"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

SOBRE PREPARAÇÕES BÉLICAS E ESTRUTURAS SECRETAS - PARTE 1


“Como se viu nos capítulos anteriores sobre a natureza e metodologia necessárias à guerra moderna, é praticamente impensável vencê-la sem a minuciosa e oportuna preparação do país e das forças armadas.”
V. D. Sokolovskii, Soviet Military Strategy, p. 281

Um artigo recente no The European diz que as sanções que a EU impôs à Rússia foram mal concebidas. “A política de sanções não está funcionando de maneira alguma”, diz o artigo. As sanções falharam porque Putin “controla as percepções” da população russa. Enquanto isso, sentimentos anti-guerra estão ganhando espaço na Alemanha e em toda Europa. A propaganda russa está gradualmente virando o jogo. Isso revela com clareza que o Ocidente não tem estratégia nenhuma, enquanto a Rússia é totalmente estratégica.
O capítulo 7 da clássica obra do marechal Sokolovskii, Soviet Military Strategy, é intitulada “Preparação de um país para repelir agressões”. É possivelmente o capítulo mais importante do livro, pois explica os passos necessários caso a vitória for o que se pretende assegurar. O objetivo dessa preparação inicial é tomar a iniciativa estratégica. A própria sociedade deve estar pronta para “resistir” a um “ataque nuclear maciço do inimigo, minimizando as perdas” e mantendo, enquanto isso, “o moral em alta e o anseio de vitória no seio da população”.
Há três “linhas mestras” na preparação de uma guerra de acordo com os estrategistas soviéticos: (1) preparação das forças armadas; (2) preparação da economia nacional e (3) preparação da população. No que diz respeito à preparação das forças armadas, é necessário construir um arsenal de mísseis com ogivas nucleares. Essas são as armas principais de uma guerra; todas as outras têm importância secundária. Até hoje a Rússia mantém o mais avançado arsenal nuclear do mundo, e agora já se reconhece que a Rússia possui superioridade nuclear no campo de batalha europeu.
No que diz respeito à preparação da economia nacional para guerra, a Rússia continua a observar os princípios postulados pelo livro de Sokolovskii. Hoje as indústrias militares foram transferidas para cavernas subterrâneas, bunkers e túneis. Isso é algo que foi trabalhado por anos pelos russos. Cidades subterrâneas secretas, tal como a que está localizada sob a montanha Yamantau, possivelmente possuem mísseis nucleares e fábricas de ogivas. Yamantau é um dos vários locais subterrâneos superprotegidos que podem, com efeito, dar à Rússia bases militares-industriais virtualmente inatingíveis na ocasião de uma guerra global.
Seja importante o quanto for a preparação das forças armadas ou da economia nacional, os estrategistas soviéticos sempre insistiram que a população em geral não deve ser deixada de lado nas preparações bélicas. Guerras modernas não são travadas apenas por forças militares. Elas são travadas pelo povo inteiro. Deve-se ensinar a população a proteger-se de um ataque nuclear e a se mobilizar como uma milícia capaz de realizar várias funções de emergência. Mas o mais importante de tudo isso é a “preparação política do moral do povo”. Essa preparação é considerada decisiva (v. pp. 458-459 da tradução inglesa de Soviet Military Strategy). A preparação da população para a guerra traduz-se em doutrinação ideológica. Um espírito de patriotismo deve ser inculcado: “amor pela Pátria e... instigar no povo a prontidão para suportar qualquer dificuldade da guerra pelo bem da vitória”. A estrita doutrinação que retrata a perversidade inimiga é indispensável. “Ódio ao inimigo deve incitar o desejo de destruir as forças armadas e o potencial industrial-militar do agressor e conquistar a vitória completa em uma guerra justa”. Ao mesmo tempo, o povo “deve estar imbuído da crença no poder das nossas Forças Armadas e nutrir amor por eles”.
