"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 25 de outubro de 2015

OS SERVIÇOS DE INTELIGÊNCIA DOS EUA




"A eficácia de um Serviço de Inteligência depende muito mais daqueles que recebem suas Informações, prestando atenção a elas, especialmente quando contradizem suas opiniões".(MARKUS WOLF, chefe do Serviço de Inteligência Exterior da RDA de 1951 a 1985; livro "O Homem sem Rosto, Autobiografia do Maior Mestre de Espionagem do Comunismo").

Richard Clarke, ex-coordenador nacional para a Segurança nos governos George Bush, Bill Clinton e George W. Bush, em seu livro "Contra todos os Inimigos", editado em 2004, deu uma visão reveladora, a partir de dentro da cúpula do Poder, de algumas equivocadas decisões adotadas pelo governo, admitindo que os EUA cometeram quatro erros que afetaram negativamente a política anti-terrorista do governo Bush.

Primeiro: O fato de a CIA ter ficado dependente do Serviço de Inteligência do Paquistão para ajudar os afegãos, significou que foram desenvolvidos menos elos e lealdades com os afegãos do que teria sido possível gerar, graças ao esforço norte-americano multibilionário em dólares. Mais tarde, nos anos 90, a CIA cometeria também um engano semelhante, deixando de pôr os operadores norte-americanos dentro do país para eliminar Bin Laden e a liderança da Al-Qaeda e, confiando, para isso, em afegãos contratados.

Segundo: Quando o governo americano engajou sauditas, egípcios e outros Estados árabes na luta contra a invasão dos soviéticos, os EUA buscaram - ou concordaram com - a importação no Afeganistão e no Paquistão de um exército de "árabes", sem considerar quem eles eram, ou o que aconteceria com eles, depois que os soviéticos saíssem. Os sauditas assumiram a liderança para reunir o grupo de voluntários. O chefe da Inteligência saudita, Príncipe Turki, confiou em um homem de uma rica família de construção que era íntima da família real saudita. Turki deu poderes a um filho dessa família, um tal de Osama Bin Laden, para recrutar, movimentar, treinar e doutrinar os voluntários árabes no Afeganistão. Muitos tinham conexões com a Irmandade Muçulmana, um antigo grupo fundamentalista que já havia ameaçado o Egito e a Síria. Grande parte desses voluntários passou a integrar, mais tarde, a rede Al-Qaeda de grupos terroristas afiliados, realizando campanhas na Argélia, Egito e em outros lugares.

Terceiro: O rápido recolhimento do Afeganistão de ativos e recursos em seguida à derrota soviética deixou os EUA com pouca influência sobre o país e compreensão do que aconteceria depois. Os EUA buscaram reduzir a carga do Afeganistão sobre a política externa e sobre o orçamento de Inteligência, em grande parte abandonando o país à sua própria sorte (mais tarde, depois da invasão de 2001, os EUA tentariam influenciar no Afeganistão sem gastar). Em seguida à retirada soviética em 1989, as facções afegãs eventualmente derrotaram o regime títere soviético e logo se desentenderam. Cabul e outras cidades foram destruídas na guerra civil, forçando um grande fluxo de refugiados para o Paquistão, além daqueles que haviam fugido para lá durante a longa guerra com os soviéticos. A Inteligência paquistanesa, "autorizada" a atuar no Afeganistão, usou seu poder e influência para trazer a ordem àquele caos através de uma nova facção religiosa, o Taliban. Os paquistaneses também facilitaram aos Talibans a utilização dos veteranos da Al-Qaeda da Guerra Afegã-Árabe, para lutarem pelo Taliban.

Quarto: Os EUA pouco fizeram para ajudar o Paquistão a compreender ou lidar com os efeitos corrosivos em sua sociedade causados pela mistura de milhões de refugiados afegãos e árabes ricos, fanáticos, desajustados, que para lá foram e permaneceram. Em vez disso, preocupados com o programa nuclear do Paquistão, os EUA cortaram a ajuda ao país. O corte da ajuda, naturalmente, não encerrou o programa nuclear. Porém, mais do que isso, assegurou que o país que vinha desenvolvendo armas nucleares ficasse politicamente instável e ameaçado de cair em mãos de fanáticos.
Diante de tudo isso, uma reflexão se impõe: a Inteligência norte-americana é incompetente ou os receptores da Inteligência é que são os incompetentes? Que os leitores julguem, com base no noticiário dos 2  anos  seguintes.

