"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 6 de outubro de 2013

NOTAS POLÍTICAS DO JORNALISTA HELIO FERNANDES

1964 começou em 1960 com a eleição de Jânio. Continuou com a fome de poder dele e de Jango. Permaneceu por 21 anos terríveis, de torturas e assassinatos. E algumas respostas esclarecedoras.
 
1964 é muito confuso. Os militares queriam tomar o Poder desde a renúncia de Jânio, que não tinha nada de RENÚNCIA, era a “volta com todos os poderes, patrocinado pelos militares”. E João Goulart participou inteiramente dessa fraude, e iria ser beneficiado. O que quase ia acontecendo.
 
Naquela época, os vice-presidentes eram também eleitos diretamente. As chapas eram registradas com os nomes separados do presidente e do vice. O cidadão votava duas vezes, uma no presidente, a outra no vice. O candidato de Jânio era Milton Campos, o do marechal Lott, João Goulart.
 
Mas Jânio fez campanha ostensiva a favor de Jango, criou o comitê JAN-JAN, ou seja, Jânio e Jango. Qual a razão da preferência? É que nos planos dos militares para “eternizar” Jânio no Poder, estava a OBRIGATORIEDADE do vice não estar no Brasil, quando Jânio “renunciasse”.
 
Quem conhecesse a vida pública brasileira da época, saberia que se Milton Campos se elegesse VICE, Jânio não poderia mandá-lo para Singapura, nem tentaria. Com Jango foi facílimo, ele viajou para Singapura, sabendo que alguma coisa aconteceria, Jango não tinha nada de tolo ou idiota. E aconteceu mesmo.
 
O plano dos generais para manter Jânio com TODOS OS PODERES dependia de muitas variantes. Brasília já era a capital, mas não existia. Lembrem-se: Jânio tomou posse em 31 de janeiro de 1961, Brasília havia nascido há menos de um ano, nada funcionava, ou melhor, nem estava construído.
 
Assim, fora do país Jango era presidente, e o que os generais nem imaginavam: tinha um suporte colossal e nem imaginado, que se chamava Leonel Brizola. Desesperados, os generais jogaram Jânio na lata do lixo, e se voltaram para empossar Jango como “presidente-parlamentarista”.
 
Jango, o mesmo de sempre, aceitou correndo. Brizola, o mesmo de sempre, resistiu e quando Jango falou com ele que ia fazer acordo com os generais, Brizola, irritado, protestou: “Já ganhamos, você toma posse como presidente mesmo, não precisa dos generais”.
 
Cauteloso (ou tão covarde quanto era em 1952, quando aceitou ser derrubado do Ministério do Trabalho por 69 coronéis, e depois muitos deles foram promovidos por Jango a generais) se rendeu aos militares. Acreditava que teria mais Poder do que eles.
 
Foi manobrando nos bastidores parlamentaristas, mas convocou o plebiscito sobre o presidencialismo em 6 de janeiro 1963. Foi a maior farra de dinheiro da História da República. Os recursos vinham de todos os lados. Jango venceu disparado, 10 dias depois tomava posse como presidencialista.
 
1963: GENERAIS, O PRESIDENTE E SEIS GOVERNADORES CONSPIRAVAM
 
Só nesse ano, Jango destrambelhado, desorientado e deslumbrado, pediu duas vezes a intervenção no Estado da Guanabara. Os deputados e senadores, maioria de Jango na Câmara e no Senado, recusaram os pedidos do presidente.
 
Os governadores que conspiravam, apesar de serem todos eles candidatos à sucessão de Jango em 1965:
 
1 – Ademar de Barros, São Paulo.
2 – Magalhães Pinto, Minas Gerais.
3 – Carlos Lacerda, Guanabara.
4 – Mauro Borges, Goiás.
5 – Ney Braga, Paraná.
6 – Miguel Arraes, Pernambuco.

 
Brizola deixara o governo do Rio Grande em 31 de janeiro de 1962, não conspirava, mas foi um dos primeiros a se lançar como presidenciável. Criticado por ser cunhado de Jango, respondeu publicamente: “Cunhado não é parente, Brizola para presidente”.
 
O EX-PRESIDENTE JK NÃO CONSPIRAVA
 
Candidatíssimo a voltar à Presidência, lançou a própria candidatura para 1965, ao passar o governo a Jânio. Não conspirava, não era do seu estilo, mas se mantinha candidatíssimo.
 
Teve conversas diversas, nenhuma com Jango, apesar de ter tentado. Mas o presidente tinha a mesma obsessão de Jânio: não deixar o Planalto, o Alvorada e o Laranjeiras, no Rio, “Brasília ainda ia ser”.
 
