Os candidatos intensificaram a presença na TV, a fria campanha eleitoral amornou e as pesquisas de voto seguem clareando o cenário da disputa. Entraram em cena os marqueteiros e, com eles, o vale-tudo para exaltar seu candidato e destruir adversários. Como fez o programa de propaganda do PT com os motes "o Brasil não quer voltar atrás" e "os fantasmas do passado" - fantasmas que acabaram com a inflação, fizeram o Plano Real e deram início à prosperidade econômica e social do País dos últimos 20 anos. O que têm na cartola Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos para exibirem aos eleitores na TV?
O mau desempenho da economia na gestão Dilma é o maior trunfo dos dois candidatos de oposição. Dilma errou ao adiar as privatizações e quando acordou errou nas regras de licitação; o investimento em infraestrutura - tardio e atrapalhado - levou a taxas medíocres de crescimento; a inflação voltou; o setor externo da economia deteriorou; a falta de confiança fez investidores baterem em retirada; a equipe econômica destruiu a seriedade nas contas públicas; Petrobrás e Eletrobrás viraram apêndices de políticas do governo, seu valor de mercado despenca e voltaram a dar prejuízo. Enfim, a lista de fracassos é grande e certamente será explorada por Aécio e Eduardo.
Os avanços na área social são o maior trunfo de Dilma. Ela deu continuidade às políticas sociais de Lula voltadas para atender às necessidades essenciais dos mais pobres e conseguiu êxito em algumas, como o Bolsa Família (o Bolsa Escola do fantasma FHC), ampliado por Lula, reforçado por ela, hoje com um orçamento de R$ 24,6 bilhões e 13 milhões de famílias atendidas. A taxa de desemprego em 4,9% numa conjuntura de baixíssimo crescimento é outro destaque, embora venha perdendo força na indústria, onde foram eliminados 69 mil postos de trabalho só entre março e abril passados.
Mas o próximo presidente precisa corrigir distorções em muitos programas sociais, e o Seguro-Desemprego é um deles. Como não há fiscalização nem transparência na aplicação do dinheiro, os gastos para pagar supostos desempregados explodiram, contrariando a conjuntura de emprego em alta e desemprego em baixa, o que levou Dilma a injetar mais R$ 4,9 bilhões no programa em 2013. Ainda na área do trabalho, há enorme desleixo em relação à qualificação do trabalhador. Dinheiro não falta, o que falta é fiscalização, gestão eficiente e cobrança de resultados. Além de bilhões de reais (o governo gosta de divulgar a cifra) repassados ao Sistema S (Sesc, Senac, Sesi, etc.), outra bolada de dinheiro é despejada nos sindicatos para qualificação profissional. E o Brasil fracassa, perde feio em produtividade no trabalho: em 2013 perdeu oito posições e ocupou o 56.º lugar no ranking do Fórum Econômico Mundial. Ou seja, oito países passaram à frente e o Brasil foi empurrado para trás. Afinal, o que esperar de um país onde, na média, o trabalhador levou 20 anos para avançar do estágio de 5,7 para apenas 8,8 anos de estudo?
Na TV o marqueteiro até pode pegar cenas dos melhores momentos, mas a candidata do PT tem pouco a dizer em saúde e educação, justo duas áreas-chave para uma política social bem-sucedida. Com exceção de alguns programas de inclusão social em universidades, a qualidade do ensino não melhorou e o analfabetismo funcional ampliou, sobretudo no ensino fundamental. A demora por uma consulta ou cirurgia, o desaparelhamento de hospitais, a escassez de médicos e postos de atendimento desenham um cotidiano sofrido para a população que precisa de saúde pública e que o programa Mais Médicos não conseguiu aliviar.