Em 3 de junho de 2004, o diretor da CIA, George Tenet – nomeado por Bill Clinton e mantido no cargo por George W. Bush -, apresentou sua renúncia alegando “razões pessoais”. A demissão ocorreu num momento em que os Serviços de Inteligência eram investigados a respeito das informações que levaram o país a invadir o Iraque sob a alegação de que Saddam possuía arsenais de armas de destruição em massa.

Os EUA invadiram o Iraque em março de 2003 sob a alegação, segundo o presidente Bush, de que o regime do ex-ditador iraquiano Saddam Hussein possuía armas de destruição em massa e mantinha vínculos com a rede terrorista Al-Qaeda. Não foram encontrados, no entanto, nem o suposto armamento nem as provas de vínculos entre a Al-Qaeda e Saddam Hussein.

Por sua vez, o Secretário de Defesa, Donald Rumsfeld admitiu, em novembro de 2005, que “houve erros de boa fé” nos dados de Inteligência que foram utilizados para decidir pela invasão do Iraque.
As críticas, principalmente as feitas pela oposição democrata, acusam o governo de ter manipulado a informação dos serviços secretos para aumentar a necessidade de ir à guerra.

Dois dias depois, em 5 de junho de 2004, mais uma baixa na direção da CIA. Depois de 31 anos na Agência, o vice-diretor operacional, James Pavitt, anunciou sua aposentadoria. A CIA afirmou que a saída de Pavitt não tinha relação com a surpreendente renúncia do diretor George Tenet.
Em 24 de junho de 2004, segundo um despacho da Reuters, desde Washington, “os EUA estão perdendo a guerra contra o terrorismo e o aprofundamento das atuais políticas só vai fazer seus inimigos no mundo islâmico ficarem mais fortes”, escreveu um analista da CIA em um livro de “autor anônimo”:

“Excesso de confiança imperial: por que o Ocidente está perdendo a guerra contra o terror" é o título do livro que teria sido lançado em 15 de julho de 2004, apenas mais um de um integrante do governo a criticar a política de segurança nacional da administração George W. Bush. Essa obra é ainda mais insólita, considerando que o papel da CIA no governo de Washington é fornecer informações de Inteligência aos responsáveis pela elaboração da política americana, e não formular opiniões sobre essas políticas.

Em 17 de julho de 2004, telegrama da agência France Press, anunciou que a comissão de investigação independente dos atentados de 11 de setembro de 2001 recomendaria a criação do posto de Encarregado Geral, para que o mesmo supervisione as diversas agências americanas de Inteligência, informou o jornal "The New York Times".

A criação do cargo seria a recomendação mais importante da Comissão, que divulgaria seu relatório final no dia 22 de julho, segundo o jornal. Esse funcionário supervisionaria as 15 agências do país, entre elas a própria CIA.
Ao emitir um relatório sobre os dois anos de investigação dos atentados de 11 de setembro de 2001, a Comissão teria criticado a falta de coordenação dos organismos nacionais de Inteligência assim como sua recusa em compartilhar informações. O projeto certamente foi muito criticado pelos diretores da CIA e dos Serviços de Informação do Pentágono, que perderiam parte de suas responsabilidades, segundo o "NYT. Por exemplo, o diretor da CIA perderia parte de sua autoridade e sua comunicação com a Casa Branca aconteceria apenas através do novo funcionário.

Em 2 de agosto de 2004, o presidente George W. Bush anunciou a criação do cargo de Diretor Nacional de Inteligência e de um Centro Nacional Antiterrorista para melhorar a coordenação de todas as agências e órgãos envolvidos na luta contra o terrorismo. A nova figura do Diretor Nacional de Inteligência e a criação do Centro Nacional Antiterrorista foram duas das recomendações-chave da Comissão que investigou os ataques de 11 de setembro de 2001.

O Diretor Nacional de Inteligência será o principal assessor do presidente em todos os assuntos relativos à informação obtida pelas diversas agências de espionagem americanas. O ocupante do novo cargo coordenaria os resultados da espionagem e prestaria contas diretamente ao Presidente, que o nomearia com a confirmação do Senado. O Centro Nacional de Inteligência se concentrará na análise das informações obtidas, para coordenar e controlar os planos e as atividades de todas as instituições do governo contra o terrorismo.

Em 10 de agosto de 2004, George W. Bush anunciou o nome do legislador republicano pela Flórida, Porter Goss, para chefiar a CIA."Porter Goss é um líder com grande experiência em Inteligência e luta contra o terrorismo", disse Bush. "É o homem certo para dirigir estes importantes serviços em um período crítico na história do nosso país", referiu Bush, afirmando que Goss "conhece a CIA profundamente".

