Este é um blog conservador. Um canal de denúncias do falso 'progressismo' e da corrupção que afronta a cidadania. Também não é um blog partidário, visto que os partidos que temos, representam interesses de grupos, e servem para encobrir o oportunismo político de bandidos. Falamos contra corruptos, estelionatários e fraudadores. Replicamos os melhores comentários e análises críticas, bem como textos divergentes, para reflexão do leitor. Além de textos mais amenos... (ou mais ou menos...) .
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.
quinta-feira, 30 de julho de 2020
A MANEIRA CORRETA E MAIS EFICAZ DE ESPOLIAR OS RICOS
É mais efetiva que qualquer reforma tributária ou aumento de impostos
Nota do editor
Dado que está na moda defender aumento de impostos sobre os mais ricos, tributação de dividendos, aumento de impostos sobre a herança e até mesmo uma reforma tributária que aumente a arrecadação, nada melhor do que ir direto à fonte.
O método explicado abaixo garante, com 100% de eficácia, que o dinheiro sairá do bolso dos mais ricos e irá diretamente para o bolso dos mais merecedores, sem utilizar políticos e burocratas como atravessadores (que cobram pedágio).
_____________________________
É crescente o número pessoas que diz que a solução para o fim definitivo da pobreza e das "injustiças sociais" está na tributação pesada dos mais ricos.
Estas pessoas genuinamente acreditam que toda a riqueza destes bilionários está na forma de dinheiro "parado nos bancos", apenas esperando ser tributado e redistribuído.
Mal sabem elas que a riqueza destes bilionários está majoritariamente na posse de fábricas, instalações industriais, bens de capital, caminhões, tratores e maquinários em geral, e ações — de modo que é impossível confiscar uma fatia desses bens e repassá-los para os mais necessitados. (A maior parte da riqueza de Jeff Bezos não está em uma conta bancária, mas sim no valor de sua empresa).
Pouco importa.
O fato de haver vários indivíduos com sua riqueza estimada em milhões, algumas vezes bilhões, é algo que enlouquece muita gente, especialmente políticos.
Populistas imaginam que estes ricos não fazem absolutamente nada na vida a não ser amontoar dinheiro, contá-lo gostosamente e gargalhar sadicamente ao pensarem nas vantagens que possuem sobre o resto da humanidade.
Sendo assim, munidos de tais imagens mentais, os ativistas da redistribuição de renda propõem vários esquemas para separar, à força, os ricos de seu dinheiro, sempre utilizando o poder da violência governamental. Trata-se de uma abordagem brutal que envolve um pesado uso da coerção estatal contra pessoas.
Se você acredita na paz, como vários ativistas de esquerda alegam, então tal postura não pode ser defendida. Violência produz apenas mais violência, e nunca é uma solução.
O outro problema com a tributação — e este, por si só, deveria bastar para fazer com que a esquerda abandonasse em definitivo a defesa deste método — é que o dinheiro confiscado é transferido para o próprio estado — a mesma instituição que suprime a liberdade de expressão, joga as pessoas na cadeia pelo uso de drogas e intimida vários tipos de associação voluntária e consensual entre dois indivíduos. Não é algo muito esperto tomar dinheiro daqueles que usam sapatos lustrados e transferir para aqueles que usam botas militares.
Certamente tem de haver uma maneira melhor, mais inteligente e mais pacífica de se retirar dinheiro das mãos dos ricos e transferi-lo para as mãos da classe média e dos pobres.
E eu tenho a solução perfeita.
É simples e 100% eficaz
Esta solução me veio recentemente, quando eu estava caminhando por uma rua da cidade e vi um Rolls-Royce Phantom, estacionado onde qualquer carro normal estacionaria.
Carros absurdamente ostentosos e pomposos podem ser incríveis em termos de luxo e desempenho, mas chegam a custar US$ 800.000.
Inacreditável! Por que alguém iria querer comprar isso? O proprietário deste carro poderia ter gasto uma minúscula fração deste valor em um carro bem mais simples (como o meu), suficiente para levá-lo do ponto A ao ponto B; mas, em vez disso, e por razões que ninguém pode realmente explicar, esta pessoa decidiu se desfazer de uma quantia equivalente a vários anos da renda de um trabalhador médio — tudo por um carro.
O ponto a ser enfatizado aqui é que esta pessoa voluntariamente abriu mão de seu dinheiro. E onde este dinheiro foi parar?
Ele foi para as pessoas que venderam o carro, para as pessoas que construíram o carro, para as que transportaram o carro da fábrica até a concessionária e para as que forneceram equipamentos para o carro.
Mas não pára por aí.
O dinheiro foi também para os trabalhadores da indústria de borracha que fizeram os pneus e para os trabalhadores nas siderúrgicas que fizeram o material da luxuosa carroceria.
Ou seja, o dinheiro foi do rico para todo o resto, e ninguém teve de ameaçá-lo de morte, de cadeia ou de espancamento para que isso acontecesse.
Aqueles que receberam o dinheiro não tiveram de fazer lobby por ele, não tiveram de tributar e nem coagir ninguém. O cara rico abriu mão do dinheiro voluntariamente.
Logo, parece que estamos chegando a alguma conclusão aqui.
Os ricos são um grupo interessante. Eles gostam de se destacar por meio de atos e posses que o resto de nós considera como apenas absurdas ostentações. Se não houver coisas com as quais os ricos possam gastar seu dinheiro esbanjadoramente, eles irão apenas ou entesourar este dinheiro, ou comprar ouro, ou enviá-lo a um paraíso fiscal.
O famoso sociólogo Thorstein Veblen entendeu tudo às avessas. As pessoas que se ressentem da riqueza das elites não deveriam de modo algum condenar seu consumo excessivo. Elas deveriam, ao contrário, encorajar cada vez mais seu consumismo.
A solução é ter uma sociedade que apresente uma vasta proliferação de luxos excepcionalmente caros nos quais os ricos possam gastar seu dinheiro.
Este é o caminho para a expropriação voluntária e para uma eficaz redistribuição de renda — deles para o resto de nós, do 1% para os 99%.
Considere, por exemplo, uma passagem de primeira classe de um avião. Para alguns vôos, o preço desta passagem é de quebrar a banca. Para compras de última hora em alguns vôos internacionais, uma passagem desta pode custar até US$15.000.
E o que este passageiro ganha em troca? Ele será servido por uma comissária de bordo que acha que ele é o máximo, terá vários drinques à sua disposição e um espaço extra para as pernas. Mas chegará ao mesmo destino dos passageiros que estão na classe econômica.
Em troca deste pouco a mais, este passageiro rico transferiu milhares de dólares de sua conta bancária para as contas bancárias dos pilotos, dos comissários de bordo, dos operadores de bagagens, dos funcionários que comandam a burocracia da empresa aérea, dos mecânicos da empresa aérea, dos responsáveis pelo abastecimento nos aeroportos, e de todos os demais envolvidos na operação do voo. Todos certamente muito mais pobres do que ele.
Outro detalhe adicional, do qual poucos parecem se dar conta, é que são justamente os altos valores pagos pelos passageiros da primeira classe e da classe executiva que permitem preços mais baratos para a passagem da classe econômica.
O mesmo raciocínio se aplica a hotéis de luxo. Para mim, um hotel é apenas um local para se dormir quando se está em outra cidade. Porém, há toda uma classe de hotéis de luxo voltados para fornecer a seus hóspedes momentos inesquecíveis pelo período de tempo em que ficarem ali.
