"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 12 de janeiro de 2014

ARMADILHA LULISTA

 

 



  • Uma leitura atenta das respostas que o economista Luiz Gonzaga Belluzzo forneceu a Eleonora de Lucena na entrevista publicada no domingo passado pela Folha, permite perceber, sobretudo na versão integral (disponível na internet), de maneira cristalina o impasse brasileiro contemporâneo. Se feitas as devidas pontes entre o quadro econômico ali analisado e a situação política, tem-se um retrato agudo do momento atual.

    O professor da Unicamp mostra que o governo Dilma foi atingido em cheio pela segunda etapa da crise capitalista. Enquanto Lula viu-se beneficiado pelas “benesses do ciclo de commodities”, a presidente pegou uma longa fase de depressão da economia mundial.

    Para sustentar o dinamismo do Brasil em um contexto de desaceleração global seria necessário ter uma indústria forte. Mas, para tanto, o país precisava ter desvalorizado bastante o real, como já vinha alertando há alguns anos o ex-ministro Bresser-Pereira.

    A presidente teve a coragem de enveredar na direção necessária, realizando significativa redução da taxa de juros contra o desejo do mercado financeiro. Ao diminuir o ganho rentista, reduz-se a atratividade do Brasil como plataforma de valorização do capital especulativo internacional e, dessa forma, ajuda-se a controlar o sobrepreço da moeda.

    Ato contínuo, a equipe econômica e o Banco Central, orientados por Dilma, provocaram uma mididesvalorização do real, além de reforçar as medidas voltadas para restringir a liberdade de entrada e saída dos especuladores. Em outras palavras, mesmo que, como aponta Bresser-Pereira, não tenham sido na proporção devida, foram dados passos ousados para romper as amarras que impediam o Brasil de retomar o crescimento.

    De repente, no final de 2012, começa a haver uma reversão. O BC anuncia que voltará a aumentar os juros. O que houve? O governo sentiu que não tinha força para prosseguir no caminho iniciado. Ao contrário de investir, os empresários se afastaram de Dilma, por considerá-la intervencionista. O eleitorado lulista, por sua vez, “é o pessoal mais desinformado sobre as razões dos problemas, que foi submetido a um processo de obscurecimento durante séculos”, diz Belluzzo.

    Resultado: em lugar de 2013 ser o ano da retomada que Dilma deve ter planejado, foi caracterizado pela reversão sistemática do que fora plantado no período precedente. A armadilha está em que, como o lulismo não é mobilizador, não pode politizar as questões de fundo, autoimpedindo-se de construir uma base social suficiente para sustentar a ruptura necessária. De onde, então, virá a energia capaz de quebrar as 11 varas da camisa que, segundo Belluzzo, paralisa a nação?
     
    (artigo enviado por Mário Assis)
     
    12 de janeiro de 2013
    André SingerFolha de SP

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