Ex-agente da CIA (1962-1971), Goss era presidente do Comitê de Inteligência da Câmara de Representantes. Segundo a Casa Branca, o novo diretor terá um papel no processo de seleção dos altos funcionários nas diversas agências de Inteligência americanas - 15 no total -, e sua aprovação será necessária para nomeações-chave.

Segundo a agência EFE divulgou, em 18 de setembro de 2004, autoridades de Inteligência dos Estados Unidos intensificaram, a partir do 11-9, a espionagem antiterrorista no Oriente Médio, mas se depararam com um grave problema: não há quem traduza a informação obtida.

Uma auditoria no FBI (polícia federal americana) indicou, na época, que centenas de milhares de horas de gravações resultantes de investigações de terrorismo e espionagem não foram transcritas nem traduzidas, apesar do aumento de orçamento e pessoal empenhado nesses trabalhos.

Glenn Fine, inspetor geral do Departamento de Justiça, contou que mais de um terço das supostas comunicações da rede terrorista Al-Qaeda não foi revisto nas primeiras 12 horas após sua interceptação, como exigem as normas. Um relatório do Departamento indicou que, desde o 11-9, foram gravadas mais de 123 mil horas de comunicações vinculadas a operações contra o terrorismo que não foram revisadas.Apesar da contratação de 620 lingüistas desde o 11-9, o FBI admitiu que quase 24% da informação de contra-espionagem e contra-terrorismo não havia sido analisada.

Além das 123 mil horas de áudio em línguas associadas a terroristas que deixaram de ser analisadas, também não o foram mais de 370 mil horas de áudio associadas à Contra-Inteligência. Mensagens da Al-Qaeda como “Amanhã é a hora zero” e “O jogo está para começar” foram interceptadas em 10 de setembro de 2001, mas só traduzidas dias depois.

A tradução, todavia, não é o único problema, segundo o Inspetor Geral. Os sistemas digitais de arquivo do FBI têm capacidade limitada, o que significa que uma parte importante da informação é apagada automaticamente antes de ser revisada. E aduziu: “três de cada oito escritórios submetidos a exame tiveram em seu poder sessões de comunicação da Al-Qaeda que foram apagadas pelo sistema antes que os lingüistas as analisassem". A auditoria apresentou ao FBI 18 recomendações para melhorar o serviço de transcrições e traduções, muitas das quais já foram aplicadas, disse Fine. "O FBI precisa tomar medidas para resolver esses problemas, que são componentes cruciais dos esforços desse organismo contra o terrorismo e a contra-espionagem".

Em 14 de novembro de 2004 o jornal chileno “La Tercera”, transcrevendo notícia publicada pelo “The Washington Post” anunciou que a posse de Porter Goss no cargo de novo diretor da CIA provocou discussões e litígios entre as chamadas “velha e nova guarda” da Agência. Em conseqüência, renunciaram a seus cargos o “número dois” da CIA, John McLaughlin e o vice-diretor de Operações, Stephen Kappes. Nesse mesmo dia, o senador John McCain criticou o funcionamento da CIA e disse que ela deve ser reformulada. "Uma reforma é absolutamente necessária", afirmou o senador do Arizona em entrevista à rede de TV ABC. "É uma Agência que não funciona", criticou.

Em 25 de novembro de 2004 outros dois altos funcionários da CIA pediram demissão: o chefe da Divisão da Europa e o da Divisão da Ásia, elevando para seis o número de demissionários de alto nível em uma semana.
Em 26 de novembro de 2004, segundo o jornalista José Meirelles Passos, correspondente da TV Globo em Washington,existiam divergências entre a CIA e o Pentágono para decidir quem deveria realizar operações clandestinas contra o terrorismo no exterior, e o Departamento de Defesa vinha tentando minar um projeto de lei — endossado pelo presidente George W. Bush e por seu vice, Dick Cheney — que passaria o controle de toda a Comunidade de Inteligência a um civil.

O motivo básico da pressão contra o projeto de lei é que o Pentágono controla 80% do orçamento de US$ 40 bilhões do setor, e essa verba — na qual está incluído o orçamento da CIA — passaria a ser distribuída por quem assumisse o novo cargo de Diretor Nacional de Inteligência. O secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, não quer perder o controle dos recursos e, ao mesmo tempo, pretendia expandir o papel do Pentágono na área da espionagem e das operações clandestinas, até então tarefas essenciais da CIA.