Hoje essa é a retórica da mídia russa. A América é culpada pela guerra na Ucrânia. Diz-se que a América planeja a destruição da Rússia. Ao mesmo tempo os russos dizem que seu maquinário bélico é invencível (NBC News noticia: “Vladimir Putin diz que o poderio militar russo não tem adversário à altura”). O moral político do povo russo está sendo reforçado através de mensagens positivas desse tipo. Por outro lado, na Europa ocidental só há discórdia e confusão. Não há uma voz de autoridade jactando-se da força militar da OTAN. O povo está cheio de incerteza e medo. A ideia de uma independência ucraniana foi posta em questão. Enquanto estas palavras foram escritas, o parlamento russo esteve considerado se declarava a unificação alemã em 1990 como ilegal.
Como afirma o texto de Soviet Military Strategy: “A preparação política do moral do povo para a guerra é dirigida [...] por todas organizações públicas e governamentais do país e por todo o sistema educacional e de informações públicas. Para esse propósito, todos os instrumentos de propaganda e agitação são usados...” (E sim, isso inclui o parlamento, que sempre foi o carimbo das velhas estruturas soviéticas — escondidas por trás de falsos partidos políticos e falsas regras parlamentares e falsas constituições.)
A razão para trazer à tona um velho livro militar soviético é para mostrar que a Rússia ainda está seguindo as velhas ideias soviéticas. Ao mesmo tempo, a América não considera seriamente preparar-se ela mesma para uma guerra. O lado americano não coloca suas principais indústrias militares sob montanhas e não ensina sua população os princípios de defesa civil nuclear (como os russos fazem). Mais crítico ainda é o fato que o povo americano jamais recebeu qualquer ensinamento escolar sobre a ameaça russa. Com raras exceções, as escolas americanas não ensinam seus alunos sobre quem são os inimigos da América. Isso sequer foi feito no auge da Guerra Fria. Na verdade, os marxistas estavam ocupados infiltrando-se nas escolas americanas e universidades durante os anos 1970 e 1980. Era mais provável que os alunos americanos recebessem uma doutrinação marxista mais sólida (que aquela repassada nos países comunistas) do que uma orientação apropriada acerca da ameaça comunista aos Estados Unidos. E assim, jamais houve similaridade entre as preparações bélicas russas e americanas. Esse é um fato que deveria causar profundo espanto, pois ele desmente a conhecida propaganda do todo-poderoso complexo militar-industrial americano.
Infelizmente, hoje em dia não há uma séria preparação bélica nos EUA. A América entrou em uma suposta guerra contra o “terrorismo”. Enquanto isso os russos espreitam-se no subterrâneo e preparam-se para um tipo diferente de guerra — posicionando misseis, navios de guerra e forças terrestres. Que já entramos em uma fase de pré-guerra deveria estar abundantemente claro. O general da OTAN, Frederick Hodges, disse recentemente em entrevista ao Wall Street Journal: “Acredito que os russos estão se mobilizando agora para uma guerra que eles pensam que vai acontecer em cinco ou seis anos”. O ex-chefe da OTAN, Anders Fogh Rasmussen, alertou acerca da propabilidade de os russos atacarem um dos estados bálticos. “Isso não se trata da Ucrânia”, disse Rasmussen ao Daily Telegraph no começo de fevereiro. “Putin quer reestabelecer a Rússia à sua antiga posição de grande potência”.
Contudo, Rasmussen e Hodges foram modestos em suas estimativas. Não se trata de restaurar a grandeza passada da Rússia. Trata-se de uma mudança brusca no balanço das forças que fará uma reviravolta completa na ordem global. É esse o jogo que está sendo jogado. É essa a estratégia que está sendo usada. Tratam-se de intenções revolucionárias que querem transformar o mundo. Mas nossos generais e estadistas continuam a pensar pequeno e acreditam apenas no que está diante dos seus olhos. É necessário que vejam a coisa com os olhos de um estrategista. Deve-se reconhecer o padrão, a nuance, a relação entre ações do passado e do presente. Só assim pode o observador ver o que está para vir.