Há hotéis com spas, saunas, piscinas, salas de ginástica, vários tipos de restaurante, bares em todos os cantos, bibliotecas, campos de golfe, espaços para caminhadas, salões de dança e mais luxos do que você seria capaz de usar durante todo o ano.
Estes hotéis chegam a cobrar milhares de dólares por apenas uma noite.
Eu não entendo muito bem a lógica de se fornecer tudo isso, mas vários indivíduos pertencentes ao 1% dos mais ricos mantêm estes lugares sempre cheios. E isso é ótimo!
O dinheiro deles sai de seus bolsos diretamente para as mãos de recepcionistas, garçons, limpadores de piscina, porteiros, arrumadeiras, cozinheiros, limpadores de chão, pedreiros, operários que fazem reparos em instalações, e todos os outros tipos de profissões puramente manuais que você for capaz de imaginar.
Precisamos de muito mais de tudo isso. Veja o campeonato mundial de iatismo. Trata-se de algo absurdamente caro apenas para participar. Os iates podem custar mais de US$5 milhões. Apenas a manutenção eleva este valor alguns milhões a mais. Tal coisa seria absolutamente impensável para a esmagadora maioria dos mortais.
No entanto, os ricos fazem tudo isso, e voluntariamente transferem sua riqueza diretamente para os menos abonados de todas as posições sociais e profissionais.
Principalmente se você considerar toda a atenção dada pela mídia e toda a badalação que ocorre nas redondezas, há centenas de milhares de pessoas que se beneficiam desta extravagância dos ricos.
O que começa lá em cima sempre chega ao andar de baixo
O que é especialmente louvável neste comportamento dos ricos é que, todos os produtos que eles inicialmente adquirem antes do resto da humanidade, um dia se tornam amplamente disponíveis para todo o mundo, desde que, é claro, a economia de mercado esteja funcionando livremente.
Na década de 1980, um celular era o supra-sumo do luxo. Hoje, celulares estão disponíveis para todos os pobres do mundo. O mesmo é válido para computadores. Eu carrego em meu bolso mais memória RAM e HD do que havia disponível, em conjunto, para os mais ricos e poderosos do mundo duas décadas atrás.
Os ricos são aquilo que chamamos de "adotantes primários". Eles são os primeiros a adotar toda e qualquer tecnologia que surge. Com o tempo, aquilo que era luxo se torna algo corriqueiro para o resto de nós. Produtos que antes estavam disponíveis apenas em lojas exclusivas e chiques, daquelas que você tem de marcar hora para poder entrar, acabam nas prateleiras de shoppings populares alguns anos depois. Os ricos desbravam as novidades, fazendo todo o serviço antes de nós. Desta forma, eles são os benfeitores da sociedade.
Ludwig von Mises, ainda na década de 1950, já tinha explicado e previsto este fenômeno, o qual está ocorrendo de maneira cada vez mais acelerada.
Quer espoliar os ricos? Forneça algo a eles
Se quisermos espoliar os ricos de seu dinheiro, temos apenas de criar cada vez mais oportunidades para que eles possam esbanjar milhões, até bilhões, em objetos e serviços que você e eu jamais sonharíamos adquirir.
Precisamos de mais luxo, de mais fausto, de mais magnificência, de mais consumo conspícuo dos ricos, de mais bens e serviços tentadores, exagerados e exorbitantes que incitem os ricos a abrir mão do seu dinheiro.
Porém, é claro que, se quisermos tudo isso, teremos também de ter produtores capazes de fabricar estas coisas e vendê-las para os ricos. Isto significa uma sociedade trabalhadora, poupadora, acumuladora de capital e investidora.
E isto, por sua vez, significa que não se deve punir o investimento e a acumulação de capital, nem tampouco criar impostos punitivos sobre as receitas geradas por aqueles investimentos voltados para os ricos.
Impostos sobre a renda têm de ser zerados, assim como sobre bens de luxo. Quaisquer medidas que desestimulem a produção e a venda de bens de luxo têm de ser repelidas caso realmente se queira esvaziar os bolsos dos milionários.
Igualmente, é também preciso acabar com esta crescente ideia de que os ricos devem dar todo o seu dinheiro para amplas e dispersas instituições de caridade. A quem isto realmente beneficia? É difícil saber, mas certamente há organizações sem fins lucrativos que não fazem aquilo que alegam estar fazendo. Um caminho muito melhor seria estimular os ricos a enriquecerem o máximo possível e, depois, saírem gastando desmesuradamente por coisas que, no final, irão beneficiar a todos nós.
Para concluir
Apenas para deixar claro: não se está fazendo aqui nenhuma defesa do consumismo desbragado. A importância da poupança, da frugalidade e da prudência é inquestionável, pois estes são alguns dos pilares que permitem o investimento de longo prazo e, consequentemente, o enriquecimento de uma sociedade.
E a Escola Austríaca de pensamento econômico sempre foi pródiga em suas explicações de que são a poupança e o investimento, e não o consumo, a força-motriz de uma economia.
No entanto, os ricos, por definição, são aqueles que, exatamente por terem poupado e acumulado capital, podem agora se dar ao luxo de consumir mais conspicuamente. E é daí que se propõe que venha a redistribuição de renda (que é o objetivo exclusivo da proposta aqui apresentada).
Os ricos não levarão seu dinheiro para a cova. O mercado é a melhor, mais eficiente e mais pacífica maneira de fazer com que toda a riqueza seja distribuída para o resto do mundo.
Quer espoliar um rico e redistribuir o dinheiro? Crie e venda algo para ele.
30 de julho de 2020
Jeffrey Tucker
__________________________
Leia também:
Se você defende os trabalhadores, então você tem de defender os ricos
Quatro consequências inesperadas de se aumentar os impostos sobre os mais ricos
O grande beneficiado pelo capitalismo foi o cidadão comum, e não os ricos e poderosos
Nota do editor
Dado que está na moda defender aumento de impostos sobre os mais ricos, tributação de dividendos, aumento de impostos sobre a herança e até mesmo uma reforma tributária que aumente a arrecadação, nada melhor do que ir direto à fonte.
O método explicado abaixo garante, com 100% de eficácia, que o dinheiro sairá do bolso dos mais ricos e irá diretamente para o bolso dos mais merecedores, sem utilizar políticos e burocratas como atravessadores (que cobram pedágio).
_____________________________
É crescente o número pessoas que diz que a solução para o fim definitivo da pobreza e das "injustiças sociais" está na tributação pesada dos mais ricos.
Estas pessoas genuinamente acreditam que toda a riqueza destes bilionários está na forma de dinheiro "parado nos bancos", apenas esperando ser tributado e redistribuído.
Mal sabem elas que a riqueza destes bilionários está majoritariamente na posse de fábricas, instalações industriais, bens de capital, caminhões, tratores e maquinários em geral, e ações — de modo que é impossível confiscar uma fatia desses bens e repassá-los para os mais necessitados. (A maior parte da riqueza de Jeff Bezos não está em uma conta bancária, mas sim no valor de sua empresa).
Pouco importa.
O fato de haver vários indivíduos com sua riqueza estimada em milhões, algumas vezes bilhões, é algo que enlouquece muita gente, especialmente políticos.
Populistas imaginam que estes ricos não fazem absolutamente nada na vida a não ser amontoar dinheiro, contá-lo gostosamente e gargalhar sadicamente ao pensarem nas vantagens que possuem sobre o resto da humanidade.
Sendo assim, munidos de tais imagens mentais, os ativistas da redistribuição de renda propõem vários esquemas para separar, à força, os ricos de seu dinheiro, sempre utilizando o poder da violência governamental. Trata-se de uma abordagem brutal que envolve um pesado uso da coerção estatal contra pessoas.
