Nos últimos anos, José Dirceu ainda era tratado como herói por muitos políticos e militantes do PT. Até ser preso, continuou a aparecer nos encontros do partido, onde posava para fotos e ouvia o grito de “guerreiro do povo brasileiro”.
Sua inocência era defendida até por petistas que admitiam a existência do mensalão. Para eles, o ex-ministro teria sido condenado por agir “em nome da causa”. Seria injusto compará-lo a um corrupto clássico, desses que desviam dinheiro público para passear de Lamborghini.
O mito do heroísmo foi estimulado pelo próprio Dirceu, que investiu na confusão entre o julgamento na democracia e a perseguição na ditadura. Essa narrativa ficou insustentável com as revelações da Lava Jato.
O ex-guerrilheiro não voltou à cadeia por negociar votos no Congresso com métodos heterodoxos. Ele agora é acusado de receber “pixulecos” de empreiteiros e lobistas que participaram do saque à Petrobras.
ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
Além de colaborar com a montagem do esquema de corrupção, Dirceu “se beneficiou dele”, disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. O juiz Sergio Moro enumerou ocasiões em que os desvios da estatal teriam ajudado a enriquecê-lo.
Condenado por chefiar o mensalão, Dirceu recebia um “mensalinho” de R$ 80 mil a R$ 90 mil, disse o lobista Milton Pascowitch. Ele também contou que pagou despesas pessoais do ex-ministro, como a reforma de uma casa de campo (R$ 1,3 milhão), a reforma de um apartamento em São Paulo (R$ 1 milhão) e a compra do imóvel de uma filha (R$ 500 mil).
Antes que se questione o delator, a decisão de Moro ressalta que ele apresentou provas do que disse.
A Lava Jato já havia revelado que Dirceu recebeu R$ 39 milhões após deixar o governo. Mesmo assim, ele pediu doações a militantes petistas para pagar a multa do mensalão.
Agora que o ex-ministro voltou à cadeia, alguns participantes da vaquinha podem concluir que a sua causa, na verdade, era a causa própria.
05 de agosto de 2015
Bernardo Mello FrancoFolha
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