a aliança suprapartidária com o PMDB.

"O PSDB se orienta na direção daquilo que seja mais útil para ter votos para o Aécio e hoje não temos nenhum nome que seja eleitoralmente viável", diz um cacique do partido. "Hoje Picciani é o maior poder político do Estado do Rio e este apoio é nosso e está acabado. Um eventual candidato nosso seria só para marcar posição", complementa.

(Com informações do Valor Econômico)
 
26 de maio de 2014
in coroneLeaks

O ECONÔMICO E O SOCIAL NAS ELEIÇÕES

 
26 de maio de 2014
Suely Caldas, O Estado de S.Paulo

ACABOU O GÁS

O GOVENO DA ANARQUIA


Em conferência em Salvador, Clóvis Torres, jovem e talentoso advogado, estampou uma citação da Ayn Rand: "Quando você perceber que, para produzir, precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e por influência, mais que pelo trabalho, e que as leis não nos protegem deles, mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada, e a honestidade se converte em auto sacrifício; então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada". O Brasil agora é o exemplo mais completo de frase de Ayn Rand, bem perto do que os gregos mais temiam, a anomia (ausência de aplicação da lei) a abulia (falta de vontade) e da anarquia (ausência de governo).

O povo está descrente. Primeiro, houve a falência do Estado, como agente da ordem e da lei. Traficantes e quadrilhas despacham armas, narcóticos e contrabandos tranquilamente pelas fronteiras terrestres e nos portos brasileiros, desde Belém até Paranaguá. Não temos guarda-marinha. As fronteiras continuam terra de ninguém. A violência tomou conta do país e assola tanto o rico como o pobre, o nacional e o estrangeiro.

Em paralelo, houve a falência do governo, infestado de corruptos e corruptores. Nove ministros foram tirados. Houve o mensalão. Não há como desmerecer o ministro Joaquim Barbosa e a Corte indicada por Lula. Os escândalos na Petrobras deixam a nação estarrecida; 39 ministérios e 33 partidos tornam o pais ingovernável.

Finalmente, há a falência da gestão da casa pública. O Brasil detinha o 11º lugar como país da energia mais cara no início do mandato de Dilma Rousseff. Agora está em 4º lugar, após a derrapada da Medida Provisória nº 579. Dizem que, em 2015, alcançaremos o pódio nesse item. No atual governo, a Petrobras viu suas ações perderem dois terços de valor na Bolsa. No entanto, para se reeleger a presidente segura os reajustes dos preços dos combustíveis. Quando forem soltos, a Petrobras estará descapitalizada e a inflação dará um salto, pois tudo é movido a petróleo, gasolina e diesel.

Está na ordem do dia no Congresso a compra superfaturada da refinaria de Pasadena, nos EUA, mas ela não é nada diante dos cambalachos da refinaria de Pernambuco. A Petrobras deu carta branca para que seu ex-diretor da área de abastecimento Paulo Roberto Costa negociasse a contratação de fornecedores e aditivos para as obras da Refinaria Abreu e Lima e tomasse decisões sem submetê-las ao conselho de administração ou à diretoria da estatal. Essa liberdade, apurou o Valor, significou a aprovação de mais de R$ 6,5 bilhões em contratos e aditivos para a refinaria.

Os fatos começaram com Lula, mas se deram até 2012, já no governo de Dilma. O distanciamento que a alta cúpula da Petrobras mantinha das decisões do conselho da refinaria ficou claro no depoimento do ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli à CPI da Petrobras. Ele minimizou o fato de o conselho ter assinado mais de 150 aditivos. "Não é tanto aditivo. Sabem quantos contratos tem a Refinaria Abreu Lima? 260." É o fim da picada. O estouro do orçamento da construção da Refinaria Abreu e Lima e os indícios de que o negócio fracassaria não impediram que os seus administradores dessem aumento "milionário" para o teto de seus próprios salários no período de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que estava preso e acaba de ser solto pelo ministro Teori Zavascki, embora não tenha ele fôro privilegiado por prerrogativa de função. Os demais detidos continuam presos.

