O Partido dos Trabalhadores foi vaiado e preferiu abrir mão de compromissos em pleno Dia dos Trabalhadores. Por trás desse medo, está a conseqüência de seu método de fazer política a curto prazo.
Este Primeiro de Maio não foi o melhor para o PT. A presidente Dilma Rousseff havia acabado de receber a pesquisa CNT/MDA em que caía 6,7 pontos e seu adversário Aécio Neves ganhava 4,6, o escândalo da compra da refinaria de Pasadena ainda é tratado como moeda de troca eleitoral pelos petistas tentando uma desculpa parar vetar uma CPI que mostra seus podres, enquanto até dentro do PT faz-se coro para Dilma nem tentar se reeleger (sua aprovação, de 32%, talvez seja mais baixa do que a de Collor).
Os prefeitos petistas continuam sem nada a apresentar. A própria presidente teve de disfarçar que anunciou aumento de 30% de impostos sobre bebidas alcoólicas antes da Copa para fazer um cambalacho em suas contas arrombadas, quando se sabe que 26% dos eleitores cogitariam trocar de voto em caso de aumento no preço da cerveja.
O Partido dos Trabalhadores, que sempre foi a principal e mais barulhenta voz nos comícios intermináveis do Dia dos Trabalhadores, dessa vez teve de fugir dos trabalhadores.
A Força Sindical, rachada com o PT há anos, enquanto aproveitava os dividendos que ganha com o milionário imposto sindical compulsório, sorteava carros e fazia shows com sertanejos. O prefeito paulistano petista Fernando Haddad foi vaiado só de ter o nome citado, mesmo sem coragem de subir ao palco (embora sua presença estivesse confirmada até em sua agenda). Até cartazes hostis o aguardavam: “Prefeito Haddad, atenda às nossas reivindicações!”
Já o pré-candidato petista ao governo do estado, Alexandre Padilha, teve coragem de fazer apenas uma saudação sob vaias. Ao invés de longos discursos inflamados, apenas frases genéricas, como “Quem é contra o racismo levanta a mão” ou “Viva o trabalhador”. Parecia o Carlinhos Brown abrindo para o Guns ‘n’ Roses.
O que foi que aconteceu para o Partido dos Trabalhadores estar tão em baixa ao tentar animar trabalhadores?
Um país para trabalhadores
O PT surge no ABC sendo a principal força sindical do país. Reúne sob sua tutela os dois sindicatos mais poderosos dos anos 80: metalúrgicos (de onde sai o próprio Lula) e dos bancários (sob chefia do maoísta Luiz Gushiken). O sindicalismo era velho conhecido na Europa, mas no Brasil ainda era uma eterna promessa, uma Sião ainda não alcançada.
Existia o conceito de república sindical, ou democracia trabalhista. Idéia antiga, não muito teorizada, o sindicalismo era basicamente o método de tomar os poucos aparatos que eram “contrários” às antigas elites política e financeira (quando eram opostas) e ir garantindo benesses maiores para os operários. Quando se torna uma ferramenta política, seu mote era subjugar a elite financeira tornando-se a elite política.
Seu método é bem explicado por Erik von Kuehnelt-Leddihn em The Menace of the Herd: até o séc. XIX, com Estados já se agigantando, mas cujo papel na economia e na sociedade era inacreditavelmente microscópio perto dos dias de hoje, era uma honra muito grande ser funcionário público.
O funcionário público era o juiz, o general, o tabelião. A burocracia, sendo ínfima, exigia só postos muito altos. O cargo mais baixo de um funcionário público era o de soldado, que podia alimentar com seu salário toda uma família, e ter um prestígio nacional por si.
A idéia de todos se tornarem funcionários públicos passa a ser uma utopia tentadora: todos se tornarem membros da burocracia, e pelo poder político, subtrair todo o poder econômico, destruindo este último, e tornando todo o poder econômico (a liberdade de mercado) em poder político.
Era uma idéia tentadora inclusive para a classe média, quando ainda poderia ser chamada de burguesia, como mostra Bertrand de Jouvenel em seu tratado O Poder: ter o prestígio e os altos rendimentos dos funcionários públicos (o que permanece até hoje) sem os riscos do mercado (das vendas baixas dos burgos), sem precisar enfrentar as duras regras da escassez, da variação de preços e da produção insuficiente.
