"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

BOLETIM MÉDICO ATESTA QUE GENOÍNO NÃO SOFREU ENFARTE E ESTÁ ESTÁVEL

 

Brasília – Boletim médico divulgado pelo Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (IC-DF), no início da tarde, descartou um enfarto do miocárdio do deputado José Genoino (PT-SP).

Ele deu entrada no instituto na tarde de ontem (21), quando foi submetido a uma série de exames.

Segundo o boletim, foram diagnosticados “níveis pressóricos (pressão arterial)” no paciente que poderiam comprometer o resultado da cirurgia de correção e de dissecção da artéria aorta e “alteração de coagulação secundário ao uso de anticoagulante, o que aumenta o risco de sangramentos”.

Segundo os médicos do IC-DF, Genoino tem um histórico clínico de hipertensão arterial sistêmica. Em julho deste ano ele foi operado para a dissecção da aorta e, em agosto, enfrentou outra cirurgia após um acidente vascular cerebral.

“O paciente foi reavaliado pela manhã, encontra-se estável e deverá permanecer internado até o controle adequado da pressão arterial e dos parâmetros de coagulação”, informaram os médicos no boletim.

22 de novembro de 2013
Agência Brasil

O HUMOR DO DUKE

Charge O Tempo 22/11
 
22 de novembro de 2013


ÉTICA PARA O JUIZ

 

ju7

Intervenção no 2o seminário
Ética para o juiz. Um olhar externo“ ocorrido na manhã de hoje na Escola Paulista da Magistratura
 
Antes de começar é melhor preveni-los sobre como ouvir o que tenho para dizer.
A minha trajetória pelo jornalismo se deu por aquela vertente que Raymond Aron definia como a de um “espectador engajado”.
 
Buscar a verdade com todo o empenho e a mais firme disposição de desconfiar de toda resposta fácil demais que subir à minha cabeça?
Ok. Isso é inegociável.
 
Mas fingir “neutralidade”, como está na moda hoje nas nossas escolas de jornalismo pra mim é só uma forma dissimulada de falta de isenção. Embaça muito mais do que esclarece.
 
ju7
 
A chave para filtrar o que eu digo, portanto, é a seguinte:
A historia da construção da democracia tem sido o objeto do estudo de toda a minha vida. Desse esforço eu conclui que, entre todas as outras vertentes experimentadas pela humanidade, a democracia é o estágio moral e eticamente mais elevado que é possível alcançar na organização das relações humanas.
 
Democracia é o que eu quero para o meu país. Democracia é o que eu quero para os meus filhos. Portanto, a angulação do meu olhar para os acontecimentos do presente e toda a minha própria orientação ética está referida à contribuição que eu desejo dar para a construção da democracia no Brasil.
 
***
 
Eu sei que há um psicanalista entre os convidados a falar para esta plateia. Vou tomar carona na especialidade dele.
 
ju7
 
A ética relacionada a uma profissão é, sempre, um corolário da função. E a função se define ao longo da História. É uma cultura. E cultura é o que determina tudo que nós fazemos sem que tenhamos plena consciência disso.
 
Nesse sentido, uma cultura é quase um destino; uma fatalidade.
Mas o homem é o único animal capaz de mudar o seu próprio destino. E uma das maneiras de conseguir isso é com o recurso à psicanálise.
 
Eu gosto de dizer sempre que a História é a psicanálise das sociedades. Tanto individual quanto coletivamente nós só conquistamos a condição de alterar o nosso destino depois de entender claramente como foi que nos transformamos naquilo que somos.
 
A primeira coisa que constatei nesse meu mergulho na história da construção da democracia é que a estruturação de um determinado ordenamento jurídico é sempre o elemento fundador desse processo.
 
ju7
 
É isto que me amarra a vocês. Jornalistas, juristas e democracias não podem viver uns sem os outros…
A segunda coisa que aprendi nestes 40 anos de observação direta e mais 140 anos de cultura familiar/profissional acumulada é que no campo das criações humanas não existem verdades absolutas nem fundamentos “científicos” imutáveis.
 
Não ha nada que esteja para as ciências humanas como a matemática, a geometria e as leis da física estão para as ciências exatas.
 
A gente trabalha para organizar as sociedades assim ou assado para um propósito. E tudo que nós temos para tentar atingir esse propósito são convenções apoiadas no máximo em hipóteses informadas.
 
A única medida possível da qualidade desses instrumentos, portanto, é o uso. O teste real da sua eficácia para a produção dos efeitos a que se propõem.
É por isso que o estudo das chamadas ciências sociais só traz proveitos concretos se for feito em bases comparativas.
 
ju7
 
Só se pode andar para a frente, do ponto de vista institucional, medindo os resultados que cada sistema produz – os bons e os ruins – e relacionando esses resultados ao tipo de arranjo que os gerou.
Para esse efeito viver nesta nossa ilha cercada de língua portuguesa por todos os lados é um forte handicap negativo.
 
É impossível aprender democracia em português. Pelo simples fato de que nenhum povo que fala essa língua jamais experimentou uma.
 
Mas a língua não é o único obstáculo e nem, talvez, o principal. Os campeões desse tipo de estudo comparativo têm sido os franceses. Mas nem por isso eles são tão evoluídos assim do ponto de vista institucional.
 
Existem pelo menos mais duas barreiras importantes atrapalhando esse tipo de aprendizado.
A primeira decorre da lei universal do menor esforço que pode ser traduzida mais ou menos assim: o bicho homem vai viver da exploração do próximo sempre que isto lhe for permitido, e vai lutar com unhas e dentes antes de concordar em trocar essa condição pelo esforço pessoal e pelo mérito.
 
ju7
 
A segunda, não menos formidável que a primeira, é a barreira do orgulho que, em geral, se apoia na ignorância.
O surgimento de um francês intelectualmente humilde é um dos eventos mais raros da natureza. Mas de vez em quando acontece.
 
Três deles se destacaram nos estudos comparativos das duas grandes linhas de construção de instituições da era moderna: Voltaire, com as suas Cartas de Inglaterra, Tocqueville, com A Democracia na América, e o menos conhecido mas talvez o mais importante deles, especialmente para esta plateia, Henri Levy-Ullman, com o seu Le Systéme Juridique de l’Angleterre.
 
Depois deles é impossível dizer qualquer coisa de  novo a respeito da alternativa entre as duas linhas básicas de arquitetura institucional que, apesar das variações de grau e de estilo, segue até hoje sendo a única à disposição da humanidade.
O que me resta, portanto, é só repassar os pontos principais.
 
ju7
 
Vamos a eles.
O Poder Judiciário nasce para atender a necessidade das sociedades humanas de dispor de um método pacífico de resolver controvérsias.
Historicamente falando, só existem duas maneiras de fazer isso:
  • pedindo proteção a um poder estabelecido capaz de se impor pela força em troca de vassalagem ou
  • atrelando o senso inato de justiça do homem, depurado pela prática da sua aplicação ao longo do tempo, à reconstituição da verdade dos fatos segundo regras precisas de aferição do equilíbrio entre as versões em conflito de modo a, no final, atribuir a cada um aquilo que deve ser de cada um.
Toda a parcela da humanidade que superou o estado feral e, depois dele, a fase mágica, trilhou esse mesmo caminho pelo menos enquanto pôde.
 