A Abreu e Lima se transformou na obra mais cara do Brasil, entre todas do PAC. A presidente da Petrobras, Graça Foster, reconheceu que a companhia cometeu erros na execução das obras da refinaria: "Temos um custo mais alto no custo da refinaria (SIC). Tivemos diversos erros e acertos". A piada são os "acertos". Quais?

Os mais pobres estão cansados da corrupção governamental, das filas no SUS, de gastar três horas para ir e voltar do trabalho, da carestia crescente, da falta de educação, da insegurança de suas vidas, da bagunça generalizada, das ricas obras da Copa. Não há retórica nem marqueteiro que dê jeito nessa situação.

Dias piores virão, após as eleições, seja lá quem for o eleito. No entanto, a má situação atual é o resultado de 12 anos de governo do PT, sem falar na deterioração da infraestrutura do país.

Mas o pior é aterrorizar o povo dizendo que as conquistas do PT, leia-se Bolsa Família, serão desfeitas pela oposição. A tática é meter medo nos miseráveis. Isso é lá partido que se deva prezar, numa democracia madura? Eles temem, em verdade, é a apuração de 12 anos de malfeitos na hipótese de perderem a eleição, algo a que devemos dar a devida atenção.
26 de maio de 2014 

A CLASSE "C" DO PARAÍSO AO INFERNO

Mais uma pista a indicar o andar da carruagem. Parcela da população brasileira é arrastada para cima e para baixo da pirâmide social pelas ondas de marés enchentes e marés vazantes. A primeira carrega as pessoas da classe C, a chamada nova classe média, para um passeio pelos territórios do grupo B, às vezes com direito a uma escapulida (rápida) ao topo, onde habita a categoria A. Quem propicia a subida é grana extra. A segunda empurra o contingente para as águas do fundo. Isso se dá quando a renda das famílias fica apenas no parco rendimento de aposentadoria, pensão ou bolsas, sem os ganhos com bicos e atividades paralelas. No sufoco do bolso apertado, quem foi induzido a consumir e se vê sem condição de ressarcir despesas passa a usar de maneira indiscriminada cartões de crédito e a resvalar pela inadimplência.

Tal radiografia, flagrada por pesquisa encomendada pelo Consultative Group to Assist the Poor, organismo ligado ao Banco Mundial, e exposta neste jornal (18/5), pode explicar fenômenos que estão a ocorrer no País a partir de manifestações de movimentos organizados e categorias profissionais.

Ponderável parcela da classe média que muda de condição, muitas vezes de um mês para outro, acaba ingressando no perigoso meio-fio da instabilidade, tornando-se ela própria um dos eixos a mover a engrenagem da insatisfação social. A expressão desolada de um microempreendedor sobre seus ganhos mensais arremata a situação que abriga milhões de brasileiros: "Ganho algo entre nada e R$ 5 mil; não dá para adivinhar quando e quanto vai entrar".

A insegurança que grassa por classes, espaços, setores e profissões tem-se avolumado nos últimos meses, apesar de a taxa de desemprego se manter estável (em torno de 5% em março nas cinco maiores regiões metropolitanas). A questão é a baixa qualidade do emprego, que leva muitos a buscar outros meios de sobrevivência. Ademais, o cobertor social tem sido curto para cobrir novas demandas. A precária estrutura de serviços não tem recebido do Estado alavancagem para oferecer bom atendimento ao povo. Portanto, por causa do estranho fenômeno que aqui se forma - uma classe C mutante que tateia na escuridão entre as portas do céu e do inferno, passando pelo limbo - as pessoas decidiram abrir a locução sob propícia temperatura ambiental.

