O Brasil, que vai sediar a próxima Copa do Mundo de futebol profissional, foi o grande vencedor da 11º edição da Copa do Mundo de Futebol Social (Homeless World Cup). O campeonato contou com a participação de 59 seleções dos cinco continentes e foi realizado em Poznan, na Polônia, entre os dias 11 e 18 de Agosto.
A idéia da Homeless World Cup, como o próprio nome sugere, é dar visibilidade à população de rua e às discussões relativas à pobreza e falta de moradia ao redor do mundo. O time do Brasil, vencedor na categoria masculino, teve que viajar com apenas metade do time por uma razão tão prosaica quanto reveladora: falta de recursos!
Darlan, Vinicius, Douglas e Robson celebram a vitória do Brasil (Foto: Divulgação)
Como forma de protesto, os brasileiros entraram em campo segurando a camisa dos demais jogadores, além da bandeira verde-amarela. Veja no video de premiação, a emoção que toma conta até mesmo dos adversários, na hora da premiação aos quatro (quatro!) jogadores que formaram a delegação brasileira.
Nos demais países, cada delegação era formada por no mínimo 10 pessoas, sendo oito jogadores e dois técnicos. A do Brasil tinha apenas quatro jogadores, sendo um deles o goleiro, além do técnico Pupo. Apesar da igualdade numérica em campo (eram 3 jogadores de linha e 1 goleiro por time), os jogadores do Brasil não tinham direito a descanso e muito menos poderiam se machucar. Depois de 10 partidas nas fases classificatórias, o Brasil voltou pra casa invicto após bater times como Portugal (6×4), Chile (6×1) e México (4×3)
O brasileiro Darlan Martins, morador do Cantagalo, no Rio de Janeiro, foi eleito o melhor jogador da competição. Além de Darlan, o Brasil foi representado por Vinícius Araújo (Rocinha, Rio de Janeiro), Douglas Batista (Jardim Ângela, São Paulo) e Robson Martins (Campo Limpo, São Paulo).
A delegação mínima do Brasil (de branco) na final com o México (Foto: Divulgação Homeless World Cup)
Infelizmente, parece que faz todo sentido: o Brasil ganhou a Copa dos Invisíveis- como são conhecidos os moradores de rua e nem tomou conhecimento da façanha desses valorosos meninos!
Padrinho do projeto no Brasil, o ex-jogador e deputado federal Romário criticou os empresários brasileiros: “Falam mal dos políticos, mas temos que observar como se comporta uma parcela dos empresários. Todo mundo quer patrocinar a Seleção porque, obviamente, dá retorno financeiro. Não se importam com os constantes escândalos que rodam CBF, entidade que gere os patrocínios. Enquanto projetos de elevado interesse social ficam abandonados, uma tristeza.”
O Blog do Tas conversou ainda com Guilherme Araújo, presidente da Futebol Social, que conseguiu viabilizar a ida da pequena delegação que representou o Brasil:
Como a equipe brasileira se sentiu quando percebeu que jogaria com menos jogadores?
Conseguimos viabilizar cinco passagens e a confirmação da ida à Polônia na véspera do embarque. Felizmente alguns dos jovens haviam emitido o passaporte – mesmo cientes das incertezas – e acabaram se conhecendo de fato no aeroporto. A história para eles começava ali, pensar no título da competição, por exemplo, era algo muito distante.
Como os meninos da delegação brasileira se motivaram pra encarar este desafio?
Temíamos um abalo na autoestima perante as delegações completas e visivelmente melhor estruturadas. Porém acabou surpreendendo a maneira como se entrosaram e “fecharam o grupo”. Segundo o técnico Pupo, eles ficaram juntos e se divertiram o tempo todo como amigos de longa data. Penso que a oportunidade e a responsabilidade de representar o Futebol Social e o Brasil nesta situação acabou criando as condições necessárias para que superassem todos os problemas, esquecessem o cansaço e jogassem como nunca!
Qual mensagem que o Brasil passa ao ser um dos poucos países a não conseguir patrocínio para levar o time todo?
Passa uma mensagem contraditória e falsa de que faltam recursos no país da Copa do Mundo e das Olimpíadas.
E qual a mensagem que o Brasil passa ao conseguir ganhar o campeonato com metade do time?
A mensagem é de superação e de garra. Que a vontade de vencer e melhorar a vida é mais forte.
Qual a percepção do público presente e das outras equipes em relação ao feito conquistado pelos brasileiros?
Nossa delegação foi recebida com grande festa, pois chegou no dia da abertura do evento e já rolavam boatos de que não participaríamos. E a maneira como nossos atletas se portaram em campo, demonstrando garra, simpatia, valentia e superação acabou conquistando a todos: adversários, voluntários, organizadores e torcida. Como exemplo, a delegação do México, nosso adversário na final, contava com mais de 40 pessoas!
Compartilho aqui uma mensagem que nos foi enviada: “Ir para a Polônia nessas condições é de valente e de heróis. Fica mal dizer isto, pela ligação que tenho à minha seleção, que tenho no coração. Mas… torço por vocês….”
27 de agosto de 2013
Blog do Tas
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