O turning point que bifurcou o mundo ocidental – e atrás dele o resto da humanidade – nas sendas do autoritarismo ou da democracia é Bolonha: o momento em que a Europa Continental é forçada a se desligar do esforço, até então comum a toda a comunidade europeia, de interrogar a natureza e a História para estruturar, de baixo para cima, um ordenamento jurídico baseado na tradição para atender à necessidade de proteger o mais fraco do mais forte e os súditos dos reis e dos barões.
 
ju7
 
É a partir de Bolonha que esses europeus são constrangidos a regredir, pela força das armas dos que sabiam que seus privilégios não sobreviveriam à nova ordem que se ia esboçando em função dessa busca, para um ordenamento jurídico estruturado em cima de uma falsificação do Direito Romano especialmente desenhada para restabelecer a situação anterior e perpetuá-los no poder.
Naquela altura, só houve uma exceção.
 
O meu herói predileto chama-se Edward Coke. Ele era o juiz supremo da Inglaterra quando o primeiro Stuart subiu ao trono. Em 1605, cara a cara com James I que reivindicava os mesmos poderes absolutos dos seus pares do continente, ele declara o rei “under god and under the law”.
O “under the law” significa, literalmente, que sua majestade é “igual a todos nós” em direitos e em deveres. E, portanto, daí para baixo, todo mundo.
 
O “under god” significa, literalmente, que também o rei está submetido à verdade dos fatos e não tem mais a prerrogativa de troce-los como melhor lhe convier.
 
ju7
 
As repercussões desse ato de coragem foram muito maiores do que qualquer coisa com que Coke pudesse ter sonhado.
Enviado o sinal para a sociedade de que fazia sentido resistir, o Parlamento tomou a bandeira que o Judiciário lhe passou e o resto é história.
 
Com o menor preço em sangue jamais pago por qualquer comunidade humana por mudanças tão profundas nas relações de poder o povo da Inglaterra, antes do ultimo quartil daquele século, já tinha, sobre o seu próprio destino, as mesmas condições de controle que continua tendo até hoje.
Mas não foi só isso.
Ao tirar o pressuposto da frente do fato e o dogma da frente da experimentação, Coke não estava apenas cravando no chão a primeira baliza sólida a partir da qual a democracia pôde iniciar a sua terceira tentativa de caminhar sobre a Terra.
Ele estava abrindo o caminho para o surgimento da ciência moderna.
 
ju7
 
A semente  plantada por ele, fertilizada pela visão newtoniana da ordem cósmica, evoluiu para o sistema de pesos e contrapesos que os iluministas americanos costuraram com toda a minúcia para não deixar nas mãos de ninguém poder demais e para fazer o funcionamento do sistema depender de todos e de cada um dos cidadãos.
Foi o momento mais brilhante da humanidade.
 
Desde então a democracia e a inovação, que é o único antídoto seguro contra a doença política da miséria, andam juntas.
Uma depende da outra.
Mas, e nós?
 
Nós … não estávamos lá. Nós somos filhos da outra corrente.
O direito português é a última cópia das cópias da falsificação de Bolonha. E o direito brasileiro é o filho temporão do direito português.
 
Desde então tem havido tentativas de correção de rumo. Mas é sempre remar contra a corrente. Passados quase 800 anos desde Bolonha cá estamos nós, mais uma vez, sob a ameaça real de ficarmos reduzidos a um único poder absoluto que usa a corrupção como uma arma de conquista.
O Legislativo corre o sério risco de se afogar na lama.
 
ju7
 
No Poder Judiciário o panorama também não é animador.
Nós temos 5 justiças e nenhuma definição clara de competências, embora vivamos todos sob uma única salada de leis.
 
Os juízes e os funcionários do Judiciário são nomeados pelos donos do poder que eles têm por função cercear.
 
Eu gastaria mais que a meia hora de que disponho somente para enumerar quem julga quem em quais circunstâncias, dentro dos 4 poderes (estou incluindo a imprensa), tantos são os “foros especiais”.
Daí para baixo, na escala social, sempre segundo o poder de cada corporação de afetar a vida alheia, todos e cada um têm tantos “direitos especiais” que é difícil saber se há mais brasileiros hoje sob regimes de exceção ou submetidos à regra geral.
 
E isso lembrando que os conceitos de “direito” e de “especial” são mutuamente excludentes num contexto democrático.
 
ju7
 
Para desfrutar do poder de distribuir e garantir tais benesses; para se apropriar desse “toque de Midas”; pode-se entrar no Judiciário pela porta da frente, pela porta dos fundos ou até semiclandestinamente, pelas janelas do chamado Quinto Constitucional.
 
Uma vez lá dentro, são dois anos e o sujeito sabe que ninguém mais tira ele de lá.
Removida do horizonte a ameaça da sanção contra a falta de merecimento pelo empenho que é o que move o mundo aqui fora, o resto é consequência.
 
Daí pra frente o que vale para a progressão na carreira jurídica, como nas demais carreiras públicas, são as relações de cumplicidade. O sangue fresco que entra no sistema fica obrigado a se comprometer com o sangue contaminado para subir hierarquia acima.
 
O processo judicial deixou de ser um meio para se transformar num fim em si. Mais de 70% dos que correm nestas terras não têm uma solução de mérito.
 
São tantos os furos na peneira dos recursos que o processo só termina se e quando o próprio condenado se declarar de acordo com a sua condenação.
Ou seja, não termina nunca.
 
ju7
 
Qualquer querela que bata numa corte – e tudo, neste país, tem de passar obrigatoriamente por elas – levará mais tempo, em geral para não ser resolvida, do que a última Guerra Mundial.
E por aí vai o nosso labirinto.
 
O resultado é que nós não somos mais um povo. É impossível criar laços de solidariedade até dentro de cada classe social. Nós somos uma multidão de grupinhos que vagam numa penumbra onde é difícil discernir qualquer limite do que quer que seja, cada um aferrado “ao seu”, sendo este “seu” garantido, à custa do próximo, por um padrinho que morde a melhor parte a cada vez que repete o truque de tirar alguma coisa que ele não produziu do bolso de alguém para depositá-la no bolso de outrém.
 
