"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 1 de agosto de 2015

A ELITE PENSANTE E O DESCASO COM A VIOLÊNCIA

Antes dos 10 anos de idade, minha casa foi invadida duas vezes. Coisa que nunca me esqueço, os bandidos gritando com os meus avós, querendo dinheiro, eletrônicos, a Variant marrom do meu vô - e eu no meu quarto me torturando, sem poder fazer nada. Nas semanas seguintes, acordava no meio da noite com qualquer barulho e via nas sombras das árvores, através das cortinas, as formas de pessoas invadindo a minha casa.

O tempo passou, comecei a andar de ônibus sozinho. Entre os 13 e os 17, fui assaltado pelo menos cinco vezes. Já fui assaltado na rua e em ônibus, em grupo ou sozinho, indo e voltando da escola, por drogados, por menores - quase sempre por menores; me levaram dinheiro, passes e um boné. No tempo em que eu estudava, bastava que moleques passassem por baixo da roleta do ônibus para que a viagem deixasse de ser tranquila. Os cobradores nada faziam.

Aos 20, a caminho do trabalho, dois sujeitos numa moto me roubaram. Eles queriam a minha mochila. Um olhava para o outro e dizia: “mata ele, mata ele”. Eu me lembro do desespero da minha mãe, que estava comigo. Desde então, não posso ver moto com passageiro na garupa perto de mim. O frio na espinha é inevitável.

Depois disso, ainda fui assaltado mais algumas vezes: me levaram celulares, documentos e quase me roubaram uma câmera de vídeo. Por sorte, só apanhei uma vez, de marginais, perto do metrô Barra Funda. Tendo sofrido tantos assaltos, sou sensível à questão da violência. E observo que é assim com muita gente, principalmente com quem já passou por algo parecido.

Enquanto uma pessoa está sofrendo algum tipo de violência neste instante em um ponto aleatório do país, e mais de 70 foram assassinadas só agora, antes do almoço, a elite bem pensante está mais preocupada em atacar quem não limpa a própria privada. Intelectual adora falar mal dos bravos cidadãos da classe média e se cala sobre a violência sofrida por gente como eu e você.

Daí a vergonha que tenho de abrir o jornal para ler a elite pensante. Não moro no Jardim Paulista, no Leblon ou no bairro chique do cartunista engajado, onde a chance de ser roubado e morto é oito vezes menor do que em Americanópolis.

O descaso é uma afronta a quem vive com medo da violência. Fingir que nada acontece é o tema preferido de nossa elite intelectual. O país tem os índices de criminalidade mais grotescos do mundo. A elite intelectual, no entanto, não gosta de ser lembrada disso. E qualquer proposta mais dura que apareça contra a violência passa por fascismo, isso quando não cai no papo ridículo de que o bandido é a vitima ou que punição não resolve nada, aí é melhor sair de perto mesmo.

Eu me disponho a não discutir com quem ignora os índices de violência do país. Assaltos? Estupros? Homicídios? O importante é fazer bonito entre os leitores All Star e discutir o uso de linguagem ofensiva em programas humorísticos.

01 de agosto de 2015
Guy Franco

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