A taxa básica de juros da economia brasileira (SELIC) iniciou um novo ciclo de alta pelo Banco Central a partir de abril de 2013, com o objetivo de comprimir a expansividade dos preços.
Com os juros elevados, a atividade econômica tende a se desaquecer, diminuindo a impetuosidade nas remarcações dos preços e também seduz os investidores estrangeiros, aquecendo o fluxo de dólares para o País.
Diante disso, a cotação da moeda americana cai, o que ajuda a baixar os preços dos importados, em meio a outras consequências, o que representa mais uma das justificativas plausíveis para a pequena desvalorização do dólar diante do real nos últimos meses. Em Economia, quase tudo é causa e efeito, conforme veremos adiante.
Como podemos notar acima, a SELIC saltou de 7,25% para o patamar atual de 11% a.a. pelo menos, até 15 de julho próximo, num total de 3,75 pontos porcentuais após nove altas consecutivas, durante um período de pouco mais de um ano.
Este aperto fenomenal deu-se em função de o Banco Central ter sido negligente e demasiadamente vagaroso no convívio com a pressão inflacionária, abdicando em aumentar a taxa de juros no momento apropriado, adotando um comportamento de subserviência ao governo.
As expectativas do mercado financeiro é que não deva ser este o derradeiro reajuste previsto para este ano. Algumas hipóteses são traçadas no momento e em consenso, sinalizam pelo menos, mais um aumento até o final de 2014 para 11,25% a.a., provavelmente na reunião do COPOM (Comitê de Política Monetária) de 03.12.14, em janeiro de 2015 para 11,50% a.a. e em fevereiro para 12,00% a.a., ficando neste nível até abril quando seria elevada para 12,25% a.a. Hoje, a SELIC é quatro vezes menor do que o praticado há mais de 15 anos e ainda se mantém como um dos juros mais altos do planeta.
As informações publicadas pelo IBGE indicam uma inflação oficial obstinada. Em 12 meses, o IPCA somou 6,28%, muito próximo ao limite máximo de tolerância fixado em 6,5%. Mas por que a nossa inflação é “dura na queda”?
O choque nos preços dos alimentos e os custos dos serviços são macro- variáveis que justificam parcialmente, o contínuo aquecimento da inflação no Brasil. Sobre ambos, a alta dos juros produz um efeito quase imperceptível em seus preços.
Com relação aos alimentos, mesmo com os juros elevados, os indivíduos com a necessidade fisiológica de se alimentar, continuam consumindo, apenas reduzindo um pouco as compras. Para se ter uma ideia, o grupo de alimentação e bebidas atualmente responde por 24,60 do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
No mês passado, 72% dos itens não alimentícios do IPCA subiram de preço. Mais uma demonstração de que a aceleração inflacionária não decorre só dos preços dos alimentos, em virtude também de nem apresentar caráter temporário.
Sobre os custos dos serviços, existem dois aspectos distintos: o primeiro, não sofrer concorrência externa, ou melhor, não se importa serviços como é feito na indústria. Se existe a pressão inflacionária de produtos, governo e empresa se articulam e incrementam as importações, buscando o equilíbrio nos preços.
O outro, é que as consequências da alta dos juros basicamente não incidem sobre esse segmento, em função de sua baixa dependência por crédito. O segmento de serviços é suavizado por não absorver de forma mais acentuada os efeitos da redução da atividade econômica que temos enfrentado; nota-se, entretanto, um pequeno aumento na sua demanda.
Grande parte se deve ao crescimento da renda e do emprego observado nos últimos anos, que impactou nos aumentos dos seus preços. A inflação de serviços, muito resistente à queda, gira em torno de 9,0% há mais de três anos.
Entretanto, a situação se torna preocupante, em função dos “preços administrados” pelo governo (energia elétrica, combustíveis, transportes, entre outros) que correspondem a 25% de todos os preços que dominam a nossa economia.
Neste segmento, utilizar a ferramenta de compressão ou descompressão nos juros não funciona, em função de que os preços e tarifas “bailam” conforme a volatilidade que o governo imprime para reordená-los e ainda provoca inflação em outras áreas, porque sabemos que o atual governo planeja uma “bordoada” para depois do segundo turno das eleições presidenciais. Essa é a expectativa predominante e não o que o Banco Central sinaliza, devido à inexistência da sua notória independência.
Alguns preços e tarifas ainda se encontram atualmente represados, com alguns ajustes já iniciados, como de energia elétrica residencial e os combustíveis, ainda incertos, com seus equívocos acumulados. Eles são manipulados de forma artificial, até o momento em que serão inevitáveis os reajustes também em outros setores controlados (que não são poucos), para não gerar sérios problemas fiscais, causados por esta exacerbada política intervencionista.
