"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

TÁ QUENTE, TÁ GELADO

BRASÍLIA - Nessa loucura pré-Copa, só estava faltando isso: índios enfrentando a polícia com arco e flecha e flechando a perna de um PM, bem no centro da capital da República. Agora, não falta mais.

Poderia ser engraçado, mas, convenhamos, não é. Os 500 mil estrangeiros esperados e os milhões que ficarão em casa devem estar imaginando: que país é este? Ou confirmando o que já imaginavam.

Muitos devem estar esperando, ou visualizando, vacas comendo capim nos centros urbanos e carroças desengonçadas trafegando nas vias públicas, entre mendigos e crianças esfomeadas. E devem estar com medo de dengue, sarampo e outras doenças transmissíveis. Ei! E a capital não é Buenos Aires!

Até aqui, não há como esconder: a propaganda do Brasil no exterior é péssima. Protestos por toda a parte, greves das mais variadas categorias, milhões de cidadãos e cidadãs mofando em pontos de rua à espera dos ônibus que não chegam. E atrasos, improvisações, jeitinhos, aeroportos com goteiras, estádios cercados de lixo e de entulho de obras.

Daqui da janela da sucursal da Folha em Brasília, vê-se um longo passeio sendo construído às pressas para o estádio Mané Garrincha. Demoraram seis anos para descobrir que precisava de um passeio ali? Ou sabiam desde o início e deixaram para fazer aos 45 do segundo tempo?

Dilma, olímpica, se ocupa em recolher o apoio, ora da cúpula do PTB, ora da direção do PP, ora dos líderes do PMDB, enquanto a Copa, as convenções partidárias oficiais e os chefes de Estado de mais de dez países não vêm, inclusive os presidentes e primeiros-ministros dos Brics, que vão se reunir em Fortaleza.

O Planalto em clima de eleição, o país em clima de Copa. Ops! De protesto, porque, de Copa mesmo, não é. Dos cerca de 300 carros no estacionamento fora do prédio, quantos tinham a bandeira do Brasil nesta quarta (28/5), a duas semanas dos jogos? Nenhum. O clima está gelado.

 
30 de maio de 2014
Eliane Cantanhêde, Folha de SP

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