Refinarias da Petrobras vendem R$ 1,5 tri sem lucrar um centavo
Entre janeiro de 2003 e junho de 2013, as refinarias da Petrobras venderam R$ 1,55 trilhão em combustíveis aos distribuidores, sem que a estatal ganhasse um centavo sequer com essa atividade. Pelo contrário. A empresa teve perda acumulada de R$ 663 milhões com refino de petróleo nos últimos dez anos e meio.
Isso significa que todo o lucro acumulado nesse período pela estatal, de R$ 272 bilhões, veio dos demais segmentos da empresa, principalmente da exploração e produção de petróleo.
Por causa da política de preços imposta pelo governo, as refinarias da empresa, que possuem ativos de R$ 198 bilhões, não contribuíram com nada em qualquer comparação: nos últimos dois anos, três anos, cinco anos etc.
Os números derrubam o argumento de que as perdas recentes da Petrobras com a defasagem de preços estaria apenas compensando ganhos acima do que seria justo na época da crise financeira, quando o petróleo despencou no exterior e a companhia não reduziu seus preços.
Esse encontro de contas já ocorreu, e é a Petrobras que está no vermelho. A culpa não é da equipe da área de abastecimento da companhia.
De 2003 a 2010, as vendas das refinarias somaram R$ 1,01 trilhão e renderam lucro líquido acumulado de R$ 39 bilhões para a Petrobras, com uma margem modesta, mas positiva, de 3,8%.
Na sequência, em apenas dois anos e meio, do início de 2011 a junho de 2013, a venda de mais R$ 540 bilhões em derivados gerou prejuízo de R$ 39,6 bilhões para a estatal, jogando pelo ralo o lucro acumulado nos oito anos anteriores com essa atividade.
Se todo lucro de uma empresa mais cedo ou mais tarde vira caixa (com raríssimas exceções), a Petrobras queimou meio ano de investimentos e o equivalente a 17% do seu valor de mercado atual com essa situação.
Mas isso não preocupa a empresa. Em nota à reportagem, a Petrobras disse que, "por ser uma empresa integrada de energia, estabelece suas políticas de preços com base na análise dos resultados consolidados e não com base no resultado isolado de um segmento". Cabe lembrar que a empresa divulga voluntariamente o lucro por área de negócio desde 2003 e tem diretorias específicas para cuidar delas.
Segundo a estatal, o "resultado dessa política pode ser verificado nas demonstrações financeiras divulgadas ao mercado".
Ao se fazer isso, nota-se que o retorno sobre o patrimônio líquido da empresa como um todo ficou em 25% na média entre 2003 e 2010 e caiu para 10%, também na média, de 2011 até agora - como consequência não só da defasagem de preços, mas também da capitalização.
Mas o que explica a diferença de resultado entre os períodos, se a política de preços é a mesma?
Afinal, não é de hoje que os preços da gasolina e do diesel no mercado interno não acompanham a variação de curto prazo do petróleo no mercado externo. Os próprios executivos da Petrobras costumavam defender essa prática porque ela dá previsibilidade ao fluxo de caixa da companhia e facilita a execução de investimentos de longo prazo.
Contudo, houve uma mudança relevante nos últimos anos que não pode ser ignorada.
Enquanto a demanda no Brasil era inferior à capacidade de produção e de refino da Petrobras, a estatal só deixava de ganhar mais quando o preço cobrado pelo combustível no Brasil ficava abaixo da cotação internacional.
Num exemplo com números hipotéticos: no exterior a gasolina é comercializada pelo equivalente a R$ 10, enquanto a Petrobras vende no Brasil por R$ 7. Se o custo de produção for R$ 4, ela não chega a ganhar os R$ 6 que poderia, mas ainda embolsa R$ 3, o suficiente para ficar no azul.
Mas o crescimento da economia elevou bastante o consumo de combustíveis. Como a produção da Petrobras está estagnada há dois anos e a capacidade de refino não aumentou porque as obras estão atrasadas, isso obriga a empresa a importar cada vez mais gasolina e diesel.
No exemplo acima, ela passou a ter que comprar a gasolina por R$ 10 no exterior e vendê-la no Brasil por R$ 7. Aquilo que ela antes apenas deixava de ganhar se tornou uma perda efetiva.
A presidente Graça Foster tenta reduzir a distorção e conseguiu emplacar cinco reajustes de preços desde outubro de 2011, com elevações acumuladas de 26% para a gasolina e de 24% para o diesel. Mas o descasamento de preços não foi corrigido porque, embora o petróleo esteja estável, o dólar saltou 40% nesse período, saindo de R$ 1,70 em outubro de 2011 para a faixa atual de R$ 2,40.
Fernando Torres | De São Paulo Valor Econômico
27 DE AGOSTO DE 2013
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