Quando o Secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, diz que a América está “tentando envolver a Federação Russa num conflito entre Estados” com fins de instigar uma mudança de regime em Moscou, ele está criando o pretexto e a cortina de fumaça para uma vasta mobilização militar russa que vai muito além da restauração da URSS. “Os americanos estão tentando [...] desmembrar nosso país através dos eventos na Ucrânia” diz Patrushev. Então o que merece a América em resposta? Afinal, a América está tentando “desmembrar” a Rússia. Então o certo e apropriado é que se desmembre a América. É isso que está dizendo Patrushev; é esse o significado real dos seus dizeres. Quando Rasmussen diz que toda a coisa “não se trata da Ucrânia” temos de concordar. Ainda assim ele não percebeu qual é o verdadeiro fim da mobilização russa. O verdadeiro alvo não é a OTAN, mas a América. E quando a América for derrotada, todos os países da Terra curvar-se-ão perante a Rússia.
Há todas as razões do mundo para suspeitar do que está acontecendo na Ucrânia, pois a crise em Kiev acaba por servir de pretexto contínuo para a mobilização militar e serve de justificativa para atacar os Estados Unidos, especialmente se os americanos derem armas para Kiev. A crise é fabricação de Putin, que manda ameaças aos montes para a Europa. Ele pode testar o Artigo 5 da OTAN; ele pode forçar a situação até surgir um racha na aliança. Os alemães por acaso querem suas cidades devastadas? E poloneses e romenos?
E quanto à América?
Mesmo na atual ocasião de mobilização russa, o lado americano se implode unilateralmente e espontaneamente. Veja a manchete: Sevier o corte orçamentário, Rússia e China superarão nossa tecnologia militar,diz oficial do alto escalão do Pentágono. Prepare-se para China e Rússia superar-nos militarmente, pois esse é o resultado do que vem acontecendo. O Vice-Secretário de Defesa, Robert Work, disse ao Congresso que os cortes orçamentários estão acabando com a vantagem militar tecnológica americana em relação à Rússia e China. E por que o presidente insiste em tal fórmula? Por que ele se recusa a negociar uma solução orçamentária mais sensata com os republicanos no Congresso?
O ex-prefeito de New York, Rudy Giuliani, disse ao New York Post que Obama foi influenciado por um comunista, Frank Marshall Davis, desde os nove anos de idade. Giuliani também falou do papel do Rev. Jeremiah Wright. “Ele passou 17 anos na igreja de Jeremiah Wright, e esse é o sujeito que disse ‘Deus amaldiçoe a América, e não Deus abençoe a América’... [e] Obama jamais deixou essa igreja”, disse Giuliani. Parece que o Prefeito Giuliani fez uma importante observação que deveria ter sido feita por vários outros políticos há muito tempo. Mas eles são todos covardes, incapazes de abrir suas bocas exceto para falar coisas patéticas e sem importância.
É evidente que não há chance de o país se colocar ao lado do ex-prefeito nova-iorquino. Muito provavelmente o Partido Republicano se distanciará de Giuliani e continuará no caminho da mediocridade. Isso mostra com clareza que não somos mais americanos, mas sim que “somos do mundo”. Essa mentira abjeta, que conta uma história que o próprio povo não pode contar de si, é agora a base do pensamento nacional — que sequer é nacional. Somos consumidores, cidadãos do planeta. Esse é a vaidade do momento que pode levar milhões à morte. O perigoso contrassenso é perigoso, e não importa o quão confortável ele faça você se sentir. O conforto, junto de um tratado desarmamentista, fará com que você seja alvejado por uma bomba nuclear.
 06 de abril de 2015
Jeffrey Nyquist
Tradução: Leonildo Trombela Junior

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