Em 30 de novembro de 2004, o secretário de Segurança Interna dos Estados Unidos, Tom Ridge – Departamento criado pela administração Bush após os atentados do 11 de Setembro, que emprega mais de 170 mil funcionários nos setores de imigração, aduana, guarda-costeira e segurança nos transportes - apresentou sua demissão, tornando-se o sétimo integrante do governo a fazê-lo desde que George W. Bush foi reeleito, em 2 de novembro. Deveria, no entanto, permanecer no cargo até o final do ano. Dias depois, também o Subsecretário para a Segurança Interna, almirante James Loy, renunciou.

Em 8 de dezembro, o Senado aprovou a maior reforma do Sistema de Inteligência americano em mais de 50 anos, encaminhando uma nova legislação ao presidente George W. Bush — que disse que a assinaria. A decisão do Congresso põe fim a meses de disputa política. A reforma foi motivada por falhas da Inteligência que favoreceram os atentados do 11 de Setembro. Mas alguns especialistas afirmam que não está claro como — ou mesmo se — as mudanças ajudarão espiões norte-americanos a obter segredos, desvendar planos terroristas de atacar, e intimidar países que desenvolvam armas de destruição em massa. As mudanças mais significativas atingem a cabeça da burocracia da Inteligência, em vez de agentes que trabalham em campo, recrutam espiões, penetram em organizações ou descobrem conspirações.


O que diz a nova lei:

DIRETOR: cria o cargo de Diretor de Inteligência Nacional para supervisionar a CIA e outras Agências de Inteligência americanas. Ele terá controle sobre a maior parte do orçamento das agências de espionagem. O Diretor de Inteligência Nacional (DNI), dirigirá as tarefas de antiterrorismo de cerca de 15 organismos de inteligência, principalmente militares, além da CIA.

TERRORISMO: cria o Centro de Contra-terrorismo Nacional, que coordenará a Inteligência relacionada a terrorismo e conduzirá planos.

DIREITOS CIVIS: cria a Junta de Supervisão de Privacidade e Liberdades Civis, para assegurar que regulamentos e políticas não ameacem direitos civis.

VISTOS: aumenta as exigências para a concessão de vistos de entrada nos EUA. Exige uma entrevista consular pessoal à maioria dos estrangeiros.

AGENTES: o Departamento de Segurança Interna deverá aumentar o número de agentes para patrulhas de fronteira em pelo menos dois mil por ano, e de agentes de alfândega e imigração em pelo menos 800 por ano, durante cinco anos.

Em 9 de dezembro de 2004, foi anunciado que um agente despedido da CIA está processando a Agência por supostas represálias por ele ter se negado a falsificar relatórios sobre as armas de destruição em massa (ADM) no Iraque, publicou o The Washington Post. Descrito como um alto funcionário da CIA que foi demitido em agosto "por razões não especificadas", a ação parece ser a primeira denúncia pública de um funcionário da CIA sobre a pressão que sofreu para produzir falsos documentos de Inteligência e assim apoiar os argumentos de Washington.

Como se recorda, Washington afirmou, antes de invadir o Iraque, que as armas de destruição em massa eram uma grave ameaça contra a segurança dos Estados Unidos. "Seus relatórios estavam em contradição com o dogma oficial e eles não queriam ouvi-lo", afirmou Roy Krieger, advogado do agente.

Em 29 de dezembro de 2004 a chefe do Departamento de Analistas da CIA, Jami Miscik, pediu demissão, informou o The Washington Post. Segundo o jornal, Jami, de 46 anos, enviou um e-mail no dia anterior a todos os seus subordinados, avisando-os de que estava sendo "forçada" a renunciar ao cargo pelo novo diretor da CIA, Porter Goss. Jami exercia o cargo desde maio de 2002. Também sairiam o subchefe Scott White e o diretor-executivo A. B. "Buzzy" Krongard. Como eles, já deixaram a CIA o subdiretor John McLaughlin e os chefes de operações, Stephen Kappes e Michael Sulick, que alegaram sérias divergências com o novo diretor designado pelo presidente Bush.

O relatório de uma investigação interna da CIA parece ter concluído que autoridades do mais alto escalão da Agência têm culpa pelos erros de Inteligência que antecederam os atentados de 11 de setembro de 2001. O relatório do inspetor-geral da CIA, John Helgerson, teria concluído que os principais líderes da principal agência de espionagem dos EUA devem ser responsabilizados por não oferecerem os recursos adequados para o combate ao terrorismo. As informações constam da edição de 7 de janeiro de 2005 do The New York Times. Entre os que receberam as críticas mais duras estão o ex-diretor da CIA, George Tenet, e o ex-vice-diretor de Operações, Jim Pavitt, diz o jornal. Ambos renunciaram a seus cargos seis meses atrás.

