Estamos assistindo, estupefatos, ao drama de alunos que não estão conseguindo contratar ou renovar seus contratos com o Financiamento Estudantil (FIES). No entanto, apresentaremos outra visão do que pode estar por trás de todos estes fatos.
Nos últimos anos, temos visto a formalização de grandes grupos educacionais, a partir do investimento de capital estrangeiro, seja na aquisição de instituições de ensino ou na aplicação em ações de grupos educacionais de capital aberto.
Uma das mais espetaculares operações foi a fusão da Anhanguera com a Kroton Educacional, formando, à época, o maior grupo educacional do mundo em valor de mercado.
A fusão foi anunciada no começo de 2013, quando a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) alertava que um dos investidores, supostamente majoritário, da Anhanguera Educacional tinha participação em outro grupo educacional.
Ascensão e Queda no valor
A operação deu origem à um empreendimento com valor de R$ 24,48 bilhões, segundo matéria da Exame de 04 de julho de 2014. Nesta data, o dólar tinha a cotação de R$ 2,21. Portanto, o valor da empresa era de US$ 11,07 bilhões, com o valor da ação sendo negociada a R$ 59,86 naquela data. Era o maior grupo educacional do mundo, em valor de mercado, com mais de um milhão de alunos.
Em janeiro, quando o Ministério da Educação anunciou mudanças nas regras do FIES, que passariam a valer já para este semestre, as ações de todos os grandes grupos educacionais caíram. No pregão do dia 11 de março, a ação da Kroton, por exemplo, estava sendo negociada a R$ 9,52. Uma queda de mais de 38% em relação a 30 de dezembro de 2014, quando negociada a R$ 15,50.
Outro fator, refere-se a alta do dólar, causada pelas incertezas políticas do Brasil, principalmente pelo Petrolão, como ficou conhecido o escândalo promovido pela operação Lava a Jato. Com o dólar avançando nas últimas semanas, no mesmo dia 11 de março a cotação estava em R$ 3,104.
Unindo-se os dois fatores, chegamos a um novo valor de mercado da Kroton, baseado nas informações financeiras: US$ 4,946 bilhões. Uma queda de 55,32% no valor de mercado.
Mercado
Estamos avaliando apenas o caso da líder, mas a mesma análise estende-se a outros grupos educacionais, como a Abril Educação (cujo controle foi adquirido pela Thunnus Participações/Tarpon em fevereiro deste ano), Anima e Estácio, que tem ações negociadas na BOVESPA. Todas elas perderam valor de mercado em proporções semelhantes.
Por outro lado, outras instituições de ensino superior (IES) de capital fechado, que também tinham um grande montante de alunos com FIES contratado, estão passando por dificuldades financeiras por conta dessas mudanças de regras. Algumas, inclusive, também reportam prejuízos causados pelo atraso no pagamento de outro programa governamental – o PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego).
Cenário Favorável ao investidor externo
Embora a recente recomendação do governo norte-americano em evitar investimentos no Brasil, face à crescente onda de incertezas causadas principalmente pelo Petrolão, este fabuloso mercado da educação encontra-se em uma situação impar.
Várias IES que apresentavam-se sólidas no mercado, agora enfrentam dificuldades e incertezas. Diante deste tenebroso quadro que se afigura, podem vir a aceitar uma das várias propostas de aquisição que têm recebido há anos, normalmente vindo de investidores estrangeiros.
Por outro lado, aquelas de capital aberto, com a alta do dólar e a perda de valor de suas ações na bolsa, sinalizam claramente que dificuldades estão a caminho. Novamente, uma boa justificativa para que novos negócios ocorram com aporte de capital estrangeiro.
Presságios que se confirmaram
Após o movimento de aquisição da Uniban, em 2011, analistas apontavam que um novo negócio estaria a caminho para o crescimento da Anhanguera Educacional. A dúvida era se ocorreria com um grupo brasileiro ou internacional. Veio a fusão com a Kroton.
Atualmente, no grupo Kroton-Anhanguera, está em andamento uma feroz política de redução de custo. Algumas ações como redução de custo de ocupação (em que se considera melhor desativar áreas e prédios para reduzir custos de manutenção, limpeza, água e luz), são típicas de períodos onde resultados financeiros e ações devem demonstrar boas práticas, quase sempre relacionadas a negociações de venda ou fusão de operações.
Logo após a aprovação do CADE sobre a mega fusão do setor educacional, nova perspectiva se abriu: a formação de um grupo educacional transnacional, com sede no Brasil. O negócio segue a cartilha de dois outros casos brasileiros: Ambev-Inbev e Oi-Portugal Telecom.
Com o dólar nas alturas, o momento é propício, porque sairá ainda mais em conta para os investidores internacionais. Por outro lado, a fragilidade atual das instituições educacionais brasileiras, por conta dos já citados Petrolão e mudanças FIES, são ingredientes que justificariam o aporte de investimento estrangeiro para salvá-las da bancarrota.
Cenário pode mudar, favoravelmente
O valor das ações dos grupos educacionais estão caindo. No entanto, há quem esteja comprando por um valor muito baixo, atualmente. Se e quando houver a formação desta gigante transnacional, o valor das ações irá subir, naturalmente.
Se as decisões que cercam o FIES se alterarem novamente, sob pretexto de atender à classe social menos privilegiada – afinal, quem contrata o FIES o faz justamente por não ter outra maneira de prosseguir os estudos, em faculdades particulares -, é possível que haja uma nova e forte alta no valor das ações. “Sorte” de quem estiver com essas ações em mãos.
Quem aposta que, se as regras forem, de fato mudar favoravelmente ao aluno e, por tabela, às instituições de ensino superior, o momento será após uma grande rodada de fusões e aquisições de grupos educacionais por investidores transnacionais?
Fique atento
Um grande grupo educacional e editorial tem tido movimentos discretos no mercado brasileiro há anos. Como sua atuação sempre está sendo conduzida por meio de outros operadores financeiros, nem sempre é possível detectar sua ação. Ela já apareceu como sócia de uma instituição adquirida recentemente pela Estácio Participações, e pode estar por trás de outro recente negócio no mercado brasileiro. É forte candidata a formar a gigante transnacional brasileira da educação.
Dinâmica das Ações da Kroton na BOVESPA
Apenas a título de documentar e explicar melhor as análises apresentadas neste artigo, vamos destacar algumas informações referentes ao processo Kroton-Anhanguera. A escolha deste grupo deve-se exclusivamente ao fato de ser, ainda, o de maior valor de mercado. Em 11 de setembro de 2014, com o valor da ação a R$ 61,94, em Assembléia Geral Extraordinária, foi aprovado o desdobramento das ações. A Kroton passou a ter 1.616.263.916 ações ordinárias. No dia seguinte, com o desdobramento, na proporção de 1:4, as ações passaram a ser negociadas a R$ 15,05. Essas ações tiveram um pico de valorização no dia 21 de novembro do mesmo ano, quando foram negociadas a R$ 18,00, encerrando o ano a R$ 15,50 no dia 30 de dezembro.
O que vimos no mês de janeiro, foi a perda de valor da ação na BOVESPA, chegando a R$ 9,92 em 11 de fevereiro e, após um breve período de pequena valorização, voltou a cair a R$ 9,52 em 11 de março de 2015, e atingiu ontem R$ 10,44 (dia 17 de março de 2015).
19 de março de 2015
Gustavo Matsuo é Publicitário.
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