Vamos falar de ética?
Mas é possível discutir ética dentro de um sistema tão torto? Dá pra transitar dentro dele em linha reta?
Há muitos que tentam. Mas é uma luta perdida…
Portanto, senhores, a charada que, ou nós deciframos já, ou nos devora a todos é:
Como reconstruir essa máquina em pleno voo, sem que o avião caia”?
 
ju7
 
O desafio é bravo!
Mas eu afirmo que isso é possível desde que a gente decida de que lado quer ficar.
Apesar de todas as travas e tortuosidades do sistema ele ainda está assentado no consentimento.
Se um número suficiente de nós não consentir mais isso não continua. E então os caminhos começam a se abrir como que por encanto.
Mas para que o processo se inicie é preciso uma sinalização forte. E esta sinalização tem de sair daqui.
 
Junho, filho das condenações do Mensalão, foi um ensaio dessa verdade que chegou a colocar o Sistema em pânico.
Foi o suficiente para provar que ele não é indestrutível. Mas depois foi o que foi…
 
Para que essa possibilidade volte a existir é preciso, antes de mais nada, que nós paremos de pensar no ritmo do nosso tempo vital e comecemos a pensar no ritmo do tempo histórico.
 
É só pensarmos menos em nós mesmos e mais nos nossos filhos que as respostas certas começam a se insinuar.
 
ju7
 
Esse mesmo tipo de exercício projetado numa distância um pouco maior vai lhe dizer que você, afinal de contas, não está preso a essa herança negativa por compromisso nenhum que você mesmo tenha assumido; você é só mais uma vítima dela.
Mas, e daí? Quais são as medidas práticas? Os passos concretos possíveis?
Tem vários jeitos de abordar esse problema.
 
As culturas asiáticas, por exemplo, vêm agindo darwinianamente. Como é de sobrevivência que se trata, elas seguem sem pestanejar pelo caminho mais curto e mais eficiente.
 
Seja quem for que o tenha descoberto primeiro eles partem retos para a cópia melhorada; para as instituições híbridas do produto nacional com o produto estrangeiro cuidando de selecionar as características positivas de cada um a serem preservadas.
E têm colhido resultados fulgurantes com isso!
 
ju7
 
Já nós, latinos, somos mais complicados. Os católicos mais que os outros.
Nós vivemos confortavelmente demais dentro da mentira”, dizia Octavio Paz.
Um bom expediente, portanto, seria começar por um esforço de limpeza do entulho retórico com que insistimos em soterrar as verdades que já não adianta esconder porque todo mundo conhece, e passar a chamar as coisas pelos nomes certos.
Justiça garantista”? “Ideologias”? “ismos”?
 
Façam-me o favor, senhores juristas, senhores jornalistas! Sigam o dinheiro que as palavras certas vão colar por si mesmas nos fatos certos para produzir descrições honestas do que é que realmente nos aflige.
 
Parece nada mas é um exercício de condicionamento psicológico que tem um efeito muito mais poderoso para desencadear reformas do que parece à primeira vista.
Depois é só ir trabalhando os vetores básicos dos vícios do sistema para que as coisas comecem a se arrumar.
 
ju7
 
Eu sei que não existem panaceias e nem ha sistemas perfeitos no mundo. Mas o mundo está andando rápido demais e nós ainda estamos tão longe do “ruim” dos melhores que é suicídio deixar como está.
É preciso inverter as cadeias de cumplicidade; mudar os sistemas de nomeação; substituir nomeações por eleições de funcionários públicos; limpar o sangue do sistema do veneno da estabilidade no emprego a qualquer preço; atrelar as carreiras públicas ao mérito…
 
Aqui fora tudo já funciona assim. Mas como forçar quem manda lá dentro a fazer o mesmo?
Instituir o voto distrital com recall que arma a mão do eleitor e muda a iniciativa da pauta política e legislativa da Nação das mãos de quem não quer para as de quem necessita desesperadamente de reformas seria um excelente começo.
 
A bola que esse instrumento põe em movimento não para nunca mais de rolar. E sempre na direção que a gente quer. Os exemplos concretos estão aí para serem conferidos.
Enfim, senhores: o que tem faltado não são remédios, é a vontade de toma-los.
O consolo é que, enquanto ela permanecer aberta dependendo do voto, por mais capenga que ela seja a política funciona assim:

SE A GENTE ACREDITAR A GENTE VENCE!

ju7

(MAIS SOBRE VOTO DISTRITAL COM RECALL NESTE LINK)

O MAQUIAVÉLICO PT



O manifesto petista divulgado na terça-feira, que classifica de "ilegal" a decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, de mandar recolher à prisão 12 dos condenados no processo do mensalão, afirma que "uma parcela significativa da sociedade" teme "pelo futuro do Estado Democrático de Direito no Brasil". Têm razão os signatários do documento.

O Estado de Direito está real e gravemente ameaçado no Brasil, mas pelos sectários, pelos oportunistas fisiológicos e pelos inocentes úteis do PT que, por razões diversas, se empenham numa campanha nacional de desmoralização do Poder Judiciário, ferindo fundo a estabilidade institucional e colocando em risco, em benefício da hegemonia política do partido, o futuro da democracia no País.

Da mesma forma como ataca sistematicamente a imprensa, ao investir contra o Poder Judiciário, lançando mão do recurso de demonizar a figura do ministro Joaquim Barbosa, o PT deixa claro o modelo de "democracia" que almeja: aquele em que ninguém ousa contrariar suas convicções e seus interesses nos meios de comunicação, na aplicação da Justiça, na atividade econômico-financeira. Em todas as atividades, enfim, em que entendem que o Estado deve dar sempre a primeira e a última palavra, para promover e proteger os interesses "do povo".

Mas nem todo mundo no PT está preocupado com dogmatismo ideológico. Ao longo de 10 anos, boa parte da militância petista aprendeu a desfrutar das benesses do poder e hoje reage ferozmente a qualquer ameaça de ter que largar o osso. São os oportunistas que tomaram conta do aparelho estatal em todos os níveis e a ele dedicam todo seu despreparo e incompetência gerencial.

E existem ainda os inocentes úteis, em geral mal informados e despolitizados, que engrossam as fileiras de uma militância que comprou a ideia-força lulopetista de que o mundo está dividido entre o Bem e o Mal e quem está "do outro lado" é um "inimigo" a ser ferozmente dizimado.
22 de novembro de 2013
Editorial do Estadão

O BATMÓVEL E A DEMOCRACIA

Infeliz do povo que precisa de heróis.


A frase foi colocada pelo teatrólogo alemão Bertolt Brecht na boca de seu personagem Galileu na peça “Vida de Galileu”. Brecht era marxista militante e provavelmente não imaginava a riqueza de significados que a sua frase ganharia na história da semântica ideológica de metade do século passado e no começo deste.

A determinação do presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa para que se executassem as penas a que foram condenados os denunciados na Ação Penal 457 -- o mensalão -- mostrou como era sábia a frase de Brecht.

O gesto de braços erguidos e de punhos cerrados que dois dois principais condenados encenaram ao chegar às sedes da polícia federal onde resolveram se apresentar para obedecer à ordem de prisão teve um suave toque de patética melancolia.