Se você acredita na paz, como vários ativistas de esquerda alegam, então tal postura não pode ser defendida. Violência produz apenas mais violência, e nunca é uma solução.
O outro problema com a tributação — e este, por si só, deveria bastar para fazer com que a esquerda abandonasse em definitivo a defesa deste método — é que o dinheiro confiscado é transferido para o próprio estado — a mesma instituição que suprime a liberdade de expressão, joga as pessoas na cadeia pelo uso de drogas e intimida vários tipos de associação voluntária e consensual entre dois indivíduos. Não é algo muito esperto tomar dinheiro daqueles que usam sapatos lustrados e transferir para aqueles que usam botas militares.
Certamente tem de haver uma maneira melhor, mais inteligente e mais pacífica de se retirar dinheiro das mãos dos ricos e transferi-lo para as mãos da classe média e dos pobres.
E eu tenho a solução perfeita.
É simples e 100% eficaz
Esta solução me veio recentemente, quando eu estava caminhando por uma rua da cidade e vi um Rolls-Royce Phantom, estacionado onde qualquer carro normal estacionaria.
Carros absurdamente ostentosos e pomposos podem ser incríveis em termos de luxo e desempenho, mas chegam a custar US$ 800.000.
Inacreditável! Por que alguém iria querer comprar isso? O proprietário deste carro poderia ter gasto uma minúscula fração deste valor em um carro bem mais simples (como o meu), suficiente para levá-lo do ponto A ao ponto B; mas, em vez disso, e por razões que ninguém pode realmente explicar, esta pessoa decidiu se desfazer de uma quantia equivalente a vários anos da renda de um trabalhador médio — tudo por um carro.
O ponto a ser enfatizado aqui é que esta pessoa voluntariamente abriu mão de seu dinheiro. E onde este dinheiro foi parar?
Ele foi para as pessoas que venderam o carro, para as pessoas que construíram o carro, para as que transportaram o carro da fábrica até a concessionária e para as que forneceram equipamentos para o carro.
Mas não pára por aí.
O dinheiro foi também para os trabalhadores da indústria de borracha que fizeram os pneus e para os trabalhadores nas siderúrgicas que fizeram o material da luxuosa carroceria.
Ou seja, o dinheiro foi do rico para todo o resto, e ninguém teve de ameaçá-lo de morte, de cadeia ou de espancamento para que isso acontecesse.
Aqueles que receberam o dinheiro não tiveram de fazer lobby por ele, não tiveram de tributar e nem coagir ninguém. O cara rico abriu mão do dinheiro voluntariamente.
Logo, parece que estamos chegando a alguma conclusão aqui.
Os ricos são um grupo interessante. Eles gostam de se destacar por meio de atos e posses que o resto de nós considera como apenas absurdas ostentações. Se não houver coisas com as quais os ricos possam gastar seu dinheiro esbanjadoramente, eles irão apenas ou entesourar este dinheiro, ou comprar ouro, ou enviá-lo a um paraíso fiscal.
O famoso sociólogo Thorstein Veblen entendeu tudo às avessas. As pessoas que se ressentem da riqueza das elites não deveriam de modo algum condenar seu consumo excessivo. Elas deveriam, ao contrário, encorajar cada vez mais seu consumismo.
A solução é ter uma sociedade que apresente uma vasta proliferação de luxos excepcionalmente caros nos quais os ricos possam gastar seu dinheiro.
Este é o caminho para a expropriação voluntária e para uma eficaz redistribuição de renda — deles para o resto de nós, do 1% para os 99%.
Considere, por exemplo, uma passagem de primeira classe de um avião. Para alguns vôos, o preço desta passagem é de quebrar a banca. Para compras de última hora em alguns vôos internacionais, uma passagem desta pode custar até US$15.000.
E o que este passageiro ganha em troca? Ele será servido por uma comissária de bordo que acha que ele é o máximo, terá vários drinques à sua disposição e um espaço extra para as pernas. Mas chegará ao mesmo destino dos passageiros que estão na classe econômica.
Em troca deste pouco a mais, este passageiro rico transferiu milhares de dólares de sua conta bancária para as contas bancárias dos pilotos, dos comissários de bordo, dos operadores de bagagens, dos funcionários que comandam a burocracia da empresa aérea, dos mecânicos da empresa aérea, dos responsáveis pelo abastecimento nos aeroportos, e de todos os demais envolvidos na operação do voo. Todos certamente muito mais pobres do que ele.
Outro detalhe adicional, do qual poucos parecem se dar conta, é que são justamente os altos valores pagos pelos passageiros da primeira classe e da classe executiva que permitem preços mais baratos para a passagem da classe econômica.
O mesmo raciocínio se aplica a hotéis de luxo. Para mim, um hotel é apenas um local para se dormir quando se está em outra cidade. Porém, há toda uma classe de hotéis de luxo voltados para fornecer a seus hóspedes momentos inesquecíveis pelo período de tempo em que ficarem ali.
Há hotéis com spas, saunas, piscinas, salas de ginástica, vários tipos de restaurante, bares em todos os cantos, bibliotecas, campos de golfe, espaços para caminhadas, salões de dança e mais luxos do que você seria capaz de usar durante todo o ano.
Estes hotéis chegam a cobrar milhares de dólares por apenas uma noite.
Eu não entendo muito bem a lógica de se fornecer tudo isso, mas vários indivíduos pertencentes ao 1% dos mais ricos mantêm estes lugares sempre cheios. E isso é ótimo!
O dinheiro deles sai de seus bolsos diretamente para as mãos de recepcionistas, garçons, limpadores de piscina, porteiros, arrumadeiras, cozinheiros, limpadores de chão, pedreiros, operários que fazem reparos em instalações, e todos os outros tipos de profissões puramente manuais que você for capaz de imaginar.
Precisamos de muito mais de tudo isso. Veja o campeonato mundial de iatismo. Trata-se de algo absurdamente caro apenas para participar. Os iates podem custar mais de US$5 milhões. Apenas a manutenção eleva este valor alguns milhões a mais. Tal coisa seria absolutamente impensável para a esmagadora maioria dos mortais.
No entanto, os ricos fazem tudo isso, e voluntariamente transferem sua riqueza diretamente para os menos abonados de todas as posições sociais e profissionais.
Principalmente se você considerar toda a atenção dada pela mídia e toda a badalação que ocorre nas redondezas, há centenas de milhares de pessoas que se beneficiam desta extravagância dos ricos.
O que começa lá em cima sempre chega ao andar de baixo
O que é especialmente louvável neste comportamento dos ricos é que, todos os produtos que eles inicialmente adquirem antes do resto da humanidade, um dia se tornam amplamente disponíveis para todo o mundo, desde que, é claro, a economia de mercado esteja funcionando livremente.
Na década de 1980, um celular era o supra-sumo do luxo. Hoje, celulares estão disponíveis para todos os pobres do mundo. O mesmo é válido para computadores. Eu carrego em meu bolso mais memória RAM e HD do que havia disponível, em conjunto, para os mais ricos e poderosos do mundo duas décadas atrás.
Os ricos são aquilo que chamamos de "adotantes primários". Eles são os primeiros a adotar toda e qualquer tecnologia que surge. Com o tempo, aquilo que era luxo se torna algo corriqueiro para o resto de nós. Produtos que antes estavam disponíveis apenas em lojas exclusivas e chiques, daquelas que você tem de marcar hora para poder entrar, acabam nas prateleiras de shoppings populares alguns anos depois. Os ricos desbravam as novidades, fazendo todo o serviço antes de nós. Desta forma, eles são os benfeitores da sociedade.
