https://www.youtube.com/watch?v=nMiELBPvLgI&feature=player_embedded
Nunca é demais recordar a história da luta armada no Brasil. História que as novas gerações, intoxicadas pelas mentiras difundidas por certa mídia esquerdizada com o aval de ex-guerrilheiros, hoje elevados à condição de heróis e recompensados financeiramente por terem lutado pela democracia, por aquele mesmo Estado que queriam derrubar. Um caso inédito em todo o mundo: guerrilheiros urbanos e rurais, depois de anistiados, são recompensados pelos assaltos, seqüestros, mortes cometidas e, enfim, pela derrota!
Parodiando o jornalista e ex-guerrilheiro urbano Franklin Martins – que foi assessor do governo Dilma e, diz-se, será o “comandante” de sua próxima campanha eleitoral -, no prefácio que escreveu para o livro “Viagem à Luta Armada” (escrito pelo terrorista Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o último dos Grandes Comandantes da ALN, que desertou, em meados dos anos 70 após receber treinamento de guerrilha em Cuba, indo viver em Paris), o período de luta armada foi uma época em que mercado era o lugar onde as donas de casa faziam compras e não a todo-poderosa entidade globalizada que hoje comanda a humanidade com a sua mão invisível; massa era a denominação dada ao povo a caminho de encontrar seu destino revolucionário e não, uma tentação para os que estão em dieta; abrir significava revelar informações à repressão; cair significava ser preso;expropriação era o eufemismo utilizado para designar roubos e assaltos; quadro era a denominação dada ao militante experiente, com cargo de direção na Organização; e justiçar não significava distribuir Justiça e sim, assassinar os companheiros que começassem a pensar com suas próprias cabeças, demonstrando dúvidas sobre a ciência do marxismo-leninismo ou se tornassem suspeitos de colaborar com o inimigo de classe.
Foi um tempo em que se propalava que o capitalismo estava com os dias contados. Um tempo em que as revoluções eram consideradas iminentes, seguindo aquela modelada pelos guerrilheiros cubanos, que instalaram em Cuba uma república democrática popular (ou seja, instalaram um pleonasmo: um governo do povo popular) e procuravam estender esse pleonasmo a todo o continente.
Um tempo de mudanças e de contestações, onde se propalava que era “proibido proibir”.
Um tempo, enfim, em que um punhado de companheiros, sem dinheiro, sem doutrina e sem equipamento, mas com disposição e vontade - companheiros que nada reivindicam, nem mesmo compreensão -, no início por conta própria, é verdade, erradicaram o terrorismo, os seqüestros de diplomatas e de aviões e as guerrilhas urbana e rural. A doutrina, o dinheiro, a organização e o equipamento foram substituídos pela imaginação, pelo desprendimento e pelo forte sentimento anticomunista. Os procedimentos iam sendo inventados, na medida das necessidades, face à rapidez com que os acontecimentos se sucediam.
Somente a partir de janeiro de 1970, com a constituição dos DOI/CODI, passou-se a atuar organizadamente.
Tudo isso, no entanto, aconteceu não sem a perda de vidas, não sem sangue, suor e lágrimas e não sem que reputações fossem manchadas, carreiras abreviadas, injustiças e erros cometidos.
E não sem que esses companheiros sejam, até hoje, vítimas de um revanchismo dos que nunca se conformaram com a derrota. Revanchismo orquestrado por uma parte da mídia que não hesita em deturpar fatos e mentir despudoradamente.
Foi um tempo duro, diferente e difícil. Um tempo, no entanto, que devemos nos orgulhar de ter vivido e participado. Um tempo que jamais voltará.
Após tudo isso, foi colocada e permanece na ordem do dia uma discussão acadêmica, sobre a qual, infelizmente, muitas pessoas não têm clareza: quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Ou seja, se a luta armada desencadeada pela esquerda radicalizada nos anos 60 e 70, foi fundamentalmente uma reação à Revolução de Março de 1964, como uma grande parte da mídia, políticos, escritores e cientistas sociais afirmam hoje.
Não. Não foi, como os fatos históricos comprovam.