É um pouco grotesco pintar com tintas de heroísmo um gesto tão banal quanto o de apresentar-se aos carcereiros para cumprir uma pena por corrupção decretada por maioria insofismável dos juízes da Suprema Corte de um país que vive há pelos menos um quarto de século em pleno processo democrático.

Apresentar-se como “presos políticos” foi uma opção teatral encampada pelos condenados e, pior ainda, endossada pelo partido a que pertencem, que há mais de dez anos comanda a maioria parlamentar de uma coalizão de governo e que está muito perto de conquistar o terceiro mandato consecutivo.

O paradoxo de ser preso político de um governo do qual eles mesmo fazem parte e do qual são -- ou foram -- líderes ou expoentes talvez seja um caso sem precedentes na história política moderna e nenhum deles demonstrou o menor constrangimento em participar dessa pantomima, sem dar-se conta do grotesco da situação.

Pois se é, relembrando o Galileu de Brecht, infeliz do povo que precisa de heróis, principalmente quando construídos sob premissas tão esfarrapadas e contraditórias, não é menos verdade que tão infeliz quanto precisar desse tipo de heróis, é a face oposta da mesma moeda.

O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, nomeado para uma vaga de juiz pelo ex-presidente Lula quando estava à procura de um negro para preencher simbolicamente uma vaga na Suprema Corte oscilou, como os mensaleiros condenados, entre os extremos de herói e vilão da Pátria. Foi chamado por alguns de capitão do mato e outros entregariam de bom grado a ele a espada do justiceiro.

Uma prova de que a democracia brasileira ainda é jovem e imberbe e que o país precisa tanto de heróis quanto de vilões porque ainda não aprendeu que não é com picos de adrenalina que se constrói um País mais justo, mais equânime e mais democrático.

A Nação só poderá orgulhar-se de estar madura para a democracia quando não precisar mais da sirene do batmóvel para anunciar que alguém está correndo atrás do Coringa.

22 de novembro de 2013
Sandro Vaia é jornalista.

PESSIMISMO DE INVESTIDORES CHEGA AO MAIOR ÍNDICE DURANTE GOVERNO DILMA, DIZ PESQUISA



Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Bloomberg revelou que os investidores nunca estiveram tão pessimistas sobre as políticas do governo brasileiro desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu a presidência, em 2011. 
De acordo com o levantamento, que ouviu 750 analistas, investidores e negociadores, 51% dos entrevistados estão pessimistas com as políticas do governo. Em janeiro de 2011, quando Dilma chegou ao governo, o número era de 22%.
Segundo James Craske, analista de investimentos de um fundo em NY e um dos entrevistados pela agência, a confiança nas políticas do governo caíram por várias razões, entre eles o lento crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e a alta da inflação. 


'CRESCIMENTO'
Na quarta-feira (20), a presidente disse que não se pode governar só "olhando os números" e que sua política econômica é "voltada para o crescimento das pessoas".

Sua gestão tem enfrentado inflação próxima ao teto da meta e baixos índices de crescimento..
(...)

Folha
22 de novembro de 2013

PESSIMISMO DE INVESTIDORES CHEGA AO MAIOR ÍNDICE DURANTE GOVERNO DILMA, DIZ PESQUISA



Uma pesquisa divulgada nesta quinta-feira pela Bloomberg revelou que os investidores nunca estiveram tão pessimistas sobre as políticas do governo brasileiro desde que a presidente Dilma Rousseff assumiu a presidência, em 2011. 
De acordo com o levantamento, que ouviu 750 analistas, investidores e negociadores, 51% dos entrevistados estão pessimistas com as políticas do governo. Em janeiro de 2011, quando Dilma chegou ao governo, o número era de 22%.
Segundo James Craske, analista de investimentos de um fundo em NY e um dos entrevistados pela agência, a confiança nas políticas do governo caíram por várias razões, entre eles o lento crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e a alta da inflação. 


'CRESCIMENTO'
Na quarta-feira (20), a presidente disse que não se pode governar só "olhando os números" e que sua política econômica é "voltada para o crescimento das pessoas".

Sua gestão tem enfrentado inflação próxima ao teto da meta e baixos índices de crescimento..
(...)

Folha
22 de novembro de 2013

"OS VIRA-LATAS"

Nelson Rodrigues nos tatuou com essa marca. Agora mesmo houve quem sugerisse que demos uma de vira-lata ao permitir que o Henrique Pizzolato, cidadão italiano, levasse para fora do Brasil o pendrive do Henrique Pizzolato, cidadão brasileiro.
 
Você não faria o mesmo?
 
Sei o que levou o escritor a nos chamar de vira-latas, o que não sei é se ele concordava com a tese de que somos vira-latas por conta da miscigenação que nos formou. Nesse aspecto, estou com Edgar Roquette Pinto, o pai de nossa radiodifusão: somos vira-latas pela ignorância que nos encharca.
 
Dos Três Poderes que nos regem o único composto por pessoas qualificadas é o Supremo Tribunal Federal. Ali não dá para entrar pela janela, nem porque casou com a cunhada do amigo do governador que é tio de um sindicalista no ABC. O nome pode ter sido ventilado por esses ou outros ridículos motivos, mas para ser investido da toga, é preciso mais do que isso.
 
Quem são os donos do poder no Brasil há quase 12 anos? Dos juízes que formam o STF, quantos foram nomeados por Lula e Dilma? O julgamento foi transmitido pela TV e pudemos ver o desfile das maiores bancas de advogados do país no livre exercício da defesa de seus constituintes.
 
 
 
 
É fácil compreender a dosimetria das penas? Para mim, não. Há sentenças que espantam, há detalhes difíceis de compreender, há juízes cuja personalidade incomoda, outros que acho francamente exibicionistas, assim como alguns aos quais faltou quem lhes torcesse o pepino em criança. E outros há cuja inteligência chega a ofuscar os demais.
 
E daí? Qualquer desses detalhes pode permitir sequer a hipótese que eu julgue esse julgamento injusto? Não, claro que não.
 
O fundamental, o fato que pode vir a mudar nosso trajeto, é ver pela primeira vez os poderosos serem punidos por erros graves que cometeram contra o Brasil.
 
Mas isso não pode e não vai impedir que eu continue a sonhar com um Brasil que erre menos. Agora que o trem saiu da estação onde estava desde 1500, se conseguíssemos engatar o vagão da Educação ao da Justiça, que Brasil nossos filhos teriam!
 
Educação que nos impedisse de ouvir um ministro da Saúde dizer que não se incomodava em ser tratado por médico que não passou pelo Revalida; que não permitisse que um condenado notoriamente enfermo fizesse uma viagem inútil de avião para ir parar justo numa cadeia sem nem um posto de saúde; e educação que nos deixasse roxos de vergonha diante do estado das penitenciárias brasileiras.
 