As políticas sociais do governo, é oportuno lembrar, abriram buracos. A decisão de implantar gigantesco programa de distribuição de renda - elogiável, porquanto se vive, hoje, o menor nível de desigualdade de nossa História - não tem sido acompanhada de uma política educacional estruturante, capaz de elevar o grau civilizatório de milhões de pessoas que ascenderam na vida. Basta avaliar a estratégia de indução ao consumo, adotada pelo governo brasileiro para enfrentar a crise por que passaram as economias mundiais, a partir de 2008. Ouçam-se especialistas, dentre eles Celso Amâncio, ex-diretor da Casas Bahia (Estado, 18/5): "O governo incentivou o consumo, mas crédito é uma coisa e poder de compra é outro". Quer dizer, o banco até oferece crédito, mas os novos consumidores não dispõem de educação financeira. Acabam usando e abusando de cartões de crédito, um pagando o outro.

O governo forjou, de um lado, o populismo econômico para abrir as portas do consumo aos grupos emergentes, mas, por outro, deixou de lhes oferecer ferramentas (e valores) que balizam comportamentos da classe média tradicional. A cesta de compra dos emergentes inchou: TV por assinatura, internet, plano de saúde, escola privada para os filhos, moto ou carro novo. A ignorância em matéria financeira acabou estourando o bolso de tantos quantos achavam ter encontrado o Eldorado.

Sob essa engenharia se pode compreender o movimento das "placas tectônicas" que causam sismos nas camadas do centro da pirâmide. Como se recorda, o losango tem sido apresentado como o formato do novo Brasil: de topo mais espaçado, alargamento do meio e estreitamento da base. Acontece que o saracoteio da classe C - que ora dança na pista do meio, ora na de baixo - não permite apostar na substituição definitiva da pirâmide pelo losango. O que se vê na configuração é um redemoinho nas camadas centrais, a denotar insatisfação e impactos que afetam a vida de milhões, principalmente os habitantes de grandes cidades, cuja rotina sofre com congestionamentos, mobilizações, greves e paralisações de frentes de serviços públicos.

É verdade que parte considerável da tensão urbana se deve ao momento especial do País: vésperas de Copa do Mundo e de campanha eleitoral. A estratégia de sensibilização do poder e de atores políticos ganha fôlego. Mas é inegável que há uma força centrípeta em ação, aqui mais forte e organizada, ali mais tênue e dispersa, dando a impressão de que o gigante "deitado eternamente em berço esplêndido" faz parte da retórica do passado. A dissonância forma-se em nossa mente quando somos levados a cantar (sem interpretar os versos) nosso belo Hino Nacional.

Remanesce a questão: para onde as altas e baixas marés carregarão a classe C (que soma 64 milhões de pessoas) e, ainda, que consequências serão sentidas em outros conjuntos? A hipótese mais provável é que, a continuar o vaivém dos grupos emergentes, os sismos continuarão a balançar o losango e este voltará a dar lugar à velha pirâmide. As conquistas obtidas com os avanços dos programas de distribuição de renda estariam comprometidas. Reflexos (pressões, contrapressões, conflitos, demandas) aparecerão na malha de toda a classe média (cerca de 100 milhões de brasileiros). As marolas geradas por impactos no meio da lagoa acabarão chegando às margens.

Em suma, enquanto as famílias de classe média se mantiverem "enforcadas", o nó apertará o gogó de outros habitantes da pirâmide. O Brasil terá de voltar a crescer, de maneira forte e sadia, sem usar o esparadrapo de paliativos sociais.

CAMINHOS DA OPOSIÇÃO


A disrupção do acordo entre os dois principais candidatos oposicionistas abre um novo quadro na campanha eleitoral, com viés de beneficiar a permanência no poder da presidente Dilma. Mas parece inevitável que o PSB marque um distanciamento crítico do PSDB para se tornar uma alternativa real à polarização entre petistas e tucanos. 
Obrigado por seu acordo político com o grupo da ex-senadora Marina Silva a rever a estratégia que havia montado no início da campanha, o ex-governador Eduardo Campos vem endurecendo seu discurso também contra o antigo parceiro Aécio Neves, na esperança de se tornar uma escolha palatável ao eleitor petista que está descrente com a atuação de Dilma ou insatisfeito com os rumos que o partido vem tomando. 