O projeto de luta armada foi anterior a 1964. Desde o início dos anos 60 a esquerda radicalizada alimentava o ovo da serpente, estimulada pelo exemplo da revolução cubana. Isso sem falar nas propostas de revolução armada que vinham de muito antes, na melhor tradição bolchevique de assalto ao Palácio de Inverno, como o levante comunista de 1935.
No período de agosto de 1961 - quando o presidente Jânio Quadros renunciou - a 31 de março de 1964, foi colocada em xeque, no Brasil, a chamada ordem constitucional burguesa, segundo o jargão das esquerdas.
No governo de João Goulart já existiam organizações e grupos voltados para a utilização de formas de luta “mais avançadas”:
- As Ligas Camponesas de Francisco Julião - mais tarde, em 21 de abril de 1962, efemeramente denominadas de Movimento Revolucionário Tiradentes-, são o exemplo mais nítido. Já em 1961, diversos integrantes das Ligas foram mandados a Cuba para receber treinamento militar, tão logo Francisco Julião regressou de uma viagem àquele país. Ainda mais remotamente, deve-se recordar que, em 1957, quando como deputado federal efetuou uma viagem à União Soviética, Julião solicitou a autoridades militares daquele país o fornecimento de armas, para equipar as Ligas e “fazer a revolução no Brasil” (declarações de Oleg Ignatiev, jornalista da Agência Tass, publicadas pela imprensa em agosto de 1996);
- A POLOP, Política Operária, uma organização constituída em 1961, agrupando elementos de várias tendências alternativas ao PCB, que se destacou pelo intenso trabalho de doutrinação e formação de quadros. Em maio de 1964, decorridos menos de dois meses da Revolução de Março, adiantou-se aos acontecimentos que viriam marcar a dinâmica das esquerdas por quase uma década, tornando público um documento que definiu a guerrilha e a luta armada como “o caminho a seguir”;
- O PC do B, constituído em 1962, a partir de uma cisão no PCB, que ainda antes de 1964 mandou um grupo de militantes para treinamento militar na Academia Militar de Pequim. Esses militantes constituíram o núcleo da Guerrilha do Araguaia.
- A Ação Popular, também constituída em 1962, que exercia domínio indiscutível sobre a UNE. Também a AP, logo após a Revolução, mandou um grupo de militantes para treinamento político-ideológico em Pequim. Esse grupo, no regresso ao Brasil, transformou a AP numa organização marxista-leninista-maoísta (livro “No Fio da Navalha”, editora Revan, 1996; um depoimento de Herbert José de Souza - “Betinho” -, então coordenador nacional da Ação Popular, a um grupo de jornalistas);
- o Partido Operário Revolucionário Trotskista-Posadista, constituído na década de 50;
- os famosos “Grupo dos Onze”, uma inspiração de Leonel Brizola, então deputado federal, em 1963.
Nesse ano, Brizola ofereceu a coordenação nacional do Grupo dos Onze a Herbert José de Souza, então assessor do ministro da Educação (livro “No Fio da Navalha”).
O projeto de luta armada foi anterior a 1964, repetimos. Isso é reconhecido por aquela esquerda, onde há seriedade e um mínimo de vida inteligente, como o ex-guerrilheiro urbano Daniel Aarão Reis Filho “Antes da radicalização da ditadura, em 1968, e antes mesmo da sua própria instauração, em 1964, estava no ar um projeto revolucionário ofensivo. Os dissidentes se estilhaçariam em torno de encaminhamentos concretos, formando uma miríade de organizações e grupos, mas havia acordo quanto ao nó da questão: chegara a hora do assalto. Neste quadro, os revolucionários não resistem, atacam. Alegaram, em seu favor, que os autênticos revolucionários não pedem licença para fazer a revolução (...). Aprisionados por seus mitos, que não autorizavam recuos, insensíveis aos humores e pendores de um povo que autoritariamente julgavam representar, empolgados por um apocalipse que não existia senão em suas mentes, jogaram-se numa revolução que não vinha, que, afinal, não veio, e que não viria mesmo” (artigo “Este Imprevisível Passado”, na revista“Teoria e Debate” nº 32, julho/agosto/setembro de 1996, editada pelo Partido dos Trabalhadores).