O sindicalismo, quando começa a se constituir em partidos políticos, com maior ou menor poder de ataque, busca lideranças carismáticas que representem as classes baixas, que passam a “representar” seus interesses. É a gênese de políticos populistas que se consideram “pais dos pobres”, pedindo por isso mais concentração de poder em suas mãos: de Getúlio Vargas a Lula, de Carlos Prestes a Hugo Chávez, de Juan Perón a Orestes Quércia.
Sua plataforma permanece bem mais inalterada em mais de dois séculos do que outras correntes políticas: aumento salarial protegido pelo Estado, coibir demissões, leis trabalhistas, garantia de emprego por lei – e cada vez mais um aumento do Estado regendo a economia, para não enfrentar as flutuações da lei de mercado.
Surge a estatização de empresas, a proteção “nacional” de riquezas naturais, o horror às privatizações e qualquer coisa que diminua o poder de políticos terem o controle total sobre as riquezas.
As classes baixas, com a eclosão da política de massa, têm motivo para se orgulhar e se considerarem arautas únicas do futuro. Até moralmente passa a ser considerado mais correto ser pobre: a crença, calcada no erro da política de soma zero, de que toda a riqueza dos ricos é roubada dos pobres é a própria base dessa política chamada sindicalismo: eles se consideram a classe trabalhadora, em oposição à suposta “elite”, que, em sua visão, com trabalhos mais intelectuais e menos físicos, “não trabalha”.
Esta visão permeou o século XX e legou diversos partidos trabalhistas, que definiram o que seria uma república sindical, ou uma democracia trabalhista ou que nome quisessem dar para esta visão de sociedade.
No Oriente, sob auspícios de Karl Marx (o grande teórico da suposta existência de “classes sociais”, que se odeiam e devem entrar em guerra uma contra a outra, crendo ser o proletariado o único criador de riquezas, que seriam “tomadas” pelos ricos através da mais-valia), aparece a primeira implantação do socialismo em larga escala.
Na Europa continental, um modelo mais próximo ao do Partido dos Trabalhadores: o fascismo, com seus partidos trabalhistas, seu nacionalismo exacerbado, a promessa de emprego para todos, a retórica protetora dos pobres sob o Estado que garante tudo, as leis trabalhistas, a inflamação contra os que vivem do comércio e da livre iniciativa por sua profissão (no caso do fascismo latino) ou por sua etnia (caso do nazismo alemão).
Tantos estudiosos dos fenômenos políticos e da agitação das massas do século XX já haviam conseguido identificar que o sindicalismo é apenas a forma do fascismo ou, em casos mais extremos e violentos, do socialismo de tomar o poder e aparelhar o Estado.
De Hannah Arendt a Ortega y Gasset, de Bertrand de Jouvenel a Eric Hoffer, de Eric Voegelin a Will Durant (os três últimos de origem operária), todos já sabiam que fazer política com base em vocações sindicais é a retórica da reconstrução da sociedade através de um poder concentrado e total que garanta que o Estado impeça qualquer efeito nos empregos que seja contrário aos interesses dos sindicatos.
A política fascista é regida por sindicatos, por eleições que são fraudadas para manter um partido no poder, e com poder cada vez mais total (como foi o mensalão, que não foi um simples caso de corrupção ou de compra de votos, e sim uma tentativa de acabar com a separação entre poderes, concentrando tudo no Executivo central), fazendo com que cada vez mais se confunda um partido com todo o Estado.
É a ascensão do partido-Estado, que tem desde versões “fracas”, como o trabalhismo de Getúlio Vargas ou Leonel Brizola, ou totalitarismos que causam genocídios brutais, como o Terceiro Reich de Adolf Hitler e seu Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães, o trabalhismo de Mussolini ou Franco ou, com ligações mais claras com a Revolução de 1905 na Rússia, os “Jovens Turcos” (Jön Türkler), que, com sua política de homogenização da população, foi responsável pelo primeiro genocídio do mundo a superar a marca de um milhão de vítimas: o Holocausto dos cristãos armênios, esmagados pelos turcos fazendo uma planificação social em nome da igualdade, que causou cerca de 1,8 milhão de mortes em três anos.
O sindicalismo (ou, em sua versão constituída no Estado, o fascismo) precisa destruir qualquer possibilidade de liberdade econômica ou de trocas livres entre dois indivíduos pois assim eles se tornam independentes de sindicatos ou do Estado. Conforme a famosa fórmula de Benito Mussilini para definir o fascismo, da qual nenhum sindicalista ousaria discordar dentro de seu coração, Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato, dá o tom do que é um Partido de Trabalhadores.