Em 14 de janeiro de 2005, foi noticiado que uma reforma nos sistemas de informática orçada em US$ 170 milhões, e que deveria dar aos agentes e analistas do FBI um modo instantâneo e digital de administrar investigações deverá voltar à fase de planejamento, provavelmente com um custo muito mais alto. O FBI espera conseguir salvar algumas partes do projeto, batizado de “Arquivo de Casos Virtual”. Mas autoridades reconheceram que é possível que todo o sistema se mostre tão impróprio e ultrapassado que tenha de ser totalmente remodelado.

Depois dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, o diretor Robert Mueller tratou a reforma do sistema de informática da agência como prioridade. Membros do Congresso e a comissão independente que investigou os atentados declararam a reforma dos computadores do FBI como um fator crítico.

Em 23 de janeiro de 2005, o jornal The Washington Postanunciou que o Pentágono criou uma nova agência de espionagem que realizaria operações no exterior sob o controle direto do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld. A agência, denominada Departamento de Apoio Estratégico, operou secretamente durante dois anos no Iraque e Afeganistão, bem como em outros locais que as fontes do jornal não revelaram, afirma a reportagem, que cita documentos e entrevistas com seus participantes. Um documento do planejamento original, encaminhado a Rumsfeld pelo chefe do Comando Conjunto, general Richard Myers, afirma que os objetivos originais da iniciativa eram "países emergentes tais como Somália, Iêmen, Indonésia, Filipinas e Geórgia", segundo o Washington Post.

A nova agência secreta de espionagem foi elaborada para fornecer a Rumsfeld ferramentas para as chamadas tarefas de inteligência humana, como interrogatório de prisioneiros e recrutamento de espiões estrangeiros. Desde outubro de 2001, Rumsfeld tenta dar aos militares americanos um acesso mais rápido às informações e novas ferramentas para penetrar em grupos terroristas como Al-Qaeda.

Essa iniciativa do Pentágono invade um território que tradicionalmente pertence à Agência Central de Inteligência (CIA), além de ter dado a Rumsfeld uma autoridade sem precedentes sobre a espionagem internacional num momento em que o Congresso estava tentando criar uma rede de agências de informações controlada por um novo diretor nacional de Inteligência, de acordo com o jornal.

Em 1 de fevereiro de 2005, foi anunciado que a CIA publicará relatórios nos quais reconhece ter errado ao afirmar que o Iraque tinha armas de destruição em massa antes da invasão do país, em março de 2003. Recorde-se que a principal justificativa para a invasão do Iraque foi a denúncia sobre a existência de armas químicas e biológicas no país que o presidente dos EUA, George W. Bush, considerou como membro de um "eixo do mal", juntamente com Irã e Coréia do Norte.

Em 2 de fevereiro de 2005, George W. Bush nomeou John Negroponte, então embaixador no Iraque, como o primeiro Diretor Nacional de Inteligência do país, a quem definiu como um homem “capaz de tomar as decisões corretas". Negroponte terá comando direto sobre o orçamento e o funcionamento das15 agências de Espionagem e Inteligência dos EUA, que estavam mergulhadas em batalhas internas sobre suas atribuições.

Em 1 de abril de 2005, uma Comissão criada pelo presidente Bush para investigar as falhas das Agências de Inteligência, comandada pelo juiz Laurence Silberman e o ex-senador Charles Robb, concluiu que grande parte das Agências de Inteligência ainda estava utilizando linhas de raciocínio idênticas aos dos tempos da Guerra Fria. Os serviços de espionagem americanos estavam errados em suas afirmações sobre o Iraque antes da invasão do país, o que provocou um golpe na credibilidade da Inteligência, que poderá levar anos para ser restaurada. Além disso, Washington tem à sua disposição quase nenhuma informação sobre os programas nucleares do Irã e Coréia do Norte.

Concluímos que a Inteligência estava totalmente errada em quase todos os seus julgamentos anteriores à guerra sobre as armas de destruição em massa do Iraque”, escreveram os integrantes da Comissão. Segundo o documento, as graves falhas não apenas se repetem como podem ser ainda piores em relação a norte-coreanos e iranianos. Segundo o relatório, agentes americanos têm ainda menos acesso a esses países do que tinham ao Iraque do ditador Saddam Hussein. O presidente Bush, ao receber o relatório, prometeu “corrigir o que precisa ser consertado”. Ele ordenou que o assessor de segurança interna da Casa Branca, Frank Townsend, forme um grupo para estudar as falhas apresentadas no documento da Comissão, em 90 dias.Ou seja, mais um grupo de trabalho para analisar possíveis falhas de outros grupos de trabalho e comissões...