Instrução e Educação que impedissem nosso povo de acreditar na militância paga que infesta a mais extraordinária invenção do homem desde Gutenberg. A Internet é uma joia da qual devemos cuidar com extremo carinho e nunca usá-la com a linguagem tosca e os argumentos insanos que a maltratam.

Uma lei não poderá obrigar um homem a me amar, mas é importante que ela o proíba de me linchar, disse Martin Luther King.
Não se lincha só com paus e pedras...

22 de novembro de 2013
Maria Helena RR de Sousa



 

FRAGMENTOS

O bom samaritano
Condenado a seis anos e três meses de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, o ex-deputado Bispo Rodrigues (PR-RJ) resolveu se entregar à polícia. Foi até a Vara de Execuções Penais, em Brasília, ontem à tarde, mas como seu mandado ainda não foi expedido, recebeu o conselho de voltar para casa. Rodrigues deixou o Rio e decidiu que quer cumprir sua pena na capital federal.


 O bode expiatório
O deputado-presidiário Natan Donadon (sem partido-RO) recebeu na noite de anteontem a primeira visita de seu advogado desde a prisão da turma do mensalão, no sábado. Conversaram mais de uma hora. Donadon diz que virou alvo de chacota dos presidiários vizinhos, que dizem que ele perdeu o privilégio depois que seus "amigos mais famosos chegaram" Donadon disse a seu advogado, Marcus Gusmão, que virou "bode expiatório" por abrir o caminho para a prisão dos condenados no mensalão. Ele tem direito a duas horas de banho de sol por dia e não encontra José Dirceu e José Genoino. Sua família, garante, enfrenta a fila para pegar a senha da visita.

 
"Vamos aumentar nossa bancada para superar a dos detentos, que pode ganhar tucanos, e a dos prisioneiros do regime dos financiamentos milionários de campanha"
Chico Alencar, deputado federal (PSOL-RJ)


 Fogo amigo
O chefe de gabinete do ministro Guido Mantega (Fazenda), Marcelo Fiche, contesta informação de que comprdü um Audi em leilão da Receita. Atribuiu a denúncia a fogo amigo e diz que, por ser chefe linha-dura, fez inimizades na Esplanada.


 Vende-se
Por causa das denuncias de que recebeu propina, Marcelo Fiche contou que pôs seu Audi à venda por R$ 113 mil para pagar a advogados. Disse que o ministro Guido Mantega namora o carro, tendo oferecido, em outras épocas, R$ 80 mil por ele.


Pronto, falei 
Ministro de Lula e fundador do PX Olívio Dutra defendeu as prisões de José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Disse que não deveria ; ser diferente e que não os considera presos políticos, "Com todo o respeito que essas figuras têm, mas não é o passado que está em jogo, é ........o presente, e eles se conduziram mal" afirmou.


 Candidatos e padrinhos
O STJ enviou ontem lista tríplice à presidente Dilma para uma vaga de ministro. Estão no páreo os desembargadores federais Néfi Cordeiro, apadrinhado do presidente do STJ, Félix Fischer, e do ministro Paulo Bernardo (Comunicações); Luiz Alberto Gurgel, com o apoio do ministro do STJ Francisco Falcão; e ítalo Sabo Mendes, primo do ministro do STF Gilmar Mendes.
 


 Usou? Vai em cana
O número de traficantes presos saltou de 16% para 25% da população carcerária. Além do cerco aos traficantes, lei que distinguiu usuário de traficante não está sendo considerada. Os juizes estão mandando os usuários em cana.


 O peso do poder
O ex-prefeito de Campinas dr. Hélio (PDT) sugeriu à presidente Dilma a aplicação do artigo 84, inciso XII, da Constituição, que permite ao chefe de Estado o instituto da graça e do indulto, para beneficiar o deputado federal José Genoino.


 Presidente do grupo de Peritos no Combate à Lavagem de Dinheiro da OEA, Paulo Abrão levará a Bogotá relatório a representantes dos países americanos.

MISSIVISTAS EM DISPUTA

 

O pemedebista ouve com impaciência o longo prólogo de hipóteses para o mal estar nas relações entre a presidente da República e o empresariado. Quem se formou politicamente na clandestinidade custa a mitigar a desconfiança ou o problema é de quem se ressente de um passe livre pela zona cinzenta entre seus interesses e o do público?
O parlamentar balança a cabeça com desagrado e interrompe a sucessão de asneiras: Não tem nada disso. Lula perdeu três eleições antes de virar presidente. Passou a vida negociando dívida de campanha. Aprendeu a lidar com os caras. Dilma nunca teve que negociar nada. Recebeu a Presidência de presente .

Pela longa e diversificada folha de serviços prestados, o pemedebista exibe autoridade no tema. Mal termina de ouvir as bondades não reconhecidas do governo - desonerações, redução de tarifas e a frustrada empreita pelo corte de juros -, atalha: Empresário não tem gratidão. Fez, tá feito. Quer mais crescimento pra ganhar mais dinheiro .

Em desjejum numa doceria de São Paulo, assíduo frequentador do Instituto Lula diz, com desdém, que empresário não ganha eleição. Logo emenda, igualmente assertivo, que o governo errou ao generalizar desonerações e impor modelos apressados de concessões. Se houver um segundo mandato, isso não vai mais acontecer. De fato, a sucursal do Planalto que o ex-presidente montou no Ipiranga já mandou fazer um figurino de pato manco para uma Dilma reeleita. O poder será de quem, pela ascendência sobre PT e PMDB, tem a expectativa de mantê-lo - Lula.

O ativo eleitoral de banqueiros e empresários neste momento da campanha é na geração de expectativas e de caixa. Desde o início da era petista, este movimento nunca esteve tão antecipado.

A carta ao povo brasileiro de Lula chegou junto com as festas juninas no ano de sua primeira eleição. A escalada do câmbio sensibilizou um grupo de abnegados petistas e banqueiros a negociar documento em que se arvoraram a chancelar o resultado eleitoral de três meses depois.

De tão eficaz, a chancela não careceu de reedição em 2006. O PT ardia nas chamas do mensalão mas nenhuma fagulha incendiou o mercado financeiro. No segundo mandato Lula escapuliu aqui e ali do trajeto traçado, mas a alternativa era José Serra. Não era o caso de queimar caravelas por sua eleição. Até porque o ex-ministro Antonio Palocci, levado por Lula para coordenar a campanha de Dilma, já tinha pose de Casa Civil.

É outra a sucessão que se avizinha, a começar pelo bumbo das expectativas. Um ex-burocrata das finanças, hoje no mercado, compara a política econômica a uma máquina de salsichas. Lula viu que o motor tinha avarias mas apertou os parafusos, aumentou a produção e tocou a vida. Dilma quis abrir a máquina. E deu no que deu.