MINHA PRISÃO EM 1963, O ÚNICO JORNALISTA JULGADO PELO SUPREMO
 
Eu fazia oposição a Jango, como fiz com todos os presidentes, até mesmo JK, cuja campanha dirigi. (Fiquei ao lado dele quando quiseram impedir sua posse, viajei pelo mundo com ele, como presidente eleito e ainda não empossado). Por que então me prender e me julgar perante o Supremo, no qual tinham maioria?
 
Nem Rui Barbosa foi JULGADO pelo Supremo. Foi processado, constituiu advogado, tudo arquivado. Bastava que o ministro da Guerra respondesse ao presidente do Supremo: “Não tenho nada com a prisão do jornalista, é possível que esteja respondendo a IPM (Inquérito Policial Militar).
 
Pelo contrário, recebeu ordens do Planalto, respondeu ao Supremo: “O jornalista está preso à minha ordem, sou eu o responsável pela sua prisão”. Um ministro só diz isso, a respeito de um jornalista, se receber ordens bem de cima. Diante disso, o Supremo teve que me julgar.
 
A ABSOLVIÇÃO INESPERADA POR DIFERENÇA DE UM VOTO
 
Fui julgado depois de 9 dias, comoção nacional, todos pressentiam o que acontecia ou aconteceria. Apesar da opressão, o julgamento ficou 4 a 4 (como agora, nos julgamentos do ficha-limpa e do mensalão), Ribeiro da Costa desempatou a meu favor, podia desempatar contra.
 
A DEPOSIÇÃO DE JANGO COMEÇOU EM 1963
Não aconteceu em 1º de abril, com o golpe. Começou em 6 de janeiro de 1963, ultrapassou o Natal e o Ano Novo, chegou a março de 1964. 13 de março foi insensato, 28 de março do mesmo 1964, tenebroso. 1º de abril, criminoso, com mortes, assassinatos, torturas e tristezas que duram até hoje.
 
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PS – Você está com a razão, Aquino. Qualquer Junta Militar que se preza, não quer sair. Essa de 3 de outubro de 30 teve que entregar o cargo. Naquela época, tirando Vargas, os homens de mais prestígio eram o civil Osvaldo Aranha e o militar Goes Monteiro.
 
PS2 – Quando Costa e Silva ficou “incapacitado”, assumiu outra Junta Militar (“Os Três Patetas”, ridicularizados por este repórter) para o cargo não ir para Pedro Aleixo.
 
PS3 – Me mandaram logo para Campo Grande (hoje capital do Mato Grosso do Sul), era o meu quarto desterro, sequestro, confinamento, tentaram continuar, não dava, conseguiram algumas dádivas.
 
PS4 – Como eu disse, em 1945 não houve cassação ou inelegibilidade, e sim investigação. Pois que receberam todos os louvores e aplausos.
 
PS5 – Henrique Dodsworth, prefeito do Distrito Federal, de 1937 a 45. Nomeado embaixador em Portugal, professor catedrático de duas cadeiras no Pedro II.
 
PS6 – Osvaldo Aranha, ministro de quase todas as pastas com Vargas, que o admirava, só não queria que fosse presidente depois dele.
 
PS7 – Como já havia sido embaixador do Brasil em Washington, foi embaixador do Brasil na ONU. De grande prestígio e competência, foi secretário-geral do órgão.
 
PS8 – Vargas voltou presidente (eleito diretamente pela primeira vez na vida), na hora do desespero nomeou Osvaldo Aranha ministro da Fazenda. Não dava mais tempo.
 
PS9 – Valdenor de Souza, só os “asilados” necessitam de documentação oficial. E até as pedras das ruas (Rui Barbosa) sabem os nomes dos asilados, nas mais diversas épocas.
 
PS10 – O ex-presidente Washington Luiz em 1930, Bernardes em 1945, o ex-chanceler Otavio Mangabeira, o diretor do “Estado de S. Paulo”, Julio Mesquita Filho, e alguns outros.
 
PS11 – Exilado vai por vontade própria, é impossível contá-los, até mesmo justificá-los. Alguns iam sem motivação, fala-se muito no caviar do “exílio”.
 
PS12 – FHC, um dos que iam a passeio, visitar amigos (principalmente no Chile) e se identificava como cassado. Desculpe usar a “gargalhada gráfica” (pela denominação, royalties para Jaguar): Ha!Ha!Ha!
 
PS13 – Refugiados é uma identificação nobre e positiva, são pessoas que não tinham cargos, não foram asiladas, mas não conseguiram sair do Brasil até por causa da vigilância severíssima.
 
PS14 – O caso de Arraes, único na História da República, ACORDO entre as partes. O governo golpista, não sabia o que fazer com o ex-governador de Pernambuco, o que aconteceria se ficasse no Brasil.
 
Ps15 – Como eu disse, Arraes aceitou o ACORDO assim que foi proposto, por que recusá-lo. Sua possível resistência e sobrevivência pessoal, inteiramente preservadas, aceitar foi positivo e não negativo.
06 de outubro de 2013
Hélio Fernandes

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