Em 10 de junho de 2005, o presidente Bush indicou Henry Crumpton, um alto funcionário da CIA, para o posto de Coordenador da Política Contra o Terrorismo, informaram fontes oficiais. Crumpton, que também trabalhou para o FBI, substituiu Cofer Black, que renunciou no ano anterior.

Em 29 de junho de 2005, O presidente Bush, adotou 70 das 74 recomendações de uma comissão que analisou os serviços de Inteligência do governo americano. Posteriormente, ele informou a criação de um Serviço de Segurança Nacional dentro do FBI, como parte de uma ampla reforma do sistema de espionagem do país. Entre as 70 medidas estão as de pôr o diretor da CIA no comando de todas as operações de "inteligência humana no exterior", ou seja, dos espiões tradicionais atuando no estrangeiro a serviço do governo dos EUA, bem como implementar procedimentos para permitir que as opiniões de analistas que discordem da maioria cheguem aos superiores.

Em 13 de outubro de 2005, foi noticiado que os analistas de Inteligência dos EUA foram pressionados para encontrar vínculos entre o governo de Saddam Hussein e a Al-Qaeda, e por isso adotaram uma "abordagem propositalmente agressiva" sobre o tema, de acordo com um informe da CIA recém-liberado. Os analistas nunca encontraram os supostos vínculos e permaneceram firmes em sua convicção de que "não existia uma relação operacional ou de colaboração", disse o informe.

Trechos do estudo, intitulado "Inteligência e Análises sobre o Iraque: Temas para a Comunidade de Inteligência", foram divulgados pelos Arquivos de Segurança Nacional, um grupo privado que acompanha questões de Inteligência. O informe também apontou que a Casa Branca aceitou erroneamente análises anteriores à guerra sobre a existência de armas de destruição em massa no Iraque, enquanto negligenciava dados significativos levantados pelos serviços de Inteligência sobre questões culturais e políticas no país árabe que criariam difíceis problemas para a reconstrução no pós-guerra. O governo Bush "aparentemente prestou pouca ou nenhuma atenção" aos dados levantados pela CIA sobre uma possível fase pós-guerra. Segundo os analistas, o governo Bush não quis que fosse dada ênfase à advertência, porque ela poderia comprometer o lançamento da guerra...

Em 14 de dezembro de 2005, segundo um despacho da agênciaEFE, o presidente Bush admitiu que foi à guerra com base em dados falsos e aceitou a responsabilidade por ter usado informações incorretas para tomar a decisão de ir à guerra com o Iraque, mas disse que remover Saddam Hussein do Poder era a escolha correta. "É verdade que muito da informação acabou se mostrando errada. Como presidente, sou responsável pela decisão de entrar no Iraque", declarou Bush. "E também sou responsável por consertar o que deu errado, reformando nossos serviços de informação. E estamos fazendo exatamente isso".

Em 7 de março de 2006, Jeffrey Nyquist, no artigo “Narcisismo e Viés em Causa Própria”, escreveu: “Os serviços secretos americanos preferem excomungar ou expelir todos os que contradizem suas análises. Se desertores iranianos ou russos são tratados com desdém, é só porque sua verdade não é aceitável para a Comunidade de Inteligência americana (que favorece sua própria versão da "verdade"). Para julgar pessoas e informações, são necessárias qualidades intelectuais especiais. Há tempos tenho sustentado a tese de que a inteligência americana não possui mais essas qualidades, se conformando com um viés previsível e em causa própria.Acredito que os americanos tornaram-se escravos psicológicos de um tipo de narcisismo consumista, que paralisa as análises das questões de segurança sobre infiltração hostil no governo e nos negócios. Ao lado disso, temos as pobres vigilâncias nas fronteiras, a crescente imigração ilegal e o impensado envolvimento estrangeiro na economia americana”.

Finalmente, em 20 de março de 2006, segundo a agência EFEanunciou, o Pentágono está terceirizando milhares de postos de trabalho nos interrogatórios a suspeitos de terrorismo, tradução de textos e elaboração de análises, informou nesta segunda-feira o jornal "The Washington Post". A publicação indicou que a companhia All Word Language Consultants, de Maryland, procura "interrogadores militares experientes", e oferece remunerações anuais de US$ 153,5 mil, mais gratificações, para trabalhar no Iraque. O Exército dos Estados Unidos procura ainda "uma empresa particular que faça vigilância aérea" sobre o Iraque e forneça "conhecimento total da situação da área de operações", diz outro anúncio na Internet, citado pelo "Post": "Esses empregos, além de outras milhares de vagas, são parte de uma tendência crescente no Pentágono de terceirizar cargos de Inteligência que antes eram realizados, prioritariamente, por funcionários civis e militares do governo”.

