Internacional - América Latina
O que se prepara em Havana não é “a paz” na Colômbia, nem nada que se lhe pareça, senão um novo ciclo de violências na Colômbia e a partir da Colômbia.
A lógica coxeia do lado do ex-presidente Ernesto Samper. Decidido a ajudar o presidente Juan Manuel Santos nesta difícil conjuntura e de perda de popularidade, ele propõe aos colombianos escolher entre duas opções [1]: entre“a guerra de Uribe ou a paz de Santos”.
Nada é mais fácil do que escolher entre a “guerra” e a “paz”, na condição de saber o que é que entendemos por “guerra” e por “paz”. E esse é, precisamente, o problema da proposta de Ernesto Samper.
Se examinamos de perto sua fórmula descobrimos que Ernesto Samper trata de comparar dois objetos incomparáveis: algo que existiu com algo que não existe. E que trata de comparar duas situações diferentes, porém retirando de cada uma sua porção de realidade.
A chamada “guerra de Uribe” foi, na realidade, outra coisa. Foi o contrário do que diz Samper: foi a paz de Uribe. A “paz de Santos” é, na realidade, o contrário: é a guerra de Santos.
Durante os governos do ex-presidente Álvaro Uribe, os esforços das Forças Armadas e da Polícia serviram para que o país avançasse consideravelmente para a paz, pois as FARC foram combatidas, desarticuladas (lembremos que possibilitou a Operação Xeque, para mencionar só um célebre episódio dessa gesta heróica) e reduzidas à porção congruente. Cada redução das FARC, cada derrota das FARC, é uma vitória da paz e da democracia na Colômbia. Essa é a realidade, essa é a lei fundamental da vida política colombiana dos últimos 60 anos.
Ernesto Samper, entretanto, se vê forçado a rechaçar essa lei e a inventar outra. Ele inventa, na realidade, uma anti-lei, quer dizer, um sofisma. Seu sofisma é: quando as FARC aumentam suas atrocidades e o governo lhes retribui dando-lhes interlocução, deixando seus chefes escaparem, dificultando o combate da força pública contra elas, isso é “a paz”. Quando um governo reprime a violência das FARC, encarcera ou dá baixa nos terroristas, e rechaça negociar com eles, isso é “a guerra”. Tal é a inversão abjeta que Samper oferece aos leitores de Kien&Ke.
As vitórias contra as FARC são chamadas por Ernesto Samper “a guerra de Uribe”, dando a esta expressão uma conotação altamente negativa. Para ele, esse avanço para a desarticulação e a capitulação das FARC foi algo negativo. Em troca, o que Santos faz hoje, quer dizer, uma marcha para a articulação das FARC, é considerado por Ernesto Samper como algo muito positivo: é “a paz de Santos”.
Porém, não há a tal “paz de Santos”. Durante os três anos de Santos não houve paz, pois o que houve foi um aumento da capacidade ofensiva das FARC em todos os campos, no campo militar e no campo político-social.
Conclusão: quando Ernesto Samper propõe aos colombianos escolher entre a “guerra de Uribe” ou a “paz de Santos”, ele pede-lhes que se definam ante opções errôneas.
A opção real é: há que escolher entre um sistema de governo que trouxe a paz ao país, que aproximou o país de uma situação de paz e de prosperidade (o de Uribe), e outro sistema de governo que distancia o país da paz e da prosperidade (o de Santos).
Mais precisamente: o que Ernesto Samper propõe é escolher entre algo que existiu e que continua sendo um patrimônio irrenunciável dos colombianos: a recuperação da autoridade do Estado (Uribe) e algo que não existe ainda, a paz de Santos. Sob Santos não houve redução do poder mortífero das FARC, senão aumento do poder mortífero das FARC.
Ernesto Samper propõe que escolhamos entre algo que ajudou o país (a Segurança Democrática) e algo que está levando o país ao abismo (a “negociação de paz” de Santos).
Se ouvimos o que dizem as FARC - o que dizem realmente e não o que certa imprensa diz que elas dizem - as negociações de paz de Havana não desembocarão na paz: desembocarão em um regime político distinto, muito distinto ao que os colombianos viemos construindo desde 1819, onde a violência totalitária continuará seu caminho devastador (pois as FARC conservarão suas armas e uma parte de seus quadros e combatentes, os quais trabalharão sob outro disfarce e com os apoios internacionais de sempre).
A perspectiva da paz de Santos é avançar para uma paz sem democracia, em vez de ir para onde o governo anterior dirigia o país: para uma democracia em paz. Paz sem democracia é o que buscam as FARC: paz que facilite a incorporação do programa fariano às instituições. Democracia em paz é o contrário: sanção judicial e política aos chefes narco-terroristas, incorporação dos ex-combatentes das FARC, dentro de um país que preserva sua democracia e seu sistema econômico, e rechaça as idéias e o programa totalitário das FARC.
Esse regime novo que querem tirar de Havana estará submetido a uma enorme tenaz, não conhecida até hoje: as FARC legalizadas trabalhando para impor ao país um programa anti-liberal e anti-capitalista, e trabalhando em todos os cenários do espaço político, social e intelectual da Colômbia, e as FARC em armas operando, ao mesmo tempo, no terreno da violência, para a aplicação cabal desse programa totalitário e tratando de destruir as Forças Armadas e da Polícia do novo regime, quer dizer, reduzidas e desarticuladas.
O que se prepara em Havana não é “a paz” na Colômbia, nem nada que se lhe pareça, senão um novo ciclo de violências na Colômbia e a partir da Colômbia (pois nosso país será unicamente mais uma alavanca dos apetites hegemonistas de Cuba e seus aliados anti-ocidentais). E isso poderia durar várias décadas.
27 agosto de 2013
Eduardo Mackenzie
Nota do autor:
[1] Ver “El país decide, la guerra de Uribe o la paz de Santos”, entrevista de Edgar Artunduaga com Ernesto Samper em Kien&Ke, Bogotá, 20 de agosto de 2013.
Tradução: Graça Salgueiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário