O problema surgirá nos debates, sobretudo se houver 2º turno, com tempos iguais para os dois candidatos
As últimas falas da doutora Dilma, listando realizações num estilo que despreza o final das sentenças e o encadeamento dos raciocínios, indicam que, durante a propaganda gratuita de televisão, ela estará blindada. Conseguirá despejar uma enciclopédia de números capaz de mostrar os aspectos exitosos de sua administração. Na TV, essas informações serão arrumadas por João Santana e seus efeitos especiais, os 11min48s diários, contra 4min31s de Aécio Neves e 1min49s de Eduardo Campos, farão sensível diferença. Isso no primeiro turno.
Se houver segundo turno, cada candidato terá o mesmo tempo. Pior: nele, o debate pesará muito mais, pois será um mano a mano, sem candidatos fazendo perguntas teatrais. Pior ainda: os dois principais adversários da doutora falam com clareza, enquanto ela se perde em estatísticas. Aécio Neves exagera nos adjetivos grandiloquentes. Eduardo Campos, nos adjetivos fáceis. Mesmo assim, fazem mais sentido que ela. Sempre vale lembrar que, na primeira campanha de Bill Clinton à Presidência dos Estados Unidos, o marqueteiro James Carville proibiu-o de pronunciar a palavra "infraestrutura". Na campanha brasileira pode-se acrescentar que "centro da meta" pode ser a marca do pênalti.
Até hoje, as propostas concretas de Aécio Neves e Eduardo Campos somam benignas platitudes. Aécio quer a "introdução de um novo conceito de cultura na política pública brasileira, com prioridade para uma visão integrada da ação cultural, abrangendo todas as instâncias governamentais e de estímulo a toda a produção cultural nacional, em todos os seus segmentos".
Campos quer passe livre em transportes públicos para todos os estudantes. Tudo bem. Passe livre para a garotada da Escola Britânica do Rio? Lá a mensalidade vai a cerca de R$ 4.500. Será que eles precisam? Se é o caso de se prometer gratuidades, por que não entregá-las só a quem pedir? Já a doutora oferece como novidade um Brasil sem burocracia. Logo ela, que tem 25 ministérios e 14 comissários com status de ministro. Ao contrário dos outros dois, a doutora tem o que mostrar, e o êxito da Copa lustrou-lhe a imagem de gerentona. (Registre-se o surgimento de uma piada macabra: um novo 7x1: 7 por cento de inflação e 1 por cento de crescimento. Pelo andar da carruagem, vem aí um 6x1.)
Não se pode saber até que ponto as tensões registradas no comissariado da campanha derivam de maus números chegados ao Planalto ou da simples autofagia petista. A doutora já sofreu um processo de corrosão com o "Volta, Lula", não precisa de outro.
A temática oferecida pelas falas de Dilma sugere que sua campanha depende muito das obras e pompas do marqueteiro João Santana e de sua capacidade de administrar o capital do tempo na televisão. Essa tática poderá ser eficiente num primeiro turno. Depois, a eleição será outra. Pelas ansiedades que se percebem no comissariado, usando-se um verbo criado pela psicóloga Maria Regina Brandão, há o risco de o PT "panicar", como panicou a turma da Granja Comary. Um PT "panicado" seria uma reedição da velha técnica de "partir pra cima", radicalizando o que for possível radicalizar.
As últimas falas da doutora Dilma, listando realizações num estilo que despreza o final das sentenças e o encadeamento dos raciocínios, indicam que, durante a propaganda gratuita de televisão, ela estará blindada. Conseguirá despejar uma enciclopédia de números capaz de mostrar os aspectos exitosos de sua administração. Na TV, essas informações serão arrumadas por João Santana e seus efeitos especiais, os 11min48s diários, contra 4min31s de Aécio Neves e 1min49s de Eduardo Campos, farão sensível diferença. Isso no primeiro turno.
Se houver segundo turno, cada candidato terá o mesmo tempo. Pior: nele, o debate pesará muito mais, pois será um mano a mano, sem candidatos fazendo perguntas teatrais. Pior ainda: os dois principais adversários da doutora falam com clareza, enquanto ela se perde em estatísticas. Aécio Neves exagera nos adjetivos grandiloquentes. Eduardo Campos, nos adjetivos fáceis. Mesmo assim, fazem mais sentido que ela. Sempre vale lembrar que, na primeira campanha de Bill Clinton à Presidência dos Estados Unidos, o marqueteiro James Carville proibiu-o de pronunciar a palavra "infraestrutura". Na campanha brasileira pode-se acrescentar que "centro da meta" pode ser a marca do pênalti.
Até hoje, as propostas concretas de Aécio Neves e Eduardo Campos somam benignas platitudes. Aécio quer a "introdução de um novo conceito de cultura na política pública brasileira, com prioridade para uma visão integrada da ação cultural, abrangendo todas as instâncias governamentais e de estímulo a toda a produção cultural nacional, em todos os seus segmentos".
Campos quer passe livre em transportes públicos para todos os estudantes. Tudo bem. Passe livre para a garotada da Escola Britânica do Rio? Lá a mensalidade vai a cerca de R$ 4.500. Será que eles precisam? Se é o caso de se prometer gratuidades, por que não entregá-las só a quem pedir? Já a doutora oferece como novidade um Brasil sem burocracia. Logo ela, que tem 25 ministérios e 14 comissários com status de ministro. Ao contrário dos outros dois, a doutora tem o que mostrar, e o êxito da Copa lustrou-lhe a imagem de gerentona. (Registre-se o surgimento de uma piada macabra: um novo 7x1: 7 por cento de inflação e 1 por cento de crescimento. Pelo andar da carruagem, vem aí um 6x1.)
Não se pode saber até que ponto as tensões registradas no comissariado da campanha derivam de maus números chegados ao Planalto ou da simples autofagia petista. A doutora já sofreu um processo de corrosão com o "Volta, Lula", não precisa de outro.
A temática oferecida pelas falas de Dilma sugere que sua campanha depende muito das obras e pompas do marqueteiro João Santana e de sua capacidade de administrar o capital do tempo na televisão. Essa tática poderá ser eficiente num primeiro turno. Depois, a eleição será outra. Pelas ansiedades que se percebem no comissariado, usando-se um verbo criado pela psicóloga Maria Regina Brandão, há o risco de o PT "panicar", como panicou a turma da Granja Comary. Um PT "panicado" seria uma reedição da velha técnica de "partir pra cima", radicalizando o que for possível radicalizar.
18 de julho de 2014
Elio Gaspari, Folha de SP
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