Sobre todo esse emaranhado de criação de departamentos, órgãos e serviços, demissões e nomeações, e até, pela primeira vez na História, a absurda decisão de terceirização de interrogadores civis a suspeitos de terrorismo, tradução de textos e – acreditem! – elaboração de análises, o que significa um desastre para qualquer Órgão de Inteligência, será que ainda é importante saber quem nasceu primeiro – se o ovo ou a galinha -, ou seja, três anos depois da invasão, se o Iraque tinha ou não um arsenal de armas de destruição em massa e se essas armas chegaram ou não a ser encontradas? Sobre o tema há versões conflitantes. Passaremos a enumerá-las:

Em 10 de janeiro de 2003, foi publicada matéria da BBC intitulada “Iraque tem armas de destruição em massa, dizem EUA“O governo dos Estados Unidos disse que está convencido de que o Iraque possui armas de destruição em massa e afirmou que não mudou sua posição em relação ao país. O porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer, disse que os iraquianos ainda se recusam a cooperar ativamente com os inspetores da ONU. As afirmações foram feitas depois que o chefe dos inspetores que estão trabalhando no país, Hans Blix, comunicou que até agora não foram encontrados sinais de que existam armas de destruição de massa no Iraque” (!).

Em 26 de abril de 2005, o Jornal da Ciência publicou artigo, segundo o qual os EUA haviam encerrado as buscas por armas de destruição em massa no Iraque, sem encontrá-las. Eis um resumo da matéria publicada: “As investigações sobre a destruição de armas de destruição em massa no Iraque ‘foram tão longe quanto possível’, segundo o inspetor-chefe de armas dos EUA, Charles Duelfer. Duelfer, assessor da CIA, disse também não ser provável que essas armas tenham sido transferidas do Iraque para a Síria antes da guerra”.

‘Depois de 18 meses, a investigação sobre armas de destruição em massa e a tomada de depoimentos de presos em conexão com as armas de destruição em massa foram esgotadas’, diz ele em um adendo de 92 páginas ao relatório divulgado em outubro pelo Grupo de Pesquisa do Iraque. No relatório do ano anterior, Duelfer dissera que não havia estoques de armas químicas ou biológicas e não tinham sido encontradas evidências de produção recente. No entanto, ele disse que Saddam Hussein queria ter retomado os programas de armas de destruição em massa. Duelfer disse também que, embora sua equipe acredite ser improvável a transferência de armas de destruição em massa para a Síria antes da guerra, ‘não pode descartar movimentos não registrados de material limitado relacionado a armas de destruição em massa’. As alegações dos EUA e da Grã-Bretanha de que o Iraque tinha armas de destruição em massa foram uma das principais justificativas para a invasão do Iraque em 2003”. (BBC/Brasil, 26/4/2005).

Olavo de Carvalho em um artigo intitulado “A CIA que ninguém conhece” (Diário do Comércio/SP, 11 de julho de 2005), assinalou: “(...) Nenhum americano razoavelmente culto ignora que esse serviço de inteligência (a CIA), há bastante tempo, trabalha mais para grupos políticos – de esquerda em geral – do que para o governo do seu país. Isso começou na era Reagan. Ronald Reagan foi um grande presidente, mas nas últimas semanas de mandato fez uma burrada monumental: privatizou uma parcela importante dos serviços secretos. Quem podia comprar comprou um pedaço e o pôs a serviço de si próprio. A família Clinton, por exemplo, tem lá seu feudo particular. Sem saber dessas coisas, o público brasileiro entende às avessas acontecimentos importantes como a falsa informação sobre as armas de destruição em massa de Saddam Hussein. O que aos olhos brasileiros pareceu uma desculpa maquiavélica inventada por George W. Bush para legitimar a invasão do Iraque (até hoje isso é repetido na mídia nacional como obviedade de senso comum) foi na verdade uma cama-de-gato armada para o presidente por gente desleal dentro da CIA. Daí a limpeza geral que o governo está fazendo nesse serviço de inteligência (...)”.

