"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 19 de março de 2015

DILMA ACEITA EVANGELHO DE LULA E DIVIDE O PODER COM ELE


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Na edição de ontem escrevi sobre o artigo de Ricardo Noblat, O Globo de segunda-feira, no qual transmitiu mandamentos políticos de Lula para Dilma Rousseff, classificando-os, sob minha visão, numa espécie de evangelho do antecessor à sucessora, ou do criador à criatura. Entre os mandamentos figurava a humildade, o reconhecimento de erros cometidos, ouvir a voz das ruas, abertura do diálogo com as correntes sociais, finalmente a alteração da equipe de articulação política do Palácio do Planalto.

O artigo entrevista de Noblat, claro, saiu às primeiras horas da manhã, portanto no alvorecer de segunda-feira. À tarde, em entrevista coletiva, Dilma Rousseff destacou todos esses pontos. Aceitou assim o evangelho de Lula e, mais do que isso, dividir o poder com ele. Tal coincidência, por ser tão total, não pode ser interpretada como um episódio isolado e sim como uma nova formação do governo e principalmente o estilo de administrar. Correspondeu, no fundo, ao amplo retorno de Lula ao primeiro plano político nacional e sua participação mais forte no exercício da própria maneira de governar.

Poder-se-á dizer que duas sugestões feitas por Lula ainda não foram colocadas em prática por Dilma; a demissão do ministro Pepe Vargas e o afastamento do ministro Aloizio Mercadante da parte mais política da presidência da República. A reportagem de Luiza Damé, Catarina Alencastro e Simone Iglésias, edição de terça-feira de O Globo, focalizou nitidamente o panorama delineado na esfera do Planalto, enquanto o Valor manchetava com a disposição dada a entender por Dilma de efetuar em breve uma reforma ministerial. Nessa reforma poderão ocorrer substituições de titulares de cargos, cujas atuações, na versão de Lula, mais atrapalham do que acrescentam, mais prejudicam do que somam.

PRIMEIRO PLANO

Isso de um lado. De outro, a volta de Lula ao primeiro plano – e, portanto, ao patamar das decisões e rumos do governo – é a consequência lógica normal do enfraquecimento político da presidente da República, fenômeno que a conduziu a um isolamento que a aproxima de arriscada instabilidade. A voz das ruas, domingo, iluminou o universo efetivo em torno do qual o Executivo se movimenta e oscila em declínio diante da lei da gravidade acentuada pela falta de respostas concretas e objetivas às aspirações legítimas da população.

Nesse patamar encontram-se o mercado de trabalho, a condenação concreta e incisiva à corrupção por parte do Planalto, a distribuição de renda, a saúde pública, a segurança que está faltando especialmente nos grandes centros urbanos brasileiros.

Agora mesmo, personagens apontados pela Operação Lava Jato têm suas prisões decretadas, inclusive por tentarem iludir as investigações e ocultar provas e mais provas financeiras que existem contra si. Incrível. E, até agora, o governo Dilma Rousseff não conseguiu convencer a opinião pública de que se empenha pela condenação moral dos acusados. Estes não praticaram somente malfeitos: praticaram crimes imundos tão intensos cujos efeitos abalaram a estrutura negativamente a própria economia do país.

Da aceitação, por Dilma, do evangelho de Lula, surgirá uma nova realidade na divisão do poder. Mas tal divisão, por si só, não resolverá o problema nacional. É preciso muito mais.

19 de março de 2015
Pedro do Coutto

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