Sua aparente vantagem é a garantia de que todos terão empregos, e empregos tão “admirados” quanto os sonhados pelos funcionários públicos no século XIX. Mais do que isso, conforme a superstição da modernidade, toda a economia será regida pelo princípio da “igualdade”, tratando-se qualquer desigualdade como o pior mal da humanidade.
Suas desvantagens se tornam patentes antes mesmo de aplicadas. Uma república trabalhista tem um plano diretor, um partido que toma o Estado, a única entidade que pode agir obrigando outros a algo (e tendo controle sobre seu trabalho, liberdade, e propriedade fruto do seu labor), e com isso cria planos para garantir empregos iguais.
Mais: desatrelados de seu próprio destino, o homem sob o trabalhismo torna-se uma engrenagem em um plano central. Daí o expansionismo industrialista tanto do socialismo quanto do fascismo, em brutal disputa para conquistas faraônicas um à frente do outro. Ambas as formas de sindicalismo se baseiam em projetos grandiosos que reformem cidades e países inteiros (como o Canal Mar Branco-Báltico, o Belomorkanal, que custou a vida de 60 mil trabalhadores forçados, cerca de 8% dos construtores mortos).
Também pelas marchas públicas, até bonitas de se ver à distância com tantos homens marchando juntos – mas abdicando de qualquer liberdade própria, não permitida pelo partido-Estado e pela necessidade do plano diretor. Como formigas, gostamos de ver sua formação à distância – mas detestaríamos ser mais uma engrenagem substituível e descartável se nós mesmos devêssemos qualquer coisa em nossa vida não ao nosso mérito individual e histórico próprio, mas às decisões políticas de um partido-Estado com sua moral própria.
A fórmula básica é colocar todos para serviços braçais ou simples, garantir salários coletivos iguais e, quando a conta não fechar, apelar para a “moeda elástica” amada pelos sociais-democratas (o padrinho da social-democracia, Maynard Keynes, não prega senão uma versão supostamente “plural” do fascismo) ou, como se tornou frequente, armar uma guerra. Internacional ou de expropriação local – avizinha-se assim o perigo da ofensiva contra o que antes era a “elite”, “o burguês”, “o comerciante” e todo aquele que não subjugou seu corpo, sua alma, seu sangue e seu suor ao partido-Estado, e inicia-se a fase mais mortífera do sindicalismo.
Essas políticas baseadas em um projeto nacional de trabalho, de onde sairão políticas como as do Partido dos Trabalhadores (PT), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Democrático Trabalhista (PDT) e todos os partidos socialistas e comunistas, querem garantir o pleno emprego na indústria e em trabalhos repetitivos, forçando salários cada vez maiores à “classe trabalhadora”, mas impedem que se saia dessa condição – sobretudo, que se tenha qualquer liberdade de trabalho fora do Estado e do poder dos sindicatos.
A “classe trabalhadora”, tratada em oposição à “classe média” (comercial, ou, em termos antigos, “burguesa”), mesmo quando tem os mesmos rendimentos (ou até mais), é tratada como a única criadora de riqueza (a superstição de Karl Marx, que enxerga no proletariado a autonomia kantiana). Deixar de fazer parte da chamada “classe trabalhadora” é uma traição ao plano central dos políticos comandando a “democracia trabalhista”. O intuito das construções faraônicas e populistas do sindicalismo é tornar cada pessoa uma peça de montagem, com um grande timoreiro no controle.
É o que é chamado na América de Big Government – políticas que querem o aumento do poder do Estado sobre a liberdade do indivíduo de trabalhar e manter os frutos do seu trabalho para si, e não para um plano central de políticos que toma uma parte cada vez maior de sua riqueza para dá-la a quem quiser (inclusive a si próprios).
Como diz o economista Thomas Sowell, “Se você tem votado em políticos que prometem bens às custas de outra pessoa, então você não tem direito de reclamar quando tomam seu dinheiro e dão-no a outro alguém, inclusive a eles mesmos”.
Qualquer tentativa de trabalho intelectual ou comercial é vedada, só sendo tolerada dentro do plano diretor que parte do poder central. O sindicalismo só subsiste com intelectuais que passam a tratar da literatura até o Direito Ambiental como questão partidária, para aumentar o poder do partido sobre o Estado até um se confundir com o outro.