Em 7 de novembro de 2005, em um artigo – “Os Iluminados” - Olavo de Carvalho voltou ao assunto: “(...) Quem disse que não havia armas de destruição em massa no Iraque? A corte dos iluminados. Os relatórios militares dizem que foram encontrados até agora:

1.77 toneladas métricas de urânio enriquecido;
1.500 galões de agentes químicos usados em armas;
17 ogivas químicas com ciclosarina, um agente venenoso cinco vezes mais mortal que o gás sarin;
Mil materiais radiativos em pó, prontos para dispersão sobre áreas populosas;
Bombas com gás de mostarda e gás sarin.
Se essas coisas não são armas de destruição em massa, são o quê? Peças do estojo “O Pequeno Químico?”

Não há no Pentágono quem as ignore. Mas o Pentágono, na guerra de mídia, é nada. Só fiquei sabendo dessas descobertas porque as li no livro de Richard Miniter,Disinformation: 22 Media Myths That Undermine the War on Terror Miniter, veterano jornalista investigativo, foi colunista do Wall Street Journal e do Washington Post. Escreveu também no New York Times , que hoje pode não gostar muito do que ele diz mas não pode tirá-lo da sua lista de best-sellers, onde ele está entrando pela terceira vez (as duas anteriores foram com Shadow War: The Untold Story of How Bush Is Winning the War on Terror e Losing Bin Laden: How Bill Clinton's Failures Unleashed Global Terror)”.

Em 18 de março de 2006, Julio Severo, autor do artigo “O Veredicto dos Boateiros: ‘Bush mentiu’, afirma que tais armas de destruição em massa existiram: “Afinal, Bush mentiu ou não? Se ele não mentiu, por que os esquerdistas, evangélicos ou não, insistem em sustentar e fortalecer a "proverbial mentira de Bush"? De acordo com Pat Boone, há hoje provas convincentes que as ADMs eram uma ameaça real. Boone é cantor, artista e escritor evangélico, mais conhecido entre os evangélicos por seu papel do Pr. David Wilkerson no filme “A Cruz e o Punhal”. Ele é também descendente do legendário Daniel Boone. Ele declara:
 
- Os Estados Unidos descobriram umas 12 horas de gravações no palácio de Saddam Hussein - autenticadas pela metodologia do FBI - contendo debates com vozes conhecidas como Tariq Aziz e outros, inclusive o próprio Saddam, falando sobre o que fazer com os estoques e recursos de ADMs

- Unidades Spetsnaz (forças militares especiais da Rússia) ajudaram os soldados de Saddam a esconder, - principalmente na Síria - as ADMs. Os iraquianos haviam comprado essas armas da própria Rússia.

- Duas autoridades militares iraquianas de alta patente - General Georges Sada, o segundo em comando na Força Aérea do Iraque, e Ali Ibrahim, outro comandante iraquiano - afirmam que Saddam possuía estoques de ADMs e as transportou para fora do Iraque por terra e num avião de passageiros 747 adaptado, para serem escondidas na Síria”.

A versão acima já havia sido publicada em 29 de janeiro de 2006 em Wikinotícias (http://pt.wikinews.org/wiki/Saddam_transferiu armas_de_destrui%C3%A7%C3%A3o_em_massa_para_a_S%C3%ADria,_ declara_general_iraquiano): “O General Georges Sada, oficial número dois do Regime de Saddam Hussein, disse que o presidente iraquiano ordenou o transporte de armas de destruição em massa do Iraque para a Síria num avião civil adaptado, sem os assentos de passageiros, pouco antes da entrada das forças militares americanas. "Há armas de destruição em massa que saíram do Iraque para a Síria, e elas devem ser encontradas e retornadas para mãos seguras", disse o general durante uma entrevista para o jornal The New York Sun. As revelações do general iraquiano estão no livro: "Saddam's Secrets: How an Iraqi General Defied And Survived Saddam Hussein. Sada disse que foram 56 vôos do Iraque para a Síria e que eles chamaram pouco a atenção porque foram feitos com avião civil.  Fontes: Ira Stoll Iraq's WMD Secreted in Syria, Sada Says The New York Sun, de 26 de Janeiro de 2006”.

Em 31 de janeiro de 2006, Jeffrey Nyquist escreveu o artigo “As Armas de Destruição em Massa estão na Síriacom argumentos semelhantes aos acima citados.

A conclusão de tudo isso pode ser resumida numa frase, cada vez mais atual, do coronel Valter Nicolai, chefe do Serviço de Informações da Alemanha durante a I Guerra Mundial: “O Serviço de Informações é o apanágio dos nobres. Se confiado a outros, desmorona”.

25 de outubro de 2015
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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