Segundo alguns analistas, a inflação reprimida dos preços administrados, quando da sua correção, deverá contribuir acrescentando, aproximadamente, 1,5 ponto percentual à inflação em 12 meses.
Já temos alguns cenários estabelecidos para a inflação em 2015, que poderá ser marcada pelos reajustes de tarifas administradas, da mesma forma para transporte, energia elétrica e até combustíveis, quando então poderemos ter um repique dela, seguido de ligeira acomodação, com possibilidades de queda adiante, semelhante ao ocorrido em 1999 e 2002.
Outra fonte que alimenta impiedosamente a inflação e dificulta o controle de preços no Brasil são os denominados “preços indexados”, influenciados pela elevação de preços do passado, que representam aproximadamente 30% no índice oficial da inflação. Funciona da seguinte forma: a inflação sobe em função da alta de alguns preços. Essa própria inflação é utilizada para calcular o reajuste dos produtos e serviços que exigem preços indexados. O resultado é que esses preços se elevam e, ao se elevarem, produzem uma “nova inflação”, institucionalizando um nocivo “ciclo vicioso”.
Boa parte dos problemas colocados pelo Banco Central origina-se da indexação, que ainda permeia em elevado grau a nossa economia. O País transparece que não consegue se desgarrar da inflação, pois está conivente com ela num patamar ascendente em que se encontra, permitindo que se situe próxima ao limite superior da meta estabelecida. Ela é desafiadora em virtude de ser elevada e falta credibilidade à atual política monetária, assim como as expectativas não sinalizam preços em declínio.
Pelos motivos apontados acima, na minha humilde visão, a inflação ainda continua “dura na queda” e os juros atuais no nível em que se encontram, pelo visto, nem “cócegas” fazem para favorecer o declínio nos preços praticados.
Podemos acrescentar ainda algumas causas relevantes: a displicência no controle das despesas públicas, gastando-se demais e estimulando uma demanda já exaurida; o impacto do câmbio apreciado que também produz inflação; choques de oferta ocasionados por uma forte estiagem que estamos presenciando, contribuem para elevar os preços dos alimentos; a abundância de crédito a juros subsidiados turbinados pelos bancos estatais, especialmente pelo excesso de generosidade do BNDES no governo Dilma, cujos beneficiários são pouco favorecidos pelas deliberações do COPOM que implicam no crédito; a escassez de mão de obra que aumenta os custos de produção; a ausência de lastro na poupança doméstica; reajustes salariais baseados na inflação passada com ganho real de até 3,5% no acumulado de 12 meses, sendo incompatíveis com a produtividade e as políticas públicas direcionadas ao mercado de trabalho.
De acordo com levantamentos realizados por alguns economistas com a alta da inflação medida pelo IPCA e com a inferência da elevação da SELIC tentando segurar os preços, o custo da rolagem da dívida pública poderá alcançar no mínimo, 30 bilhões neste exercício.
Ë bem possível que os juros altos ainda devam ser a alternativa predominante para o Banco Central, com sua política de ajustes em doses de “conta gotas” e, sabe-se lá, até quando, sem ao menos gerar a eficácia desejada e impactando igualmente nos custos das empresas.
A nossa inflação marcha sozinha e continuará a apresentar forte resistência em declinar-se, impedindo o equilíbrio macroeconômico em 2015, no alvorecer das esperanças de um novo governo. Possivelmente, será um ano para ser esquecido, em função dos ajustes imprescindíveis que deixaram de ser feitos a fim de privilegiar uma reeleição que se encontra ameaçada, conforme as últimas pesquisas eleitorais divulgadas.
O Brasil tem o DNA da inflação e para tornar eficiente a política de juros, muitos procedimentos adotados terão que ser plenamente repensados. A grande preocupação é que a partir de determinado ponto, o crescimento da inflação deixa de ser linear e progressiva tornando-se exponencial.
O atual governo tem demonstrado uma estratégia perigosa, insistindo na gestão da sua nova matriz econômica que não funcionou quando previa expansão fiscal alinhada a juros baixos e câmbio depreciado, com o objetivo de fazer crescer as exportações industriais.
As consequências foram outras: queda no crescimento, juros subindo em função da alta da inflação, as exportações industriais perderam espaço no mercado e participação no PIB e a política fiscal afrouxada tornou-se dependente das receitas extraordinárias ou de maquiagens contábeis.
Pelo visto, essa bebedeira inconsequente poderá nos levar a uma tremenda ressaca.
Arthur Jorge Costa Pinto é Administrador, com MBA em Finanças pela UNIFACS – Universidade Salvador.
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