Ludwig von Mises, ainda na década de 1950, já tinha explicado e previsto este fenômeno, o qual está ocorrendo de maneira cada vez mais acelerada.
Quer espoliar os ricos? Forneça algo a eles
Se quisermos espoliar os ricos de seu dinheiro, temos apenas de criar cada vez mais oportunidades para que eles possam esbanjar milhões, até bilhões, em objetos e serviços que você e eu jamais sonharíamos adquirir.
Precisamos de mais luxo, de mais fausto, de mais magnificência, de mais consumo conspícuo dos ricos, de mais bens e serviços tentadores, exagerados e exorbitantes que incitem os ricos a abrir mão do seu dinheiro.
Porém, é claro que, se quisermos tudo isso, teremos também de ter produtores capazes de fabricar estas coisas e vendê-las para os ricos. Isto significa uma sociedade trabalhadora, poupadora, acumuladora de capital e investidora.
E isto, por sua vez, significa que não se deve punir o investimento e a acumulação de capital, nem tampouco criar impostos punitivos sobre as receitas geradas por aqueles investimentos voltados para os ricos.
Impostos sobre a renda têm de ser zerados, assim como sobre bens de luxo. Quaisquer medidas que desestimulem a produção e a venda de bens de luxo têm de ser repelidas caso realmente se queira esvaziar os bolsos dos milionários.
Igualmente, é também preciso acabar com esta crescente ideia de que os ricos devem dar todo o seu dinheiro para amplas e dispersas instituições de caridade. A quem isto realmente beneficia? É difícil saber, mas certamente há organizações sem fins lucrativos que não fazem aquilo que alegam estar fazendo. Um caminho muito melhor seria estimular os ricos a enriquecerem o máximo possível e, depois, saírem gastando desmesuradamente por coisas que, no final, irão beneficiar a todos nós.
Para concluir
Apenas para deixar claro: não se está fazendo aqui nenhuma defesa do consumismo desbragado. A importância da poupança, da frugalidade e da prudência é inquestionável, pois estes são alguns dos pilares que permitem o investimento de longo prazo e, consequentemente, o enriquecimento de uma sociedade.
E a Escola Austríaca de pensamento econômico sempre foi pródiga em suas explicações de que são a poupança e o investimento, e não o consumo, a força-motriz de uma economia.
No entanto, os ricos, por definição, são aqueles que, exatamente por terem poupado e acumulado capital, podem agora se dar ao luxo de consumir mais conspicuamente. E é daí que se propõe que venha a redistribuição de renda (que é o objetivo exclusivo da proposta aqui apresentada).
Os ricos não levarão seu dinheiro para a cova. O mercado é a melhor, mais eficiente e mais pacífica maneira de fazer com que toda a riqueza seja distribuída para o resto do mundo.
Quer espoliar um rico e redistribuir o dinheiro? Crie e venda algo para ele.
30 de julho de 2020
Jeffrey Tucker
__________________________
Leia também:
Se você defende os trabalhadores, então você tem de defender os ricos
Quatro consequências inesperadas de se aumentar os impostos sobre os mais ricos
O grande beneficiado pelo capitalismo foi o cidadão comum, e não os ricos e poderosos
O QUE É O SOCIALISMO FABIANO - E POR QUE ELE IMPORTA
Antes da Revolução Russa, o Partido Comunista tinha duas alas: Bolchevique e Menchevique.
Os Bolcheviques acreditavam na imediata imposição do socialismo por meios violentos, com confisco armado das propriedades, das fábricas, e das fazendas, e o assassinato dos burgueses e reacionários que porventura oferecessem resistência.
Já os Mencheviques (que também se auto-rotulavam social-democratas) defendiam uma abordagem mais gradual, não-violenta e não-revolucionária para o mesmo objetivo. Para estes, a liberdade e a propriedade deveriam ser abolidas pelo voto da maioria.
Os Bolcheviques venceram a Revolução Russa e implantaram o terror. No entanto, após cometerem crimes inimagináveis, eles praticamente desapareceram do cenário. Já os Mencheviques, no entanto, não apenas seguem vivos como também se fortaleceram e se expandiram, e estão no poder de boa parte dos países democráticos.
Os mencheviques modernos seguem, em sua essência, as mesmas táticas dos Mencheviques russos: em vez de abolirem a propriedade privada e a economia de mercado, como queriam os Bolcheviques, os atuais mencheviques entenderam ser muito melhor um arranjo em que a propriedade privada e o sistema de preços são mantidos, mas o estado mantém os capitalistas e uma truncada economia de mercado sob total controle, regulando, tributando, restringindo e submetendo todos os empreendedores às ordens do estado.
Para os mencheviques atuais, tradições burguesas como propriedade privada e economia de mercado devem ser toleradas, mas a economia tem de ser rigidamente regulada e tributada. Políticas redistributivistas são inegociáveis. Uma fatia da renda dos indivíduos produtivos da sociedade deve ser confiscada e redistribuída para os não-produtivos. Grandes empresários devem ser submissos aos interesses do regime e, em troca, devem ser beneficiados por subsídios e políticas industriais, e também protegidos por tarifas protecionistas.
Acima de tudo, cabe aos burocratas do governo — os próprios mencheviques — intervir no mercado para redistribuir toda a riqueza e manter a economia funcionando de acordo com seus desígnios.
No entanto, a estratégia menchevique não se resume à economia. A questão cultural é tão ou mais importante. Para os mencheviques atuais, a cultura burguesa deve ser substituída por uma nova mentalidade condicionada ao modo de pensar social-democrata, e a estratégia para isso consiste na imposição lenta e gradual de uma revolução cultural.
Os mencheviques, fiéis ao seu ideal "democrático", sempre se sentiram desconfortáveis com a ideia de revolução, preferindo muito mais a "evolução" gradual produzida pelas eleições democráticas. O estado deve ser totalmente aparelhado por intelectuais partidários e simpatizantes, de modo a garantir uma tomada hegemônica das instituições culturais e sociais do país. Daí a desconsideração pelos gulags e pela revolução armada.
Como tudo começou
As raízes do menchevismo atual não estão na Rússia de Lênin, mas sim na Londres de 1883, quando um grupo de socialistas adeptos do gradualismo fundou a Sociedade Fabiana. Liderada por um cidadão chamado Hubert Bland, os mais famosos membros da sociedade eram o dramaturgo George Bernard Shaw, os autores Sidney e Beatrice Webb, e o artista William Morris.
A Sociedade Fabiana tem este nome em homenagem a Quintus Fabius Maximus, político, ditador e general da República Romana (275-203 a.C.) que conseguiu derrotar Aníbal na Segunda Guerra Púnica adotando a estratégia de não fazer confrontos diretos e em larga escala (nos quais os romanos haviam sido derrotados contra Aníbal), mas sim de incorrer apenas em pequenas e graduais ações, as quais ele sabia que podia vencer, não importa o tanto que ele tivesse de esperar.
Em suma, Quintus Fabius Maximus era um estrategista militar que evitava qualquer confrontação aberta e decisiva; em vez disso, ele preferia fatigar seus oponentes com táticas procrastinadoras e cansativas, manobras enganadoras e assédios contínuos.
