"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

ESQUERDOFRENIA RIDICULARIZADA




Houve um tempo no Brasil quando aquilo que convencionou-se chamar de Esquerda tinha enorme prestígio. Fundamentalmente na segunda metade do século XX, grandes setores da mídia e do universo acadêmico, aliados a duvidosos líderes políticos bons de bico — _lato sensu_, fique claro! —, fundaram uma espécie de brigada ético-intelectual. Uma gente de coração valente e alma limpa que se dedicava, dramaticamente com sangue, suor e lágrimas, à luta por uma tal liberdade, colando no lombo a pecha de que os autoatribuídos ideais de Esquerda eram bons e, por pura exclusão ignorante, todos os demais eram ruins. Uma mentira retumbante transformada em verdade absoluta por um marketing circense bem feito.

Ao raiar da década de 1980, uma marionete sindical foi pinçada do ABC Paulista e elevada ao posto de capitão-mór da intrépida trupe onírica. Foram anos esquisitíssimos, quando a moda era admirar ídolos bêbados, a cintura estava acima do umbigo e revolucionário era aquele que, chapado por um antiamericanismo rasteiro e muita fumaça, conseguisse desvendar o que havia embaixo dos exuberantes e conceituais caracóis dos cabelos dos cantores da MPB. Não demorou muito para a ausência de contato com a realidade mergulhar essa turma num delirante e paralógico monópolio da virtude. O esquerdismo brasileiro ganhou ares de esquerdofrenia coletiva.

Midiaticamente abraçada no eixo da sociedade e consagrada no eixo político, a Esquerda fez-se poder hegemônico nos cerebelos, paralisando o debate e quase aniquilando a musculatura das imprescindíveis divergências ideológicas. Autoproclamou-se autoridade moral. Não por acaso, a bandeira de uma suposta justiça social tornou-se a máscara preferencial dos maiores criminosos do país, um instrumento de defesa a quem solapa a Democracia, defeca sobre a Constituição e assalta diuturnamente as Instituições. A História — aquela com H maiúsculo — foi deliberadamente alterada e o Brasil literalmente parasitado. Tal qual um carro roubado, o país foi ao desmanche e hoje, imóvel, jaz num terreno baldio da América do Sul.

Ainda assim, diante de todos os fatos escatológicos que obrigaram os meios de comunicação a migrar as editorias de Política para as páginas policiais — e dá-lhe mensalão, petrolão, eletrolão e todo _“ão”_ relativo à corrupção —, há os desavergonhados que defendem o _“modelo”_ que enfiou o Brasil no atoleiro e descortinou escândalos sem precedentes, roubos bilionários aos cofres públicos e muita impunidade ao logo do percurso.

Até pouco tempo, esses desavergonhados defensores ainda tinham algum crédito. Isso acabou. Não seria possível manter por muito tempo um mínimo de credibilidade quando larápios são pegos com a boca na botija; quando uma feroz ministra-militante atende ao controle remoto do ar condicionado fingindo ser um telefone celular para escapar de perguntas difíceis; quando um parlamentar _cubaniza_ sua intelectualidade _pedro-bialiana_ e defende que seja caçada e censurada a opinião de jovens contrários ao _regime vermelho_ tupiniquim; quando um ex-presidente convoca um exército de sem-terras — financiado pelos trambiques do partido e como se fosse uma organização paramilitar — para uma guerra campal contra manifestantes pacíficos; ou quando aquilo que, noutros tempos, seria o silêncio arrogante da presidente da República, revela-se o calar de quem foi desmascarada em sua inabilidade política, iniquidade executiva e total incapacidade de juntar lé com cré em temas fundamentais à administração pública. A credibilidade foi-se pelo ralo, restando apenas figuras patéticas.

Como a História é um portentoso cavalo selvagem que não aceita cabrestos ignóbeis, o mítico líder dos trabalhadores pobres e oprimidos desceu a ladeira ladeado pelo coronelismo político e a suposta guerrilheira valente está encastelada, adoecida pela rejeição, assombrada pela reação democrática das ruas, das redes sociais e de seu próprio eleitorado. A realidade impôs a extinção do delírio. A gloriosa esquerdofrenia de outrora foi devida e publicamente ridicularizada.

Agora, resta-lhes o higiênico acerto de contas com a Justiça e, sobretudo, com o Povo Brasileiro.

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06 de abril de 2015
Helder Caldeira é Escritor e Jornalista Político.

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