Sobram críticas demais, algumas sinceras, outras traiçoeiras, quando escrevo numa apertada síntese, que a classe política atual divide-se em dois grupos: os canalhas e os covardes.
Valendo-se do modismo ridículo, dizem que quero “demonizar” ou menosprezar a política. É um imbecil equívoco da parte dos teóricos que não veem a urgência dos necessitados, porque sua visão não vai além do próprio umbigo. Prestigiando a atividade, prego que o povo liberte a política do inferno em que vive, exorcizando seus demônios. É bem diferente.
Qualquer cidadão com mínimo de discernimento, mesmo sem muita informação, facilmente identifica os patifes do primeiro grupo. Os que sobram daqueles são os acomodados ou os pusilânimes interesseiros que convivem tranquilamente com os infames, sempre cientes de seus maus propósitos, seus roubos, falcatruas e condenáveis objetivos. Contudo, para permanecerem usufruindo das benesses, das regalias ou privilégios nas instituições onde vivem se omitem em relação a tudo, silenciando e não denunciando à Nação os malfeitores que lhes respiram de perto. Ao cabo, todos saem rindo juntos nas fotos.
Esses “confiaveizinhos”, “insuspeitos” e pseudamente probos são tão nocivos ao País quantos os bandidos da política e se bem avaliadas suas posições e atitudes, resulta que são igualmente responsáveis pela desgraça e pelo caos que o Brasil atravessa.
De uma parte digo que me repugnam esses “santinhos do pau oco”, esses bonzinhos do tipo que mal não fazem nem bem também, que suam nas mãos quando falam como você, que não lhes olham nos olhos, que a ninguém contrariam, e que se escondendo atrás dos espertos Temer, Lula, Renam e Cunhas da vida, estão sempre dispostos a correr de um lado para outro como barata tonta, carregando as malas de propinas ou a lhes prestar apoio direto ou indiretamente.
Quando afirmo que os grupos dos infames e dos covardes nada valem, franzem a testa a esquerda sorrateira e a direita exploradora, porém não deveriam fazê-lo se dispostas estivessem a enxergar o quanto os mesmos se equivalem no trato dos interesses escusos ou abusivos, que àqueles garantem a sobrevivência política.
Percebam. Todos estão agora reunidos e misturados nesta descarada proposta falsamente denominada de “Reforma Política”. Contra ela só se posicionam os que a farsa não atende interesses pessoais ou regionais. Vejam o que se esconde em nome daquela artimanha.
Opinando sobre o que explicam respeitados especialistas, enfatizo que nossa desprezível classe política quer trair a Nação, mais esta vez, e num momento de extrema penúria onerar acintosamente os cofres públicos – e o povo efetivamente – aprovando, solertemente e a toque de caixa o seguinte: a) dois Fundos (ou seja, uma grossa verba arrancada do Tesouro) da ordem de 4,4 bilhões, nominados de “Democrático e Partidário”, que serão colocados à disposição dos caciques das agremiações políticas (algumas meras quadrilhas legalizadas) para distribuírem entre os seus comparsas; b) alterar o sistema constitucional de representação popular criando o chamado “Distritão” que, a rigor, tem como finalidade proteger e privilegiar os “donos absolutos dos redutos eleitorais” os quais vão se sobrepor até aos próprios partidos a que estão filiados, e que não prestarão contas a quem quer que seja; c) a clausula de barreira destinada exclusivamente a impedir o surgimento de candidatos independentes, que põe uma pá de cal na renovação política, tão almejada pela maioria esmagadora dos cidadãos de bem, e não a uma proliferação de partidos nanicos de aluguel.
A reforma que se pretende não se ajusta ao regime defendido pelos verdadeiramente democráticos. A reforma que se propõe é a que usa o voto do trabalhador honrado e do desvalido não para os libertar das bolsas esmolas que lhes foram atiradas como restos para os cães, mas para aprisiona-los a seus algozes.
Não há democracia quando se prevê o voto com o intuito de deprava-la, como ocorre hoje na Venezuela, que o PT quer trazer para cá.
O voto que defendo é o voto livre dos cabrestos e dos currais, balizado apenas pela vontade da maioria dos eleitores e ponto final. É o voto honrado e honestamente apurado, sem fraude nas urnas eletrônicas que no último pleito foi liderada por um assecla do “Zé do Mensalão” que virou Ministro da Suprema Corte, ao que consta. É o voto que não se vende, que torna grande o cidadão, que o prestigia e faz crescer sua consciência política, longe do alcance da degradação imposta pela corrupção e pela midiática exploração das emoções dos miseráveis e dos incautos, levada aos extremos pelos marqueteiros e falsificadores de eleições.
Provando o que disse aqui anteriormente no que concerne a inconfiabilidade tanto dos infames quanto dos covardes, argumento que a emenda parlamentar relativa ao tal “Distritão” foi apresentada por um deputado tido como honesto e de ficha limpa.
Concordo e respeito abalizadas opiniões contrárias sustentando que a proposta fere frontalmente a Constituição Federal, mais propriamente suas cláusulas pétreas que não suportam alterações por lei ordinária e nem mesmo por emenda constitucional, sem que o povo seja ouvido diretamente.
Somente não mais compartilho das esperanças daqueles respectivos juristas no sentido de que quando a controvérsia se instaurar deva ser levada ao Supremo Tribunal Federal e de que este, por sua vez, colocará rumo e prumo na questão. Pode levar ao STF o quanto quiser ou da forma que for, mas seus Mandarins dirão que não podem interferir noutro poder; que os representantes do povo são soberanos e, tal qual no julgamento da chapa Dilma-Temer, impingirão ao povo novamente uma triste derrota.
Viaja pela rede mundial de computadores o apelo aflito e dramático de dois jovens destemidos e aguerridos promotores do Ministério Público na “Operação Lava Jato”, nos conclamando a lutar contra essa “reforma bandida”. Não dizem eles, a maneira pela qual efetivamente o povo pode fazer isso com eficiência.
Não dizem, mas eu digo. É necessário bater naqueles canalhas sem dó. Enfrentá-los com a mesma força e intensidade com as quais destruíram o Brasil e com o desforço pessoal que nos assegura a Constituição Federal por conta de nossos poderes diretos (art. 1º), para varrê-los do mundo político. Para começar há que se quebrar a inércia, vamos à luta Brasil!
19 de agosto de 2017
José Mauricio de Barcellos, ex Consultor Jurídico da CPRM-MME é advogado