Nesse contexto, foi rápida a conversão das bases radicalizadas do Partido Comunista Brasileiro - “que estava no governo mas ainda não detinha o poder”, como disse Luiz Carlos Prestes em entrevista, em Recife, em fevereiro de 1964 - à tática da luta armada.
Cerca de 700 militantes do Partido Comunista Brasileiro, desde a década de 50 até o desmantelamento do socialismo real, receberam treinamento político-ideológico no Instituto de Marxismo-Leninismo, na União Soviética e em outros países do Leste-Europeu, e cerca de 300, dos grupos voltados para a luta armada, treinamento militar em Cuba e na China.
Entretanto, com exceção do “Projeto Araguaia” - do Partido Comunista do Brasil, na época seguidor dos ensinamentos do livrinho vermelho de Mao-Tsetung -, cuja implantação teve início tão logo essa facção desprendeu-se do PCB, em 1962, nenhum grupo de esquerda chegou a reunir, jamais, as condições mínimas de infraestrutura para a instalação daquilo que o cientista social francês Regis Debray, companheiro de Che Guevara nas selvas da Bolívia, definiu como “foco guerrilheiro”, em seu livro “Revolução na Revolução”.
Os seqüestros de diplomatas estrangeiros e de aviões comerciais, os assassinatos, inclusive de companheiros, a título de “justiçamentos”, a avidez com que eram praticados os roubos de armas, de agências bancárias, de residências e, até mesmo, já no descenso, a trocadores de ônibus, para financiar a instalação do “Foco” e como propaganda armada para “estimular as massas” - com a participação, diga-se de passagem, de pessoas que integram o partido do atual governo -, foram transformados em tática militar e viriam a consumir os principais quadros e dirigentes dessas organizações, levando ao seu total desmantelamento no início dos anos 70.
Igualmente não é verdadeira outra tese: a de que a luta armada foi deflagrada após a radicalização, pelo governo, do processo revolucionário, com a edição do Ato Institucional nº 5, que teria deixado a oposição sem alternativa política.
Ora, o Ato Institucional nº 5, assinado pelo presidente Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968, foi uma resposta a algo que já existia: ao assassinato, em 28 de março de 1966, do sargento do Exército Carlos Argemiro Camargo, no Paraná, pelos guerrilheiros comandados por Jeferson Cardim de Alencar Osório, então exilado no Uruguai (“um tresloucado”, segundo o depoimento de “Betinho” no livro “O Fio da Navalha); aos assassinatos, em 25 de julho de 1966, do jornalista Edson Regis de Carvalho e do almirante Nelson Gomes Fernandes, mandados pelos ares por uma bomba, no aeroporto dos Guararapes, em Recife (bomba colocada por um militante da Ação Popular); ao assassinato cruel do soldado Mario Kosel Filho, sentinela do Quartel-General do II Exército, em São Paulo, quando da explosão de um carro-bomba, atirado contra o portão daquele quartel; e do assassinato, em 12 de outubro de 1968, de Rodney Chandler, capitão do Exército dos EUA, em São Paulo, por terroristas da Ala Marighela, precursora da Ação Libertadora Nacional, ao sair de sua casa, perante seus filhos. Segundo os panfletos deixados no local, ele foi “julgado e justiçado” por ser “agente da CIA". Um dos que participaram do “julgamento” é hoje professor na UNICAMP; um dos que atiraram em Chandler foi assessor do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul, afastado por corrupção; a mulher que efetuou o levantamento dos hábitos do capitão Chandler, que hoje vive em São Paulo, diz-se uma vítima dos torturadores. Todos foram anistiados.
O AI-5 não passou, portanto, de um ato de legítima defesa do Estado.
A conclusão de tudo isso é que a discussão acadêmica de todos esses anos para descobrir quem deu o primeiro tiro, não passa, como no caso do ovo e da galinha, de uma “masturbação sociológica” (royalties para o ex-ministro e ex-militante da Ação Popular Sérgio Motta, autor da frase, ao qual, aliás, “Betinho” - segundo afirmou em “No Fio da Navalha” - passou a Coordenação Nacional da AP, em 1970, antes de exilar-se no Chile).
26 de maio de 2014
A afirmação de que o terrorismo foi uma reação ao movimento de 1964 é mais uma desculpa esquerdista para justificar seus desmandos.