Campos, com mais propriedade, pois fez parte do grupo lulista até pouco tempo, estaria repetindo a tentativa de Serra em 2010 de se apresentar como uma alternativa a Dilma contra a qual Lula nada teria. Corre menos risco de ser desautorizado por Lula de público, mas é possível que isso ocorra. Na tentativa de preservar um acordo para o segundo turno, é possível que Lula poupe Campos de sua língua ferina. 

Embora não tenha uma performance boa nas pesquisas até o momento, Campos conta com o voto útil a seu favor dos petistas que temem mais a vitória do PSDB do que a derrota de Dilma para ele, aí incluído até mesmo Lula. Essa mudança na campanha de Campos tem, porém, diversos obstáculos para ser bem-sucedida, a começar pelo governo de São Paulo, uma das pedras-chave desta disputa. 

Abandonando a coligação do governador Geraldo Alckmin, da qual fazia parte há muito, Campos deixará o palanque do PSDB livre para o senador Aécio Neves no maior colégio eleitoral do país, enquanto terá um palanque improvisado e fraco. Foi convencido por Marina de que o desgaste do PSDB depois de 20 anos no poder favorece uma candidatura alternativa. 

Em Minas, acontecerá o contrário, pois, ao romper com Aécio em seu território, abrirá mão de compartilhar com ele a provável vitória no segundo maior colégio eleitoral do país. A contrapartida do rompimento em Pernambuco não será tão dolorosa para os tucanos, já que o eleitorado do estado não é dos maiores. 

O senador Aécio Neves considera que a atitude de radicalizar a campanha também contra o PSDB é um sinal de desespero do PSB diante do fraco desempenho nas pesquisas. Mas, mesmo os do PSB e da Rede favoráveis a um acordo no segundo turno entre os dois acham que, no momento, é mais positivo para Campos se distanciar de Aécio e tentar uma marca própria para a campanha. 

Sobre o assunto, gravei um vídeo para O Globo a Mais, semana passada, onde analisava a nova fase da campanha eleitoral, delicada para os candidatos de oposição, que, juntos, já mostram força para levar a eleição para o segundo turno, mas, separados, ainda não têm condições de vencer a presidente Dilma Rousseff. 

Só destruirá as pontes construídas até o momento aquele candidato que se considerar em condições de aglutinar em torno de um projeto político próprio a maioria dos eleitores que querem mudanças; somente Marina Silva teria esse perfil, se fosse a candidata. 

Mas ela está levando o ex-governador Eduardo Campos a experimentar esse caminho solitário que só se tornará eficaz caso ele se transforme em um fenômeno eleitoral, o que é difícil de imaginar. Ou na hipótese de vir a disputar um segundo turno com o candidato tucano Aécio Neves, o que a esta altura parece improvável. 

Campos vai ter que equilibrar os próximos passos para não inviabilizar o apoio do PSDB em um eventual segundo turno. O que pode pesar a mão no PSB é a influência de uma esquerda próxima ao petismo, cujo representante mais influente é o vice-presidente, Roberto Amaral, ex-ministro de Lula, que nunca viu com bons olhos a aproximação com os tucanos. 

O senador Aécio Neves vai exercitando um dos dons mais característicos da política mineira, a paciência. Não partirá dele qualquer gesto de rompimento com Campos, mesmo porque está convencido de que quem vai para o segundo turno é ele, e precisará do apoio do PSB para derrotar Dilma.
Merval Pereira, O Globo

FALTA VERGONHA

Em Porto Alegre, certo grupo de teatro resolveu simular uma bacanal no Parque Farroupilha. Ante os olhos surpresos das famílias que desfrutavam do local, mulheres e homens, deitados sobre a grama, se contorceram em representações de sexo grupal e performances solo. Invasores da Câmara da capital gaúcha pelaram-se e fizeram o diabo dentro do plenário.
No mês passado, ZH noticiou que em alguns locais de festas, alegadamente incomodadas pelo calor reinante, mulheres tiram a roupa e elevam em mais alguns graus a temperatura ambiente.