Fundada exatamente no ano da morte de Marx com o intuito de promover as idéias do filósofo alemão por meio do gradualismo, a Sociedade Fabiana almejava "condicionar" a sociedade, como disse a fabiana Margaret Cole, por meio de medidas socialistas disfarçadas. Ao atenuar e minimizar seus objetivos, a Sociedade Fabiana tinha o intuito de não incitar os inimigos do socialismo, tornando-os menos combativos.
Ao contrário dos revolucionários marxistas, os socialistas fabianos conheciam muito bem o funcionamento das políticas públicas britânicas. Sendo os especialistas originais, eles fizeram várias pesquisas, elaboraram planos, publicaram panfletos e livros, e criaram várias propostas legislativas, sempre contando com a ajuda de aliados nas universidades, igrejas e jornais. Eles também treinaram oradores, escritores e políticos. Sidney Webb foi além e fundou a London School of Economics em 1895 para ser o quartel-general desse trabalho.
Embora a Sociedade Fabiana jamais houvesse tido mais do que 4.000 membros, foram eles que criaram, promoveram e conduziram pelo Parlamento a maior parte das políticas sociais britânicas até o início da década de 1980. O resultado foi uma economia em frangalhos e uma sociedade esclerosada, situação esta que só começou a ser revertida quando Margaret Thatcher começou a "desfabianizar" a Inglaterra.
Os fabianos foram bem-sucedidos em seu objetivo de criar um "estado provedor", um estado assistencialista que cuidaria não apenas dos pobres, mas também da classe média, do berço ao túmulo.
Seja na forma de compensações trabalhistas, ou de pensões e aposentadorias, seguro-desemprego e medicina socializada, os fabianos sempre enfatizaram a "reforma social". Segundo o escritor John T. Flynn, os fabianos
Perceberam prematuramente o imenso valor das reformas sociais em acostumar os cidadãos a ver o estado como a ferramenta para curar todas as suas doenças e inquietudes. Eles viram que uma agitação em prol de um estado assistencialista poderia se tornar o veículo ideal para incutir idéias socialistas nas mentes do cidadão comum.
Outra inovação fabiana: reformas sociais invariavelmente envolviam algum tipo de "seguridade". As pessoas seriam induzidas a aceitar o socialismo caso este fosse apresentado por meio de modelos oriundos das ciências atuariais, tendo empresas de seguro como base.
Empresas de seguro genuínas, baseando-se em estatísticas de distribuição aleatória de acidentes, coletam dinheiro de seus segurados na forma de um consórcio e concentram-no em um fundo, desta forma tornando o mundo menos incerto para seus membros. Os fabianos, muito espertamente, pegaram esse modelo e disseram: concentremos a riqueza de todos nas mãos do estado e seremos felizes, saudáveis e teremos uma vida melhor.
Aneurin Bevan, o ministro da saúde fabiano do governo trabalhista dos pós-guerra, que criou o National Health Service — o sistema estatal de saúde britânico (veja algumas notícias recentes da saúde britânica estatal aqui, aqui, aqui e aqui) —, chegou realmente a argumentar que tal modelo iria drasticamente aumentar a expectativa de vida de todos, chegando ao ponto de postergar a morte indefinidamente.
Mas a verdadeira visão fabiana do estado foi mais bem explicitada no livro de Sidney e Beatrice Webb intitulado Soviet Communism: A New Civilization?, publicado em 1935 (o ponto de interrogação foi removido do título após a primeira edição). O livro glorificava a URSS de Stalin como se fosse virtualmente um paraíso na terra.
Como marxistas, embora de uma outra estirpe, os Webbs aprovavam o stalinismo — se não os meios, os fins. "Os fabianos eram, de uma certa forma, marxistas mais bem treinados do que o próprio Marx", disse Joseph Schumpeter. Que continuou:
Concentrar-se nos problemas que podem ser alterados por métodos políticos práticos, adaptar-se à evolução das questões sociais, e deixar o objetivo supremo ser alcançado automaticamente [por meio da alteração cultural das massas] é algo que está muito mais de acordo com a doutrina fundamental de Marx do que a ideologia revolucionária que ele próprio propôs.
Conclusão
No linguajar fabiano, impostos são "contribuições", gastos do governo são "investimentos", criticar o governo é "entreguismo" ou "falta de patriotismo", donos de propriedades são "elites", "reacionários" e "privilegiados", e "mudança" significa " socialismo".
Quando os atuais social-democratas pedem "sacrifícios" da população em prol dos "ajustes" do governo, tenha em mente que os fabianos diziam exatamente o mesmo, defendendo, segundo as próprias palavras de Beatrice Webb, a "transferência" da "emoção do serviço sacrificante" de Deus para o estado.
Para os fabianos, o estado (seus burocratas e toda a sua mentalidade) é o único deus por quem a população deve se sacrificar.
Por fim, vale ressaltar que o desaparecimento dos bolcheviques nunca foi lamentado pelos social-democratas fabianos. Muito pelo contrário: os social-democratas fabianos agora detêm o monopólio da marcha "progressista" da história rumo à Utopia.
A janela de vidro pintada que adorna a casa de Beatrice Webb em Surrey, Inglaterra, mostra George Bernard Shaw e Sidney Webb remodelando o mundo com uma bigorna, tendo ao fundo o brasão da Sociedade Fabiana: um lobo em pele de cordeiro. Aquele lobo está hoje entre nós.
30 de julho de 2020
Lew Rockwell
A TEORIA MONETÁRIA MODERNA JÁ ESTÁ SENDO APLICADA - E EXPLICA A INFLAÇÃO DO OURO E DOS 'DAY TRADERS'
No fundo, a crença dessa teoria é que a distorção de preços cruciais gera crescimento
Não seria exagero dizer que a Teoria Monetária Moderna (TMM) ganhou a disputa — pelo menos temporariamente.
Sem muito alarde, e sem que tivesse havido qualquer debate, os governos e bancos centrais ao redor do mundo simplesmente adotaram seus pressupostos.
Parodiando a frase supostamente atribuída ao general romano Júlio César, a TMM surgiu (ou melhor, ressurgiu), dominou e venceu.
O básico da TMM
Um dos pilares básicos da TMM é a tese de que um governo que tem a liberdade de imprimir a própria moeda não sofre de nenhuma restrição fiscal.
Sempre que quiser incorrer em qualquer gasto (ou em qualquer aumento de gasto), basta o Banco Central imprimir a quantidade de moeda necessária.
É realmente simples assim. (Mas jamais mencione que o governo brasileiro fez exatamente isso na década de 1980, pois aí você estraga a narrativa).
Se os fatores de produção (mão-de-obra e todos os maquinários industriais) não estiverem 100% ocupados — ou seja, se a economia não estiver a pleno emprego, com o PIB crescendo aceleradamente —, não há por que se preocupar com qualquer pressão nos preços. O Banco Central pode imprimir sem medo.
No entanto, caso a inflação de preços porventura comece a incomodar, basta o governo aumentar impostos. Isso irá "enxugar" todo esse excesso de moeda da economia.
Sim, para os adeptos da TMM, a função da tributação não é "obter receitas" para o governo (ele não precisa de receitas, pois pode simplesmente imprimir moeda).
A tributação, ao contrário, tem duas funções: a) retirar moeda da economia quando esta se torna excessiva e começa a pressionar os preços; e b) motivar o uso da moeda nacional e obter sua aceitação geral, pois é essa unidade de conta que o estado reconhece como meio de pagar impostos.
Sim, você leu corretamente: uma das funções da tributação é obrigar o público a usar a moeda, pois, segundo a teoria, a aceitação da moeda decorre do fato de que ela pode ser usada para quitar impostos.