“A tendência dominante no Brasil é o abstracionismo” (Pietro Maria Bardi, em abril de 1990, quando diretor do Museu de Arte de São Paulo)
Nunca é demais recordar a história da luta armada no Brasil. História que as novas gerações, intoxicadas pelas mentiras difundidas por certa mídia esquerdizada com o aval de ex-guerrilheiros, hoje elevados à condição de heróis e recompensados financeiramente por terem lutado pela democracia, por aquele mesmo Estado que queriam derrubar. Um caso inédito em todo o mundo: guerrilheiros urbanos e rurais, depois de anistiados, são recompensados pelos assaltos, seqüestros, mortes cometidas e, enfim, pela derrota!
Parodiando o jornalista e ex-guerrilheiro urbano Franklin Martins – que foi assessor do governo Dilma e, diz-se, será o “comandante” de sua próxima campanha eleitoral -, no prefácio que escreveu para o livro “Viagem à Luta Armada” (escrito pelo terrorista Carlos Eugênio Sarmento Coelho da Paz, o último dos Grandes Comandantes da ALN, que desertou, em meados dos anos 70 após receber treinamento de guerrilha em Cuba, indo viver em Paris), o período de luta armada foi uma época em que mercado era o lugar onde as donas de casa faziam compras e não a todo-poderosa entidade globalizada que hoje comanda a humanidade com a sua mão invisível; massa era a denominação dada ao povo a caminho de encontrar seu destino revolucionário e não, uma tentação para os que estão em dieta; abrir significava revelar informações à repressão; cair significava ser preso;expropriação era o eufemismo utilizado para designar roubos e assaltos; quadro era a denominação dada ao militante experiente, com cargo de direção na Organização; e justiçar não significava distribuir Justiça e sim, assassinar os companheiros que começassem a pensar com suas próprias cabeças, demonstrando dúvidas sobre a ciência do marxismo-leninismo ou se tornassem suspeitos de colaborar com o inimigo de classe.
Foi um tempo em que se propalava que o capitalismo estava com os dias contados. Um tempo em que as revoluções eram consideradas iminentes, seguindo aquela modelada pelos guerrilheiros cubanos, que instalaram em Cuba uma república democrática popular (ou seja, instalaram um pleonasmo: um governo do povo popular) e procuravam estender esse pleonasmo a todo o continente.
Um tempo de mudanças e de contestações, onde se propalava que era “proibido proibir”.
Um tempo, enfim, em que um punhado de companheiros, sem dinheiro, sem doutrina e sem equipamento, mas com disposição e vontade - companheiros que nada reivindicam, nem mesmo compreensão -, no início por conta própria, é verdade, erradicaram o terrorismo, os seqüestros de diplomatas e de aviões e as guerrilhas urbana e rural. A doutrina, o dinheiro, a organização e o equipamento foram substituídos pela imaginação, pelo desprendimento e pelo forte sentimento anticomunista. Os procedimentos iam sendo inventados, na medida das necessidades, face à rapidez com que os acontecimentos se sucediam.
Somente a partir de janeiro de 1970, com a constituição dos DOI/CODI, passou-se a atuar organizadamente.
Tudo isso, no entanto, aconteceu não sem a perda de vidas, não sem sangue, suor e lágrimas e não sem que reputações fossem manchadas, carreiras abreviadas, injustiças e erros cometidos.
E não sem que esses companheiros sejam, até hoje, vítimas de um revanchismo dos que nunca se conformaram com a derrota. Revanchismo orquestrado por uma parte da mídia que não hesita em deturpar fatos e mentir despudoradamente.
Foi um tempo duro, diferente e difícil. Um tempo, no entanto, que devemos nos orgulhar de ter vivido e participado. Um tempo que jamais voltará.
Após tudo isso, foi colocada e permanece na ordem do dia uma discussão acadêmica, sobre a qual, infelizmente, muitas pessoas não têm clareza: quem nasceu primeiro, se o ovo ou a galinha. Ou seja, se a luta armada desencadeada pela esquerda radicalizada nos anos 60 e 70, foi fundamentalmente uma reação à Revolução de Março de 1964, como uma grande parte da mídia, políticos, escritores e cientistas sociais afirmam hoje.
Não. Não foi, como os fatos históricos comprovam.