Também dialoga com movimentos de expropriação no campo, como o MST, uma espécie de sindicalismo campesino: rouba-se terras e, ao invés de latifúndios que produzam comida barata para alimentar as cidades, criam-se pequenas cooperativas que produzem pouco, tornando os alimentos caros e, portanto, “permitindo” que mais pessoas trabalhem no campo – na verdade, forçando que mais pessoas precisem de trabalhos braçais, em sua ânsia por trabalho. As cidades, portanto, são obrigadas a arcar com alimentos mais caros, ou, em caso de cidades pequenas, regressarem à subsistência, plantando o próprio alimento.
Se há alguma diferença entre o sindicalismo socialista e o sindicalismo fascista, tal se dá porque no socialismo o sindicalismo é apenas uma faísca inicial: um mecanismo para se diminuir o poder econômico das futuras vítimas e, assim que se forma o partido, ele se torna um totalitarismo desabrido, que engole toda a sociedade. As Constituições socialistas deixam claro em suas primeiras palavras que o poder emana do “partido” (que já não é mais parte de nada, e sim o todo permitido, todo o resto sendo colocado na ilegalidade).
O fascismo, modelo mais próximo do que se tem no Brasil e no mundo atualmente, não expropria empresas (não sempre) ou estatiza toda a vida (a despeito do mote de Mussilini, mais socialista do que fascista): controla tudo por sindicatos, que são mantidos, mesmo com o partido tomando o poder e um totalitarismo de “menor” poder dominando a sociedade.
Em nenhuma sociedade conhecida sindicatos, como os que eram controlados pelos formadores do PT, tiveram tanto poder quanto no fascismo. Na verdade, o fascismo é uma política sindical em que os sindicatos não são apenas meios de obtenção de poder, como no socialismo, e sim o controle sindical permanente.
O jornalista John T. Flynn, o maior oposicionista do terrível Franklin D. Rossevelt, em uma compilação antológica no livro As We Go Marching, define os oito pontos que definem o fascismo. E o primeiro, e mais claro, é que o governo é totalitário porque não conhece limites para o seu poder. Um cenário bem conhecido do Brasil, depois que os sindicalistas tomaram o poder, com sua retórica eternamente vociferando contra “as elites” (nunca criticando a elite política, que são eles próprios) e seu aumento de poder constante, como predisse Jouvenel.
E prossegue: tudo é definido pelo princípio da liderança (sem discursos inflamados, não há sindicalismo). A burocracia é imensa, tanto para sufocar quem ouse viver longe dela quanto para dar “emprego” para todos dentro do Estado. O sindicalismo produz cartéis que regulamentam toda a economia, destruindo as leis de mercado, mas com uma aparência de capitalismo.
A economia, ao invés de ser regida pela liberdade de cada um, é feita pelo princípio das autarquias (as empresas públicas amadas pelos sindicalistas, e que hoje servem muito mais para financiar “blogueiros” que, cada vez mais, são apenas propaganda política do partido-Estado que as controla). Seus rombos são corrigidos por um eterno sistema de gastos (como o aumento do Bolsa Família) e empréstimos.
Para se tornar o completo fascismo do século XX, basta ao Brasil, então, passar a gastar com militarismo com fins imperialistas. Na verdade, o Brasil simplesmente não precisa desse fator por ora, por não ter conflitos de fronteiras. Mas certamente o faria se fosse necessário.
Temos, portanto, um modelo que não é 100% socialista, por não expropriar empresas, mas controlar a economia com o poder sindical (e mais de 40% da produção de riquezas indo toda para o poder central político, mesmo que ele não produza nada, apenas tome o que é de quem trabalhou), mas muito menos é capitalista – tem verdadeiro ódio de quem produz riqueza, economiza e enriquece, sobretudo fora do Estado.
Os impostos e o discurso de ódio à classe média (antiga “burguesia”) são apenas a “punição” encontrada para quem não se submete ao plano diretor sindical, e não se curva à política de tudo dentro do Estado, tudo para o Estado, nada fora do Estado. Sindicalismo, socialismo e fascismo são forma, fim e meio da estatização e planificação completa da sociedade.
Por um fator curioso e conhecido desde a rusga entre Stalin e Trotsky, os maiores partidários de políticas que se assemelham ao fascismo hoje em dia são os que mais chamam os adversários dessa política de “fascistas”, como o fazia Hugo Chávez, o dirigente latino mais próximo de um fascista moderno.