Este economista reporta a história de um cliente que, ao anunciar a ampliação de seus negócios no Brasil em mesa de investidores em Londres, foi gozado pelos pares. Naquela semana, The Economist publicara a capa em que o Cristo Redentor acometia o Pão de Açúcar. O investidor em questão respondeu: Meu ebitda (jargão contábil para o lucro bruto) está alto e meu estoque zerado. Não vou investir por quê? .

A máquina de salsichas em que confia o investidor está sendo remontada mais ou menos com as mesmas peças recauchutadas. Mas o ambiente de retífica em que se dá a sucessão já propiciou, a um ano da eleição, duas cartas e uma declaração de princípios.

A de Dilma, presidente com a maior base parlamentar da história, veio na forma de pacto com o Congresso contra o aumento de gastos. É um cenário que não deixa de dar certa razão aos prognósticos da turma do Ipiranga. Se antes da reeleição a presidente já tem que fazer esse tipo de apelo ao Congresso, vai estrear 2015 mancando.

A carta de Dilma é uma bala de borracha na testa do prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que contava com a renegociação das dívidas para investimentos reclamados pelas ruas de junho.

O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dono da cesta que recebe parte dos ovos do empresariado, só precisou fazer uma carta porque foi arrumar parceira que afugenta a economia exportadora.

O único que se dá ao luxo de fazer uma declaração na contramão do mercado é aquele que se vê como o escoadouro natural de suas expectativas. O senador Aécio Neves reuniu os seus em Poços de Caldas para dizer que a saída para o país é fortalecer a federação. Mas PSDB corre o risco de acabar antes que o senador Aécio Neves consiga explicar como vai conciliar a demanda de governadores e prefeitos por mais gastos com o tripé da economia.

A carta que falta é a que se destina a sua excelência, o eleitor. Em 2012 a pobreza continuou a ser reduzida mas a desigualdade deixou de cair. Em entrevista à Flávia Lima, do Valor, o titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Ricardo Paes de Barros, explicou por quê. A renda dos mais pobres continuou crescendo acima da média. Só que antes os ricos estavam pagando a conta. No ano passado, a fatura recaiu mais sobre a classe média.

Isso é parte da explicação dos protestos e antecipa os humores de outubro de 2014. A curva da renda mostra a disposição com que o distinto público receberá o arrocho pós-eleitoral que está nas entrelinhas dos missivistas da sucessão.

Não dá para entender o espetáculo das prisões dos mensaleiros com o fígado sintonizado nos próceres que continuam a pontificar nos mais diversos partidos. Para se compreender a prisão de um Genoíno em risco de vida é preciso olhar para dentro do PT. Há companheiros seus que continuam agindo à luz do dia quando só deveriam estar tomando banho de sol.

Genoino foi condenado por uma assinatura. Depois de sete mandatos parlamentares, continuou morando no sobrado onde, por muitos anos, as visitas eram convidadas a sentar em sofá cuja espuma teimava em se insinuar, pelos quatro cantos, sob a costura rota.

O atestado de inidoneidade do mesmo Supremo tribunal Federal que agora ameaça a vida de Genoino permite que Antonio Palocci se mantenha como o principal operador de Lula no aliciamento empresarial à reeleição de Dilma. Na legenda pela qual Genoino ergueu o punho à entrada da carceragem, as artes do petista mais estimado das finanças viraram um pedágio à manutenção do poder.

A POLÍTICA JÁ FOI MAIS NÍTIDA

 
Fim de tarde de 22 de novembro de 1963, Rio de Janeiro. No andar de cima de uma casa de vila na Muda da Tijuca, uma senhora de classe média se prepara para comemorar seus 34 anos de idade. As filhas, os filhos e o marido aguardam na sala para o jantar de parabéns. Mas, de repente, uma vizinha e amiga entra às pressas, vai até a beira da escada e dá a um grito: "Rafaela, Kennedy levou um tiro em Dallas!". A jovem dona da casa desce correndo, ainda sem acreditar, e pede que liguem o rádio e a televisão. O jantar fica aguardando para ser servido e, após a confirmação do assassinato, dona Rafaela, às lágrimas, anuncia que a festa está cancelada: "Nunca mais meu aniversário será um dia feliz. Sempre vou me lembrar da morte de Kennedy" 

Por muitos anos, a promessa foi cumprida. Naquela data, John Kennedy morreu brutalmente nas ruas de Dallas alvejado pelo rifle automático de Lee Oswald. O terceiro tiro explodiu sua cabeça manchando o vestido da primeira-dama Jacqueline. Nunca se soube a verdadeira motivação de Oswald e se ele agiu sozinho ou foi agente de uma grande conspiração conservadora. O presidente democrata apoiava o fim da discriminação racial no Sul dos Estados Unidos e, com programas econômicos, feria interesses de grandes corporações. Em mão oposta, combatia o comunismo de Fidel Castro e Che Guevara em Cuba e também olhava com desconfiança o governo João Goulart no Brasil. Eram tempos de Guerra Fria.

Apesar das nuvens que ainda encobrem o assassinato de Kennedy, a tristeza de dona Rafaela pertence a uma época na qual era bem mais fácil firmar posição diante dos fatos políticos. Enquanto muita gente simpatizava com o carismático ocupante da Casa Branca, outras correntes no Brasil e na América Latina apontavam-no como símbolo maior do imperialismo norte-americano. Nos anos 60, como dizem os acadêmicos, a clivagem entre direita e esquerda era nítida. Ou se estava a favor de Jango, ou contra Jango; ou se estava com a União Soviética, ou contra. No Brasil, 128 dias após a morte de Kennedy, Jango foi deposto pelos militares, com apoio ostensivo de Washington. Novo motivo de tristeza para dona Rafaela, que teve parentes cassados e submetidos a longo exílio.

Hoje, a política é mais difusa. O que dizer, por exemplo, da polêmica que se formou após a prisão dos dirigentes petistas condenados no caso do mensalão? De uma hora para outra, cresce a movimentação para transformar José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares em vítimas de injustiça. O presidente do STFJoaquim Barbosa, que deu a ordem de prisão, passou a ser tratado por parte da mídia como o grande vilão da história. Poucas vezes se viu campanha de nível tão baixo contra o representante máximo do Judiciário. Barbosa está sofrendo agressões de cunho racista. Louve-se a atitude da presidente Dilma que evitou se manifestar, explicando que respeita a harmonia e a independência dos Poderes.

É justa a preocupação com a saúde de José Genoino, que ontem, finalmente, teve direito a prisão domiciliar. Mas daí a afirmar que os petistas são alvo de vingança, vai grande distância. É embaralhar os fatos e tentar jogar a opinião pública contra o Supremo. Nos anos 60, as lutas da esquerda tinham objetivos mais altruístas. E as donas de casa da Tijuca se emocionavam com políticos nacionais e estrangeiros.

