Neste sábado, escrevia eu ontem, veremos se Marina da Silva é coerente ou hipócrita. Venceu a hipocrisia. Supostamente inconformada com o PT e PV, a acreana criou seu próprio partido, que aliás não era partido – para não se confundir com essas vulgares e corruptas agremiações que infestam o país – mas rede. Numa manobra inábil de marquetagem, denominou sua rede de Sustentabilidade, um heptassílabo em um país cujos eleitores muitas vezes têm dificuldades de pronunciar trissílabos. Sem falar no espaço que a palavrinha ocupa numa manchete de jornal.
Melhor a Rede, simplesmente. Um dia antes da decisão que negou o registro do partido, a ex-senadora, ex-ministra e hoje ex-redista - divulgou um vídeo onde falava em "democratização da democracia" e dizia que a Rede não queria apenas um "projeto de poder" e sim um "projeto de País".
No vídeo, Marina faz um balanço da atuação da militância, diz que o processo de criação do partido mobilizou 12 mil voluntários, a maior parte deles jovens. "Muitos partidos se institucionalizam para depois ganhar representação social. Nós fizemos exatamente o contrário. Ganhamos representação social no País inteiro e depois buscamos a institucionalização", afirmou.
Dois dias depois da ressaca, que resta da democratização da democracia, que sobrou do projeto de país? Os 12 mil voluntários, “a maior parte deles jovens”, ficaram órfãos do dia para a noite. Marina agora milita no PSB, Partido Socialista Brasileiro, seja lá o que isso quer dizer.
Para onde foi a moça que seguia “os mantenedores de utopia”, gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso? “Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas”. Hoje, aos 55, Marina quer apenas tratar de sua sobrevida política.
Criará o PSB uma ala evangélico-ecológica? Ou evangelismo e ecologia vão pras cucuias, junto com os demais sonhos dos “sonháticos”? Ainda ontem, Marina dizia que sua decisão sobre uma eventual filiação a algum partido para disputar a eleição do ano que vem seria "programática" e "não terá caráter pragmático". A bem da verdade, prevaleceu o pragmático. Os “sonháticos” que busquem outro guru. Marina preferiu desenredar-se da rede que a enredava. O que importa é sua candidatura à Presidência da República.
Segundo a imprensa, Marina poderia candidatar-se como vice do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para disputar a eleição presidencial de 2014. Campos que se cuide. Ser vice não faz o perfil de dona Marina. Tanto que abandonou seu projeto de partido, por não poder ser candidata a presidente.
Veja é mais realista. Para a revista, não está definida a composição da chapa entre os dois. Por ora, ambos serão tratados como possíveis presidenciáveis - e pesquisas devem nortear a decisão. A Rede rachou. Rompeu-se. Empresários que investiram pesado no novo partido não gostaram de ver seus dinheiros indo pelo ralo. Fazer um presidente custa caro, mas rende em dobro, isso falando por baixo. Quanto aos que investiram sonhos, bom... sonhar não custa nada. Basta virar a cabeça de lado no travesseiro e sonhar outras utopias.
Houve época em que havia partidos no Brasil, com objetivos bem definidos. Um petebista nem em sonhos pensaria em se unir a um udenista. Hoje vale tudo. O que interessa são interesses individuais e partidos não passam de barrigas de aluguel. Há uma certa ojeriza entre os eleitores por políticos vira-casaca. Não é nada, não é nada, mas dona Marina está virando a casaca pela quarta vez.
As oposições – que a nada se opõem e esquecem que Marina foi ministra de Lula – acham providencial a adesão de Marina a um novo partido. Retiraria votos do PT e provocaria um segundo turno. Mas as oposições esquecem que petista tem o coração à esquerda. No primeiro turno, votam no candidato que mais lhes soa confiável. No segundo, voltam correndo para a casa paterna.
Ainda bem. Pois Marina, se eleita, nos faria sentir saudades de Dilma. El que vendrá, bueno te hará – dizem os espanhóis. Seja como for, vai ser divertido observar, nas próximas semanas, a reação dos órfãos.
Isso sem falar na besteira que acaba de proferir: sua Rede Sustentabilidade é "o primeiro partido clandestino criado em plena democracia". Em primeiro lugar, não conseguiu cumprir os requisitos que a lei exige para ser partido. Em segundo, de clandestina a tal de Rede não tem nada. O que ela está querendo? Ficar com um pé na Rede e outro no PSB? Será o primeiro político a militar em dois partidos ao mesmo tempo.