A tributação, portanto, tem uma função reguladora: ela reduz o excesso de demanda e modifica o comportamento individual.
Como consequência de tudo isso, todos os gastos do governo podem ser financiados ou pela criação direta de moeda pelo Banco Central ou pelo endividamento do governo. O endividamento seria apenas uma espécie de "alternativa de luxo", a qual não geraria nenhuma consequência negativa, pois o estado pode emitir dívida e, depois, imprimir moeda para quitar esta dívida.
E como os gastos públicos levam à criação de moeda, os próprios gastos criam a poupança necessária para financiar o déficit orçamentário (as pessoas recebem a moeda criada pelo governo e, em seguida, podem utilizar essa moeda para comprar novos títulos do governo). Consequentemente, o governo pode definir a taxa de juros em qualquer nível que desejar, de preferência em zero (André Lara Resende propõe a manutenção da taxa básica de juros sempre abaixo da taxa de crescimento da economia.)
Confira com seus próprios olhos
Em decorrência da pandemia de Covid-19, os governos fecharam suas economias ao redor do mundo. Como consequência desta violenta intervenção estatal, a atividade econômica entrou em colapso. PIBs desabaram, o desemprego disparou, as receitas tributárias caíram e os gastos governamentais voltados para o "combate" da pandemia — o que majoritariamente inclui o repasse de auxílios financeiros a desempregados e autônomos — aumentaram substantivamente.
Como houve uma queda nas receitas e um aumento nas despesas, uma parte desse buraco foi coberta por endividamento do governo (a juros reais negativos ao redor do mundo) e outra parte foi coberta via impressão monetária.
Os mecanismos e as leis que permitiram essa impressão monetária já foram detalhados nestes artigos (aqui para o Brasil e aqui para os EUA), de modo que, no presente artigo, estamos interessados apenas nas consequências.
Por uma questão de brevidade, vamos abordar apenas EUA e Brasil. Mas creia-me: os efeitos abaixo são similares para todos os principais países do mundo, da zona do euro ao Japão, passando por Reino Unido, Suíça, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
O gráfico a seguir mostra a evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) no Brasil.
Gráfico 1: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) no Brasil.
Observe a disparada ocorrida a partir de março, um movimento completamente atípico e inaudito. Nos últimos 12 meses (de junho de 2019 a junho de 2020), o aumento foi de 40%.
O mesmo fenômeno pode ser observado nos EUA.
O gráfico a seguir mostra a evolução do M1 nos EUA.
Gráfico 2: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) nos EUA.
Nos últimos 12 meses (de junho de 2019 a junho de 2020), o aumento também foi de 40%.
Vale ressaltar que, em um cenário normal, a oferta monetária aumenta quando pessoas e empresas pegam empréstimos bancários. No arranjo monetário e bancário do mundo moderno, a oferta monetária aumenta quando há endividamento de pessoas e empresas.
Em momentos de normalidade, o Banco Central não injeta moeda diretamente na economia; ele injeta moeda apenas nos bancos (aumentando a base monetária), e os bancos é que decidem se irão despejar esta moeda na economia (por meio da criação de crédito). Se os bancos não expandirem o crédito, o dinheiro simplesmente não entra na economia. Não há outra maneira de o dinheiro entrar na economia que não seja pelo sistema bancário.
Agora, porém, os Bancos Centrais deram um jeito de contornar esse arranjo e, em vez de depender de emprestamos concedidos pelo sistema bancário, passaram a jogar moeda diretamente na economia (de novo: ver aqui e aqui).
Essa mudança de comportamento é o que explica a explosão do M1 nos gráficos 1 e 2 após anos de "crescimento normal".
Como consequência dessa acelerada inflação monetária e do fato de os juros reais estarem negativos, o preço do ouro está batendo seguidos recordes — afinal, é para o ouro que sempre correm os investidores experientes quando estes prenunciam uma futura desvalorização da moeda e os juros reais estão baixos. É no ouro que eles protegem seu patrimônio.
O gráfico a seguir mostra a evolução do preço do ouro em dólares:
Gráfico 2: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) nos EUA.
Máxima histórica.
E agora, a evolução do preço do ouro em reais:
Também na máxima histórica.
O que podemos comprovar, por ora, é que toda essa criação de moeda perpetrada pelos Bancos Centrais está pressionando o preço do ouro, o que indica que os investidores estão em busca de proteção.
(Uma boa parte dessa moeda também está indo para os mercados acionários, sendo a Nasdaq a bolha mais explícita de todas. Quem souber a hora certa de sair colherá formidáveis lucros. Mas isso é só para especulador experiente.)
Como ainda não está havendo uma explícita inflação de preços (devido às enormes incertezas econômicas, as pessoas estão preferindo poupar os valores recebidos do governo, em vez de gastar), os governos ainda não estão preocupados em interromper toda essa inflação monetária. E enquanto ela perdurar, haverá gás para o preço do ouro.
Esta prática de injetar moeda diretamente na economia para bancar os gastos do governo (dando um drible no sistema bancário) foi retirada diretamente do manual da Teoria Monetária Moderna. Assim, pode-se dizer que metade de TMM já foi implantada (criação de moeda para financiar gastos do governo, o que gera juros reais zero). A outra metade — aumentar impostos para enxugar o excesso de moeda da economia — ainda não precisou ser implantada porque, em tese, a inflação de preços ainda não incomoda.
A conferir o futuro.
Falsificando preços para reativar a economia — e a inflação do day traders
Além de todos os outros problemas, essa política de criação livre de moeda é nefasta porque ela destrói aquele que é o mais importante recurso de uma sociedade livre: preços corretos gerados pela oferta e pela demanda.
Estes preços são a baliza que os empreendedores utilizam para decidir quanto pagar por bens de capital, fatores de produção (como mão-de-obra) e serviços, na expectativa de obter uma maior renda no futuro com a venda do serviço e do bem de consumo final.
Mas o sistema de preços está sendo destruído pelas políticas de déficits e criação de moeda. A ausência de poupança foi mascarada pela criação de moeda. A forte queda observada nas taxas de juros de longo prazo precifica isso: a moeda criada pelo Banco Central está fazendo parecer que há uma abundância de poupança disponível para bancar novos projetos.
Logo, aqueles que preveem uma recuperação rápida em decorrência dessa manipulação monetária estão realmente dizendo o seguinte: "Informações erradas são essenciais para a recuperação econômica. Sem a completa distorção do sistema de preços por meio de aumento de gastos, déficits orçamentários e criação de moeda, estaríamos em depressão."
Em outras palavras, as atuais condições de oferta e demanda gerariam uma depressão; e a única maneira de a depressão ser evitada, e a plena prosperidade ser recuperada em um ano, é essa: sinais de preço falsificados pela intervenção governamental.
Ou seja, falando no popular, fake news é a base necessária para uma recuperação econômica real.
É óbvio que não tem como dar certo. Tais políticas, repetindo, apenas fazem com que os preços (principalmente o mais crucial deles, que são os juros) na economia não mais reflitam as condições de oferta e demanda. Isso significa que os empreendedores passam a receber informações erradas. E eles tomarão suas decisões baseando-se nessas informações erradas. Isso irá gerar perdas. Empreendedores que acreditam em informações erradas e que investem segundo estas informações erradas terão perdas no futuro.
Se não sabemos quanto algo custa em termos das atuais condições de oferta e demanda, não sabemos qual é o seu real valor na economia.
Consequentemente, não é possível estimar qual será o seu valor daqui a um ano. Criação de moeda pelo Banco Central e um maciço aumento de gastos governamentais não geram alocação racional de capital. Ao contrário: geram alocação irracional de capital.