22 de novembro de 2013
Octávio Costa, Brasil Econômico

DALLAS MARCADA


RIO DE JANEIRO - É provável que Dallas, no Texas, nunca se livre do estigma de ser a cidade onde, há 50 anos no dia de hoje, John Kennedy foi morto. Outras cidades já foram palco de assassinatos iguais ou piores, como o de César, em Roma, ou o de Lincoln, em Washington, mas havia algo de inevitável nisso. Afinal, eles trabalhavam nelas.

Dallas, não. Seu ódio contra Kennedy era maciço, e o desfile do presidente em carro aberto, uma provocação. Hoje Dallas tenta apagar essa imagem, mas todos sabem que Lee Oswald, o assassino, apenas fez o que muitos políticos, fazendeiros, empresários, protestantes, valentões e racistas da cidade gostariam de ter feito.

Columbine, no Colorado (1999), e Newtown, em Connecticut (2012), onde dezenas de inocentes foram fuzilados por psicopatas, e a praia da Luz, no Algarve, em Portugal (onde, em 2007, desapareceu a menina inglesa Madeleine), também ficaram marcadas. Essas cidades não contribuíram para as tragédias, mas continuarão lembradas como seus cenários.

Por mim, quero que Dallas se dane. Foi a única vez em que, ao entrar nos EUA sem ser por Nova York, a imigração me parou. Se bem que talvez eles tivessem razão. O ano era 1988, e eu estava vindo de Cuba pela Cidade do México --daí o desembarque lá. Talvez tenham visto em mim um contrabandista de charutos, porque me fizeram abrir a mala.

Eu não trazia nenhum charuto, e sim um comprometedor estoque de biquínis brasileiros. Manuseando, cheirando e quase comendo aqueles microssutiãs e calcinhas, devem ter pensado que eu era um agente do tráfico de brancas. Custei a convencê-los de que eram um presente da "Playboy" brasileira para sua irmã americana, e que eu os estava levando de favor. E vinguei-me dizendo que, perto dos nossos, os biquínis das mulheres americanas ficariam melhores se usados como paraquedas.

 
22 de novembro de 2013
Ruy Castro, Folha SP

FUKUSHIMA E NESCAU GELADINHO


Mesmo que existam fome, pobreza, dor e violência, o instinto nos presenteou com o otimismo da ação.


Há uns 15 anos era mais fácil manter a privacidade. O trânsito era melhor. Fukushima era só o nome de uma usina nuclear no Japão. Também era possível telefonar a um serviço qualquer de atendimento, de bancos a operadoras de cabo e telefonia, e não ser moído existencialmente por pedidos de autenticação, prolixidade dos menus e analfabetismo dos atendentes.

A tecnologia é o uso que se faz dela, e seus efeitos são experimentados apenas quando transcendem a pureza dos laboratórios. A pergunta é se a melhora que a ciência traz para o cotidiano, projetando nossa percepção do futuro, é uma constante. Num dos ensaios de "Os Limites do Possível" (Portfolio-Penguin), André Lara Resende toca no tema ao fazer um apanhado das teorias econômicas, históricas e culturais que justificam a noção moderna de otimismo.

Citando autores como Matt Ridley, John Stuart Mill, John Gray e Stefan Zweig, o texto reflete sobre o que há de concreto ou apenas ideológico nessas correntes de pensamento. No sistema econômico de hoje, ser otimista ajuda no sucesso financeiro. Ninguém cria um produto se não acreditar, às vezes baseado apenas em intuição, que aquilo se tornará necessário e valioso.

O problema, escreve André Lara, é que os resultados dessas iniciativas nem sempre são de interesse coletivo. O mercado não serve para regular o uso que fazemos do que não tem preço individual e imediato, como os recursos naturais cuja escassez põe o planeta em risco. O mundo terminará em desastre se continuar na marcha atual. Um otimista como Ridley faria o contraponto dizendo que a tecnologia cria novos problemas e novas soluções.

Como sempre em debates do gênero, há argumentos para todos os lados. O cristianismo, com sua narrativa de redenção final, opõe-se à noção amedrontadora de que a história não tem sentido. Já o positivismo substitui o pensamento mágico por outro mito: o de que o progresso mudaria o fato de sermos "apenas mais um animal sobre a Terra". A religião sozinha deu na Inquisição e nas teocracias islâmicas. A ciência era muito prezada nos regimes de Hitler e Stálin.

Em termos menos extremos, não dá para endossar acriticamente o culto à razão surgido com o Iluminismo. Isso significaria ignorar o efeito colateral desumanizante de avanços tecnológicos como os da Revolução Industrial, sem falar nas guerras cujo número massivo de vítimas se deve à maior eficiência das armas.

Ao mesmo tempo, se aplicado de forma literal, o romantismo derivado que atribui ao meio ambiente uma pureza oposta à perversão da vida moderna impediria a existência de antibióticos, anestesia e --para enfrentar o aquecimento global-- ar-condicionado e Nescau geladinho.

Talvez a resposta do dilema esteja na esfera do indivíduo, cujos humores não são determinados apenas por história e cultura. Dois fatores que pesam aí, entre outros: sexualidade e equilíbrio químico que determina ou não ansiedade e depressão.

De minha parte, tenho implicância com o catastrofismo e sua presunção de superioridade intelectual (porque nos sentimos mais informados que os tolos crédulos) e moral (porque nos sentimos menos cúmplices das injustiças). Mesmo que existam fome, pobreza, dor e violência, sem falar na consciência do fim que nos acompanha desde sempre (em paralelo com a expectativa de vida que só aumenta), o instinto nos presenteou com o otimismo da ação.

Ou seja, ir em frente sem nos deixar intimidar ou paralisar pelo horror indiferente do universo. O que não significa forçar a barra argumentativa para transformá-lo em algo positivo. "É preciso ter esperança", escreve André Lara, "sem procurar razões para ter esperança".

Aceitar o paradoxo entre o impulso de sobrevivência, que é cândido e irracional, e a razão sombria, que nos informa o tempo todo sobre o vazio de tudo, é um bom meio-termo para quem não quer ter os passos guiados pelo Coelho da Páscoa --ponha ele os ovos ideológicos que puser.

O erro, conclui o autor do ensaio, seria misturar os conceitos: "Quando pretendemos (...) explicar o otimismo pela razão, traímos a razão. Quando a esperança se torna arrogante, traímos a esperança".

 
22 de novembro de 2013
Michel Laub, Folha de SP

UEBA! A MACACA COMEU O BAMBI!


 
22 de novembro de 2013
José Simão, Folha de SP

O IMPREVISÍVEL FUTURO...