O projeto de luta armada foi anterior a 1964. Desde o início dos anos 60 a esquerda radicalizada alimentava o ovo da serpente, estimulada pelo exemplo da revolução cubana. Isso sem falar nas propostas de revolução armada que vinham de muito antes, na melhor tradição bolchevique de assalto ao Palácio de Inverno, como o levante comunista de 1935.
No período de agosto de 1961 - quando o presidente Jânio Quadros renunciou - a 31 de março de 1964, foi colocada em xeque, no Brasil, a chamada ordem constitucional burguesa, segundo o jargão das esquerdas.
No governo de João Goulart já existiam organizações e grupos voltados para a utilização de formas de luta “mais avançadas”:
- As Ligas Camponesas de Francisco Julião - mais tarde, em 21 de abril de 1962, efemeramente denominadas de Movimento Revolucionário Tiradentes-, são o exemplo mais nítido. Já em 1961, diversos integrantes das Ligas foram mandados a Cuba para receber treinamento militar, tão logo Francisco Julião regressou de uma viagem àquele país. Ainda mais remotamente, deve-se recordar que, em 1957, quando como deputado federal efetuou uma viagem à União Soviética, Julião solicitou a autoridades militares daquele país o fornecimento de armas, para equipar as Ligas e “fazer a revolução no Brasil” (declarações de Oleg Ignatiev, jornalista da Agência Tass, publicadas pela imprensa em agosto de 1996);
- A POLOP, Política Operária, uma organização constituída em 1961, agrupando elementos de várias tendências alternativas ao PCB, que se destacou pelo intenso trabalho de doutrinação e formação de quadros. Em maio de 1964, decorridos menos de dois meses da Revolução de Março, adiantou-se aos acontecimentos que viriam marcar a dinâmica das esquerdas por quase uma década, tornando público um documento que definiu a guerrilha e a luta armada como “o caminho a seguir”;
- O PC do B, constituído em 1962, a partir de uma cisão no PCB, que ainda antes de 1964 mandou um grupo de militantes para treinamento militar na Academia Militar de Pequim. Esses militantes constituíram o núcleo da Guerrilha do Araguaia.
- A Ação Popular, também constituída em 1962, que exercia domínio indiscutível sobre a UNE. Também a AP, logo após a Revolução, mandou um grupo de militantes para treinamento político-ideológico em Pequim. Esse grupo, no regresso ao Brasil, transformou a AP numa organização marxista-leninista-maoísta (livro “No Fio da Navalha”, editora Revan, 1996; um depoimento de Herbert José de Souza - “Betinho” -, então coordenador nacional da Ação Popular, a um grupo de jornalistas);
- o Partido Operário Revolucionário Trotskista-Posadista, constituído na década de 50;
- os famosos “Grupo dos Onze”, uma inspiração de Leonel Brizola, então deputado federal, em 1963.
Nesse ano, Brizola ofereceu a coordenação nacional do Grupo dos Onze a Herbert José de Souza, então assessor do ministro da Educação (livro “No Fio da Navalha”).
O projeto de luta armada foi anterior a 1964, repetimos. Isso é reconhecido por aquela esquerda, onde há seriedade e um mínimo de vida inteligente, como o ex-guerrilheiro urbano Daniel Aarão Reis Filho “Antes da radicalização da ditadura, em 1968, e antes mesmo da sua própria instauração, em 1964, estava no ar um projeto revolucionário ofensivo. Os dissidentes se estilhaçariam em torno de encaminhamentos concretos, formando uma miríade de organizações e grupos, mas havia acordo quanto ao nó da questão: chegara a hora do assalto. Neste quadro, os revolucionários não resistem, atacam. Alegaram, em seu favor, que os autênticos revolucionários não pedem licença para fazer a revolução (...). Aprisionados por seus mitos, que não autorizavam recuos, insensíveis aos humores e pendores de um povo que autoritariamente julgavam representar, empolgados por um apocalipse que não existia senão em suas mentes, jogaram-se numa revolução que não vinha, que, afinal, não veio, e que não viria mesmo” (artigo “Este Imprevisível Passado”, na revista“Teoria e Debate” nº 32, julho/agosto/setembro de 1996, editada pelo Partido dos Trabalhadores).