São chamados de “fascistas” justamente aqueles que recusam a estatização completa da vida e a mesclagem de poder político e econômico, como a América – ou cria-se o mito da “polícia fascista”, como se fosse possível “medir” fascismo pela eficiência com que a polícia desarticula manifestações buscando concentração de poder e autoritarismo econômico.
Por que, então, logo no Dia do Trabalhador o Partido dos Trabalhadores perdeu o apelo?
O futuro da democracia trabalhista
A primeira visão da Queda do Império Petista teria se dado em 2005, com a eclosão do mensalão. Embora a população brasileira não compreenda que o complexo escândalo tenha sido uma tentativa de golpe totalitário, justamente porque nossa educação é dada por socialistas, e não pessoas sem intenções de inflar o poder estatal, ainda assim o mensalão dirimiu o poder do PT de exigir ética ou dizer que combate a corrupção, quando o maior caso de corrupção do século foi realizado pelo partido.
Curiosamente, a saída foi o PT e sua militância inverter o discurso, e dizer que combate à corrupção seria uma questão conservadora e elitista (como mostra Flynn e tantos outros, se o sindicalismo apenas quer tomar o Estado, não tem motivo nenhum para respeitar leis e instituições públicas).
Contudo, ainda assim o PT estava longe de diminuir o seu poder. Lula sobreviveu muito bem a escândalos envolvendo golpes totalitários (mensalão), assassinato de políticos aliados (Celso Daniel e Toninho do PT, executados quando se juntava recursos para a eleição de Lula), tentativas de expulsão de repórteres do país, quebra de sigilo e destruição da vida de caseiros para proteger políticos ricos e poderosos do PT, aparelhamento brutal do Estado etc.
Sua sucessora Dilma Rousseff, todavia, não conseguiu manter a militância obediente apenas pelo princípio da liderança, tão cara ao sindicalismo fascista e socialista.
Fora as emotivas e vulcânicas manifestações de 2013, Dilma não tem absolutamente nada de positivo a oferecer ao eleitor não partidário (os partidários votam no PT em qualquer circunstância). Empresas estatais que são consideradas “necessárias” ao país (justamente porque são os cabidões de empregos não-produtivos que fazem a vida dos sindicalistas) se mostram destruídas com anos de administração petista.
Os Correios se mostram uma mina de ouro de corrupção e financiamento partidário, os bancos públicos, sobretudo o Banco do Brasil, têm sua imagem cada vez mais debilitada, e a empresa “orgulho dos brasileiros”, a Petrobras, cai de 12ª para 120ª em 5 anos, perdendo mais de 50% do seu valor de mercado desde 2010 – comparada com a Vale, que teve sua privatização tão criticada, a empresa vira motivo de piada.
Para coroar o bolo cerejosamente, ainda são revelados escândalos quase semanalmente, como a compra da refinaria de Pasadena por valor absurdamente maior do que de mercado, dando bilhões de prejuízo que será pago por cada brasileiro.
Mesmo a militância que, desconhecendo as conseqüências do que defende, ainda defende empresas estatais e morre de medo de sua privatização, ou pretende ter “serviços públicos” promovidos por políticos (os tais “hospitais padrões Fifa”, por exemplo), ou um Estado Leviatã que os “proteja” da liberdade econômica, o modelo sindical do Partido dos Trabalhadores dá sinal de desgaste até para a população pouco instruída.
O modelo coletivista mostra que a conta não fecha. A população adora narrativas sobre o fim da “desigualdade”, ou promessas trabalhistas contra a “elite”, mas seu estômago e suas vontades, que não encontram eco em teorias ensinadas nas escolas, quer segurança, lazer, uma vida digna que não encontra espaço na promoção de políticas de sindicatos que mantém todos os empregos eternamente iguais – filhos de operários não serão engenheiros, juízes ou cirurgiões, e sim operários. Em questão de uma geração, uma política baseada apenas em discurso de ódio esgota-se no embate com a realidade.
Toda a vida sindical é feita para se conquistar votos, pois o partido precisa sempre mudar e controlar o Estado (para controlar a sociedade), e precisa estar em campanha eleitoral eterna. Nem mesmo trabalhadores da indústria (cada vez mais raros) ou de profissões de sindicatos fortes parecem gostar de uma moeda fraca, que financia ações partidárias, e dá o dinheiro desses trabalhadores para financiar programas assistencialistas como o Bolsa Família.
