Muitos esperavam que o legado da crise de 2008 fosse um grande debate sobre que tipo de sociedade queremos construir. Erraram feio. A discussão não se deu. Ao contrário, a lógica que provocou a crise foi retomada com mais furor. Os super-ricos e superpoderosos decidiram que querem viver segundo o princípio darwinista do mais forte, e que se danem os mais fracos.
Via de regra, a lógica capitalista é feroz: uma empresa engole a outra. Quando se chega a um ponto em que restam apenas algumas grandes, elas mudam a lógica: em vez de guerrearem, fazem entre si uma aliança de lobos e comportam-se mutuamente como cordeiros. Assim articuladas, detêm mais poder e acumulam mais para si e seus acionistas, desconsiderando totalmente o bem da sociedade.
A influência política e econômica que exercem sobre os governos, a maioria muito mais fraca que elas, é extremamente constrangedora, interferindo no preço das commodities e na redução dos investimentos sociais, como saúde, educação, transporte e segurança.
DOMINAÇÃO DO MUNDO
Há excelentes estudos sobre a dominação do mundo por parte das grandes corporações multilaterais. Mas fazia falta um estudo de síntese, que foi feito pelo Instituto Suíço de Pesquisa Tecnológica (ETH), em Zurique, em 2011.
Dentre 30 milhões de corporações existentes, o instituto selecionou 43 mil para estudar melhor a lógica de seu funcionamento. O esquema simplificado se articula assim: há um pequeno núcleo financeiro central que possui dois lados – de um, são as corporações que compõem o núcleo e, do outro, aquelas que são controladas por ele.
Tal articulação cria uma rede de controle corporativo global. Esse pequeno núcleo constitui uma superentidade. Dele emanam os controles em rede, o que facilita a redução dos custos, a proteção dos riscos, o aumento da confiança e, o que é principal, a definição das linhas da economia global que devem ser fortalecidas e onde.
Esse pequeno núcleo, fundamentalmente de grandes bancos, detém a maior parte das participações nas outras corporações. O topo controla 80% de toda a rede de corporações. Aí estão Deutsche Bank, J. P. Morgan Chase, UBS, Santander, Golden Sachs, BNP Paribas, entre outros tantos. No fim, menos de 1% das empresas controlam 40% de toda a rede.
INDIGNAÇÃO
Esse fato nos permite entender agora a indignação dos que acusam que 1% das empresas faz o que quer com os recursos suados de 99% da população. Eles não trabalham e nada produzem. Apenas fazem mais dinheiro com dinheiro lançado no mercado da especulação.
Foi essa absurda voracidade de acumular ilimitadamente que gestou a crise de 2008. Essa lógica aprofunda cada vez mais a desigualdade e torna mais difícil a saída da crise. Quanto de desumanidade aguenta o estômago dos povos? Pois tudo tem seu limite. Mas agora nos é dado ver as entranhas do monstro.
Como diz Dowbor: “A verdade é que temos ignorado o elefante que está no centro da sala”. Ele está quebrando tudo e pisoteando pessoas. Mas até quando? O senso ético mundial nos assegura que uma sociedade não pode subsistir por muito tempo assentada sobre a superexploração, a mentira e a antivida.
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