Do New York Times
- Procura de clientes de alto padrão por comemorações no exterior aquece mercado de luxo
NOVA YORK - No ano passado, o aniversário do pequeno Arthur Medeiros, de três anos, foi celebrado em alto estilo. O dia começou com um brunch para uma dúzia de convidados, no Hotel Plaza Athénée - localizado na área nobre de Manhattan, Nova York. Para a ocasião, o salão de jantar do cinco estrelas foi especialmente decorado para parecer uma cena do filme “O Rei Leão”, com direito a uma elaborada mini-floresta. A comemoração foi seguida por outra festa no Dylan’s Candy Bar, e, então, o clímax: um passeio para ver “O Rei Leão” na Broadway.
Arthur não é morador de Manhattan, mas sim de São Paulo. Para planejar o extravagante aniversário, sua mãe, Heloísa Medeiros, contratou Clarissa Rezende, fundadora da Ideas for Bloom, uma empresa com sede na capital paulista, por US$ 15 mil, além da bancar a passagem da corretora para Nova York e a estadia por uma semana no hotel Waldorf-Astoria. Não seria exagero dizer que o preço total do aniversário chegou a US$ 30 mil.
De acordo com quem ajuda a organizar as comemorações, festas extravagantes como essa são o mais recente exemplo de uma onda de gastos de brasileiros em Nova York, que incluem compras e festas.
- Nunca tinha visto uma onda de gastos nessa escala, e estou neste ramo há 25 anos - disse Sebastian Wurst, gerente geral do Plaza Athénée.
Segundo Wurst, os brasileiros correspondem a 11% dos hóspedes do hotel, que está reservando mais quartos para turistas do país para eventos como o Ano Novo e o Super Bowl (final do campeonato de futebol americano). O gerente afirma ainda que seus funcionários estão até aprendendo português para atender à nova clientela.
Casamento de US$ 2 milhões
Em 2012, turistas brasileiros gastaram US$ 2,4 bilhões em compras e entretenimento em Nova York, liderando o ranking de gastos de estrangeiros na cidade, de acordo com o site de turismo NYC & Company.
- O que está acontecendo no mercado de luxo no Brasil é que eles querem ostentar e fazer mais do que era feito antes - disse Clarissa Rezende, que já organizou sete festas para brasileiros em Nova York só no ano passado e está elaborando um site para focar exclusivamente em eventos no exterior.
- Cerca de metade dos nossos clientes querem ir para Nova York para fazer um evento. É um mercado que está crescendo muito rápido e nem sabíamos que existia - destacou Clarissa, por telefone, diretamente de Orlando (Florida), onde ela estava planejando outra festa para o quarto aniversário de Arthur, que desta vez terá o Homem Aranha como tema.
Mesmo em uma cidade como Nova York, conhecida por seus excessos, alguns desses eventos podem parecer exagerados. Em setembro de 2012, de acordo com uma pessoa na equipe de planejamento, os brasilienses Yára Cavalcante e Phelipe Marias organizaram um casamento de US$ 2 milhões para mais de 400 pessoas no Castelo Oheka, em Huntington (NY). O evento contou com uma parece de orquídeas, um bar feito inteiramente de gelo e um DJ de Ibiza, Espanha.
- Brasileiros vêm para cá e dão festas bem servidas de alto padrão - disse o carioca Pedro Andrade, apresentador do programa de TV Manhattan Connection. - Às vezes, vejo brasileiros que contratam uma empresa de relações públicas só para fazer uma lista de convidados para essas festas.
Festas no exterior podem ser ‘pechincha’
Apesar de recepções generosas em Nova York serem símbolo de status para os novos ricos, assim como uma bolsa Chanel ou sapato Louboutins, a prática também pode ser vista como uma pechincha para brasileiros, que vivem em meio a uma inflação onde uma pizza pode custar até US$ 30.
- Fazer um casamento de luxo no Brasil, com 600 ou 700 convidados, pode custar facilmente US$ 1 milhão, então estamos vendo gente buscando outros lugares, como Nova York - disse Eduardo Gaz, da agência de viagens paulista Selections.
Georgina Alves de Souza, designer de 37 anos no Rio de Janeiro, tinha a esperança de ter um casamento no River Cafe, no Brooklyn, em Nova York, há um ano.
- É mais barato para nós vir a Nova York para um casamento que ir para o Norte do Brasil por uma semana - disse ela.
Apesar de ter precisado transferir a festa para um restaurante em outra região da cidade, o Upper East Side, por causa do furacão Sandy, Georgina diz não se arrepender da experiência:
- Teria pago US$ 25 mil no River Cafe por uma festa completa mais uma banda, enquanto uma recepção na casa da minha mãe no Rio com um DJ sairia por quase o mesmo preço. Só que a qualidade em Nova York é muito maior.
A parcela de brasileiros que tem recursos, tempo livre e vontade de ter uma festa em outro país ainda é muito pequena, no entanto.
- Por que você iria vir lá do Brasil para Nova York para se casar? É um circo. Conheço gente que alugou um apartamento só para armazenar as coisas que comprou para o casamento. É realmente só para ter a exclusividade de dizer: ‘eu me casei em Nova York’ - opina Maria Cecilia Campos, de 22 anos, recém-graduada na Universidade de Nova York.
06 de outubro de 2013
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