Vista como a candidata que foge aos padrões usuais de política, chegada a hora da verdade, Marina demonstrou ser apenas mais do mesmo.
06 de outubro de 2013
janer cristaldo
Melhor a Rede, simplesmente. Um dia antes da decisão que negou o registro do partido, a ex-senadora, ex-ministra e hoje ex-redista - divulgou um vídeo onde falava em "democratização da democracia" e dizia que a Rede não queria apenas um "projeto de poder" e sim um "projeto de País".
No vídeo, Marina faz um balanço da atuação da militância, diz que o processo de criação do partido mobilizou 12 mil voluntários, a maior parte deles jovens. "Muitos partidos se institucionalizam para depois ganhar representação social. Nós fizemos exatamente o contrário. Ganhamos representação social no País inteiro e depois buscamos a institucionalização", afirmou.
Dois dias depois da ressaca, que resta da democratização da democracia, que sobrou do projeto de país? Os 12 mil voluntários, “a maior parte deles jovens”, ficaram órfãos do dia para a noite. Marina agora milita no PSB, Partido Socialista Brasileiro, seja lá o que isso quer dizer.
Para onde foi a moça que seguia “os mantenedores de utopia”, gente como Chico Mendes, Florestan Fernandes, Paulo Freire, Luiz Inácio Lula da Silva, Fernando Henrique Cardoso? “Agora, aos 51 anos, quero fazer o que eles fizeram por mim. Quero ser mantenedora de utopias e mobilizar as pessoas”. Hoje, aos 55, Marina quer apenas tratar de sua sobrevida política.
Criará o PSB uma ala evangélico-ecológica? Ou evangelismo e ecologia vão pras cucuias, junto com os demais sonhos dos “sonháticos”? Ainda ontem, Marina dizia que sua decisão sobre uma eventual filiação a algum partido para disputar a eleição do ano que vem seria "programática" e "não terá caráter pragmático". A bem da verdade, prevaleceu o pragmático. Os “sonháticos” que busquem outro guru. Marina preferiu desenredar-se da rede que a enredava. O que importa é sua candidatura à Presidência da República.
Segundo a imprensa, Marina poderia candidatar-se como vice do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para disputar a eleição presidencial de 2014. Campos que se cuide. Ser vice não faz o perfil de dona Marina. Tanto que abandonou seu projeto de partido, por não poder ser candidata a presidente.
Veja é mais realista. Para a revista, não está definida a composição da chapa entre os dois. Por ora, ambos serão tratados como possíveis presidenciáveis - e pesquisas devem nortear a decisão. A Rede rachou. Rompeu-se. Empresários que investiram pesado no novo partido não gostaram de ver seus dinheiros indo pelo ralo. Fazer um presidente custa caro, mas rende em dobro, isso falando por baixo. Quanto aos que investiram sonhos, bom... sonhar não custa nada. Basta virar a cabeça de lado no travesseiro e sonhar outras utopias.
Houve época em que havia partidos no Brasil, com objetivos bem definidos. Um petebista nem em sonhos pensaria em se unir a um udenista. Hoje vale tudo. O que interessa são interesses individuais e partidos não passam de barrigas de aluguel. Há uma certa ojeriza entre os eleitores por políticos vira-casaca. Não é nada, não é nada, mas dona Marina está virando a casaca pela quarta vez.
As oposições – que a nada se opõem e esquecem que Marina foi ministra de Lula – acham providencial a adesão de Marina a um novo partido. Retiraria votos do PT e provocaria um segundo turno. Mas as oposições esquecem que petista tem o coração à esquerda. No primeiro turno, votam no candidato que mais lhes soa confiável. No segundo, voltam correndo para a casa paterna.
Ainda bem. Pois Marina, se eleita, nos faria sentir saudades de Dilma. El que vendrá, bueno te hará – dizem os espanhóis. Seja como for, vai ser divertido observar, nas próximas semanas, a reação dos órfãos.
Isso sem falar na besteira que acaba de proferir: sua Rede Sustentabilidade é "o primeiro partido clandestino criado em plena democracia". Em primeiro lugar, não conseguiu cumprir os requisitos que a lei exige para ser partido. Em segundo, de clandestina a tal de Rede não tem nada. O que ela está querendo? Ficar com um pé na Rede e outro no PSB? Será o primeiro político a militar em dois partidos ao mesmo tempo.
Vista como a candidata que foge aos padrões usuais de política, chegada a hora da verdade, Marina demonstrou ser apenas mais do mesmo.
06 de outubro de 2013
janer cristaldo
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