                                                           Foto do século

Foto: Reynaldo Stavale
22 de novembro de 2013

A ESFINGE DECIFRADA

 

“Gosto mais de ser interpretado do que de me explicar”, informa uma anotação no diário que reúne milhares de frases manuscritas por Getúlio Vargas entre 1930 e 1942.
E os autores dos livros sobre Getúlio sempre preferiram a interpretação à cansativa busca de informações que ajudassem a decifrar a esfinge, berra a imensidão de obras inspiradas no maior personagem do Brasil do século XX.
A fusão do silêncio e da preguiça confinou Getulio, por quase sessenta anos, em palavrórios deformados pela veneração, pelo afeto, por rancores, pela miopia ou pela vassalagem.
Só agora o homem que transformou o tempo em cúmplice foi resgatado do universo imaginário por uma biografia genuína. Getúlio ─ Dos Anos de Formação à Conquista do Poder (Companhia das Letras; 629 páginas; 52,50 reais) conta o caso como o caso foi. Até que enfim.

O primeiro volume da trilogia concebida pelo cearense Lira Neto (autor também de biografias da cantora Maysa e do Padre Cicero) descreve a trajetória da lenda entre o outono de 1882, quando chegou ao mundo, e a primavera de 1930, quando chegou ao poder. (O segundo volume tratará do período que vai de 1930 e 1945  e o ultimo se estenderá até a morte em 1954.) Em dois anos e meio de pesquisas, que incluíram consultas a fontes primárias e incursões por estantes ainda indevassadas, Lira Neto juntou tantas informações relevantes que não sobrou espaço para análises acadêmicas e especulações sem serventia. Melhor para os leitores.

Escritor talentoso, Lira Neto enfileira episódios eletrizantes que atormentaram uma república ainda na infância e enfraquecida pelo parto prematuro. A narrativa lembra o roteiro de um filme de ação que saiu da tela para provar que a realidade pode ser mais turbulenta e surpreendente que qualquer história inventada.
Getúlio precisou remover, contornar ou implodir formidáveis pedras no caminho para chegar ao Palácio  do Catete, onde permaneceria ate 1945 e voltaria a morar como presidente eleito de 1950 a 1954. Entre uma eleição decidida nas urnas e outra resolvida a bala, o conciliador vocacional teve de sobreviver a mais uma guerra civil gaúcha, a duelos com correligionários ciumentos ou adversários brutais, além dos sucessivos levantes promovidos por tenentes rebelados desde a primeira noite no quartel, que começaram com o hino ao absurdo composto pelos 18 do Forte e desembocaram na Coluna Prestes.

Pois ainda melhor que a história é o elenco, que soma os melhores e mais brilhantes atores de duas gerações admiráveis. Uma composta de veteranos como o gaúcho Borges de Medeiros, o mineiro Antônio Carlos de Andrada ou o fluminense Washington Luís, começava a sair de cena depois de fundar a República.
Outra, que aposentaria a República precocemente envelhecida, juntava jovens como o sergipano Siqueira Campos, o cearense Juarez Távora ou os gaúchos Oswaldo Aranha, João Neves da Fontoura, Batista Lusardo, Luís Carlos Prestes e Flores da Cunha.

Até que a vitória em 1930 o transformasse em estrela incontrastável, Getulio teve de caçar espaços na ribalta atulhada de protagonistas ou coadjuvantes que encarnavam personagens secundários com a aplicação de candidatos ao papel principal. Getúlio, por exemplo, garantiu a vaga no grupo de elite ao encarnar o mais leal dos ministros de Washington Luís e, em seguida, o mais obediente discípulo de Borges de Medeiros. Washington Luís só acreditou na deserção do aliado quando Getúlio aceitou enfrentar como candidato oposicionista o sucessor escolhido pelo presidente, Júlio Prestes. E o caudilho que governou o Rio Grande do Sul por 25 anos resolveu transformar em herdeiro aquele filho do amigo Manuel Vargas, general dos chimangos de São Borja.

O maior politico do século nasceu quando o subordinado que sabia obedecer começou a mandar. Alojado no Palácio Piratini em 1928, mostrou em poucos meses que, além de provido das qualidades exibidas pelos parceiros, tinha virtudes que faltavam aos eventuais concorrentes. Culto como Washington Luis, sedutor como Oswaldo Aranha, corajoso como Neves da Fontoura, matreiro como Antônio Carlos de Andrada, Getúlio aprendeu a adivinhar a mudança dos ventos e esperar a hora certa. Proibiu-se de cultivar ódios, ressentimentos ou mesmo antipatias ao decidir que, se ninguém e tão amigo que não possa virar inimigo, também não existem inimigos que não possam ser convertidos em amigos.

Lira Neto demonstra que o líder nascido e criado num mundo dividido em metades incompatíveis superou o mais paciente e habilidoso dos negociadores mineiros na arte da conciliação. Quatro anos depois de trocar tiros com os maragatos de Assis Brasil, apareceu no Piratini trocando amabilidades com o chefe do exercito inimigo.
A reconciliação inverossímil permitiu que em 1930, pela primeira vez em 100 anos, os disparos dos combatentes gaúchos não reduzissem a população do Rio Grande do Sul. A revolução comandada por um devoto do convívio dos contrários, coerentemente, foi encerrada pela batalha que não houve em Itararé.

Ainda incompleto, o retrato do mito já permite a contemplação de um estadista diplomado com louvor. Num país que confunde teimosia com coerência, Getulio foi sempre contemporâneo do mundo ao redor. Positivista de berço, transformou os cristãos no alvo preferencial do discurso do orador da turma da faculdade de direito.
Militante do Partido Republicano, endossou os princípios autoritários de Júlio de Castilhos. Durante a ascensão do fascismo na Itália, flertou com as ideias recitadas por Benito Mussolini. Forjado no Brasil rural, apressaria a gestação do Brasil industrializado. Metamorfose nem sempre é outro nome do oportunismo.

Passados 100 anos, o confronto entre os tempos de Getulio e a era Lula informa que no palco sensivelmente modernizado se movem atores de quinta categoria. A plateia não sofreu mudanças notáveis. Antes como agora, eleitores desinformados não conseguem interessar-se por tramas que vão desenhando o futuro da nação.
Os netos dos que viam em Getulio o “pai dos pobres” agora enxergam em Lula o “exterminador da fome” e aplaudem as proezas imaginárias da superexecutiva Dilma Rousseff. O que mudou dramaticamente ─ para pior ─ foi o elenco.

As luminosas singularidades que contracenaram, como aliados ou adversários, contracenaram com o presidente suicida foram substituídos por canastrões sem cura e amadores bisonhos. De longe e afundado na abulia, o povo continua validando decisões aprovadas nas coxias. Pena que Oswaldo Aranha não tenha sobrevivido à virada do século. Ele achava que o Brasil em que viveu era “um deserto de homens e de ideias”.
Ao ouvir Lula berrando num palanque que é melhor que Getulio Vargas, descobriria que foi traído pela impaciência. Deveria ter esperado cinquenta anos para emitir o diagnóstico.

22 de novembro de 2013
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