Dilma volta atrás na ‘faxina ética’ e reabre cofres dos Transportes ao PR, mas partidos da oposição, assim como todos, selam as mais contraditórias alianças nos estados
Credita-se a Lula a previsão de que nas eleições deste ano o “bicho" iria “pegar”. Houve interpretações variadas do sentido do termo, todas mais ou menos coincidentes: o PT faria tudo para acrescentar mais quatro aos longos 12 anos de permanência no Palácio do Planalto. Confirma-se a antevisão lulista.
É exemplar, no mau sentido, a decisão da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff de se curvar ao esquema corrupto do PR, que administrou o Ministério dos Transportes desde a ascensão de Lula, em 2003, voltando atrás na decisão que tomou na fase da "faxina ética” quando demitiu o ministro Alfredo Nascimento, senador pelo Amazonas e presidente da legenda.
Pois ela se reaproximou de Nascimento, tirou César Borges do cargo de ministro e recolocou no lugar Paulo Sérgio Santos, secretário-geral da Pasta quando Nascimento foi ministro. Paulo Sérgio, embora filiado ao PR, é considerado técnico de carreira. Ontem, o partido cobrou o que deseja no troca-troca: quer de volta o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), convertido por Nascimento num balcão de negociatas, das quais participava o hoje mensaleiro trancafiado Valdemar Costa Neto. Que, da cadeia, participou desta costura espúria. Em questão, pouco mais de um minuto de acréscimo na campanha eleitoral .
Mas o “bicho pega" não apenas no fisiologismo. Todos os partidos, da situação e da oposição, se esmeram na construção das mais escalafobéticas e contraditórias alianças regionais, com o mesmo objetivo: mais tempo na propaganda eleitoral.
No Rio de Janeiro, Dilma Rousseff evita o candidato do seu partido ao governo do estado, Lindbergh Farias, para desfilar em palanques de inaugurações com o adversário dele, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, partido cuja seção fluminense está com o tucano Aécio Neves, por enquanto o principal adversário de Dilma. Por sua vez, o candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, Alexandre Padilha, é "cristianizado" porque se mostra inviável, enquanto o PT namora Paulo Skaf, do PMDB. E este, por sua vez, deseja distância pública de Dilma, pois pretende ser sinônimo de renovação em São Paulo. Já Paulo Maluf, do PP, tirou até foto com Padilha, mas, em cima da hora, abraçou Skaf. Em Minas, outro colégio eleitoral importante, o PSB apoia Aécio Neves, o adversário do seu presidente e candidato Eduardo Campos. Situações como essa se repetem pelo país.
Tudo confunde o eleitorado, incentiva os votos nulos e brancos e desestimula a participação política. Impede a renovação de quadros, e até contribui para eternizar o fisiologismo, por falta de oxigenação na política. E nem chega a ser necessária uma enorme reforma política para combater o mal. Teriam grande e positivo efeito o fim das coligações em eleições proporcionais, para evitar que legendas inexpressivas herdem votos alheios, e o estabelecimento de cláusula de barreira a partidos sem voto. Que a orgia das negociações eleitorais deste ano viabilize, enfim, as mudanças.
Credita-se a Lula a previsão de que nas eleições deste ano o “bicho" iria “pegar”. Houve interpretações variadas do sentido do termo, todas mais ou menos coincidentes: o PT faria tudo para acrescentar mais quatro aos longos 12 anos de permanência no Palácio do Planalto. Confirma-se a antevisão lulista.
É exemplar, no mau sentido, a decisão da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff de se curvar ao esquema corrupto do PR, que administrou o Ministério dos Transportes desde a ascensão de Lula, em 2003, voltando atrás na decisão que tomou na fase da "faxina ética” quando demitiu o ministro Alfredo Nascimento, senador pelo Amazonas e presidente da legenda.
Pois ela se reaproximou de Nascimento, tirou César Borges do cargo de ministro e recolocou no lugar Paulo Sérgio Santos, secretário-geral da Pasta quando Nascimento foi ministro. Paulo Sérgio, embora filiado ao PR, é considerado técnico de carreira. Ontem, o partido cobrou o que deseja no troca-troca: quer de volta o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), convertido por Nascimento num balcão de negociatas, das quais participava o hoje mensaleiro trancafiado Valdemar Costa Neto. Que, da cadeia, participou desta costura espúria. Em questão, pouco mais de um minuto de acréscimo na campanha eleitoral .
Mas o “bicho pega" não apenas no fisiologismo. Todos os partidos, da situação e da oposição, se esmeram na construção das mais escalafobéticas e contraditórias alianças regionais, com o mesmo objetivo: mais tempo na propaganda eleitoral.
No Rio de Janeiro, Dilma Rousseff evita o candidato do seu partido ao governo do estado, Lindbergh Farias, para desfilar em palanques de inaugurações com o adversário dele, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, partido cuja seção fluminense está com o tucano Aécio Neves, por enquanto o principal adversário de Dilma. Por sua vez, o candidato petista ao Palácio dos Bandeirantes, Alexandre Padilha, é "cristianizado" porque se mostra inviável, enquanto o PT namora Paulo Skaf, do PMDB. E este, por sua vez, deseja distância pública de Dilma, pois pretende ser sinônimo de renovação em São Paulo. Já Paulo Maluf, do PP, tirou até foto com Padilha, mas, em cima da hora, abraçou Skaf. Em Minas, outro colégio eleitoral importante, o PSB apoia Aécio Neves, o adversário do seu presidente e candidato Eduardo Campos. Situações como essa se repetem pelo país.
Tudo confunde o eleitorado, incentiva os votos nulos e brancos e desestimula a participação política. Impede a renovação de quadros, e até contribui para eternizar o fisiologismo, por falta de oxigenação na política. E nem chega a ser necessária uma enorme reforma política para combater o mal. Teriam grande e positivo efeito o fim das coligações em eleições proporcionais, para evitar que legendas inexpressivas herdem votos alheios, e o estabelecimento de cláusula de barreira a partidos sem voto. Que a orgia das negociações eleitorais deste ano viabilize, enfim, as mudanças.
03 de julho de 2014
Editorial O Globo
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