Nesse contexto, foi rápida a conversão das bases radicalizadas do Partido Comunista Brasileiro - “que estava no governo mas ainda não detinha o poder”, como disse Luiz Carlos Prestes em entrevista, em Recife, em fevereiro de 1964 - à tática da luta armada.
Cerca de 700 militantes do Partido Comunista Brasileiro, desde a década de 50 até o desmantelamento do socialismo real, receberam treinamento político-ideológico no Instituto de Marxismo-Leninismo, na União Soviética e em outros países do Leste-Europeu, e cerca de 300, dos grupos voltados para a luta armada, treinamento militar em Cuba e na China.
Entretanto, com exceção do “Projeto Araguaia” - do Partido Comunista do Brasil, na época seguidor dos ensinamentos do livrinho vermelho de Mao-Tsetung -, cuja implantação teve início tão logo essa facção desprendeu-se do PCB, em 1962, nenhum grupo de esquerda chegou a reunir, jamais, as condições mínimas de infraestrutura para a instalação daquilo que o cientista social francês Regis Debray, companheiro de Che Guevara nas selvas da Bolívia, definiu como “foco guerrilheiro”, em seu livro “Revolução na Revolução”.
Os seqüestros de diplomatas estrangeiros e de aviões comerciais, os assassinatos, inclusive de companheiros, a título de “justiçamentos”, a avidez com que eram praticados os roubos de armas, de agências bancárias, de residências e, até mesmo, já no descenso, a trocadores de ônibus, para financiar a instalação do “Foco” e como propaganda armada para “estimular as massas” - com a participação, diga-se de passagem, de pessoas que integram o partido do atual governo -, foram transformados em tática militar e viriam a consumir os principais quadros e dirigentes dessas organizações, levando ao seu total desmantelamento no início dos anos 70.
Igualmente não é verdadeira outra tese: a de que a luta armada foi deflagrada após a radicalização, pelo governo, do processo revolucionário, com a edição do Ato Institucional nº 5, que teria deixado a oposição sem alternativa política.
Ora, o Ato Institucional nº 5, assinado pelo presidente Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968, foi uma resposta a algo que já existia: ao assassinato, em 28 de março de 1966, do sargento do Exército Carlos Argemiro Camargo, no Paraná, pelos guerrilheiros comandados por Jeferson Cardim de Alencar Osório, então exilado no Uruguai (“um tresloucado”, segundo o depoimento de “Betinho” no livro “O Fio da Navalha); aos assassinatos, em 25 de julho de 1966, do jornalista Edson Regis de Carvalho e do almirante Nelson Gomes Fernandes, mandados pelos ares por uma bomba, no aeroporto dos Guararapes, em Recife (bomba colocada por um militante da Ação Popular); ao assassinato cruel do soldado Mario Kosel Filho, sentinela do Quartel-General do II Exército, em São Paulo, quando da explosão de um carro-bomba, atirado contra o portão daquele quartel; e do assassinato, em 12 de outubro de 1968, de Rodney Chandler, capitão do Exército dos EUA, em São Paulo, por terroristas da Ala Marighela, precursora da Ação Libertadora Nacional, ao sair de sua casa, perante seus filhos. Segundo os panfletos deixados no local, ele foi “julgado e justiçado” por ser “agente da CIA". Um dos que participaram do “julgamento” é hoje professor na UNICAMP; um dos que atiraram em Chandler foi assessor do Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Sul, afastado por corrupção; a mulher que efetuou o levantamento dos hábitos do capitão Chandler, que hoje vive em São Paulo, diz-se uma vítima dos torturadores. Todos foram anistiados.
O AI-5 não passou, portanto, de um ato de legítima defesa do Estado.
A conclusão de tudo isso é que a discussão acadêmica de todos esses anos para descobrir quem deu o primeiro tiro, não passa, como no caso do ovo e da galinha, de uma “masturbação sociológica” (royalties para o ex-ministro e ex-militante da Ação Popular Sérgio Motta, autor da frase, ao qual, aliás, “Betinho” - segundo afirmou em “No Fio da Navalha” - passou a Coordenação Nacional da AP, em 1970, antes de exilar-se no Chile).
26 de maio de 2014
Carlos I. S. Asanbuja é Historiador.
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