"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 1 de agosto de 2015

TEMPESTADE OU BONANÇA?


A reabertura dos trabalhos do Congresso, a partir de segunda-feira, faz reacender a cor amarela no semáforo postado diante do palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes. Deputados e senadores já começaram a chegar a Brasília, trazendo de suas bases sentimentos de crítica e até de indignação com o governo. As queixas referem-se ao aumento do desemprego, mas atingem também a alta da inflação, dos impostos e do custo de vida.  Não há como o eleitor comum aceitar a perda do poder aquisitivo dos salários em meio à redução de direitos trabalhistas e vetos à extensão aos aposentados dos cálculos de correção do salário mínimo, bem como ao reajuste salarial dos funcionários do Poder Judiciário.
Mesmo faltando duas semanas para as manifestações de protesto contra o governo, marcadas para o dia 16, preocupam-se os parlamentares com as iminentes decisões  do Tribunal de Contas da União e do Tribunal Superior Eleitoral, capazes de deixar a presidente Dilma em xeque frente à análise dos doze pedidos de impeachment feitos contra ela, que o presidente da Câmara promete despachar nos próximos dias. Caso rejeitadas as contas da atual administração, do ano passado, bem como evidenciado o uso de dinheiro podre na recente campanha presidencial, sua repercussão certamente acirrará os ânimos.
Bem que o governo procura dar a volta por cima,  com a movimentação da presidente Dilma junto aos governadores, dirigentes e líderes dos partidos da base oficial. A estratégia é desarmar as bombas antes do dia 16, se possível promovendo a aprovação do  ajuste fiscal em vias de votação final no Congresso.
Caso não surjam fatos novos, melhor dizendo, denúncias novas envolvendo os detentores do poder, a impressão é de que o Executivo conseguirá superar os panelaços previstos para o mês de agosto. Até porque parte da revolta nacional se voltará contra os parlamentares a ser denunciados na Operação Lava-Jato, cabendo ao Supremo Tribunal Federal aceitar ou não as recomendações  do Ministério Público. Aqui e ali a imprensa cita alguns dos prováveis implicados na lambança da Petrobras e adjacências, mas o impacto se dará a partir do conhecimento formal da lista do procurador Rodrigo Janot.  Em especial se estiverem na relação os presidentes da Câmara e do Senado, além de ex-ministros.
Em suma, a  atmosfera carregada poderá desfazer-se ou desabar numa profunda tempestade.
OUTRA DO BARÃO
Nos idos de 1930, recém chegado ao Rio, junto com a revolução, Aparício Torelli logo se destacou como crítico satírico da realidade política, intitulando-se Barão de Itararé, em homenagem à  batalha que acabou não acontecendo.  Dedicava-se, também, a reportagens de vulto, sempre polêmicas. Descobriu que vivia na miséria, numa favela, o grande comandante da Revolta da Chibata, de 1910, marinheiro João Cândido. Preso e torturado,  sustentado pelas filhas, não estava em seu juízo perfeito,mas admitiu conversar com o jovem repórter, fornecendo material para uma série de reportagens. Apenas a primeira foi publicada, gerando contundente reação da Marinha, acusada de responsável pelos maus tratos e por não ter cumprido a promessa de anistiar os revoltosos.
Um grupo  de oficiais invadiu o escritório onde o Barão trabalhava, sequestrando-o e o levando para um ermo que nem se chamava Barra da Tijuca, ainda. Lá, amarrado  a um poste, foi obrigado a engolir a página com a primeira reportagem, dando-se por satisfeito ao  escapar com vida. Vingou-se, depois de  retornar ao trabalho. Confeccionou  um cartaz que colou na porta de entrada de sua sala: “ENTRE SEM BATER”.

01 de agosto de 2015
Carlos Chagas

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