A matéria informava que o spogliarello era interpretado como atitude política (algo supostamente relacionado com a libertação feminina) e que as dançarinas diziam-se contrariadas quando algum audacioso ensaiava passar a mão nos seus compartimentos.
Nestes dias, circula na rede o vídeo de uma banda de mulheres que se assumem como “Putinhas Aborteiras” e executam, com bocas sujas e gestos desafinados, uma sucessão de abjeções supostamente musicais, tendo como mote a pessoa do papa Francisco. Tudo sob o patrocínio da TVE, a televisão educativa (!) da Fundação Cultural Piratini, que transmitiu o show.

Reflitamos sobre esse breve pot-pourri. A tolerância com o contraditório, com a diversidade, é uma virtude das sociedades civilizadas. Mas não é saudável a tolerância com quem, de modo arrogante, desrespeita os demais mediante grosserias, vilania e múltiplas formas de corrupção.

Tolerância perante a arrogância desaforada de gente adulta não é civilidade. É frouxidão! Quando o presidente da Fundação Piratini sai em defesa das Putinhas Aborteiras e suas baixezas contra o Papa, afirmando que críticas “machistas e chauvinistas” não serão toleradas, ele está nos ameaçando com quê? Eis aí um bom exemplo de arrogância graúda, oficial, que insulta os pagadores de impostos.

Faz muito sentido que a baixaria proclame seu caráter político e que a política seja a baixaria que vemos. Uma e outra confirmam o fato de que somos alvo de um projeto de poder cuja consolidação exige a destruição de nossa cultura e de nossos valores.

Por fim, e lateralmente, lembro às mocinhas e, especialmente a seus papais e mamães de “mentes abertas”, que todas devem ser respeitadas. E que um bom ponto de partida para isso está na regra de prudência que recomenda respeitarem-se elas a si mesmas.
 
26 de maio de 2014
Percival Puggina, Zero Hora

ALGUMA COISA ACONTECE


Em quatro meses e uma Copa cheia de complicações pela frente tudo pode acontecer. Ainda mais se levarmos em conta a velocidade e o inusitado dos acontecimentos deste quentíssimo ano de 2014.
A última pesquisa do Ibope conta novidades. Mudanças de cenário ocorridas em poucas semanas. Considerando o histórico de desinteresse nesse período em eleições anteriores, a queda acentuada no porcentual de pessoas indecisas, dispostas a anular o voto ou simplesmente deixá-lo em branco, é a notícia mais auspiciosa.

Em abril último, esse grupo somava 37% dos pesquisados. Hoje são 24%. Os especialistas no tema atribuem esse fato às propagandas partidárias na televisão. Curtas, esporádicas e ainda em tom eleitoral quase subliminar devido a restrições legais. Só em agosto os candidatos estarão liberados para pedir votos de maneira explícita.

Por esse critério, da exposição, é de se supor que, ao contrário do esperado, o índice de abstenção possa ser mais baixo do que indicaria o desapreço em relação à política e seus personagens. Trata-se de uma impressão ainda a ser conferida. Se confirmada, a explicação desse sinal de interesse pode estar no despertar da consciência de que quanto menos importância o cidadão dá à política melhor para aqueles que fazem dela uma atividade deletéria.

Outra razão talvez seja o clima de disputa que pouco a pouco vem se estabelecendo e motivando as pessoas a participar. A antecipação da campanha tem a ver com isso e o derretimento da situação de favoritismo inamovível da presidente Dilma Rousseff também.

Ela continua na frente, com 40% das intenções. Mas aqueles eleitores que, na feliz expressão do analista José Roberto de Toledo, "desceram do muro", não subiram na caravana de Dilma. Os beneficiados foram seus principais adversários, Aécio Neves e Eduardo Campos.

A presidente voltou ao patamar de março. Ganhou três pontos em relação aos 37% registrados em abril. Isso representa um aumento de 8%. Aécio Neves tinha 14% e foi para 20%; cresceu, portanto, 43%. Eduardo Campos de 6% foi para 11%; não chegou a dobrar, mas aumentou seu capital em 83%.

Os números relativos à rejeição tampouco favorecem a presidente. Ficou estacionada em 33%, mas os dos oponentes caíram. Eram 25% os que diziam não votar em Aécio de jeito nenhum e agora somam 20%. Para Eduardo Campos, a queda da rejeição foi mais expressiva: de 21% para 13%.

Ou seja, vai ter competição. Será uma eleição disputada, de resultado imprevisível sem "cantatas" de vitória antes da hora, como aconteceu, por exemplo, com o PSDB em 2010, quando José Serra reinou olímpico no patamar acima de 40% por muitos meses enquanto Dilma lutava para alcançar os dois dígitos. Até que deslanchou.

Voltando às intenções de voto da presidente, há nela duas boas notícias: uma para o governo, outra para a oposição. Os eleitores de Dilma se mantêm firmes, não migraram para os adversários. Fosse isso, ela teria caído, e não subido. Sendo assim, sustentando o primeiro lugar, se arrefecem os ânimos do "volta, Lula" e ainda se contém a sanha de aliados cujo olfato é treinado para detectar aromas que determinam a hora de debandar.

Para a oposição, esses três pontos porcentuais são também preciosos nesse momento. Nem Aécio nem Campos querem que Dilma dispare nas pesquisas a ponto de consolidar uma decisão em primeiro turno. Mas nenhum dos dois gostaria de vê-la despencar para não correr o risco da troca de Dilma por Lula.

Para concluir, um dado inusitado da pesquisa: a presidente cresceu entre os mais ricos e Aécio, entre os mais pobres. Uma inversão de preferências nos públicos tradicionais de cada um, fenômeno que até agora não tem explicação convincente e só reforça a impressão de que alguma coisa acontece nessa peculiar eleição em que tudo pode acontecer.


26 de maio de 2014
Dora Kramer, O Estado de S.Paulo

EM TERESÓPOLIS, CASA DA SELEÇÃO ANTES DA COPA DE 1966 ESTÁ ABANDONADA

Hotel Pinheiros, que recebeu Pelé, iniciou a relação da equipe com a cidade serrana do Rio


 
TERESÓPOLIS - Os jogadores da seleção brasileira são recebidos em Teresópolis com bandinha de música e salva de tiros. Eles desfilam em uma passarela na principal praça da cidade e assistem ao show de um trapezista. Enquanto isso, o locutor oficial do evento lê em voz alta uma pequena biografia de cada um deles.

Os atletas se apresentam à multidão cada qual acompanhado de duas belas moças da comissão de recepção. O prefeito entrega à delegação a chave de Teresópolis e uma queima de fogos tenta imitar grandes espetáculos pirotécnicos. Dali, a seleção segue para o hotel, a cinco quilômetros do centro, a fim de dar início à última fase de preparação para o Mundial.

Luiz Felipe Scolari estaria à beira de uma síncope e poderia atirar longe a sua cuia de chimarrão se essa festa toda estivesse programada para segunda-feira, dia em que a seleção vai chegar a Teresópolis, na região serrana do Rio de Janeiro, para começar o período de treinos para a Copa do Mundo. O primeiro jogo do Brasil no Mundial será contra a Croácia, no dia 12 de junho, em São Paulo.
 
O início do texto, no entanto, não é uma peça de ficção. Trata-se de um resumo do que foi publicado nas edições do Estado dos dias 4 e 5 de maio de 1966. Pelé, Garrincha e Tostão passaram com seus colegas pela passarela acenando para o público, sem nenhum gesto que os associasse a produtos comerciais. Depois se recolheram no Hotel Pinheiros, no bairro Quebra Frasco - uma área de 52 mil metros quadrados, na época de difícil acesso e supostamente ideal para o sossego da delegação.

O hotel hoje está abandonado, mas ele marcou o início da relação de Teresópolis com a seleção brasileira. Dividido em chalés, o local abrigou por dois períodos a equipe nos meses que antecederam a Copa de 66. Desde então, por cinco décadas a cidade passou a fazer parte da história da equipe pentacampeã mundial.

Nos anos 80, a Confederação Brasileira de Desportos (hoje Confederação Brasileira de Futebol) construiu a concentração oficial da seleção na Granja Comary, onde a partir de amanhã Neymar, Thiago Silva, David Luiz e mais 20 atletas de ponta vão contemplar o Dedo de Deus - símbolo daquela região - em busca de inspiração para mais um título mundial.

Não se tem notícia de que algum dos funcionários do Hotel Pinheiros nos anos 60 ainda esteja vivo. Vários deles eram íntimos de Garrincha, o mais divertido do grupo. O jogador costumava agradá-los com um "trocadinho" e era agraciado com a renovação permanente de seu estoque de bebidas - perto dali, biroscas vendiam doses de cachaça a preços em conta.

"O Garrincha sem uma bebidinha não funcionava. Todo mundo sabia disso", conta Isabel Maria Kwiatkowski, testemunha do dia a dia da equipe que lutaria pouco depois pelo tricampeonato mundial na Inglaterra. Adolescente em 1966, ela desfrutava de trânsito livre no hotel. Sua mãe, Ursula, era a governanta do Pinheiros. O pai, Wictor, também trabalhava no local, como eletricista e bombeiro. O casal imigrou da Polônia.

"Era um convívio alegre, descontraído. O Pelé gostava de tocar violão sentadinho em frente ao salão de jogos (hoje um espaço que ameaça ruir) e ficava mais no grupo do Gilmar e do Zito, um pessoal mais tranquilo. Já o Garrincha fazia parte da turma da bagunça."



A presença de visitantes não era permitida, mas isso não valia muito para jornalistas e parentes dos atletas, que circulavam pela área interna do hotel com liberdade. Não muito distante dali, havia uma estrutura montada pela prefeitura para facilitar o trabalho da imprensa: dois escritórios com telex e 20 máquinas de escrever.

O técnico Vicente Feola gostava daquele ambiente e fazia vistas grossas para os dribles de Garrincha na própria comissão técnica. O craque das pernas tortas optou por ficar em um chalé que guardava uma passagem secreta para a mata virgem localizada atrás do hotel.

Ele descobriu uma trilha com a ajuda dos seus novos amigos - os funcionários do estabelecimento - para escapar de noite e visitar suas fãs. No dia seguinte, durante os treinos, o genial jogador não deixava de aplicar seus tradicionais dribles, com a bola nos pés, e ofuscava assim os comentários vagos de um ou outro auxiliar de Feola, intrigados com o acende-e-apaga de luzes no chalé de Garrincha durante as madrugadas.

Aos domingos, um ônibus deixava cedo o Hotel Pinheiros e em minutos estacionava ao lado de uma igrejinha católica de um sítio vizinho. "A maioria dos jogadores ia à missa. As manhãs de domingo tinham um ar de recolhimento", lembra Isabel Maria, triste com o abandono do Pinheiros.

O terreno pertence ao mesmo proprietário do Hotel Alpina, um dos mais badalados de Teresópolis. Sua área física não passa por reforma há pelo menos três décadas. O salão de jogos e o refeitório estão entulhados de móveis e de vidros quebrados. O antigo barzinho, logo na entrada do hotel, desabou parcialmente.

"É uma parte da história que se perde", lamenta Isabel, hoje atuante em organizações não governamentais que defendem a saúde da mulher e dos trabalhadores rurais. Foi ela quem conseguiu o acesso do Estado ao Pinheiros.

Ao passar pela porteira, ela recuou e, comovida, relatou outro momento que lhe aproximou daquela geração. Isabel estudava no Colégio São Paulo e um ônibus escolar a levava para o hotel todos os dias. Tinha 14 anos e suas colegas de turma exigiam que o motorista desviasse o caminho e passasse primeiro pelo hotel. Queriam ao menos acenar para os jogadores.

"Por morar ali, só eu daquelas meninas podia entrar. Mas algumas davam um jeito, andavam pelo matagal e, quando eu via, estavam lá pedindo autógrafos. O Vicente Feola não ligava muito não, ele era um bonachão."