Para piorar, mesmo que não se compreenda de fato a diferença entre o discurso petista e a realidade, instintivamente, como um Sentimento Difuso no Ar, de que as estatísticas promovidas pelo PT são apenas lorota: a mentira de que suas políticas teriam “tirado 40 milhões de brasileiros da miséria” já provaram ser apenas manipulação de estatística (para encaixar pessoas como miseráveis ou não pelo IBGE, o PT chegou a dar R$ 2 para dizer que “tirou milhares da miséria”).
Estas coisas não são perfeitamente compreendidas, com começo, meio e fim. Mas se manifestam como um Sentimento Difuso de descontentamento. Os países que tiveram o seu PT no poder há mais tempo, mormente Cuba e Venezuela, mostram de fato qual o único caminho que a ascensão do projeto trabalhista leva: um governo autoritário, congelando preços, fazendo as pessoas passarem horas na fila de mercados para conseguir caríssimos alimentos racionados, e perseguindo não com palavras, mas com a polícia, os seus dissidentes.
A realidade de Cuba ou da Venezuela eram pouco conhecidas antes da popularização da internet. Se antes o PT queria apenas o controle fascista da imprensa (foi o grande comentário de Lula neste fim-de-semana para garantir que a candidata petista será Dilma, e não ele próprio: “discutir seriamente na sociedade o controle da mídia”), agora precisa controlar toda a internet com o Marco Civil.
Graças a internet, que não depende de diretrizes centralizadas de um ministério, as pessoas interessadas em notícias descobrem uma narrativa que não depende do MEC e da prescrição socialista que domina a educação e cultura nacional.
Vai paulatinamente se tornando claro que o PT é cria não de países que se dizem “socialistas” como a Escandinávia (que, na verdade, é campeã de liberdade econômica), e sim de países falidos como Cuba, Zimbábue, Venezuela – ou mesmo países ultra-opressores como a Líbia socialista de Kadafi (que Lula chamara de “meu amigo, meu irmão, meu líder”) ou o Irã de Ahmadinejad (o embaixador brasileiro afirmou que ele foi “incompreendido” quando afirmou que queria “varrer Israel do mapa”, como a maioria dos países muçulmanos o quer).
Resta agora a Dilma e ao PT ações populistas repetidas, imorais e que deveriam ter a legalidade investigada pela Justiça, como declarar aumento do Bolsa Família no Dia do Trabalho como se fosse um “presente” do bolso da própria presidente. Mas esse discurso manjado, sem nenhuma criatividade e francamente desesperado, só convence quem já votaria no PT de qualquer jeito.
Mesmo a multimilionária Força Sindical, que considera que o PT é “pouco sindicalista” por fazer uma política de compensação com empresas (ou seja, mais fascista do que socialista), acaba desgastando o governo petista, que também não pode simplesmente decretar a estatização de tudo para agradar os mais radicais logo depois de mostrar o que fez com a Petrobras.
E, ainda que acreditem que Cuba é a Suíça, essa militância que não tem a menor vontade de passar férias na Venezuela de Chávez e Maduro começa a sentir, ainda que não articule seus pensamentos em oposição declarada, que o futuro que vêem nos vizinhos será terrível quando chegar por aqui.
O PT, portanto, mostrou que tem um “projeto” com prazo de validade, como todo populismo com desprezo pela realidade, e como toda política de concentração de poder estatal num centralismo forçoso. Nem a ética mais possui, e nem o panem et circenses que mantem as massas obedientes e dóceis anda funcionando.
E se o socialismo e o fascismo são lembrados mais pelos genocídios em larga escala que promoveram do que pelo formato de seu poder, resta lembrar que a criminalidade sob auspícios de companheiros do PT (lembremos que o PCC mandou todos os seus membros votarem no Genoíno, e promovem atentados contra a vida do governador tucano Geraldo Alckmin e de sua família, mas nunca reclamaram do PT – caso que deveria promover a maior investigação penal do país depois do mensalão e de Celso Daniel), ceifa mais de 50 mil vidas por ano – meio milhão de assassinatos por década sob a gestão petista. A gestão do coitadismo, a gestão dos direitos humanos para bandidos, a gestão da anistia para traficantes e de estranhas proximidades e coincidências de interesses com o PCC e o CV.
Basta se compreender isso para se passar a dar nome ao sentimento ainda difuso e de contornos não tão claros que vão minando a imagem do PT perante a população – e o que fazer para nosso futuro ser diferente da Venezuela, de Cuba ou de qualquer país tomado pela ideologia do sindicalismo.
03 de maio de 2014
Flávio Morgenstern