Aécio Neves, pré-candidato do PSDB, diz aprovar decisão de Marina
BRASÍLIA e SÃO PAULO — Para os dirigentes do PT, o acordo entre a ex-senadora Marina Silva e o governador Eduardo Campos, pré-candidato do PSB à presidência, tem o potencial de criar um fenômeno eleitoral para a disputa de 2014, o que pode, inclusive, levar a sucessão presidencial para o segundo turno. Eles consideram, contudo, que o principal prejudicado com o acordo não é a presidente Dilma, mas sim o presidente nacional do PSDB, Aécio Neves, que terá mais dificuldade de garantir espaço no segundo turno.
O líder do PT na Câmara, José Nobre Guimarães, criticou o acordo entre Marina e Campos. Ele considerou que o principal prejudicado com o acordo é o PSDB e avaliou que faltou critério na opção de Marina.
— Eu acho muito difícil ela aceitar ser vice do Eduardo Campos pelo que ela fez, pelo que ela diz e pelo que a conjuntura apresenta. E quem está muito preocupado com isso é o PSDB — afirmou o petista. — É igual a misturar óleo com água. Faltou critério nisso, é uma aliança que não tem liga.
Também nas redes sociais, os aliados da presidente Dilma, não pouparam críticas à aliança. O vice-presidente da Câmara, André Vargas (PT-PR), usou o Twitter para criticar o acordo. “Vamos ver se o eleitorado não percebe o cheiro de oportunismo”, escreveu.
Para o deputado, a união dos dois adversários da presidente Dilma teve a “influência da Natura e do Itaú para tentar nos derrotar”.
O ex-presidente do PT José Eduardo Dutra disse no Twitter que a filiação de Marina ao PSB foi uma “grande jogada de Eduardo Campos”, mas uma “pixotada da Marina”.
Apesar das avaliações, a cúpula do PT ainda acredita, assim como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o governador de Pernambuco ainda pode desistir da disputa presidencial, embora reconheça que a coligação anunciada neste sábado tenha diminuído bastante as chances de isso ocorrer.
— Marina Silva está desdizendo e desfazendo o que ela dizia. Ela criou uma organização porque achava que havia a necessidade de uma alternativa diferente dos partidos atuais. Ao entrar no PSB, está negando o que falou até agora — destacou o deputado federal Devanir Ribeiro (PT-SP), um dos fundadores do PT, para quem o enlace PSB-Rede “vai tirar votos de Aécio Neves”.
O secretário nacional do PT, Paulo Teixeira, afirmou, por usa vez, que espera que a aliança Campos-Marina possa contribuir para elevar o debate eleitoral e para apresentar soluções para os problemas enfrentados hoje no país.
Já o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), candidato a presidente, se disse surpreso com o anúncio da aliança entre Campos e Marina .
— Papo reto? Nem eu nem ninguém esperava essa reviravolta — disse ao GLOBO de Nova York, onde participa de um seminário com investidores estrangeiros.
Oposição deve se unir, diz Aécio
Aécio disse estar “gostando do jogo” e que, apesar de achar que o PSDB tem as melhores propostas e melhores palanques, tem que torcer para fortalecer a oposição.
— Acho a novidade extremamente positiva. Quem comemorou a derrota da não criação da Rede é que tem que se preocupar. Cada vez mais as oposições colocam como objetivo maior se unir para encerrar o ciclo perverso do PT no governo. Nós nos aproximamos nesse propósito do antagonismo a esse modelo que está aí — comentou.
O PSDB divulgou nota para dizer que a aliança “é também uma reposta às ações autoritárias do PT, especialmente aos membros do partido que chegaram a comemorar antecipadamente a exclusão da ex-senadora do quadro eleitoral do próximo ano, com a impossibilidade de criação da Rede”.
No PSDB, a avaliação é que, com a nova chapa, os quase 20 milhões de votos do capital eleitoral de Marina ficam na oposição e não vão se dividir, como aconteceu em 2010, no segundo turno das eleições presidenciais, quando seus votos foram para Dilma Rousseff e José Serra.
— Marina não sair candidata e os votos de Marina migrarem para Dilma seria o pior dos mundos — disse um tucano próximo a Aécio. — Na avaliação do próprio Aécio, com essa coligação, os votos ficam do lado de cá (com a oposição).
Outra avaliação é que, frustrado, o presidente do PPS, Roberto Freire, poderá voltar a se aproximar do PSDB, com quem tem coligações em vários estados, para a eleição proporcional. Aécio vai procurar Freire assim que retornar ao Brasil. Os tucanos consideram que, num primeiro momento, Campos vai faturar com a aliança com Marina, mas a médio prazo, será muito pressionado se não crescer nas pesquisas de intenção de votos e Marina continuar num patamar muito alto. Neste caso, avaliam, as cobranças serão fortes para que Marina seja a candidata.
O senador Cássio Cunha Lima (PB), presidente em exercício do PSDB, também celebrou a ida de Marina Silva para o PSB. Cunha Lima disse que a movimentação reforça a oposição:
— Temos a preocupação de ter projetos alternativos nas oposições, e a Marina contribui para que isso aconteça. Nós do PSDB celebramos esta decisão. Isso contribui para o debate democrático de ideia.
06 de outubro de 2013
Gustavo Uribe - O Globo
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