E é isso o que explica essa verdadeira inflação de day traders — normalmente amadores que nunca operaram ações, mas que, vendo os contínuos aumentos da bolsa de valores, acreditam ser fácil enriquecer comprando e vendendo ações no mesmo dia.
Recentemente, uma famosa influencer de Instagram — que ganhou fama dando dicas de alimentação e atividades físicas — anunciou que agora iria se dedicar a ganhar dinheiro fazendo day trade na bolsa, pois era ganho garantido. Após alguns ganhos, ela disse ter constatado que "nasceu para isso".
Assim como ela, várias outras pessoas físicas estão fazendo o mesmo. (Eu mesmo conheço um cirurgião que deixou a medicina para virar day trader. Segundo ele: "Estudei dois anos. Já consigo fazer".)
Nos EUA, esse fenômeno é muito mais intenso. A injeção monetária está sendo tão intensa, que todas as ações estão subindo e, com isso, vários investidores pessoas físicas que recém-entraram na bolsa estão tendo retornos maiores que muitos fundos de investimento famosos.
Um destes, que se tornou famoso, chegou a dizer que day trade é o jogo mais fácil que já jogou na vida, e que Warren Buffet é um idiota.
E já há casos de suicídio em decorrência das perdas vivenciadas.
Todo esse fenômeno é apenas um exemplo de toda a distorção de preços e de incentivos gerada pela impressão de moeda.
No final, é disso que se tratam os pacotes de socorro, principalmente a impressão de moeda feita pelo Banco Central: a crença de que preços falsificados, bolhas e alocação irracional geram retomada econômica.
Para concluir
Se você é especulador profissional e experiente, esse é um ótimo momento para você aumentar seu patrimônio. Sabendo a hora certa de entrar e de sair, você pode se aposentar. A Teoria Monetária Moderna foi feita para você.
Já se você é apenas um amador (popularmente conhecido como "sardinha"), resista ao impulso, contenha-se e concentre-se apenas em proteger o seu patrimônio — o que já é um grande desafio neste cenário dominado pela TMM, a qual é contra indivíduos frugais e poupadores.
O que é realmente certo é que tal arranjo não é propício para a racionalidade econômica. E muito menos para um progresso econômico saudável.
30 de julho de 2020
Anthony P. Geller
_______________________
Leia também:
O tenebroso conto de fadas da Teoria Monetária Moderna - e de André Lara Resende
Eis a promessa da Teoria Monetária Moderna: as utopias são alcançáveis sem consequências nefastas
A Teoria Monetária Moderna foi aplicada na Argentina. Eis os resultados
Não seria exagero dizer que a Teoria Monetária Moderna (TMM) ganhou a disputa — pelo menos temporariamente.
Sem muito alarde, e sem que tivesse havido qualquer debate, os governos e bancos centrais ao redor do mundo simplesmente adotaram seus pressupostos.
Parodiando a frase supostamente atribuída ao general romano Júlio César, a TMM surgiu (ou melhor, ressurgiu), dominou e venceu.
O básico da TMM
Um dos pilares básicos da TMM é a tese de que um governo que tem a liberdade de imprimir a própria moeda não sofre de nenhuma restrição fiscal.
Sempre que quiser incorrer em qualquer gasto (ou em qualquer aumento de gasto), basta o Banco Central imprimir a quantidade de moeda necessária.
É realmente simples assim. (Mas jamais mencione que o governo brasileiro fez exatamente isso na década de 1980, pois aí você estraga a narrativa).
Se os fatores de produção (mão-de-obra e todos os maquinários industriais) não estiverem 100% ocupados — ou seja, se a economia não estiver a pleno emprego, com o PIB crescendo aceleradamente —, não há por que se preocupar com qualquer pressão nos preços. O Banco Central pode imprimir sem medo.
No entanto, caso a inflação de preços porventura comece a incomodar, basta o governo aumentar impostos. Isso irá "enxugar" todo esse excesso de moeda da economia.
Sim, para os adeptos da TMM, a função da tributação não é "obter receitas" para o governo (ele não precisa de receitas, pois pode simplesmente imprimir moeda).
A tributação, ao contrário, tem duas funções: a) retirar moeda da economia quando esta se torna excessiva e começa a pressionar os preços; e b) motivar o uso da moeda nacional e obter sua aceitação geral, pois é essa unidade de conta que o estado reconhece como meio de pagar impostos.
Sim, você leu corretamente: uma das funções da tributação é obrigar o público a usar a moeda, pois, segundo a teoria, a aceitação da moeda decorre do fato de que ela pode ser usada para quitar impostos.
A tributação, portanto, tem uma função reguladora: ela reduz o excesso de demanda e modifica o comportamento individual.
Como consequência de tudo isso, todos os gastos do governo podem ser financiados ou pela criação direta de moeda pelo Banco Central ou pelo endividamento do governo. O endividamento seria apenas uma espécie de "alternativa de luxo", a qual não geraria nenhuma consequência negativa, pois o estado pode emitir dívida e, depois, imprimir moeda para quitar esta dívida.
E como os gastos públicos levam à criação de moeda, os próprios gastos criam a poupança necessária para financiar o déficit orçamentário (as pessoas recebem a moeda criada pelo governo e, em seguida, podem utilizar essa moeda para comprar novos títulos do governo). Consequentemente, o governo pode definir a taxa de juros em qualquer nível que desejar, de preferência em zero (André Lara Resende propõe a manutenção da taxa básica de juros sempre abaixo da taxa de crescimento da economia.)
Confira com seus próprios olhos
Em decorrência da pandemia de Covid-19, os governos fecharam suas economias ao redor do mundo. Como consequência desta violenta intervenção estatal, a atividade econômica entrou em colapso. PIBs desabaram, o desemprego disparou, as receitas tributárias caíram e os gastos governamentais voltados para o "combate" da pandemia — o que majoritariamente inclui o repasse de auxílios financeiros a desempregados e autônomos — aumentaram substantivamente.
Como houve uma queda nas receitas e um aumento nas despesas, uma parte desse buraco foi coberta por endividamento do governo (a juros reais negativos ao redor do mundo) e outra parte foi coberta via impressão monetária.
Os mecanismos e as leis que permitiram essa impressão monetária já foram detalhados nestes artigos (aqui para o Brasil e aqui para os EUA), de modo que, no presente artigo, estamos interessados apenas nas consequências.
Por uma questão de brevidade, vamos abordar apenas EUA e Brasil. Mas creia-me: os efeitos abaixo são similares para todos os principais países do mundo, da zona do euro ao Japão, passando por Reino Unido, Suíça, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
O gráfico a seguir mostra a evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) no Brasil.
Gráfico 1: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) no Brasil. |
Gráfico 1: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) no Brasil.
Observe a disparada ocorrida a partir de março, um movimento completamente atípico e inaudito. Nos últimos 12 meses (de junho de 2019 a junho de 2020), o aumento foi de 40%.
O mesmo fenômeno pode ser observado nos EUA.
O gráfico a seguir mostra a evolução do M1 nos EUA.
Gráfico 2: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) nos EUA. |
Gráfico 2: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) nos EUA.
Nos últimos 12 meses (de junho de 2019 a junho de 2020), o aumento também foi de 40%.
Vale ressaltar que, em um cenário normal, a oferta monetária aumenta quando pessoas e empresas pegam empréstimos bancários. No arranjo monetário e bancário do mundo moderno, a oferta monetária aumenta quando há endividamento de pessoas e empresas.
