Artigos - Cultura
O idiota ao qual Olavo se refere é aquele sujeito que nada enxerga além dele mesmo e que julga tudo pela sua própria pequenez.
Na década de 90, o então desconhecido Olavo de Carvalho indignou vastos setores da intelectualidade nacional com a publicação de "O Imbecil Coletivo - Atualidades Inculturais Brasileiras", um finíssimo exercício de análise do que era publicado na grande imprensa pelas vozes dominantes do que seria a nossa "alta cultura".
Naquela oportunidade, Olavo já demonstrava, à farta, que a qualidade do debate público em Banânia havia despencado e que a variável determinante para explicar esse cenário era a ascensão de uma intelectualidade de esquerda que substituiu a reflexão sobre a realidade pela pura e simples propaganda ideológica.
Nesse sentido, não se tratava mais de analisar e tentar mudar a estrutura da realidade como sempre fizeram os esquerdistas em redor do mundo, mas de apenas eleger "oprimidos", produzir suas demandas e divulgá-las, como se verdades fossem, nas escolas, jornais, igrejas, tudo como manda o figurino elaborado por Antonio Gramsci, revisionista criativo e profundo da tradição marxista.
Os agentes fundamentais dessa estratégia, pelo menos no Brasil, têm sido os professores universitários, seja porque a nossa vida "intelectual" foi comprimida aos campi, seja porque é ali mesmo que se formam todas as categorias do mundo do trabalho. Nesses espaços, quase ninguém mais ousa falar em verdades, mas em narrativas, como se estas se equiparassem. Da velha e tensa relação entre ciência e ideologia, não sobrou sequer aquele honesto e desagradável mal-estar epistemológico que as "zonas cinzentas" dessa polaridade traziam.
Para quem duvidar dessa descrição do nosso cenário acadêmico, basta visitar qualquer congresso científico no Brasil, sobretudo nas assim chamadas ciências humanas, e observará de forma cristalina que se trata não de uma reunião de pesquisadores em busca de verdades de natureza científica, mas de um mega lobby em favor daqueles que foram escolhidos como as vítimas da sociedade, principalmente daquela que gostam de chamar de capitalismo.
Entre os oprimidos, desfilam negros, gays, mulheres, índios, quilombolas, trabalhadores rurais e urbanos, crentes minoritários no campo religioso, jovens, idosos, enfim, uma procissão de vítimas metodicamente construídas por um discurso supostamente científico. Assim, evidencia-se que a negação das dimensões objetivas da realidade em troca da obsessão, demasiadamente gnóstica, de refundar o mundo é hoje o baluarte da nossa elite acadêmica.
O livro "O mínimo que você precisa para não ser um idiota" é mais um esforço, afiadíssimo, de Olavo de Carvalho para dissecar essas patologias do espírito moderno e as suas manifestações concretas no debate cultural. O responsável pela seleção de artigos e organização da obra, que já nasce antológica, foi Felipe Moura Brasil, um dos seus alunos mais destacados.
Quem tomar a iniciativa de percorrer as dezenas de artigos que ali se encontram observará um texto impecável, em estilo claro e acessível, sem a perda da profundidade possível em formatos como aquele. Os artigos foram divididos em temas - conhecimento, juventude, cultura, religião, ciência, petismo, entre outros.
Apesar de apresentar uma unidade inquestionável, o conjunto dos artigos selecionados encontra o seu ápice, segundo entendo, nas inúmeras sugestões de como contornar a imbecilidade coletiva que engloba o ambiente intelectual brasileiro. Nesse sentido, Olavo nos chama a atenção para a árdua tarefa que será recompor (ou seria compor?) nossa cultura.
Não é por outro motivo que ele chama a atenção dos jovens para a necessidade de um longo e tortuoso caminho de estudos, antes de ocuparem as ruas se arvorando de solucionadores dos problemas de um mundo que eles desconhecem por completo. Nesse aspecto, o título é bastante provocativo, pois o idiota ao qual Olavo se refere é aquele sujeito que nada enxerga além dele mesmo e que julga tudo pela sua própria pequenez.
Nas 600 páginas do livro, encontra-se um mapa para nos localizarmos num campo de batalha onde as ideias são a munição essencial. Aproveite a oportunidade para não exercer o papel do cego no tiroteio.
Artigo originalmente publicado na edição 1588 (16 a 22/08) do Cinform de Aracaju.
06 de outubro de 2013
Rodorval Ramalho é sociólogo e professor da Universidade Federal de Sergipe.
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