Tampouco a segurança impunha algum obstáculo. Apenas um guarda tomava conta da concentração da seleção em 1966. Na segunda-feira, na Granja Comary, esse número deve chegar a 200.

26 de maio de 2014
Sílvio Barsetti - O Estado de S. Paulo

NOBLAT FOI INJUSTIÇADO

Nos comentários do analista, as alusões à raça do criticado são periféricas e não removem o eixo central e o ânimo inspirador daquilo que, no conjunto, ficou redigido

Injustiça não ocorre apenas quando, equivocadamente, se condena alguém por ilicitude que não cometeu. Injustiçado também será aquele a quem, sem justa causa, se atribuir infração que jamais perpetrou. Nesta hipótese, a da acusação desarrazoada, a injustiça reside na afronta à dignidade humana do acusado.

Em 19 de agosto último, Ricardo Noblat fez publicar, no GLOBO, matéria a que intitulou “Quem o ministro Joaquim Barbosa pensa que é?”, e, por ela, agora responde a ação penal em que o Ministério Público Federal, agasalhando representação do ilustre presidente do STF, increpa-o dos crimes de difamação, injúria qualificada e preconceito racial.

Seu permanente leitor, penso que o texto de Noblat não está entre os melhores que produziu. Duro, rigoroso, quiçá exagerado em alguns dos seus trechos, o escrito não se afeiçoa àquilo que o jornalista costuma lavrar. Todavia, daí a entrever, na crônica, suficiente fundamento para a persecução criminal desencadeada, há distância que a razoabilidade jurídica não autoriza percorrer.

Aprendi, com os mestres e a convergente orientação pretoriana, que as criações literárias, inclusive as jornalísticas, devem ser interpretadas no seu todo, na íntegra harmônica de suas ideias e asserções, rejeitando-se o apego isolado a uma ou a algumas frases. Reverente a esse pacificado entendimento, não consigo enxergar, na redação do articulista, a tipicidade ou o dolo específico que pudesse submetê-lo ao processo no qual foi tornado réu.

Pelo contrário, o que lá vislumbrei foi a democrática manifestação de um juízo crítico, embora veemente. Direito à crítica, esse que, especialmente, aos operadores da imprensa, a Constituição resguarda como garantia mínima indispensável ao sadio exercício profissional. E, mais, jus criticandi que, alçado à categoria de regular exercício opinativo, particularmente encontra aplicação sempre que o atingido for pessoa pública, figura notória, agente estatal, administrador, legislador ou juiz.

Ao longo da história, vários outros magistrados com assento na Corte Suprema Brasileira receberam inflamadas exprobações de jornais, revistas e emissoras. Aliás, no famoso julgamento do mensalão isso se fez frequente e monocórdico, ao sabor dos votos que Suas Excelências proferiram condenando ou absolvendo, majorando ou reduzindo penas, provendo ou desprovendo recursos.

Não difama servidor público de amplíssima notoriedade quem, exercitando juízo crítico, acertada ou erradamente, acusa-o de “tratar mal seus semelhantes, a debochar deles, a humilhá-los’’, ou de recusar “qualquer concessão à afabilidade’’, ou de sustentar “soberba”. Note-se que, ao mesmo tempo — e elogiosamente —, o jornalista reconhece que “A maioria dos brasileiros o admira”, e também que, entre os candidatos ao Supremo, “Joaquim era o que tinha o melhor currículo.”

Ademais, nos comentários do veterano analista, as alusões à raça do criticado são periféricas e não removem o eixo central e o ânimo inspirador daquilo que, no conjunto, ficou redigido. É dizer: apenas uma leitura estrábica ao núcleo essencial da peça jornalística — não jurídica, portanto —, levaria à conclusão de nela existir prática, induzimento ou incitação ao racismo.

Em suma, e com todas as vênias, realmente Noblat foi injustiçado.


26 de maio de 2014
Manuel Alceu Affonso Ferreira, O Globo