Em momentos de normalidade, o Banco Central não injeta moeda diretamente na economia; ele injeta moeda apenas nos bancos (aumentando a base monetária), e os bancos é que decidem se irão despejar esta moeda na economia (por meio da criação de crédito). Se os bancos não expandirem o crédito, o dinheiro simplesmente não entra na economia. Não há outra maneira de o dinheiro entrar na economia que não seja pelo sistema bancário.
Agora, porém, os Bancos Centrais deram um jeito de contornar esse arranjo e, em vez de depender de emprestamos concedidos pelo sistema bancário, passaram a jogar moeda diretamente na economia (de novo: ver aqui e aqui).
Essa mudança de comportamento é o que explica a explosão do M1 nos gráficos 1 e 2 após anos de "crescimento normal".
Como consequência dessa acelerada inflação monetária e do fato de os juros reais estarem negativos, o preço do ouro está batendo seguidos recordes — afinal, é para o ouro que sempre correm os investidores experientes quando estes prenunciam uma futura desvalorização da moeda e os juros reais estão baixos. É no ouro que eles protegem seu patrimônio.
O gráfico a seguir mostra a evolução do preço do ouro em dólares:
Gráfico 2: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) nos EUA. |
Gráfico 2: evolução do M1 (papel-moeda em poder do público mais saldos em conta-corrente) nos EUA.
Máxima histórica.
E agora, a evolução do preço do ouro em reais:
Gráfico 4: evolução do preço do ouro em reais |
Também na máxima histórica.
O que podemos comprovar, por ora, é que toda essa criação de moeda perpetrada pelos Bancos Centrais está pressionando o preço do ouro, o que indica que os investidores estão em busca de proteção.
(Uma boa parte dessa moeda também está indo para os mercados acionários, sendo a Nasdaq a bolha mais explícita de todas. Quem souber a hora certa de sair colherá formidáveis lucros. Mas isso é só para especulador experiente.)
Como ainda não está havendo uma explícita inflação de preços (devido às enormes incertezas econômicas, as pessoas estão preferindo poupar os valores recebidos do governo, em vez de gastar), os governos ainda não estão preocupados em interromper toda essa inflação monetária. E enquanto ela perdurar, haverá gás para o preço do ouro.
Esta prática de injetar moeda diretamente na economia para bancar os gastos do governo (dando um drible no sistema bancário) foi retirada diretamente do manual da Teoria Monetária Moderna. Assim, pode-se dizer que metade de TMM já foi implantada (criação de moeda para financiar gastos do governo, o que gera juros reais zero). A outra metade — aumentar impostos para enxugar o excesso de moeda da economia — ainda não precisou ser implantada porque, em tese, a inflação de preços ainda não incomoda.
A conferir o futuro.
Falsificando preços para reativar a economia — e a inflação do day traders
Além de todos os outros problemas, essa política de criação livre de moeda é nefasta porque ela destrói aquele que é o mais importante recurso de uma sociedade livre: preços corretos gerados pela oferta e pela demanda.
Estes preços são a baliza que os empreendedores utilizam para decidir quanto pagar por bens de capital, fatores de produção (como mão-de-obra) e serviços, na expectativa de obter uma maior renda no futuro com a venda do serviço e do bem de consumo final.
Mas o sistema de preços está sendo destruído pelas políticas de déficits e criação de moeda. A ausência de poupança foi mascarada pela criação de moeda. A forte queda observada nas taxas de juros de longo prazo precifica isso: a moeda criada pelo Banco Central está fazendo parecer que há uma abundância de poupança disponível para bancar novos projetos.
Logo, aqueles que preveem uma recuperação rápida em decorrência dessa manipulação monetária estão realmente dizendo o seguinte: "Informações erradas são essenciais para a recuperação econômica. Sem a completa distorção do sistema de preços por meio de aumento de gastos, déficits orçamentários e criação de moeda, estaríamos em depressão."
Em outras palavras, as atuais condições de oferta e demanda gerariam uma depressão; e a única maneira de a depressão ser evitada, e a plena prosperidade ser recuperada em um ano, é essa: sinais de preço falsificados pela intervenção governamental.
Ou seja, falando no popular, fake news é a base necessária para uma recuperação econômica real.
É óbvio que não tem como dar certo. Tais políticas, repetindo, apenas fazem com que os preços (principalmente o mais crucial deles, que são os juros) na economia não mais reflitam as condições de oferta e demanda. Isso significa que os empreendedores passam a receber informações erradas. E eles tomarão suas decisões baseando-se nessas informações erradas. Isso irá gerar perdas. Empreendedores que acreditam em informações erradas e que investem segundo estas informações erradas terão perdas no futuro.
Se não sabemos quanto algo custa em termos das atuais condições de oferta e demanda, não sabemos qual é o seu real valor na economia.
Consequentemente, não é possível estimar qual será o seu valor daqui a um ano. Criação de moeda pelo Banco Central e um maciço aumento de gastos governamentais não geram alocação racional de capital. Ao contrário: geram alocação irracional de capital.
E é isso o que explica essa verdadeira inflação de day traders — normalmente amadores que nunca operaram ações, mas que, vendo os contínuos aumentos da bolsa de valores, acreditam ser fácil enriquecer comprando e vendendo ações no mesmo dia.
Recentemente, uma famosa influencer de Instagram — que ganhou fama dando dicas de alimentação e atividades físicas — anunciou que agora iria se dedicar a ganhar dinheiro fazendo day trade na bolsa, pois era ganho garantido. Após alguns ganhos, ela disse ter constatado que "nasceu para isso".
Assim como ela, várias outras pessoas físicas estão fazendo o mesmo. (Eu mesmo conheço um cirurgião que deixou a medicina para virar day trader. Segundo ele: "Estudei dois anos. Já consigo fazer".)
Nos EUA, esse fenômeno é muito mais intenso. A injeção monetária está sendo tão intensa, que todas as ações estão subindo e, com isso, vários investidores pessoas físicas que recém-entraram na bolsa estão tendo retornos maiores que muitos fundos de investimento famosos.
Um destes, que se tornou famoso, chegou a dizer que day trade é o jogo mais fácil que já jogou na vida, e que Warren Buffet é um idiota.
E já há casos de suicídio em decorrência das perdas vivenciadas.
Todo esse fenômeno é apenas um exemplo de toda a distorção de preços e de incentivos gerada pela impressão de moeda.
No final, é disso que se tratam os pacotes de socorro, principalmente a impressão de moeda feita pelo Banco Central: a crença de que preços falsificados, bolhas e alocação irracional geram retomada econômica.
Para concluir
Se você é especulador profissional e experiente, esse é um ótimo momento para você aumentar seu patrimônio. Sabendo a hora certa de entrar e de sair, você pode se aposentar. A Teoria Monetária Moderna foi feita para você.
Já se você é apenas um amador (popularmente conhecido como "sardinha"), resista ao impulso, contenha-se e concentre-se apenas em proteger o seu patrimônio — o que já é um grande desafio neste cenário dominado pela TMM, a qual é contra indivíduos frugais e poupadores.
O que é realmente certo é que tal arranjo não é propício para a racionalidade econômica. E muito menos para um progresso econômico saudável.
30 de julho de 2020
Anthony P. Geller
_______________________
Leia também:
O tenebroso conto de fadas da Teoria Monetária Moderna - e de André Lara Resende
Eis a promessa da Teoria Monetária Moderna: as utopias são alcançáveis sem consequências nefastas
A Teoria Monetária Moderna foi aplicada na Argentina. Eis os resultados
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