Mas o grande trunfo que Dilma vai explorar é a ascensão de 35 milhões de pobres que migraram para a classe média. Embora seja questionável o critério para classificar a classe média (o governo inclui quem tem renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00/mês), a ascensão é um fato real. Esses emergentes vivem com a corda no pescoço, endividam-se, mas passaram a ter acesso a computador, a telefone, a eletrodomésticos, dão impulso e movimentam a economia.
O mau desempenho da economia na gestão Dilma é o maior trunfo dos dois candidatos de oposição. Dilma errou ao adiar as privatizações e quando acordou errou nas regras de licitação; o investimento em infraestrutura - tardio e atrapalhado - levou a taxas medíocres de crescimento; a inflação voltou; o setor externo da economia deteriorou; a falta de confiança fez investidores baterem em retirada; a equipe econômica destruiu a seriedade nas contas públicas; Petrobrás e Eletrobrás viraram apêndices de políticas do governo, seu valor de mercado despenca e voltaram a dar prejuízo. Enfim, a lista de fracassos é grande e certamente será explorada por Aécio e Eduardo.
Os avanços na área social são o maior trunfo de Dilma. Ela deu continuidade às políticas sociais de Lula voltadas para atender às necessidades essenciais dos mais pobres e conseguiu êxito em algumas, como o Bolsa Família (o Bolsa Escola do fantasma FHC), ampliado por Lula, reforçado por ela, hoje com um orçamento de R$ 24,6 bilhões e 13 milhões de famílias atendidas. A taxa de desemprego em 4,9% numa conjuntura de baixíssimo crescimento é outro destaque, embora venha perdendo força na indústria, onde foram eliminados 69 mil postos de trabalho só entre março e abril passados.
Mas o próximo presidente precisa corrigir distorções em muitos programas sociais, e o Seguro-Desemprego é um deles. Como não há fiscalização nem transparência na aplicação do dinheiro, os gastos para pagar supostos desempregados explodiram, contrariando a conjuntura de emprego em alta e desemprego em baixa, o que levou Dilma a injetar mais R$ 4,9 bilhões no programa em 2013. Ainda na área do trabalho, há enorme desleixo em relação à qualificação do trabalhador. Dinheiro não falta, o que falta é fiscalização, gestão eficiente e cobrança de resultados. Além de bilhões de reais (o governo gosta de divulgar a cifra) repassados ao Sistema S (Sesc, Senac, Sesi, etc.), outra bolada de dinheiro é despejada nos sindicatos para qualificação profissional. E o Brasil fracassa, perde feio em produtividade no trabalho: em 2013 perdeu oito posições e ocupou o 56.º lugar no ranking do Fórum Econômico Mundial. Ou seja, oito países passaram à frente e o Brasil foi empurrado para trás. Afinal, o que esperar de um país onde, na média, o trabalhador levou 20 anos para avançar do estágio de 5,7 para apenas 8,8 anos de estudo?
Na TV o marqueteiro até pode pegar cenas dos melhores momentos, mas a candidata do PT tem pouco a dizer em saúde e educação, justo duas áreas-chave para uma política social bem-sucedida. Com exceção de alguns programas de inclusão social em universidades, a qualidade do ensino não melhorou e o analfabetismo funcional ampliou, sobretudo no ensino fundamental. A demora por uma consulta ou cirurgia, o desaparelhamento de hospitais, a escassez de médicos e postos de atendimento desenham um cotidiano sofrido para a população que precisa de saúde pública e que o programa Mais Médicos não conseguiu aliviar.
Mas o grande trunfo que Dilma vai explorar é a ascensão de 35 milhões de pobres que migraram para a classe média. Embora seja questionável o critério para classificar a classe média (o governo inclui quem tem renda per capita entre R$ 291,00 e R$ 1.019,00/mês), a ascensão é um fato real. Esses emergentes vivem com a corda no pescoço, endividam-se, mas passaram a ter acesso a computador, a telefone, a eletrodomésticos, dão impulso e movimentam a economia.
26 de maio de 2014
Suely Caldas, O Estado de S.Paulo
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